47 Interbio v.10 n.2, Jul-Dez, 2016 - ISSN 1981-3775 OCORRÊNCIA DA SÍNDROME DE BURNOUT EM PROFESSORES READAPTADOS DO ENSINO FUNDAMENTAL DE UMA CIDADE DO MATO GROSSO DO SUL OCCURRENCE OF BURNOUT SYNDROME IN REBUILT TEACHERS OF ELEMENTARY SCHOOL IN A CITY OF MATO GROSSO DO SUL FONTOURA JÚNIOR, Eduardo Espíndola1; NETO, Alessandra Laudelino2; MASSUDA JÚNIOR, João3; MACEDO,Maurício Aguiar4 Resumo A Síndrome de Burnout (SB) é um fenômeno que afeta principalmente os trabalhadores encarregados de cuidar e se caracteriza pela resposta prolongada a estressores multifatoriais, compreendendo aspectos relacionados à exaustão emocional (single), despersonalização ou cinismo (contexto) e falta de realização pessoal (self), propiciando o adoecimento psíquico e físico desses trabalhadores, e, por consequência, implicações financeiras e sociais para a organização. O objetivo deste estudo foi identificar a ocorrência da SB em uma amostra de 59 professores readaptados do Ensino Fundamental da Secretaria Municipal de Educação (SEMED) de DouradosMS. Realizou-se um estudo exploratório-descritivo de análise quantitativa, com dados secundários cedidos pela SEMED. Os transtornos mentais e comportamentais constam como as principais doenças encontradas, indiciando a gravidade dos problemas relacionados à saúde mental dos docentes e potenciais casos de SB que não foram diagnosticados. Propõe-se a realização de estudos de rastreamento, pois eles podem promover diferentes níveis de diagnóstico, prevenção e cuidados relacionados à SB, bem como para as outras patologias ocupacionais. Palavras-chave: Síndrome de Burnout. Estresse. Saúde do Trabalhador. Abstract Burnout Syndrome (SB) is a phenomenon that affects mostly workers in charge of care and is characterized by prolonged response to multifactorial stressors, including aspects related to emotional exhaustion (single), depersonalization or cynicism (context) and lack of personal fulfillment (self), providing the psychic and physical illness of these workers, and, consequently, social and financial implications for the organization. The aim of this study was to identify the occurrence of SB in a sample of 59 teachers primary school rebuilt the City Department of education (SEMED) of Dourados-MS. A descriptive exploratory study of quantitative analysis, with secondary data provided by SEMED was carried out. Mental and behavioural disorders are set out as the main diseases found, indicating the severity of the problems related to mental health of teachers and potential cases of SB that were not diagnosed. It is proposed to conduct studies of trace, because they may promote different levels of diagnosis, prevention and care related to SB, as well as for the other occupational diseases. Keywords: Burnout Syndrome. Stress. Worker's health. 1 Docente do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul - UEMS. Discente do Curso de Psicologia da Universidade Católica Dom Bosco – UCDB. 3 Docente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul – IFMS. 4 Docente da Escola de Saúde Pública do Paraná. FONTOURA JÚNIOR, Eduardo Espíndola; NETO, Alessandra Laudelino ; MASSUDA JÚNIOR, João; MACEDO,Maurício Aguiar 2 48 Interbio v.10 n.2, Jul-Dez, 2016 - ISSN 1981-3775 Introdução Nestas últimas décadas o mundo tem passado por importantes transformações, seja no cenário das organizações e trabalho, no mercado de trabalho, seja também no setor socioeconômico; o alto índice de desemprego imposto pela recente e persistente crise econômica aumenta a instabilidade dos níveis de bem-estar no trabalho que foram alcançados em décadas de luta. Há necessidade de se preservar e ampliar esse bem-estar, pois é ele que mantém a saúde mental dos