A Artigo Original Desnutrição energético-proteica de idosos em hemodiálise Desnutrição energético-proteica de idosos em hemodiálise Protein-energy malnutrition of elderly on hemodialysis Vanessa Maria Bertoni1 Josiane Salete Dalpiaz2 Cristina Pilla Della Méa3 Nair Luft4 Luiz Antonio Bettinelli5 Unitermos: Estado nutricional. Nutrição do idoso. Diálise renal. Dinamômetro de força muscular. Keywords: Nutritional status. Elderly nutrition. Renal dialysis. Muscle strength dynamometer. Endereço para correspondência: Vanessa Maria Bertoni Avenida Pátria, 554 – Apto 803 – Centro – Carazinho, RS, Brasil – CEP: 99500-000. E-mail: [email protected] Submissão: 12 de julho de 2015 Aceito para publicação: 3 de outubro de 2015 1. 2. 3. 4. 5. RESUMO Introdução: O envelhecimento populacional e a crescente prevalência de doenças crônicas contribuem para o aumento da doença renal. Identificar o paciente com desnutrição energéticoproteica e iniciar o tratamento precoce pode reduzir o risco de infecções e outras complicações, além de diminuir o risco de mortalidade desses pacientes. O objetivo deste estudo é identificar a desnutrição energético-proteica de pacientes idosos em hemodiálise. Método: Estudo transversal com 37 idosos em hemodiálise, onde foi verificada antropometria, por meio de Índice de Massa Corporal (IMC) e preensão palmar, ingestão dietética por recordatório alimentar de 24h usual e exames bioquímicos de albumina e colesterol total, identificando, assim, desnutrição energéticoproteica. Resultados: Verificou-se que 70% eram homens, com idade média de 68,8 ± 7,5 anos. Quanto ao IMC, o excesso de peso foi prevalente (45,9%), seguido de eutrofia (29,7%) e baixo peso (24,3%). A força de preensão palmar mostrou-se abaixo da média por idade em 35,1% dos idosos, demonstrando baixa força muscular. A ingestão energética e proteica ficou abaixo do recomendado. Referente aos exames bioquímicos, a média de albumina foi 3,5 ± 0,3 mg/ dL e de colesterol total, 180 ± 24,89 mg/dL. Com esses dados, pode-se identificar desnutrição energético-proteica em 19% dos pacientes. Conclusões: Apesar de a maioria dos pacientes apresentar sobrepeso pelo IMC, a desnutrição energético-proteica e a hipoalbuminemia também estão presentes, demonstrando a importância da avaliação nutricional. ABSTRACT Introduction: The aging population and the increasing prevalence of chronic diseases contribute to the increase of renal disease. Identify patients with protein-energy malnutrition and initiate early treatment can reduce the risk of infections and other complications, and reduce the risk of mortality of these patients. The aim of this study is to identify the protein-energy malnutrition of elderly patients on hemodialysis. Methods: Cross-sectional study with 37 elderly on hemodialysis, analyzing anthropometry checked by the Body Mass Index (BMI), palmar gripping, dietary intake by 24 hours recall and biochemical exams, as albumin and total cholesterol, thereby identifying energy malnutrition protein. Results: It was found that 70% men, mean age 68.8 ± 7.5 years. As the BMI, overweight was prevalent (45.9%), followed by eutrophy (29.7%) and low weight (24.3%). The handgrip strength was below the average age in 35.1% of the elderly, showing low muscle strength. The energy and protein intake remained below the recommendations. The biochemical tests mean albumin was 3.5 ± 0.3 mg/dL and total cholesterol 180 ± 24.89 mg/dL. Proteinenergy malnutrition was identified in 19% of patients. Conclusions: Although most patients being overweight by BMI, protein-energy malnutrition and hypoalbuminemia are also present, showing the importance of nutritional assessment. Nutricionista. Especialista em Nutrição Clínica e Doenças Crônicas. Especialista em Saúde do Idoso. