volume i - SEED - Estado do Paraná

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ISBN 978-85-8015-054-4
Cadernos PDE
VOLUME I
Versão Online
2009
O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS
DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
1
LEITURA DA LITERATURA: uma necessidade não só acadêmica, mas
social.
Maria Aparecida Vinch Feuser¹
Elmita Simonetti Pires²
Resumo
Este artigo descreve o Plano de Trabalho desenvolvido no 1º semestre de
2009, em cuja abordagem foram propostas metodologias dinâmicas que
priorizam o leitor diante do texto sendo esse um dos objetivos desse artigo e
esperando contribuir na elaboração de sentidos e de novos significados para o
ensino de Literatura, mais especificamente da leitura literária, revendo
concepções na formação desse aluno/leitor e que essa busca de novas
metodologias atendam os horizontes de expectativas dos mesmos. Assim,
propomos como embasamento teórico a Estética da Recepção de Jauss
(Jauss, 1994), transformada em método pelas professoras Maria da Glória
Bordini e Vera Teixeira de Aguiar (Bordini e Aguiar, 1993). Essa teoria e o
método recepcional contemplados no projeto, acredita-se contribuem para a
formação de leitores livres, críticos e sujeitos da própria leitura, percebendo-se
parte da tríade obra/autor/leitor, havendo uma interação no trabalho da
dimensão estética do texto nas aulas de Literatura, motivando-os a interagirem
e oportunizando a esses alunos de EJA-EM, desvincularem-se da simples
obrigatoriedade da tarefa de ler para avaliações e vestibulares. Pretendeu-se
com esse método contribuir ainda, não só na ampliação vocabular, mas
também na capacidade de observação, imaginação e comparação. Desse
modo espera-se que esse artigo contribua para que se perceba a importância e
a necessidade da busca de novos rumos e de motivação ao ato da leitura do
texto literário. Foi o que se buscou na implementação da Unidade Didática e
obteve-se como resultado alunos mais críticos e dispostos a buscar novas
leituras após vivenciarem esse modo dinâmico de abordagem de textos.
Resultados esses que após analisados foram descritos neste artigo. O médodo
recepcional vem de encontro ao que Pennac (Pennac,1998) cita em seu ensaio
sobre leitura: “...a leitura pelo simples prazer de ler.”
Palavras-chave: Leitura, Literatura, Metodologia.
______
1.
Professora PDE, formada em Letras pela FAFIPA, docente da disciplina de Língua
Portuguesa e Literatura - EF e M na EJA e no Ensino Regular, Paranavaí – PR.
2.
Professora Mestra em Estudos Literários pela UEL – 2000, docente das disciplinas Teoria da
Literatura e Literatura Infanto- Juvenil da UEPR – Campus FAFIPA, Paranavaí – PR.
2
Considerações Iniciais
Nas últimas décadas tem se manifestado entre os estudiosos no
ambiente escolar, certa preocupação no que diz respeito à formação de leitores
especialmente da leitura literária. As discussões efetivas apontaram para a
necessidade da referida leitura, na construção do conhecimento e do convívio
em sociedade. Esse reconhecimento foi o que desencadeou ações para
despertar e mobilizar avaliações sem camuflar resultados nas escolas, órgãos
responsáveis, deixando transparecer a real necessidade de novas ações
metodológicas para o exercício da leitura com compreensão, não só pela
disciplina de Língua Portuguesa e Literatura, mas nas outras áreas do
conhecimento, havendo assim um ganho para o aluno que ao ler textos e
assuntos diversos espera-se que venha a se interessar por Literatura.
A mais importante missão de um professor é instrumentalizar o seu
educando para uma leitura prazerosa que permita que este não só decodifique
mas interprete o que lê, e que esta interpretação interaja no meio em que
convive, humanizando-o e conscientizando-o a ser um cidadão atuante e
reflexivo nas mais diferentes situações cotidianas ou esporádicas.
Com referência ao ensino da leitura literária é mais um desafio para o
professor de Literatura e para os alunos lerem obras literárias com longas
narrativas. É preciso estratégias diferenciadas para a compreensão que o mais
importante na tríade: autor/obra/leitor, é este último, questionamentos que
contribuíram para que Jauss (1994) elaborasse a teoria conhecida como
Estética da Recepção que é uma teoria aliada à necessária criatividade do
professor em incentivar a leitura e ficar claro qual o horizonte de expectativas,
uma vez que o aluno leitor sempre investe uma certa expectativa nos textos
que lêem e posteriormente transformadas em métodos pelas professoras Maria
da Glória Bordini e Vera Teixeira Aguiar.
As Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação Básica no
Estado do Paraná (2008) mostram que, em algumas escolas e para alguns
professores, o Ensino da Literatura é uma atividade que privilegia os estudos
diacrônicos de autores, trabalha com textos fragmentados dos livros didáticos,
3
propõe leitura de resumos a partir da historiografia literária e biografia de
autores (PARANÁ, 2008).
Nessa mesma linha de pensamento Jauss, na década de sessenta,
elaborou a teoria da Estética da Recepção e as professoras Maria da Glória
Bordini e Vera Teixeira de Aguiar (1993), elaboraram o Método Recepcional e
este é sugerido nas DCNs como encaminhamento metodológico para o
trabalho da Literatura, procurando assim respeitar o papel do leitor, pois “Sem
essa
constante
participação
do
leitor,
não
haveria
obra
literária”
(Eagleton,1983).
