Os Benefícios da Parceria entre Escola e Família

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Os Benefícios da Parceria entre Escola e Família
O fracasso escolar é hoje um grande problema para o sistema educacional. Muitas
vezes, para se livrar da responsabilidade, busca-se um culpado; alguém que possa assumir
sozinho esta situação. Se a aprendizagem acontece em um vínculo, se ela é um processo que
ocorre entre subjetividades, nunca uma única pessoa pode ser culpada.
Segundo alguns estudiosos, a aprendizagem é o processo pelo qual as competências,
habilidades, conhecimentos, comportamento ou valores são adquiridos ou modificados, como
resultado de estudo, experiência, formação, raciocínio e observação. Pode não parecer, pode
ser que algumas pessoas digam o contrário, mas todas as crianças, gostam, querem e têm
possibilidades para aprender. E quando não estão aprendendo, com certeza algo não está indo
bem.
Muito se têm discutido sobre o fracasso escolar, seus fatores e consequencias. A
sociedade busca cada vez mais o êxito profissional, a competência a qualquer custo e a escola
também segue esta concepção. Aqueles que não conseguem responder às exigências da
instituição podem sofrer com um problema de aprendizagem. A busca incansável e imediata
pela perfeição leva à rotulação daqueles que não se encaixam nos parâmetros impostos.
Assim, torna-se comum o surgimento em todas instituições educativas de "crianças
problemas", de "crianças fracassadas", disléxicas, hiperativas, agressivas, etc. Esses problemas
tornam-se parte da identidade da criança. Perde-se o sujeito, ele passa a ser sua dificuldade.
Desta forma, ao passar pelo portão da escola, a criança assume o papel que lhe foi atribuído e
tende a correspondê-lo. Porém, ao conceber este rótulo à criança, não se observa em quais
circunstâncias ela apresenta tais dificuldades (ele está assim e não é assim). Isto não é apenas
uma diferença terminológica, ela revela uma possibilidade de mudança.
Cada ano que passa se percebe que os alunos apresentam uma configuração muito
mais complexa de suas dificuldades de aprendizagem. Acredita se que isto esteja ligado aos
atuais problemas sociais, emocional, cognitivo, e não exclusivamente ao psicopedagógico. Essa
dificuldade também abrange o uso da auto-imagem e o problema de lidar com o outro.
A responsabilidade do fracasso escolar não recai só sobre o aluno, há que se pensar
em toda a questão pedagógica. Assim sendo, se aceitamos que somos seres humanos e como
tais nos construímos diferentes, faz-se necessário práticas pedagógicas que valorizem e
aproveitem toda a bagagem de conhecimentos construída pelo aluno durante sua trajetória
extra-escolar.
Portanto, pensar na criança e vê-la como um todo, envolvendo o funcionamento e a
dinâmica da estrutura da personalidade, o modo como cada indivíduo lida com seus impulsos
e desejos (função do id), a maneira que cada aprendiz lida com a percepção de si (função
egóica), o modo como a criança, o adolescente ou o adulto lidam com seus objetos internos, o
modo como cada pessoa valoriza ou não seus objetos internos (função superegóica) e a
maneira como aproveita seus valores adquiridos de seus pais, professores, amigos, entre
outros. Não esquecendo da bagagem que esses indivíduos trazem consigo suas realidades e
vivencias sócio-culturais.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS:
Capítulo 1 - O contexto histórico e a ligação que há com o mau desempenho das
crianças nos espaços escolares;
Na busca por uma maior compreensão e caminhos para as questões que envolvem o
fracasso escolar, faz-se necessário tecer considerações sobre o contexto histórico que, ao
longo dos últimos dois séculos, foi delineando o processo que tem, nos dias de hoje, ligação
direta com o mau desempenho de crianças nos espaços escolares.
Nesse caminho histórico somente a partir do século XVII é que se inicia uma pequena,
mas não menos considerável mudança na estrutura de organização de família e
conseqüentemente no espaço assumido pela criança. Nesta perspectiva, Bossa (2002, p.41)
afirma que o termo criança representou o surgimento de um novo sentimento: o relativo à
infância.
