DISCALCULIA – DIFICULDA DE APRENDER MATEMÁTICA PODE SER UM DISTÚRBIO Carlos Alberto Stampa Machado1 RESUMO Este estudo tem como objetivo uma revisão atualizada sobre o tema de mau desempenho escolar para profissionais da área de educação. Aborda aspectos atuais de educação, de aprendizagem e das principais condições envolvidas em mau desempenho escolar. Traz alguns fatores de mau desempenho escolar, em especial da matemática. A matemática é uma ferramenta essencial em nossas vidas, para muitos, sinais de “mais”, “menos”, “maior”, podem parecer um bicho de sete cabeças. Porém, muitas vezes, o problema não está na criança, mas nos professores ou na metodologia da escola que não se adapta ao aluno. Estudos mostram que o desenvolvimento da criança em termos quantitativos é adquirido gradativamente, mas em alguns casos, a dificuldade pode ser apenas da pessoa, tratando-se de um transtorno conhecido como discalculia, e não comodismo ou preguiça como alguns podem pensar. Palavras chaves: Aprendizagem; Matemática; Docentes; Desempenho Escolar; Discalculia. ABSTRACT This study AIMS an updated review about the poor school performance theme for education professionals. Addresses current issues of education, learning and the main conditions Involved in poor school performance. Brings some poor school performance factors, Especially mathematics. Mathematics is an essential tool in our lives is many signs of "more," "less," "higher," may seem like a big deal. But Often the problem is not the children but the teachers or school methodology que does not fit the student. Studies show que children's development in quantitative terms is acquired Gradually, but in some cases, the difficulty may 1 Professor da Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro- SEEDUC, Petrópolis/Rio de Janeiro/ Brasil. E-mail:[email protected] just be the person, in the case of a disorder known the dyscalculia, not indulgence or laziness of some may think. Key words: learning; Mathematics; teachers; School performance; Dyscalculia. 1. INTRODUÇÃO A educação formal no mundo moderno tem importante valor sociocultural. O bom desempenho escolar é indicativo de futuro sucesso social. Desde o início do século, já havia a preocupação em se entender por que certas crianças tinham dificuldade em aprender. Nos últimos anos, o acesso à escola tornou-se universal e, consequentemente, as queixas de mau desempenho escolar e dificuldade em aprender aumentaram. No Brasil, a gratuidade da educação fundamental é garantida por lei para crianças dos 4 aos 17 anos de idade , através de instituições públicas. Desde a última década, a maioria das crianças brasileiras está matriculada no ensino fundamental. O acesso à escola deixou de ser restrito, porém a "qualidade de educação" e a evasão escolar ainda são problemas a serem resolvidos. Vários estudos mostram que em torno de 15% a 20% das crianças no início da escolarização apresentam dificuldade em aprender e, logo, mau desempenho escolar. Essas estimativas podem chegar a 30% - 50% se forem analisados os primeiros seis anos de escolaridade. A matemática faz parte do cotidiano de todas as pessoas. Ela está no tempo que passamos no espaço que ocupamos, na distância que percorremos e em todas as referências de contagens e comparações que realizamos junto à sociedade. Todos esses conceitos devem ser adquiridos na infância e aperfeiçoados durante o período escolar. Quando isso não acontece, encontramos um distúrbio de aprendizagem: a discalculia. 2. MAU DESEMPENHO ESCOLAR (MDE) O mau desempenho escolar (MDE) pode ser definido como um rendimento escolar abaixo do esperado para determinada idade, habilidades cognitivas e escolaridade. O MDE deve ser visto como um sintoma relacionado a várias etiologias (é o estudo ou ciência das causas). Ressalta-se ainda que, independentemente da etiologia, o MDE resulta em problemas emocionais (baixa autoestima, desmotivação) e preocupação familiar, além de repercussão em diversas esferas: individuais, familiares, escolares e sociais. Diante da criança com MDE, é fundamental buscar a causa e, consequentemente, traçar o melhor tratamento para cada indivíduo. As causas são variadas, destacando-se