Para Iser (Iser, 1996) “A recepção no sentido restrito da palavra, diz
respeito à assimilação documentada de textos, e através dela dar-se-á o efeito
estético”.
Daniel Pennac, em seu ensaio sobre leitura comenta que a espessura
intransponível das páginas, a falta de diálogos do texto, a distância cronológica
das personagens, dificulta o entendimento do que é lido. E ainda sobre esse
tema ele afirma: “E se, em vez de exigir a leitura, o professor decidisse de
repente partilhar sua própria felicidade de ler? Questões que pressupõem um
bem conhecido cair em si mesmo, na verdade!” (Pennac, 1998, p.80).
Ana Maria Machado (Machado, 2001, p.136) convencida de que o que
induz à leitura é o exemplo, ela afirma que a leitura “Não é natural é cultural”.
A Estética da Recepção
é uma teoria que aliada à necessária
criatividade do professor incentiva a leitura de maneira que o aluno se perceba
parte importante dessa leitura da literatura.
Em se tratando do perfil de alunos de EJA há um diferencial, pois
compõem o quadro de estudantes com uma trajetória histórica diversificada:
adolescentes, jovens, alunos com necessidades educacionais especiais,
pessoas mais idosas, donas de casa, viajantes, trabalhadores ou não que
também anseiam por trabalho, jovens com situação econômica estável ou
carentes, ou privados de liberdade, acampados, vileiros rurais, e com bem
afirma as Diretrizes Estaduais, “versão preliminar, 2005, p 34” de diferentes
etnias, gerações, gêneros, crenças e de diferentes modo de trabalhar e de
viver, de se organizar, de resolver problemas, de lutar, de ver o mundo e de
resistir no campo. Isso torna o campo de atuação de EJA bastante heterogêneo
e complexo.
4
Na nossa atuação em sala de aula com aluno de Ensino Médio, nessa
modalidade de ensino, percebemos que há falta de contato com a leitura
literária, uma vez que em EJA não há como no ensino regular, programas
específicos para esse contingente de alunos. A além de toda a trajetória citada,
ainda tem o agravante do distanciamento do espaço escolar, muitas vezes por
décadas.
Essa carência com a leitura determina outras - a não assimilação da
norma lingüística impede o entendimento do texto; o desinteresse pela matéria
escrita dificulta a continuidade do processo de leitura e, portanto, a aquisição
do saber; a dificuldade na expressão oral impossibilita a expressão do lido,
verbalização das próprias necessidades que comprometem a atuação do aluno
dentro e fora da escola.
Sabe-se que a leitura é para quem lê, um passaporte para a fantasia e
o despertar de si mesmo, e o jovem leitor, bem mais que o adulto, é propenso a
aceitar esses dois convites.
Daniel Pennac (Pennac, 1998), em seu ensaio sobre leitura comenta
que a espessura intransponível das páginas, a falta de diálogos do texto, a
distância cronológica das personagens, dificulta o entendimento do que é lido.
E ainda sobre esse tema ele afirma: “E se, em vez de exigir a leitura, o
professor decidisse de repente partilhar sua própria felicidade de ler? Questões
que pressupõem um bem conhecido cair em si mesmo, na verdade!” (Pennac,
1998, p. 80).
De posse desses questionamentos, consideramos a necessidade de
um trabalho com a leitura literária e sua urgência para reflexão das nossas
práticas pedagógicas desenvolvidas em sala de aula.
A
implementação
deste
projeto
teve
o
objetivo
de
adequar
metodologias contribuindo para o ensino da leitura na modalidade de EJA, com
aplicações práticas de abordagem interacional entre o leitor e o texto,
obedecendo a níveis de recepção literária, em uma visão dialógica. E, mais
especificamente, objetivando diagnosticar as bases atuais do ensino da leitura
literária no contexto nacional e regional, para em seguida criar unidades de
ensino da mesma de acordo com a metodologia proposta e sua aplicabilidade
em EJA bem como contribuir para a superação de limites no ensino da leitura
literária,promover um estreitamento entre o leitor e o texto literário sua
5
importância na vida social e cultural, priorizar o leitor como interador entre o
autor e o texto e constituir no fundamento da exploração da leitura, a formação
e o desenvolvimento da compreensão.
Fundamentação Teórica e Metodológica
No trabalho de pesquisa foi selecionado como suporte teórico a
fundamentação voltada à Estética da Recepção Literária de Jauss e à Teoria
do efeito de Iser que buscam significar não só o texto diante do leitor como
priorização mesmo diante da autonomia da obra literária (Zilberman, 1988).
Em “As sete teses” de Jauss (Bordini e Aguiar, 1993) desenvolvidas
para estética da recepção literária, considera que é por meio de diversos níveis
do conhecimento que se dá a construção do sentido de um texto e o mesmo
trará prazer da identificação e do desafio enfrentados, pois requer um
movimento cooperativo e consciente do leitor, levando-o a novas maneiras de
comportamento social, numa reflexão anteriormente exposta.
Daniel Pennac (Pennac, 1998) comenta que o que afasta um
estudante da leitura de um livro não é só a televisão ou o mundo fascinante dos
vídeos games. Do alto de sua experiência de professor, Pennac, professor e
escritor francês, investiga as chaves para o mundo da leitura. No seu ensaio
sobre leitura, Como um Romance, Pennac mostra que o elo se perde,
normalmente quando o livro deixa de ser “vivo”- a narração ao pé da cama, na
infância na hora de dormir, e passa a ser “ficha de leitura”, obrigatória para o
bom cumprimento do programa escolar.
