MATEMÁTICA E TDAH: IMPLICAÇÕES NA PRÁTICA ESCOLAR

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ISBN 978-85-8015-080-3
Cadernos PDE
I
Versão Online
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
MATEMÁTICA E TDAH: IMPLICAÇÕES NA PRÁTICA ESCOLAR
Maria José Fagundes Barbosa 1
Joseli Almeida de Camargo 2
Resumo
O tema presente neste artigo é o Transtorno de Déficit de Atenção (TDAH) e o ensino de Matemática.
Tem por objetivo descrever as práticas didáticas pedagógicas aplicadas a alunos portadores ou que
apresentam características do TDAH com acentuada defasagem nos conteúdos básicos da disciplina
de Matemática. O público alvo foram 14 alunos previamente selecionados através de critérios
presentes no Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais desenvolvido pela
Associação Americana de Psiquiatria, regularmente matriculados nos sétimos anos da Escola
Estadual José de Alencar no município de Curiúva – Pr. As metodologias utilizadas foram os Jogos e
a Resolução de Problemas abordando temas oriundos das experiências cotidianas dos alunos e
conteúdos básicos da disciplina que os alunos apresentavam maiores dificuldades. O suporte teórico
focou em Carvalho ( 2013); Muszkat, Miranda e Rizutti (2011); Mattos ( 2015); entre outros. A partir
deste estudo consolidou-se um caderno pedagógico com três unidades: Operações Fundamentais no
contexto dos números naturais e inteiros, Números Racionais, enfatizando as frações e os números
decimais e Grandezas e Medidas, visando ampliar o conceito de perímetro, área e volume. Com o
trabalho desenvolvido foi possível verificar que os alunos melhoraram o seu rendimento em sala de
aula, aprenderam a trabalhar em equipe e minimizaram as defasagens que apresentavam nos
conteúdos matemáticos trabalhados.
Palavras-chave: TDAH. Matemática. Aprendizagem significativa.
Introdução
O sistema educacional vigente demonstra a necessidade de mudanças nas
práticas pedagógicas utilizadas pelos professores em sala de aula em virtude de que
a escola caracteriza-se como um dos principais espaços onde ocorre a interação
entre as diferenças. Portanto, deve realizar ações que promovam a aceitação e
participação de todos. Concebe-se a necessidade de uma escola onde todos os
alunos, independente de classe, gênero, raça, religião ou portador de necessidades
especiais, conviva e interaja em coletividade.
As metodologias utilizadas pela maioria dos docentes nas salas de aula ainda
se encontram restritas a transmissão de um conhecimento pronto e acabado, sendo
1
Professora PDE: Graduação em Licenciatura em Ciências – Habilitação em Matemática, pela
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Cornélio Procópio (FAFICOP). Especialização em
Educação Matemática pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Cornélio Procópio
(FAFICOP) e Especialização em Ensino de Ciências pela Universidade Tecnológica Federal do
Paraná (UTFPR). Atua como professora da disciplina de Matemática na Escola Estadual José de
Alencar – Ensino Fundamental, no município de Curiúva – Paraná. Email: [email protected]
2
Professora Orientadora do PDE: Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Ponta Grossa –
Paraná. Email: [email protected]
o professor o único detentor do conhecimento e o aluno como um mero receptor
sem nenhuma participação ativa neste processo de construção. Reconhece-se a
necessidade que o professor reflita sobre a sua prática e procure adequá-la às
diversidades (singularidades e especificidades) apresentadas pelos seus alunos
visando à melhoria da aprendizagem de acordo com as suas particularidades. Entre
as diversidades destacam-se os alunos que pertencem à Educação Inclusiva.
O conceito de Educação Inclusiva é originário da Declaração de Salamanca
(1994), preconiza que todas as crianças portadoras de necessidades educativas
especiais têm o seu direito de acesso e permanência no ensino regular. O termo
“necessidades educativas especiais” não designa exclusivamente crianças com
deficiência física ou mental, compreende todas as necessidades consideradas
“destoantes da maioria” e que necessitem de um atendimento diferenciado.
A Educação Inclusiva busca a construção de uma escola igualitária, onde
todos os alunos que nela estão inseridos possuam um atendimento educacional que
lhes possibilite a construção do conhecimento como um todo para poderem atuar
efetivamente como cidadãos na sociedade.
Entre os alunos com necessidades educacionais especiais caracterizamos
aqueles que apresentam características ou são portadores do Transtorno de Déficit
de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e necessitam que o professor utilize práticas
pedagógicas condizentes com os sintomas apresentados (desatento, impulsivo e
hiperativo) para atingir uma aprendizagem significativa.
Alunos portadores do TDAH estão presentes em grande número nas salas de
aula e o comportamento diferenciado os impedem de obter a assimilação de
conteúdos básicos, principalmente no âmbito da disciplina de Matemática.
Neste contexto o presente artigo traz o relato de uma experiência obtida
durante o desenvolvimento do projeto PDE (Programa de Desenvolvimento
Educacional – PR) da aplicação de atividades direcionadas à alunos pertencentes
ao sétimo ano do Ensino Fundamental, detectados como portadoras do TDAH e que
apresentavam defasagem de conteúdos básicos da disciplina de Matemática.