dois grupos: fatores extrínsecos (ambientais) ou intrínsecos (individuais). Neste contexto é importante a distinção entre dificuldade escolar (DE) e transtorno de aprendizagem (TA). A DE relaciona-se com problemas de origem pedagógica e/ou sociocultural. Não há qualquer envolvimento orgânico. É extrínseco ao indivíduo. O TA relaciona-se com problemas na aquisição e desenvolvimento de funções cerebrais envolvidas no ato de aprender, tais como dislexia, discalculia e transtorno da escrita. Além dos transtornos específicos de aprendizagem, citam-se o transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) e transtorno de desenvolvimento de coordenação (TDC) como entidades relacionadas ao mau desempenho escolar. Todas essas condições têm base neurobiológica, ou seja, é intrínseca ao indivíduo. Salienta-se ainda que o MDE possa ter mais de uma causa, sendo uma confluência de fatores (ex: filhos de mães alcoolistas expostos a álcool durante a gestação em meio sociocultural pouco favorável). 3. DIFILCULDADE ESCOLAR Entre as causas de dificuldade escolar, citam-se fatores predominantemente extrínsecos ao indivíduo, sem comprometimento orgânico, tais como: inadequação pedagógica e condições socioculturais desfavoráveis ou pouco estimuladoras. Causas emocionais, geralmente secundárias a fatores ambientais como desmotivação, baixa autoestima e desinteresse, devem ser consideradas. Portanto, para uma aprendizagem de "sucesso" são necessárias várias habilidades cognitivas associadas a oportunidades adequadas. Ambientes enriquecidos de experiências sensoriais são fundamentais, sendo que a privação pode levar a prejuízos. Ambientes familiares pouco estimuladores e com pouca interação sociolinguística podem levar a criança ao não desenvolvimento de suas aptidões e habilidades. É bem estabelecido na literatura que condições desfavoráveis socioeconômico-culturais influenciam negativamente no desempenho cognitivo e acadêmico, ocasionam maior índice de mau desempenho e insucesso escolar. Este grupo de crianças com vulnerabilidade social é considerado de risco para dificuldade escolar (DE) e também, por alguns autores, para transtorno de aprendizagem (TA). O incentivo familiar à educação tem papel primordial. Em determinadas culturas, como na oriental, é extremamente valorizada a educação formal. No Brasil, a etnia oriental apresenta consistentemente os mais altos níveis educacionais em relação a todos os outros grupos étnicos, em todas as faixas de renda, sobretudo na de renda inferior. Dados também revelam que mães com maior instrução escolar têm filhos com maior nível de escolaridade. Existe forte correlação entre boas escolas, disponibilidade de recursos e progresso escolar. A má qualidade da educação afeta diretamente as crianças mais vulneráveis provenientes de condições socioeconômico-culturais mais precárias. A escola (educação formal) deveria ter o papel de compensar as diferenças, diminuindo a desigualdade social, capacitando esses indivíduos. Vários questionamentos são realizados em relação aos métodos de ensino atuais. O melhor método é aquele que proporciona na maioria dos indivíduos o aperfeiçoamento de suas habilidades e o desenvolvimento de suas potencialidades. É importante salientar que algumas crianças necessitam de estratégias de ensino individualizadas e mediadas ativamente. Um importante problema atual, em alguns grupos sociais, são as expectativas pedagógicas acima das capacidades, habilidades e interesses da criança. Expor a criança a situações de aprendizagem extremamente difíceis ou muito fáceis (além ou aquém da sua capacidade) levam a desinteresse, desmotivação e distração. Tal situação tem graves consequências, acarretando frustração, fracasso, insucesso, baixa autoestima, além de estresse familiar e escolar. 