É natural que a participação do Eike nas empresas

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O ESTADO DE S. PAULO
DOMINGO, 24 DE MARÇO DE 2013
Questão de estilo
Marcas no Instagram
Profissão valorizada
‘Hiperatividade’ de Dilma
inibe investimentos
Software identifica imagens
espalhadas na rede social
Trabalhadores domésticos como
Mariza Amorim ganham novo status
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NILTON FUKUDA/ESTADÃO
Economia
& NEGÓCIOS
estadão.com.br
ENTREVISTA
André Esteves, sócio e presidente do BTG Pactual
‘É natural que a participação do Eike
nas empresas caia de 60% para 30%’
CLAYTON DE SOUZA/ESTADÃO
Objetivo. André Esteves quer BTG Pactual na liderança na AL
Esteves, porém, diz que
Eike vai se recuperar: ‘ele
continua sendo um dos
empresários mais bem
capitalizados do País’
David Friedlander
Raquel Landim
Ricardo Grinbaum
À frente da operação lançada
dias atrás para tentar resgatar
Eike Batista da crise de confiança que vem demolindo o
valor de suas empresas, o banqueiro André Esteves diz como enxerga o futuro do grupo
EBX: a participação que o empresário possui hoje nos negócios que criou, na casa dos
60% a 70%, tende a diminuir.
“O natural deveria ser o Eike
ter participações menores, de
20% a 30%. Mas ele não perde
o controle”, afirma o banqueiro, em sua primeira entrevista
sobre a parceria fechada no começo do mês entre o BTG Pactual e o grupo EBX.
A situação de Eike, até outro
dia apontado como o homem
mais rico do Brasil e o sétimo
do mundo, é dramática. Nos últimos 12 meses, suas empresas
perderam R$ 53 bilhões de valor de mercado. Na sexta-feira,
as ações das principais empresas sofreram mais um tombo espetacular: os papéis da LLX ( logística) caíram 11%, os da OGX
(petróleo), 9% e as ações da
MMX (mineração) perderam
8%. Esta semana serão divulgados os balanços de OGX e LLX,
e o mercado especulou freneticamente, alegando uma suposta impaciência dos investidores
com a demora de resultados da
parceria entre Eike e BTG.
“Não temos nenhuma bala
de prata, nem queremos ter
uma visão sebastianista do assunto. Não vai ser em duas semanas que a parceria vai dar resultado”, afirma o banqueiro.
Apesar do cenário sombrio, Esteves diz que Eike vai se recuperar. “Ele continua sendo um
dos empresários mais bem capitalizados do País. É jovem, empreendedor, acredita no Brasil
e ainda vai construir muita coisa. Sua situação financeira é facilmente equacionável.”
A missão de Esteves e sua
equipe é reorganizar o grupo
EBX, buscando parceiros estratégicos ou financeiros para as
empresas e priorizando os investimentos de acordo com a
nova realidade. Sobre a OGX,
que era a estrela da coleção de
empresas criadas por Eike, o
banqueiro deixou claro que não
existe a ambição de levar a petroleira ao patamar de preços
em que já esteve. “Uma coisa
não temos capacidade de fazer:
tirar mais petróleo dos poços
que estão lá. Se as ações vão valer R$ 5 ou R$ 2, não tem nada a
ver com nossa capacidade.”
A operação para tirar as empresas de Eike do sufoco será
um teste e tanto para o jovem
banqueiro de 44 anos. Sua ambição é colocar o BTG na liderança dos bancos de investimento
da América Latina. Com US$ 15
bilhões de valor de mercado, a
instituição administra U$ 120
bilhões entre recursos próprios
e de terceiros.
Um dos motivos de orgulho
no banco é a nova sede, com 13
mil metros quadrados de área
num dos endereços mais nobres da Avenida Faria Lima, o
novo centro financeiro de São
Paulo. Lá dentro, Esteves e
seus sócios sentam lado a lado
com os operadores – quando
querem privacidade procuram
uma das muitas salas de reunião. É uma forma de mostrar
aos mais novos que quem trabalhar duro pode chegar ao topo
como eles. “O que queremos
aqui são Ph.Ds”, diz Esteves.
“Poor, hungry and desperate to
get rich (pobre, esfomeado e desesperado para ficar rico).” A seguir a entrevista ao Estado.
● As ações das empresas de Eike desabaram na sexta-feira, o
que foi atribuído a uma suposta
impaciência de investidores com
a demora de resultados da parceira entre EBX e BTG. Como o
sr. encara essa pressão?
Não temos nenhuma bala de
prata nem queremos ter uma visão sebastianista do assunto
(uma salvação miraculosa).
