Arquitetura Sustentável

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Arquitetura sustentável
Atualmente a construção civil está entre as atividades humanas que mais causam impactos
ambientais no mundo. Segundo dados da ANAB (Associazone Nacionale di Architettura
Bioecológica), cerca de 50% dos recursos extraídos da natureza são destinados ao setor; e
especificamente no caso do Brasil é responsável pelo consumo de 40% dos recursos naturais
e da energia produzida, 34% da água, 55% de madeira não certificada, além de responder
pela produção de 67% da massa total de resíduos sólidos urbanos.
Analisando esses números é possível ver que esta na hora de investir em construções mais
sustentáveis. Os benefícios trazidos pelas obras ecologicamente corretas são muitos, e, vão
desde a contribuição à preservação do meio ambiente às questões econômicas e sociais.
Na questão econômica, a ANAB destaca que a cada um dólar investido na construção de
edifícios sustentáveis, no período de 20 anos, 15 dólares retornam, sendo deste total, 74%
economizados em saúde e produtividade dos ocupantes, 14% na operação e manutenção e
11% no consumo de energia e água.
Já pelo ponto de vista da melhoria na qualidade de vida, saúde e produção das pessoas que
utilizam estes locais depois de construídos, segundo a ANAB, os ocupantes de escritórios em
edifícios verdes são de 2 a 16% mais produtivos. Dados apontam ainda que estudantes de
escolas, que dão prioridade à iluminação natural são em média 20% mais rápidos em provas
de matemáticas e 26% em testes de leitura, de acordo com um estudo realizado pelo
Heschong Mahone Group para o Conselho Americano de Energia Eficiente.
O Ressoar conversou com a arquiteta especialista em educação ambiental, Marisa Murta para
trazer mais informações sobre arquitetura e construções sustentáveis. Confira abaixo.
Existe um pensamento corrente de as construções sustentáveis possuem um custo
maior do que a construção convencional e com poucas perspectivas de retorno.
Isto faz com que muitas vezes, as pessoas acabem desistindo da idéia de realizar
obras ecologicamente corretas. Em sua opinião, qual o caminho para mudar esse
pensamento?
É necessário em primeiro lugar, mudar o pensamento de que uma construção sairá mais
barata se for projetada e coordenada por um leigo, ao invés de um arquiteto ou engenheiro.
Existem vários estudos que provam que com um bom projeto você economiza em material e
mão-de-obra, além de zelar pela qualidade técnica da obra.
Um projeto pequeno não custa mais do que 10% do valor total da obra, e essa porcentagem
cai conforme aumenta o custo da obra. Estudos também mostram que um leigo gasta 50% a
mais quando faz escolhas sozinho, e que comete bobagens que ameaçam inclusive, a
segurança das pessoas que trabalham na obra.
Com essa primeira atitude, a de ter um técnico responsável coordenando os processos, você
tem a chance de fazer escolhas mais criativas que incluem itens de sustentabilidade.
Do ponto de vista técnico, para determinarmos itens de sustentabilidade numa construção,
atualmente os definimos como sistemas intuitivos, passivos e ativos.
No sistema intuitivo resgatamos conhecimentos e técnicas ancestrais, no sistema passivo,
avaliamos a cadeia produtiva de determinado material ou técnica a ser aplicada, em relação
às emissões de carbono, por exemplo. E no sistema ativo, usamos tecnologia de ponta para
aquisição e transformação de energia, por exemplo.
Nos sistemas passivos e ativos, a diferença de custo é importante, porque materiais feitos
com boas técnicas, e também os que usam tecnologia de ponta como as células
fotovoltaicas, por exemplo, ainda custam mais caro que as opções convencionais.
Porém, com relação aos sistemas intuitivos, o principal fator é na escolha de um profissional
de arquitetura e engenharia que tenha investido na aquisição desses conhecimentos e possa
oferecê-los ao seu cliente como opção.