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Envelhecimento Humano da Universidade de Passo Fundo. Nutricionista do Hospital de Caridade de Carazinho, RS, Brasil. Nutricionista. Especialista em Saúde do Idoso, Passo Fundo, RS, Brasil. Psicóloga. Especialista em psicoterapias cognitivo-comportamentais pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo/RS. Especialista em psicologia clínica pela Faculdade Meridional-IMED, Passo Fundo/RS. Docente da Escola de Psicologia da Faculdade Meridional-IMED, Passo Fundo/RS; Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Envelhecimento Humano da Universidade de Passo Fundo, RS, Brasil. Nutricionista, Especialista em nutrição clínica, Mestre em ciência da nutrição. Docente do curso de Nutrição da Universidade de Passo Fundo, RS, Brasil. Enfermeiro, Graduado pela Universidade de Caxias do Sul/RS, Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina/SC. PósDoutor e Doutor em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina/SC. Docente do Instituto de Ciências Biológicas e do Programa de Pós-Graduação em Envelhecimento Humano da Universidade de Passo Fundo, RS, Brasil. Rev Bras Nutr Clin 2015; 30 (4): 297-302 297 Bertoni VM et al. MÉTODO INTRODUÇÃO O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial. Atualmente, o Brasil possui cerca de 10,8% (20,6 milhões) de pessoas com 60 anos ou mais. As estimativas para 2025 é que este percentual atinja 14% (32 milhões de idosos). Os idosos são mais susceptíveis às doenças crônicas, dentre as quais podemos ressaltar a doença renal crônica (DRC), devido às alterações que ocorrem no envelhecimento, como a redução do número de néfrons funcionantes e diminuição da filtração glomerular1. Segundo Leining et al. , a doença renal é um problema de saúde pública mundial atualmente. Milhares de mortes ocorrem, anualmente, em consequência da enfermidade. Além disso, uma parcela significativa da população mantém a vida amparada pela diálise. A doença tem aumentado de forma exponencial. 2 A avaliação e o acompanhamento nutricional de pacientes em tratamento dialítico são de grande importância para diagnóstico e prevenção de problemas relacionados à nutrição, já que possuem influência direta sobre a morbimortalidade nessa população3. Fatores relacionados à DRC e ao tratamento hemodialítico podem contribuir para o desenvolvimento de desnutrição energético-proteica (DEP). Entre estes, estão a diminuição do consumo alimentar causada por anorexia, sintomas urêmicos, uso de medicamentos e aspectos sociopsicológicos; e os relacionados ao catabolismo, resultantes da inflamação, do hiperparatireoidismo secundário, da acidose metabólica e das perdas de nutrientes para o banho de diálise. Em decorrência da associação entre DEP e morbimortalidade nessa população, a avaliação nutricional torna-se imprescindível no manejo clínico e nutricional, contribuindo para um melhor prognóstico4. A desnutrição energético-proteica pode ocorrer em 13% a 51% dos pacientes em hemodiálise, dependendo dos critérios utilizados. Na presença da desnutrição, a função do músculo está alterada e a força muscular diminuída 5. Essa diminuição é um critério valioso de desnutrição energético-proteica e a medida da força muscular pode ser uma forma sensível de acompanhamento nutricional. Assim, torna-se evidente a importância de um método para avaliar a função e a força muscular. A força de preensão palmar (FPP), realizada com dinamômetro, é um teste simples, que tem como principal objetivo estimar a função muscular e possui vantagens quando comparada a outros indicadores nutricionais, por não ser influenciada por marcadores de inflamação e pelo estado de hidratação 6. O presente estudo tem como objetivo identificar a desnutrição energético-proteica de pacientes idosos em hemodiálise. Estudo descritivo, transversal, envolvendo pacientes idosos do setor de Hemodiálise do Hospital São Vicente de Paulo de Passo Fundo/RS, no período de junho a setembro de 2014. Teve como critérios de inclusão pacientes com mais de 60 anos, em tratamento hemodialítico por no mínimo três meses, capazes de realizar as avaliações. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade de Passo Fundo, número 697.671. O peso pós-dialítico, aferido em balança digital com estadiômetro acoplado e capacidade para 200 kg (modelo PL 200, marca Filizola), foi obtido por meio dos prontuários dos pacientes. A altura foi medida e o índice de massa corporal (IMC) foi calculado por meio da razão do peso corporal e o quadrado da altura, e classificado segundo Lipschitz7. A circunferência do braço (CB) foi medida utilizando-se fita inextensível e a prega cutânea tricipital utilizando plicômetro (Lange skinfoldcaliper, Cambridge, MD). A Prega Cutânea Tricipital (PCT) foi verificada três vezes e, em seguida, a média foi calculada, seguindo as técnicas descritas na literatura8. Circunferência muscular do braço (CMB) foi realizada pelo cálculo: {CMB (cm) = CB (cm) – p x [PCT (mm) ÷ 10]}. Os resultados da CMB e os dados da PCT foram analisados depois das adequações e o estado nutricional foi classificado comparando por sexo e idade aos do National Health and Nutrition Examination Survey9. A avaliação bioquímica incluiu níveis séricos de albumina e colesterol total. Os dados foram obtidos por meio dos prontuários dos pacientes. Todos os exames foram realizados rotineiramente pelo laboratório do respectivo centro de diálise. Para avaliar o perfil dietético, foi utilizado o Recordatório Alimentar de 24h (R24h) usual. Foram coletados dados referentes a ingestão de calorias (totais e kg/dia), percentual de proteína, carboidrato e lipídio, gramas de proteína por kg/dia. Os R24hs foram calculados e analisados pelo software Avanutri Revolution versão 2011. O consumo de calorias e proteínas foi comparado às recomendações do K/DOQ10. Foi calculado o peso ideal para os pacientes que foram classificados fora dos parâmetros de normalidade pelo IMC. Esse peso ajustado foi utilizado no cálculo da ingestão calórica e proteica por kg/dia. A FPP foi mensurada pelo dinamômetro modelo Saehan. Para a avaliação, os voluntários foram direcionados na posição sentada, padronizada pela Sociedade Americana de Terapeuta de Mãos (SATM)11, na qual os quadris e os joelhos se encontram fletidos a 90º, ombro aduzido em posição neutra, cotovelo fletido a 90º e antebraço em semipronação, sem que houvesse desvio radial ou ulnar. O dinamômetro foi ajustado de acordo com o tamanho das mãos de cada Rev Bras Nutr Clin 2015; 30 (4): 297-302 298 Desnutrição energético-proteica de idosos em hemodiálise paciente. Os testes foram realizados em triplicada no braço sem fístula, com intervalo de 1 minuto entre cada aplicação. A força foi aplicada durante 5 segundos para cada tentativa, sendo considerada a maior medida. Os resultados foram registrados em kg/f e classificados de acordo com o ponto de corte proposto por Bhanhon et al.12. Os pacientes com a FPP menor que a média para idade foram classificados como “baixa força muscular” e aqueles com a FPP igual ou superior à média para idade, como “força muscular preservada” (Tabela 1). Visando à padronização dos parâmetros para classificação da desnutrição energético-proteica, Fouque et al.13 propuseram critérios nutricionais que devem ser utilizados para identificar o paciente doente renal crônico com desnutrição energético-proteica. Foram propostos quatro critérios: • Parâmetros bioquímicos (albumina sérica <3,8 g/dL; colesterol total <100 mg/dL); • Parâmetros corporais (IMC <23 kg/m²; perda de peso não intencional > 5% em três meses ou 10% em seis meses; massa gorda <10%); • Parâmetros da massa muscular (redução da adequação da circunferência muscular do braço, perda muscular); • Diminuição da ingestão alimentar não intencional (diminuição da ingestão de energia < 25 kcal/kg/dia e/ou < 0,8 g/kg/dia). O paciente que apresentar pelo menos um item de três dos quatro critérios é classificado com portador de desnutrição energético-proteica. Para esta pesquisa foi utilizado o pacote estatístico SPSS 18.0 e Windows Microsoft Excel, foram analisados média, desvio padrão e frequência das variáveis. Para um melhor aproveitamento dos dados, foram utilizados os testes estatístico de Correlação de