Bossa (2002), em seu livro Fracasso escolar: Um olhar psicopedagógico, traz um pouco
da concepção da noção que temos hoje na infância. Hoje, a criança é vista como um ser que
precisa ser modificado, ajustado e limitado ao que um adulto precisa ser. Segundo Áries (1981
apoud BOSSA, 2001) a criança, na velha sociedade tradicional, se misturava aos adultos e a
educação era feita pela convivência com o outro. Com a formação das famílias burguesas, que
se tornam cada vez mais privadas e individualistas, o pensamento sobre a criança começou a
tomar outro rumo. A partir daí começou a se acreditar que por intermédio da disciplina, da
diminuição de brincadeiras e implantação de atividades intelectuais a criança se tornaria um
adulto responsável. Também passou a se normatizar como deveria ser a criança, com base em
observações e testes psicológicos. Bossa (2002, p.45) contribui quando aponta que:
A escola surgiu como um espaço reservado à especificidade do “infantil” e
do controle disciplinar sobre as crianças. “A criança diferenciada do adulto”
emergiu como objeto do saber e como diferença a ser isolada e controlada,
e a escola como espaço de exercício de controle disciplinar e de elaboração
de um saber sobre a infância. (...)
Assim, se a norma é referência, os desvios á norma passam a ser objetos de
maior controle. A produção de saberes sobre a criança, bem como o
controle disciplinar ao qual foi submetida, trouxeram como conseqüência
um mecanismo de exclusão. As crianças que não conseguiam adaptar-se ás
regras estabelecidas e atender a um ideal de obediência, de disciplina, de
eficiência e de racionalidade, passaram a ser vistas como fora da norma, isto
é, de anormais. (BOSSA, 2002, p.45)
Esse longo processo de mudança de visão com relação ao ser que, na Idade Média, não
existia variação de comportamento em lidar com o mesmo e ainda acreditava-se não ter
personalidade, aliado às informações acima sobre as mudanças no século XVII, mostra
claramente que o conceito de infância foi uma construção histórica.
Bazílio e Kramer (2003, p. 87) reforçam essa idéia afirmando:
Em primeiro lugar, lembro que a idéia de infância surge no contexto
histórico e social da modernidade, com a redução dos índices de
mortalidade infantil graças ao avanço da ciência e a mudanças econômicas e
sociais. Sabemos que a idéia de infância, da maneira como hoje a
conhecemos, nasceu no interior da burguesia. Era a idéia de uma criança
que precisava ser “moralizada” e “paparicada”, esse duplo modo de ver a
infância, de que falava Áries. Mas sabemos também da miséria das
populações infantis naquela época, do trabalho escravo e opressor que
desde o início da Revolução Industrial as condenava a não serem crianças. A
modernidade já assistia a inúmeras cenas de meninos trabalhando,
explorados em fábricas, minas de carvão, nas ruas.
O contexto citado por Bazílio e Kramer traz o cenário da Revolução Industrial no final
do século XVIII e início do século XIX, quando as formas de produção se configuravam numa
nova forma de organizar a vida social. Neste sentido Bossa (2002, p. 45) entende que:
A partir das exigências feitas pelas sociedades industriais, de homens
produtivos adaptáveis aos progressos da ciência e da tecnologia, o
aprendizado artesanal cedeu lugar ao ensino profissionalizante baseado na
técnica e surgiu uma nova expectativa em relação à criança: um ser em
desenvolvimento, ativo e espontâneo. Essa idéia de um ser práxico, voltado
para a ação, dá origem a uma educação ativa, em que o jogo e o trabalho
vão fazer parte dos procedimentos educativos. Para que se pudesse
estimular adequadamente essa criança, ela deveria ser respeitada em sua
individualidade.
É neste contexto que se iniciam as primeiras formas de ensino, sendo que um sistema
educacional surgirá apenas no início do século XX, distante e tão próximo ao mesmo tempo
dos nossos contemporâneos dias, que nos levam ao longo dessas linhas a dialogar sobre o
fracasso escolar de alunos inseridos neste sistema de algumas décadas de estruturação.
