Farmacologia Transcrição da Aula 5 – professora Tatiane Maile Prates e Pedro Barreto Antagonistas Então basicamente nós dividimos os bloqueadores adrenérgicos em alfa, lembrando que os receptores alfa1 fazem vasoconstricção e alfa2 diminui a síntese de noradrenalina e beta (1 e 2). Os β-bloqueadores inicialmente foram feitos os não-seletivos, que agiam em β1 e β2, mas com o objetivo de agir mais em β1. Qual o efeito β1? Ele é inotrópico, aumenta a contratibilidade (aumenta força de contração), aumenta a pressão intracardíaca, aumenta renina, que vai aumentar a angiotensina II, que é um potente vasoconstritor. Inicialmente os bloqueadores α forma criados para tratar hipertensão e os bloqueadores β foram criados para angina (é uma dor em aperto que pode durar por alguns minutos e irradia para os braços, causada pela diminuição do aporte de oxigênio no coração). Vamos começar com os bloqueadores α adrenérgicos. Por que eles foram criados? O α1 é tão potente vasoconstritor que nós vamos criar o fármaco que faz a vasodilatação. Os primeiros a serem criados foram a Fenoxbenzamina e a Fentolamina, os dois agem tanto em α1 quanto em α2, ou seja, são não seletivos. Depois foram criados os seletivos, o primeiro foi o Prazosin (bloqueador α1), ele foi muito utilizado na hipertensão, mas hoje em dia já é segunda linha porque ele tem muitos efeitos colaterais. Em seguida foram criados os que tinham uma duração maior. O Prazosin tem uma meia-vida muito curta, ele tinha que ser utilizado 4 vezes ao dia, assim o paciente não aderia muito bem. Bloqueadores α2 seletivos foram criados apenas para pesquisa, não são utilizados comercialmente. Fenoxbenzamina É um tipo de antagonista irreversível. Ele faz uma ligação covalente com os receptores. Assim para reverter essa situação só se forem criados novos receptores. Então, a Fenoxbenzamina foi um dos primeiros a serem criados, ela inibe tanto α1 quanto α2. Como α1 ela é ótima, vai levar a uma vasodilatação tanto venosa quanto arterial, então diminui o retorno venoso periférico e por isso diminui a pressão. O grande problema dela é que ela vai inibir também os receptores α2 (é um receptor localizado no neurônio pré-sináptico) isso vai levar a um aumento da expressão de noradrenalina e com isso eu vou ativar o receptor β1, principalmente, levando a aumento da freqüência cardíaca e com isso arritmias e queixa de palpitações. Então, o problema dele é essa não seletividade que faz com que ele aja tanto no α1 quanto no α2, levando a liberação de noradrenalina que vai agir em receptores β1 e com isso vai levar a alterações cardíacas. Por isso que ele não é primeira linha no tratamento de hipertensão. Fentolamina É outro tipo de antagonista não seletivo. É competitivo. A Fentolamina tem o mesmo problema que o fármaco anterior, só que ela age mais ainda em outros receptores, ela é muito inespecífica. Ela vai, então, bloquear o α1, levando a vasodilatação venosa e arterial, diminuindo a pressão e vai ter o mesmo efeito colateral do fármaco anterior, vai bloquear o α2, liberando noradrenalina e assim agindo em receptores β, levando a alteração cardíaca. Ela também aumenta a liberação de histamina, bloqueia a serotonina e também é um agonista muscarínico. Então, é um fármaco extremamente inespecífico. Diferente do outro que é irreversível, a Fentolamina é um inibidor competitivo , então basta aumentar a dose de outro para reverter seu efeito, sem necessidade de novos receptores. Porém, vai ter muitos efeitos colaterais em função do fato de ela agir em outros receptores. A liberação de histamina vai piorar ainda mais a hipotensão causada pela inibição α1, é agonista muscarínico e por isso vai levar a aumento da contratibilidade no TGI e com isso, diarréia e salivação, inibição da serotonina vai aumentar o apetite e a saciedade (?). Então, vai ser utilizada só em ocasiões especiais pela sua falta de seletividade. Bloqueadores seletivos Causam vasodilatação sem o bloqueio do α2. Assim, não há liberação de noradrenalina (o antagonismo α2 causa liberação de noradrenalina enquanto