4. TRANSTORNO ESPECÍFICO DE APRENDIZAGEM (TA) O transtorno de aprendizagem (TA) é definido como a situação na qual os "resultados do indivíduo em testes padronizados e individualmente administrados de leitura, matemática ou expressão escrita estão substancialmente abaixo do esperado para sua idade, escolarização e nível de inteligência. Os problemas de aprendizagem interferem significativamente no rendimento escolar e nas atividades de vida diária que exigem habilidades de leitura, matemática ou escrita”. Portanto, considera-se o TA como uma dificuldade cognitiva intrínseca que leva a rendimento acadêmico aquém do esperado para potencial intelectual, escolaridade e motivação. Para a criança ter diagnóstico de TA, ela deve apresentar nível cognitivo normal, ausência de deficiências sensoriais (déficits auditivos e/ou visuais), ajuste emocional e acesso ao ensino adequado. Alguns autores enfatizam que não é possível classificar uma criança como portadora de TA até que se faça, pelo menos, uma tentativa adequada de instrução. Os TAs acometem 5% a 17% da população e podem perdurar por toda vida, trazendo prejuízos acadêmicos, sociais e emocionais. Os TAs podem ser classificados de acordo com a área educacional em: transtornos da matemática, da expressão escrita e da leitura9. No transtorno da matemática (ou discalculia do desenvolvimento), a capacidade matemática, individualmente testada, encontra-se abaixo do esperado para idade cronológica, inteligência e escolaridade. Corresponde a 6% dos TAs. Ocorre igualmente em ambos os gêneros, diferente dos outros TAs. Algumas situações específicas podem associar-se a ela como: epilepsia, Síndrome de Turner, TDA/H, síndrome alcoólica fetal, fenilcetonúria tratada, entre outros. No transtorno da expressão escrita, a habilidade de escrita, individualmente testada, apresenta-se acentuadamente abaixo do esperado para idade cronológica, inteligência e escolaridade. Corresponde a 8% a 15% dos TAs e compromete todas as áreas acadêmicas. Pode ser resultado de alterações motoras, de percepção espacial, de linguagem, além de memória e atenção. Pode comprometer a grafia (disgrafia) e/ou a ortografia e produção de texto (disortografia). 5. TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO/HIPERATIVIDADE (TDA/H) O TDA/H é uma causa comum de mau desempenho escolar. O TDA/H, sendo passível de tratamento específico e com bons resultados, sempre merece ser investigado. O TDA/H tem como característica essencial o padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade, mais frequentes e severos em relação aos seus pares. Os sintomas iniciam-se por volta dos 3 a 7 anos, e persiste na adolescência e vida adulta em mais da metade dos casos. Em relação à etiologia, o TDA/H apresenta base neurobiológica e forte hereditariedade. Evidências indicam fatores genéticos e neurológicos como as principais causas prováveis, reduzindo bastante o papel de fatores puramente sociais. Entretanto, ressalta-se que os fatores sociais podem contribuir no desenvolvimento de comorbidades associadas, e não do TDA/H. 6. O QUE É DISCALCULIA A palavra discalculia vem do grego (dis, mal) e do Latin (calculare, contar) formando: contando mal. Essa palavra calculare vem, por sua vez, de cálculo, que significa o seixo ou um dos contadores em um ábaco. A discalculia é um distúrbio neuropsicológico caracterizado pela dificuldade significativa no desenvolvimento de habilidades relacionadas à matemática, desde que não sejam ocasionadas por deficiência mental, auditiva ou visual, nem por falta ou precariedade de escolarização. Crianças que tem discalculia são incapazes de identificar sinais matemáticos, montar operações, classificar números, entender princípios de medida, seguir sequências, compreender conceitos matemáticos, relacionar o valor de moedas entre outros. Além de outras limitações, tais como: a introspecção espacial, confusão de noções de tempo, memória pobre, e problemas de ortografia; há indicações de que pode ser congênito ou hereditário. Pesquisas realizadas em vários países segundo a Wikipédia (2007) apontam que cerca de 10 a 15% da população mundial é disléxica, cerca de 60% das crianças disléxicas possuem dificuldades com números e as relações entre eles, podendo afetar pessoas de qualquer classe social e de qualquer nível de Quociente de Inteligência (QI). A discalculia já pode ser notada a partir da pré-escola, quando a criança tende a ter dificuldades em compreender os termos já utilizados, como: igual, diferente, porém somente após a introdução de símbolos e conceitos mais específicos é que o problema se acentua e sim já pode ser diagnosticado. Quando não reconhecido a tempo, pode dificultar o desenvolvimento da criança, resultando no medo, comportamentos inadequados, agressividade, apatia e até o desinteresse. 