Pearson e Teste t de Student, admitindo ser significativo quando o p-value< 0,05. RESULTADOS De um total de 84 pacientes dialisando no setor, entre eles, 46 idosos, 37 participaram da pesquisa. Destes 37 idosos, 70% eram do sexo masculino, e a idade média foi de 68,8 ± 7,5 anos. O tempo médio de tratamento hemodialítico foi de 51,4 ± 34,5 meses. A FPP mostrou-se abaixo da média por idade em 35,1% dos idosos, demonstrando “baixa força muscular”. Observou-se que, quanto maior a FPP, maior também o peso do paciente, como pode ser observado na Figura 1. Em relação ao estado nutricional, classificado pelo IMC, o excesso de peso foi prevalente (45,9%), seguido de eutrofia (29,7%) e baixo peso (24,3%). Já segundo a CMB, 95% dos pacientes apresentaram-se eutróficos. Tabela 1 – Valores de referência (FPM) em homens e mulheres, respectivamente. Homens Mulheres Idade Número Média Esquerda Média Direita Número Média Esquerda Média Direita 0-24 134 47,4 53,3 133 27,9 30,6 25-29 149 50,0 53,9 142 30,8 33,8 30-34 120 49,2 52,8 141 31,8 33,8 35-39 117 51,6 58,3 141 30,2 33,2 40-44 111 49,8 54,1 133 29,3 32,8 45-49 110 48,7 50,4 133 30,8 33,9 50-54 100 45,2 50,6 116 28,8 30,9 55-59 100 41,0 44,1 123 27,2 29,9 60-64 120 38,7 41,7 132 23,0 25,9 65-69 82 38,2 41,7 118 22,9 25,6 70-74 120 36,2 38,2 166 22,5 24,2 75+ 217 29,8 28,0 361 16,4 18,0 Adaptado de Bhanhon et al.12. O dinamômetro usado foi o JAMAR e a população dos EUA, Austrália, Canadá, Ucrânia e Suécia. Rev Bras Nutr Clin 2015; 30 (4): 297-302 299 Bertoni VM et al. Figura 1 – Resultado da correlação de Pearson entre força de preensão palmar (PP) e peso. Quanto à qualidade alimentar analisada pelo R24h usual, todos os pacientes apresentam ingestão energética abaixo da recomendada para pacientes em hemodiálise (23,5 ± 5,2 kcal), a quantidade de proteína ingerida por kg se mostrou adequada em 49% dos pacientes, mas na média ficou abaixo do recomendado para pacientes em hemodiálise (0,98 ± 0,37 g/kg). Em relação aos exames bioquímicos, a média da albumina apresentou-se 3,5 ± 0,3 mg/dL, além de 83,7% dos pacientes apresentarem valores séricos de albumina inferiores a 4,0 g/dl, e 49% menores que 3,5 g/dL. Colesterol total apresentou-se com média de 180 ± 24,89 mg/dL. De acordo com os critérios propostos por Fouque et al. para classificar o estado nutricional de pacientes com DRC, 19% da nossa amostra apresentavam desnutrição energético-proteica. 13 DISCUSSÃO A população masculina predominou entre os idosos estudados. Resultado semelhante foi encontrado por Machado et al.14, que verificaram que 64% dos pacientes em hemodiálise eram homens. Sobrepeso e eutrofia encontrados em nosso estudo apresentaram maior incidência que desnutrição, e esse resultado também foi observado em estudo de Detregiachi et al.15. Porém, alguns pesquisadores mostram que um IMC maior tem correlação positiva com a sobrevida dessa população, e a isto chamam de epidemiologia reversa da obesidade16. Segundo Fouque et al.13, a desnutrição energéticoproteica indica perda das reservas corporais de proteína e energia na DRC e está presente em 18% a 75% destes pacientes, semelhante aos resultados deste estudo. No entanto, o termo desnutrição energético-proteica pode estar equivocado, porque pode haver progressão dessa desnutrição por alterações funcionais antes mesmo das alterações de composição corporal. Ou seja, existe déficit não só de calorias e proteínas, mas de outros nutrientes, como minerais e vitaminas10. Em relação à FPP, 35,1% de nossa amostra apresentaram valores abaixo da normalidade para a idade, inferior aos Rev Bras Nutr Clin 2015; 30 (4): 297-302 300 Desnutrição energético-proteica de idosos em hemodiálise resultados de Leal et al.6 (55,8%), que usaram o mesmo ponto de corte deste estudo. Dantas16 observou maior mortalidade tanto em homens quanto em mulheres com menor FPP, bem como relação dos valores de FPP com o estado nutricional. A importância desses achados advém da frequente discussão atual sobre o “paradoxo da sobrevida” dos