O trabalho de conclusão de curso e a Pesquisa Social na formação, como possiblidades de construção de habilidades profissionais 1 Maria Lúcia Garcia Mira2 [email protected] Selma Amaral Silveira3 [email protected] Valéria Alves Escudeiro Giovannetti 4 valé[email protected] Viviane Elisabeth Diniz da Silva 5 [email protected] Modalidad de trabajo: Eje temático: Palabras claves: Presentación de experiencias profesionales y metodologías de intervención Desafíos para la Formación Profesional en América Latina y Caribe Formação; Diretrizes Curriculares; Pesquisa Social; Competências Profissionais; Serviço Social. Introducción y objetivos O presente trabalho é um relato de experiência do ensino da pesquisa como ferramenta e condição de atuação profissional para assistentes sociais. Tem como objetivos registrar a experiência de construção pedagógica do ensino da investigação para a formação de assistentes sociais, bem como, apresentar as condições concretas em que foram realizadas. O Curso de Serviço Social da Universidade de Santo Amaro – UNISA, fundado em 1976, entendia no final da década de 90, que a postura investigativa deveria ser condição para a superação da dicotomia entre a teoria e a prática, sendo necessária para a leitura da realidade e para o exercício do trabalho profissional de assistentes sociais. Nesse sentido, o ensino da pesquisa foi pensado coletivamente entre o corpo docente e a coordenação do Curso, sendo reformulado constantemente em cada processo de planejamento e avaliação dos semestres letivos, em avaliações das quais participaram docentes e discentes, na revisão dos resultados para a aproximação das 1 Ponencia presentada en el XIX Seminario Latinoamericano de Escuelas de Trabajo Social. El Trabajo Social en la coyuntura latinoamericana: desafíos para su formación, articulación y acción profesional. Universidad Católica Santiago de Guayaquil. Guayaquil, Ecuador. 4-8 de octubre 2009. 2 Doutoranda em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUCSP. Mestre em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo. Professora do Curso de Serviço Social das Facultades Metropolitanas Unidas – FMU. Brasil. 3 Doutora e Mestre em Serviço Social pela PUCSP. Professora do Curso de Serviço Social da Universidade de Santo Amaro – UNISA. Brasil. 4 Doutoranda e Mestre em Serviço Social pela PUCSP. Professora do Curso de Serviço Social da FMU. Supervisora Técnica da Assistência Social da Prefeirura do Município de São Paulo. Brasil. 5 Mestre em Serviço Social pela PUCSP. Professora do Curso de Serviço Social da Universidade Nove de Julho – SP. Assistente Social da Prefeitura da Cidade de São Paulo - Brasil. 1 Diretrizes Curriculares do Serviço Social. Pelas condições objetivas que foram suprimindo as possibilidades investigativas na Universidade 6, o Curso concentrou esforços para que o Trabalho de Conclusão de Curso – TCC fosse uma experiência pedagógica valorizada de pesquisa, favorecendo a síntese teórico/prática pelos alunos, acompanhados pelos professores em sala de aula, no processo de qualificação e apresentação final do trabalho e, continuadamente pelo professor orientador. Para a realização desse objetivo, a disciplina de Pesquisa em Serviço Social, a Oficina de Pesquisa, e, as Oficinas de Formação Profissional que, atravessava a grade curricular desde o primeiro semestre do Curso, foram pensadas no sentido da aproximação e finalmente da capacitação do aluno. Pesquisa e TCC foram trabalhados conjunta e concomitantemente, contribuindo de forma importante para a passagem do aluno à profissionalização, à medida que possibilitava o processo de síntese entre a formação teórica e a leitura da realidade na qual atuaria. A grade curricular continha a proposição de capacitação do aluno para a construção coletiva da profissão, no sentido da busca do conhecimento para as exigências do campo profissional. Assim, a pesquisa social que compunha o currículo da escola foi dimensionada não só como disciplina, mas como postura investigativa na direção