ESTUDO DE PRESCRIÇÕES MÉDICAS DE PSICOTRÓPICOS DE UMA FARMÁCIA COMERCIAL NO MUNICÍPIO DE SANTA INÊS, MARANHÃO, BRASIL Luana Maria Gonçalves de Sousa¹, Maria Luiza Duarte Torres¹, Gizelly Cristina Melo¹, Antônio Alves Magalhães Júnior¹, Wellyson da Cunha Araújo Firmo² ¹Acadêmicos do Curso de Farmácia, Faculdade de Educação de Bacabal-FEBAC, 65700000, Bacabal-Maranhão, Brasil ²Doutorando em Biodiversidade e Biotecnologia da Amazônia Legal-BIONORTE pela Universidade Federal do Maranhão-UFMA e Docente da Faculdade de Educação de Bacabal-FEBAC, 65700000, Bacabal-Maranhão, Brasil *[email protected] Recebido em: 30/09/2014 – Aprovado em: 15/11/2014 – Publicado em: 01/12/2014 RESUMO Os fármacos psicotrópicos são frequentemente usados no tratamento de doenças mentais, e são sujeitos ao controle especial. A prescrição é um documento legal pelo qual se responsabilizam aqueles que prescrevem, dispensam e administram os medicamentos. O presente trabalho teve como objetivo avaliar as prescrições médicas de fármacos psicotrópicos dispensados por uma farmácia comercial no município de Santa Inês-MA. O período de aviamento foi realizado entre os meses de janeiro a dezembro do ano de 2012. Foram averiguados aspectos essenciais preconizados pela Portaria 344/98, a legibilidade, identificação do número da receita, da Unidade da Federação e os dados referentes à gráfica. Trata-se de uma pesquisa documental, descritiva com corte transversal e abordagem quantitativa. Foram analisadas 1.570 receitas, onde verificou-se a ausência de informações sobre o paciente em 77% das prescrições; em 38% não havia informações sobre o farmacêutico, 42% e 31% respectivamente, não apresentavam dados sobre o medicamento em relação a data de emissão e dispensação, e 66% dos medicamentos prescritos não estavam de acordo com a Denominação Comum Brasileira; enquanto os dados referentes à gráfica, 0,5% não continham o número da receita e Unidade Federativa. Observa-se a premente necessidade de implantação de um modelo prático que deverá ser adotado pelos profissionais prescritores com o escopo de realizar um trabalho de qualidade, uma vez que a prescrição adequada é um fator imprescindível no processo de tratamento do paciente, pois esta apresenta influência direta na etapa de dispensação e na eficiência da atenção farmacêutica. PALAVRAS-CHAVE: Atenção farmacêutica. Prescrição médica. Psicotrópicos. STUDY OF PSYCHOTROPIC PRESCRIPTIONS IN A PHARMACY BUSINESS IN SANTA INES, MARANHÃO, BRAZIL ABSTRACT Psychotropic drugs are often used to treat mental illness and are subject to special control. The prescription is a legal document by which they blame those who prescribe, dispense and administer medications. This study aimed to evaluate the prescriptions of psychotropic drugs dispensed by a pharmacy business in Santa Ines ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.10, n.19; p. 2428 2014 - MA. The amount of goodwill was carried out between the months from January to December of 2012. Essentials recommended by Ordinance 344/98, legibility, identification of revenue from the Federation Unit number and data on the graphic were screened. This is a documentary, descriptive cross- sectional and quantitative approach. 1.570 recipes where there is a lack of information about the patient in 77% of prescriptions were analyzed; in 38% there was no information about the pharmacist, 42% and 31% respectively, had no data on the drug in relation to the date of issue and dispensing, and 66% of the prescribed drugs were not in agreement with the Brazilian Common Denomination; while data relating to graphic, 0,5% did not contain he number of the recipe and Federal Unit. Note the urgent need to implement a practical model that should be adopted by prescribers with scope to perform quality work, once the proper prescription is an essential factor in the patient treatment process, as this has influence direct the dispensing step and efficiency of