Não podemos ceder à pressão
para tomar decisões. Elas só
ocorrerão à medida que as oportunidades se apresentarem, e isso vai demorar bem mais que
duas semanas. Temos de ter foco, compromisso e responsabilidade. E encarar a volatilidade
das ações com uma certa naturalidade. A bolsa está no seu
pior momento.
● Por que o BTG se associou à
EBX em um momento de risco?
Eike é um dos grandes empreendedores da última década, senão o maior do Brasil. É natural
levar a nossa expertise nesse
momento de desafio. Existem
projetos muito distintos dentro
do grupo EBX, com retornos e
maturidades diferentes.
● O grupo EBX é viável com o
tamanho que tem hoje?
Eike concebeu projetos estruturantes e transformadores para
o Brasil, como o Porto do Açu.
O desafio é ordenar a execução
deles. Todos são grandes projetos de infraestrutura, voltados
para recursos naturais, de complexa execução e capital intensivo. E existe a dificuldade de executar vários projetos ao mesmo
tempo. Vamos ajudar a ordenar, racionalizar e priorizar a
execução. O Eike está aberto e
animado com a ideia. Muitas
pessoas questionam o endividamento do grupo EBX, mas, mesmo com as ações bastante depreciadas, existe um significativo patrimônio positivo. O endividamento não é tão grande. O
que existe é uma demanda por
investimento futuro que precisa ser equacionada, projeto a
projeto.
● Eike está perto de vender uma
fatia de sua participação na MPX
para a sócia E.ON...
O negócio não foi anunciado. A
empresa comunicou ao mercado que existem conversas em
andamento que podem se concretizar nessa linha. É um caso
claro de uma companhia da
EBX que tem um player de classe mundial que gostaria de ter
uma participação ainda maior.
● Vocês estão procurando parcei-
ros para as empresas, a exemplo
do que foi feito pela MPX?
Dada a qualidade dos projetos,
existem diversos tipos de demanda: para parceiros estratégicos ou financeiros. Diria que é
uma percepção correta que podem existir transações desse tipo em diversos projetos do grupo. O incomum é manter participações de 60%, 70%. O nor-
mal seria o Eike ter participações menores, de 20% a 30%.
No mundo, em projetos como
esses, não é natural ter concentrações de capital tão altas, dado o risco, o tamanho do capital envolvido e a complexidade.
Existem diversos tipos de parceiros: financeiros, estratégicos, bancos de desenvolvimento, o empreendedor e o mercado de capitais. Vejo como anomalia o excesso de participação
do grupo nos projetos. É natural ter fatias menores, em projetos que vão ser pagadores de dividendos e geradores de caixa.
E manter a expertise do grupo
na concepção dos projetos.
‘O BTG Pactual atua como um
BNDES privado’, diz Esteves
Pág. B4
B4 Economia
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O ESTADO DE S. PAULO
DOMINGO, 24 DE MARÇO DE 2013
CLAYTON DE SOUZA/ESTADÃO
André
Esteves.
‘Somos
muito pé
no chão’
André Esteves, sócio e presidente do BTG Pactual
‘O BTG Pactual
atua como um
BNDES privado’
Para Esteves, banco
é útil à economia: ’É que
nos desacostumamos no
País a ter um banco de investimentos que investe’
David Friedlander
Raquel Landim
Ricardo Grinbaum
Envolvido em alguns dos maiores negócios do País e sócio de
mais de 30 empresas dos mais
diferentes setores, André Esteves diz que o BTG Pactual é
“um BNDES privado e eficiente”. A seguir, a continuação da
entrevista da página B1.
● Quais projetos da EBX são
mais problemáticos e quais estão adiantados?
Grandes projetos de infraestrutura são sempre complicados. A
MPX (setor elétrico) já gera
energia. É um projeto que começou do zero e hoje é extremamente útil para o Brasil. Mesmo a OGX (petróleo), cuja produção de petróleo veio abaixo
das expectativas do mercado e
do grupo, realizou uma campanha de exploração de petróleo
que nunca tinha sido feita por
uma empresa privada no Brasil.
Faz parte do negócio de exploração achar mais ou menos petróleo. No Porto de Açu, há novas companhias se instalando e
isso vai continuar durante décadas.
● Como resolver a situação da
OGX, que perdeu mais de R$ 47
bilhões em valor de mercado em
um ano?
Obviamente a resposta é complexa. Quem investe em exploração de petróleo tem de estar
preparado para altos retornos e
eventuais decepções. Muito provavelmente o mercado de capitais ficou excessivamente otimista com as perspectivas da
empresa e talvez a administração tenha se tornado excessivamente otimista. Ainda existem
muitas oportunidades no setor
de petróleo e gás no Brasil. Está
em curso a 11.ª rodada de concessões e ocorrem negócios
constantes de blocos de petróleo. A OGX tem um corpo técnico bom. As oportunidades estão aí. Vai depender da gestão
da companhia. Uma coisa que
não vamos fazer e não temos capacidade de fazer é tirar mais
petróleo do fundo dos poços.
