ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I Versão Online 2009 O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 1 LEITURA DA LITERATURA: uma necessidade não só acadêmica, mas social. Maria Aparecida Vinch Feuser¹ Elmita Simonetti Pires² Resumo Este artigo descreve o Plano de Trabalho desenvolvido no 1º semestre de 2009, em cuja abordagem foram propostas metodologias dinâmicas que priorizam o leitor diante do texto sendo esse um dos objetivos desse artigo e esperando contribuir na elaboração de sentidos e de novos significados para o ensino de Literatura, mais especificamente da leitura literária, revendo concepções na formação desse aluno/leitor e que essa busca de novas metodologias atendam os horizontes de expectativas dos mesmos. Assim, propomos como embasamento teórico a Estética da Recepção de Jauss (Jauss, 1994), transformada em método pelas professoras Maria da Glória Bordini e Vera Teixeira de Aguiar (Bordini e Aguiar, 1993). Essa teoria e o método recepcional contemplados no projeto, acredita-se contribuem para a formação de leitores livres, críticos e sujeitos da própria leitura, percebendo-se parte da tríade obra/autor/leitor, havendo uma interação no trabalho da dimensão estética do texto nas aulas de Literatura, motivando-os a interagirem e oportunizando a esses alunos de EJA-EM, desvincularem-se da simples obrigatoriedade da tarefa de ler para avaliações e vestibulares. Pretendeu-se com esse método contribuir ainda, não só na ampliação vocabular, mas também na capacidade de observação, imaginação e comparação. Desse modo espera-se que esse artigo contribua para que se perceba a importância e a necessidade da busca de novos rumos e de motivação ao ato da leitura do texto literário. Foi o que se buscou na implementação da Unidade Didática e obteve-se como resultado alunos mais críticos e dispostos a buscar novas leituras após vivenciarem esse modo dinâmico de abordagem de textos. Resultados esses que após analisados foram descritos neste artigo. O médodo recepcional vem de encontro ao que Pennac (Pennac,1998) cita em seu ensaio sobre leitura: “...a leitura pelo simples prazer de ler.” Palavras-chave: Leitura, Literatura, Metodologia. ______ 1. Professora PDE, formada em Letras pela FAFIPA, docente da disciplina de Língua Portuguesa e Literatura - EF e M na EJA e no Ensino Regular, Paranavaí – PR. 2. Professora Mestra em Estudos Literários pela UEL – 2000, docente das disciplinas Teoria da Literatura e Literatura Infanto- Juvenil da UEPR – Campus FAFIPA, Paranavaí – PR. 2 Considerações Iniciais Nas últimas décadas tem se manifestado entre os estudiosos no ambiente escolar, certa preocupação no que diz respeito à formação de leitores especialmente da leitura literária. As discussões efetivas apontaram para a necessidade da referida leitura, na construção do conhecimento e do convívio em sociedade. Esse reconhecimento foi o que desencadeou ações para despertar e mobilizar avaliações sem camuflar resultados nas escolas, órgãos responsáveis, deixando transparecer a real necessidade de novas ações metodológicas para o exercício da leitura com compreensão, não só pela disciplina de Língua Portuguesa e Literatura, mas nas outras áreas do conhecimento, havendo assim um ganho para o aluno que ao ler textos e assuntos diversos espera-se que venha a se interessar por Literatura. A mais importante missão de um professor é instrumentalizar o seu educando para uma leitura prazerosa que permita que este não só decodifique mas interprete o que lê, e que esta interpretação interaja no meio em que convive, humanizando-o e conscientizando-o a ser um cidadão atuante e reflexivo nas mais diferentes situações cotidianas ou esporádicas. Com referência ao ensino da leitura literária é mais um desafio para o professor de Literatura e para os alunos lerem obras literárias com longas narrativas. É preciso estratégias diferenciadas para a compreensão que o mais importante na tríade: autor/obra/leitor, é este último, questionamentos que contribuíram para que Jauss (1994) elaborasse a teoria conhecida como Estética da Recepção que é uma teoria aliada à necessária criatividade do professor em incentivar a leitura e ficar claro qual o horizonte de expectativas, uma vez que o aluno leitor sempre investe uma certa expectativa nos textos que lêem e posteriormente transformadas em métodos pelas professoras Maria da Glória Bordini e Vera Teixeira Aguiar. As Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação Básica no Estado do Paraná (2008) mostram que, em algumas escolas e para alguns professores, o Ensino da Literatura é uma atividade que privilegia os estudos diacrônicos de autores, trabalha com textos fragmentados dos livros didáticos, 3 propõe leitura de resumos a partir da historiografia literária e biografia de autores (PARANÁ, 2008). Nessa mesma linha de pensamento Jauss, na década de sessenta, elaborou a teoria da Estética da Recepção e as professoras Maria da Glória Bordini e Vera Teixeira de Aguiar (1993), elaboraram o Método Recepcional e este é sugerido nas DCNs como encaminhamento metodológico para o trabalho da Literatura, procurando assim respeitar o papel do leitor, pois “Sem essa constante participação do leitor, não haveria obra literária” (Eagleton,1983). Para Iser (Iser, 1996) “A recepção no sentido