A partir do momento que o livro é dever, tudo contribui para afastar o
jovem da tarefa. Ana Maria Machado (Machado, 2001), cita que “leitura não é
dever de ninguém, é um direito, isso sim, de todo cidadão, e por ele que temos
que lutar, isso sim é dever”.
A professora Elmita Simonetti Pires, comenta em um de seus artigos
que: “A atividade de leitura e expressão desenvolvem a capacidade de
observação, percepção e imaginação, aptidões consideradas fundamentais
para que cada um descubra o mundo e a si próprio”. (PIRES, 2011).
6
Marisa Lajolo (Lajolo, 1994) afirma: “Ou o texto dá sentido ao mundo,
ou ele não tem sentido nenhum. E o mesmo se pode dizer das nossas aulas”.
Lajolo chama-nos a atenção para o fato de que discussões e propostas para o
uso do texto literário em classe muitas vezes acabam por transformar-se em
armadilhas para o professor que, fragilizado e buscando respostas imediatas
para seus problemas concretos, acabam adotando “técnicas milagrosas” para o
convívio com o texto, “técnicas milagrosas”, geralmente decididas por livros
didáticos e paradidáticos que só estabelecem harmonia aparente, mantendo o
desencontro entre leitor e texto.
Regina Zilberman, no seu livro A leitura e o ensino da literatura,
comenta:
É na condição do país de terceiro mundo que o Brasil tem
patrocinado programa de acesso ao livro, pretendendo dotar os
leitores de obras que falem de seu mundo e na sua linguagem, com a
finalidade se suplantar uma situação de atraso cultural. O exercício
dessa função é delegado dessa escola, cuja competência precisa
tornar-se mais abrangente, já que educação, introdução a leitura e
ensino da literatura são tarefas da escola, e ainda local de formação
do público leitor (ZILBERMAN 1991).
Ao tratar do ensino da literatura, Ezequiel Theodoro da Silva afirma:
A leitura pode ser tudo (ou pelo menos muito) ou pode ser nada,
dependendo da forma como foi colocada em sala de aula. Tudo, se
conseguir unir responsabilidade de conhecimento. Nada, se todas as
suas promessas forem frustradas por pedagogias desencontradas
(ZILBERMAN e SILVA, 1990:43).
Carlos Erivany Fantinati, numa tradução livre e resumida
das
concepções de ensino literário do didata da leitura alemã Hans Kügler, nos
apresenta tais concepções, caracterizando-as e fazendo considerações
bastante
esclarecedoras ( Kügler, S.d :7-10).
Segundo Fantinati, Kügler concebe o ensino da literatura como
processo de comunicação , em que a comunicação não estaria simplesmente
7
ligada á noção da mensagem do autor ( emissor ) por meio de um texto a um
leitor ( receptor).
Para Kügler, em se tratando do Ensino da Literatura, a essência da
comunicação está no processo de interação entre o leitor e o texto, e essa
interação se constitui no fundamento da exploração da leitura e do e
desenvolvimento da compreensão.
Kügler concebe uma proposta de ensino que prioriza a visão pessoal,
a emoção do aluno, oportunizando a descoberta por si, consolidando o
processo ensino - aprendizagem. Não mais a abordagem do texto literária que
apresenta questões que exigem do leitor apenas a verificação automática, que
giram em torno das personagens e suas características físicas e psicológicas,
da ordenação correta dos fatos do texto e questões referentes ao vocabulário e
à gramática. Não mais o texto encarado como pretexto para o ensino da língua
ou, então, apenas como um momento de diversão e descontração, mas um
estudo interativo que promove a participação consciente do aluno.
A teoria baseada no aspecto recepcional representa umas das
diversas que valorizou a participação do leitor: no ato da leitura o eu e o tu
juntos vamos tratar do eles – as personagens. Esse posicionamento dá vez e
voz ao leitor no ensino da leitura, não é um ato mecânico é um encontro de
gente.
Muitos outros discorrem a partir do referido enfoque: Romeu Ingarden
com seu A obra de arte literária, de 1931, Roland Barthes, O prazer do texto,
de 1937, Hans Robert Jauss com a História da literatura como desafio à teoria
literária, 1967, Umberto Eco com a Leitura do texto literário, de 1979, ‘Wolfang
Iser com O ato da leitura: uma teoria do efeito estético de 1976, Stanley Fish
com Is there text in this class? 1980, Robert Escarpit com seu Sociologia da
literatura de 1958 e, mais atualmente, trabalhos como A ordem dos livros, de
1992, seu Sociologia da literatura, de 1958, e outros estudos produzidos por
Roger Chartier.
A comunhão do foco do estudo da Literatura desses autores ganhou o
status de vertentes da história da recepção, instaura entre o leitor e texto o
processo de comunicação, pois a obra só tem razão de ser quando é lida, e é
estabelecido pelo leitor relação com outros textos literários que já tenha lido,
com observação nas suas particularidades.
8
O estudo da Literatura desse modo transforma-se em um pacto entre o
professor e o aluno em que ambos dividem responsabilidades e méritos, há um
comprometimento e instigação à ação e afirmação como sujeito participante à
medida que a dinâmica do processo literário provoca prazer.