Durante todo o desenvolvimento do projeto PDE foi priorizado a construção
do conhecimento matemático pelos alunos participantes, sendo que as ações
desenvolvidas foram condizentes com as características individuais.
Educação Inclusiva
A Inclusão escolar busca a erradicação da segregação e do preconceito,
fortalecendo a inserção e aceitação das pessoas com necessidades educacionais
especiais na escola regular. Na década de 90, em prol desta causa, destaca-se a
Conferência Mundial da Educação Especial, ocorrida na Espanha em 1994 e que
estabeleceu a Declaração de Salamanca. (NASCIMENTO, 2007, p.6)
A Declaração de Salamanca (1994, p.11) apresentou o princípio que deve
nortear as escolas inclusivas:
O princípio fundamental das escolas inclusivas consiste em todos os alunos
aprenderem juntos, sempre que possível, independentemente das
dificuldades e das diferenças que apresentem. Estas escolas devem
reconhecer e satisfazer as necessidades diversas dos seus alunos,
adaptando-se aos vários estilos e ritmos de aprendizagem, de modo a
garantir um bom nível de educação para todos, através de currículos
adequados, de uma boa organização escolar, de estratégias pedagógicas,
de utilização de recursos e de uma cooperação com as respectivas
comunidades. É preciso, portanto, um conjunto de apoios e de serviços para
satisfazer o conjunto de necessidades especiais dentro da escola.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996) em seu art. 58,
garante aos alunos com necessidades educacionais especiais o acesso à educação
em escolas de ensino regular. O art. 59 da LDB (1996) em seus artigos I, II, III, IV e
V, estabelecem os direitos que os sistemas de ensino devem garantir aos alunos
com necessidades especiais.
A Declaração de Salamanca (1994) e a LDB (1996) são documentos oficiais
que garantem aos portadores de necessidades especiais o acesso a uma educação
de qualidade, garantida por lei, em escolas de ensino regular. Neste contexto, a
Educação Inclusiva apresenta como pressuposto fundamental o rompimento de
antigas concepções de segregação e preconceito e disponibilizando as pessoas com
deficiência o reconhecimento como cidadãos e a inserção na escola regular.
Carvalho (2013, p.29) destaca:
As escolas inclusivas são espaços para todos, implicando um sistema
educacional que reconheça e atenda as diferenças individuais, respeitando
as necessidades de qualquer dos alunos. Sob essa ótica, não apenas
portadores de deficiência seriam ajudados e sim todos os alunos que por
inúmeras causas, endógenas ou exógenas, temporárias ou permanentes,
apresentem dificuldades de aprendizagem ou no seu desenvolviment o.
Concebe-se que a Educação Inclusiva é um processo em desenvolvimento o
qual abrange inúmeras mudanças, desde concepções há muito tempo arraigadas a
ações efetivas e concretas realizadas pelas políticas públicas.
Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade é um dos principais
transtornos do desenvolvimento infantil e tem causado preocupação devido a sua
grande incidência em crianças em idade escolar, atingindo de 3% a 6% delas,
afirmam Muszkat, Miranda, Rizzutti (2011, p. 15).
A ABDA (Associação Brasileira de Déficit de Atenção) caracteriza o TDAH
como “um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e
frequentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Ele se caracteriza por
sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade”.
Muszkat, Miranda e Rizutti (2011, p.15) destacam que o TDAH tem um
grande impacto em todas as situações que permeiam a vida das crianças sendo:
[...] um dos principais transtornos do desenvolvimento infantil e que se
caracteriza pela dificuldade na modulação da atenção, no controle dos
impulsos e na capacidade que a criança tem de controlar seu próprio nível
de atividade motora, planejando seus objetivos e estratégias de ação.
Apesar do grande número de estudos realizados sobre o TDAH as causas
precisas não são totalmente estabelecidas, reconhecendo-se, porém, a influência de
fatores genéticos e ambientais em seu desenvolvimento. Muszkat, Miranda e Rizzuti
(2011, p.36) escrevem:
[...] acredita-se que o TDAH relaciona-se a alterações biológicas e
neuroquímicas, mas que o diagnóstico depende de fatores contextuais que
envolvem uma visão de conjunto, isto é, da interface que contém e integra
substrato neurobiológico, fatores genéticos, modulação ambiental, que, na
sua múltipla interação condicionam as várias apresentações do transtorno
nos seus diversos fenótipos comportamentais.
Para Silva (2009) o TDAH deriva de um mau funcionamento do cérebro, com
uma alteração metabólica nas regiões pré-frontal e pré-motora do cérebro, e como a
região frontal do cérebro é a principal reguladora do comportamento humano,
causaria alterações encontradas no TDAH (impulsos e inquietação). Destaca a
presença do forte histórico familiar (carga genética), sendo comum, várias pessoas
da mesma família, apresentarem o problema.
Mattos (2015, p. 33) descreve os sintomas que devem ser observados pelo
menos durante seis meses e que devem estar compatíveis com a idade da criança
ou do adolescente de acordo com o DSM-5 (Diagnostic Statistical Manual, 5ª
Edição) publicado em 2013, pela Associação Psiquiátrica Americana.
