Estudo transversal de portadores de prótese tipo protocolo

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artigos ORIGINAIS
Estudo transversal de portadores de prótese tipo protocolo
Cross-sectional study of carriers of Brånemark protocol prostheses
Alcides Oliveira de MELO1, Renato de FREITAS2
RESUMO
O objetivo foi realizar o acompanhamento de pacientes que
instalaram próteses tipo protocolo de Brånemark em uma
clínica particular para avaliar os sucessos e insucessos na
reabilitação oral. Foi realizado o exame clínico e radiográfico
(panorâmica) de 14 pacientes. A média de idade dos pacientes
era de 64,14 anos. Não foi encontrada nenhuma fratura
de componente metálico. Quatro pacientes apresentaram
diferentes graus de desgaste dos dentes e uma paciente
apresentou fratura do elemento 41. Uma paciente apresentou
soltura do parafuso final e foi encaminhada para retorque.
A satisfação funcional (mastigação) dos pacientes foi de
92,86%, enquanto a estética e a fonética apresentaram 100%.
Três pacientes necessitaram de reembasamento das próteses
totais convencionais superiores e outras três apresentaram
manchamento dos orifícios de resina da prótese inferior. Duas
pacientes tiveram reabsorção óssea na região anterior e houve
aparecimento das roscas dos implantes. Nenhum paciente
apresentou higiene péssima, mas 79% apresentavam níveis de
bom à ruim. A média de tempo de instalação das próteses era
de 32,07 meses, sendo o maior acompanhamento de oito anos.
Dos pacientes avaliados, 36% nunca haviam feito ou fizeram
apenas um controle das próteses após a instalação. O controle
e a manutenção periódica são os fatores mais importantes da
reabilitação oral, mantendo em perfeitas condições o sistema
estomatognático, e, as radiografias panorâmicas são métodos
complementares fundamentais no controle de pacientes
com próteses fixas implantossuportadas para a verificação de
falhas ou alterações no tecido ósseo peri-implantar.
Palavras-chave: Prótese dentária. Radiografia panorâmica.
Prótese dentária fixada por implante.
ABSTRACT
The aim was perform a follow-up of patients that installed their
Brånemark protocol prostheses in a particular clinic to evaluate
the success and failures in oral rehabilitation. It was made the
clinic and radiographic exam (panoramic) of 14 patients. The
patients’ age average was of 64,14 years old. It was not found
any fracture of metallic components. Four patients presented
different degrees of teeth’s wear and one patient presented
fracture of the 41 element. One patient had the final screw
loose and was guided to a retorque. The patient’s functional
satisfaction (chewing) was of 92,86%, whilst the esthetics and
phonetics had 100%. Three patients needed to reline the superior
conventional total prostheses and other three patients presented
spots on the resin orifice of the inferior prosthesis. Two patients
had bone resorption on the anterior region and the implants
threads was showed up. None patient presented an awful
hygiene, but 79% presented from good to bad levels. The time
average of the prostheses installation was of 32,07 months, been
the longest follow-up of eight years. From the evaluated patients,
36% of them had never done or just made it once the control
after the prosthesis installation. It was concluded that the control
and the periodic maintenance are the most important factors
of the oral rehabilitation, keeping in perfect conditions the
stomatognathic system, and the panoramic radiographies are
complementary methods, essentials on the control of patients
with implant-supported fixed prostheses, checking the failures or
changes in the peri-implant bone tissue.
Key words: Dental prosthesis. Radiography, panoramic. Dental
prosthesis, implant-supported.
Endereço para correspondência:
Alcides Oliveira de Melo
Rua Veríssimo da Silva, 576
08275-270 – São Paulo – São Paulo - Brasil
E-mail: [email protected]
Recebido: 16/12/2011
Aceito: 30/03/2012
1. Graduando em Odontologia, Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo, Bauru, SP, Brasil.
2. Doutor em Reabilitação Oral. Professor Assistente Doutor do Departamento de Prótese, Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo, Bauru, SP, Brasil.