Sobre a estética da recepção, Bordini e Aguiar afirmam:
As atividades vão ao encontro da criança e do jovem que tem no jogo
o exercício simbólico das práticas sociais e dos elementos humanos
suscitados a partir do texto , estas atividades são expedientes
importantes na formação e na continuidade do gosto pela leitura,
Quebrando o sentido de obrigatoriedade a leitura perde o ranço de
disciplina escolar, para se converter em ato espontâneo e estimulante,
desencadeador de momentos aprazíveis (Bordini e Aguiar, 1993).
Ao discorrerem sobre o Método Recepcional, Bordini e Aguiar citam
que o referido método é estranho à escola brasileira, em que há o relativismo
de interpretação,e portanto, que a leitura literária não é tópico de consideração
no âmbito acadêmico sendo discutida como sistema de sentido fechado e
definitivo e que a preocupação a participação ativa do leitor fica em segundo
plano.
Ao tratar da questão da fruição no ato da leitura, Barthes faz a seguinte
consideração:
Escrever no prazer me assegura-a mim, escritor – o prazer de meu
leitor? De modo algum. Esse leitor, é mister que eu o procure ( que eu
o “drague”), sem saber onde ele está. Um espaço de fruição fica
então criado. Não é a “pessoa” do outro que me é necessária, é o
espaço: a possibilidade de uma dialética do desejo, de uma
imprevisão do desfrute: que os dados não estejam lançados, que haja
um jogo (Barthes, 1977, p.9).
No ato de produção recepção o texto torna-se campo em que dois
horizontes podem identificar-se ou estranhar-se, essa atitude receptiva se inicia
com a aproximação entre texto e leitor que precisa também adotar uma postura
de disponibilidade.
Bordini e Aguiar reforçam:
9
Quanto mais leituras o indivíduo acumula, maior a propensão para a
modificação de seus horizontes, porque a excessiva confirmação de
suas expectativas produz monotonia, que a obra “difícil” pode
quebrar.A ênfase na atitude receptiva emancipadora promove a
continua reformulação das exigências do leitor quanto a leitura bem
como quanto aos valores que orientam sua experiência do mundo.
Assim sendo, a atividade de leitura fundada nos pressupostos
teóricos da estética de recepção deve enfatizar a chamada “obra
difícil”, uma vez que nela reside o poder de transformação de
esquemas ideológicos passíveis de crítica (Bordini e Aguiar, 1193, p.
85).
O Método Recepcional propicia inovações para o cotidiano, inovação
esta que se preocupa efetivamente com o aluno leitor, seus conhecimentos
prévios e constatação de seus horizontes de expectativas.
No entanto, para percorrer esse percurso, foram pensados pelas
autoras mais três etapas, culminando em cinco e complementando as duas
anteriores.
1 . Determinação do horizonte de expectativas.
2 . Atendimento do horizonte de expectativas.
3 . Ruptura do horizonte de expectativas.
4 . Questionamento do horizonte de expectativas.
5 . Ampliação do horizonte de expectativas.
Determinação do horizonte de expectativas:
Nessa primeira etapa, o professor através de conversas informais,
observação de comportamentos em sala de aula, bibliotecas, entrevista,
questionário e outros encaminhamentos, determina quais os horizontes de
expectativas desses alunos/leitores. Detectado isso, deve-se oferecer textos
que correspondam ao esperado por eles, que atendam suas expectativas.
Atendimento do horizonte de expectativas:
Nessa segunda etapa, inicia-se a organização de estratégias de ensino
que sejam do conhecimento dos alunos, para gradativamente acrescentar
novos elementos às atividades desenvolvidas, propondo textos cujos temas
sejam procurados na própria literatura ou em quadrinhos, tiras, charges,
cartoons, folders, ou ainda em outros meios de expressão das mídias
televisivas, radio difusoras e esta última parece que mais se aproxima da
população em geral.
Ruptura do horizonte de expectativas:
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Aqui se dá a participação ativa e criativa daquele que lê, sem sufocarse à autonomia da obra. De uma maneira equilibrada, o professor continua
abordando a temática com estratégias de trabalho com a forma textual,
linguagem, gênero, de maneira que apresentem maiores exigências aos alunos
para terem mais autonomia e perceberem que estão ingressando em um
campo divergente de suas certezas anteriores, sem contudo sentirem-se
inseguros ou rejeitem essa nova experiência, sentindo-se motivados a darem
continuidade a esse processo de recepção.
Questionamento do horizonte de expectativas:
Partindo do interesse demonstrado, é organizado um momento para as
devidas análises, que pode ser individual ou em duplas, para posterior
seminário, apresentação para a turma através da própria leitura com entonação
e ou dramatização, criando assim um clima descontraído, emocional, de
maneira suscitar o prazer necessário ao atendimento do interesse manifestado.
Nesta etapa os alunos/leitores deverão ser capazes de refletir sobre o trabalho
desenvolvido nas duas etapas anteriores, comparando essas duas etapas com
a finalidade de julgar qual delas exigiu mais atenção, qual delas apresentou
maior grau de dificuldade e qual lhes proporcionou maior satisfação. O ideal é
que se organize esta reflexão e comparação através de discussões e debates.