Os sintomas de desatenção que devem ocorrer frequentemente nas crianças
e adolescentes de acordo com Mattos (2015) são: deixar de prestar atenção em
detalhes ou cometer erros por falta de atenção; ter dificuldade para manter a
atenção enquanto está realizando alguma atividade; ter dificuldade para se
concentrar no que as pessoas dizem quando elas estão falando diretamente
consigo; ter dificuldade de organizar e planejar as atividades; evitar ou adiar tarefas
que exigem esforço mental por muito tempo; perder as coisas ou colocar fora do
lugar; distrair-se com o ambiente à sua volta enquanto está fazendo alguma
atividade que exija concentração e esquecer-se de compromissos que combinou
com os outros.
O autor ainda destaca os sintomas de hiperatividade-impulsividade que
devem ser observados nas crianças ou adolescentes, são eles: ficar se remexendo
na cadeira ou mexendo com as mãos ou balançando as pernas enquanto está
sentado; levantar-se da cadeira em situações que deveria estar sentado (reuniões,
palestras, aulas); correr ou subir nas coisas em demasia, ter dificuldade para
permanecer calmo ou relaxado quando está brincando ou jogando; estar ativo
demais, como se estivesse com um motor ligado; falar demais; responder antes dos
outros terminarem a pergunta ou interromper antes dos outros terminarem de falar;
dificuldade para esperar a sua vez e interromper os outros quando eles estão
ocupados ou se intrometer na conversa dos outros.
Silva (2009, p.127) descreve a presença de três tipos básicos de TDAHs:
predominantemente hiperativo e impulsivo, com desatenção predominante e
combinada (desatenção e hiperatividade/impulsividade).
O diagnóstico do TDAH deve ser realizado com bastante maturidade, pois
como não há exames que forneça um parecer do transtorno, é necessária uma
observação cuidadosa envolvendo a história clínica com dados comportamentais da
criança, abrangendo, testes neuropsicológicos a depoimentos de familiares,
professores ou outras pessoas de seu convívio social. Também há necessidade de
se realizar um diagnóstico preciso, através de uma avaliação que integre fatores
biológicos, ambientais e neuropsicológicos relacionados à dinâmica familiar,
tentando se evitar equívocos. (Muszkat, Miranda e Rizutti, 2011, p. 27 e p. 63).
A utilização dos medicamentos no tratamento do TDAH ainda sofre bastante
resistência, mas tem demonstrado eficácia. Para Mattos (2015, p. 208):
Se o diagnóstico do TDAH for claro, ou seja, se há desatenção,
hiperatividade e impulsividade que causam problemas significativos na
escola, no ambiente familiar, no trabalho e no convívio com as outras
pessoas em geral, é necessário que o tratamento seja feito com
medicamentos.
É muito importante que a utilização de medicamentos seja realizada somente
segundo orientações médicas, sendo necessário algum tempo para que a
medicação ideal seja estabelecida, não havendo uma receita padrão que se aplique
para todos os casos, como afirma Silva (2009, p.242).
Visando a melhoria da qualidade de vida de uma criança TDAH e garantir um
bom rendimento escolar, a escola e a família precisam estar em sintonia. Peres
(2013, p. 40) destaca que os medicamentos podem auxiliar as crianças no processo
escolar, mais não atuará como uma pílula mágica, pois mesmo com a utilização do
medicamento podem ocorrer problemas, sendo necessário realizar mudanças no
estilo de vida das crianças e adolescentes.
TDAH na Escola
No ambiente escolar os sintomas dos portadores de TDAH aparecem com
maior evidência, pois as funções de atenção e organização, extremamente
necessárias na escola, são comprometidas.
O aluno com TDAH apresenta
comprometimento no rendimento escolar devido à dificuldade em prestar atenção,
observar detalhes cotidianos, permanecer atento, e concentrar-se em uma atividade
até o fim.
Ensinar é uma tarefa que impõe desafios diários e variados para o educador.
Neste sentido, Muszkat, Miranda e Rizutti ( 2011, p. 112) escrevem:
Ensinar uma criança com TDAH é ainda mais desafiador, pois além de os
sintomas de TDAH envolverem dificuldades no processo de aprendizado e
no comportamento, cada criança com TDAH é única. Na maioria das vezes,
os educadores não sabem o que fazer e sentem-se perdidos, cansados,
desanimados e sem apoio. Entretanto, não é possível recusar o direito
destas crianças ao ensino adequado de suas necessidades. Para isso, as
leis de inclusão estão mais abrangentes e rígidas. Também, não é possível
ignorar a presença dessas crianças na sala de aula.
Muszkat, Miranda e Rizutti (2011) destacam que é necessário disponibilizar
aos professores conhecimentos teóricos sobre o TDAH, para que aliado a novas
práticas metodológicas e ao saber do próprio professor ele obtenha resultados
satisfatórios.
Associado ao conhecimento teórico referente ao TDAH, o professor deve
conhecer as características de cada criança portadora do transtorno em sua sala de
aula, bem como o acompanhamento da família e da equipe pedagógica, para que
possa adequar suas estratégias de ensino. Segundo Mattos (2015) o professor ideal
tem que possuir criatividade e “jogo de cintura” para utilizar uma variedade de
alternativas e avaliar qual deu melhores resultados.
Muszkat, Miranda e Rizutti (2011, p.121) apresentam algumas orientações
para auxiliar os professores no seu trabalho:
- Manter contato com os pais da criança regularmente.
- Utilize estratégias e recursos de ensino flexíveis.