Nesse processo temos ainda, a partir da segunda metade do século XX, a ampliação da
visão da criança. Entra em cena a psicologia do desenvolvimento a partir dos estudos da Escola
Nova, incorporando a idéia do trabalho à rotina dos alunos que, a esta altura, estão sendo
preparados para sua incursão no meio produtivo industrializado, mecanizado. A criança,
portanto deveria passar por todo um processo educativo que o prepararia para o futuro,
educada a partir de regras de conduta de modo a poder viver em sociedade. E assim a visão da
família em relação à criança está mudada – em comparação com as décadas anteriores. Agora,
essa nova visão de infância é seguida de uma nova composição familiar e escolar, tudo a partir
da concepção da sociedade burguesa advinda das transformações industriais.
Assim sendo, a instituição escola que é estruturada com o objetivo de promover a
melhoria das condições de vida dos sujeitos inseridos na sociedade moderna, termina por
contribuir também para o aumento da desigualdade e para o aumento do abismo social
presente nos países de terceiro mundo, dentre eles o Brasil. Ao que tudo indica, os resultados
oficiais revelam que estamos longe de solucionaro fracasso escolar e, portanto, romper com a
perversidade existente no sistema educacional, especialmente com as classes populares que
povoam as escolas brasileiras.
Capítulo 2 - O FRACASSO ESCOLAR E OS MECANISMOS DE EXCLUSÃO
Conforme análise anterior pode-se afirmar que a idéia de fracasso escolar só surgiu a
partir da escolaridade obrigatória a partir do século XIX, em função das mudanças econômicas
e estruturais da sociedade, como reitera Cordié apud Bossa (2002). É neste contexto – a escola
– que o sujeito irá ser monitorado, disciplinado e preparado, e conseqüentemente estará
demonstrando suas necessidades, suas angústias e desilusões, a partir de um sistema
contextualizado em uma época em que o dinheiro e o reconhecimento social são elementos
fundamentais para ser reconhecido, respeitado e visto.
E assim se configura a escola, ao longo desses séculos que nos constituíram como
sociedades. Assim o é, ainda hoje, a escola. E, dessa forma, aliada às grandes mudanças e
transformações tecnológicas – desde as primeiras formas de agricultura, passando pela
revolução industrial e pelo desenvolvimento da informática, a partir da segunda metade do
século XX – da História Moderna -, nos deparamos, hoje, com vários problemas que surgem,
minam, afloram nas salas de aulas, nos espaços escolares em geral. E um desses é o fracasso
escolar, sobre o qual se pretende tecer aqui algumas considerações.
Fracasso e sucesso são termos que costumam ser utilizados com frequencia para
denominar
uma
aprendizagem
escolar
considerada
insatisfatória
ou
satisfatória,
respectivamente. O termo fracasso escolar resume um grande número de fenômenos
educacionais, como: baixo rendimento do aluno, reprovação, repetência, defasagem idadesérie, evasão, dificuldades escolares, entre outros (ZAGO, 2010). Weiss (1992) argumenta que
o fracasso é uma resposta insuficiente do aluno a demandas escolares.
A autora chama a atenção para o fato de que o início de uma análise sobre o fracasso
escolar necessita ter o olhar abrangente para o meio em que o aluno está inserido. Não se
pode focar o fracasso escolar tão somente sobre o aluno. Há todo um universo ao redor do
mesmo que implica em estar atento também a outras perspectivas que possibilitem este
estudo, sendo elas a escola, a sociedade e também o aluno, tal constatação é reiterada por
Weiss (2004).
Muito se têm discutido sobre o fracasso escolar, seus fatores e consequências. É sem
dúvida, um dos mais graves problemas com o qual a realidade educacional brasileira vem
convivendo há muitos anos. Tal ocorrência pode ser evidenciada em todos os níveis de ensino.
Em função disso, muitos estudos estão sendo feitos a respeito dessa temática.
Segundo uma pesquisa de Angelucci (2004 apud FORGIARINI, 2007), feita na cidade de
São Paulo, sobre obras escritas com o tema “fracasso escolar”, a maioria tem a “culpa” focada
no aluno, no professor, nas políticas publicas e na desvalorização da cultura popular.
Nas palavras de Bossa (2002, p,17) “são graves as consequências desse sintoma na vida
das crianças de nossa cultura e que lhes causam muito sofrimento”. Há uma cultura em nossa
sociedade, que é perceptível a todos, que valoriza os melhores: os “melhores” na escola, os
“melhores” financeiramente, os “melhores” na vida, etc.