restrito da palavra, diz respeito à assimilação documentada de textos, e através dela dar-se-á o efeito estético”. Daniel Pennac, em seu ensaio sobre leitura comenta que a espessura intransponível das páginas, a falta de diálogos do texto, a distância cronológica das personagens, dificulta o entendimento do que é lido. E ainda sobre esse tema ele afirma: “E se, em vez de exigir a leitura, o professor decidisse de repente partilhar sua própria felicidade de ler? Questões que pressupõem um bem conhecido cair em si mesmo, na verdade!” (Pennac, 1998, p.80). Ana Maria Machado (Machado, 2001, p.136) convencida de que o que induz à leitura é o exemplo, ela afirma que a leitura “Não é natural é cultural”. A Estética da Recepção é uma teoria que aliada à necessária criatividade do professor incentiva a leitura de maneira que o aluno se perceba parte importante dessa leitura da literatura. Em se tratando do perfil de alunos de EJA há um diferencial, pois compõem o quadro de estudantes com uma trajetória histórica diversificada: adolescentes, jovens, alunos com necessidades educacionais especiais, pessoas mais idosas, donas de casa, viajantes, trabalhadores ou não que também anseiam por trabalho, jovens com situação econômica estável ou carentes, ou privados de liberdade, acampados, vileiros rurais, e com bem afirma as Diretrizes Estaduais, “versão preliminar, 2005, p 34” de diferentes etnias, gerações, gêneros, crenças e de diferentes modo de trabalhar e de viver, de se organizar, de resolver problemas, de lutar, de ver o mundo e de resistir no campo. Isso torna o campo de atuação de EJA bastante heterogêneo e complexo. 4 Na nossa atuação em sala de aula com aluno de Ensino Médio, nessa modalidade de ensino, percebemos que há falta de contato com a leitura literária, uma vez que em EJA não há como no ensino regular, programas específicos para esse contingente de alunos. A além de toda a trajetória citada, ainda tem o agravante do distanciamento do espaço escolar, muitas vezes por décadas. Essa carência com a leitura determina outras - a não assimilação da norma lingüística impede o entendimento do texto; o desinteresse pela matéria escrita dificulta a continuidade do processo de leitura e, portanto, a aquisição do saber; a dificuldade na expressão oral impossibilita a expressão do lido, verbalização das próprias necessidades que comprometem a atuação do aluno dentro e fora da escola. Sabe-se que a leitura é para quem lê, um passaporte para a fantasia e o despertar de si mesmo, e o jovem leitor, bem mais que o adulto, é propenso a aceitar esses dois convites. Daniel Pennac (Pennac, 1998), em seu ensaio sobre leitura comenta que a espessura intransponível das páginas, a falta de diálogos do texto, a distância cronológica das personagens, dificulta o entendimento do que é lido. E ainda sobre esse tema ele afirma: “E se, em vez de exigir a leitura, o professor decidisse de repente partilhar sua própria felicidade de ler? Questões que pressupõem um bem conhecido cair em si mesmo, na verdade!” (Pennac, 1998, p. 80). De posse desses questionamentos, consideramos a necessidade de um trabalho com a leitura literária e sua urgência para reflexão das nossas práticas pedagógicas desenvolvidas em sala de aula. A implementação deste projeto teve o objetivo de adequar metodologias contribuindo para o ensino da leitura na modalidade de EJA, com aplicações práticas de abordagem interacional entre o leitor e o texto, obedecendo a níveis de recepção literária, em uma visão dialógica. E, mais especificamente, objetivando diagnosticar as bases atuais do ensino da leitura literária no contexto nacional e regional, para em seguida criar unidades de ensino da mesma de acordo com a metodologia proposta e sua aplicabilidade em EJA bem como contribuir para a superação de limites no ensino da leitura literária,promover um estreitamento entre o leitor e o texto literário sua 5 importância na vida social e cultural, priorizar o leitor como interador entre o autor e o texto e constituir no fundamento da exploração da leitura, a formação e o desenvolvimento da compreensão. Fundamentação Teórica e Metodológica No trabalho de pesquisa foi selecionado como suporte teórico a fundamentação voltada à Estética da Recepção Literária de Jauss e à Teoria do efeito de Iser que buscam significar não só o texto diante do leitor como priorização mesmo diante da autonomia da obra literária (Zilberman, 1988). Em “As sete teses” de Jauss (Bordini e Aguiar, 1993) desenvolvidas para estética da recepção literária, considera que é por meio de diversos níveis do conhecimento que se dá a construção do sentido de um texto e o mesmo trará prazer da identificação e do desafio enfrentados, pois requer um movimento cooperativo e consciente do leitor, levando-o a novas maneiras de comportamento social, numa reflexão anteriormente exposta. Daniel Pennac (Pennac, 1998) comenta que o que afasta um estudante da leitura de um livro não é só a televisão ou o mundo fascinante dos vídeos games. Do alto de sua experiência de professor, Pennac, professor e escritor francês, investiga as chaves para o mundo da leitura. No seu ensaio sobre leitura, Como um Romance, Pennac mostra que o elo se perde, normalmente quando o livro deixa de ser “vivo”- a narração ao pé da cama, na infância na hora de dormir, e passa a ser “ficha de leitura”, obrigatória para o bom cumprimento do programa escolar. A partir do momento que o livro é dever, tudo contribui para afastar o jovem da tarefa. Ana Maria Machado (Machado, 2001), cita que “leitura não é dever de ninguém, é um direito, isso sim, de todo cidadão, e por ele que temos que lutar, isso sim é dever”. A professora Elmita Simonetti Pires, comenta em um de seus artigos que: “A atividade de leitura e expressão desenvolvem a capacidade de observação, percepção e imaginação, aptidões consideradas fundamentais para que cada um descubra o mundo e a si próprio”. (PIRES, 2011). 