Chapter 5 Trabalho e energia no movimento unidimensional 5.1 Conservação de energia na queda livre Vamos, primeiramente, considerar um exemplo simples. O problema da queda livre unidimensional de um corpo de massa m pela força gravitacional da terra com aceleração g. Seja y a coordenada vertical do corpo. A segunda lei de Newton para este caso fica d2 y = −mg . (5.1) dt2 Já sabemos resolver esta equação e obter a coordenada vertical y como função do tempo t. Aqui, contudo, veremos o problema por outro ângulo. Multiplicando ambos os lados da equação acima por dy/dt obtemos m dy d2 y dy = −mg . 2 dt dt dt Pela regra da cadeia sabemos que para v = v (t) , m e, portanto (v = dy/dt), (5.2) d 2 dv v = 2v , dt dt d2 y dy 1d = dt2 dt 2 dt dy dt 2 , Utilizando a relação (5.3) na Eq.(5.2), temos 2 1 d dy dy m = −mg , 2 dt dt dt 47 (5.3) 48CHAPTER 5. TRABALHO E ENERGIA NO MOVIMENTO UNIDIMENSIONAL ou, equivalentemente, 2 d m dy + mgy = 0. dt 2 dt Esta equação implica que a quantidade, 2 m dy + mgy 2 dt é constante no tempo, mesmo que cada um dos termos, 2 m dy 2 dt (5.4) e mgy (5.5) separadamente variem no tempo. A quantidade 2 m dy T ≡ 2 dt presente na Eq.(5.4) é chamada de energia cinética, e a quantidade na Eq.(5.5) V ≡ mgy é chamada de energia potencial. Mesmo que T e V variem no tempo, a soma, E =T +V é constante no tempo. Chamaremos E de energia total. Vamos denotar as quantidades correspondentes no instante t1 por E1 = T1 + V1 e no instante t2 por E2 = T2 + V2 . A constância da energia total significa que E1 = E2 , ou seja T1 + V1 = T2 + V2 . 5.2. TRABALHO E A VARIAÇÃO DE ENERGIA CINÉTICA 49 Note que o fato fundamental é que a equação de movimento (a segunda lei de Newton) mostra que o movimento de queda livre sempre conserva a energia total, ou seja, a soma da energia potencial com a energia cinética é sempre constante. Podemos utilizar este fato para resolver alguns problemas de modo bem simples. Exercícios: 1. Lançamos uma pedra de massa m na direção vertical com a velocidade inicial v0 . Qual é a altura máxima que a pedra atinge? Despreze o efeito de ar. 2. Uma pessoa cai de um predio de 10m de altura. Qual é a velocidade em km/h do corpo quando atinge o térreo ? Despreze o efeito de ar. 3. Escreva as seguintes expressões como a derivada de alguma quantidade. (Ex. x2 dx = dt 1 d 3 dt (x3 ) ). 1) 2) 3) 4) 5) 5.2 2 2 dz dz , dt dt2 2 df d f e dt 2 dt 1 df f dt d2 f 1 (df /dt)2 + 1 dt2 1 d2 s 2 dt2 1 − ds dt Trabalho e a variação de energia cinética Vamos considerar a situação de uma força mais geral do que a força gravitacional constante. Pela 2a lei de Newton, temos para a partícula com massa m, d2 x m 2 = f (t) , dt onde f = f (t) é a força que atua na partícula. Multiplicando por dx/dt dos dois lados, temos dx d2 x dx m = f (t) 2 dt dt dt 50CHAPTER 5. TRABALHO E ENERGIA NO MOVIMENTO UNIDIMENSIONAL Seguindo argumento análogo ao da sessão acima, temos d m dx 2 dx = f (t) dt 2 dt dt ou dx dT = f (t) , dt dt onde m T = 2 dx dt (5.6) (5.7) 2 é a energia cinética da partícula no instante t. O lado direto da equação (5.7) pode ser escrito como f (t) dx = dt x(t + ∆t) − x(t) ∆t→0 ∆t f (t) ∆x = lim ∆t→0 ∆t lim f (t) onde ∆x é o deslocamento da partícula no intervalo de tempo, (t, t + ∆t) . Definimos o trabalho feito pela força f quando ela movimenta a partícula pela distância ∆x por ∆W = f (t) ∆x. Assim, podemos