Edição n° 1230/1231: Brasil: entrando no desconhecido

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Núcleo de Educação Popular 13 de Maio - São Paulo, SP
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CRÍTICA SEMANAL DA ECONOMIA
www.criticadaeconomia.com.br
EDIÇÃO Nº 1230/1231 – Ano 29; 3ª e 4ª Semanas Março 2015.
Brasil: entrando no desconhecido
. JOSÉ MARTINS
A economia brasileira dos últimos doze anos foi a economia de Eike
Batista e de George Soros. Do Estado nacional do primeiro e do mercado
global do segundo. Em perfeita harmonia. Agora, seus artífices neopelegos
não sabem o que fazer com a crise que eles mesmos criaram. São os
primeiros a serem engolidos por ela.
As manifestações e o panelaço de 15 de Março no Brasil foram as formas
carnavalescas da protoburguesia brasileira (que atende pelo nome de “elite
branca”) anunciar para todo mundo que não quer mais a presidenta Dilma
Rousseff dirigindo seu grande comitê de negócios, quer dizer, seu glorioso
Estado nacional. A “elite branca” segue ordens de Washington. Como sempre.
Os estrategistas da ordem imperialista na América do Sul veem com
preocupação a deterioração da governabilidade no Brasil. Há mais de dois anos,
pelo menos. A razão? Em grandes linhas, a análise é a seguinte: os neopelegos de
Lula da Silva e caterva esgotaram seu arsenal de instrumentalização dos
sindicatos e movimentos sociais para abafar as revoltas sociais. Foi com esse
regime de harmonia social que os capitalistas conseguiram superar a crise
herdada do governo neoliberal anterior de Fernando Henrique Cardoso e
lubrificar a máquina policial do Estado e a política econômica a favor dos
interesses privados do mercado. Agora é um regime falido. Tem que se colocar
outra coisa no lugar. Nem eles, e muito menos os idiotas capitalistas nacionais,
sabem como será essa reformatação do regime democrático no Brasil. Junto com
a economia, que já apresenta claros sinais de derrocada produtiva, a política entra
no dissolvente e altamente criativo território do desconhecido.
VALIDADE VENCIDA – Não foi para o trabalho sujo de imobilizar as massas
(democraticamente, off course) que os colaboracionistas sindicais foram postos
no governo pela burguesia e pelo imperialismo? Pensado por este ultimo, mas
executado pelos parasitas da Federação das Indústrias de São Paulo (FIESP) –
fração mais poderosa das classes proprietárias internas, e outras coadjuvantes
como Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Confederação da
Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), etc.? Agora, do mesmo modo que
1
fizeram em 2002 com os neoliberais do “plano real”, decidiram que é a vez de
despedir os neopelegos do “país rico é país sem miséria”.
A mudança da política no Brasil se acelera. Corroídos por longos anos de
corrupção política – e, para não perder a viagem, pelo enriquecimento privado
com o dinheiro público – os burocratas aparelhados em torno de Lula da Silva
não são mais capazes de garantir aos seus patrões a prometida paz social. A
federal polícia pacificadora neopelega está batendo pino. Validade vencida. As
“centrais” e o “exército de Stédile” giram no vazio do tempo perdido. Compram
infelizes desempregados por um sanduiche de mortadela para empinar indecisos
balões e bandeiras nas modorrentas passeatas de avenidas semivazias.
O homem subterrâneo só observa de longe. E pensa, antes de agir. Essa
súbita obsolescência do mix de colaboracionismo sindical com neoliberalismo
acontece porque a crise global do capital que se avizinha é bem maior que a de
sete anos atrás. Para salvar os capitalistas das crises anteriores (2003 e 2008) os
neopelegos potencializaram a próxima explosão. Aumentou a exploração dos
operários e, consequentemente, a miséria da população. A repressão policial
aumentou proporcionalmente: faz tempo que os bairros operários são patrulhados
pelo inglório exército nacional; como no Haiti. Isso não acontecia nem na época
da ditadura militar (1964 a 1984). Para o exército industrial de reserva espalhado
pelo país nos morros, favelas e palafitas, a ditadura militar já voltou. Bem mais
eficiente que a sonhada pelos filhos de Bolsonaro e outros idiotas da pátria. Já
voltou, também, para a juventude revolucionária, que vez ou outra emerge nas
ruas virando automóveis, quebrando câmeras da Rede Globo, vidraças dos
bancos, vilipendiando sacrossantas propriedades privadas.