6 Marisa Lajolo (Lajolo, 1994) afirma: “Ou o texto dá sentido ao mundo, ou ele não tem sentido nenhum. E o mesmo se pode dizer das nossas aulas”. Lajolo chama-nos a atenção para o fato de que discussões e propostas para o uso do texto literário em classe muitas vezes acabam por transformar-se em armadilhas para o professor que, fragilizado e buscando respostas imediatas para seus problemas concretos, acabam adotando “técnicas milagrosas” para o convívio com o texto, “técnicas milagrosas”, geralmente decididas por livros didáticos e paradidáticos que só estabelecem harmonia aparente, mantendo o desencontro entre leitor e texto. Regina Zilberman, no seu livro A leitura e o ensino da literatura, comenta: É na condição do país de terceiro mundo que o Brasil tem patrocinado programa de acesso ao livro, pretendendo dotar os leitores de obras que falem de seu mundo e na sua linguagem, com a finalidade se suplantar uma situação de atraso cultural. O exercício dessa função é delegado dessa escola, cuja competência precisa tornar-se mais abrangente, já que educação, introdução a leitura e ensino da literatura são tarefas da escola, e ainda local de formação do público leitor (ZILBERMAN 1991). Ao tratar do ensino da literatura, Ezequiel Theodoro da Silva afirma: A leitura pode ser tudo (ou pelo menos muito) ou pode ser nada, dependendo da forma como foi colocada em sala de aula. Tudo, se conseguir unir responsabilidade de conhecimento. Nada, se todas as suas promessas forem frustradas por pedagogias desencontradas (ZILBERMAN e SILVA, 1990:43). Carlos Erivany Fantinati, numa tradução livre e resumida das concepções de ensino literário do didata da leitura alemã Hans Kügler, nos apresenta tais concepções, caracterizando-as e fazendo considerações bastante esclarecedoras ( Kügler, S.d :7-10). Segundo Fantinati, Kügler concebe o ensino da literatura como processo de comunicação , em que a comunicação não estaria simplesmente 7 ligada á noção da mensagem do autor ( emissor ) por meio de um texto a um leitor ( receptor). Para Kügler, em se tratando do Ensino da Literatura, a essência da comunicação está no processo de interação entre o leitor e o texto, e essa interação se constitui no fundamento da exploração da leitura e do e desenvolvimento da compreensão. Kügler concebe uma proposta de ensino que prioriza a visão pessoal, a emoção do aluno, oportunizando a descoberta por si, consolidando o processo ensino - aprendizagem. Não mais a abordagem do texto literária que apresenta questões que exigem do leitor apenas a verificação automática, que giram em torno das personagens e suas características físicas e psicológicas, da ordenação correta dos fatos do texto e questões referentes ao vocabulário e à gramática. Não mais o texto encarado como pretexto para o ensino da língua ou, então, apenas como um momento de diversão e descontração, mas um estudo interativo que promove a participação consciente do aluno. A teoria baseada no aspecto recepcional representa umas das diversas que valorizou a participação do leitor: no ato da leitura o eu e o tu juntos vamos tratar do eles – as personagens. Esse posicionamento dá vez e voz ao leitor no ensino da leitura, não é um ato mecânico é um encontro de gente. Muitos outros discorrem a partir do referido enfoque: Romeu Ingarden com seu A obra de arte literária, de 1931, Roland Barthes, O prazer do texto, de 1937, Hans Robert Jauss com a História da literatura como desafio à teoria literária, 1967, Umberto Eco com a Leitura do texto literário, de 1979, ‘Wolfang Iser com O ato da leitura: uma teoria do efeito estético de 1976, Stanley Fish com Is there text in this class? 1980, Robert Escarpit com seu Sociologia da literatura de 1958 e, mais atualmente, trabalhos como A ordem dos livros, de 1992, seu Sociologia da literatura, de 1958, e outros estudos produzidos por Roger Chartier. A comunhão do foco do estudo da Literatura desses autores ganhou o status de vertentes da história da recepção, instaura entre o leitor e texto o processo de comunicação, pois a obra só tem razão de ser quando é lida, e é estabelecido pelo leitor relação com outros textos literários que já tenha lido, com observação nas suas particularidades. 