da compreensão da realidade e da construção do conhecimento. Para CARDOSO, “A pesquisa se insere no processo de formação profissional do assistente social como exigência no processo de superação do pragmatismo, o qual foi marcante na história de sua prática profissional e ainda se faz presente na contemporaneidade” (1998, p 27) As dimensões investigativas e interventivas, são condições para a formação profissional, definidas já nas Diretrizes Curriculares e “exigência para a sistematização teórico-prática do exercício profissional e para a definição de estratégias e de instrumental técnico-operativo que potencializam as formas de enfrentamento das diferentes manifestações da questão social.” (CARDOSO, 1998, p. 31) Trata-se de uma necessidade já tantas vezes denunciada nas produções da categoria e observada por SIMIONATO, na análise da trajetória da profissão, relacionada ao processo de investigação: Se a nossa produção teórica afirmou o Serviço Social enquanto área do conhecimento, observa-se, no quadro atual, que a qualificação desse conhecimento no plano macroestrutural vem perdendo a relação com a 6 Trata-se de uma Universidade privada que, para o gerenciamento de custos operacionais, durante a primeira década de 2000 foi suprimindo despesas que, por vezes, comprometeram a tríade ensino, pesquisa, extensão – compromisso da formação universitária. 2 profissão e com a intervenção. Consideradas as particularidades das ações investigativas e interventivas, verifica-se um descolamento da produção de conhecimentos dos objetos reais da profissão para o movimento da sociedade, sem efetuar-se o “caminho de volta”. (SIMIONATO, 2005 p. 57 - 58) Desarollo Contexto e história. O desenvolvimento do Serviço Social no Brasil, nas décadas de 80 e 90 resultou na construção de marcos que definiram o projeto de profissão, assumido hegemonicamente pela categoria dos assistentes sociais, a partir de então, no país. O acesso às fontes teóricas possibilitou o desvelamento das relações sociais na sociedade de classes, como também, o estudo e análise da profissão inserida na sociedade e entendida como um trabalho, inscrito na divisão sócio técnica do trabalho. (IAMAMOTO, 1982; 1999; 2007) A trajetória acadêmica e a ação profissional de uma massa significativa de assistentes sociais tiveram como decorrências, a clareza sobre a dimensão política e a possibilidade da opção ética pelos interesses da maioria da população, constituída por trabalhadores. O projeto ético político, expresso formalmente nos princípios do quinto Código de Ética dos Assistentes Sociais no Brasil (NETTO, 2000), possibilitou a definição das opções e compromissos profissionais, na direção da construção de um outro modelo de sociedade e ao mesmo tempo, o compromisso com a competência profissional. A Regulamentação da Profissão (Lei 8.662/93) também foi um dos marcos nessa trajetória. A produção teórica a partir da pós-graduação ocorreu a partir do encontro com as diferentes correntes do pensamento marxista, bem como do diálogo com o pensamento social, que a elas se contrapõem. (YAZBEK, 2000) As Diretrizes Curriculares, construídas coletivamente com as entidades da categoria, (ABESS, 1997) em que participaram docentes, discentes e profissionais, objetivou a formação do assistente social com capacidade para o deciframento da realidade e das contradições estruturais, entendendo as mediações necessárias para o trabalho profissional no cotidiano da vida da população e suas condições, materiais e subjetivas. É necessário pontuar, entretanto, que os Cursos de Serviço Social no Brasil estão submetidos à definição do Ministério da Educação e Cultura – MEC. As Diretrizes Curriculares para os Cursos de Serviço Social foram aprovadas pelo MEC em 2001, 3 através do Parecer do CNE/CES Nº. 492/2001. Um dos pontos altos de discussão sobre as Diretrizes Curriculares do MEC refere-se à sua implantação, especialmente dentro de instituições privadas de ensino de graduação, diante da atual conjuntura nacional, de mercado