que o seu agonismo gera diminuição da liberação). O primeiro a ser criado foi o Prazosin. O Prazosin tem alguns pontos contra, sua meia-vida é muito curta e ele tem alguns efeitos colaterais. Isso dificulta a adesão do paciente. Hoje em dia ele é de segunda linha, porém quando nenhum dos fármacos de primeira linha funciona, ele se torna uma opção. . Esse tipo de fármaco é muito utilizado em casos de hipertensão secundária como no Feocromocitoma, um tumor de supra-renal que produz quantidades em massa de adrenalina. São muito utilizados, principalmente o irreversível, para pacientes que vão para cirurgia não terem uma implosão de adrenalina, são usados na disfunção sexual, são usados na hiperplasia benigna prostática porque eles relaxam a musculatura da região. Obs. Hipertensão arterial sistêmica corresponde a 95% dos casos de hipertensão (causados por obesidade, genética, sedentarismo). Na secundária existe alguma coisa que está predispondo a essa hipertensão, pode ser uma arteriosclerose na artéria renal, chamada hipertensão renovascular, pode ser hipo ou hipertireoidismo, pode ser tumor de supra-renal. Normalmente o paciente vai ter picos de hipertensão e vai se sentir muito mal. Isso ocorre em 5% dos casos de hipertensão e em muitas vezes é curável, basta fazer uma intervenção cirúrgica. Efeitos adversos: Causam hipotensão ortostática pela queda do retorno venoso, causa sono e fraqueza, palpitação, ejaculação retrógrada, congestão nasal, síncope. E por isso, hoje em dia são segunda linha no tratamento de hipertensão arterial. Bloqueadores β adrenérgicos Sir Black notou que os pacientes que tinham dor precordial tinham excesso de adrenalina, então pensou que poderia usar um bloqueador da adrenalina e com isso diminuir a freqüência cardíaca, a contração e conseqüentemente o consumo de oxigênio. A isoprenalina é um fármaco agonista de receptores β1e β2. Então, sir Black pensou em fazer mudanças químicas nesse fármaco e transformá-lo em um antagonista β. Então, depois de várias tentativas, foi criado o Propanolol, primeiro dessa classe. Existem vários tipos de β bloquadores no mercado, entre eles existem muitas diferenças. Alguns deles possuem cardioseletividade, atividade simpático mimética intrínseca, lipossolubilidade (alguns são hidrossolúveis outros são lipossolúveis),possuem diferenças farmacocinéticas (alguns sofrem metabolismo de primeira passagem). Apesar de ser uma grande classe de fármacos existem subclasses dentro dela. Mecanismo de Ação Vai se ligar ao sítio do receptor β adrenérgico e vai bloquear a ação do agonista. Na verdade o antagonista não tem ação nenhuma ele serve apenas para impedir que o agonista se ligue ao sítio do receptor. Ele é um antagonista competitivo. Na curva há um desvio para a direita, aumentando a quantidade de agonista, aumenta-se a ação do agonista. É importante ressaltar que o antagonista faz uma modificação na eficácia do agonista e não na sua potência. Assim, aumenta-se a eficácia do agonista ao aumentar sua dose. Subclasses Antagonista β1 e β2 – Propanolol > β1 - vai diminuir a freqüência cardíaca, diminuir a força de contração, diminui o consumo de oxigênio. β2 – (efeitos colaterais) bloqueio da vasodilatação do músculo esquelético, broncoconstrição. Tem meia-vida mais curta. Antagonistas β1 – Atenolol , Metanolol, Isoprolol (?)> Atenolol é o mais barato. Isoprolol (não sei se é esse o nome) é o mais potente (10x), mas é mais caro. São seletivos, mas não são específicos, por isso se aumentar muito a dose eles podem agir em receptores β2 (os receptores β1 e β2 são muito semelhantes, então, apesar da preferência desses fármacos por β1, ao aumentar muito sua dose eles podem acabar se ligando a β2). Obs. Ela começou a contar uma história. Ninguém tinha coragem de dar esses fármacos pra quem tinha insuficiência cardíaca. Como eu poderia dar um β bloqueador, inibir o sistema nervoso simpático de um paciente em que o coração não está conseguindo bater direito? Naquela época nós chegamos até a dar amina pra esses pacientes, o que na verdade estava