8 O estudo da Literatura desse modo transforma-se em um pacto entre o professor e o aluno em que ambos dividem responsabilidades e méritos, há um comprometimento e instigação à ação e afirmação como sujeito participante à medida que a dinâmica do processo literário provoca prazer. Sobre a estética da recepção, Bordini e Aguiar afirmam: As atividades vão ao encontro da criança e do jovem que tem no jogo o exercício simbólico das práticas sociais e dos elementos humanos suscitados a partir do texto , estas atividades são expedientes importantes na formação e na continuidade do gosto pela leitura, Quebrando o sentido de obrigatoriedade a leitura perde o ranço de disciplina escolar, para se converter em ato espontâneo e estimulante, desencadeador de momentos aprazíveis (Bordini e Aguiar, 1993). Ao discorrerem sobre o Método Recepcional, Bordini e Aguiar citam que o referido método é estranho à escola brasileira, em que há o relativismo de interpretação,e portanto, que a leitura literária não é tópico de consideração no âmbito acadêmico sendo discutida como sistema de sentido fechado e definitivo e que a preocupação a participação ativa do leitor fica em segundo plano. Ao tratar da questão da fruição no ato da leitura, Barthes faz a seguinte consideração: Escrever no prazer me assegura-a mim, escritor – o prazer de meu leitor? De modo algum. Esse leitor, é mister que eu o procure ( que eu o “drague”), sem saber onde ele está. Um espaço de fruição fica então criado. Não é a “pessoa” do outro que me é necessária, é o espaço: a possibilidade de uma dialética do desejo, de uma imprevisão do desfrute: que os dados não estejam lançados, que haja um jogo (Barthes, 1977, p.9). No ato de produção recepção o texto torna-se campo em que dois horizontes podem identificar-se ou estranhar-se, essa atitude receptiva se inicia com a aproximação entre texto e leitor que precisa também adotar uma postura de disponibilidade. Bordini e Aguiar reforçam: 9 Quanto mais leituras o indivíduo acumula, maior a propensão para a modificação de seus horizontes, porque a excessiva confirmação de suas expectativas produz monotonia, que a obra “difícil” pode quebrar.A ênfase na atitude receptiva emancipadora promove a continua reformulação das exigências do leitor quanto a leitura bem como quanto aos valores que orientam sua experiência do mundo. Assim sendo, a atividade de leitura fundada nos pressupostos teóricos da estética de recepção deve enfatizar a chamada “obra difícil”, uma vez que nela reside o poder de transformação de esquemas ideológicos passíveis de crítica (Bordini e Aguiar, 1193, p. 85). O Método Recepcional propicia inovações para o cotidiano, inovação esta que se preocupa efetivamente com o aluno leitor, seus conhecimentos prévios e constatação de seus horizontes de expectativas. No entanto, para percorrer esse percurso, foram pensados pelas autoras mais três etapas, culminando em cinco e complementando as duas anteriores. 1 . Determinação do horizonte de expectativas. 2 . Atendimento do horizonte de expectativas. 3 . Ruptura do horizonte de expectativas. 4 . Questionamento do horizonte de expectativas. 5 . Ampliação do horizonte de expectativas. Determinação do horizonte de expectativas: Nessa primeira etapa, o professor através de conversas informais, observação de comportamentos em sala de aula, bibliotecas, entrevista, questionário e outros encaminhamentos, determina quais os horizontes de expectativas desses alunos/leitores. Detectado isso, deve-se oferecer textos que correspondam ao esperado por eles, que atendam suas expectativas. Atendimento do horizonte de expectativas: Nessa segunda etapa, inicia-se a organização de estratégias de ensino que sejam do conhecimento dos alunos, para gradativamente acrescentar novos elementos às atividades desenvolvidas, propondo textos cujos temas sejam procurados na própria literatura ou em quadrinhos, tiras, charges, cartoons, folders, ou ainda em outros meios de expressão das mídias televisivas, radio difusoras e esta última parece que mais se aproxima da população em geral. Ruptura do horizonte de expectativas: 10 Aqui se dá a participação ativa e criativa daquele que lê, sem sufocarse à autonomia da obra. De uma maneira equilibrada, o professor continua abordando a temática com estratégias de trabalho com a forma textual, linguagem, gênero, de maneira que apresentem maiores exigências aos alunos para terem mais autonomia e perceberem que estão ingressando em um campo divergente de suas certezas anteriores, sem contudo sentirem-se inseguros ou rejeitem essa nova experiência, sentindo-se motivados a darem continuidade a esse processo de recepção. Questionamento do horizonte de expectativas: Partindo do interesse demonstrado, é organizado um momento para as devidas análises, que pode ser individual ou em duplas, para posterior seminário, apresentação para a turma através da própria leitura com entonação e ou dramatização, criando assim um clima descontraído, emocional, de maneira suscitar o prazer necessário ao atendimento do interesse manifestado. Nesta etapa os alunos/leitores deverão ser capazes de refletir sobre o trabalho desenvolvido nas duas etapas anteriores, comparando essas duas etapas com a finalidade de julgar qual delas exigiu mais atenção, qual delas apresentou maior grau de dificuldade e qual lhes proporcionou maior satisfação. O ideal é que se organize esta reflexão e comparação através de discussões e debates. Ampliação do horizonte de expectativas: Nessa última etapa do processo será percebido que as leituras feitas já não são mais meras exigências acadêmicas, mas estão intrínsicamente ligadas ao cotidiano, numa nova visão de mundo, tomando consciência das alterações e aquisições através da experiência literária. Percebem que sua capacidade de decifrar o que