As crianças vistas como fora da norma estão por toda parte e em todas as escolas.
Com essa normatização e o anseio pela criança perfeita, boa parcela das crianças em idade
escolar foram colocadas nesse grupo. E isso começa cada vez mais cedo, pois a
institucionalização escolar abrange a criança a partir dos 6 (seis) meses de vida. A visão sobre a
creche e pré-escola nos últimos dez anos mudou. A ideia de que a creche era um lugar que as
crianças ficavam para ser cuidadas enquanto seus pais trabalhavam deu lugar a uma nova
concepção. Hoje, mesmo os pais que tem tempo e condições financeiras de manter a criança
em casa escolhem envia-la a escola desde cedo, por crerem que este é um ambiente
privilegiado de desenvolvimento e socialização. Devido a essa escolarização desde os primeiros
anos de vida, a noção de “fracasso escolar” para o individuo que “não aprende” se tornou
ainda mais precoce.
Apesar de todos os esforços das autoridades educacionais para combater esse
fenômeno, o fracasso escolar continua apresentando alta prevalência na realidade brasileira
atual. Por isso, discutir o fracasso escolar continua sendo essencial. Patto, em 1990, na
introdução de seu livro clássico “A Produção do Fracasso Escolar: histórias de submissão e
rebeldia”, afirmava que “a reprovação e a evasão na escola pública de primeiro grau
continuam a assumir proporções inaceitáveis em plena década de 80” (p.21). Vinte e três anos
passados e o Brasil é o penúltimo país em qualidade de educação. Em 2007 o Brasil ocupava o
53º lugar na Educação. Hoje ocupa o 88º. Temos 15 milhões de analfabetos.
Pensando nas definições do que seria o fracasso escolar, Senna (2008) traz que o
termo “fracasso escolar” ainda é muito vago na literatura acadêmica, pois ainda não existe
uma definição apropriada. Mas em sua visão: “Do ponto de vista teórico, o fracasso é tão
somente a negativa da educação formal e nada mais, de modo que resumiria à definição
genérica de algo como “não aprendizagem” ( SENNA, 2008, p 199).
2.1 OS CULPADOS
- A SOCIEDADE
Uma visão mais ampla é necessária no sentido de compreender a relação do aluno
com a sociedade em que ele está inserido. Para André (2005), a sociedade coloca a maior
parcela da culpa principalmente sobre o aluno. É ele que não traz em sua carga genética as
aptidões necessárias para o sucesso escolar, ou tem alguma deficiência de aprendizagem, ou é
realmente desinteressado em aprender. Isso incide sobre a criança todo o peso da rotulação.
Para Bourdieu (1992 apud NOGUEIRA, 2002), o indivíduo é um ator socialmente
configurado em mínimos detalhes. Suas preferências, aptidões, postura corporais, gostos,
aspirações relacionadas ao futuro profissional, dentre outros, são fatores socialmente
construídos. Sendo assim, o grau variado de sucesso ou fracasso escolar alcançados pelos
alunos ao longo de sua vida escolar não podem ser explicados por seus “dons”, relacionados à
sua constituição biológica ou psicológica, mas sim por sua estirpe social que os colocam em
situações mais ou menos favoráveis diante das cobranças escolares,
Quando a criança real não responde aos anseios da criança imaginada pela sociedade
as conseqüências para o “eu” são devastadoras. Bossa (2002) coloca que, a criança que não
aprende o que é determinado pela escola e pela sociedade, suporta toda a rejeição daqueles
que buscam o ideal narcísico. O resultado do não-aprender traz o sentimento de deterioração
do próprio eu. Ao manter o desejo da criança ideal, a escola e sociedade acabam por negar as
diferenças e segregam as crianças em dois grupos: o grupo da criança ideal como puro objeto
de desejo social e o grupo da “criança-problema”.
Senna (2008) coloca que o fracasso nada mais é do que uma inclinação social para a
exclusão e um dos vários mecanismos de marginalização, impedindo assim que os indivíduos
de uma classe menos favorecida possa se tornar sujeitos na esfera pública. Quem traz também
essa discussão é Gramsci que diz que todos precisam ter acesso à cultura socialmente
construída e apropriada de maneira privada, que dê as devidas condições de todos serem
dirigentes, ou melhor, de todos estarem em condições de assumirem funções de dirigentes
(GRAMSCI,1979 apud CASTRO, 2007).
