Expresso, 9 de outubro de 2010 ECONOMIA 09 PREVISÕES Nova recessão a caminho em 2011 FMI e Banco de Portugal coincidem sobre o próximo ano, que vai estar sujeito a diversas tendências negativas Dificilmente a economia portuguesa escapará a uma recessão no próximo ano. Segundo as últimas estimativas disponíveis, divulgadas esta semana pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco de Portugal (BdP), o produto interno bruto (PIB) deverá ter um crescimento nulo em 2011. Mas estas previsões não têm ainda em conta eventuais efeitos recessivos das novas medidas de austeridade apresentadas recentemente pelo Governo. O BdP não tem projeções, incluindo já esta variável, mas o FMI refere que a economia deverá cair 1,4%. Ou seja, Portugal que deverá crescer, este ano, 1,1% ou 1,2%, consoante se considere a estimativa do FMI ou do BdP, vai regressar à recessão em 2011. Ficará a fazer companhia à Grécia na União Europeia. O que implica um novo agravamento do desemprego que, segundo o FMI, deverá subir para 10,9%. E as medidas de austeridade, de acordo com um estudo sobre consolidações orçamentais em economias avançadas ao longo dos últimos 30 anos, feito pelo Fundo, terão um efetivo efeito contracionista. No capítulo dos problemas estruturais, o défice externo deverá descer de 10% para 9,2% do PIB, mas, mesmo assim, será o mais elevado em termos relativos nos 32 países europeus monitorizados pelo FMI. Sobre a consolidação orçamental, a instituição liderada por Carlos Costa não tem dúvidas de que esta é indispensável e que assume “importância primor- dial no atual contexto” em que tem sido o Banco Central Europeu e as suas medidas extraordinárias a garantir o financiamento externo da economia portuguesa. Sublinha ainda que, este ano, se nada fosse feito, o défice ficaria acima da meta de 7,3% definida pelo Governo. Em comunicado, o BdP diz mesmo que “a informação disponível sugere que a execução orçamental de 2010 implicaria, na ausência de medidas temporárias significativas, um défice claramente superior ao objetivo inicialmente traçado”. Uma alusão não especificada à transferência do fundo de pensões da PT para o Estado que garante um encaixe na ordem dos ¤2,6 mil milhões este ano. A perceção negativa sobre a economia portuguesa, apesar do pacote de austeridade, continua a traduzir-se por níveis de juros da dívida pública a 10 anos acima de 6% (à hora de fecho desta edição estava em 6,25%) e com uma probabilidade de incumprimento perto dos 30%. O relatório do FMI veio traçar um cenário mundial para 2011 que não é um mar de rosas para a consolidação orçamental. A Europa vai ser a zona do mundo com o crescimento mais débil (ver mapa ao lado), de, apenas, 1,5%, e vai estar em foco pelas piores razões, nomeadamente a crise da dívida soberana em vários dos seus países, entre os quais Portugal. A agravar este cenário, Ben Davies, responsável da Hinde Capital, uma firma financeira de Londres, junta-lhe duas ‘componen- E AINDA Novo imposto sobre sociedades financeiras BRUXELAS A Comissão Europeia propôs a criação de um imposto sobre as atividades financeiras na União Europeia, a incidir sobre os lucros e dividendos das sociedades financeiras. O comissário europeu responsável pela Fiscalidade, Algirdas Semeta, diz que “há boas razões” para esta medida, já que o sector financeiro foi um dos principais responsáveis pela crise. 1% é o valor em que permanece a taxa de juro de referência na zona euro, por decisão do Banco Central Europeu (BCE). Segundo o presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, a taxa continua a ser “apropriada”. O Banco de Inglaterra também manteve a sua taxa nos 0,5% Tribunal espanhol duvida de cortes salariais AUSTERIDADE O tribunal espanhol Audiência Nacional duvida da constitucionalidade do corte salarial de 5% aos funcionários públicos decidido pelo Governo de José Luís Zapatero, revela o “Expansión” — uma medida similar à anunciada pelo primeiro-ministro, José Sócrates. A confederação Comisiones Obreras é uma das centrais sindicais que interpuseram uma providência cautelar a invocar a inconstitucionalidade da medida, e o tribunal intimou as partes envolvidas a apresentarem as suas alegações. tes’ recentes que poderão toldar, ainda mais, o clima em 2011. Em declarações ao Expresso, Davies fala do risco de uma escalada de “guerras de divisas” entre as grandes potências económicas conjugada com o o reacender do quantitative easing (aumento da massa monetária) por parte da Reserva Federal americana, do Banco do Japão e do Banco de Inglaterra (ver página 8). João Silvestre e Jorge Nascimento Rodrigues [email protected] A economia mundial vai abrandar em 2011, com a taxa de crescimento a diminuir de 4,8% este ano para 4,2% no próximo. Mas esta média global oculta diferenças importantes no andamento nas diversas regiões. A zona euro vai concentrar os ritmos mais baixos, com recessões previstas para a Grécia e eventualmente Portugal. A Ásia, nomeadamente a China e a Índia, continuarão a ter as taxas de crescimento mais elevadas. No entanto, as desacelerações mais importantes vão abranger os ‘tigres asiáticos’ e o Brasil.