não é de seu conhecimento ampliou-se de maneira que a intervenção do professor é a de oportunizar condições para que avaliem o que foi alcançado e o que resta fazer. Partem em busca de novos textos de maneira que atinjam suas expectativas e estas evoluam em espiral permitindo aos alunos uma postura mais consciente com relação à literatura e à vida. 11 Intervenção pedagógica na escola A Metodologia de Ensino da Literatura, do Projeto de Intervenção na Escola, como já foi citado anteriormente, foi baseada no Método Recepcional de Bordini e Aguiar, embasado na teoria da Estética da Recepção de Jauss, com o tema: Humor. Tema esse escolhido por já conhecer o perfil e praticamente confirmar e determinar os horizontes de expectativas desse alunos/leitores, com os quais já trabalho há 17 anos, fato que facilita o conhecimento das necessidades e interesses da turma onde seria desenvolvido o projeto. A unidade didática teve a pretensão de mostrar uma proposta de leitura da Lteratura que concebe o seu ensino como um processo de interação entre o leitor e o texto, fundamentando esse na exploração da leitura literária, formação e desenvolvimento da compreensão. Esse método enfatiza a leitura receptiva emancipatória, promovendo a contínua reformulação das exigências do leitor no que se refere à Literatura e aos valores que orientam suas experiências de mundo. O planejamento de unidades didáticas através desse método previu etapas a serem desenvolvidas pelo professor, conjuntamente com os alunos: a determinação, o atendimento, a ruptura e o questionamento do horizonte de expectativas, e para finalizar, a ampliação desse horizonte. O tema Humor foi escolhido por já conhecer o perfil e praticamente confirmar e determinar os horizontes de expectativas desse alunos/leitores, com os quais já trabalho há anos e em momentos de leitura notar que se interessam por crônicas ou textos que trazem momentos de descontração e por enfrentarem uma terceira jornada diária acreditei que assim seria uma abordagem mais leve. Num primeiro momento fui apresentada pela professora da sala de aula aos alunos e em seguida retirou-se. Fiz um breve relato do que era o projeto e sobre o que trabalharíamos e em seguida iniciei escrevendo no quadro de giz a frase de Millôr Fernandes, citada na obra de Fanny Abramovich (Abramovich, 1989): “O homem é o único animal que ri. E é rindo é que mostra o animal que é”. 12 Expliquei qual era o tema e o porquê dessa escolha, acreditando que por se tratar de alunos trabalhadores e por estarem numa terceira jornada diária e ao tratarmos da leitura literária seria uma forma mais leve e descontraída e até como parte da aplicação da metodologia escolhida, a Estética da Recepção. Na sequência lemos um pequeno texto de Fanny Abramovich em que relata sua visão do que é o humor em se tratando de literatura e que é não apenas uma jocosidade. Também cita Millôr Fernandes no tocante à seriedade do humor e faz as seguintes considerações: Humor - na literatura e na vida – não é contar piada, fazer graçolas ou um comentário boboca e, óbvio, muito menos ser explícito...Também não é ficar rindo de bobeira pura. É mais, como disse nosso maior filósofo, o grande pensador e cutucador de cabeças brasileiras, Millôr Fernandes: “Como em todo meu humor não procurei fazer gracinhas, adotei apenas, acho!, uma forma completamente desinibida e descondicionada de ver as coisas”.E os autores que conseguem esse tipo de visão são os que levam a novas formas de perceber velhas coisas, sem preconceitos, sem estereótipos, sem repetir o já sabido, e que, por isso, espantam... E nada como uma boa sacudidela criativa e cutucativa pra fazer sorrir, pensar, rir, perguntar, parar por um momento e se dar conta de que o caminho poderia ter sido outro... ou que sempre há tempo de rever posições, idéias, gentes ou o que seja, e encontrar outro jeito ( talvez mais saboroso, mais inquieto, talvez menos apaziguado, mais contundente, talvez mais anárquico e bem menos bemcomportado, e sobretudo mais vital) de andar e olhar esse mundo... E sorrindo!!! ( Abramovich, 1989). Fiz alguns comentários sobre o texto, no início apenas ouviram. No Atendimento dos horizontes de Expectativas passamos à leitura do texto, Por que rimos?, de Silvia Helena Cardoso. A leitura foi feita de forma individual e silenciosa, logo após, compartilhada. Cada aluno leu um parágrafo. Retomei a leitura e fiz alguns questionamentos e assim foram se soltando e participando com comentários tais como: Realmente nunca paramos para pensar sobre a importância do riso, do humor em nossa vida cotidiana; Não nos damos conta de seus benefícios; É verdade, sempre que vamos enfrentar uma nova situação ficamos tensos, mas basta alguém nos dar um sorriso que já nos sentimos melhor, mais confiantes; Já vi na TV e aqui em 13 Paranavaí também tem, pessoas que vão aos hospitais vestidos de palhaços para alegrar os pacientes, não importa a idade e o médicos dizem que o tratamento dá melhor resultado; Tem um ditado que diz: “Quem canta, os males espanta”. E se rimos, sorrimos ou até damos gargalhada, certamente espantamos os males, medos, tristezas, saudade; Ninguém se sente bem, perto de uma pessoa emburrada. Aqui se dá a participação ativa e criativa daquele que lê. Sentem mais autonomia e percebem que estão ingressando em