Se as ações vão valer R$ 2 ou R$
5, não tem nada a ver com a nossa capacidade. O que podemos
‘Quem investe em
petróleo tem de estar
preparado para
eventuais decepções’
trazer para o grupo é racionalidade, uma estrutura de capital
correta, controlar os investimentos. Isso é suficiente para o
grupo ter sustentabilidade financeira de longuíssimo prazo.
● Existe a hipótese de profissio-
nalizar o grupo, com a saída de
Eike do dia a dia dos negócios?
O Eike tem uma capacidade única de concepção de projetos, conhece muito de recursos naturais e de logística, tem cabeça
de engenheiro. Pensa grande e
o Brasil precisa de gente assim.
Cada companhia tem seu corpo
executivo, conselho de administração e a maioria é de capital
aberto.
● O mercado diz que a LLX (logística) é a menina dos olhos do Eike. Vocês esperam apoio do governo no Porto de Açu? Investimentos de fundos de pensão estatais, por exemplo?
Existe uma frustração que não
é só do Eike, mas de vários empresários, que gostariam de ver
investidores institucionais brasileiros mais engajados em projetos estruturantes. É um deba-
QUEM É
✽ É chairman do conselho de
administração e diretor-presidente do BTG Pactual. Ingressou no Pactual em 1989 e se
tornou sócio em 1993. Em
2006, vendeu o banco para o
UBS. Em 2008, criou o BTG e,
aproveitando a crise, recomprou o Pactual dos suíços,
criando o BTG Pactual.
te válido em um momento em
que o Brasil precisa de um choque de infraestrutura. Melhor
do que ter projetos puramente
governamentais é ter investidores institucionais se ligando a
projetos privados. Ao longo das
últimas décadas, o ganho dos investidores institucionais foi
muito facilitado pelos juros altos. Agora que caminhamos para a última fase da estabilização
da economia brasileira, o desafio é ter uma boa alocação de capital para investidores que focam no longuíssimo prazo. Não
só os fundos de pensão, mas
também as seguradoras.
● Qual é o papel do BNDES e da
Petrobrás na reestruturação do
grupo EBX?
A Petrobrás não tem um papel
determinante. Pode ser um parceiro, um cliente e até um concorrente. A Petrobrás tem interesse em ver a indústria de serviços de óleo e gás indo bem no
Brasil e acho que também vê como positiva a ideia de companhias privadas de petróleo. Fora isso, não vejo nada determinante. Já o BNDES, como banco de desenvolvimento econômico, é natural que participe
desse projeto e de outros. Para
falar a verdade, gostaria de ver
o BNDES menos envolvido
com capital de giro e mais com
grandes projetos de infraestrutura. Vejo muitos economistas
reclamando da existência do
BNDES e discordo. O BNDES é
uma qualidade e uma conquista
brasileira.
● Como foi a aproximação para a
parceria entre BTG e Eike? Qual
é a sua exposição ao grupo?
Temos um relacionamento com
o grupo histórico e intenso. Fomos sócios em projetos no passado e participamos de todas as
aberturas de capital. Essa aproximação não aconteceu e, sim,
já estava lá. O nosso papel é racionalizar o grupo e, obviamente, atrair investidores. Temos alguma exposição de crédito ao
grupo como todos os bancos comerciais. Também podemos
participar de projetos futuros
como investidores ou não.
● Vocês abriram uma linha de
crédito de R$ 1 bilhão para o grupo EBX?
Abrimos linhas de crédito lastreadas em ativos existentes e a
magnitude bate com esse valor.
● O Eike corre o risco de quebrar?
Está longe disso. Ele continua
sendo um dos empresários mais
bem capitalizados do País. É jovem, empreendedor, acredita
no Brasil e ainda vai construir
muita coisa. Sua situação financeira é facilmente equacionável.
● No mercado, especula-se que
vocês estão ajudando Eike a pedido do governo ...
Não tem absolutamente nenhum pedido do governo. Não
seria cabível uma coisa dessas.
● Como é a sua relação pessoal
com o Eike? São amigos?
Temos uma longa história de investimentos. Ganhamos dinheiro juntos. Então está ótimo. O
grupo continua operando com
todos os parceiros financeiros.
O desafio de execução dos projetos do grupo EBX é tão grande que precisamos de mais braços. Não temos vergonha ou
ciúme disso. Somos muito pé
no chão.
