A busca do "ponto ótimo" nas reservas internacionais

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A busca do ponto ótimo nas reservas internacionais
Com discurso algo diferente de seus antecessores, o ministro da Fazenda, Antonio
Palocci, garantiu que o Brasil vive período bastante tranqüilo na relação com o
Fundo Monetário Internacional – FMI. Escudado nessa premissa, o ministro afirmou
que o país não precisa mais renovar o acordo com o Fundo, admitindo que existe
no governo uma tendência por essa não-renovação. Palocci, no entanto, foi enfático
ao frisar que a decisão definitiva sobre o assunto só será tomada em março.
Duas razões foram apresentadas pelo ministro para justificar tanta tranqüilidade.
Primeiro, o último acordo preparou o Brasil para deixar os contratos com o Fundo.
Depois, os resultados da economia brasileira foram muito melhores que os
prometidos ao Fundo. Palocci fez questão de lembrar que, pela primeira vez em dez
anos, a relação entre dívida pública e PIB caiu de 57,2% em 2003 para 51,8% no
ano passado. Em números absolutos, o superávit primário – descontados os juros –
atingiu R$81,1 bilhões, R$9,6 bilhões acima dos R$71,5 bilhões previstos com o
FMI. A economia nos gastos públicos foi a base dessas conquistas.
O governo Lula está entrando em uma espécie de segundo estágio em sua
estratégia de relacionamento com o FMI. O Banco Central – BC – está, por iniciativa
própria, ativando a recomposição das reservas. Sem esse processo, será difícil
manter o comportamento, cauteloso, mas altivo na relação com o Fundo.
Nos últimos meses, essa recomposição foi gradativa, acelerando nas duas últimas
semanas. As reservas líquidas ajustadas – excluídos os financiamentos do FMI e os
depósitos em bancos domiciliados no exterior, mas com sede no Brasil – na sextafeira antes do Carnaval eram de US$28,53 bilhões. No dia 10, depois das festas de
Momo, essas reservas alcançaram US$29,69 bilhões. Convém lembrar que, no final
de 2004, essas mesmas reservas eram de US$25,32 bilhões.
No mesmo dia em que o dólar no plano internacional revertia a tendência esboçada
depois da divulgação do plano do governo Bush de reduzir o déficit fiscal e voltava
a cair frente ao Euro, no mercado brasileiro o dólar fechava em alta porque o BC
retirou em 10 de fevereiro US$1,3 bilhão do mercado. No dia 5 de fevereiro havia
captado US$1,25 bilhão.
Depois do Carnaval, o BC sinalizou o empenho de manter o dólar no patamar
mínimo de R$2,61, movimento que fortalece, obviamente, o processo de
recomposição das reservas. No mesmo dia 10, o BC vendeu 20 mil contratos de
swap cambial, retirando do mercado US$991 milhões. O apetite era ainda maior
por esses títulos futuros confirmando a impressão de que o mercado acredita que o
dólar vai cair mais. Na queda-de-braço com o BC quanto ao valor do dólar, o
mercado ajudará – e muito – a recomposição das reservas.
Por outro lado, não faz mal nenhum a ninguém se o Brasil renovar o acordo com o
FMI, como, aliás, também insinuam autoridades econômicas. Um estudo da
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP – mostrou que o Brasil é
um dos países com maior volatilidade cambial: entre 2000 e 2004, a média da
diferença entre a cotação mínima e máxima do dólar alcançou 22%. No mesmo
período, o dólar oscilou no México 7,2%. Essas oscilações, que também prejudicam
as exportações, além da valorização do real, indicam certa fragilidade da moeda.
Não foi por outro motivo que o ministro Palocci afirmou que, independente de haver
ou não renovação do acordo com o Fundo, o Brasil continuará defender a criação de
instrumentos preventivos para os países sócios do FMI. Desse modo, a renovação
do acordo representará um colchão suficientemente sólido contra quaisquer
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solavancos da ordem econômica internacional. Sem esquecer, é claro, que o
recurso oferecido pelo FMI é relativamente barato.
Se é atraente, do ponto de vista político, dispensar as visitas de inspeção do FMI, o
presidente Lula e a equipe econômica também sabem que tais visitas têm ombros
largos e, muitas vezes, funcionam como diques de contenção para excessos de
pedidos para gastos com finalidades políticas.
Nas ultimas reuniões internacionais, de Davos até a do G-7, o governo brasileiro
emitiu sinais de que pretende manter relações próximas com o FMI. Vale notar que
parte considerável da queda do risco Brasil também [deveu-se] ao fato de que o
Brasil, em 2004, não sacou nenhuma das parcelas a que tinha direito no FMI e que
somavam mais de US$14 bilhões.
A aparentemente ambígua atitude brasileira frente à renovação do acordo com o
FMI, portanto, tem razão de ser: como qualquer recém-chegado à vida adulta, o
país está avaliando possibilidades, sem romper vínculos protetores. É prudente e
sábia medida.
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Fonte
A BUSCA do ‘ponto ótimo’ nas reservas internacionais. Gazeta Mercantil, São Paulo,
14 fev. 2005. Editorial. [S.l.:s.n.].
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