um campo divergente de suas certezas anteriores. Das informações apresentadas no texto, os alunos responderam na oralidade às perguntas: Por que rimos? O que mais chamou a sua atenção? Por quê? O texto afirma que o riso “desarma” as pessoas e facilita os relacionamentos. Você tem uma história para partilhar com a turma que comprove essa afirmação? No texto, o trecho: “ Pois pesquisas mostram que crianças ...divertir”. Você já tinha conhecimento desse fato? Você conhece alguma anedota? Gostaria de contá-la à turma? Você já leu outro tipo de texto que tenha lhe provocado algumas gargalhadas ou pelo menos um sorriso? Muitos programas de televisão exploram o humor. Você assiste a alguns deles? Como avalia a qualidade dos textos usados nesses programas? Você considera que seja fácil ou difícil provocar riso? Foram distribuídos materiais imagéticos, xerocados e plastificados, cujos temas foram procurados na própria Literatura, em quadrinhos, tiras, charges, cartuns de assuntos diversos tais como: política, dengue, violência, saúde e que apesar das imagens hilárias, grotescas tratavam de situações sociais relevantes e aqui se identificaram como cidadãos, participando e dando sua contribuição crítica como leitora. E como disse o escritor Rubem Alves: “Rindo podemos dizer coisas sérias.” Encerrados os comentários assistimos ao filme: Patch Adams, o amor é contagioso, baseado em uma história verídica e tendo como ator principal, Robin Willians no papel de um médico que acreditava na terapia do humor aliada ao tratamento convencional e sempre era impedido de agir assim. E certa vez pego de surpresa fazendo “graças” para um menino, paciente com câncer e seu pai que o visitava, foi interpelado por seu supervisor que perguntou? “O que pensa que está fazendo?” e respondeu: “ Fazendo os 14 pacientes rirem, agindo assim eu os tiro do estado de letargia, desânimo, contribuindo assim para uma significativa melhora concomitantemente ao tratamento com medicamentos que tinham muitos efeitos colaterais, assim ficam mais resistentes e com vontade de viver, uma vez que o riso melhora a pressão.”E retirou-se. Essa cena foi de impacto entre outras e comprovava o que disse acima e afirmava o que dizia o texto lido. Seguiram-se então novos questionamentos orais sobre o recorte do filme: Já havia assistido ao filme? Que emoção lhe causou ou constatação lhe provocou? Você acredita na terapia do riso, no bom humor e no sorriso como requisito para ser admitido e até para o sucesso de uma empresa? No segundo encontro assistimos ao filme, Narradores de Javé, num ambiente próprio, com telão e como não podia faltar, pipoca. A obra cinematográfica trata sobre uma pequena cidade, Javé, de um povo simples e que o único habitante que sabia ler e escrever era um funcionário do Correio que escrevia e mandada a cada habitante uma carta com assuntos particulares e sempre com um cunho fofoqueiro e o maior objetivo dele era de não perder o emprego, uma vez que ele próprio as escrevia e as lia para os destinatários e escrevia as respostas para os remetentes, ou seja, tudo fictício e engodo. Quando descoberto foi sumariamente expulso dessa cidade e quando viram que precisavam dele para fazer um documento para ser enviado à empresa que estava construindo a barragem que inundaria a pequena Javé, foram buscá-lo e no início amedrontado, recusou-se até que foi “convencido” a retornar. Foi um momento bem descontraído pelas cenas hilárias embora se tratasse de um assunto muito sério. Terminado o filme, nos reunimos em círculo para os comentários que foram fluindo espontaneamente, primeiramente sobre o personagem principal e o seu importante papel na trama, pois era o único, entre os adultos, que sabia ler e escrever e a importância da leitura e da escrita e como a falta de uma delas ou ambas implicou em uma série de decisões a serem tomadas por um povo e em momentos tão cruciais. Foram direcionados os questionamentos, na oralidade: O que mais lhes chamou a atenção? Que cena ou cenas os surpreenderam; O que acharam do 15 vocabulário usado pelos personagens? Qual foi o foco principal? Em que o analfabetismo prejudicou ou até incentivou nas tomadas de decisões de uma comunidade? Como perceberam o humor nas reuniões feitas pelos personagens? Na Ruptura dos Horizontes de Expectativas, foram convidados alunos de outras salas de aula para participarem e ouvirem a leitura um cordel que apresentava o próprio cordel, de César Obeid e relataram terem ouvido falar sobre o cordel, mas não tinham conhecimento de como surgiu, como era composto e a xilogravura que os ilustrava. Foi feito um convite a um entalhador, que tem uma empresa que aceitou prontamente e também fez um entalhe da capa do cordel “Proezas de João Grilo”. A presença do entalhador, Lourival Pereira da Silva, foi bastante significativa, pois ele próprio desconhecia que também era um xilogravador e ao ser convidado para esse momento aceitou prontamente, levando a ferramenta principal que é um tipo de formão em V, buril, e explicou que segue o veio da madeira para entalhar, geralmente são madeiras macias de fácil manuseio. Levou também algumas peças entalhadas e uma que estava sendo entalhada, um gaúcho, encomendada para servir como molde para a fundição de um troféu para uma associação: CTG, Centro de Tradição Gaúcha. Contou