pharmaceutical care . KEYWORDS: Medical prescription. Pharmaceutical care. Psychotropics. INTRODUÇÃO Cerca de 400 milhões de pessoas no mundo sofrem de transtornos mentais (SEBASTIÃO & PELÁ, 2004) e ao longo da vida a prevalência destes varia de 12,2% a 48,6% (GONÇALVES & KAPCZINSKI, 2008) os mais comuns são os transtornos somatoformes, de ansiedade e de depressão (COSTA & LUDERMIR, 2005) seus sintomas são: insônia, fadiga, irritabilidade, esquecimento, dificuldade de concentração e queixas somáticas (GOLDBERG & HUXLEY, 1992). Os fármacos psicotrópicos ou psicofármacos são definidos como aqueles que afetam o humor e o comportamento (RANG et al., 2007). São substâncias químicas conhecidas há milênios e têm sido frequentemente relacionadas ao tratamento das doenças mentais, também denominadas de doenças psiquiátricas ou transtornos mentais. Os psicofármacos atuam no sistema nervoso central e de alguma forma afetam as funções mentais e emocionais dos indivíduos (ALMEIDA, 2006), dentre estas substâncias pode-se encontrar os ansiolíticos e sedativos, antipsicóticos (neurolépticos), antidepressivos, estimulantes psicomotores, psicomiméticos e potencializadores da cognição, anticonvulsivantes entre outras (RANG et al., 2001). Devido a capacidade de indução a dependência química (GALDURÓZ et al., 2005), essas substâncias farmacológicas estão sujeitas ao controle especial. Considerando a necessidade de aperfeiçoar o controle e a fiscalização dessas substâncias, o Ministério da Saúde criou a Portaria n.º 344/98 que aponta vários parâmetros para a prescrição e venda dessas substâncias. A referida Portaria define a classificação das determinadas substâncias, conforme descrito: A1 e A2 substâncias entorpecentes, A3, B1 e B2 psicotrópicas, C1 substâncias sujeitas a controle especial (podem causar dependência física ou química por agirem no sistema nervoso central), C2 retinóicas, C3 imunossupressoras, C4 anti-retrovirais, C5 anabolizantes e D1 e D2 precursores (substâncias utilizadas para a obtenção de entorpecentes ou psicotrópicos) (BRASIL, 1998a e ANDRADE et al., 2004). Esta portaria legisla que a notificação de receita trata-se de um documento que, acompanhado da receita de prescrição, autoriza a dispensação de medicamentos a base de substâncias que constam nas listas de medicamentos, descrita na mesma (ARRUDA et al., 2012). ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.10, n.19; p. 2429 2014 De acordo com AZEVEDO et al. (2011) um atendimento adequado aos pacientes que utilizam esses medicamentos, deve ter início com a prescrição médica, que representa por escrito a ordem do profissional prescritor, e assim, permite ao paciente obter os medicamentos e as instruções para o tratamento. O profissional prescritor tem a responsabilidade de elaborar prescrições de medicamentos que transmitam, de forma completa, as informações contidas nos receituários, e estas devem ser claras, legíveis, concisas e objetivas, com o propósito de evitar equívocos por partes dos pacientes e dos profissionais que venham atendê-los (ARRUDA et al., 2012). A prescrição é um documento legal pelo qual se responsabilizam aqueles que prescrevem, dispensam e administram os medicamentos/terapêuticas ali arrolados. É importante que a prescrição seja clara, legível e em linguagem compreensível. Alguns preceitos gerais, definidos em lei (Leis Federais 5.991/73 e 9.787/99, as Resoluções de Diretoria Colegiada Agência Nacional de Vigilância Sanitária nº 80/2006 e 16/2007 e o Código de Ética Médica a Resolução CFM nº 1931/2009) são obrigatórios, outros correspondem a boas práticas (BRASIL, 2001). A legibilidade do receituário representa um critério predominante nessa interação, permitindo estabelecer resultados satisfatórios para o paciente, minimizando riscos relacionados ao tratamento farmacológico (ARRUDA et al., 2012). A conscientização do prescritor sobre as responsabilidades cabíveis à prescrição como um instrumento de