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Estudo transversal de portadores de prótese tipo protocolo
INTRODUÇÃO
O advento da implantodontia e a descoberta da osseointegração por Per-Ingvar Brånemark na década de 60, possibilitaram a busca e o desenvolvimento da reabilitação com próteses implantossuportadas4. Atualmente,
o modelo de prótese fixa estudada por Brånemark é uma das principais
indicações para reabilitar pacientes edêntulos com próteses implantossuportadas, e por esse motivo são também denominadas próteses tipo
protocolo (protocolo de Brånemark). Esse protocolo consiste em quatro a
seis implantes instalados na mandíbula3,8, sobre os quais é confeccionada
uma barra metálica que irá receber a estrutura de resina acrílica. Quando
possível, as próteses do tipo protocolo são a primeira indicação nas reabilitações orais. Porém, com o desenvolvimento de novas tecnologias, diversos
tipos de implantes e componentes foram surgindo para ampliar as opções
de tratamento. Esse desenvolvimento trouxe também novas dúvidas aos
profissionais, tornando sua indicação mais precisa, o que favoreceu o desenvolvimento de falhas e/ou fracassos nas reabilitações3.
Várias podem ser as falhas e complicações protéticas que podem causar maiores transtornos durante e/ou após a reabilitação com próteses
implantossuportadas. Além disso, como as demais alternativas de reabilitação, as próteses do tipo protocolo devem ser planejadas de modo
a facilitar a higiene pelo paciente. Encontramos na literatura casos de
fratura de implante2,16,19, fratura ou afrouxamento do parafuso do pilar
intermediário2-3,11-14,16,19,23, fratura ou afrouxamento do parafuso final de
retenção da prótese12, fratura da base ou dentes de acrílico9-10,13,19, e fratura da estrutura metálica 3,5,19,23.
Para tentar evitar esses problemas durante ou após a reabilitação, avaliações clínicas e radiográficas devem ser realizadas. No tratamento com próteses implantossuportadas esses são os meios de monitoramento e manutenção
para evitar complicações desnecessárias sendo importante a colaboração por
parte do paciente10,16,19. Com base nos dados apresentados, fica evidente a
importância de um acompanhamento periódico para avaliar as condições da
prótese instalada, além das condições de higiene por parte do paciente, para
evitar que falhas ou complicações ocorram desnecessariamente causando
transtorno para os mesmos. Buscando informações sobre a longevidade das
próteses implantossuportadas, o alvo da pesquisa foi verificar se houve insucessos ou complicações de próteses instaladas no arco inferior de pacientes de
uma clínica particular da cidade de Bauru/SP.
MATERIAL E MÉTODOS
Trinta pacientes de uma clínica particular localizada em Bauru – SP
foram selecionados a partir do estudo prévio dos prontuários odontológicos e foram incluídos aqueles que haviam sido reabilitados com implantossuportadas do tipo protocolo de Brånemark no arco inferior e PT
convencional no arco superior. Após análise dos prontuários, os pacientes
foram chamados a retornar a clínica para avaliação longitudinal e análise
da radiografia panorâmica para controle. Existe na literatura um aconselhamento da necessidade desse controle longitudinal pelos portadores de
próteses implantossuportadas, para verificar a presença de problemas ou
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falhas com o implante ou a prótese15. O projeto foi aceito pelo comitê de
Ética em Pesquisa da Faculdade de Odontologia de Bauru com processo
nº 001/2011.