também que fez já havia feito o molde do busto de Camões que encontra-se na Praça Luzitânia de Paranavaí, como homenagem ao pioneiros portugueses de nossa cidade. Em seguida foi lido, João Grilo, do poeta cordelista João Martins de Athayde, ( 1981), procurando dar entonação e ritmo que lhe são peculiares e até sotaque, por se tratar de um cordel nordestino onde se difundiu com mais ênfase esse tipo de literatura popular. Percebeu-se interesse e atenção não só por parte dos alunos que participavam da implementação, mas também dos convidados a participarem desse momento, comprovando-se que diferentes estratégias de leitura, nesse caso o ambiente, preparação e algo novo faz com que se interessem. Nesse dia também estavam presentes alunos surdos e a professora intérprete. Terminando essa apresentação, todos os convidados se retiraram. 16 Ao produzirem o próprio cordel apresentaram um pouco de dificuldades com os versos rimados, mas se propuzeram a produzir, ilustraram e foram expostos em um mural no pátio da escola. Partindo do interesse demonstrado, foi organizado um momento para as devidas análises, individual e em duplas, para posterior seminário, apresentação para a turma através da própria leitura com entonação e ou dramatização, criando assim um clima descontraído, emocional, de maneira a suscitar o prazer necessário ao atendimento do interesse manifestado. No Questionamento dos Horizontes de Expectativas foi organizado um círculo para discutirem a reflexão feita sobre o trabalho desenvolvido nas etapas anteriores, comparando essas duas etapas com a finalidade de julgar qual delas exigiu mais atenção, qual delas apresentou maior grau de dificuldade e qual lhes proporcionou maior satisfação. O ideal é que se organize esta reflexão e comparação através de discussões e debates. Na última etapa, a da Ampliação dos Horizontes de Expectativas, os alunos foram instrumentalizados sobre o gênero conto e suas especificidades. São especificidades do conto: o narrador, ou seja, o contador da história que poderá narrar em 1ª ou 3ª pessoa, o assunto abordado, tema, em que espaço físico aconteceu a história, o tempo (minutos, horas, dias...), personagens e suas características físicas e psicológicas. Há também os componentes da ação da narrativa. O sujeito, qualquer ação tem que ter um sujeito; o objeto que é o elemento sonhado ou desejado pelo sujeito, e é o que determina a ação do sujeito; o adjuvante que auxilia o sujeito na consecução de seu objeto; um oponente que cria obstáculos ao sujeito para esta consecução, o destinador que é quem provoca a ação e o destinatário que se beneficia com a ação. Para a compreensão desses componentes da narrativa foi dado como exemplo uma passagem bíblica de um profeta do Antigo Testamento: Jonas (sujeito); sua salvação e do povo Hebreu (objeto, carência); Deus (destinador da ação, da carência de Jonas); um Anjo (adjuvante); o exército inimigo (oponente); o povo Hebreu e o próprio Jonas (destinatário). Foram distribuídas para os grupos, cópias xerocadas e individuais, do conto, “Quanta besteira que o mundo tem”, de Ricardo Azevedo (Azevedo, 2009), do seu livro, Histórias de bobos, bocós, burraldos e trapalhões. 17 Fizeram leitura silenciosa e depois acompanharam a leitura da professora, posteriormente, na oralidade, oportunizou-se as impressões da leitura dos alunos. Utilizando-se da tabela foram questionados sobre os componentes da ação da narrativa, por escrito e em duplas. De posse da instrumentalização anterior, novos contos, do mesmo autor, foram distribuídos, para em grupos serem lidos, ensaiados e apresentados de forma dramática para os colegas de sala e professora. Os textos selecionados foram: Pega-trouxa-de-papo-furado; O casamento de Mané Bocó; Façanhas do Zé Burraldo; Chico Zoeira; João Bobão e a princesa chifruda;Dois cegos briguentos e Entrevista a um papagaio. Nessa última etapa espera-se que percebam que as leituras feitas já não são mais meras exigências acadêmicas, mas estão intrínsicamente ligadas ao cotidiano, numa nova visão de mundo, tomando consciência das alterações e aquisições através da experiência literária. Percebam que sua capacidade de decifrar o que não é de seu conhecimento ampliou-se de maneira que a intervenção do professor é a de oportunizar condições para que avaliem o que foi alcançado e o que resta fazer. Espera-se, então, que estejam motivados e partam em busca de novos textos, de maneira que ampliem suas expectativas e estas evoluam em espiral permitindo aos alunos uma postura mais consciente com relação à literatura e à vida. Acreditamos que essa proposta de alternativa metodológica de Bordini e Aguiar, venha a dar um novo sentido e significado às aulas de Literatura, já que este método se preocupa diretamente com os alunos/leitores. Rir desopila o fígado, o sorriso movimenta de maneira benéfica os músculos da face, essas são entre muitas as afirmações de positividade sobre o riso. Se nos aprofundássemos sobre esse assunto cientificamente nos surpreenderíamos quanto aos benefícios que traz, principalmente, uma boa gargalhada. Então, por que não adotar o humor como uma das estratégias aliada à metodologia para o ensino da leitura literária? O escritor Rubem Alves disse em uma de suas palestras que “...rindo podemos dizer coisas sérias...” o que também