escrever f (t) dx ∆W = lim = ω (t) , ∆t→0 ∆t dt (5.8) onde ω(t) representa a taxa de trabalho que a força exerce na partícula no instante t. Com isto, a equação (5.7) fica dT = ω (t) . dt Podemos integrar a equação acima no tempo de t = ti até t = tf obtendo tf ω (t) dt (5.9) Tf − Ti = ti O lado direito da equação acima representa o trabalho total que a força exerceu sobre a partícula durante o período (ti → tf ) . Portanto, a equação (5.9) está dizendo que o trabalho feito pela força é utilzado para aumentar (ou 5.3. FORÇA CONSERVATIVA -1 51 diminuir, dependendo do sinal do lado direito) a energia cinética da partícula. Caso a energia cinética da partícula aumente, dizemos que a força realizou trabalho (positivo) sobre a partícula. Caso contrário, dizemos que a partícula realizou trabalho (positivo), ou, equivalentemente, que a força realizou um trabalho negativo. Desta forma, podemos dizer que a quantidade tf − ω (t) dt ti representa o trabalho que a partícula realiza. 5.3 Força conservativa -1 Na equação (5.8), escrevemos a taxa que a força exerce como ω = lim ∆t→0 ∆W dx = f (t) . ∆t dt Neste caso, tome cuidado para NÃO escrever o lado direto da equação (5.9) como tf tf dx ω (t) dt = f dt dt ti tixf → f dx, xi simplesmente cancelando dt. Isto porque, no caso geral, f = f (t) e a velocidade v (t) = dx/dt são duas funções independentes entre si, e não se pode utilizar o método de integração por substituição para substituir a variável t por x. Entretanto, existem casos em que a variação da força f depende somente da posição x e não depende explicitamente de t, ou seja, f (t) = f(x(t)). Neste caso, o método de substituição pode ser efetuado, obtendo-se tf xf ω (t) dt = f (x) dx. ti xi Assim, podemos definir uma função V (x) por x V (x) = − f (x′ ) dx′ , 52CHAPTER 5. TRABALHO E ENERGIA NO MOVIMENTO UNIDIMENSIONAL tal que (note o sinal − na frente !) tf ti ω (t) dt = V (xi ) − V (xf ) . Neste caso, a equação (5.9) fica Tf − Ti = V (xi ) − V (xf ) , ou Tf + V (xf ) = Ti + V (xi ) , (5.10) isto é, a soma da energia cinética com a quantidade V (x) é mantida do tempo inicial até o tempo final. A quantidade V (x) é dita energia potencial (ou energia da posição) associada à força f (x). 5.4 Conservação de energia na mola unidimensional Podemos aplicar argumento acima para um sistema massa+mola. k m Na figura acima, uma massa está ligada à mola de constante de mola k e comprimento natural l0 num plano sem atrito. Como vimos, para obtermos a conservação de energia, partimos da segunda lei de Newton. Assim, antes de procurarmos quem será a energia conservada devemos responder à Questão: Qual é a equação de movimento para a massa? 5.4. CONSERVAÇÃO DE ENERGIA NA MOLA UNIDIMENSIONAL 53 Resposta: O primeiro passo para respondê-la é determinar a variável que usaremos para expressar a equação de movimento. Num problema unidimensional como este, não há muita escolha, mas existem certas liberdades, como, por exemplo, a origem do eixo de coordenadas. Vamos escolhê-la como sendo o extremo fixo da mola. Chamaremos x à coordenada horizontal da massa medida a partir desta origem. O segundo passo é identificar todas as forças que atuam no objeto quando a massa estiver na posição x. Neste problema, temos apenas a força da mola (a força gravitacional se cancela com a força normal da mesa). Temos f = −k (x − l0 ) . Note