trabalhadores, evitando o estresse e o possível surgimento da Síndrome de Burnout, mantendo a satisfação laboral e a esperança de um crescimento pessoal no ambiente de trabalho e, desse modo, preservando o compromisso com o trabalho e o bom nível de desempenho e produtividade. O termo Burnout foi utilizado em 1974, por Freuderberger, para descrever uma síndrome manifestada por exaustão, impaciência e grande irritabilidade, sensação de impotência, desilusão, cansaço emocional e isolamento em voluntários com os quais ele trabalhava. Atualmente esse conceito multidimensional denota um esgotamento individual e endurecimento afetivo associado ao trabalho e se desencadeia na exposição contínua a fatores estressantes, que provocam uma tensão emocional severa que implica as exigências do trabalho e os recursos de enfrentamento (MASLACH, JACKON, 1981; MASLACH, SCHAUFELI, LEITER, 2001; GUIMARÃES, CARDOSO, 2004; FERREIRA et al., 2015). Conceitualmente, a Síndrome de Burnout caracteriza-se pela resposta prolongada a estressores ocasionados por fatores emocionais e interpessoais no trabalho, e compreende aspectos principais que dão origem a um conceito trifatorial: exaustão emocional (single), despersonalização ou cinismo (context) e falta de realização pessoal (self), propiciando o adoecimento psíquico e físico do trabalhador, trazendo consequências financeiras e sociais para a organização (MASLACH, JACKSON, LEITER, 1996). Pesquisas apontam que as atividades que envolvem contato permanente com pessoas, excessiva pressão, conflitos e poucas recompensas emocionais (HARRISON, 1999) são propícias a um estresse laboral crônico e à Síndrome de Burnout, como as dos policiais, enfermeiras, professores, conforme descrevem as pesquisas de Ruviaro e Bardagi (2010), Guimarães et al. (2014) e Carlotto (2014). Alguns estudos consideram que a Síndrome de Burnout é resultante da interação entre aspectos individuais e o ambiente de trabalho, como os fatores macrossociais (as tendências globais e políticas governamentais), mesossociais (fatores socio-históricos, aspectos éticos) e microssociais (fatores de interação, as relações inter e intrapessoais),caracterizando-se como um sério problema de saúde pública, que contribui para a morbimortalidade por diferentes causas (infarto, diabetes, depressão, acidentes de trabalho, entre outras). (CARLOTTO, PALAZZO, 2006; DIEHL, CARLOTTO, 2014). É possível perceberem-se reações particulares e diversas à ocorrência da Síndrome de Burnout,contudo, elas se manifestam e se desenvolvem em fases observáveis.Inicialmente, as exigências (macro, meso ou micro) do trabalho tendem a exceder os recursos profissionais materiais e humanos, ocasionando sobrecarga ao trabalhador, que se apresenta na forma de ansiedade, agressividade, fadiga, dor de cabeça, tensão, entre outros sintomas.Assim, é previsível que aconteça uma redução no desempenho laboral (alcance de metas, produção, eficácia, entre outros), afetando, principalmente, a autoestima. Como consequência é comum, nessa fase, a ausência dos trabalhadores, que tendem a chegar tarde, a sair mais cedo, a faltar ao trabalho, a diminuir o contato pessoal dentro da organização. Por fim, os trabalhadores passam a demonstrar atitudes de distanciamento e de não pertencimento à FONTOURA JÚNIOR, Eduardo Espíndola; NETO, Alessandra Laudelino ; MASSUDA JÚNIOR, João; MACEDO,Maurício Aguiar 49 Interbio v.10 n.2, Jul-Dez, 2016 - ISSN 1981-3775 organização, o que provoca o absenteísmo acentuado (GUTIÉRREZ et al., 2014). Nesse sentido, os fatores de risco considerados emergentes e contemporâneos, como os psicossociais, adquiriram, nos últimos anos, maior importância e prevalência em relação aos processos patológicos, representando