acesso á saúde é um fator primordial no sistema de saúde. Segundo COHEN (1999), o prescritor tem a responsabilidade de elaborar uma prescrição medicamentosa que transmita de forma completa as informações para todos os profissionais que utilizam este documento. Uma prescrição correta deve conter os seguintes elementos: nome e dados específicos do paciente, nome genérico ou comercial do medicamento, dosagem, forma farmacêutica, quantidade a ser dispensada, instruções completas para o uso (incluindo via de administração e frequência), motivo da prescrição e número de unidades ou duração da terapia. É indiscutível que as prescrições têm papel ímpar na prevenção de erros de medicação (VALADÃO et al., 2009) e que prescrições incompletas, ilegíveis ou com rasuras impedem a eficiência da dispensação, colocando em risco a qualidade da atenção farmacêutica ao paciente, levando ao comprometimento no tratamento farmacoterapêutico (MASTROIANNI, 2009), o que poderá ocasionar graves danos ao paciente. No caso dos medicamentos psicoativos, sujeitos a controle especial (BRASIL, 1998b), a prescrição incompleta ou ilegível pode levar ao uso inadequado e até mesmo ao uso abusivo dessas substâncias (NOTO et al., 2002). Diante deste contexto, o presente trabalho teve como objetivo estudar as características de prescrições médicas de psicotrópicos e a sua composição, aviadas de uma farmácia comercial do município de Santa Inês-MA. MATERIAL E MÉTODOS Trata-se de uma pesquisa documental, descritiva com corte transversal e abordagem quantitativa, realizada em uma farmácia comercial do município de Santa Inês, no estado do Maranhão. A cidade fica localizada a 243 km da capital São Luís. Foram coletadas informações de prescrições da lista B de psicotrópicos, aviadas no período de janeiro a dezembro do ano de 2012, onde foram analisadas 1.570 receitas, em que foram observados aspectos essenciais recomendados pela Portaria nº 344/98 (ausência ou presença da identificação do prescritor, prescrição ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.10, n.19; p. 2430 2014 pela Denominação Comum Brasileira-DCB ou Denominação Comum InternacionalDCI, nome completo e endereço do paciente, concentração, forma farmacêutica, quantidade, posologia), além da legibilidade, o número da receita e identificação da Unidade da Federação-UF, e dados referentes à gráfica (nome, endereço, CGC, número da autorização da VISA, número inicial e final). O presente estudo seguiu os preceitos instituídos pela Resolução nº 466/12, que versa sobre pesquisa que envolve de forma direta ou indireta seres humanos. Os dados coletados foram organizados e compilados em gráficos e tabelas utilizando os programas Microsoft Office Word® e Excel® 2010. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram analisadas 1.570 receitas de medicamentos psicotrópicos da lista B. TABELA 1. Frequência de prescrições médica averiguada/aviadas por mês na farmácia comercial. Santa Inês-MA, 2012. MESES QUANTIDADE DE RECEITAS Janeiro 159 Fevereiro 153 Março 163 Abril 163 Maio 198 Junho 123 Julho 199 Agosto 211 Setembro 201 Outubro 0 Novembro 0 Dezembro 0 TOTAL 1570 A Tabela 1 descreve os números de receitas averiguadas no decorrer de cada mês. Conforme demonstrado, verificou-se que no mês de agosto ocorreu o maior número de aviamento de receitas (211), ao passo que nos meses de outubro, novembro e dezembro não foram dispensados medicamentos psicotrópicos. O uso de psicotrópicos apresenta variações de mês a mês, pois depende da prescrição pelos médicos e a presença destes nas unidades de saúde, assim como fundamentalmente da disponibilidade dos medicamentos na farmácia comercial, que pode variar de acordo com a demanda (SEBASTIÃO & PELÁ, 2004), possível explicação para a variação no município estudado. Ainda assim, a quantidade de psicotrópicos prescritos foi representativa (Tabela 1). Nas últimas décadas verificou-se elevação no índice de utilização de psicofármacos em vários países ocidentais e, até mesmo, em alguns países orientais, em decorrência do aumento da frequência de diagnósticos de transtornos psiquiátricos na população, da introdução de novos psicofármacos no mercado farmacêutico e das novas indicações terapêuticas dos psicofármacos (RODRIGUES et al., 2006). ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.10, n.19; p. 2431 2014 A pesquisa de PELEGRINI (2003) aponta que fatores como estresse, depressão, ansiedade e outros transtornos tão comuns nesta era contemporânea são os principais motivos para as pessoas utilizarem cada vez mais e em maiores quantidades substâncias psicotrópicas, acrescido ainda pelo problema da automedicação e das prescrições excessivas, notadamente dos ansiolíticos e antidepressivos, que apresentam, em sua maioria, grande capacidade de dependência química e psíquica. TABELA 2: Distribuição numérica e percentual quanto à presença ou ausência de informações (variáveis) nas prescrições médica na farmácia comercial. Santa Inês-MA. 2012 INFORMAÇÕES SIM NÃO N % N % Identificação do prescritor 1549 99 21 1 Identificação do paciente 358 23 1212 77 Identificação da farmácia 0 0 1570 100 Identificação do 975 62 595 38 1347 86 223 14 farmacêutico Identificação do comprador N= Distribuição numérica; % = Percentagem Observa-se na Tabela 2, que em apenas 1% das receitas encontravam-se ausentes as informações relacionadas ao prescritor, e 77% das receitas apresentaram os preenchimentos de dados incompletos do paciente. É sabido que a necessidade da identificação do prescritor é de fundamental importância para uma possível localização do responsável em casos como esclarecimento de dúvidas, por exemplo. A ausência desta informação impossibilita esse processo e consequentemente o uso racional do medicamento. Além disso, visa agregar valor a prescrição, à medida que é uma exigência legal na documentação do paciente (CRUCIOL-SOUZA et al., 2008). Neste contexto, a identificação do paciente é de suma importância no intuito de evitar a ocorrência de fraudes na prescrição/dispensação. Sendo que, o equívoco na prescrição é a modalidade mais comum de erros que ocorrem na utilização de medicamentos; logo, a identificação do prescritor e paciente configura-se como uma das medidas essenciais para a redução dos erros de medicação (SANTOS, 2010). Segundo CHEN et al. (2005) os problemas relacionados à prescrição referemse a informações incompletas ou incorretas (como ausência de assinatura, concentração, quantidade), bem como potenciais interações medicamentosas, seguidos de instruções ausentes ou inapropriadas quanto ao uso do medicamento. A prescrição é a ordem médica dirigida ao farmacêutico para o cumprimento da terapia medicamentosa do paciente. A falta de informação na prescrição pode interferir na comunicação entre os profissionais, prejudicando-a e induzindo a erros de medicação ao paciente. Prescrições incompletas impedem a eficiência do trabalho de dispensação dos medicamentos, pondo em risco a qualidade da assistência farmacêutica ao paciente (SILVÉRIO & LEITE, 2010). ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.10, n.19; p. 2432 2014 De acordo com o estudo de FERRARI et al. (2013), no tocante ao preenchimento das informações de competência do farmacêutico, verificou-se que em 2% das prescrições não havia o nome do comprador, em 6,8% o documento de identificação foi omitido, em 52,2% houve ausência do Órgão Emissor, em 4% o endereço do comprador não esteve presente nas prescrições e em 80,7% não havia informações sobre o telefone do comprador. Nesse sentido, a Portaria nº 344/98 estabelece que na Notificação de Receita deve constar o nome e endereço completos do estabelecimento, bem como o nome do responsável pela dispensação e data do atendimento (BRASIL, 1998a). Observase na Tabela 2 que as informações relacionadas à identificação da farmácia encontravam-se ausentes em 100% das receitas e 62% continham a identificação