que o sinal negativo acima é fundamental. É nele que dá o caráter restaurador da força, i.e., ele garante que x − l0 e a aceleração tenham sinais opostos. Agora podemos utilizar a segunda lei de Newton para obter d2 x m 2 = −k (x − l0 ) . dt Note que a escolha da origem do sistema de coordenadas não é única. Podemos escolher qualquer posição horizontal como a origem do sistema de coordenadas. De posse da equação de movimento pode-se encontrar a energia conservada neste problema (veja exercícios abaixo). Exercícios: 1. Escreva a equação de movimento da massa usando o sistema de coordenadas que tem sua origem num ponto afastado do extremo fixo da mola por a. 2. Escreva a equação de movimento da massa usando o sistema de coordenadas que tem sua origem no ponto de equilíbrio da massa. 3. Verifique que as equações obtidas os itens 1 e 2 acima estão relacionadas através de uma transformação de variável e identifique a transformação. 4. Temos uma equação de movimento, m d2 x = −kx, dt2 com k > 0. Mostre que 2 1 dx 1 E= m + kx2 2 dt 2 é constante no tempo t. 54CHAPTER 5. TRABALHO E ENERGIA NO MOVIMENTO UNIDIMENSIONAL 5. Utilizando o resultado acima do item 4, argumente que o movimento é oscilatório. Qual é a amplitude máxima da oscilação? Quando a velocidade atinge seu máximo? 6. Se a equação de movimento fosse m d2 x = +kx, dt2 com k > 0, que tipo de movimento ocorreria? 5.5 Força conservativa -2 Nas últimas seções obtivemos leis de conservação de energia para algumas forças específicas (elástica e gravitacional). No entanto, nem sempre isso é possível. Dizemos que uma força é conservativa se existe um potencial V (x) tal que E = T + V (x) , seja uma constante de movimento. As condições que uma força deve satisfazer para ser conservativa serão discutidas mais adiante. No caso unidimensional, contudo, é suficiente que a força dependa apenas da posição do objeto (veremos que em mais dimensões isto não é verdade!). Exercício: Um objeto de massa m se movimenta numa reta. Estabeleça um sistema de coordenada nesta reta e expresse sua posição em termos de uma variável x. Suponha que exista uma força f atuando neste objeto. Esta força depende apenas da posição do objeto. Isto é, f é a função de x, f = f (x) . A equação de movimento (segunda lei de Newton) para este objeto é m d2 x = f (x) . dt2 1. Deduza a lei de conservação de energia, E = T + V (x) = Const, 5.6. TRABALHO 55 onde 2 1 dx T = m , 2 dt x V (x) = − f (x′ ) dx′ , x0 e x0 pode ser escolhido arbitrariamente. 2. Aplique o resultado para o problema de uma massa em queda-livre sob a força gravitacional da Terra. 3. Aplique o resultado para o problema de uma massa ligada a uma mola. 4. Uma planeta de massa m sente a força gravitacional do sol quando está na distância x do sol como M⊙ m f = −G 2 , x onde G é a constante gravitacional de Newton (G = 6.67259×10−11 m3 kg−1 s−2 ) e M⊙ é a massa do Sol (M⊙ = 2 × 1030 kg). Obtenha a energia potencial V (x) para esta força. Fixe a indeterminação da constante no potencial pela condição V → 0, para x → ∞. Obtenha a lei de conservação da energia, introduzindo o potencial, x V (x) = − f (x′ ) dx′ . 5. Utilzando a lei de conservação da energia, descreva qualitativamente o movimento da massa m nas situações ilustradas abaixo. (Nas figuras, E representa a energia total (energia cinética + potencial) da massa. 