errado, aumentou a mortalidade deles. Na época pensava-se que o ideal era estimular o coração numa situação dessas. Depois viu-se que não. Na verdade o sistema nervoso simpático leva a um aumento da necrose e da apoptose. Então, foi aí que se criaram os antagonistas β1, β2 e α1. Antagonistas β1, β2 e α1 – Carvedilol > Reduzia a arritmia e melhorava a função do coração. Ela usou uma metáfora para explicar esse processo: É como um jumento subindo uma ladeira, carregando um monte de coisas. Se você começar a bater nele e insistir para ele andar mais rápido, você não vai ajudar em nada, vai deixá-lo mais cansado ainda. O ideal é você tirar o peso dele, e assim ele poderá subir a ladeira com mais facilidade, ou seja, o ideal é diminuir a ação simpática. É 10 vezes mais potente que o Propanolol e o Atenolol. Muito caro. Antagonista β1 com ação de NO –Nebilesh (? Eu anotei no meu caderno Nebivalol)> o Óxido nítrico é um potente vasodilatador local. É bastante seletivo e também é 10 vezes mais potente que o Atenolol e o Propanolol. Muito caro. Lipossolubilidade Alguns são extremamente lipossolúveis como o Propanolol. Por causa disso, ele é capaz de atravessar a barreira hematoencefálica,uma desvantagem disso é que pode causar sonolência, cansaço, depressão, uma vantagem disso é que pode ser usado profilaticamente na enxaqueca. Atinge o SNC podendo causar efeitos colaterais. Efeitos farmacocinéticos Inibição β1 – Fazem o coração trabalhar menos Efeito cronotrópico negativo (diminuição da FC) Efeito inotrópico negativo (redução da Contratibilidade) Redução da Condução no Nódo Átrio-ventricular (NAV) Diminuição da Renina no aparelho justaglomerular Inibição β2 – Mais ação no músculo esquelético Vasoconstricção periférica (aumento da resistência vascular periférica- RVP) Ao uso crônico há reversão da resistência vascular periférica, ela volta ao normal Inibição α1 Redução da RVP e Inibição do Retorno Venoso Eles agem no nodo sinusal diminuindo a frequência; vai agir no nodo AV diminuindo a condução; ele tem efeito anti-aritmico, nas primeiras horas do infarto ele pode salvar vidas; tem efeito inotrópico, diminui a contratilidade e parece que o fato de o coração trabalhar menos, precisar de menos oxigênio ele também vai ter um efeito anti-isquemico. Como eu já foi falado, eles tem um efeito direto sobre o coração, consequentemente, diminui a pressão. Ele vai ter um efeito, também via receptor β1, no rim. Ele vai inibir o sistema renina→angiotensina→ aldosterona, inibindo o percursor desse sistema , que é a renina. Com isso eu tenho menos angiotensina I e menos angiotensina II (potente vaso constrictor) vai ser produzida. Assim, ele reduz a resistência vascular periférica, diminuindo a pressão. Além disso, a angiotensina vai aumentar a produção de aldosterona na supra renal. Então quando eu bloqueio a produção de angiotensina II, eu bloqueio a produção de aldosterona → menos retenção de água e sódio → menos volume sanguíneo → menos débito cardíaco → redução da pressão arterial. Concluindo: tem um efeito direto no sistema simpático e um efeito indireto no sistema renina angiotensina aldosterona. A isquemia é um desequilíbrio entre a oferta e a demanda. Os β bloqueadores vão agir principalmente na redução da demanda, eles vão fazer o coração trabalhar menos e consequentemente, eu vou ter uma diminuição da demanda de oxigênio. Por outro lado, isso é meio controverso, mas eles também podem aumentar a oferta porque a maior parte do fluxo coronariano ocorre na diástole. O fato deles diminuirem a frequência cardíaca deixa o coração mais tempo na diástole e com isso a oferta é aumentada. Se, numa emergência, chegar um paciente com dor precordial, náusea, vômito e ador não melhorou com isordil sublingual, pressão está boa. Nunca esqueça de dar β bloqueador. Ele vai diminuir os efeitos das catecolaminas, vai diminuir o consumo de O2, vai diminuir a área isquemica porque as catecolaminas vão estar bloqueadas e diminui arritmia. Uma coisa ruim dos β bloqueadores, principalmente os não seletivos, é que tanto a