do profissional farmacêutico. A falta de informações do estabelecimento dificulta ações judiciais de ressarcimento, se necessário, por exemplo, quando o laboratório farmacêutico produziu medicamento ineficaz ou prejudicial à saúde (CAMARGO et al., 2005). O farmacêutico é o profissional responsável pela dispensação do medicamento, capaz de observar possíveis erros na prescrição médica, intervindo de maneira a melhorar a qualidade da farmacoterapêutica, interagindo com os prescritores e os pacientes, a fim de favorecer a dispensação mais adequada possível. Através da prestação do serviço de dispensação farmacêutica pode ser possível a prevenção, identificação e resolução de problemas relacionados à farmacoterapia (GALATO et al., 2008). Entretanto a ausência das informações necessárias para uma efetiva dispensação dificulta o trabalho do farmacêutico, assim como a falta de cumprimento das legislações vigentes pelo profissional pode acarretar graves danos a saúde do paciente, sendo passível de sanções disciplinares (CFF, 2004). Assim, para que os itens de responsabilidades do farmacêutico venham a ser cumpridos faz-se necessária conscientização deste profissional da importância do preenchimento destes parâmetros, além de fiscalização pelos órgãos competentes. TABELA 3: Distribuição percentual quanto à presença e ausência de informações do medicamento nas prescrições médica da farmácia comercial. Santa Inês-MA. 2012. INFORMAÇÕES DO SIM NÃO MEDICAMENTO Data de emissão 58% 42% Data de dispensação 69% 31% Forma farmacêutica 99% 1% Quantidade de medicamento 98% 2% Posologia 86% 14% Dosagem ou concentração 97% 3% Sobre as informações do medicamento, observa-se na Tabela 3, que 97% informavam a dosagem ou concentração, 99% relatavam qual a forma farmacêutica do medicamento prescrito, 98% apresentavam a quantidade de medicamento que ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.10, n.19; p. 2433 2014 deveria ser dispensado e 86% continham a posologia. Contudo, vale ressaltar que 1% das receitas não continha a forma farmacêutica, 14% a posologia e 3% a dosagem ou concentração, e as mesmas foram dispensadas, sendo que provavelmente, pôs em risco a saúde dos pacientes, uma vez que não havia certeza das características do medicamento a ser fornecido. Ainda na Tabela 3 pode-se constatar que 42% da data de emissão encontrase ausente, porém, comparado com a pesquisa realizada por ARRUDA et al. (2012), depara-se com um número bem maior de prescrições sem a data de emissão (74%), sendo que a ausência da data que a receita foi emitida impede que o dispensador conheça a validade da prescrição, podendo acarretar prejuízos a orientação farmacêutica, quanto ao período de tratamento, por exemplo. Além disso, a falta do preenchimento desse campo pode levar a fraudes ou ao uso irracional de medicamento. Segundo HODGKINSON et al. (2006) em um estudo realizado na Austrália, sobre erros de prescrições médicas, as causas mais comuns estavam relacionadas a dose errada ou ambígua, ou a falta desta informação. Instruções de administração incertas ou ausentes revelaram que 2% de todas as prescrições possuem potencial de causar algum evento adverso, pois o não preenchimento correto quanto aos dados da substância prescrita pode levar à dificuldade no processo de manipulação, assim como na informação terapêutica a ser prestada ao paciente (ANDRADE et al., 2004). Ao analisar as prescrições deste estudo observou-se que o percentual de dados relativo a dosagem, concentração, posologia, aumentou quando comparado com estudos anteriores como o de SILVÉRIO & LEITE (2010) e FIRMO et al. (2013), que constam respectivamente 61% e 91,1% para informações presentes sobre dosagem e concentração, 28% e 54,8% para informações sobre forma farmacêutica e 9% e 86,3% para informações sobre a posologia. Estes dados são relativamente importantes quanto ao crescimento no preenchimento destas informações essenciais em receitas, pois