- Assinale e elogie os sucessos da criança tanto quanto for possível.
- As regras e instruções devem ser breves e claras, evite sentenças muito
compridas.
- Transforme as tarefas em jogos.
- Elimine ou reduza a frequência de testes cronometrados.
- Avalie mais pela qualidade do que pela quantidade de tarefas executadas.
- Dê preferência à estratégia de ensino participativo.
- Divida as tarefas grandes e várias pequenas.
- Utilize vários recursos de ensino, e não somente a voz.
- Estimule a criança a ler em voz alta.
- Sempre que possível, coloque o aluno com TDAH próximo de sua escrivaninha, na
primeira fila.
- Evite salas de aula com muitos estímulos que possam distrair o aluno.
- Evite trabalhos em grandes grupos, normalmente estas crianças necessitam de
atividades individualizadas.
- Permita que a criança deixe a sala de aula em momentos de muita hiperatividade.
Isso irá ajudá-la a reorganizar-se internamente.
- Quando estratégias punitivas se fizerem necessárias, explique para a criança a
razão da advertência ou da exclusão, imediatamente.
- Frente a um comportamento não desejado, como intrometer-se na sua conversa
com outro aluno, estimule-a a parar e pensar em situações alternativas.
O professor é elemento indispensável para que o aluno portador do TDAH
consiga ser atendido na sua necessidade e inserido na escola. O professor atua
como um elo de confiança na relação da família e escola, e buscando
aprimoramento teórico que lhe permitam aperfeiçoar suas práticas metodológicas
para
poder
atender
os
alunos
de
acordo
com suas
particularidades
e
especificidades.
Implementação do Projeto na Escola
O projeto “Matemática e TDAH: Implicações na Prática Escolar” foi
direcionado às crianças que eram diagnosticados com o Transtorno de Déficit de
Atenção e Hiperatividade (TDAH) ou apresentavam características do transtorno
inseridas nos sétimos anos (A e B) da Escola Estadual José de Alencar, situado no
município de Curiúva.
A implementação do projeto ocorreu inicialmente com a avaliação dos
cinquenta alunos dos sétimos anos A e B através dos questionários que continham
os critérios diagnósticos apresentados por Silva (2009, p.227-229) extraídos do
DSM-IV-TR para identificação dos alunos que apresentavam características de
acordo com os tipos de TDAH (desatento, hiperativo e combinado). Os questionários
foram aplicados e analisados pelos professores de Matemática e Língua Portuguesa
com acompanhamento da equipe pedagógica da escola, que atuavam junto aos
respectivos alunos.
A análise dos dados obtidos nos questionários foi realizada de acordo com as
orientações presentes no DSM-IV-TR/4ª edição, que indicavam a necessidade da
presença da observação de seis ou mais sintomas de cada tipo de TDAH
(desatento, hiperativo e combinado) que deveriam ser analisadas por um período de
pelo menos seis meses, para que o aluno fosse então considerado portador do
TDAH.
É importante destacar que o mesmo procedimento em relação à identificação
dos alunos com características ou portadores do TDAH havia sido realizado no ano
anterior (2014) pelos professores das mesmas disciplinas citadas e da equipe
pedagógica nos alunos que estavam inseridos no sexto ano do ensino fundamental.
O resultado obtido revelou uma grande clientela que correspondia às características
do transtorno mencionado, entretanto, como o conhecimento referente ao TDAH era
escasso, não foram realizadas medidas eficazes para a melhoria da aprendizagem
desses alunos como um todo.
Após a análise, o grupo de professores e equipe pedagógica, durante o
período
de
um mês, observou diariamente
e
atentamente os 14 alunos
diagnosticados para confirmação dos resultados concluídos. Após as observações
dos alunos, constatou-se que, realmente, enquadravam-se no projeto a ser
implementado.
Realizou-se, então, uma reunião com os pais ou responsáveis dos alunos
indicados para participação no projeto. A reunião ocorreu na escola com a presença
da Diretora, Pedagoga e da Professora responsável pelo projeto, que comunicou
aos pais presentes os objetivos do trabalho e os procedimentos que foram
realizados para a seleção dos alunos. Foi entregue aos pais um documento que
descrevia como ocorreriam as ações do projeto e solicitado que assinassem
autorizações para a participação dos alunos e para fotografá-los e filmá-los durante
os encontros. A professora explicou que as fotos e a filmagem eram direcionadas
apenas para fins do projeto. Os pais mostraram-se receptivos, autorizando os filhos
e comprometendo-se a auxiliá-los nas situações que mostrassem dificuldades.
Mencionaram que
não
tinham conhecimento
sobre
o TDAH e buscariam
informações, bem como levariam seus filhos para obter atendimento médico. Dos
14 pais convocados, compareceram 12.
Ressalta-se que mesmo existindo contato assíduo da equipe pedagógica com
os familiares, apenas cinco famílias foram atuantes durante a implementação do
projeto, dirigindo-se a escola para verificar os resultados alcançados.
Dos 14 alunos selecionados 02 se recusaram a participar, alegando não
poder
comparecer
no
contraturno.
Outro
aluno
desistiu
no
decorrer
da
implementação pelo mesmo motivo. Os familiares dos três desistentes comunicaram
a escola sobre as razões pelas quais seis filhos não poderiam participar do projeto,
manifestando tristeza pelo fato. Portanto dos 14 alunos selecionados participaram
efetivamente 11 alunos.