pacientes em hemodiálise, já que marcadores de um prognóstico ruim na população geral, como um elevado IMC, comportam-se como protetores na população dialítica. O autor apontou, ainda, a FPP como única preditora independente de desfechos relacionados à depleção energético-proteica. A qualidade da dieta avaliada pelo R24h usual demonstra que nossos pacientes têm uma alimentação aquém do que deveriam segundo o K/DOQI10, tanto em calorias, quanto em proteína, apesar de a maioria estar em sobrepeso. O fato de todos os pacientes apresentarem um consumo de energia reduzido (<30 kcal/kg/dia) e 51%, consumo baixo de proteínas (<1,2 g/kg/dia) sugere que esses pacientes possam estar em balanço nitrogenado negativo, sendo este fator importante na determinação do estado nutricional dessa população. A pesquisa de Machado et al.14 também reporta essa deficiência, onde o consumo médio de energia e proteína correspondeu a 19,0 ± 6,2 kcal/kg e 0,9 ± 0,4 g/kg, respectivamente. Kim et al.17 concluíram que a falta de apetite é o fator mais influente na ingestão deficiente de pacientes em hemodiálise, sintoma presente em 70% dos sujeitos. Pacientes com DRC frequentemente experimentam a anorexia, que se desenvolve durante a progressão da doença. Falta de apetite foi estreitamente associada a desnutrição, inflamação e saúde, resultado desfavorável em pacientes em HD de manutenção. O colesterol total desta população foi de 180 ± 24,89 mg/dL, valor limítrofe para esse grupo de pacientes. Porém, evidências estão sendo apresentadas de que pacientes em tratamento de substituição renal, em especial a hemodiálise, com níveis de colesterol na faixa normal-baixa (150-180mg/ dL), apresentam maior mortalidade do que os pacientes com níveis elevados18. Assim, pacientes em tratamento hemodialítico com colesterol abaixo de 150-180 mg/dL devem ser avaliados, objetivando identificar precocemente déficits nutricionais10. Analisando outros exames bioquímicos, observou-se que 83,7% dos pacientes apresentaram albumina sérica menor que 4,0 g/dl. Resultados semelhantes ao estudo de Pereira et al.4. Estudos demonstram que valores de albumina menores que 4,0 g/dL estão fortemente associados à probabilidade de morte19. A albumina é uma proteína sintetizada pelo fígado. A expressão de albumina é bloqueada em estados inflamatórios. A redução na filtração glomerular não predispõe, por si só, à hipoalbuminemia em pacientes com DRC, porém, estes pacientes possuem condições clínicas que contribuem para essa diminuição, acredita-se que, durante o processo inflamatório, o aumento da liberação ou ativação de citocinas possa levar à supressão do apetite, à proteólise muscular, à hipoalbuminemia, por diminuição da síntese e aumento da taxa catabólica dessa proteína20. CONCLUSÃO Conclui-se que, frente aos parâmetros de avaliação nutricional utilizados neste estudo, a maioria dos pacientes apresenta sobrepeso pelo índice de massa corporal. A desnutrição energético-proteica também se faz presente no grupo estudado. Dessa forma, os dados revelam que há necessidade de uma abordagem interdisciplinar nos aspectos clínico e nutricional, com a intenção de minimizar a deterioração do estado nutricional que promove desfechos não favoráveis. Além disso, é imprescindível o acompanhamento nutricional de rotina, envolvendo avaliação antropométrica, dietética e bioquímica, em especial na população idosa, tanto para o eixo da desnutrição quanto para o da obesidade. Esses aspectos são de extrema importância para prevenir complicações e reduzir as taxas de morbimortalidade associadas ao estado nutricional desses pacientes. REFERÊNCIAS 1.Orlandi FS, Gesualdo GD. Avaliação do nível de fragilidade de idosos com doença renal crônica em tratamento hemodialítico. Acta Paul Enferm. 2014;27(1):29-34. 2.Leining CE, Moraes T, Ribeiro S, Riella MC, Olandoski M, Martins C, et al. Predictive value of malnutrition markers for mortality in peritoneal dialysis patients. 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