6.1. Tipos de discalculia. Inicialmente a discalculia foi estudada por Gestsmann em 1924, por este motivo teve sua primeira nomenclatura como sendo a Síndrome de Gestsmann. Somente em 1974, o estudioso Dr. Ladislav Kosc, descreveu este distúrbio que causa dificuldade na aprendizagem da matemática, decorrente de uma falha na rede transmissora de impulsos nervosos, que conduzem as informações químicas através dos neurônios, essa falha ocorre na parte superior do cérebro que é a área responsável pelo reconhecimento de símbolos. Oficialmente este distúrbio passou a se chamar discalculia. Segundo JOHNSON e MYKLEBUST, terapeutas de crianças com desordens e fracassos em aritmética, existem alguns distúrbios que podem interferir nesta aprendizagem: Distúrbios de memória auditiva: - Dificuldade em ouvir os enunciados oralmente, de guardar os fatos, dificultando a resolução de problemas. - Reorganização auditiva: reconhece o número quando ouve, mas tem dificuldade de lembrar com rapidez. Distúrbios de percepção visual: - A criança não se lembra da aparência dos números, confundindo-os. Distúrbios de escrita: - Crianças com disgrafia têm dificuldade de escrever letras e números. As dificuldades com a Linguagem Matemática são muito variadas, podendo evidenciar-se já no aprendizado aritmético básico como, mais tarde, na elaboração do pensamento matemático mais avançado. Embora essas dificuldades possam manifestar-se sem nenhuma inabilidade em leitura, há outras que são decorrentes do processamento lógico-matemático da linguagem lida ou ouvida. Também existem dificuldades advindas da imprecisa percepção de tempo e espaço, como na apreensão e no processamento de fatos matemáticos, em sua devida ordem. Ladislav Kosc descreveu seis tipos de discalculia: a discalculia léxica, discalculia verbal, discalculia gráfica, discalculia operacional, discalculia practognóstica e discalculia ideognóstica. Verbal: resistência em nomear números, termos e símbolos; Léxica: problemas para ler os símbolos matemáticos; Practognóstica: dificuldade para enumerar, comparar e/ou manipular objetos ou imagens matemáticas; Gráfica: dificuldade em escrever símbolos matemáticos; Operacional: resistência para executar operações e cálculo numéricos; Ideognóstica: dificuldade para mentalizar as operações e para compreender os conceitos matemáticos. 6.2. Como é feito o diagnóstico de discalculia? O diagnóstico de discalculia exige a realização de uma avaliação clinica com o objetivo de determinar a presença de inteligência normal, defasagem de pelo menos dois anos no rendimento escolar, além da ausência de outros fatores neurológicos, pedagógicos ou sócio emocional que possam estar contribuindo de forma decisiva para o problema. A suspeita diagnóstica de discalculia do desenvolvimento pode ser levantada por qualquer profissional das áreas de saúde ou educação. Mas o diagnóstico exige, na maioria das vezes, a concorrência de especialistas de diversas áreas. Os profissionais da medicina, por aceitação, podem contribuir para a exclusão de problemas neurossensoriais que possam estar prejudicando a aprendizagem. As profissionais de psicologia contribuem com a avaliação da inteligência, do rendimento escolar, bem como avaliação neuropsicológica etc. Para o professor diagnosticar a discalculia em seu aluno, é fundamental observar a trajetória da aprendizagem dele. Ficar atento se, com frequência, os símbolos são escritos incorretamente, se há incapacidade em operar com quantidades numéricas, se não reconhece os sinais das operações. Dificuldade na leitura dos números e em mentalizar as contas também são sinais da dislexia. E ainda As crianças que apresentam este quadro, geralmente têm as seguintes características: 1- Falhas no pensamento operatório: Necessidade absoluta de concretizar as operações; Impossibilidade de realizar cálculo mental; Falta da compreensão dos conceitos das operações fundamentais da matemática; Dificuldade no manejo da