As atividades realizadas durante a implementação do projeto deram origem a
um Caderno Pedagógico dividido em três grandes unidades: as Operações
Fundamentais com o objetivo de retomar e ampliar os conhecimentos sobre as
operações com números inteiros e seus significados; os Números Racionais com o
objetivo de ampliar e consolidar o conceito de frações e números decimais em
diferentes contextos do cotidiano dos alunos e Grandezas e Medidas com o objetivo
de ampliar a construção de medida, percebendo sua importância nas situações do
cotidiano.
Todas as atividades foram desenvolvidas utilizando jogos e situaçõesproblema, visando minimizar as dificuldades de aprendizagem dos alunos envolvidos
em relação
aos
conteúdos
básicos
da Matemática, sempre focando nas
características apresentadas pelos alunos diagnosticados com o TDAH.
A opção pelos jogos se deu por estes proporcionarem nas aulas de
matemática
uma
mudança
nas práticas pedagógicas geralmente adotadas,
comumente apoiadas no livro didático com a resolução de exercícios mecânicos e
repetitivos. Segundo Smole, Diniz e Milani (2007):
Os jogos auxiliam o desenvolvimento de habilidades como observação,
análise, levantamento de hipóteses, busca de suposições, reflexão, tomada
de decisão, argumentação e organização. Estas habilidades desenvolvem se porque ao jogar os alunos tem a oportunidade de resolver problemas,
investigar e descobrir a melhor jogada; refletir e analisar as regras;
estabelecendo relações entre os elementos do jogo e os conceitos
matemáticos. Enfim, o jogo possibilita uma situação de prazer e
aprendizagem significativa nas aulas de matemática.
Peres (2013,p.70) argumenta que o “jogo é o meio de aprendizagem pelo qual
a criança investiga, explore e descobre o mundo que o rodeia, pois conhecendo o
mundo, a criança vai conhecendo a si mesma.”
Optou-se pela Resolução de Problemas, uma vez que se visa com esta
metodologia compreender o que se pede e buscar maneiras diferenciadas para se
obter a resposta correta, adotando uma atitude de investigação. (SMOLE, DINIZ E
MILANI, 2007).
Neste contexto, a importância dos jogos e da resolução de problemas como
práticas metodológicas e que estão condizentes com as características dos alunos
que apresentam o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade justifica a sua
presença nas atividades do Caderno Pedagógico utilizado durante a implementação.
Para a aplicação do projeto foi previsto inicialmente nove encontros, no
entanto houve a necessidade de realizar um encontro a mais para concluir as
atividades previamente elaboradas, totalizando a realização de dez encontros
durante a implementação.
1º Encontro: realizou-se uma dinâmica denominada “Dinâmica da Teia” que
consistia na formação de uma grande “teia” com a utilização de um barbante onde
todos deviam se apresentar e indicar suas expectativas para o projeto. Na sequência
foram realizadas duas atividades que abordavam a presença dos números naturais
em nosso cotidiano, utilizando jornais, revistas, folhetos de supermercados e lojas,
recorte e colagem, e a utilização dos mesmos em situações-problemas. A atividade
final deste encontro verificou o conhecimento prévio dos alunos referente às
situações que envolvem a presença dos números inteiros.
Neste encontro compareceram 12 alunos, que participaram ativamente das
atividades
desenvolvidas,
demonstrando
satisfação
e
motivação
durante
a
realização das mesmas. Apenas quando foi solicitada a realização de uma breve
avaliação escrita sobre o encontro, alegaram não saber como escrever o que fora
solicitado, e indagaram a quantidade de linhas que a serem escritas. Entretanto
fizeram a atividade.
2º Encontro: inicialmente foi questionado aos alunos sobre o que entendiam
por “Alimentação saudável ou equilibrada”. Após as discussões foi apresentado aos
alunos vídeos que abordavam a temática da alimentação saudável. A segunda
atividade abordava o tema Alimentação Saudável através de uma situação-problema
onde os alunos deveriam: elaborar um cardápio para uma refeição e verificar as
calorias, realizar cálculos em relação ao total de calorias consumidas e elaborar um
texto sobre o tema. A atividade final apresentava o Jogo das Calorias onde os
alunos deveriam realizar cálculos adequados a cada etapa do jogo.
Neste encontro compareceram 11 alunos, que participaram ativamente das
atividades, sendo que as que envolviam cálculos foram realizadas em dupla. O jogo
foi realizado com grande motivação. Demonstraram descontentamento novamente
ao realizar o texto solicitado na segunda atividade e na avaliação do término do
encontro. Ressalto a necessidade de adaptação ocorrida neste encontro: na
segunda atividade havia a necessidade de acesso à internet para consultar a
definição de caloria, quilocaloria e uma tabela que continha as calorias de diversos
alimentos. Como não havia a possibilidade de acesso à internet, pois o Laboratório
de Informática estava com todos os aparelhos danificados, houve a necessidade de
disponibilizar aos alunos as definições solicitadas e a tabela impressa.