Ampliação do horizonte de expectativas:
Nessa última etapa do processo será percebido que as leituras feitas já
não são mais meras exigências acadêmicas, mas estão intrínsicamente ligadas
ao cotidiano, numa nova visão de mundo, tomando consciência das alterações
e aquisições através da experiência literária. Percebem que sua capacidade de
decifrar o que não é de seu conhecimento ampliou-se de maneira que a
intervenção do professor é a de oportunizar condições para que avaliem o que
foi alcançado e o que resta fazer.
Partem em busca de novos textos de maneira que atinjam suas
expectativas e estas evoluam em espiral permitindo aos alunos uma postura
mais consciente com relação à literatura e à vida.
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Intervenção pedagógica na escola
A Metodologia de Ensino da Literatura, do Projeto de Intervenção na
Escola, como já foi citado anteriormente, foi baseada no Método Recepcional
de Bordini e Aguiar, embasado na teoria da Estética da Recepção de Jauss,
com o tema: Humor. Tema esse escolhido por já conhecer o perfil e
praticamente confirmar e determinar os horizontes de expectativas desse
alunos/leitores, com os quais já trabalho há 17 anos, fato que facilita o
conhecimento
das
necessidades
e
interesses
da
turma
onde
seria
desenvolvido o projeto.
A unidade didática teve a pretensão de mostrar uma proposta de
leitura da Lteratura que concebe o seu ensino como um processo de interação
entre o leitor e o texto, fundamentando esse na exploração da leitura literária,
formação e desenvolvimento da compreensão. Esse método enfatiza a leitura
receptiva emancipatória, promovendo a contínua reformulação das exigências
do leitor no que se refere à Literatura e aos valores que orientam suas
experiências de mundo.
O planejamento de unidades didáticas através desse método previu
etapas a serem desenvolvidas pelo professor, conjuntamente com os alunos: a
determinação, o atendimento, a ruptura e o questionamento do horizonte de
expectativas, e para finalizar, a ampliação desse horizonte.
O tema Humor foi escolhido por já conhecer o perfil e praticamente
confirmar e determinar os horizontes de expectativas desse alunos/leitores,
com os quais já trabalho há anos e em momentos de leitura notar que se
interessam por crônicas ou textos que trazem momentos de descontração e por
enfrentarem uma terceira jornada diária acreditei que assim seria uma
abordagem mais leve.
Num primeiro momento fui apresentada pela professora da sala de
aula aos alunos e em seguida retirou-se. Fiz um breve relato do que era o
projeto e sobre o que trabalharíamos e em seguida iniciei escrevendo no
quadro de giz a frase de Millôr Fernandes, citada na obra de Fanny Abramovich
(Abramovich, 1989): “O homem é o único animal que ri. E é rindo é que mostra
o animal que é”.
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Expliquei qual era o tema e o porquê dessa escolha, acreditando que
por se tratar de alunos trabalhadores e por estarem numa terceira jornada
diária e ao
tratarmos da leitura literária seria uma forma mais leve e
descontraída e até como parte da aplicação da metodologia escolhida, a
Estética da Recepção.
Na sequência lemos um pequeno texto de Fanny Abramovich em que
relata sua visão do que é o humor em se tratando de literatura e que é não
apenas uma jocosidade. Também cita Millôr Fernandes no tocante à seriedade
do humor e faz as seguintes considerações:
Humor - na literatura e na vida – não é contar piada, fazer
graçolas ou um comentário boboca e, óbvio, muito menos ser
explícito...Também não é ficar rindo de bobeira pura. É mais,
como disse nosso maior filósofo, o grande pensador e
cutucador de cabeças brasileiras, Millôr Fernandes: “Como em
todo meu humor não procurei fazer gracinhas, adotei apenas,
acho!,
uma
forma
completamente
desinibida
e
descondicionada de ver as coisas”.E os autores que
conseguem esse tipo de visão são os que levam a novas
formas de perceber velhas coisas, sem preconceitos, sem
estereótipos, sem repetir o já sabido, e que, por isso,
espantam... E nada como uma boa sacudidela criativa e
cutucativa pra fazer sorrir, pensar, rir, perguntar, parar por um
momento e se dar conta de que o caminho poderia ter sido
outro... ou que sempre há tempo de rever posições, idéias,
gentes ou o que seja, e encontrar outro jeito ( talvez mais
saboroso, mais inquieto, talvez menos apaziguado, mais
contundente, talvez mais anárquico e bem menos bemcomportado, e sobretudo mais vital) de andar e olhar esse
mundo... E sorrindo!!! ( Abramovich, 1989).
Fiz alguns comentários sobre o texto, no início apenas ouviram.
No Atendimento dos horizontes de Expectativas passamos à leitura do
texto, Por que rimos?, de Silvia Helena Cardoso. A leitura foi feita de forma
individual e silenciosa, logo após, compartilhada. Cada aluno leu um parágrafo.
Retomei a leitura e fiz alguns questionamentos e assim foram se
soltando e participando com comentários tais como: Realmente nunca paramos
para pensar sobre a importância do riso, do humor em nossa vida cotidiana;
Não nos damos conta de seus benefícios; É verdade, sempre que vamos
enfrentar uma nova situação ficamos tensos, mas basta alguém nos dar um
sorriso que já nos sentimos melhor, mais confiantes; Já vi na TV e aqui em
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Paranavaí também tem, pessoas que vão aos hospitais vestidos de palhaços
para alegrar os pacientes, não importa a idade e o médicos dizem que o
tratamento dá melhor resultado; Tem um ditado que diz: “Quem canta, os
males espanta”. E se rimos, sorrimos ou até damos gargalhada, certamente
espantamos os males, medos, tristezas, saudade; Ninguém se sente bem,
perto de uma pessoa emburrada.