A boa arquitetura é naturalmente sustentável e acessível (no sentido de acessibilidade),
porque as regras da boa arquitetura prevêem: ocupação correta no terreno, áreas de recuo e
drenagem, levando em conta a insolação, ventilação cruzada, que deixa o ambiente mais
fresco e evita o uso do ar condicionado, portas e corredores cuja medida mínima é suficiente
para um cadeirante acessar os ambientes, enfim, todo um repertório técnico de boa
qualidade foi deixado para trás nas construções a partir de 1970, para atender à ganância
das construtoras e investidores do mercado imobiliário.
E agora, como custo ambiental será levado cada vez mais em conta nos projetos e produtos,
muitas empresas e pessoas se adequarão às regras, porque doerá no bolso delas, as multas
previstas numa legislação ambiental tão rígida como é a brasileira.
Em sua opinião, qual a importância de investir em tecnologias sustentáveis para a
construção?
Antes de tudo, precisamos compreender o que é Sustentabilidade para depois falarmos
especificamente em construções sustentáveis.
A Sustentabilidade é atingida quando os pilares Ambiental, Social e Econômico, estão
equilibrados. Projetos, negócios e organizações são sustentáveis quando são financeiramente
viáveis, socialmente justos e ambientalmente responsáveis. Podemos incluir também, o pilar
Cultural.
Particularmente, acredito que só trabalhamos com Educação Ambiental quando trocamos o
"tripé" da Sustentabilidade, por uma estrutura de quatro pilares, que inclua o Cultural.
Essa mudança de paradigma, que te faz escolher algo considerando o espaço coletivo, do
qual você também faz parte, é o que trará a mudança que queremos ver no mundo.
Quem não deseja morar numa cidade bonita, com rios limpos cheios de peixes, grandes
parques verdes?
Antes de acusar o "outro" ou o governo precisamos olhar nossos hábitos e pensar se
desejamos mesmo continuar a deixar o fator econômico ditar todas as nossas escolhas.
Em minha opinião, esse é o momento de investir mais na qualidade do que na quantidade.
Quais mudanças uma pessoa pode realizar em sua casa para torná-la mais
sustentável?
Ventilação cruzada é algo geralmente possível em casas e ainda pouco usado. Ela é obtida
quando localizamos janelas em paredes opostas. Se for acrescida de uma abertura no
telhado, esse processo força a saída do ar quente do ambiente e o mantém fresco sem o uso
de ventiladores ou ar condicionado.
Optar também por produtos como bacia sanitária de baixo fluxo de água, lâmpadas
econômicas e sensores de presença, são atitudes simples de adotar e que trazem um retorno
de economia financeira e respeito ao meio ambiente.
Deixar uma área livre de calçamento no quintal auxilia na drenagem da água da chuva e
colabora na prevenção de enchentes.
Os produtos de limpeza tradicionais que utilizamos contêm uma toxidade mortal
para os peixes dos rios. Já existem boas opções com baixo custo e que respeitam o
meio ambiente. Por que não optar por esses?
Esses são apenas alguns exemplos, é importante estarmos atentos aos desperdícios e
usarmos sempre o "bom senso" nas nossas escolhas e atitudes.
Qual o retorno financeiro que uma pessoa tem ao tornar a sua casa mais
"sustentável"?
Para cada item de sustentabilidade existe um tempo previsto para o retorno do investimento
em equipamentos e técnicas. No caso das placas solares, por exemplo, se for instalada em
região de clima quente, o retorno do investimento é menos de dois anos.
Indústrias brasileiras começaram a investir seriamente na fabricação de módulos solares e
células fotovoltaicas. Esses módulos transformam a energia solar em elétrica, e em breve, a
autonomia energética será uma opção para os brasileiros que desejarem aderir a essa
energia limpa. O retorno financeiro será importante, mas o ambiental será incomparável.
Fonte:
Bruna Souza
Instituto Ressoar
Publicação: 23/07/2012
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