6. Nas figuras acima, estude o comportamento da força como função de x e esboce os gráficos correspondentes. Compare o comportamento da força com o da velocidade do movimento em cada caso. 5.6 Trabalho Considere que, sob a ação de uma força f , um objeto sofra um deslocamento infinitesimal ∆x. Dizemos que a força realizou um trabalho ∆W = f ∆x . 56CHAPTER 5. TRABALHO E ENERGIA NO MOVIMENTO UNIDIMENSIONAL V x=x1 x=x1 x V=E V=V(x) Figure 5.1: V x x=x1 V=E=Vmin V=V(x) Figure 5.2: 5.6. TRABALHO 57 V V=E x V=V(x) x=0 Figure 5.3: V V=E x V=V(x) Figure 5.4: 58CHAPTER 5. TRABALHO E ENERGIA NO MOVIMENTO UNIDIMENSIONAL V V=E x V=V(x) x=0 Figure 5.5: O significado desta definição de trabalho pode ser entendido pela figura abaixo. Neste exemplo, para levantar o peso de massa m por uma altura ∆h, devemos puxar a corda pela mesma distância ∆h, com a força f = mg. Quando o objeto é levantado por ∆h, ele adquire a energia potencial ∆V = mg × ∆h. Por outro lado, o trabalho que foi fornecido pela força que puxou a corda é ∆W = T × ∆h = mg × ∆h, 5.6. TRABALHO 59 onde T é a tensão da corda, que é igual, em módulo, à força gravitacional atuando na massa, mg. Assim, temos ∆V = ∆W, indicando que o trabalho definido desta forma equivale à mudança na energia potencial causada pela força. 1. Pela conservação de energia, deduza a força f necessária para levantar a carga no caso ilustrado abaixo. Cada roldana tem massa m. f M 2. Explique o funcionamento de uma alavanca em termos da conservação de energia. 60CHAPTER 5. TRABALHO E ENERGIA NO MOVIMENTO UNIDIMENSIONAL Chapter 6 Movimento Bi- e Tri-Dimensional 6.1 Noção de Trajetória Quando um objeto se movimenta num plano, ou no espaço, precisamos de mais de uma variável para especificar sua posição em cada instante. Para determinar a posição de uma partícula num plano, precisamos de duas coordenadas, x e y. No espaço, precisamos de três coordenadas, x, y e z. O número de coordenadas necessárias para determinar o movimento de um sistema é chamado de graus de liberdade. Para determinar o movimento de um objeto não puntiforme, por exemplo, uma bola de bilhar, além do movimento de translação na mesa, devemos considerar o movimento de rotação da bola. Neste caso, embora o movimento da bola esteja limitado a um plano (no caso a mesa de bilhar), o número de graus de liberdade é maior que 2. No momento, vamos nos concentrar no estudo de objetos puntiformes. Começamos com o caso bi-dimensional. Estabelecendo o sistema de coordenadas no plano em questão podemos expressar a posição do objeto pelas suas coordenadas, (x, y) . O par de números (x, y) determina a posição da partícula. Esta representação corresponde à determinação da posição em termos de pontos num mapa. Quando o objeto se movimenta, as variáveis x e y passam a depender do tempo. x = x (t) , y = y (t) . 61 (6.1) (6.2) 62 CHAPTER 6. MOVIMENTO BI- E TRI-DIMENSIONAL A sequência das posições nos instantes sucessivos, (x (t1 ) , y (t1 )) , (x (t2 ) , y (t2 )) , (x (t3 ) , y (t3 )) , ... forma uma curva no plano. Esta curva é chamada de trajetória da partícula. A equação de trajetória y = f (x) (6.3) pode ser obtida das Eqs.