Os cinco choques e o presidente A economia brasileira encontra-se engessada por uma política macroeconômica que insiste em manter pontos equivocados, agravando a cada dia a situação do país. Está claro e evidente que a atual política é incapaz de estimular o crescimento, sendo pífio o seu desempenho até o momento. A estabilidade de preços calcada na sobreutilização da âncora cambial e a precária política de metas de inflação estão deixando a economia deprimida. Todos sabemos as boas intenções do Governo do Presidente Lula, que, além de estar obrigado a acertar para mostrar serviço, a meu ver, sente-se também um pouco refém desta situação. O Governo do Partido dos Trabalhadores – PT está se mostrando altamente fiscalista, a ponto de já estar circulando que a sigla PT significa Partido Tributarista. É preciso bem mais que ciência econômica para resolver o problema do brasileiro. É preciso coragem para mudar, e coragem é o que não falta ao Presidente. Dessa maneira, proponho cinco choques na economia, plenamente administráveis e factíveis. Choque de credibilidade – Precisamos acreditar mais no país e na nossa capacidade de gerar riqueza. Presidente, bata a mão no peito e diga brasileiros, eu acredito em vocês e no nosso país. Vamos enfrentar o corporativismo de alguns setores e grupos que se esbanjam no Brasil. Vamos tomar nossas decisões pensando primeiramente no Brasil e nos brasileiros e depois no exterior. Choque de juros – Além de diminuir a SELIC, hoje em 16% ao ano, o Governo tem que ter uma conversa com os bancos e propor a redução dos custos de empréstimo para as empresas e pessoas físicas, hoje muitas vezes maior ao custo de captação. Os bancos estão sugando tanto a economia que acabarão matando a galinha dos ovos de ouro. A este respeito vale a pena relembrar que as instituições financeiras têm que cumprir sua função pública de dispor e distribuir recursos para o fomento da economia. Se eu fosse o presidente, para cada redução de um ponto percentual na SELIC, reduziria um ponto percentual da carga tributária sobre a produção ou sobre o consumo. Choque de oferta – O Governo deve aumentar a oferta de bens e serviços pela redução da carga tributária sobre a produção e o consumo. Isto deslocaria a curva de oferta agregada de curto prazo, aumentando a demanda agregada na mesma proporção, sem pressionar os preços – sem aumentar a inflação –, incrementando também a oferta de postos de trabalho. O Brasil, ao contrário dos países desenvolvidos, tributa mais a produção de bens e serviços – 48,32% – e salários – 27,42% –, o que atua com forte inibidor do consumo. Não havendo consumo não há produção. Choque antitributário – O Governo ignora a curva de Laffer, desenvolvida pelo economista da Universidade do Sul da Califórnia e assessor do expresidente americano Ronald Reagan Arthur Laffer, que diz que a uma carga tributária muito elevada corresponde uma diminuição da arrecadação, tendendo a zero. Ao aumentar tributos, a Receita Federal empurra a economia para a informalidade. Presidente, levante a cabeça e dê um sinal de crença no nosso combalido país, reduza a carga tributária paulatinamente, sem medo. Tenho certeza que nas despesas de custeio e outras da máquina pública, o Senhor haverá de encontrar espaço para o corte de despesas. 1 Choque de agilidade – Presidente, dê um choque de agilidade no tratamento das micro e pequenas empresas. Elas representam 98% das empresas existentes. Como podemos ter agilidade se são necessários 152 dias para a abertura de uma empresa – na Austrália abre-se pela internet – e dez anos para o fechamento? – Banco Mundial - Revista Veja de 28/01/2004. As micro e pequenas empresas são as maiores empregadoras deste país. Presidente, desmonte a ditadura dos carimbos – Horácio Laffer Piva – FIESP. A aplicação destes cinco choques deve ser imediata sob pena de perdemos o timing histórico e a credibilidade depositada neste governo. Estas medidas dependem exclusivamente do poder executivo, bastando para tanto convencer os burocratas da Receita Federal. Não serão necessárias tantas negociações junto ao congresso. Pegando carona em fala recente do presidente sobre o Brasil no hospital, diria que o paciente anda sim pelo corredor, mas com muitas enfermidades encubadas ainda não diagnosticadas pelos médicos – equipe econômica – e se voltar a UTI, somente escapará com drásticas intervenções. Fonte BADARÓ, Henrique. Os cinco choques e o presidente. Disponível em: <http://www.feebmg.org.br/noticias/files_web_2004/18_06_04.htm>. Acesso em: 22 ago. 2005. 2