A concepção de fracasso coloca a cultura da classe pobre como inferior e o ambiente
em que a criança se desenvolve como necessitado de valores, estímulos e habilidades, gerando
assim uma dificuldade de aprendizagem. A escola deveria ser um ambiente gerador de
igualdades de oportunidades e de justiça social, mas segundo Bourdieu (1992 apud
NOGUEIRA, 2002), ela reproduz e legitima as desigualdades sociais. Para ele, a escola perdeu o
papel que lhes foi dado de instituição transformadora e democratizadora das sociedades e
hoje é uma das maiores perpetuadoras de legitimação de privilégios sociais. O sociólogo
observa que a avaliação escolar não é apenas uma simples verificaçãoda aprendizagem, mas é
impregnada de um julgamento cultural e moral dos alunos. É exigido das crianças um modo
culto de se falar, escrever e de se comportar, e espera-se que elas sejam intelectualmente
curiosas, interessadas e disciplinadas. Essas exigências, na maioria dos casos, só podem ser
cumpridas por aqueles que foram socializados nesses valores.
Sendo assim, é quase improvável o fracasso escolar em um grupo que detenha a posse
de capitais econômicos, sociais e culturais.
- A ESCOLA
A escola deveria ser um espaço onde o conhecimento é socializado por entre as
gerações, possibilitando assim que o sujeito esteja preparado para entender, compreender, ter
uma visão crítica da sociedade, podendo transformar esta em sua essência quantas vezes
fossem necessárias. Utopias à parte, não é isso que vem acontecendo há muitas gerações –
talvez fosse justo afirmar que desde as primeiras estruturações pós-revolução industrial, o
conhecimento que deveria ser socialmente e democraticamente socializado ainda está nas
mãos das elites. Deve-se reiterar ainda que o fato da instituição Escola não cumprir suas
metas, seus objetivos não pode ser analisado de forma isolada. A escola é, por natureza, o
espaço onde se reflete a sociedade. Quem transforma a escola é a sociedade. Busco em Weiss
(2004, p.16) um olhar que adentra os muros da escola e das salas de aula buscando o foco na
figura do mediador deste conhecimento em relação aos alunos:
Professores em escolas desestruturadas, sem apoio material e pedagógico,
desqualificados pela sociedade, pelas famílias, pelos alunos não podem
ocupar bem o lugar de quem ensina tornando o conhecimento desejável
pelo aluno. É preciso que o professor competente e valorizado encontre o
prazer de ensinar para que possibilite o nascimento do prazer de aprender.
O ato de ensinar fica sempre comprometido com a construção do ato de
aprender, faz parte de suas condições externas. A má qualidade do ensino
provoca um desestímulo na busca do conhecimento.
Compreender o contexto sociocultural, as características, visões e ações do mundo,
inserindo o espaço escolar neste contexto – nunca o desvinculando – configuram-se como uma
necessidade básica e estrutural para que possamos compreender de forma global e relacional
o fracasso escolar. E embora o recorte feito acima da fala de Weiss esteja diretamente ligado à
esfera pública de ensino, faz-se necessário registrar que tal desestrutura afeta também – em
grande maioria – as escolas privadas. O que as diferencia mais fortemente são questões
ligadas a recursos financeiros, mas muito da desqualificação pela sociedade, famílias e alunos
também está presente entre as paredes erguidas do ensino privado
Bossa
(2002),
ainda traz sua visão sobre o papel da escola, na qual a função primordial desta em nossa
sociedade é de impulsionar uma melhor qualidade de vida para todos os cidadãos, entretanto,
os que não se adequam ao perfil ideal escolar acabam por serem marginalizados. A escola por
meio de suas ações pedagógicas reforça e legitima o fracasso e, assim, a exclusão social de
suas próprias crianças. Esses mecanismos de exclusão são, na maioria dos casos, usados pelos
próprios professores.