reversibilidade das operações; Dificuldade para estabelecer as operações para resolução de problemas; 2- Dificuldades espaço – temporais: Inversão na escrita dos numerais; Inversão na posição dos algarismos; Falha na ordenação de colunas para montar o algoritmo; Operar em ordem inversa (da esquerda para a direita); Dificuldades para reconhecer e discriminar figuras geométricas, 3- Déficit de atenção: Pular passos de uma operação; Errar sinais das operações; Repetir um ou mais números numa série numérica; Intercalar um ou mais números não pertencente à série (ruptura da escala); 4- Transtornos das estruturas operacionais: Falta de noção do valor posicional do algarismo e a compreensão dos agrupamentos na base decimal; Na multiplicação, mal encolunamento dos subprodutos; Começar a operação multiplicando o primeiro número da esquerda do multiplicador; Falhas no algoritmo da divisão; 5- Dificuldades na Resolução de problemas a) Quanto ao enunciado do problema: Dificuldades de leitura; Não entende a relação do enunciado com a pergunta do problema. b) Quanto ao raciocínio: Dificuldade de representação mental não permitindo estabelecer as relações necessárias para a resolução do problema; c) Quanto ao mecanismo operacional: Falhas nas técnicas operatórias; Dificuldade de resolver a equação, ou sistema de equações montado para resolver o problema. Essas dificuldades são comuns ao discalcúlico e a falta da percepção lógica faz com que cometam os mesmos erros constantemente. 6.3. Causas da discalculia. Estudos apontam que a discalculia pode ser causada por vários elementos que abrangem áreas de estudo, como a Neurologia, a Linguística, a Psicológica, a Genética e a Pedagógica. Neurológica (imaturidade): O desenvolvimento neurológico implica na maturação progressiva através das modificações do sistema nervoso e se caracteriza pelas diferentes funções, que vão se estabelecendo ordenada, progressiva e cronologicamente. Cada nível etário de maturação permite desenvolver novas funções (percepção, espaço temporal, lateralidade, ritmo etc.), através de experiências que produzam estímulos adequados. São observados, a seguir, três graus de imaturidade: a) Leve – em que o discalcúlico reage favoravelmente à intervenção terapêutica; b) Médio – configura o quadro da maioria dos que apresentam dificuldades específicas em matemática; c) Limite – ocorre quando há lesão neurológica, gerada por diversos traumatismos, provocando um déficit intelectual. Linguística: Segundo Cazenave (1972 apud DIAS, 2007), o discalcúlico apresenta deficiente elaboração do pensamento devido às dificuldades no processo de interiorização da linguagem, sendo necessário que o indivíduo desenvolva o nível aceita10tico para que possa dominar a matemática. O simbolismo numérico surge a partir da correspondência número-quantidade, por isso requer adequado desenvolvimento da função simbólica. Os alunos com déficit nesta área não correspondem símbolo oral, quantidade e sua representação gráfica. Para Cazenave (1972 apud DIAS, 2007) o estudante deve entender as palavras e aceita-las em sentido aritmético, caso não compreenda o que está lendo, não conseguirá resolver o problema. A matemática somente será viável se integrada com habilidades sólidas de linguagem, pois não seria possível desenvolver uma destas áreas de maneira isolada. Psicológica: O emocional interfere no controle de determinadas funções como memória, atenção e percepção, assim sendo, Indivíduos com alguma alteração psíquica são mais propensos a apresentar transtornos de aprendizagem. Genética: Existem explicações, mas não comprovação, da determinação do “gen” responsável por transmitir a herança dos transtornos de cálculo, porém há significativos registros de antecedentes familiares que também apresentaram dificuldades em matemática. Pedagógica: Está diretamente vinculada aos fenômenos que se sucedem no processo de aprendizagem. 6.4. Qual a frequência da discalculia? A frequência de ocorrência da discalculia do desenvolvimento na população em idade escolar é muito semelhante à da dislexia do desenvolvimento ou dificuldades para aprendizagem da leitura. Não existem estudos realizados no Brasil, mas em diversos países do Mundo a prevalência oscila entre 3% e 6%. 