Aqui se dá a participação ativa e criativa daquele que lê. Sentem mais
autonomia e percebem que estão ingressando em um campo divergente de
suas certezas anteriores.
Das informações apresentadas no texto, os alunos responderam na
oralidade às perguntas: Por que rimos? O que mais chamou a sua atenção?
Por quê? O texto afirma que o riso “desarma” as pessoas e facilita os
relacionamentos. Você tem uma história para partilhar com a turma que
comprove essa afirmação? No texto, o trecho: “ Pois pesquisas mostram que
crianças ...divertir”. Você já tinha conhecimento desse fato? Você conhece
alguma anedota? Gostaria de contá-la à turma? Você já leu outro tipo de texto
que tenha lhe provocado algumas gargalhadas ou pelo menos um sorriso?
Muitos programas de televisão exploram o humor. Você assiste a alguns
deles? Como avalia a qualidade dos textos usados nesses programas? Você
considera que seja fácil ou difícil provocar riso?
Foram distribuídos materiais imagéticos, xerocados e plastificados,
cujos temas foram procurados na própria Literatura, em quadrinhos, tiras,
charges, cartuns de assuntos diversos tais como: política, dengue, violência,
saúde e que apesar das imagens hilárias, grotescas tratavam de situações
sociais relevantes e aqui se identificaram como cidadãos, participando e dando
sua contribuição crítica como leitora. E como disse o escritor Rubem Alves:
“Rindo podemos dizer coisas sérias.”
Encerrados os comentários assistimos ao filme: Patch Adams, o amor
é contagioso, baseado em uma história verídica e tendo como ator principal,
Robin Willians no papel de um médico que acreditava na terapia do humor
aliada ao tratamento convencional e sempre era impedido de agir assim. E
certa vez pego de surpresa fazendo “graças” para um menino, paciente com
câncer e seu pai que o visitava, foi interpelado por seu supervisor que
perguntou? “O que pensa que está fazendo?” e respondeu: “ Fazendo os
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pacientes rirem, agindo assim eu os tiro do estado de letargia, desânimo,
contribuindo assim para uma significativa melhora concomitantemente ao
tratamento com medicamentos que tinham muitos efeitos colaterais, assim
ficam mais resistentes e com vontade de viver, uma vez que o riso melhora a
pressão.”E retirou-se.
Essa cena foi de impacto entre outras e comprovava o que disse acima
e afirmava o que dizia o texto lido.
Seguiram-se então novos questionamentos orais sobre o recorte do
filme: Já havia assistido ao filme? Que emoção lhe causou ou constatação lhe
provocou? Você acredita na terapia do riso, no bom humor e no sorriso como
requisito para ser admitido e até para o sucesso de uma empresa?
No segundo encontro assistimos ao filme, Narradores de Javé, num
ambiente próprio, com telão e como não podia faltar, pipoca.
A obra cinematográfica trata sobre uma pequena cidade, Javé, de um
povo simples e que o único habitante que sabia ler e escrever era um
funcionário do Correio que escrevia e mandada a cada habitante uma carta
com assuntos particulares e sempre com um cunho fofoqueiro e o maior
objetivo dele era de não perder o emprego, uma vez que ele próprio as
escrevia e as lia para os destinatários e escrevia as respostas para os
remetentes, ou seja, tudo fictício e engodo. Quando descoberto foi
sumariamente expulso dessa cidade e quando viram que precisavam dele para
fazer um documento para ser enviado à empresa que estava construindo a
barragem que inundaria a pequena Javé, foram buscá-lo e no início
amedrontado, recusou-se até que foi “convencido” a retornar.
Foi um momento bem descontraído pelas cenas hilárias embora se
tratasse de um assunto muito sério. Terminado o filme, nos reunimos em
círculo
para
os
comentários
que
foram
fluindo
espontaneamente,
primeiramente sobre o personagem principal e o seu importante papel na
trama, pois era o único, entre os adultos, que sabia ler e escrever e a
importância da leitura e da escrita e como a falta de uma delas ou ambas
implicou em uma série de decisões a serem tomadas por um povo e em
momentos tão cruciais.
Foram direcionados os questionamentos, na oralidade: O que mais lhes
chamou a atenção? Que cena ou cenas os surpreenderam; O que acharam do
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vocabulário usado pelos personagens? Qual foi o foco principal? Em que o
analfabetismo prejudicou ou até incentivou nas tomadas de decisões de uma
comunidade? Como perceberam o humor nas reuniões feitas pelos
personagens?
Na Ruptura dos Horizontes de Expectativas, foram convidados alunos de
outras salas de aula para participarem e ouvirem a leitura um cordel que
apresentava o próprio cordel, de César Obeid e relataram terem ouvido falar
sobre o cordel, mas não tinham conhecimento de como surgiu, como era
composto e a xilogravura que os ilustrava.
Foi feito um convite a um entalhador, que tem uma empresa que aceitou
prontamente e também fez um entalhe da capa do cordel “Proezas de João
Grilo”.