um desafio para a segurança e saúde no trabalho (GUIMARÃES et al., 2014). A relação multifatorial entre os fatores de risco para a Síndrome de Burnout apresenta-se vinculada a questões individuais (lócus de controle externo, pouco receptividade a mudanças), organizacionais (excesso de competitividade ou mudanças, assédio e dano moral), ocupacionais (cargos indefinidos, turnos, exposição excessiva a ruídos ou violência) e psicossociais (relação trabalho-família). Nesse sentido, pesquisas apontam que a Síndrome de Burnout caracteriza-se como uma patologia ocupacional que propicia a degradação da qualidade de vida do trabalhador, atingindo implicações para a saúde física e mental, acarretando consequências socioeconômicas (CEBRIÀANDREU, 2005; GUTIÉRREZ et al., 2014). Esse cenário estimulou este estudo, que teve por objetivo identificar a ocorrência da Síndrome de Burnout em uma amostra de 59 professores readaptados do Ensino Fundamental da Secretaria Municipal de Educação (SEMED) de Dourados-MS. Materiais e métodos Tratou-se de um estudo exploratóriodescritivo, de corte transversal, de caráter quantitativo, realizado com dados secundários cedidos pela SEMED de Dourados-MS. O estudo exploratóriodescritivo busca expor conceitos e fatos com o objetivo de explicitar e propiciar maior entendimento e conhecimento sobre determinada demanda, e contribuir para apresentar as particularidades do fenômeno estudado. Os estudos de corte transversal visualizam a situação de uma população ou fenômeno em determinado momento. (VERGARA, 2000; ROUQUAYROL, ALMEIDA FILHO, 2006; ARAGÃO, 2011). O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética do Centro Universitário da Grande Dourados – UNIGRAN, parecer do projeto n.175/10, de 19 de agosto de 2010, em respeito às normas da Resolução nº. 196, de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde. A SEMED apresentava, em 2009, um total de 1.674 professores ativos, sendo 1.013 efetivos e 661 contratados. Do total de professores efetivos, 455 atuavam nos anos iniciais e 403, nos anos finais do Ensino Fundamental. Desse contingente, 117 docentes - das 175 concessões - eram readaptados, alguns em mais de um processo. Relativamente à pesquisa que corresponde a este estudo, destaca-se que desses 117 docentes readaptados 58 apresentaram documentos incompletos, razão por que foram excluídos, como sujeitos. Dessa forma, foram selecionados59 professores readaptados do Ensino Fundamental, 23 dos quais readaptados definitivamente e 36 readaptados provisoriamente. É pertinente esclarecer que, segundo a SEMED, o profissional tem direito à readaptação definitiva após ter passado por quatro readaptações provisórias, cada uma delas pelo período máximo de seis meses, que representam um afastamento de dois anos das atividades diretas com alunos. A SEMED destaca, ainda, que durante as readaptações provisórias e na readaptação definitiva o professor desempenha atividades díspares à da docência, passando a atuar, comumente, em funções administrativas. Para descrever os dados da pesquisa foram efetivadas buscas aos requerimentos de readaptação de função oferecidos pela SEMED, com os anexos: 1) Laudo Médico e 2) Oficio ou Comunicação Interna expedido pela chefia imediata que informa em qual função o servidor estará sendo readaptado. FONTOURA JÚNIOR, Eduardo Espíndola; NETO, Alessandra Laudelino; MASSUDA JÚNIOR, João; MACEDO,Maurício Aguiar 50 Interbio v.10 n.2, Jul-Dez, 2016 - ISSN 1981-3775 A Síndrome de Burnout em professores A temática a respeito da saúde dos profissionais de ensino tem sido debatida nos âmbitos científico e social, razão por que se torna relevante entender de forma sistêmica as relações entre o processo