André (2005) concorda com essa visão ao dizer que nas instituições escolares há um
tratamento nas diferenças que pode privilegiar os favorecidos e desmerecer os
desfavorecidos. Como exemplo, em sala de aula pode haver preferência àqueles alunos mais
educados, limpos, bem vestidos e um esquecimento dos alunos que não tem cuidado com sua
higiene pessoal e são desmotivados. As diferenças de tratamento geram desigualdades,
preconceitos, exclusão, desmotivação e o desinteresse do aluno em aprender em um
ambiente que nunca lhe é favorável.
A escola vem sendo uma produtora de fracasso escolar cotidianamente e sendo assim,
cria obstáculos para realizar seus objetivos educacionais (PATTO, 1996 apud BOSSA 2002). A
instituição escolar deve ter como principal dever desenvolver o potencial que existe dentro de
cada educando, fazendo com que ele aprenda a conhecer, aprenda a fazer, aprenda a conviver
e aprenda a ser. Isso dentro de suas capacidades e não com expectativas pré-determinadas.
(BOSSA, 2002)
Entendemos que as práticas pedagógicas no interior das escolas também influenciam
na produção do fracasso escolar, o que requer que sejam revistas, por meio de uma reflexão
sobre os seus principais elementos estruturantes, sendo eles: relação professor-aluno;
metodologia de trabalho do professor; currículo; avaliação e gestão escolar. Essa reflexão não
pode perder de vista a especificidade do trabalho escolar.
A aprendizagem e o desempenho escolar dependem, primeiramente, da inter-relação
familiar, e posteriormente, da relação entre professor e aluno. Se antes as escolas e famílias
tinham objetivos que aparentemente não se relacionavam, agora ambas passaram a ser vistas
como participantes na educação. Embora distintas, buscam atingir objetivos complementares.
Para completar e concluir o recorte proposto para análise chega-se ao terceiro
aspecto: a família.
- A FAMÍLIA
Embora o tema família venha sendo bastante estudado, as idéias que a maioria das
pessoas têm sobre o que seja uma família variam, no decorrer do tempo, de acordo com o
contexto a que pertencem.
Sendo parte integrante do contexto de sociedade que vem sendo analisado nas linhas
de pensamento acima, a família torna-se elemento fundamental nesse terceiro eixo de análise
em torno do fracasso escolar. Condições econômicas foram comprometidas principalmente
nas últimas décadas a partir da globalização e do início de uma nova economia liberal, ou seja,
o neoliberalismo, que a partir do anos 80 começou a ganhar espaços continentais com seu
ideário de economias de mercado livres. As sociedades capitalistas, principalmente as de
terceiro mundo, tiveram sua renda domiciliar achatadas, os empregos em constante mutação
e defasagem, a tecnologia avançando sobre postos de trabalho anteriormente comandados
por humanos e as classes desfavorecidas sendo localizadas ainda mais abaixo das linhas
sociológicas de delimitação e localização de pobreza.
E esta família, que está inserida em todo este contexto de sociedade, deposita na
escola suas expectativas, ambições, angústias, necessidades e sonhos. E é no contexto familiar
que aflora aquele que é o sujeito de toda essa discussão: a criança / aluno(a) – e
conseqüentemente o paciente.
Nesta perspectiva, para enlaçar as visões que estão sendo tecidas até aqui, Bazílio e
Kramer (2003, p. 92-93) traçam um cenário sobre a nossa contemporaneidade envolvendo os
aspectos acima dissertados:
Se, agora, dirigirmos nosso olhar ao mundo que é dado às crianças, o que
vemos? Falta de entendimento, ausência de escuta do outro, violência,
destruição, morte. Observando o cotidiano no trabalho, na política, nas
relações familiares, vemos falta de diálogo e de escuta do outro. Com
freqüência, falo de minha perplexidade e assombro diante da exclusão, da
discriminação e da eliminação.
E neste contexto que estamos inseridos, é nele que estão às famílias, os professores e
os alunos envoltos no espaço escolar de tantas considerações e expectativas ali colocadas.
Nesta perspectiva, portanto, que o fracasso escolar aparece hoje entre os problemas de nosso
sistema educacional mais estudados e discutidos. E é nessa perspectiva em que – na maioria
das vezes – não se analisa o conjunto de ações que afetam o aluno, que se deflagra o fracasso
escolar como sendo, também na imensa maioria das vezes culpa dele tão-somente, inserido ali
naquele contexto de produção de conhecimento, concluindo-se que não atende às
expectativas, metas e objetivos pretendidos e por isso deverá ser encaminhado para
diagnósticos.