Durante as ligações os pacientes foram relembrados da importância de
um controle longitudinal e da imagem radiográfica como método complementar de avaliação. Porém, foram registradas algumas intercorrências
com relação à participação dos pacientes. Dos 30 pacientes, cinco se recusaram a fazer o controle, mesmo após a explicação da importância, pois acreditavam que não havia necessidade de controle no momento da ligação,
ou por questões financeiras, pois muitos dos pacientes atendidos na clínica
são de outras cidades; dois haviam realizado manutenção há pouco tempo
e não quiseram retornar novamente; dois pacientes não puderam agendar
a consulta de avaliação, devido alguma complicação de saúde sistêmica que
o impossibilitava de comparecer na clínica fosse por condições físicas ou de
agendamento; três faltaram nos retornos agendados; uma paciente foi excluída, pois havia feito protocolo no arco superior; três pacientes não foram
encontrados devido ao grande período de tempo sem controle e alteração
de endereço e/ou telefone. Logo, a amostra final foi composta de 14 pacientes, todos reabilitados com prótese total convencional superior e protocolo
implantossuportada inferior. Ao chegarem à clínica, os pacientes receberam
as devidas informações sobre a pesquisa e concordaram em participar da
mesma através do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
As avaliações consistiram no minucioso exame clínico do paciente verificando a estabilidade das próteses, a presença ou ausência de fraturas ou desgastes, a qualidade dos tecidos peri-implantares e a qualidade de higiene por
parte do paciente. Além disso, a análise radiográfica através das radiografias
panorâmicas confirmou se havia ou não alguma alteração da adaptação das
próteses sobre os implantes e permitiu a avaliação do osso na região peri-implantar. Todos os dados foram cuidadosamente avaliados e anotados em
uma ficha clínica elaborada e foi verificado se havia a necessidade de algum
tipo de tratamento. Aqueles que apresentaram alguma alteração tanto na
prótese implantossuportada como na convencional foram orientados e encaminhados para resolução do problema.
Os pacientes foram questionados sobre a satisfação após a instalação
da prótese nos quesitos: estética, função (mastigatória) e fonação. Foram
designados três níveis para cada item, sendo que os pacientes poderiam
optar por totalmente satisfeitos, parcialmente satisfeitos ou insatisfeitos.
A análise do grau de higiene dos pacientes foi realizada através de níveis de
higiene que poderiam variar entre ótimo, bom, regular, ruim ou péssimo. O
ótimo representava os pacientes que apresentavam pouca placa por lingual
dos implantes anteriores (área de difícil acesso) ou nenhuma placa; bom,
quando apresentavam pouca quantidade de placa e cálculo por lingual; regular quando apresentava cálculo em alguns dentes; ruim quando além de
presença de placa e/ou cálculo, o paciente relatava não fazer uso de escova
interdental e/ou fio dental para higiene, e péssimo, quando havia grande
quantidade de placa e cálculo distribuídos pela prótese.
Após a obtenção de todos os dados, os mesmos foram tabelados e a análise da presença de complicações protéticas foi verificada. Os dados foram
dispostos sob forma de gráficos. As percentagens foram estabelecidas e a
média e o desvio padrão também foram analisados para a idade dos pacientes e para o tempo de instalação das próteses.
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RESULTADOS
Quatorze pacientes da clínica particular foram avaliados longitudinalmente através do exame clínico e análise radiográfica (radiografia panorâmica). As avaliações possibilitaram verificar a estabilidade das próteses,
a presença ou ausência de fraturas ou desgastes, a qualidade dos tecidos
peri-implantares e a qualidade de higiene por parte do paciente. A análise radiográfica das radiografias panorâmicas confirmou se havia ou não
alguma alteração da adaptação das próteses sobre os intermediários ou
implantes, permitiu a avaliação do osso na região peri-implantar, além de
servir como documentação comparativa de todos os atendimentos clínicos realizados pelos clientes.
A média de idade dos pacientes foi de 64,14 anos (variando entre 52 e
84 anos) com desvio padrão ± 10,52 anos. Com relação ao gênero dos pacientes, cinco eram homens e nove mulheres, 36% e 64% respectivamente. A presença de complicações ou falhas nas próteses foi praticamente
inexistente. A maioria das complicações como fratura do implante, fratura do parafuso do abutment, fratura da barra metálica, fratura do acrílico
não estavam presentes na amostra estudada, apresentando 100% de
sucesso clínico (Figura 1).
*FI – fratura do implante; FPA – fratura do parafuso do abutment; FBM
– fratura da barra metálica; FPP; fratura do parafuso protético; FA –
fratura do acrílico
Figura 1 – Complicações protéticas registradas.
A fratura do parafuso protético também não ocorreu, contudo,
uma pacientes apresentou afrouxamento de parafuso, e a prótese se
apresentava com mobilidade necessitando de apertamento do mesmo.