de trabalho docente, as reais condições sob as quais ele se desenvolve e o possível adoecimento físico e mental dos professores. (RUDOW, 1999, ZARAGOZA, 1999; CODO, 2002; AZEEM, 2010; CARLOTTO, 2014; DIEHL, CARLOTTO, 2014; GUTIÉRREZ et al., 2014). Alguns estudos apontam para a transformação profunda do trabalho docente nas últimas décadas e propõem reflexões acerca das condições de trabalho, como a submissão a ritmos acelerados, o número elevado de estudantes por sala de aula, a desvalorização gradual da remuneração e do próprio profissional docente, a questão da imagem social do professor, o tempo de ausência da família e a falta de limites dos alunos (CARLOTTO, 2014; DIEHL, CARLOTTO, 2014; GUTIÉRREZ et a.l, 2014). Codo (2002) já alertava para o sofrimento e a crise de identidade que os professores vivenciam, numa realidade social deteriorada pós-moderna na qual esses profissionais são desafiados, continuamente, a provar sua competência profissional em meio à disparidade entre o espaço de trabalho idealizado e a realidade, fator que influencia decisivamente no investimento afetivo e cognitivo exigido do professor. Em professores, a Síndrome de Burnout não se manifesta restrita apenas a situações de sala de aula ou ao contexto institucional; ela envolve também todos os fatores relacionais, com destaque para a relação professor-aluno-pais como busca do sucesso da aprendizagem do aluno, sendo uma das principais causas de satisfação ou de desilusão e sofrimento (CARLOTTO, PALAZZO, 2006; DIEHL, CARLOTTO, 2014). Leite (2007) revelou, em sua pesquisa com 8.744 professores da educação básica de uma rede estadual de ensino, que 15,7% dos entrevistados apresentavam a Síndrome de Burnout, elencando, como causas, as interações exaustão emocional e despersonalização com os principais preditores conflito trabalho-família e suporte social. Em um estudo qualitativo, Diehl e Carlotto (2014) exploraram, em uma amostra de professores, o conhecimento que estes teriam acerca da Síndrome de Burnout; os pesquisadores visavam, também, identificar os elementos que esses docentes utilizavam para conceber esse fenômeno psicossocial. Os resultados revelaram um conhecimento, da parte dos professores, ainda incipiente sobre a doença e apontaram a indisciplina dos alunos, a falta de apoio dos pais e da direção da escola, a sobrecarga de trabalho e a cobrança social como os principais desencadeadores da síndrome. Em pesquisa de Carlotto e Palazzo (2006) percebeu-se a dificuldade do professor em revelar sentimentos de distanciamento em relação aos seus alunos (ausência de afetividade na relação alunoprofessor), por estar em desacordo com a postura idealizada culturalmente de um bom educador. Outra questão importante foi o sentimento de exaustão, que em muitos casos está associado a um fenômeno positivo, vinculado à produtividade, isto é, trabalhadores considerados mais dedicados e comprometidos com as metas e objetivos institucionais. Ambas as questões elencadas dificultam a percepção e atuação preventiva em relação à Síndrome de Burnout. Cabe salientar que a doença se desenvolve em um processo paulatino, cumulativo e com desdobramento progressivo severo, frequentemente percebido em estágios avançados (GUIMARÃES, CARDOSO, 2004), uma vez que, em sua fase inicial, além de apresentar sintomas comuns a outras patologias, geralmente o indivíduo se recusa a acreditar na possibilidade de estar acontecendo algo de errado com ele. Em pesquisa de Diehl & Carlotto (2014) FONTOURA JÚNIOR, Eduardo Espíndola; NETO, Alessandra Laudelino; MASSUDA JÚNIOR, João; MACEDO,Maurício Aguiar 51 Interbio v.10 n.2, Jul-Dez, 2016 - ISSN 1981-3775 percebe-se que os professores identificam seu adoecimento, entretanto, não