EIKE E GEORGE – As necessidades do capital para enfrentar a próxima crise
também são proporcionalmente bem maiores que em 2003. Para salvar os
capitalistas, nestes últimos doze anos, o colaboracionismo liberal-sindicalista
criou involuntariamente as condições de incontrolável superprodução de capital
na economia. Além da linha de produção das fábricas, das fazendas, das minas,
dos hospitais e das estradas, uma pletora de crédito, incentivos e desonerações
fiscais, compras governamentais (devidamente superfaturadas, claro), dívida
pública, dívida privada, desregulamentações para o livre mercado, garantias à
propriedade e à especulação financeira global.
A economia dos neopelegos foi a economia de Eike Batista e de George
Soros. Do Estado nacional do primeiro e do mercado global do segundo. Em
perfeita harmonia. Agora, seus artífices não sabem o que fazer com a crise que
eles mesmos criaram. São os primeiros a serem engolidos por ela. A carestia
aumenta. É a forma (a única) como a população enxerga a crise. Nenhum
governo se sustenta com carestia crescente. Dilma é odiada. Antes era só pelos
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eleitores do beócio Aécio. Agora é odiada também pelos seus eleitores de seis
meses atrás. Deve ser defenestrada do governo. E junto todos os neopelegos.
Demitidos de suas nada nobres funções na casa grande e mandados de volta à
senzala. Continuarão se debatendo e se defendendo nos tribunais, em campanhas
eleitorais, participando de imundas frentes únicas de esquerda e,
consequentemente, colaborando cada vez mais com a governabilidade burguesa.
A SENHORA ROUSSEFF E SEU AMADO CHICAGO-BOY – As razões estritamente
econômicas da crise? Os Chicago-boys1 não titubeiam: o “pleno emprego” e os
“altos salários” que encarecem os custos de produção. E, claro, os elevadíssimos
gastos sociais do governo com saúde pública, educação pública, transporte
público, aposentadoria rural... O responsável por tudo isso? O “estatismo” do
governo atual! Falta liberdade de mercado! Mais liberdade e democracia, senão
os beneméritos empresários não se arriscam mais a investir. O remédio?
Aumentar o desemprego e cortar salários nas empresas privadas; e, na
administração pública, cortar fundo os gastos sociais e aumentar os gastos
policiais. É o que eles chamam de “medidas de ajuste”.
A patética burocrata lulista olha veneradamente seu Chicago-boy Joaquim
“Drácula” Levi, seu novo ministro da Fazenda, homem de confiança da canalha
ideológica imperialista da The Economist, Financial Times, The Wall Street
Journal, Bloomberg News, etc. e pede socorro. Bem que ela faz de tudo para
mostrar aos seus patrões que é capaz de continuar servindo-os com a presteza de
sempre. Tenta manter-se no governo, que para ela, como para seu padrinho que
lá a colocou, não passa de uma grande mamata para engordar suas contas na
Suiça e alhures. Sua primeira manifestação, no dia seguinte a 15 de Março, foi
falar de uma insossa “reforma política”, de antigos projetos de “combate à
corrupção” e outras perfumarias baratas. Não sensibilizou ninguém, claro. E o
panelaço aumentou. Foi então ao ponto que mais interessa aos seus patrões:
apostar todas suas fichas nas “medidas de ajuste” receitadas pelo seu sinistro
ministro da Fazenda e torcer para que essas medidas apresentem o quanto antes
“os resultados desejados”.
Mas que resultados desejados são estes? Ela não sabe muito bem, pois só
existe para obedecer, não para pensar. Joaquim “Drácula” Levi também não
pensa, mas foi adestrado para não ter nenhuma dúvida do que lhe ensinaram na
Universidade de Chicago: moeda controlada, preços estáveis, pagamento
garantido das dívidas públicas e, resultado final ansiosamente desejado, a
salvação da propriedade privada. Não são tarefas para qualquer um, mas para
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Nome dado aos economistas monetaristas (da Universidade de Chicago) enviados pelo Departamento
de Estado dos EUA logo depois do golpe com que derrubaram o governo Allende no Chile, em 2003,
para organizar a economia do ditador general Pinochet.
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uma nova combinação política que seja capaz de realizar com incomum
eficiência nova carnificina social no Brasil. Não rola mais a atual combinação do
simples colaboracionismo sindical com o livre mercado – do mesmo modo que
as antigas ditaduras militares dos anos 1960/1970 ou os neoliberais dos anos
1980/1990. As novas necessidades do capital exigem alguma coisa mais
destruidora e, claro, criativa. À luta de classes decidir se eles serão capazes desta
proeza.
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