A principal complicação foi a fratura ou desgaste dos dentes de acrílico
da prótese representando 36% dos pacientes. Quatro apresentaram
diferentes graus de desgaste dos dentes e uma paciente apresentou
fratura do elemento 41.
O tempo de instalação das próteses teve uma grande variação (dois
a 96 meses) e com média de 32,07 meses com desvio padrão de ±
30,51 meses. Essa grande diferença se deu porque uma das pacientes
apresentou fratura do dente de acrílico dois meses após a instalação
da prótese, enquanto o controle de maior duração foi de uma paciente
que apresentava a mesma prótese com acompanhamento de oito anos
(Figura 2). Dos pacientes analisados nove (64%) realizavam controle
posterior após a instalação das próteses, enquanto que os demais haviam
feito uma ou nenhuma manutenção.
Figura 2 – Tempo de acompanhamento das próteses tipo protocolo
em meses. O maior acompanhamento foi de 96 meses (oito anos) e o
menor de 2 meses.
Quando avaliado o grau de higiene dos pacientes (Figura 3), nenhum
paciente apresentou higiene péssima. Aqueles que apresentaram
higiene entre níveis ótimo e bom foram reorientados quanto à higiene
oral e os que apresentaram graus entre regular e ruim foram orientados
e encaminhados para realização de uma sessão de limpeza da prótese.
A presença de placa e cálculo foi o achado mais encontrado dentre os
pacientes analisados no estudo (Figura 4)
Figura 3 – Grau de higiene dos pacientes de acordo com a presença
de placa e/ou cálculo.
Figura 4 –Presença de placa na região dos implantes anteriores
evidenciando a dificuldade de higienização da área.
Com relação à satisfação dos pacientes com a prótese, quando
questionados sobre a estética, fonética e função mastigatória, apenas
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uma paciente relatou satisfação parcial da prótese funcionalmente
devido à presença de desgaste (Figura 5). Dez pacientes apresentavam a
prótese com o perfil gengival modificado8.
Outra complicação encontrada em dois dos pacientes foi o
manchamento das resinas dos orifícios protéticos (Figura 8), e os
pacientes foram encaminhados para trocá-las. Uma paciente também
apresentou pigmentação da prótese por fumo. Essa mesma paciente
após controle de um ano e sete meses apresentava uma perda óssea
significante (Figura 9) na região do elemento 41 evidenciando as
roscas do implante (Figura 10), porém a prótese ainda apresentava
estabilidade satisfatória e o implante estava sem mobilidade.
SAT_EST – satisfação estética; SAT_FUN – satisfação funcional
(mastigatória); SAT_FON – satisfação fonatória
Figura 5 – Grau de satisfação dos pacientes.
Todos os pacientes apresentavam PT convencional como antagonista.
Desses, três necessitaram de reembasamento, dois deles devido à
presença de tecido gengival flácido (Figura 6) e um devido à desadaptação.
Além disso, alguns pacientes necessitaram de ajuste oclusal (Figura 7)
das próteses, o que foi realizado para tirar o paciente de uma condição
oclusal insatisfatória.
Figura 6 – A) A presença de gengiva flácida no rebordo do paciente
levou a necessidade de reembasamento da prótese. B) Tecido
gengival flácido sendo manipulado.
Figura 7 – PT convencional com necessidade de ajuste oclusal.
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Figura 8 – Orifícios de resina com alteração de cor (setas) de uma
paciente com controle de oito anos.
Figura 9 – Paciente com reabsorção óssea horizontal na região dos
incisivos inferiores, devido o hábito de fumar. A paciente apresentava
roscas expostas no implante da região do elemento 41, porém a
osseointegração estava satisfatórias.
Figura 10 – Perda óssea acentuada na região do elemento 41 por
fumo e aparecimento das roscas do implante.
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Com relação aos resultados radiográficos, todas as próteses
estavam em perfeitas condições de osseointegração e estabilidade,
com exceção de uma paciente com controle de oito anos com
intermediários tipo convencionais (Standard) (Figuras 11 e 12), e
soltura dos parafusos protéticos o que causou a falta de desadaptação
da barra aos pilares na imagem radiográfica (Figura 13), comprovado
após colocação dos parafusos corretamente.