A presença do entalhador, Lourival Pereira da Silva, foi bastante
significativa, pois ele próprio desconhecia que também era um xilogravador e
ao ser convidado para esse momento aceitou prontamente, levando a
ferramenta principal que é um tipo de formão em V, buril, e explicou que segue
o veio da madeira para entalhar, geralmente são madeiras macias de fácil
manuseio. Levou também algumas peças entalhadas e uma que estava sendo
entalhada, um gaúcho, encomendada para servir como molde para a fundição
de um troféu para uma associação: CTG, Centro de Tradição Gaúcha. Contou
também que fez já havia feito o molde do busto de Camões que encontra-se
na Praça Luzitânia de Paranavaí, como homenagem ao pioneiros portugueses
de nossa cidade.
Em seguida foi lido, João Grilo, do poeta cordelista João Martins de
Athayde, ( 1981), procurando dar entonação e ritmo que lhe são peculiares e
até sotaque, por se tratar de um cordel nordestino onde se difundiu com mais
ênfase esse tipo de literatura popular. Percebeu-se interesse e atenção não só
por parte dos alunos que participavam da implementação, mas também dos
convidados a participarem desse momento, comprovando-se que diferentes
estratégias de leitura, nesse caso o ambiente, preparação e algo novo faz com
que se interessem. Nesse dia também estavam presentes alunos surdos e a
professora intérprete. Terminando essa apresentação, todos os convidados se
retiraram.
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Ao produzirem o próprio cordel apresentaram um pouco de dificuldades
com os versos rimados, mas se propuzeram a produzir, ilustraram e foram
expostos em um mural no pátio da escola.
Partindo do interesse demonstrado, foi organizado um momento para
as devidas análises, individual e em duplas, para posterior seminário,
apresentação para a turma através da própria leitura com entonação e ou
dramatização, criando assim um clima descontraído, emocional, de maneira a
suscitar o prazer necessário ao atendimento do interesse manifestado.
No Questionamento dos Horizontes de Expectativas foi organizado um
círculo para discutirem a reflexão feita sobre o trabalho desenvolvido nas
etapas anteriores, comparando essas duas etapas com a finalidade de julgar
qual delas exigiu mais atenção, qual delas apresentou maior grau de
dificuldade e qual lhes proporcionou maior satisfação. O ideal é que se
organize esta reflexão e comparação através de discussões e debates.
Na última etapa, a da Ampliação dos Horizontes de Expectativas, os
alunos foram instrumentalizados sobre o gênero conto e suas especificidades.
São especificidades do conto: o narrador, ou seja, o contador da história que
poderá narrar em 1ª ou 3ª pessoa, o assunto abordado, tema, em que espaço
físico aconteceu a história, o tempo (minutos, horas, dias...), personagens e
suas características físicas e psicológicas.
Há também os componentes da ação da narrativa. O sujeito, qualquer
ação tem que ter um sujeito; o objeto que é o elemento sonhado ou desejado
pelo sujeito, e é o que determina a ação do sujeito; o adjuvante que auxilia o
sujeito na consecução de seu objeto; um oponente que cria obstáculos ao
sujeito para esta consecução, o destinador que é quem provoca a ação e o
destinatário que se beneficia com a ação.
Para a compreensão desses componentes da narrativa foi dado como
exemplo uma passagem bíblica de um profeta do Antigo Testamento: Jonas
(sujeito); sua salvação e do povo Hebreu (objeto, carência); Deus (destinador
da ação, da carência de Jonas); um Anjo (adjuvante); o exército inimigo
(oponente); o povo Hebreu e o próprio Jonas (destinatário). Foram distribuídas
para os grupos, cópias xerocadas e individuais, do conto, “Quanta besteira que
o mundo tem”, de Ricardo Azevedo (Azevedo, 2009), do seu livro, Histórias de
bobos, bocós, burraldos e trapalhões.
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Fizeram leitura silenciosa e depois acompanharam a leitura da
professora, posteriormente, na oralidade, oportunizou-se as impressões da
leitura dos alunos. Utilizando-se da tabela foram questionados sobre os
componentes da ação da narrativa, por escrito e em duplas.
De posse da instrumentalização anterior, novos contos, do mesmo
autor,
foram distribuídos, para em grupos serem lidos, ensaiados e
apresentados de forma dramática para os colegas de sala e professora. Os
textos selecionados foram: Pega-trouxa-de-papo-furado; O casamento de
Mané Bocó; Façanhas do Zé Burraldo; Chico Zoeira; João Bobão e a princesa
chifruda;Dois cegos briguentos e Entrevista a um papagaio.
Nessa última etapa espera-se que percebam que as leituras feitas já
não são mais meras exigências acadêmicas, mas estão intrínsicamente ligadas
ao cotidiano, numa nova visão de mundo, tomando consciência das alterações
e aquisições através da experiência literária. Percebam que sua capacidade de
decifrar o que não é de seu conhecimento ampliou-se de maneira que a
intervenção do professor é a de oportunizar condições para que avaliem o que
foi alcançado e o que resta fazer.
Espera-se, então, que estejam motivados e partam em busca de novos
textos, de maneira que ampliem suas expectativas e estas evoluam em espiral
permitindo aos alunos uma postura mais consciente com relação à literatura e
à vida.
Acreditamos que essa proposta de alternativa metodológica de Bordini
e Aguiar, venha a dar um novo sentido e significado às aulas de Literatura, já
que este método se preocupa diretamente com os alunos/leitores.