capitalista neoliberal, no qual ocorre a expansão dos cursos de Serviço Social pelo Brasil afora e, em destaque, na cidade de São Paulo 7. De modo diferenciado, de como pretendem as Diretrizes Curriculares da ABEPSS, a direção implementada pelo MEC para o ensino superior no Brasil, tende a deslocar a pesquisa “exclusivamente para a pós-graduação, predominantemente situada nas universidades públicas”, o que pode comprometer a formação de profissionais com capacidade de leitura das condições sociais da população brasileira. (IAMAMOTO, 2007 p.437) Assim, as Diretrizes Curriculares estabelecidas pelo MEC em 2001, decorrentes da regulamentação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº. 9.394, de 20/12/1996), apontam para “uma forte tendência de redução do ensino da pesquisa à disciplina e essa, com conteúdo restrito à dimensão técnico-operativa” (ABREU, 2007 p. 122). Agudizam-se na atualidade, no Brasil, as tensões entre o projeto profissional hegemônico e as condições da realidade em que predominam os interesses econômicos sobre as políticas sociais, como a educação, voltadas para a maioria da população. A experiência relatada a seguir refere-se a uma proposta de resistência a essa tendência, por um contingente de professores, assistentes sociais, comprometidos com a formação profissional. O compromisso com a formação de assistentes sociais. A inserção do Curso de Serviço Social da UNISA na discussão da implantação das Diretrizes Curriculares da ABEPSS aconteceu no período de 1996 a 2007. Muitos desafios foram enfrentados, para a construção de estratégias que buscavam as possibilidades ao longo desses onze anos. A participação da UNISA – Faculdade de Serviço Social aconteceu de forma sistemática nas oficinas regionais da ABEPSS – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social na região Sul II8. A reflexão colocada nas Oficinas foi levada ao corpo docente da Unidade de Formação 7 Observa-se, a expansão acentuada da oferta de cursos de Serviço Social nos três últimos anos. No site do Ministério da Educação há informação sobre o registro de 51 cursos de Serviço Social no estado de São Paulo. Desses, somente 2 são públicos, 25 estão na região metropolitana e apenas no município de São Paulo, 19 cursos já possuem autorização do MEC para funcionamento. Há informação no site do MEC de somente uma escola que têm autorização para a modalidade EaD (Ensino à distância), em São Paulo. No entanto, é de conhecimento que pelo menos mais uma, a própria UNISA, opera nessa modalidade, na cidade de São Paulo. (www.educacaosuperior.inep.gov.br/ acesso em 02/06/2009) 8 A ABEPSS, antiga ABESS, é uma associação nacional que, em função da extensão territorial do país, divide-se administrativamente em seis regiões: Nor te, Nordeste, Centro-Oeste, Leste, Sul I e Sul II. Desta última, fazem parte os estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul. 4 Acadêmica – UFA, possibilitando que os professores se apropriassem da mudança de paradigma, rompendo com o isolamento de sala de aula e a dicotomia do currículo mínimo e do currículo pleno, algo já sedimentado na prática cotidiana dos docentes. A Oficina Nacional da ABESS9, de 1996 em Recife, foi um marco para a profissão e para a aprovação do documento que direcionava as Diretrizes Curriculares como uma superação do debate profissional que se mantinha nos anos 80, rompendo com a fragmentação entre a teoria e a prática. Foi nessa direção que, dentro da UFA abriu-se a discussão visando à mudança na forma de ministrar algumas disciplinas. A interlocução entre elas, especialmente história, teoria e metodologia possibilitava construir o projeto de curso desejado, respeitando a diversidade e dinâmica territorial na qual a Universidade estava inserida. Trata-se da Zona Sul da cidade de São Paulo, de onde provêm alunos, caracteristicamente moradores de periferia, muitos já com uma atuação no bairro em que moram, seja em movimentos sociais, seja em obras de caridade de templos católicos, evangélicos e espíritas, entre