3º Encontro: a primeira atividade desenvolvida neste encontro revisou as
características dos números inteiros através de uma apresentação em slides. A
segunda atividade abordou os alimentos, sendo disponibilizada aos alunos uma
tabela que indicava a quantidade mínima de alimentos que deveria ser consumida
por uma pessoa mensalmente. Baseados nesta tabela os alunos realizaram duas
situações-problemas: a primeira consistia na visita a um supermercado para
pesquisa de preços e comparação com o salário mínimo atual; a segunda consistia
na apresentação de um vídeo referente à fome e miséria no Brasil e questionamento
de problemáticas referente ao tema.
Neste encontro compareceram 11 alunos que demonstraram dificuldades
para realizar a segunda atividade, que consistia em realizar cálculos com o valor dos
alimentos pesquisados no mercado e o valor do salário mínimo. Durante a visita ao
supermercado comportaram-se adequadamente e com entusiasmo. Participaram
ativamente
das
discussões
sobre
o
tema
do
vídeo disponibilizado, mais
demonstraram insatisfação na realização do texto solicitado. Novamente foi
necessária uma adaptação em decorrência da falta de acesso a internet, sendo
necessário disponibilizar aos alunos o valor atual do salário mínimo que deveria ser
pesquisado por eles.
Os jogos previstos para este encontro não foram realizados, pois a atividade
que envolvia a situação-problema utilizou bastante tempo, em decorrência da sua
complexidade.
4º Encontro: neste encontro, foram realizados os jogos previstos para o
terceiro encontro: Derruba Caixas, Soma zero e Bingo dos Inteiros. Todos os alunos
participaram com grande motivação dos jogos, solicitando a minha presença em
momentos de dúvidas sobre o conteúdo e questionamentos referentes às regras.
Na sequência foi realizada a Dinâmica dos Retângulos, que consistia na
exploração da folha sulfite e sua divisão em partes menores. A atividade seguinte
era o Jogo dos Decimais, onde os alunos eram divididos em grupos e deveriam
formar números
decimais. A última atividade realizada neste encontro foi
denominada Evolução. Inicialmente os alunos assistiram a um vídeo sobre a
evolução dos números e a relação entre eles e depois foi distribuído aos alunos
fichas com diversos números para que eles indicassem a qual conjunto numérico
pertencia em um quadro disposto na lousa.
Os 11 alunos que compareceram neste encontro demonstraram entusiasmo e
foram ágeis na realização das atividades, participando ativamente dos jogos
realizados. Demonstraram insatisfação apenas no momento em que foi solicitada a
realização da avaliação do encontro, através de um texto escrito.
5º Encontro: inicialmente foram revisadas as noções básicas das frações
utilizando slides. Na sequência foi distribuído aos alunos um texto denominado “Uso
doméstico da água”, sendo realizada a leitura e discussões referentes ao tema do
presente no texto. Os alunos emitiram suas opiniões e comentaram como agiam em
relação à economia da água em suas residências. Através das discussões
concluímos que mesmo tendo noções das ações necessárias para a economia
d’água, não as realizavam. Dando continuidade, foi entregue aos alunos um gráfico
com dados sobre o consumo doméstico da água em frações. Efetuaram os cálculos
solicitados comparando o gráfico disponibilizado e o consumo de sua casa (
presente na fatura de água solicitada que trouxessem de sua residência).
Finalizando realizaram um texto sobre o tema da atividade.
Participaram deste encontro 11 alunos. As atividades que envolviam cálculos
foram realizadas em dupla, sendo que em diversos momentos solicitaram auxílio
para concluir a atividade. Manifestaram descontentamento na realização do texto
solicitado, porém, foi perceptível que já estavam se adaptando a realizar textos.
Novamente não foi possível concluir todas as atividades previstas para este
encontro, pois a atividade contendo a solução-problema necessitou de um tempo
maior, devido às dificuldades apresentadas.
6º Encontro: A primeira realizada neste encontro foi o Dominó de Frações
que abordou a parte gráfica com a representação de frações. Os alunos foram
divididos em equipes de 3 e 4 pessoas. A segunda atividade foi o Painel de Frações,
em que os alunos deveriam construir círculos e dividi-los em frações unitárias.
Na
sequência
foi
disponibilizada
aos
alunos uma apresentação em
PowerPoint contendo diversas imagens com situações do cotidiano em que os
números decimais estão presentes. Em continuidade, os alunos manusearam e
exploraram o Material Dourado para compreensão dos conceitos que envolvem os
números decimais.
Este encontro contou com a presença de 10 alunos, que participaram com
entusiasmo do jogo e da atividade envolvendo as frações. Nesta atividade
apresentaram dificuldades, pois foram necessários conhecimentos de leitura e
medidas
de ângulos. Alguns alunos que conseguiram realizar a atividade
rapidamente auxiliaram os colegas que não conseguiram manejar habilmente o
compasso e transferidor. Demonstraram bastante entusiasmo ao manejar o Material
Dourado realizando comparações entre os décimos, centésimos e milésimos.
Não foram realizadas todas as atividades previstas para o sexto encontro,
porém destaca-se o entusiasmo, a participação de todos e o envolvimento entre os
colegas durante a realização das atividades. Ao realizarem a avaliação solicitada,
não houve reclamações.