facilita o uso racional do medicamento, já que a falta de informações na prescrição dificulta o tratamento do paciente podendo por em risco a sua vida. Os dados referentes à gráfica (nome, endereço, CGC, numero da autorização da ANVISA, número inicial e final do talonário) estavam presentes em 94%, sendo que em 6% não havia nenhum dado da gráfica e 0,5% não apresentavam o número da receita e a identificação da UF. Estes resultados são comparáveis aos de FERRARI et al. (2013), onde nas prescrições analisadas, todas apresentavam o nome da gráfica responsável pela impressão do talonário, e em 99,2% o endereço estava presente, o C.N.P.J./ C.G.C. e a numeração inicial e final estiveram presentes em 99,6% das prescrições, o número da autorização da Vigilância Sanitária (VISA) esteve presente em apenas 58,2%, a Unidade da Federação e a identificação numérica estiveram presentes em 99,2% das prescrições. De acordo com a Portaria nº 344/98, a Notificação de Receita "B", de cor azul, impressa às expensas do profissional ou da instituição, a este Regulamento Técnico terá validade por um período de 30 dias contados a partir de sua emissão e somente dentro da Unidade Federativa que concedeu a numeração. Segundo ANDRADE et al. (2004), falhas no preenchimento da receita, como a ausência de dados do prescritor, incorreção dos dados da gráfica e dispensação do medicamento fora do prazo previsto na legislação são erros graves, sendo importante salientar que a localização do paciente/comprador é fundamental para que se possa evitar a ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.10, n.19; p. 2434 2014 possibilidade de fraudes na prescrição/dispensação, considerando-se a legislação vigente em que tal situação pode configurar tráfico de entorpecentes. FIGURA 1: Distribuição percentual quanto à legibilidade das prescrições médicas da farmácia comercial. Santa Inês-MA. 2012. De acordo com a legibilidade, os dados apresentados na Figura 1 mostram que 56% das prescrições analisadas estavam legíveis, 39% pouco legível, e 5% ilegível. Utilizando-se do critério que configura-se legível quando não há nenhum problema de tempo gasto, além do normal, para entender o que está escrito; pouco legível, quando há entendimento parcial da prescrição e as tachadas de ilegíveis, quando é impossível entender o que está escrito pelo menos na metade dela (CRUCIOL-SOUZA et al., 2008 e FIRMO et al., 2013). Segundo SILVÉRIO & LEITE (2010), a legibilidade das prescrições é peça chave para o bom entendimento e cumprimento da terapia. Além de que é citado no Código de Ética Médica que a prescrição deve ser legível (BRASIL, 2001). A receita médica representa o principal elo de comunicação entre médico, farmacêutico e paciente e, para que não haja falhas nesse processo, esta deve ser elaborada de acordo com critérios aceitos e padronizados (ALDRIGUE et al., 2006). A legibilidade condiciona a comunicação e pode interromper ou alterar o processo de assistência ao paciente, resultando em consequências danosas para o mesmo. Sem dúvida, a escrita manual ilegível é uma reconhecida causa de erros envolvendo medicamentos (MIGUEL, 2010). Com o intuito de evitar possíveis erros na dispensação do medicamento, é imprescindível a correta interpretação da prescrição pelo profissional farmacêutico que irá dispensar a medicação. A presente pesquisa apresenta uma percentagem relevante de prescrições legíveis, equivalendo ao estudo de FIRMO et al. (2013) em que 54,8% das receitas estavam legíveis. No estudo de MIGUEL (2010), são apresentadas algumas medidas para a correta confecção das receitas, tendo este recomendado a simplificação e padronização dos processos de receitas, dispensação e administração de medicamentos, implementação de receitas por sistema computadorizado em todas as clínicas, utilização de software farmacêutico como fonte de informação sobre medicamentos e checagem de prescrições, realização de cursos para a promoção do uso racional