SEÇÃO I Abordagem à aprendizagem em neurociências Parte 1. Quadro geral Parte 2. Conhecer as vias Parte 3. Entender a terminologia Toy_Neurociências_Seção I.indd 1 28/09/2015 14:00:26 2 TOY, SNYDER, NEMAN & JANDIAL 1. Quadro geral A neurociência é única, pois integra um entendimento da ciência em vários níveis, a partir de uma compreensão molecular de eventos, como, por exemplo, desde os receptores ao nível das sinapses até uma compreensão global dos tratos sensoriais/ motores e suas interações espaciais. É por meio do entendimento de todos estes conceitos que o aluno pode compreender melhor as apresentações clínicas dos distúrbios neurológicos e a teoria envolvida nas diferentes opções de tratamento. O aluno deve abordar cada tópico em neurociência em ambos os aspectos, se aplicável. Por exemplo, ao estudar a esclerose múltipla (EM), o aluno deve compreender que essa doença em nível molecular envolve a destruição de oligodendrócitos, responsáveis pela formação e pela manutenção da bainha de mielina em torno dos axônios do sistema nervoso central. O estudante, então, deve revisar os nódulos de Ranvier e os conceitos relativos à condução saltatória do potencial de ação. Em seguida, ele deve avaliar a condição de uma perspectiva neuroanatômica. Por exemplo, se o paciente com EM apresenta prejuízo na adução do olhar à direita, mas convergência normal e abdução normal ao olhar para a esquerda, o aluno terá condições não só de diagnosticar que o paciente possui uma oftalmoplegia intranuclear (OIN) à esquerda, mas também de entender que a lesão se localiza no fascículo longitudinal medial (FLM) à esquerda, e poderá seguir com a revisão da anatomia do trato FLM (ou seja, o FLM à esquerda conecta o núcleo do VI par craniano à esquerda com o núcleo do II par craniano à direita). O aluno deve se esforçar para compreender que tais sintomas fazem sentido, em vez de confiar na simples memorização. 2. Conhecer as vias Não há qualquer maneira de evitar isto: o aluno tem de memorizar as várias vias neurais (ou seja, o trato espinotalâmico, o trato corticospinal, etc.) de trás para frente. É mais fácil primeiro estudar cada trato separadamente e memorizar o caminho exato que os neurônios percorrem pelo corpo, anotando todas decussações ou sinapses para que o aluno possa determinar se as lesões irão produzir os sintomas ipsilateral (mesmo lado da lesão) ou contralateral (lado oposto à lesão), ou que núcleos estão envolvidos. O segundo passo seria sintetizar esta informação por meio da observação de várias secções transversais do sistema nervoso (a partir da medula espinal até o encéfalo) e ser capaz de identificar onde cada trato se localiza, revendo ao mesmo tempo a direção de cada um. É importante notar que os termos a montante e a jusante podem ser espacialmente diferentes, dependendo do trato referido. Por exemplo, no caso do trato corticospinal, a montante significa uma secção transversal acima do nível que está sendo estudado, uma vez que o sentido desse trato é descendente (o sentido da informação desloca-se caudalmente). No entanto, quando nos referimos ao trato espinotalâmico, a montante significa uma secção transversal inferior à que está sendo estudada, uma vez que o sentido desse trato Toy_Neurociências_Seção I.indd 2 28/09/2015 14:00:26 CASOS CLÍNICOS EM NEUROCIÊNCIAS 3 é ascendente (o sentido da informação desloca-se cranialmente). A terceira etapa envolve conhecer as secções transversais tão completamente que o estudante pode visualizar ou desenhar qualquer secção transversal, incorporando todos os tratos e núcleos envolvidos nessa secção. Durante todo o processo de estudo, os alunos devem estar se perguntando: se houver uma lesão nessa estrutura ou a este nível, que sintomas irão se manifestar? 3. Entender a terminologia Embora seja mais fácil memorizar a terminologia médica sem entender a origem do termo, é muito mais eficaz a longo prazo compreender a razão por trás do nome de uma estrutura ou condição patológica. Voltando ao nosso exemplo da EM, o termo esclerose refere-se às placas ou lesões na substância branca, enquanto o termo múltipla se refere à variedade de local e tempo. Em outras palavras, a fim de diagnosticar EM, o paciente deve ter pelo menos duas lesões anatomicamente distintas que ocorrem em dois períodos diferentes. Da mesma forma, o estudante não deve simplesmente memorizar estruturas como o trato espinotalâmico e os tratos corticospinais anteriormente mencionados. Em vez disso, deve entender que o trato espinotalâmico recebe a informação no nível da medula espinal que percorre até fazer sinapses nos núcleos talâmicos. Da mesma forma, o trato corticospinal envia informação proveniente de células no córtex motor para a medula espinal, o que, no final, coordena o movimento muscular via neurônios motores inferiores. DICAS DE NEUROCIÊNCIAS XXO estudante deve procurar entender a neurociência em nível molecular, sináptico e em um nível mais elevado, como o nível do trato sensorial/motor. XXA compreensão das vias neurais deve permitir ao aluno sintetizar, imaginar e desenhar as secções transversais desde o encéfalo até a medula espinal. XXO aluno deve se esforçar para entender a terminologia médica, em vez de simplesmente memorizá-la. Toy_Neurociências_Seção I.indd 3 28/09/2015 14:00:26