Figura 11 – Paciente apresentou soltura do parafuso final da prótese.
Note a grande quantidade de placa sob a barra e a exposição das
roscas dos implantes da região anterior.
Figura 12 – Imagem radiográfica de uma paciente com prótese
instalada há 8 anos.
Figura 13 – Imagem radiográfica da panorâmica aumentada.
Presença de “gap” (setas) entre a estrutura metálica e os pilares
devido ao afrouxamento dos parafusos finais.
DISCUSSÃO
Nos últimos anos, houve um aumento na população idosa e consequentemente um aumento dos pacientes submetidos a tratamentos com implantes osseointegrados. As próteses fixas implantossuportadas são hoje
uma das principais indicações para os pacientes que possuem qualidade
e quantidade ósseas adequadas e almejam próteses que permitam maior
estabilidade e retenção, bem como uma estética favorável20.
Porém, como todos os sistemas, pode apresentar complicações tanto na
fase cirúrgica, como na fase de instalação da prótese. Além disso, no período pós-instalação, é de extrema importância que o paciente participe de
um rigoroso controle longitudinal para acompanhar a prótese sob função
e se for necessário realizar as manutenções corretivas. Logo, o sucesso do
tratamento com próteses do tipo protocolo depende também da participação ativa do paciente durante esse período. A reversibilidade das próteses
tipo protocolo é uma facilidade que favorece o prognóstico satisfatório do
tratamento, caso ocorra alguma intercorrência. Além disso, permite uma
avaliação individual do implante, inspeção do tecido mole, modificações
protéticas necessárias e se houver algum tratamento necessário futuramente este poderá ser mais fácil e menos custoso12,14.
Foi realizada avaliação clínica e radiográfica de 14 pacientes da clínica particular. A maioria das complicações protéticas pesquisadas estava
ausente: em nenhum dos pacientes foi verificada fratura do implante,
fratura do parafuso do abutment, fratura da barra metálica, fratura do
acrílico ou fratura do parafuso protético. Esse quadro de 100% de sucesso
é atribuído a diversos fatores como ausência de discrepâncias de adaptação implante/abutment, má distribuição das cargas oclusais, oclusão prematura, hábitos parafuncionais, reabsorção óssea excessiva e/ou cargas
oclusais em implantes mal posicionados3. Além disso, as próteses apresentavam passividade de inserção, e sua estrutura metálica formato que
evitava enfraquecimentos estruturais, com soldas adequadas evitando o
aparecimento de bolhas durante sua fundição7. Outro dado relevante a
ser notado é o fato das próteses serem confeccionadas em uma clínica
particular, onde o profissional tem um contato aproximado com os protéticos, reduzindo assim possíveis falhas laboratoriais que possam ocorrer
durante o processo de confecção e instalação da prótese.
O tempo de instalação das próteses variou de dois a 96 meses com média de 32,07 meses e desvio padrão de ± 30,51 meses. Essa grande variação
ocorreu, pois uma paciente retornou após dois meses de instalação da prótese com fratura de um dente de acrílico. A complicação de maior ocorrência
foi o desgaste ou fratura dos dentes de acrílico. Dos 14 pacientes, quatro
apresentaram desgaste dos dentes e uma apresentou fratura do elemento
41. A paciente relatou que o dente fraturou “enquanto comia pão”. Estudos
demonstram que o desgaste e a fratura dos dentes de resina, além da fratura
dos demais componentes protéticos parafusados, indica estresse de carga12.
O maior tempo de acompanhamento das próteses instaladas foi de oito
anos. A paciente apresentou afrouxamento do parafuso protético e a prótese apresentava mobilidade correlacionado à presença de forças oclusais
excessivas ou mesmo hábitos parafuncionais, porém neste caso a paciente
apresentava a prótese instalada há muito tempo, e durante todo esse período havia feito apenas um controle longitudinal. Quando comparamos com
outros trabalhos6 podemos verificar que a incidência de afrouxamento dos
parafusos está dentro dos números encontrados com relação ao tempo.