6.5. Por que o diagnóstico de discalculia é importante? Além de ser muito frequente, a discalculia compromete o desenvolvimento do indivíduo de diversas formas: 1) Contribui para a redução da escolarização profissional e da qualificação profissional; 2) Afeta o bem-estar do indivíduo e da família, causando estresse, desmoralizando a criança, diminuído sua autoestima, a motivação para o estudo e podendo ser um fator determinante para formas de transtornos mentais; 3) A frustração associada às dificuldades crônicas de aprendizagem associa-se ao surgimento de comportamentos desadaptativos do tipo desobediência, agressividade e comportamentos antissociais. De um modo geral, a educação matemática insuficiente compromete o funcionamento do indivíduo na vida cotidiana e social, sendo um dos principais fatores associados com desemprego e renda inferior. 6.6. Por que é importante reconhecer o tipo de discalculia apresentado pela criança? A importância da caracterização do perfil neuropsicológico de discalculia se relaciona às intervenções pedagógicas. Se a dificuldade é mais verbal, os déficits podem ser compensados através de estratégias de estimação não simbólica. Se o déficit é mais espacial, o ensino deve se basear em estratégias verbais. Caso, entretanto, haja evidências de um comprometimento do próprio conceito de número a situação é mais complexa. Há pouca coisa que se possa fazer por estes indivíduos. Felizmente, estes casos são raros. Mesmo nos casos de déficits no próprio conceito de numerosidade o reconhecimento da natureza do problema é o primeiro passo para ajudar o indivíduo, a família e os educadores a aceita-los. 7. CONTAR NOS DEDOS É NORMAL? Não, contar nos dedos não é anormal. Todos os seres humanos aprendem a contar usando os dedos. Crianças em idade pré-escolar que usam os dedos de forma eficiente para contar e realizar operações tem desempenho superior em aritmética na idade escolar. O treinamento do uso dos dedos na idade pré-escolar promove a aprendizagem da aritmética. As crianças deixam de contar sistematicamente nos dedos na transição entre a 2ª e a 3ª série, quando automatizam a tabuada. Esporadicamente, as crianças ainda lançam mão da estratégia de contar nos dedos e isto não é anormal. A persistência do uso sistemático dos dedos associada á deficiência na memorização da tabuada constitui, entretanto, um sinal de alerta após certa idade. 8. REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA O APRENDIZADO DE MATEMÁTICA E AS DIFICULDADES CAUSADAS PELA DISCALCULIA Novaes (2007), ainda comenta que existem requisitos para o êxito aritmético. Conforme a faixa etária, a criança deve alcançar as seguintes capacidades: Faixa Etária Aptidões Esperadas Dificuldades • Ter compreensão dos conceitos • Problemas em nomear quantidades de igual e diferente, curto e longo, matemáticas, números, termos e símbolos; grande e pequeno, menos que e e mais que; 3 a 6 anos • Insucesso ao enumerar, comparar, • Classificar objetos pelo tamanho, manipular objetos reais ou em imagens cor e forma; • Reconhecer números de 0 a 9 e contar até 10; • Nomear formas; e • Reproduzir formas e figuras. • Agrupar objetos de 10 em 10; • Ler e escrever de 0 a 99; • Leitura e escrita incorreta dos símbolos matemáticos • Nomear o valor do dinheiro; • Dizer a hora; 6 a 12 anos • Realizar operações matemáticas como soma e subtração; • Começar a usar mapas; e • Compreender metades, quartas partes e números ordinais,. • Capacidade para usar números • Falta de compreensão dos conceitos na vida cotidiana; matemáticos; e • Uso de calculadoras; • Dificuldade na execução mental e • Leitura de quadros, gráficos e 12 a 16 anos concreta de cálculos numéricos. mapas • Entendimento do conceito de probabilidade; e • Desenvolvimento de problemas. 