ATIVIDADES EXPERIMENTAIS PRÁTICAS NO ENSINO DE EVOLUÇÃO: UM OLHAR DIFERENCIAL PARA AS AULAS DE CIÊNCIAS Keiciane Canabarro Drehmer Marques 1 Resumo: O presente trabalho buscou abordar o conteúdo de evolução aliando teoria à prática. Essa proposta foi realizada com duas turmas de sexto ano do Ensino Fundamental Anos Finais, no componente curricular de Ciências da Natureza. As atividades foram realizadas em três momentos: o primeiro momento contou com a explanação teórica do conteúdo de evolução suas teorias e evidências, na sala de aula, utilizando como recursos: a lousa, vídeos e animações. O segundo e terceiro momento foram com atividades experimentais e ocorreram no laboratório de ciências do colégio. O segundo momento foi por meio de uma atividade prática, em que os estudantes simularam o processo de seleção natural agindo como aves, utilizando diferentes formatos de bicos e diversos alimentos, disputando assim o recurso alimentar. No terceiro momento cada estudante confeccionou um modelo de fóssil, para compreender o processo de fossilização, suas impressões e as evidências da evolução por meio desses. As duas atividades práticas realizadas utilizam-se de materiais de baixo custo e fácil acesso, sendo possível executá-las em outros ambientes além do laboratório. A escolha de uma abordagem teórico-prática no ensino de evolução foi devido às inúmeras incompreensões e confusões que ocorrem nesse conteúdo. O conteúdo de evolução é um dos eixos norteadores do ensino de ciências e de biologia, e por isso deve ser bem compreendido pelos educandos. Sugere-se que as atividades práticas permitam uma maior interação entre os estudantes, despertem o interesse e auxiliem na compreensão dos diferentes processos evolutivos. A necessidade de diferenciar o ensino é iminente e as atividades experimentais práticas auxiliam nesse processo, tornando as aulas mais dinâmicas e atrativas. Palavras-chave: Ensino de evolução; Atividades práticas; Ciências da Natureza. 1 Introdução A busca por metodologias diversificadas é de suma importância para melhorarmos a aprendizagem dos nossos estudantes. Nesse sentido o componente curricular de Ciências da Natureza apresenta uma grande variedade de recursos diferenciados para atrair os discentes, e uma das possibilidades é o uso de atividade práticas. Segundo Oliveira e Trindade (2013), as atividades práticas podem ser utilizadas com diferentes finalidades, sendo para estimular a participação, verificação de fenômenos, despertar o interesse pelo conhecimento científico e buscando aumentar o processo de ensino-aprendizagem no componente de Ciências. 1 Licenciada em Ciências Biológicas pela (UFSM), Mestre em Educação em Ciências: Químicas da Vida e Saúde (UFSM); Professora de Ciências da Natureza e Biologia no Colégio Marista Santa Maria. E-mail: [email protected] 1 Para Maciel (2007), uma dificuldade no Ensino de Ciências é que há muita preocupação em “o que” será ensinado e não “como” será ensinado. As metodologias dentro da área de Ciências da Natureza podem ser diversificadas, uma vez que essa área permite a intervenção de diferentes propostas metodológicas sempre buscando atrair os estudantes. Porém, conforme Maciel (2007) coloca, ainda existe uma grande preocupação em vencer os conteúdos sem considerar a forma com que os mesmos serão abordados com os educandos. O grupo de estudantes presentes nas salas de aula é denominado geração Z (zapear/zap), que faz tudo de maneira mais muito rápida, são dinâmicos, são nativos digitais, imediatistas e críticos (SIQUEIRA, 2012). A característica mais marcante desse grupo de jovens é que estão sempre conectados. Sendo assim, não há como seguir as mesmas metodologias, e a necessidade de inovação nas aulas é urgente. Diante das possibilidades de atividades práticas no ensino de ciências abordaremos nesse trabalho as práticas voltadas ao conteúdo de evolução, uma vez que esse conteúdo é de substancial importância por ser uma temática norteadora que sustenta o ensino de Ciências e de Biologia. O conteúdo referente à evolução deve ser muito bem compreendido pelos educandos devido a sua conexão com tantos outros conteúdos do componente curricular. Mesmo a evolução biológica tendo um papel unificador das Ciências Biológicas, os alunos rejeitam ou apresentam dificuldades com conceitos básicos sobre esse assunto (OLIVEIRA, 2009). Abordaremos neste artigo possibilidades de aulas teórico-práticas relacionadas com o ensino de evolução, sobre os processos de seleção natural e fossilização. O ensino de evolução acontece primeiramente no Ensino Fundamental II anos finais, no componente curricular de Ciências da Natureza e volta a ser estudado no Ensino Médio nos componentes de Biologia e História. Os objetivos gerais das atividades práticas desenvolvidas foram aliar a teoria às práticas no ensino de evolução na tentativa de uma melhor compreensão dos processos de seleção natural e fossilização buscando suprir eventuais dificuldades e erros conceituais. Além disso, procuramos trabalhar de maneira mais dinâmica buscando atrair os educandos no ensino de evolução. Essas atividades permitem que os estudantes tenham aulas práticas de ciências para auxiliando no processo de compreensão dos conteúdos, possibilita trabalhos em grupos, propicia momentos de interações, trocas e diálogos entre os educandos, além de incentivar a investigação científica. 