noradrenalina, adrenalina são hiper glicemiante, eles aparecem em situações de hipoglicemia. Então bloqueando esses receptores, principalmente β2, eu vou diminuir a glicogenólise e secreção de glucagon e com isso eu posso não ter uma resposta a hipoglicemia. Por isso, temos que ter cuidado com os pacientes diabéticos insulinodependentes. Ela mostra uma tabela: Fora o pindolol eles tem uma biodisponibilidade muito baixa por cuasa do metabolismo de primeira passagem. Outra coisa importante é a diferença da lipossolubilidade, por exemplo, o Atenolol é muito hidrossolúvel enquanto o propanolol bastante lipossolúvel, isso vai determinar a eliminação do fármaco e também a passagem pela barreira encefálica. Alguém pergunta qual dos β bloqueadores causa tosse. A professora responde que quem causa tosse são os inibidores da ECA ( captopril, enalapril, ...), mas que os β bloqueadores não seletivos podem causar um quadro de sibilos. Vantagens do seletivo: o seltivo e não seletivo vão ter os mesmo efeitos cardíacos, mas o seletivo tem a vantagem de ter menos efeitos pulmonares (broncoespasmo) e menos efeitos metabólicos (reversão da hipoglicemia) e circulatórios porque eu não vou bloquear β2. Isso não quer dizer que se eu aumentar a dose do seletivo eu não possa causar também esses efeitos indesejados. Então em que situações cardiovasculares que eu utilizo β bloqueador? Hipertensão arterial sistêmica; Arritmias cardíacas; Insuficiência cardíaca compensada; Prolapso de Valvula mitral (mais frequênte em mulheres); Aneurismas de Aorta (β bloqueador diminui as chances de romper o aneurisma). Indicações não cardiológicas: Glaucoma → diminui a podução e melhora a drenagem do humor aquoso, o timolol é muito usado; Hipertireoidismo → hormônios tireoidianos aumentam os receptores adrenérgicos, o paciente tem muita palpitação, hipertensão; Ansiedade; Tremor essencial. Pessoa que tocam instrumentos utilizam antes de uma apresentação; Profilaxia da enxaqueca. Efeitos adversos: Bronco espasmo; Bradicardia; Cansaço, principalmente os que agem no sistema nervoso central; Vasoconstricção periférica por bloquear β2; Retarda a recuperação da hipoglicemia e também mascara os sintomas de hipoglicemia (palpitação, tremores...); Alterações do sono, uns causam sonolência, outros insônia; Depressão; Disfunção erétil. Contraindicações absolutas: Frequência muito baixa; Bloqueio do ramo atrioventricular (2 e 3); Asma grave; DPOC grave; Deprimidos Vasculopatias periféricas; Em maratonistas, que precisam do débito cardíaco; Considerado Dopping em atletas de tiro ao alvo. Agonistas α2 Eles bloqueiam o sistema simpático. São dois tipos de agonistas α2, que foram primeira linha no tratamento da hipertensão e hoje são segunda linha e utilizados em situações especiais,a clonidina que é a tensina e a metildopa que é a droga da hipertensa durante a gestação . A metildopa é um pró farmaco que vai formar a α-metil-noradrenalina. Agem ativando o receptor α2 (que é um auto regulador da síntese de noradrenalina) e sinalizando para diminir a produção de noradrenalina. A tensina é usada por via oral, barata, é uma das drogas com maior biodisponibilidade, é usada como segunda linha no tratamento da hipertensão por causa dos seus efeitos colaterais, também é muito utilizada em emergência, em abstinência a opióides e álcool ( na descarga adrenérgica da abstinência). Existem pesquisas mostrando também seu efeito analgésico. A metildopa é um fármaco muito interessante porque ela é absorvida através do transportador. Ela tem um transportador (transportador L) a nível gastrointestinal, assim, ela é facilmente transportada de um lado para outro. Ela atravessa a barreira hemato encefálica, ela é utilizada como primeira linha durante a gravidez pois é um fármaco seguro que não causa efeitos teratogênicos no feto. Também é utilizada durante a amamentação. Não são mais usadas como primeira linha porque causam depressão, sedação, boca seca, disfunção sexual, efeito rebote, retenção do volume, anemia hemolítica, e síndrome de alguma coisa que ela disse que é raro.