9. ANSIEDADE MATEMÁTICA E DISCALCULIA. Ansiedade matemática é um tipo de transtorno fóbico apresentado por alguns indivíduos. Geralmente, em decorrência de alguma experiência negativa com a aprendizagem de matemática o indivíduo desenvolve um baixo autoconceito no quanto à sua habilidade de aprender matemática. A pessoa com fobia de matemática desenvolve sintomas de ansiedade quando pensa no assunto ou quando se confronta com a necessidade de realizar operações aritméticas ou estudar o assunto. A ansiedade matemática pode causar comportamentos que evitem relação ao assunto, comprometendo o desenvolvimento educacional do indivíduo. Sabe-se que a ansiedade matemática é comum na população, que ela é socialmente mais aceita do que as dificuldades de aprendizagem da leitura. Não está clara a relação entre ansiedade matemática e outras formas de transtorno de ansiedade. É sabido também que a comportamento fóbico em relação à matemática está presente nos indivíduos com discalculia. Mas não se sabe exatamente qual é a frequência de indivíduos fóbicos que não apresentam discalculia. 10. COMO AUXILIAR A CRIANÇA COM DISCALCULIA. O professor tem um papel fundamental nesta etapa do desenvolvimento, pois é ele quem vai auxiliar o aluno nas conquistas e descobertas do conceito que envolve a matemática. É necessário que o professor esteja preparado para orientar e trabalhar com essas crianças, observando suas características e seus comportamentos dentro do ambiente escolar atendendo-as de forma individualizada, evitando mostrar impaciência ou ressaltando suas dificuldades, diferenciando-as das demais, bem como corrigir a criança frequentemente diante da turma, para não o expô-la, ou ignorá-la. O professor deve explicar ao aluno suas dificuldades e deixar claro que sua função é ajudar a saná-las e uma forma de estimular a criança, é através de jogos com materiais manipulativos, pois ajudam na seriação, classificação, habilidades psicomotoras, habilidades espaciais, contagem. O uso do computador é bastante útil, por se tratar de um objeto de interesse da criança, um instrumento que pode ser muito bem aproveitado, especialmente porque existem muitos sites com jogos educativos que auxiliam na noção de espaço e forma, como o tangam e outros, que reforçam a compreensão da matemática. A criança pode fazer uso no seu dia-a-dia de calculadora, tabuada, caderno quadriculado, nos exercícios que envolvem problemas matemáticos, é importante o professor usar situações concretas de fácil entendimento, inclusive incentivando o uso de desenho na resolução dos mesmos. Quando a criança for realizar provas, estas devem ter questões claras e diretas, reduzindo-se ao mínimo o número de questões, sem limite de tempo. O professor deve sempre priorizar e valorizar cada conquista e cada passo dado em direção ao domínio de suas funções e aquisições. A participação dos pais e professores deve ser constante na vida da criança, atenção dispensada durante a vida escolar, fará toda a diferença no desenvolvimento e na percepção cognitiva do aluno. 11. EXISTE CURA PARA A DISCALCULIA? Por se tratar de um distúrbio ou déficit neurológico, a discalculia não tem cura. O tratamento deve ser feito por psicopedagogos especializados, além de neurologistas. O psicopedagogo é indicado ao tratamento da discalculia, que deve ser feito em parceria com a escola e com os familiares. Esse profissional ajuda com relação à autoestima e valoriza as atividades realizadas. Também vai descobrir o processo de aprendizagem da criança através de instrumentos que irão ajudá-la no entendimento. Os jogos ajudam com as habilidades psicomotoras e espaciais, na contagem. Já um neurologista irá confirmar, através de exames, a dificuldade específica do paciente, e encaminhá-lo para o tratamento ideal. É importante detectar as áreas do cérebro afetadas. A maioria das crianças pode não gostar de contas, achar chata e difícil. Mas é importante diferenciar a inadaptação do aluno ao ensino da escola, ou ao professor, do distúrbio que provoca dificuldade com os números. Caso a pessoa esteja se desenvolvendo normalmente em outras disciplinas, procure um especialista que possa tirar a dúvida e, dependendo, começar o tratamento, pois, quanto antes for descoberto, menor o prejuízo para a criança e melhor ela se adaptará com as questões do cotidiano, relacionamento, autoconfiança, poder de decisão. 