reconhecem sua classificação. Porque às vezes tu tem alguma coisa, tu não sabe se tu tem essa doença, se tu não tem... Eu acho que a maioria das pessoas nem sabe que tem... Tu vai num médico, tu vai num outro... Tem uma dor no pescoço tu vai num traumato, tu tem uma dor de estômago tu vai lá no gastro. ... Às vezes dá vontade, dá vontade de morrer! (pausa), sabe, de tal era o esgotamento, esgotamento físico assim muito grande. Muito, muito, muito grande. Fui até o meu limite...” (S1). Diehl & Carlotto (2014) apontaram, em seus estudos, um conhecimento incipiente sobre a Síndrome de Burnout também pelos próprios profissionais docentes; os participantes da pesquisa referiram-se aos sintomas como associações mais popularizadas ao estresse, depressão, distanciamento. Resultados e discussão O magistério, historicamente, representou a inserção das mulheres no mercado de trabalho, sendo considerada uma atividade do cuidado e semelhante à educação familiar. Segundo pesquisa nacional realizada sobre Trabalho, Organização e Saúde dos Trabalhadores em Educação no Brasil, verificou-se a prevalência de um contingente de 82,4% de trabalhadores em educação do sexo feminino (CODO, 2002). Tais dados corroboram a distribuição da amostra estudada de professores readaptados nesta pesquisa, que apresenta a prevalência do sexo feminino (Tabela1). Tabela 1- Distribuição de Professores Readaptados por sexo Sexo Quantidade Percentual Feminino 54 91,53% Masculino 05 8,47% Total 59 100,00% Fonte: Dados da pesquisa. Com relação à idade dos participantes da pesquisa referente a este estudo, observa-se, pela Tabela 2, que 38,98% estão na faixa etária de 41 a 50 anos, 30,51% têm de 51 a 60 anos e 28,81% situam-se na faixa de 31 a 40 anos. Nota-se que existe certo equilíbrio dos percentuais apresentados, porém, chama a atenção o fato de que o maior número de professores readaptados está exatamente no grupo de menores idades. Esse resultado pode sugerir que as patologias ocupacionais são multifacetadas e provocam alterações em faixas de idade diversas. Confira-se. Tabela 2- Distribuição de Professores Readaptados por faixa etária Faixa Etária Quantidade Percentual 31 a 40 anos 41 a 50 anos 51 a 60 anos > que 60 anos 17 23 18 01 59 28,81% 38,98% 30,51% 1,70% 100,00% Total Fonte: Dados da pesquisa. Outro dado relevante é a inexistência de readaptações de docentes com menos 30 anos, o que tende a corroborar a questão da existência ainda de recursos e mecanismos de enfrentamento aos elementos estressores no início da carreira. Batista et al. (2010), esclarecem que geralmente os professores iniciam suas atividades laborais com o discernimento do significado social que seu trabalho representa, buscando, com isso, grande satisfação pessoal. Contudo, os sentimentos de frustração surgem no decorrer do tempo, mediante as dificuldades do ensino, acrescidos das pressões e valores sociais. No agrupamento dos diagnósticos apresentados pelo grupo pesquisado, de acordo com a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde – Décima Revisão (CID 10), identificados em Laudo Médico de Peritos (Medicina do Trabalho) da Junta FONTOURA JÚNIOR, Eduardo Espíndola; NETO, Alessandra Laudelino; MASSUDA JÚNIOR, João; MACEDO,Maurício Aguiar 52 Interbio v.10 n.2, Jul-Dez, 2016 - ISSN 1981-3775 da Prefeitura Municipal e da Secretaria Municipal de Saúde, nota-se uma prevalência em Transtornos Mentais e Comportamentais (Tabela 3). Essa relação engloba professores que foram readaptados tanto em ordem definitiva como provisória. Tabela 3-Diagnósticos, segundo agrupamento do CID 10, que justificaram as readaptações dos professores em 2009. Diagnósticos N % F32 Transtorno orgânico de personalidade