outros. São alunos trabalhadores, sem tempo para a vida acadêmica e com fragilidades educacionais trazidas do ensino fundamental e médio. Para isso, fez-se necessário a participação conjunta entre coordenação e professores, bem como a formação de uma comissão, para a construção inicial, de um novo projeto pedagógico para o curso. Entendia-se que não bastava mudar o nome das disciplinas, mas era necessária uma alteração total do projeto pedagógico do curso que captasse as necessidades da realidade, a dinâmica da profissão, bem como o projeto ético político assumido hegemonicamente na categoria profissional. Estabeleceu-se também, uma dinâmica interna à escola para inserção dos alunos na discussão da mudança curricular com oficinas e debates. Inicialmente, envolveram-se os representantes de sala e, posteriormente, ampliou-se o debate com a participação de todos os alunos. O ano de 1999 foi de dedicação, para a elaboração e discussão com todo o corpo docente e discente do novo projeto pedagógico com oficinas e reuniões. Ao final do ano, o projeto foi aprovado no CONSEPE – Conselho Superior de Ensino Pesquisa e Extensão da Universidade, e a primeira turma a vivenciar este novo projeto iniciou em 2000. As matérias que nortearam o projeto de formação profissional foram Fundamentos Históricos Teóricos Metodológicos do Serviço Social, Questão Social e 9 ABESS – Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social que em 1996 fundiu-se com CEDEPSS – Centro de Documentação e Pesquisa em Política Social e Serviço Social. 5 Trabalho, transformadas em disciplinas, permeadas pela discussão da Ética e do Projeto de Profissão pautado nos princípios fundamentais contidos no Código de Ética do Assistente Social. A organização curricular fundamentava-se no objetivo de superar a fragmentação do processo ensino-aprendizagem. Assim, a disciplina de Oficina de Formação Profissional foi desdobrada ao longo dos quatros anos do curso, nos oito semestres letivos, pensada como forma de oxigenar a grade curricular. Flexibilizava conteúdos e trazia atualidades para o debate, articulando-se estrategicamente com as demais disciplinas. Isso possibilitava trabalhar a investigação desde o primeiro ano do curso, permitindo ao aluno se aproximar do processo de pesquisa e da realidade em que atuaria no futuro profissional. O Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, momento em que o aluno sistematizava seu percurso na graduação através da monografia, culminava o processo. A passagem histórica de construção do currículo da escola, durante onze anos, envolveu vários atores que se sucederam e assumiram o compromisso de revisão e aperfeiçoamento das estratégias didático-pedagógicas contribuindo para o objetivo de formação acadêmica de qualidade. A perspectiva era a formação de profissionais competentes e qualificados para responder às exigências da complexa realidade brasileira. No que se refere à disciplina de Pesquisa em Serviço Social, durante todo esse período passou por um processo contínuo de revisão e atualização do conteúdo Entre os anos de 2006 a 2007, o desenho curricular proposto contemplou os objetivos contidos nas Diretrizes Curriculares propostas pela ABEPSS, imprimindo a busca pela qualidade acadêmica. Assim a experiência ora relatada, embora perpasse um longo caminho construído historicamente, traz o registro do período compreendido entre os anos de 2004 a 2007. Foi resultante do esforço empreendido pelos professores/assistentes sociais que participaram da discussão da revisão curricular, da elaboração do novo projeto pedagógico e ministraram disciplinas relacionadas à pesquisa e oficinas. No último período, as estratégias didático-pedagógicas foram aperfeiçoadas. A Tabela I a seguir, apresenta a distribuição dos TCCs realizados nesses anos. Tabela I – Distribuição de TCCs produzidos no Curso de Serviço Social da UNISA. São Paulo. 2007. Ano Nº. de T C Cs. % 6 2004 39 2005 40 2006 38 2007 28 Total 145 Fonte: Disciplina de Monografia. Curso de Serviço Social. UNISA. 