2 2 Desenvolvimento As atividades descritas neste trabalho são referentes a um relato de experiência realizado, com duas turmas do 6º ano, do Ensino Fundamental Anos Finais no componente curricular de Ciências da Natureza, no município de Santa Maria. Para a realização das atividades procuramos aliar a teoria e prática como uma tentativa de atrair os discentes sobre a temática de evolução. Em um primeiro momento, na sala de aula, realizamos a explanação de vídeos e animações, além do embasamento teórico acerca das teorias evolutivas e evidências da evolução, esse momento teve a duração de duas horas aulas. Depois da realização do momento teórico partimos para as atividades práticas envolvendo os conteúdos estudados. Cabe salientar que o ensino de evolução muitas vezes gera dúvidas e até mesmo entendimentos errôneos por parte dos educandos, desta forma as atividades experimentais podem auxiliar minimizando os entendimentos equivocados. As atividades práticas foram realizadas no laboratório de ciências do colégio com o auxilio da professora do laboratório com as duas turmas, porém cada turma foi em seu período de aula. Como foram realizadas duas atividades o segundo momento descreverá a atividade de seleção natural e o terceiro momento a atividade de construção do modelo fóssil. No segundo momento abordamos as diferenças entre as aves e posteriormente realizamos a simulação do processo da seleção natural. A turma foi divida em grupos pequenos de seis alunos, cada grupo deveria observar as aves taxidermizadas (empalhadas) em cima da bancada e discutir com o grupo as diferenças entre elas. Em cada bancada foram selecionadas aves com diferenças anatômicas como tamanho, forma do bico, coloração das penas, tamanho e formato das patas e garras entre outras diferenças. O objetivo principal é que os discentes discutissem o porquê dessas diferenças, relacionando com hábitos de vida e alimentação de cada espécime, e o processo de evolução por seleção natural. Ao final deste momento, os estudantes anotaram suas conclusões conforme na Figura 1. 3 Figura 1: Estudantes do 6º ano durante as análises e interpretações dos estudantes a partir da observação de aves taxidermizadas. Fonte: Arquivo do colégio liberado para uso Após a observação das aves, realizamos a prática que simulava a seleção natural, conforme mostra a Figura 2. Em cima de cada bancada estava disposto todo material necessário para que os estudantes participassem. Dentre os materiais utilizados para a realização da prática de seleção natural foram: palitos de churrasco, pinças, colheres pequenas, garfos pequenos, prendedores de roupas, palitos de picolé e colheres de café para simular a diversidade dos bicos das aves. Utilizamos também alguns grãos, sementes para simular os diferentes alimentos disponíveis, dentre os alimentos: amendoim, canela em pau, pinhão, semente de girassol, arroz, feijão e milho de pipoca. Figura 2: Estudantes do 6º ano durante o segundo momento de aula prática, simulando o processo de seleção natural. 4 Fonte: Arquivo do colégio liberado para uso Nessa atividade cada integrante do grupo deveria escolher um tipo de pegador, que simularia o bico de uma ave. Uma vez que todos os estudantes haviam escolhido seu pegador iniciávamos o processo de seleção natural. Solicitamos que todos erguessem as mãos com os pegadores para cima, estimulamos o tempo de 35 segundos para coletar os alimentos, sendo que eram avisados com um sinal para começar e terminar todos ao mesmo tempo, a escolha do tempo determinado foi com o intuito de aumentar a competição entre a coleta de alimento das “aves”. Após a coleta desses alimentos os alunos deveriam contar quantos grãos haviam capturado na rodada e anotar o tipo de pegador que estava utilizando e o tipo e quantidades de alimentos capturados. Realizamos essa atividade de diferentes maneiras: solicitando a troca dos pegadores entre eles, ocorreram rodadas em que um alimento valia mais do que outro, em outras etapas determinado alimento era impalatável, simulamos a situação de todos competindo pelo mesmo alimento, ou seja, há diversas formas de realizar essa prática escolar, dependendo do objetivo da aula. O terceiro momento experimental foi à construção de modelos fósseis. Para realização dessa atividade necessitamos de materiais como gesso em pó, argila, pote, um pedaço de cartolina, uma folha de papel e um modelo para ser o fóssil, esse poderia ser uma concha, uma folha de um vegetal entre outras possibilidades. Com esses materiais cada estudante construiu um modelo de fóssil conforme pode ser visualizado na Figura 3. Figura 3: Construção dos modelos fósseis pelos estudantes. Fonte: arquivo do colégio liberado para uso 5 Os estudantes podiam fazer seu modelo fóssil com folhas dos vegetais e/ou conchas. Para realizar a atividade primeiramente era necessário posicionar a folha de papel sobre a bancada e acrescentaram a argila amassando essa, depois colocar o material molde sobre ela