● O BTG está crescendo muito
rápido, com a participação em
várias empresas. Qual é a estratégia do banco?
Essa é uma área do banco (private equity). Também somos
muito atuantes no mercado de
capitais e temos uma atuação latino-americana. Mas nosso papel é ser o óleo da engrenagem
da economia brasileira. No fundo, o fato de sermos um
BNDES eficiente e privado é
muito útil para a economia bra-
sileira. Quando a economia
americana passou pelo mesmo
estágio da brasileira, há 50
anos, os Morgan e os
Rothschild exerceram esse papel. É que nos desacostumamos no Brasil a ter um banco
de investimentos que investe.
● O BNDES segue a política in-
dustrial do governo. Qual é a sua
lógica na hora de investir?
A nossa lógica é o bom negócio.
Apoiamos nossos clientes em
vários setores e por várias razões. Geralmente é uma lógica
de consolidação. A consolidação, que aumenta a produtividade da economia, precisa de muito capital. Também existem as
sucessões familiares, em que
muitas companhias estão passando de um estágio familiar para outro mais profissional.
● Qual é o tamanho do BTG hoje?
O BTG tem US$ 15 bilhões de
valor de mercado e um volume
de gestão, entre banca privada
e recursos institucionais, de
US$ 120 bilhões.
● O BTG está se internacionali-
zando. Qual é a estratégia?
Somos o maior player no Chile,
‘Se a inflação se mostrar
resiliente, o BC deve
elevar os juros. Não acho
que haverá interferência’
Peru e Colômbia e também somos um player importante no
México. Temos 100 pessoas em
Londres, 100 em Nova York e
15 em Hong Kong. O México é a
última perna na América Latina
(o BTG está abrindo uma filial
no país), porque precisamos ter
mais estabilidade para investir
na Argentina e na Venezuela e
podemos atender os países de
menor escala com os escritórios atuais. A paisagem financeira mundial será de poucos bancos globais competindo com líderes regionais. E nós temos todo o potencial de ser o líder da
América Latina. Essa é a nossa
visão estratégica. Atrair investimentos para a América Latina e
levar as empresas da região a investir fora.
● No Brasil, o setor privado se
queixa da incerteza econômica e
do intervencionismo. Qual é a
sua avaliação?
Existem dois mundos: o do investidor de portfólio (financeiro) e do setor real, que é o mais
relevante. O Brasil teve US$ 65
bilhões de investimento estran-
geiro direto no ano passado,
um recorde e três vezes o volume do México, o que sinaliza
uma confiança enorme do investidor. Esses são os fatos.
Mas é claro que o volume total
de investimento da economia
brasileira poderia e deveria ser
maior. O governo pode investir
mais e, principalmente, dar condições para o setor privado investir mais. O que vimos é o governo indo numa direção muito
boa, mas com uma execução
que causou incerteza. Os problemas de execução criam esse
sentimento de excesso de intervencionismo. Mas a direção é
inegavelmente boa.
● O sr. está preocupado com a
inflação? O Brasil precisa elevar
a taxa de juros?
Não concordo com as críticas
de que exista um descontrole inflacionário. O que vejo hoje é a
inflação desconfortavelmente
acima do centro da meta, e isso
pode ser combatido com alta
da taxa de juros. As medidas macroprudenciais não fazem sentido hoje porque o crédito está
crescendo de maneira moderada. Ocorreu uma mudança estrutural nos juros brasileiros,
mas isso não significa que as taxas não vão mais subir ou cair.
Só que vão subir para 8,5% ou
9% e não para 14%, 15% ou 16%.
E na frente vão cair de novo. Se
a inflação se mostrar resiliente,
o BC pode e deve elevar os juros. Não acho que haverá nenhum tipo de interferência governamental impedindo o BC
de atuar. Isso é uma falsa crença de parte do mercado e não
consigo entender o porquê. Essa mesma composição de presidente do BC, ministro da Fazenda e presidente da República
elevou os juros em 175 pontos
base no início do governo.
● O sr. é visto como um dos conselheiros da presidente Dilma no
setor privado. Como é o seu relacionamento com ela?
Tenho enorme respeito pela
presidente, mas não exerço esse papel de conselheiro. Nós somos pró-Brasil. O nosso negócio depende da boa condução
da economia brasileira. E sempre que pudermos contribuir
com o que temos de melhor,
que são ideias, estamos abertos. Respeitamos muito a presidente, sua conduta pessoal e
seu compromisso com o Brasil.
Estamos dispostos a ajudar,
não apenas a ela, mas a quem estiver sentado naquela cadeira
com a responsabilidade de tocar o Brasil.
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