26,9 27,6 26,2 19,3 100,0 Os TCCs puderam ser realizados individualmente ou em grupos de até três alunos. O número de trabalhos por ano letivo estava, portanto, condicionado também, às decisões das quais participavam os alunos. Estes também escolhiam os temas da investigação, preferencialmente ligados ao estágio, com apoio da disciplina de Pesquisa em Serviço Social e de todo o corpo docente, a quem recorriam para discussão de seu interesse. A temática mantinha relação com as políticas sociais, campo de estágio dos alunos e área de procura de acesso à melhora de condição de vida da classe trabalhadora, como mostra a Tabela II. Tabela II – Distribuição de Temas de TCCs, relacionados às Políticas Setoriais, no Curso de Serviço Social da UNISA. S.Paulo. 2007 2004 2005 2006 2007 Políticas Setoriais Nº Abs. % Nº Abs. % Nº Abs. % Nº Abs. % Educação Cultura Trabalho e Renda Segmento Alimentar Habitação Assistência Social Previdência Saúde 0 0 3 0 0 2 0 5 0 0 30 0 0 20 0 50 2 0 4 0 1 2 1 4 14 0 29 0 7,1 14 7,1 29 1 1 6 0 1 1 0 0 10 10 60 0 10 10 0 0 1 0 3 1 0 5 0 1 9,1 0 27 9,1 0 46 0 9,1 Total 10 100 14 100 Fonte: Disciplina de Monografia. Curso de Serviço Social. UNISA. 10 100 11 100 É possível observar na distribuição dos temas acima, que ocorre uma variação no interesse dos alunos, pelas escolhas feitas. Embora a área da saúde seja a política que mais emprega assistentes sociais no momento, no Brasil, observa-se que, à medida que o Sistema de Assistência Social – SUAS foi sendo implantado, foi havendo um esvaziamento da área da saúde e um aumento do interesse de escolha pela assistência social, decorrente, possivelmente da ampliação dos campos de estágio, nessa área. Trabalho e Renda, tema ligado às condições de vida da maioria da população brasileira, manteve o nível de interesse dos alunos. Quanto à Política por Segmento, a tabela a seguir, demonstra que as escolhas praticamente se mantiveram, considerando também que, os segmentos oferecem na região, possibilidades de estágio 7 Tabela III – Distribuição dos TCCs sobre Políticas por Segmento, no Curso de S. S. UNISA. S.P. 2007 2004 2005 2006 2007 Políticas por Segmento Nº Abs. % Nº Abs. % Nº Abs. % Nº Abs. % Criança e Adolescente 7 87,5 2 50 4 50 3 60 Idoso 1 12,5 2 50 4 50 2 40 Total 8 100 4 100 8 100 5 100 Fonte: Disciplina de Monografia. Curso de Serviço Social. UNISA. Das políticas especiais, observou-se que a de gênero, ao longo do tempo, teve maior interesse. Entre as temáticas gerais, relacionadas também às políticas sociais, ainda aparecem no decorrer dos anos analisados, temas ligados à Família, a Movimentos Sociais, ao Terceiro Setor, à Inclusão Social e à Cidadania. A política de meio ambiente, também foi opção de pesquisa. No ano de 2007 o interesse pela temática de atuação profissional declinou, mas em contrapartida, aumentou o interesse pelas áreas de assistência social e família. Também nesse ano, não houve TCCs com as temáticas de movimentos sociais e habitação.Os temas ligados à formação e ao trabalho profissional, também despertaram interesse, embora a formação tivesse escolhas decrescentes nesse período, como mostra a Tabela IV. Tabela IV – Distribuição dos TCCs sobre Temáticas Específicas, relacionadas à Profissão, no Curso de Serviço Social da UNISA. S.P. 2007 Temáticas Específicas do Serviço Social 2004 2005 Nº % Nº % Atuação Profissional 9 81,8 7 87,5 Formação Acadêmica 2 18,2 1 12,5 Total 11 100 8 100 Fonte: Disciplina de Monografia. Curso de Serviço Social. UNISA. 