Rir desopila o fígado, o sorriso movimenta de maneira benéfica os
músculos da face, essas são entre muitas as afirmações de positividade sobre
o riso. Se nos aprofundássemos sobre esse assunto cientificamente nos
surpreenderíamos quanto aos benefícios que traz, principalmente, uma boa
gargalhada. Então, por que não adotar o humor como uma das estratégias
aliada à metodologia para o ensino da leitura literária?
O escritor Rubem Alves disse em uma de suas palestras que “...rindo
podemos dizer coisas sérias...” o que também concorda Carlos Erivany
Fantinati, em “A seriedade do cômico”, tema de seu artigo que trata do cômico
como importante modalidade textual na escola, embora não muito aceita ou
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entendida pelos pais e até pelos próprios educadores. Fantinati (Fantinati,
2004) comenta que: “Centrado no conflito e na contradição, o cômico possibilita
ao aluno o reconhecimento de discrepâncias, facilitando o acesso aos textos
literários, que se utilizam do efeito de estranhamento”.
Considerações Finais
Esse artigo é, basicamente, o relato, a descrição do que foi
desenvolvido no projeto PDE. Como o objetivo desse projeto foi o de uma
tentativa na busca de novos caminhos para o ensino literário na escola, nessas
considerações finais, não faremos conclusões definitivas sobre o assunto,
mesmo porque não as temos.
No entanto, partindo não só do resultado e análise das condições e
problemas que envolvem o ensino da literatura na escola, através das leituras
de teóricos e críticos, dos resultados, foi possível chegar a algumas conclusões
que além de esclarecer dúvidas e responder alguns questionamentos, ainda
nos sugeriram caminhos que podem
resultar num fazer pedagógico mais
eficiente no que se refere ao ensino da literatura em sala de aula.
Entendemos que manter a realidade desse ensino de literatura
descontextualizada, deixa tanto os professores como os alunos insatisfeitos, e
ainda, sem utilidade e conhecimento literário.
O Método Recepcional, elaborado por Bordini e Aguiar orienta
um
trabalho por tópicos que dão direcionamento ao ensino da literatura em sala de
aula. Iniciando com a determinação dos horizontes de expectativas do
aluno/leitor, que numa análise escolhe o tema a ser trabalhado baseando-se
no conhecimento prévio desses alunos. Durante a implementação da unidade
de ensino com os alunos, no primeiro contato foi ofertada uma literatura
imagética utilizando os seguintes materiais didáticos: tiras, cartuns, charges,
para o atendimento do horizonte de expectativas. Na seqüencia foi feita leitura
de textos sobre o tema humor, de autores que falam não só da sua importância
literária mas mostram que também é inerente ao ser humano e colabora não
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apenas como algo divertido, mas como uma necessidade social que promove a
empatia beneficiando a saúde.
Esse método faz com que o aluno perceba que não se trata apenas da
literatura, mas de uma verdade para a vida. Se no início os alunos apresentam
resistência, aqui se sentem parte dessa literatura e já começam os
questionamentos e a sensibilidade crítica e o professor tem aqui a assertiva da
escolha do tema.
Na ruptura do horizonte de expectativas foram lidos contos em que o
humor se fazia presente de uma maneira séria, como citou Fantinatti em seu
artigo “A seriedade do cômico”, corroborado por Rubem Braga em uma de suas
palestras “... e rindo podemos dizer coisas sérias...”.
Na ampliação do horizonte de expectativas os alunos foram
instrumentalizados para a análise do método vivenciado, o que possibilitou uma
auto-análise, percebendo, esses alunos, que no início das atividades
apresentaram algumas dificuldades de interpretação e na produção escrita,
mas perceberam uma significativa mudança sentindo-se mais encorajados por
não ser algo longe de seus conhecimentos, entendimento e certamente partirão
para a ampliação de seus conhecimentos, motivando-os a ler mais amiúde,
quer seja no ambiente escolar, de trabalho ou em outras situações em que
esteja à mão a literatura em diferentes suportes.
Refletindo sobre a implementação fica clara a importância da leitura e
principalmente a de oportunizar ao aluno/leitor a efetiva leitura de diferentes
gêneros textuais fazendo com que perceba que esta experimentação lhes
acrescenta um novo significado ao mundo em que vive, talvez essa percepção
não seja imediata, mas ao longo de suas vivências seja na caminhada
acadêmica ou pessoal. E que esse conhecimento que parecia não ter ligação
com a vida real, como sempre questionam, de repente os surpreenda como um
exemplo atual de uma novela que está abordando o Cordel e na vinheta
aparecem as xilogravuras, ilustrações do Cordel, literatura popular, assunto
que viram por ocasião da implementação, e aí sintam-se inseridos no contexto,
pois tiveram um prévio conhecimento sobre o assunto. E tratando-se dessa
literatura não muito difundida em nossa região venham perceber também que o
humor se faz presente bem como a intertextualidade com a literatura dos
contos clássicos de reis, príncipes e princesas. E assim, que esses novos
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caminhos para o ensino literário, estimulem a leitura, não se restringindo ao
escrito, mas seja qual for a modalidade e compreensão dessas múltiplas
linguagens. Espera-se que o prazer pela leitura possa tornar-se natural sem
obrigatoriedade ou imposição.
O objetivo desse trabalho também é auxiliar na conscientização do
professor sobre o papel de formador de leitores e oferecer além das sugestões.
reflexão sobre a prática pedagógica. Assim, acreditamos que novos caminhos
podem ser descobertos e numa evolução espiral, possam permitir uma nova
postura com relação à literatura e à vida.
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