de medicamentos e inserção do profissional farmacêutico nas unidades de internação para colaborar com a ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.10, n.19; p. 2435 2014 equipe multiprofissional de saúde e servir como mais uma fonte de informação sobre medicamentos. FIGURA 2: Distribuição percentual quanto a prescrição médica de medicamento pela Denominação Comum Brasileira (DCB) ou pela Denominação Comum internacional (DCI) na farmácia comercial. Santa Inês-MA. 2012. A Figura 2 mostra o percentual de prescrição de medicamentos psicotrópicos pela Denominação Comum Brasileira (DCB), com 34%, e pela Denominação Comum Internacional (DCI) com 66%. Nota-se um elevado percentual de prescrição pelo nome comercial, este fato ocorre possivelmente em razão de um número cada vez maior de medicamentos similares e equivalentes, associado ao intenso trabalho de marketing, estimulando a prescrição pela DCI (MARIN et al., 2003). A ocorrência do uso da DCI não segue a recomendação da OMS, que estabelece que todas as prescrições devem ser feitas pelo nome genérico (BORGES & SILVA, 2010). Segundo a pesquisa feita por ANDRADE et al. (2004) houve um total de 53,1% de medicamentos receitados pela DCI, enquanto que a presente pesquisa apresenta 66%, denotando como é comum este tipo de prescrição. Esses dados só evidenciam a forte influência das indústrias farmacêuticas e a necessidade da conscientização dos profissionais de saúde para a correta prescrição, de acordo com a legislação. Além disso, em casos de intoxicação por ingestão de certos fármacos, é de suma importância saber de que substância se trata a fim de reverter o quadro; e a prescrição utilizando a DCB, facilita este processo (SCHENKEL, 2013). A classificação quanto à DCB afigura-se indispensável, uma vez que a maioria das pessoas simplesmente desconhece qual é a substância ativa presente em seu medicamento usado frequentemente (SCHENKEL, 2013). CONCLUSÃO Ante o exposto, verifica-se que os psicotrópicos são medicamentos bastante prescritos; que as receitas médicas, em sua maioria apresentavam qualidade adequada e seguiam as legislações vigentes. Entretanto, ainda persistem problemas ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.10, n.19; p. 2436 2014 relacionados ao cumprimento dos aspectos de preenchimento das prescrições, notadamente às informações primordiais, tais como forma farmacêutica, dosagem ou concentração e posologia. A ausência pode gerar erros de medicação, além de dificultar que o profissional dispensador exerça seu papel na orientação do uso correto do medicamento, pois são vários os prejuízos advindos de uma prescrição incoerente ou incompleta, que podem colocar em risco a saúde do paciente, entretanto, há necessidade que o profissional farmacêutico tenha responsabilidade no cumprimento dos aspectos pertinentes as suas ações, a fim de corroborar com a qualidade da prescrição. Uma prescrição adequada é o passo mais importante no processo de cura do indivíduo, pois esta influencia diretamente a etapa de dispensação, onde o farmacêutico pode participar do cuidado aos usuários de medicamentos, interferindo, principalmente, no uso e controle adequado, e isto refletirá de forma positiva nos resultados da terapia medicamentosa dos pacientes. Destarte, verifica-se a necessidade de se implantar um modelo de prática que deverá ser prontamente adotado pelos profissionais de saúde a fim de facilitar o desenvolvimento de um trabalho de qualidade e, a partir disso, possibilitar que a própria comunidade possa exigir a atuação desses profissionais para atender suas necessidades, independente da obrigatoriedade legal com a legislação vigente. REFERÊNCIAS ALDRIGUE RFT, CORRER CJ, MELCHIORS AC, PONTAROLO R. Análise da completude de prescrições médicas dispensadas em uma farmácia comunitária de Fazenda Rio Grande – Paraná (Brasil). Acta Farm. Bonaerense 2006; 25(3): 454-459. 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