2006 Nº 8 0 8 2007 % 100 0 100 Nº 3 0 3 % 100 0 100 O Curso também contou em um determinado período, com a participação de professores de formação em ciências sociais, para as disciplinas ligadas à pesquisa, o que foi revisto nos dois últimos anos. Para vivenciar esse processo de construção do conhecimento foi preciso cotidianamente desconstruir distorções e falhas acumuladas no ensino-aprendizagem e, reconstruir competências e habilidades, em dois níveis. Foi possível observar não apenas o progresso discente, mas a evolução dos professores envolvidos no processo, que buscaram a qualidade em seu trabalho pedagógico. Outro ponto a ser ressaltado, foi o papel da coordenação do Curso que, através de ações democráticas, estimulou a participação de todos os envolvidos, além de possuir a capacidade de negociação com as instâncias administrativas da Universidade. Assim, o conteúdo trabalhado visou instigar o aluno a refletir sobre as bases que caracterizam o conhecimento científico na relação sujeito objeto, o papel da teoria, o 8 posicionamento do sujeito na reconstrução do objeto de estudo e as perspectivas metodológicas e seus instrumentais. Os alunos foram estimulados para a busca do “chão” para a pesquisa. A realidade concreta, viva, presente no conhecimento de sua trajetória acadêmica, na aproximação com o trabalho na profissão. O encontro com a realidade foi propiciando ao aluno, entender que a teoria, como um grande farol, ilumina a leitura do real. Por outro lado, o exercício de leitura e de fichamentos estimulou a interpretação e construção de texto, tarefa difícil, considerando as condições educacionais de chegada do aluno na universidade. A construção do projeto de pesquisa foi a experiência resultante desse processo, que possibilitou a chegada do aluno ao TCC, com clareza de seu objeto de interesse, com o campo delimitado, tendo aprofundamento nos aspectos teóricos, resgatados de sua formação acadêmica e aprofundado a partir do enfoque da pesquisa a que se propunha, objetivando a leitura da realidade para a proposição de trabalho. Para IAMAMOTO, “As possibilidades estão dadas na realidade, mas não são automaticamente transformadas em alternativas profissionais. Cabe aos profissionais apropriarem-se dessas possibilidades e, como sujeitos desenvolvê-las, transformando-as em projetos e frentes de trabalho”. (1999:21) Dessa maneira, as aulas objetivaram a oportunização para o aluno, do aprofundamento de temas de interesse acadêmico/profissional, construindo por meio do processo investigativo metódico, as bases para o conhecimento crítico, reflexivo e propositivo sobre a realidade brasileira. As experiências demonstraram que o aluno, ao elaborar o projeto de pesquisa, se apropriava de referenciais teóricos e metodológicos que serviam de apoio ao processo de elaboração da monografia. Porém, tais experiências foram pensadas e direcionadas no sentido de contribuir para que o aluno desenvolvesse atitudes profissionais, articulasse referenciais teóricos com elementos de ordem prática e interpretasse criticamente as questões econômicas, políticas, culturais e sociais da realidade brasileira. Finalmente, procuraram demonstrar ao aluno que, é possível a ação profissional comprometida com o projeto hegemônico e que, em etapas posteriores à sua formação, a competência teórico-metodológica, técnica-operativa e ética-política, possibilitaria levá-lo a ser capaz de produzir respostas que resultassem em mudanças substanciais nos seus espaços de trabalho. A pesquisa mostra-se hoje como um caminho tanto para o aprimoramento de conhecimento das necessidades sociais apresentadas pelos usuários dos serviços, como uma forma de evidenciar o fazer profissional eficiente e, comprometido com os interesses das camadas populares. 9 Conclusiones O resgate histórico do cotidiano de ensino-aprendizagem da formação para a pesquisa em Serviço Social impôs a reflexão sobre a importância da formação de sujeitos críticos que ao mergulharem no universo da investigação, assumissem o compromisso com a construção crítica e criativa do conhecimento; com a ruptura da reprodução ilimitada de conceitos e conteúdos; e, com a formulação de projetos de pesquisa articulados com as diretrizes curriculares e os princípios ético-políticos da profissão. Tal direcionamento se referencia no movimento histórico da profissão, tendo nas múltiplas manifestações da questão social o seu objeto de trabalho. Isso implica em adotar um caminho teórico metodológico que envolva a compreensão da realidade e a