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Dez pacientes apresentavam prótese com perfil gengival modificado
o qual normalmente é confeccionado para garantir uma estética mais favorável com a barra metálica envolvida pelo acrílico8 principalmente para
aqueles pacientes que possuem maior nível de exigência. Outra grande vantagem deste perfil de acrílico é poder o cirurgião dentista acrescentar ou
remover o acrílico na parte cervical/gengival desta prótese de acordo com
a dificuldade de higienização de cada cliente. Porém, ao avaliar a satisfação
dos pacientes encontrou-se 100% de satisfação estética e fonética após a
instalação da prótese, o que é atribuído pela passagem de uma condição
desfavorável para uma condição favorável de retenção e estabilidade na
qual a estética passa a ser um fator secundário.
Uma paciente relatou estar parcialmente satisfeita com a função mastigatória, devido à presença de desgaste dos dentes de acrílico. O achado é atribuído ao histórico da paciente no período de carga protética. Durante os seis
anos de instalação a paciente parou de fumar havia dois anos, entrou em depressão e a partir daí passou a mascar chicletes diariamente o que causou uma
sobrecarga funcional e consequentemente desgaste dental12. Apesar disso, a
satisfação dos pacientes está de acordo com outros estudos longitudinais5,17.
A presença de placa nas próteses foi o achado mais encontrado. O acúmulo de placa na prótese pode trazer prejuízos para o prognóstico do tratamento podendo causar problemas como mucosite ou até mesmo levando à
perda óssea ao redor dos implantes18. Quando o grau de higiene foi avaliado,
nenhum paciente apresentou qualidade de higiene péssima. Uma paciente
relatou não utilizar escova interdental ou fio para limpeza da prótese apesar
de sua condição de higiene estar parcialmente satisfatória, sendo assim foi
classificada com grau de higiene ruim.
Um fato verificado após a colocação das próteses tipo protocolo é a
dificuldade que os pacientes têm com a higienização pelo motivo deles virem de uma prótese total destacável, e esta agora ser parafusada.
A prótese deve apresentar um perfil que favoreça a higienização e reduza o acúmulo de alimentos, e uma alternativa são as próteses com
perfil gengival reversível8. Esse perfil gengival reversível possibilita nós
aumentarmos ou diminuirmos o espaço para essa higienização dependendo do comportamento dos pacientes em relação à higiene após a
colocação das próteses. Aqueles que apresentam dificuldades para higienização devem ser muito bem orientados quanto às técnicas e dispositivos adequados, ou durante o planejamento deve-se optar pelo perfil
padrão, no qual os pilares promovem um espaço entre o tecido gengival
e a prótese, o que causa maior acúmulo de alimentos, porém nesse caso
facilitaria a higienização. O profissional deve estar atento para que os
pacientes que receberem próteses fixas implantossuportadas tenham
facilidade não só no momento da instalação, mas que, com o passar dos
anos e o aparecimento de comprometimentos motores fisiológicos, a
higiene não seja comprometida.
Figura 14 – A) paciente com perfil de prótese estético promovendo
menor espaço para higiene e consequentemente menos “espaços
negros”. B) paciente com perfil protético onde o comprimento dos
pilares deixa um maior espaço para higiene, porém com estética inferior.
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Três pacientes apresentaram manchamento dos orifícios de resina
das próteses atribuídos ao uso contínuo da prótese ao longo dos anos
somado à ingestão de alimentos ou produtos que possuem corantes.
Uma dessas pacientes possuía as manchas devido ao hábito de fumar.
De qualquer modo, esse é um achado relativamente raro encontrado
na literatura, mas que deve ser avaliado durante a manutenção da
prótese23. Essa mesma paciente teve uma grande exposição das roscas
do implante na região do dente 41, com apenas 19 meses de instalação, o que evidencia o impacto negativo do fumo no prognóstico do
tratamento. Apesar da exposição do implante a prótese apresentava
estabilidade clínica. Outra paciente também apresentou aparecimento
das roscas, na região anterior inferiores, atribuído ao longo período de
instalação (oito anos) somado à grande presença de placa, e ausência
de controle posterior, levando a reabsorção óssea6. As pacientes foram
encaminhadas para sessão de limpeza da prótese e orientação de higiene, pois apresentava grau de higiene regular.