Antigamente costumava-se atribuir à criança, toda culpa por seu fracasso escolar.
Hoje, porém, já se reconhece que as dificuldades em aprendizagem não se dão no vazio, e sim
em contextos, tanto situacionais, quanto interpessoais. Não podemos falar de dificuldades
tendo somente a criança como ponto de referência, o contexto em que a criança se encontra
precisa ser considerado. Assim, quer a família, quer a escola, podem ser grandes responsáveis
pela determinação dos distúrbios de aprendizagem.
Há muito tempo discute-se sobre a influência da família na educação, no
comportamento e na formação da criança. A família é o primeiro grupo social em que esta
começa a interagir, aprender e onde se busca as primeiras referências no que diz respeito aos
valores culturais, emocionais, entre outros. Assim como a escola, a família é responsável por
fazer a mediação entre o indivíduo e a sociedade.
De acordo com Scoz (1994, p. 71 e 173), a influência familiar é decisiva na
aprendizagem dos alunos. Os filhos de pais extremamente ausentes vivenciam sentimentos de
desvalorização e carência afetiva, gerando desconfiança, insegurança, improdutividade e
desinteresse, sérios obstáculos à aprendizagem escolar. O contato com a família pode trazer
informações sobre fatores que interferem na aprendizagem e apontar os caminhos mais
adequados para ajudar a criança. Também torna possível orientar aos pais para que
compreendam a enorme influência das relações familiares no desenvolvimento dos filhos.
Gokhale (1980) diz que a família não é somente o berço da cultura e a base da
sociedade futura, mas é também o centro da vida social. A educação bem sucedida da criança
vai servir de apoio à sua criatividade e ao seu comportamento produtivo escolar. A família tem
sido, e será, a matriz mais poderosa para o desenvolvimento da personalidade e do caráter das
pessoas.
A criança aprende na escola da mesma forma que também aprende na família. Assim,
tanto a escola quanto a família devem estar em acordo para que haja uma harmonia nesta
aprendizagem, sendo importante que ambas atuem em parceria, onde seus papéis fiquem
bem delimitados quanto a educação da criança. Com relação a esse assunto deve-se destacar a
questão de que a escola não pode assumir o papel da família. O que vem acontecendo é que
muitas famílias delegam à escola toda a educação dos filhos, desde o ensino das disciplinas
específicas até a educação de valores, a formação do caráter, além da carência afetiva que
muitas crianças trazem de casa, esperando que o professor supra essa necessidade.
É sabido que o desempenho escolar individual de cada aluno depende não apenas do
seu rendimento em sala de aula e da competência de seus professores, mas também, do apoio
da base familiar que esta aluno encontra em sua casa. A relação entre família e estudos e,
principalmente, a maneira como a família de cada aluno se comporta em relação ao seu
desempenho escolar, influencia os resultados obtidos por crianças e adolescentes,
independente de classe social. Uma base sólida, com pais que se interessam e, até mesmo,
ajudam na execução das tarefas escolares faz com que este aluno renda mais em todos os
âmbitos de sua carreira escolar. Não basta apenas que os pais se preocupem e estejam
presentes nas horas de estudos - eles devem também ter a capacidade de percepção para
notar quando seu filho não está desempenhando adequadamente em alguma matéria e
buscar soluções.
Sobre a fundamental importância da família, assim se expressa Pestalozzi (apud FREINET,
1974, p. 14):
Não há livros, não há métodos artificiais que possam substituir a educação
em família. A melhor história, o quadro mais emocionante visto num livro
são para a criança como a visão de um sonho sem vínculos, sem
seguimento, sem verdade interior. Pelo contrário, o que se passa em casa,
sob os olhos da criança, liga-se naturalmente, no seu espírito, a mil outras
imagens precedentes, pertencendo à mesma ordem de idéias e, portanto,
têm para ela uma verdade interior.