7º Encontro: os alunos analisaram a fatura de luz que haviam trazido de suas
casas, solicitada no encontro anterior. Como alguns alunos não trouxeram a fatura, a
atividade se realizou em dupla. Foi apresentado o conceito de quilowatt e
juntamente com os alunos foram efetuados cáculos para identificar o preço do
quilowatt de cada fatura. Na sequência, através da consulta ao Simulador de
Consumo da Copel, que apresenta o consumo de cada aparelho elétrico, os alunos
realizaram alguns cálculos relativos a consumo elétrico. Ao término da atividade
apresentaram dicas para o consumo consciente de energia elétrica. A segunda
atividade realizada foi o jogo “Juntando R$120,00”, em que os alunos unidos em
equipe de quatro realizavam cálculos com números decimais.
Neste encontro compareceram 10 alunos, que demonstraram dificuldades
para realizar a atividade referente à fatura de luz. Embora havendo dificuldades, não
desistiram e pediram auxílio e conseguiram concluir todas as questões solicitadas.
Durante o jogo mantiveram-se atentos e concentrados.
Por dois momentos neste encontro, houve certa frustração, pois novamente
não foi possível levá-los ao Laboratório de Informática, e as atividades que deveriam
ser realizadas com pesquisa a internet não foi possível, havendo a necessidade de
disponibilizar aos alunos a definição e a tabela do Simulador da Copel.
8º Encontro: foram apresentados os Blocos Lógicos e o Geoplano para
identificação e classificação dos polígonos. Em dupla confeccionaram cartazes
contendo os polígonos de acordo com o número de lados. Na sequência realizaram
atividades com diversas “unidades de medida” que possibilitaram aos alunos a
construção do significado do termo medida. A terceira atividade realizada foi à
construção do metro linear através de dobraduras e colagens e a realização de
diversas medidas do ambiente escolar e o cálculo do perímetro.
Os 9 alunos presentes neste encontro participaram com bastante entusiasmo
das atividades propostas realizando todas as ações solicitadas e demonstrando um
conhecimento prévio que possibilitou os conteúdos trabalhados. Não demonstraram
insatisfação com a solicitação da avaliação.
9º Encontro: a primeira atividade realizada foi a construção do metro
quadrado utilizando canos de PVC.
Em seguida foi solicitado aos alunos que
entrassem no espaço delimitado pelos canos para verificar quantos caberiam neste
espaço. Na sequência realizaram a medida de diversos ambientes da escola com o
metro construído. A segunda atividade consistiu na apresentação de um vídeo
referente à história do Tangram e sua posterior construção em cartolina para
identificação dos polígonos presentes e cálculo do perímetro de cada um deles. A
terceira atividade realizada foi à construção da planta da escola que estavam
inseridos em papel cartão (bobina) para efetuar cálculos de área de cada
dependência e da escola toda.
Neste encontro participaram 10 alunos que demonstraram grande entusiasmo
através da participação efetiva em todas as atividades desenvolvidas e do
conhecimento apreendido. Não foi possível o término da terceira atividade, sendo
que os alunos apenas realizaram a construção da planta da escola no papel
disponibilizado.
10º Encontro: este encontro iniciou-se com a resolução da terceira atividade
do encontro anterior referente à planta da escola. Os alunos foram divididos em
trios, sendo que cada trio ficou responsável pelas medidas de pontos determinados
da escola. Após efetuar as medidas, colocaram no desenho original e calcularam em
conjunto a área de cada dependência da escola e posteriormente a área total.
Na sequência foram realizadas atividades que possibilitaram a relação entre
as grandezas de perímetro, área e volume. Inicialmente os alunos confeccionaram a
planificação do cubo e do paralelepípedo e manusearam novamente o Material
Dourado. A próxima atividade consistiu na montagem de um metro cúbico utilizando
canos de PVC que haviam sido previamente cortados, sendo que cada cano possuía
um metro de comprimento. Foram realizadas diversas explorações e medidas com o
metro cúbico construído.
A terceira atividade possibilitou aos alunos, com a
utilização dos materiais construídos e dos conhecimentos adquiridos, efetuar o
desenho de sua sala de aula, utilizando medidas e cálculos de perímetro, área e
volume deste ambiente. A última atividade abordou conceitos trabalhados referentes
a grandezas através do Jogo da Memória que continha sentenças com os temas de
perímetro, área e volume. Os 10 alunos participantes foram divididos em duas
equipes que deveriam responder as questões presentes nas fichas do jogo. Venceu
quem teve mais acertos.
Este encontro teve a presença de 10 alunos extremamente participativos e
atuantes. Com destaque para todas as atividades que foram realizadas em conjunto,
uns auxiliando aos outros e pedindo a participação da Professora como “colega” em
momentos de dúvidas.
Considerações Finais
O Transtorno
de
Déficit de
Atenção
e
Hiperatividade
(TDAH) tem
impulsionado vários estudos na área da educação e não mais somente na área da
saúde. Entendemos que isso ocorre devido a toda polêmica em relação aos
diagnósticos e ao tratamento estabelecido, sendo com medicamentos ou terapias,
acarretando um problema no processo de ensino aprendizagem dos alunos
portadores do TDAH.
Associado este diagnóstico ao ensino e aprendizagem da matemática,
percebe-se que os referidos alunos apresentam grandes defasagens em conteúdos
básicos da disciplina, além de que as práticas metodológicas utilizadas não estão
proporcionando um aprendizado significativo a esses alunos.
A preparação apropriada dos educadores dispostos a trabalhar com os
portadores de necessidades especiais constitui-se um fator-chave, no progresso do
ensino.