Todos os pacientes apresentavam PT convencional no arco superior.
Desses, três necessitaram de reembasamento, dois deles devido à
presença de tecido gengival flácido e um devido à desadaptação. Enquanto outros necessitaram de ajuste oclusal das próteses, o que foi
realizado para tirar o paciente de uma condição oclusal insatisfatória. A
presença de tecido gengival flácido atribuísse à resiliência do rebordo
alveolar superior totalmente desdentado devido à mastigação constante na região anterior após perdas dentárias posteriores inferiores
caracterizando a síndrome da combinação21. O uso de PT convencionais
como antagonista de próteses inferiores do tipo protocolo é bastante
comum nos estudo longitudinais e a necessidade de reembasamento é
uma realidade presente no período de manutenção9,12.
As radiografias panorâmicas são meios complementares do controle
dos pacientes com próteses do tipo protocolo. Dos pacientes analisados, todos apresentavam osseointegração satisfatória. As radiografias
possibilitam avaliar a estrutura metálica da prótese fixa implantossuportada como um todo facilitando a percepção de alterações estruturais. Uma paciente apresentou desadaptação da prótese que pôde ser
verificada através da radiografia panorâmica. Essa desadaptação ocorreu pelo afrouxamento dos parafusos finais de retenção da prótese,
vindo a confirmar a adaptação após a colocação dos parafusos corretamente. Alguns estudos avaliam o grau de perda óssea desenvolvida
durante o período da prótese sob função1. Porém, como nosso estudo
teve caráter transversal, não foi possível fazer uma comparação dos valores de sondagem pré e pós-instalação da prótese.
Dos pacientes que retornaram para realizar controle e que possuíam
próteses instaladas há vários anos, todos haviam realizado apenas
um controle ou em alguns casos nunca realizaram controle posterior
ou qualquer manutenção da prótese. Foi relatado que o protocolo de
manutenção dos implantes deve incluir visita a cada três meses15. Para
complementar as consultas a cada três meses, o dentista deve obter
uma radiografia a cada seis meses, a fim de documentar mudanças na
topografia óssea ou a presença de espaço peri-implantar, denotando
problemas ou falha no implante.
Durante os último anos, vários acompanhamentos tem sido realizados comprovando a eficácia do tratamento com próteses fixas implantossuportadas1,9,22. Nosso estudo não só confirmou a qualidade
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dessa opção de tratamento, mas também possibilitou verificar que os
pacientes precisam melhor compreender que o sucesso do tratamento
depende da participação ativa deles no período de manutenção.
5.
6.
CONCLUSÃO
Dentro das limitações do estudo e após a análise dos resultados
obtidos na pesquisa pode-se concluir que não houve ocorrência de
complicações protéticas como fraturas dos componentes metálicos,
enquanto que o desgaste e/ou fratura dos dentes de acrílico foi a
ocorrência mais evidente no estudo. As radiografias panorâmicas são
métodos complementares fundamentais no controle de pacientes
com próteses fixas implantossuportadas para a verificação de falhas
ou alterações no tecido ósseo peri-implantar.
A prótese protocolo de Brånemark, apesar de ser uma opção de
tratamento mais onerosa, é a opção mais favorável para reabilitação
de pacientes edêntulos totais de mandíbula, solucionando problemas de estabilidade, estética e funções mastigatória e fonatória.
Além disso, a reversibilidade das próteses é um dos principais fatores
que as tornam uma ótima escolha para tratamento.
Setenta e nove porcento dos pacientes apresentaram higiene
boa à ruim, mas nenhum apresentou higiene péssima o que pode
ser atribuído ao perfil gengival reversível que possibilita acréscimos ou reduções do espaço para higienização dependendo do
comportamento dos pacientes em relação à higiene após a colocação das próteses.
Maior atenção deve ser dada pelo profissional no ensinamento dos
pacientes com relação à importância do controle e manutenção das
próteses fixas implantossuportadas para o sucesso do tratamento.
Dessa maneira, o controle e a manutenção periódica são os fatores
mais importantes da reabilitação oral, mantendo em perfeitas condições o sistema estomatognático.
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