12. COMO OS FATORAS MOTIVACIONAIS INTERFEREM NO SUCESSO DA APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA? Os seres humanos somente se motivam para fazer aquilo que percebem estar ao alcance da sua competência. Quando a pessoa acredita que ela consegue realizar uma tarefa com um pequeno esforço, ela irá dispender energia na realização da mesma. Caso a pessoa perceba a tarefa como estando acima do seu alcance, ela se desmotiva. As dificuldades de aprendizagem desmotivam e desmoralizam a criança, além de desgastarem as relações familiares. Crianças, pais e educadoras ficam ansiosas e frustradas em função do mau rendimento escolar. A atenção dos pais e educadores concentra-se nas dificuldades, desviando-se dos comportamentos adaptativos das crianças, os quais são dados de barato. O foco nas dificuldades e negligência dos comportamentos adaptativos constitui uma forma de reforço diferencial, o qual agrava ainda mais o problema. Confrontada com dificuldades persistentes, com um nível de exigência percebido como acima das suas possibilidades, percebendo a ansiedade comunicada de forma implícita pelos adultos, a criança vai progressivamente se desmoralizando e se desmotivando para o estudo. O passo seguinte neste contínuo é o agravamento das dificuldades de aprendizagem acompanhado do surgimento e/ou agravamento das dificuldades disciplinares e comportamentais frequentemente comórbidas com os transtornos de aprendizagem. Uma das formas mais eficazes de atenuar as dificuldades motivacionais e ajudar a resolver os problemas de aprendizagem é representada pela proposta da aprendizagem sem erro. A aprendizagem sem erro se baseia no pressuposto de que o erro interfere de diferentes maneiras com a aprendizagem. Após aprender errado o trabalho é dobrado para desaprender o errado e aprender o certo. O erro interfere com a aprendizagem. O fracasso frustra, desmotiva e desmoraliza. O primeiro passo então é realizar um diagnóstico preciso do perfil de pontos fracos e fortes, do domínio dos conteúdos curriculares e do estilo de aprendizagem e pensamento do aluno. A partir do diagnóstico do nível de domínio curricular, do estilo cognitivo e do perfil de pontos fortes e fracos é possível programar o grau de dificuldade das tarefas, de modo tal que elas se situem ao alcance do aluno, com um pequeno esforço. As técnicas de ensino programado ilustram o processo. O grau de dificuldade é hierarquizado e a aprendizagem procede passo a passo. Os novos conteúdos são introduzidos gradualmente. Os pressupostos para a compreensão dos novos conteúdos foram recentemente exercitados no passo imediatamente anterior da sequência. Testes são realizados com frequência, para verificar o progresso. As respostas às questões de testes constam na própria pergunta. O sucesso na realização dos testes com dificuldade progressiva permite que o aluno acompanhe seu próprio progresso e desenvolva um autoconceito de competência para aprendizagem. A redução da frustração crônica associada ao fracasso promove a motivação, reduz a ansiedade e extingue progressivamente os comportamentos inadequados. 13. CONSIDERAÇÕES FINAIS Reconhecer distúrbios, encaminhar aos profissionais corretos, aceitar o fato de haver uma dificuldade, são alguns requisitos básicos para pais e professores que atuam diretamente com a criança, estas atitudes levam o indivíduo a aceitar mais facilmente suas limitações e aceitarse como o detentor de suas próprias conquistas. 14. METODOLOGIA Para o desenvolvimento deste trabalho fiz um levantamento bibliográfico e de internet baseado em trabalhos de mestrado profissional para abordar um assunto que, em nossa concepção, não recebe a devida importância e se quer é comentado nos cursos de licenciatura em matemática. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS http://www.centropsicopedagogicoapoio.com.br/o-que-e-discalculia. Acessado em 27/09/15. https://tudobemserdiferente.wordpress.com/2013/08/27/o-que-e-discalculia-do. Acessado em 27/09/15. http://www.brasilescola.com/doencas/discalculia.htm. Acessado em 28/09/15. http://brasil.planetasaber.com/theworld/chronicles/seccions/cards/default.asp. Acessado em 29/09/15. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2317-4312013000200007&lang=pt. Acessado em 30/09/15. http://www.ensino.eb.br/portaledu/conteudo/artigo9359.pdf. Acessado em 25/11/2015