ou de comportamento decorrente de doença, lesão ou disfunção cerebral não especificado Transtorno afetivo bipolar episódio atual hipomaníaco Transtorno afetivo bipolar, episódio atual maníaco com sintomas psicóticos Episódio depressivo F32.1 Episódio depressivo moderado 03 5,08 F32.2 Episódio depressivo grave sem sintomas psicóticos 10 16,95 F32.9 Episódio depressivo não especificado 02 3,39 F33.1 01 1,69 05 8,47 02 3,39 F41.2 Transtorno depressivo recorrente, episódio atual moderado Episódio depressivo recorrente, episódio atual grave sem sintoma psicótico Transtorno depressivo recorrente, episódio atual grave com sintoma psicótico Transtorno misto de ansiedade e depressão 02 3,39 F43 Reações a estresse grave e transtorno de ajustamento 06 10,17 F48.0 Neurastenia 01 1,69 G40.8 Outras epilepsias 01 1,69 M17 Gonartrose 01 1,69 M50 Transtorno dos discos cervicais 05 8,47 M51 Outros transtornos de discos intervertebrais 05 8,47 M54.2 Cervicalgia 03 5,08 R49.0 Disfonia 03 5,08 59 100,00 F07.9 F31.0 F31.2 F33.2 F33.3 TOTAL 02 3,39 01 1,69 02 3,39 04 6,78 Fonte: Extraído e adaptado da Secretária Municipal de Educação de Dourados (relacionado aos docentes do Ensino Fundamental). Um dado que chama a atenção, na análise analise das patologias que foram apontadas na Tabela 3, é a ausência da Síndrome de Burnout, ou seja, não se aponta, nos laudos médicos periciais fornecidos e arquivados pela SEMED, qualquer ocorrência ou correlação com a Síndrome de Burnout, nas 59 readaptações realizadas durante o ano de 2009. Todavia, verifica-se a presença de episódio depressivo grave sem sintomas psicóticos (16,95%) e no somatório de todos os diagnósticos por transtornos depressivos o expressivo resultado de 49,14%, seguido do resultado de 10,17% referente ao estresse.Esses dados levam a crer que se trata de resultados semelhantes aos encontrados por Batista, Carlotto, Coutinho FONTOURA JÚNIOR, Eduardo Espíndola; NETO, Alessandra Laudelino; MASSUDA JÚNIOR, João; MACEDO,Maurício Aguiar 53 Interbio v.10 n.2, Jul-Dez, 2016 - ISSN 1981-3775 e Augusto (2011), que se referiram ao desconhecimento da legislação e da Síndrome de Burnout por parte de médicos peritos de uma Junta Médica Municipal de uma capital brasileira. Guimarães e Tamayo (2016) relatam que em alguns países parece existir uma realidade bem diferente representada por um atraso significativo na forma como algumas instituições lidam com essa doença profissional, porém em outros, o diagnóstico médico do Burnout obedece a critérios bem definidos, ao conhecimento adequado dessa síndrome por parte de médicos peritos e a um fluxo que incorpora a doença dentro de um sistema de seguridade social. Uma contribuição considerada importante para a prática clínica, para a perícia e para o desenvolvimento de estudos epidemiológicos que suportem ações de vigilância no campo da saúde mental no trabalho foi a inclusão do burnout e de outros distúrbios na lista de Transtornos Mentais e do Comportamento Relacionados com o Trabalho (SELIGMANN-SILVA, 2003). Alguns estudos alertam para o fato de que as doenças ocupacionais, assim como o Burnout, são frequentemente percebidas em estádios avançados, já que elas, nas fases iniciais, apresentam sintomatologias comuns a outras patologias; desse modo, torna-se difícil identificar os processos que as originaram. Além disso, elas se associam a sintomatologias disseminadas e mais popularizadas (e.g., depressão, estresse) que podem interferir em formas efetivas de prevenção, intervenção ou promoção de saúde no âmbito das Políticas Públicas e na reabilitação e readaptação desses profissionais no âmbito do trabalho (DIEHL, CARLOTTO, 2014). Limongi-França et al. (2012, p. 36) definem estresse como: “Uma relação particular entre uma pessoa, seu ambiente e as circunstâncias às quais está submetida, que é avaliada pela pessoa como uma ameaça ou algo que exige dela mais que suas próprias habilidades ou recursos e que põe em perigo seu bem-estar ou sobrevivência”.Isso tem ocorrido, principalmente, pelas mudanças no mundo do trabalho, que vive um contexto de precarização laboral, em especial associado a fenômenos como o estresse ocupacional e o burnout. Os ambientes de trabalho “nocivos” ao trabalhador, que são locais favoráveis para o adoecimento psíquico, têm sido caracterizados pela desvalorização do indivíduo, falta de autonomia, injustiça, sobrecarga e frágeis redes de suporte (TAMAYO; GUIMARÃES, 2016). A identificação do estresse no trabalho, e do burnout, é de suma importância e tem merecido a atenção de profissionais e acadêmicos de várias áreas do saber, motivados em desvendar os efeitos negativos causados pelo estresse ocupacional crônico sobre os trabalhadores e a organização, já que eles têm sido responsáveis pelo adoecimento de muitos trabalhadores e trazem repercussões negativas tanto para o trabalhador quanto para a organização, além de implicações relacionadas aos custos de natureza econômica e social (TAMAYO, GUIMARÃES, 2016). Destaca-se a significativa associação entre Burnout e a sintomatologia depressiva, como os altos níveis de exigências psicológicas, baixos níveis de liberdade de decisão e de apoio social no trabalho. Todos eles representam predisposição para a depressão e para uma sobreposição entre Burnout e depressão, tendo em comum a presença da disforia, do desânimo, além de outros sentimentos presentes nas pessoas depressivas como uma maior submissão à letargia e uma prevalência dos sentimentos de culpa e derrota; nas pessoas com Síndrome de Burnout acrescentam-se os sintomas de desapontamento e tristeza (BENEVIDES-PEREIRA, 2002; TRIGO, TENG, HALLAK, 2007). Nesse sentido, o diagnóstico da Síndrome de Burnout é fundamentado na história do paciente relacionada ao estresse crônico no trabalho, podendo ocorrer uma sobreposição com outras síndromes psiquiátricas (depressão, alienação, FONTOURA JÚNIOR, Eduardo Espíndola; NETO, Alessandra Laudelino; MASSUDA JÚNIOR, João; MACEDO,Maurício Aguiar 54 Interbio v.10 n.2, Jul-Dez, 2016 - ISSN 1981-3775 ansiedade, estresse) que dificultam sua delimitação, sendo incluída na Classificação Internacional de Doenças (CID-10) com o código Z-73.0 (síndrome do esgotamento profissional), ou seja, apresenta-se como um mecanismo de defesa e enfrentamento, com etiologia no contexto organizacional (GILMONTE, 2008). Para melhor visualização dos grupos de patologias semelhantes ou associadas pelo CID 10, identificados em Laudo médico de peritos (Medicina do Trabalho) da Junta da Prefeitura Municipal e da Secretaria Municipal de Saúde, relacionados ao estudo que aqui se descreve, observe-se a Tabela 4, a seguir. Tabela 4 - Diagnósticos, segundo agrupamentos do CID 10, que justificaram as readaptações dos professores em 2009. Diagnósticos N % Transtornos mentais e comportamentais 41 69,49 F00 a F00 G00 a G99 M00 a M99 R00 a R99 Doenças do sistema nervoso Doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo Sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos e de laboratório, não classificados em outra parte TOTAL 01 1,69 14 23,73 03 5,08 59 100,00 Fonte: Extraído e adaptado da Secretária Municipal de Educação de Dourados (relacionado aos docentes do Ensino Fundamental). Nota-se que os Transtornos Mentais e Comportamentais ocuparam o primeiro lugar entre as doenças diagnostica das,indicando a gravidade dos problemas relacionados à saúde mental entre os docentes pesquisados. Segundo a World