construção de respostas efetivas para o enfrentamento e a superação dos fenômenos decorrentes dessa dinâmica. Assim, a importância da dimensão investigativa na intervenção profissional apontada nas Diretrizes Curriculares da ABEPSS, se constituiu no elemento norteador na construção da formação da Pesquisa em Serviço Social no Curso de Serviço Social da UNISA, no período de 1996 a 2007. Ao longo dos anos de sua construção, enfatizou a prática da investigação científica por meio da aproximação com a realidade social estimulando reflexões que propiciassem a formação crítica de sujeitos, compromissados com a justiça social, a igualdade e a ética. Teve como propósito habilitar os alunos para a elaboração de projetos de pesquisa que permitissem a sistematização da intervenção profissional, reconhecendo a importância da pesquisa como elemento constitutivo da prática e como uma etapa preliminar para a elaboração da monografia final do curso. Foi possível observar que institucionalmente, três instâncias são decisivas para o direcionamento do currículo: a instituição tem um peso decisivo, uma vez que as condições materiais são disponibilizadas por ela, o que limita e impõe a direção na formação; a coordenação do curso que direciona, acolhe e possibilita a operacionalização; e, os professores, que afinal, executam em sala de aula o projeto acordado. Contudo, a direção política, ética e teórica, poderia ter sido mais presente. As associações profissionais estiveram distanciadas, deixando, por vezes as escolas nas disputas com o mercado. Este processo evidenciou que há no exercício profissional um conjunto articulado de atividades investigativas e interventivas que são dimensões indissociáveis que devem 10 ser norteadas por princípios e valores ético-políticos. Assim o domínio desses elementos é fundamental para o exercício profissional, pois estimula um conjunto de habilidades e atitudes que desenvolvem intelectualmente, amadurecem profissionalmente e instrumentalizam para responder propositivamente às necessidades sociais dos segmentos populacionais. 11 Referências Bibliográficas ABESS. Cadernos ABESS – Formação Profissional: Trajetórias e Desafios. S. Paulo, Cortez, 1997. ABREU, M. M. Pesquisa em Serviço Social: tendências na implementação das Diretrizes Curriculares.in Temporalis-ABEPSS. Diretrizes Curriculares do Curso de serviço Social: sobre o processo de implementação. ABEPSS. S. Luís do Maranhão. Ano VII, n.14 (jul./dez. 2007) CARDOSO, F. G. A pesquisa na formação profissional do assistente social: algumas exigências e desafios, in Cadernos ABESS – Diretrizes Curriculares e pesquisa em Serviço Social. S. Paulo, Cortez, 1998. IAMAMOTO, M. V. Serviço Social em Tempo de Capital Fetiche. Capital financeiro, trabalho e questão social. S. Paulo, Cortez, 2007. ____________ O Serviço Social na Contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 2ª ed. S. Paulo, Cortez, 1999. IAMAMOTO, M. V.; CARVALHO, R. de. Relações Sociais e Serviço Social no Brasil. esboço de uma interpretação histórico-metodológica. 2ª ed. S. Paulo, Cortez, 1982. NETTO, J. P. A construção do projeto ético-político do Serviço Social frente à crise contemporânea, in Conselho Federal de Serviço Social; Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social; Universidade de Brasília. Crise Contemporânea, Questão Social e Serviço Social. Módulo I. Capacitação em Serviço Social e Política Social. Brasília: CEAD, 2000. p 19-33. SIMIONATO, I. Os desafios na pesquisa e na produção do conhecimento em Serviço Social, in Temporalis – Pesquisa e Produção de Conhecimento em Serviço Social. Recife, Ed. Universitária da UFPE. Ano 5, Nº 9. ABEPSS, jan. a jun. de 2005, p 51-62. YAZBEK, M. C. Os fundamentos do Serviço Social na contemporaneidade, in Conselho Federal de Serviço Social; Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social; Universidade de Brasília. Reprodução Social, Trabalho e Serviço Social. Módulo 4. Capacitação em Serviço Social e política social. Brasília: CEAD, 2000 p 21-34. 12