concorda Carlos Erivany Fantinati, em “A seriedade do cômico”, tema de seu artigo que trata do cômico como importante modalidade textual na escola, embora não muito aceita ou 18 entendida pelos pais e até pelos próprios educadores. Fantinati (Fantinati, 2004) comenta que: “Centrado no conflito e na contradição, o cômico possibilita ao aluno o reconhecimento de discrepâncias, facilitando o acesso aos textos literários, que se utilizam do efeito de estranhamento”. Considerações Finais Esse artigo é, basicamente, o relato, a descrição do que foi desenvolvido no projeto PDE. Como o objetivo desse projeto foi o de uma tentativa na busca de novos caminhos para o ensino literário na escola, nessas considerações finais, não faremos conclusões definitivas sobre o assunto, mesmo porque não as temos. No entanto, partindo não só do resultado e análise das condições e problemas que envolvem o ensino da literatura na escola, através das leituras de teóricos e críticos, dos resultados, foi possível chegar a algumas conclusões que além de esclarecer dúvidas e responder alguns questionamentos, ainda nos sugeriram caminhos que podem resultar num fazer pedagógico mais eficiente no que se refere ao ensino da literatura em sala de aula. Entendemos que manter a realidade desse ensino de literatura descontextualizada, deixa tanto os professores como os alunos insatisfeitos, e ainda, sem utilidade e conhecimento literário. O Método Recepcional, elaborado por Bordini e Aguiar orienta um trabalho por tópicos que dão direcionamento ao ensino da literatura em sala de aula. Iniciando com a determinação dos horizontes de expectativas do aluno/leitor, que numa análise escolhe o tema a ser trabalhado baseando-se no conhecimento prévio desses alunos. Durante a implementação da unidade de ensino com os alunos, no primeiro contato foi ofertada uma literatura imagética utilizando os seguintes materiais didáticos: tiras, cartuns, charges, para o atendimento do horizonte de expectativas. Na seqüencia foi feita leitura de textos sobre o tema humor, de autores que falam não só da sua importância literária mas mostram que também é inerente ao ser humano e colabora não 19 apenas como algo divertido, mas como uma necessidade social que promove a empatia beneficiando a saúde. Esse método faz com que o aluno perceba que não se trata apenas da literatura, mas de uma verdade para a vida. Se no início os alunos apresentam resistência, aqui se sentem parte dessa literatura e já começam os questionamentos e a sensibilidade crítica e o professor tem aqui a assertiva da escolha do tema. Na ruptura do horizonte de expectativas foram lidos contos em que o humor se fazia presente de uma maneira séria, como citou Fantinatti em seu artigo “A seriedade do cômico”, corroborado por Rubem Braga em uma de suas palestras “... e rindo podemos dizer coisas sérias...”. Na ampliação do horizonte de expectativas os alunos foram instrumentalizados para a análise do método vivenciado, o que possibilitou uma auto-análise, percebendo, esses alunos, que no início das atividades apresentaram algumas dificuldades de interpretação e na produção escrita, mas perceberam uma significativa mudança sentindo-se mais encorajados por não ser algo longe de seus conhecimentos, entendimento e certamente partirão para a ampliação de seus conhecimentos, motivando-os a ler mais amiúde, quer seja no ambiente escolar, de trabalho ou em outras situações em que esteja à mão a literatura em diferentes suportes. Refletindo sobre a implementação fica clara a importância da leitura e principalmente a de oportunizar ao aluno/leitor a efetiva leitura de diferentes gêneros textuais fazendo com que perceba que esta experimentação lhes acrescenta um novo significado ao mundo em que vive, talvez essa percepção não seja imediata, mas ao longo de suas vivências seja na caminhada acadêmica ou pessoal. E que esse conhecimento que parecia não ter ligação com a vida real, como sempre questionam, de repente os surpreenda como um exemplo atual de uma novela que está abordando o Cordel e na vinheta aparecem as xilogravuras, ilustrações do Cordel, literatura popular, assunto que viram por ocasião da implementação, e aí sintam-se inseridos no contexto, pois tiveram um prévio conhecimento sobre o assunto. E tratando-se dessa literatura não muito difundida em nossa região venham perceber também que o humor se faz presente bem como a intertextualidade com a literatura dos contos clássicos de reis, príncipes e princesas. E assim, que esses novos 20 caminhos para o ensino literário, estimulem a leitura, não se restringindo ao escrito, mas seja qual for a modalidade e compreensão dessas múltiplas linguagens. Espera-se que o prazer pela leitura possa tornar-se natural sem obrigatoriedade ou imposição. O objetivo desse trabalho também é auxiliar na conscientização do professor sobre o papel de formador de leitores e oferecer além das sugestões. reflexão sobre a prática pedagógica. Assim, acreditamos que novos caminhos podem ser descobertos e numa evolução espiral, possam permitir uma nova postura com relação à literatura e à vida. Referências Bibliográficas ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil. Gostosuras e bobices. Série: Pensamento e ação no magistério. São Paulo, 1989. 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