SOBRE A AÇÃO DO FMI NO BRASIL O professor Joseph E. Stiglitz (1) é um dos maiores pesquisadores dos efeitos da globalização neoliberal sobre o desenvolvimento dos países do Terceiro Mundo. O professor demonstra em seu livro “A Globalização e seus Malefícios” (2), que a atividade especulativa que acompanhou o processo de globalização neoliberal tem proporcionado grandes lucros às instituições financeiras, através da prática de juros abusivos, da liberalidade operacional e da política de supervalorização da taxa cambial adotadas pelos governos de certos países com o devido apoio do FMI. É um efeito contraditório à recessão e desemprego causados pelo “pacote de austeridade fiscal” (3) que o FMI impõe aos países de todo o mundo e que vem demolindo a economia real dos países do Primeiro-Mundo e emergentes, inclusive da União Européia. O professor dá como exemplo o caso brasileiro de fins de 1998, quando o esforço feito pelo governo brasileiro para manter o câmbio supervalorizado causou um rombo de cerca de 50 bilhões de dólares. Ele afirma que o dinheiro não some no ar e que a maioria dele foi parar no bolso de especuladores, “investidores” segundo os neoliberais, somando um ganho igual à que o governo perdeu. Este rombo nas reservas financeiras e cambiais brasileiras jamais foi investigado. É preciso lembrar que o nosso Banco Central opera no mercado cambial através de bancos “dealers” e de instituições financeiras da “confiança” do Banco. Quando ocorre uma tendência de queda no valor do Dólar e consequente valorização do Real, o BACEN, a fim de sustar a queda, entra comprando dólares a um preço superior ao do mercado, através dos bancos “dealers”. E´, então, que se realizam os grandes lucros. Os bancos vendem para o governo, a preços mais elevados, os dólares que compraram no mercado a preços inferiores. Na hipótese contraria, de impedir a alta do Dólar e a desvalorização do Real, o BACEN entra vendendo dólares a preços inferiores ao do mercado. Em ambos os casos as operações devem envolver quantidades expressivas de divisas para conseguir alterar a tendência de mercado, o que nem sempre é fácil. Em tais oportunidades instituições financeiras privilegiadas realizam lucros fabulosos, em lapsos mínimos de tempo. Essas operações cambiais são danosas ao orçamento publico e à economia real do país e vêm sendo realizadas desde 1998, ora para sustentar o valor do Real , ora para sustentar o valor do Dólar, com valores expressivos, não tão altos como em 1998, mas que atingem uma soma muito elevada que nos permite concluir que o país vem sendo saqueado pelo sistema financeiro, com a participação do governo brasileiro, do BACEN e auxilio do FMI. A política de independência do BACEN adotada pelo governo brasileiro desde 1995 certamente causou sérios prejuízos à economia nacional que, até agora, não foram contabilizados e divulgados pelas autoridades, se é que foram apurdos. Essa idéia de independência do Banco Central é absurda, pois o Banco orienta e fiscaliza das operações dos bancos e das instituições financeiras, fixa as taxas de juros e os volumes de empréstimos para cada setor da economia, como a agropecuária, o comércio, a indústria e as regras das operações financeiras no país, além da política cambial. Ao estabelecer as taxas de juros a serem praticadas no país, o Banco Central afeta diretamente o volume de investimentos, do consumo global na economia, determinando o nível de emprego e de desenvolvimento econômico. Assim sendo, o Banco Central tem de estar a serviço da economia do país, atrelado às necessidades econômicas e sociais do país e à política de desenvolvimento econômico do governo. Caso contrário vai fazer o jogo dos interesses do capital financeiro especulativo nefastos à economia real. A idéia de um Banco Central independente é absurda. O FMI tem orientado os Bancos Centrais do mundo inteiro, inclusive o Banco Central Europeu a se concentrarem no combate à inflação, adotando o pacote de austeridade fiscal que reprime o crescimento e provoca o colapso econômico do país. O FED, banco central dos EUA, não segue a orientação do FMI. Ele se preocupa não apenas com pó controle da inflação, mas com a promoção do emprego e do crescimento econômico, ao contrário dos demais bancos centrais. O programa do FMI contempla exclusivamente a estabilidade monetária de cada país: a criação de empregos e o desenvolvimento econômico estão fora. (4) Conforme informa o professor joseph Stiglitz, os Ministros da Fazenda e diretores dos bancos centrais são recrutados normalmente nos quadros dirigentes dos bancos e instituições financeiras privadas – e é para lá que voltam quando se afastam do serviço público-, exatamente por terem a experiência necessária para um bom desempenho de suas funções nos bancos centrais, que exige uma grande intimidade com a comunidade financeira. Por isso mesmo as decisões dos bancos centrais refletem o pensamento e a ideologia desta comunidade.(5) Atualmente os presidentes dos bancos centrais de 55 países comparecem de 2 em 2 meses à sede do Banco de Compensações Internacionais (BCI) em Basiléia na Suíça, para receberem a instruções das políticas que devem adotar para os bancos e instituições financeiras privadas de seus países. É um poder paralelo que se instituiu no mundo. NOTAS: (1) Do Autor: Premio Nobel de Economia de 2001; foi chefe do Conselho de Consultores Econômicos do governo Clinton; vice-presidente sênior do Banco Mundial, prof. da universidade de Columbia é um dos mais respeitados especialistas sobre o desenvolvimento econômico dos países do Terceiro Mundo nas décadas recentes. (2) De Joseph E. Stiglitz, em “A Globalização e seus Malefícios”, Editora Futura, pg. 245. Edição de 2002. (3) – O pacote de austeridade fiscal é um programa imposto pelo FMI e adotado pelo Banco Central Europeu e pela quase totalidade dos bancos centrais do mundo inteiro, tendo provocado recessão desemprego onde quer que tenha sido aplicado. Inclui políticas de : minimização do Estado, redução dos investimentos públicos e dos gastos correntes, privatizações e desregulamentação da economia, com ênfase nas decisões de Mercado; abertura do mercado interno e do mercado financeiro e monetário aos capitais internacionais; priorização das exportações; arrocho salarial. (4) - “A Globalização e seus Malefícios”,pg.116 (5) - “A Globalização e seus Malefícios”,pg. 46