Espera-se que na atual formação de educadores estejam previstos nos
componentes curriculares estudos que contemplem o conhecimento a cerca das
necessidades e potencialidades dos alunos, bem como decorrentes práticas de
ensino a serem adotadas em classes comuns do ensino regular quando
diagnosticado alunos com TDAH.
Durante o estudo realizado foi necessário uma extensa pesquisa referente ao
TDAH
para
compreender
os
conceitos
relacionados
ao
transtorno
e
a
conscientização da necessidade de mudança da prática pedagógica adotada em
sala de aula.
Em relação ao sistema de ensino vigente, foi possível perceber que não têm
sido disponibilizadas aos professores condições físicas e materiais para que
trabalhem com alunos pertencentes à inclusão.
Outro fato relevante durante o período de pesquisa do presente tema foi a
riqueza de possibilidades ofertadas pelos jogos e resolução de problemas, pois
embora não sejam práticas inovadoras possuem infinitas fontes de inserção,
independente do conteúdo, sendo que a utilização das duas permite a união do
concreto ao lúdico. Houve ênfase também nas possibilidades de aplicação que
condiziam com as características das crianças portadoras do TDAH.
O trabalho desenvolvido superou as expectativas iniciais, pois os alunos
embora reticentes no início participaram ativamente e desenvolveram todas as
atividades
propostas. Embora
apresentassem dificuldades em determinados
conteúdos questionavam e interagiam buscando sanar as dúvidas que surgiam.
O grupo de alunos envolvidos no projeto aprendeu a trabalhar em equipe,
auxiliando uns aos outros em todos os momentos. Manifestaram satisfação nas
atividades que continham soluções-problema, pois os temas “problematizados”
estão presentes em seu cotidiano. Ao participarem dos jogos todos se envolviam
completamente e pediam para continuar, aliando o entusiasmo à aprendizagem.
Entre os obstáculos encontrados durante a implementação vale lembrar: falta
de computadores em funcionamento no Laboratório de Informática, para que os
alunos realizassem pesquisas previstas no projeto; assiduidade de todos os alunos
durante a implementação; desmotivação para realizar atividades que envolviam
produção de textos; indisciplina (em alguns momentos) devido às características
inatas do transtorno. A maior frustração foi à impossibilidade de utilizar o Laboratório
de Informática, pois embora tenha sido contornado, os alunos ficaram entristecidos
por não terem utilizado os computadores, pois a tecnologia é uma grande aliada
para a aprendizagem dos alunos portadores do TDAH.
A necessidade de inserir mais um encontro para conseguir aplicar todas as
atividades propostas trouxe à tona a necessidade de utilizar práticas que estejam
condizentes com as características de cada tipo do transtorno, pois cada um
comporta-se de maneira diferenciada. O excesso nem sempre traz bons resultados
para a aprendizagem como um todo.
Outro destaque também foi a grande aceitação e envolvimento de todos os
professores que participaram do Grupo de Trabalho em Rede (GTR). Entre os 20
professores
inscritos, 16
concluíram, sendo
que
durante os três módulos
participaram ativamente, trocando ideias e discussões nos fóruns e elaborando
excelentes planos de ações. No término do GTR demonstraram, satisfação e a
aquisição de um conhecimento que poderão utilizar em seu cotidiano escolar.
O trabalho desenvolvido possibilitou a todos os envolvidos, professores e
alunos, ampliarem os conhecimentos sobre o TDAH e ao mesmo tempo, alertou
para a conscientização constante sobre o tema e contínua atualização teórica.
Referências
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em <http://www.tdah.org.br/>. Acesso em 02 jan. 2016.
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Brasília, 2014. Disponível em :<
http://bd.camara.gov.br/bd/handle/bdcamara/17820>. Acesso em 05 jan. 2016.
CARVALHO, Rosita Edler. Educação Inclusiva: com os pingos no “is”. 9. ed. Porto
Alegre: Mediação, 2005.
MATTOS, Paulo. No Mundo da Lua: perguntas e respostas sobre o Transtorno do
Déficit de Atenção com Hiperatividade em crianças, adolescentes e adultos. 16 ed.
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MUSZKAT, Mauro; MIRANDA, Monica Carolina; RIZZUTTI, Sueli. Transtorno do
Déficit de Atenção e Hiperatividade. Vol.3. São Paulo: Cortez, 2011.
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Leonardo da Vinci. Caderno de Estudos. Educação à Distância. Indaial:. ASSELVI,
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PERES, Clarice. TDA-H (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade): da
Teoria à Prática: manual de estratégias no âmbito familiar, escolar e de saúde. Rio
de Janeiro: Wak Editora, 2013.
SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes Inquietas: TDAH: desatenção, hiperatividade
e impulsividade. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.
SMOLE,Kátia Stocco; DINIZ, Maria Ignez; MILANI, Estela. Cadernos do Mathema:
Jogos de Matemática de 6º a 9º ano. Porto Alegre: Artmed, 2007.
UNESCO. Declaração de Salamanca e Linha de Ação sobre Necessidades
Educacionais Especiais. 1994. Disponível em
<http://laramara.org.br/uploads/arquivos/legislacao/declaracao-salamanca-onu994.pdf>. Acesso em 5 jan. 2016.
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