Health Organization – WHO (2001), até 2020 a depressão será a segunda maior causa de afastamento do trabalho no mundo. A Síndrome de Burnout está inserida no Grupo V, na Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho com a denominação de Sensação de Estar Acabado – Síndrome do Esgotamento Profissional – CID- 10, Z73.0. A lista é organizada segundo grupos de patologias ou processos mórbidos da Classificação Internacional das Doenças, já na décima revisão, aprovada pela Portaria/MS no 1.339/1999. As doenças são organizadas em um sistema de dupla entrada, por doença ou por agente etiológico ou por fator de risco de natureza ocupacional. Uma das limitações deste estudo refere-se à ausência de outras variáveis de análise, o que decorreu da falta de documentação ou de anotações em relação aos afastamentos e, também, pela não utilização de instrumentos de rastreio, com fins diagnósticos, que poderiam associar mais claramente a Síndrome de Burnout, como compreender os fatores micro (individual), meso (institucional) e macrossocial (políticas). Entretanto, ressalta-se que houve a preocupação de se relacionarem os resultados obtidos aos dados relatados por vários estudos nacionais e internacionais em relação a essa sintomatologia no âmbito docente. Ressalta-se, ainda, a ausência, nos documentos apresentados, de informações mais específicas como: data de nascimento; nível de instrução; diagnóstico; número de readaptações do docente, entre outras, que enriqueceriam esse estudo. FONTOURA JÚNIOR, Eduardo Espíndola; NETO, Alessandra Laudelino; MASSUDA JÚNIOR, João; MACEDO,Maurício Aguiar 55 Interbio v.10 n.2, Jul-Dez, 2016 - ISSN 1981-3775 Conclusão Abordaram-se,neste estudo, fatores que descrevem síndromes e transtornos que se têm apresentado na prática docente das escolas em geral, síndromes ou transtornos que podem mascarar algumas formas da Síndrome de Burnout. Com base na pesquisa realizada, entende-se que a Síndrome de Burnout acontece como resposta ao estresse laboral crônico e sua dimensão desencadeia esgotamento emocional, despersonalização e reduzida realização pessoal. Ela é a expressão do sofrimento psíquico e da deterioração afetiva da pessoa, que prejudica sua relação com o trabalho, com as instituições ou organizações, com as outras pessoas. Outra relevante premissa que desponta deste estudo é de que o modelo conceitual da Síndrome de Burnout mantém problemas de delimitação e de diferenciação com outros conceitos mais conhecidos e popularizados, tais como: depressão, tédio, alienação, ansiedade, insatisfação laboral, e estresse. Entretanto, cabe a análise quanto à etiologia no contexto ocupacional. Como hipótese levantada inicialmente, buscou-se verificar a “ocorrência” ou “não” da Síndrome de Burnout, frente às demais patologias, em uma amostra de professores readaptados do Ensino Fundamental. Conquanto o resultado se mostre negativo, considera-se que a síndrome de Burnout ainda é pouco conhecida e popularizada, portanto, esse motivo pode ter contribuído para o resultado encontrado. Frente às explanações teóricas mencionadas, propomos que outros estudos posteriores, em especial os de rastreamento, promovam diferentes níveis de diagnóstico, prevenção e cuidados relacionados tanto à Síndrome de Burnout como às patologias ocupacionais em geral. Referências Bibliográficas ARAGÃO, J. Introdução aos estudos quantitativos utilizados em pesquisas científicas. RevistaPráxis, ano III, nº 6, ago. 2011. AZEEM, S. M. Personality hardiness, job involvement and job burnout among teachers. International Journal of Vocational and Technical Education, Vol. 2(3), pp. 36-40, July 2010. BATISTA, J. B. V. et al. 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