Quando a família e a escola mantêm boas relações, as condições para um melhor
aprendizado e desenvolvimento da criança podem ser maximizadas. O ideal é que família e
escola tracem as mesmas metas de forma simultânea, propiciando segurança na aprendizagem
de forma que venha criar cidadãos críticos capazes de enfrentar a complexidade de situações
que surgem na sociedade. O envolvimento dos pais com a escola é essencial para a
aprendizagem de sucesso dos alunos. Não basta que os pais saibam que o filho vai a todas as
aulas e realiza as tarefas, eles precisam ter interesse no que cada tarefa consiste, e mostrar
que estarão ali, apoiando a criança ou adolescente, independente de seu desempenho.
Embora estejam todas relacionadas entre si, sendo causas e efeitos uma das outras, as
razões para o fracasso escolar podem, para efeito didático, serem classificadas ou agrupadas
entre aquelas que estão relacionadas ao próprio indivíduo, ou aluno, como problemas físicos
ou psicológicos; as causas que estão relacionadas á escola, como a qualidade de ensino entre
outras; causas que estão relacionadas à comunidade localizada, como o próprio ambiente
comunitário no que diz respeito às condições de higiene e saúde, qualidade de vida e,
ultimamente, ao elevado nível de violência; e, finalmente, as caudas pertencentes ao ambiente
maior, que são as condições gerais econômicas e políticas do país.
Em síntese, os pais devem participar ativamente da educação de seus filhos, tanto em
casa quanto na escola, e devem envolver-se nas tomadas de decisão e em atividades
voluntárias, sejam esporádicas ou permanentes, dependendo de sua disponibilidade. No
entanto, cada escola, em conjunto com os pais, deve encontrar formas peculiares de
relacionamento que sejam compatíveis com a realidade de pais, professores, alunos e direção,
a fim de tornar este espaço físico e psicológico um fator de crescimento e de real
envolvimento entre todos os segmentos.
A maioria dos pais e professores tem dificuldades em educar os filhos e alunos. No
caso dos pais, as experiências familiares são insuficientes para formar valores. No caso dos
educadores, não há boa vontade que vença facilmente a falta de motivações para aprender.
Falta aos pais e professores preparo para orquestrar uma educação que realmente forme
valores e competências.
É possível, enfim, concluir que a participação dos pais na carreira escolar de crianças e
adolescentes é, sim, imprescindível; mas, ao mesmo tempo, é necessário que este
envolvimento seja um envolvimento de qualidade - ressaltando que o essencial é a qualidade
do tempo em que os pais se envolvem com a escola e não apenas a quantidade de tempo em
que eles fazem isso. Um envolvimento saudável é o que causa o sucesso escolar do aluno.
Considerações finais
É necessário se colocar em prática um novo olhar sobre a criança e seu processo de
aprendizagem, não baseado em resultados, mas pensado em seu desenvolvimento cognitivo e
principalmente mantendo sua auto-estima acima de qualquer dificuldade.
Vive-se em uma sociedade que preza pela educação de quantidade (somente dados
divulgados pelo governo) e não de qualidade. Enquanto deveria se formar alunos com
aprendizado cientifico, moral, ético, cidadão e crítico estamos vivendo num país de “faz de
conta”, pois teoria e prática não estão articuladas. A criança é classificada como péssimo
regular ou bom, quanto ao seu desempenho, e, muitas vezes fica preso a esse contexto, não
conseguindo revelar seu potencial. As notas são comumente usadas para fundamentar
necessidades de classificação de alunos.
O aluno é o protagonista, por excelência, de sua aprendizagem, mas esta só ocorre por
mediação de outros, que são sempre agentes sociais. Aprender é, portanto, ação coletiva, não
ocorre de modo isolado, necessita de mediação social, de interpretação e ressignificações de
sentidos e significados. Essa trama é tecida por várias mãos e mentes que também atuam
na construção da não - aprendizagem. O aluno que fracassa reflete todo um sistema que
também fracassa. O educador deve ter uma visão flexível em relação às diferenças dos alunos,
deve reconhecer o valor de cada um permitindo maior consciência das possibilidades e dos
recursos.
Portanto, novos processos precisam ser implementados dentro da escola para ajudar a
amenizar o fracasso escolar. É necessário se pensar primeiramente no sujeito da
aprendizagem, como ponto de partida para a reformulação da educação brasileira, permeando
também as Políticas Públicas e visitando as famílias e o cotidiano de cada um.
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