e delimitar a argila com um círculo de cartolina, para finalizar acrescentarmos a mistura feita com gesso em pó e água em cima do molde. Após alguns dias o gesso secou totalmente e os educandos retiraram a argila ficando as impressões do molde fóssil no gesso. Com essa atividade de simular o processo de fossilização, mostramos à importância dos fósseis, qual a ligação desses com o ensino de evolução, evidências evolutivas, as extinções, diferenças anatômicas entre os seres, as possibilidades de traçar ancestralidades, explicamos as adaptações e modificações ao longo dos milhares de anos que ocorrem diferentemente em todas as espécies. As durações das práticas foram de duas horas aulas e após a realização dessas os educandos tinham algumas questões norteadoras para discutirem com o grupo e responderem acerca das atividades realizadas. As questões envolviam perguntas sobre o processo de seleção natural, conceitos de evolução e fossilização. As atividades desenvolvidas permitiram a interação dos estudantes, questionamentos mais frequentes que nas aulas expositivas, além de observarmos discussões e formulações de hipóteses, sobre os processos evolutivos. As realizações das atividades experimentais auxiliaram na compreensão do ensino da evolução e permitiram uma aula diferenciada motivando os discentes. 4 Considerações finais Na área de Ciências da Natureza existe uma grande variedade de recursos didáticos que podem ser utilizados na sala de aula buscando maior envolvimento e interesse dos estudantes. Nesse sentido as utilizações de aulas práticas experimentais desempenham um papel muito relevante no ensino de Ciências. É necessário buscar formas diferenciadas para afastar a dificuldades dos alunos. Conforme destacam Carmo e Schimin (2010): Com isso, a importância das aulas práticas/experimentais, está ligada diretamente ao desenvolvimento das capacidades, das habilidades, dos interesses dos alunos e também no envolvimento dos educandos em investigações científicas bem como na capacidade de resolver problemas. Os educandos participaram, questionaram e interagiram com a prática, tornando-se sujeitos de suas descobertas (p. 15). 6 Cabe salientar que não são todas as escolas que apresentam laboratório de ciências, animais taxidermizados e recursos para realização de atividades experimentais. Portanto para realizar as práticas descritas nesse trabalho é possível adaptar com a realidade de cada escola. O docente do componente curricular de Ciências pode realizar a prática de seleção natural na própria sala de aula, os materiais podem ser adaptados utilizando tesoura, canetas ou lápis, prendedores entre outros para usar de bicos. Os alimentos podem ser folhas e diferentes frutas que tenham no pátio ou próximo da escola ou alimentos como feijão, arroz, massa, milho, sagu comprados uma vez e guardados para os anos seguintes. Para realização da prática do modelo fóssil pode ser utilizado além de gesso, cimento que funcionará igualmente. É evidente que existem inúmeras dificuldades para realização de atividades experimentais, conforme salientam Carmo e Schimin (2010, p. 5) “as aulas práticas/experimentais são dificultadas pelo elevado número de alunos por turma, falta de estrutura e materiais adequados e até a deficiente formação do professor, porém tudo isso não pode levar a um barateamento do ensino”. Contudo essas dificuldades não podem servir como barreiras impedido a realização de atividades experimentais, cabe ao docente tentar adaptar de acordo com suas realidades. A utilização de aulas diferenciadas como atividades práticas, auxiliam no processo de aprendizagem, além de motivar os estudantes . Vale destacar também que atividades experimentais permite discussões, trabalhos em grupos com diversas trocas. A utilização dos momentos teórico-práticos auxiliaram na aprendizagem dos estudantes, pelo fato desses momentos complementarem-se, além de contarmos com a maior parte das dificuldades superadas, assim como praticamente não ocorreram erros conceituais. Em suma, precisamos investir em aulas diferenciais, em metodologias diversificadas almejando um ensino de Ciências de maior qualidade e atrativo aos educandos. Referências CARMO, S.; SCHIMIN, E. S. O ensino da biologia através da experimentação. Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/1085-4.pdf, Acesso em: 22 setembro de 2015. MACIEL, M. L. et al. Repensando as aulas práticas no ensino de ciências: uma experiência interdisciplinar. Anais do II Encontro Nacional de Ensino de Biologia. Uberlândia. 2007. OLIVEIRA, M. C. A.; TRINDADE, G. S.. Análise de artigos apresentados nos Encontros Nacionais de Ensino de Biologia (ENEBIO) sobre o tema aulas práticas experimentais. In: IX 7 Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências, 2013, Águas de Lindóia - SP. Anais do IX ENPEC, 2013. OLIVEIRA, G. S. Aceitação/rejeição da Evolução Biológica: atitudes de alunos da Educação Básica. 2009. 162f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009. SIQUEIRA, R. N. Métodos de ensino adequados para o ensino da geração Z, uma visão dos discentes. Artigo curso de especialização em administração da universidade federal de Mato Grosso. 8