(6.1,6.2) ao eliminarmos o parâmetro t. Exercício: 1. Obtenha a trajetória dos seguintes movimentos e desenhe-a no plano x − y. (a) x = x0 (const.) , y = t, (b) x = t−2 y = 2t + 1, (c) x = 3 + t, 1 y = 1 + t − t2 , 2 (d) x = R cos ωt, y = R sin ωt, (R, ω : const.) (e) x = 2R cos ωt, y = 3R sin ωt, (f) π x = 2R cos ωt + , 4 y = 3R sin (ωt) , 6.2. VETORES 63 (g) et + e−t , 2 et − e−t y = , 2 x = 6.2 Vetores Percebemos que para o movimento bidimensional, diferentemente do caso unidimensional, o conceito de velocidade deve ser generalizado para incluir não só a magnitude da velocidade, mas também sua direção. Uma grandeza que tenha magnitude e direção é denomidada vetor e representada por uma flecha. A direção e o comprimento da flecha dão a direção e a magnitude do vetor, respectivamente. É comum expressar um vetor com uma seta em cima da letra, por exemplo: #v ,#a, #y , ... Note que os vetores não são números comuns e, portanto, deve-se tomar cuidado para nunca confundi-los. Um vetor Por outro lado, se especificarmos a trajetória do objeto em termos de suas coordenadas x e y, x = x (t) , y = y (t) , então, é óbvio que a velocidade na direção x é dada por vx = dx , dt (6.4) 64 CHAPTER 6. MOVIMENTO BI- E TRI-DIMENSIONAL e, também, a velocidade na direção y fica vy = dy . dt (6.5) → V dy dt dx dt As equações (6.4,6.5) mostram que num intervalo de tempo infinitesimalmente pequeno, ∆t, o objeto se desloca no plano X − Y de ∆x = vx ∆t na direção de X e por ∆y = vy ∆t na direção Y. Pelo teorema de Pitágoras, a distância percorrida pelo objeto é ∆l = ∆x2 + ∆y 2 , donde sua velocidade é dada por ∆x2 + ∆y 2 ∆l v = lim = lim ∆t→0 ∆t ∆t→0 ∆t 2 2 ∆x ∆y = lim + ∆t→0 ∆t ∆t = vx2 + vy2 . 6.3. VETOR DESLOCAMENTO 6.3 65 Vetor deslocamento A natureza vetorial da velocidade de um objeto vem do carácter vetorial do deslocamento do objeto. Para perceber a natureza vetorial do deslocamento, considere um objeto que se desloca do ponto P0 = (x0 , y0 ) ao ponto P1 = (x1 , y1 ). Podemos associar o vetor deslocamento à seta que aponta do ponto P0 ao ponto P1 . Obviamente, o deslocamento tem magnitude (a distância entre os pontos) e direção (a mesma da seta). Portanto, o deslocamento é −→ −→ um vetor. Denotamos o vetor deslocamento por ∆r. O vetor ∆r é a seta −−→ P0 P1 ., i.e, −→ −−→ ∆r = P0 P1 . −→ Em termos de componentes, podemos expressar ∆r por −→ x1 − x0 ∆r → . y1 − y0 Podemos definir as seguintes operações algébricas para vetores deslocamento: −→ a. Multiplicação de um vetor por um número. Para um dado vetor ∆r −→ e um α constante, podemos considerar o deslocamento α vezes ∆r. Expressamos o vetor resultante como −→ α ∆r. −→ Ele é um vetor de magnitude α vezes maior do que ∆r. A direção de −→ −→ α ∆r será a mesma que ∆r para α > 0 e oposta caso α < 0. Assim, −→ (−1) ∆r −→ expressa um vetor de mesma magnitude e direção oposta à ∆r. Neste caso escrevemos simplesmente −→ −∆r. b. Adição de dois vetores. Podemos considerar o deslocamento sucessivo −→ −→ de dois vetores de deslocamento, ∆r1 e ∆r2 . O resultado também é um deslocamento e pode, portanto, ser expresso por um vetor. O vetor resultante dos deslocamento sucessivo é definido como o vetor que liga o ponto inicial e o ponto final do deslocamento. Denotamos a operação de deslocamento sucessivo pelo símbolo (+). 66 CHAPTER 6. MOVIMENTO BI- E TRI-DIMENSIONAL P2 ∆r 2 ∆r 3 P1 ∆r 1 P0 Na figura acima, temos −→ −→ −→ ∆r3 = ∆r1 + ∆r2 . O símbolo + para adição vetorial não deve ser confundido como o simbolo + entre números. Não existe uma quantidade correspondente à expressão, −→ ∆r1 + α , na qual α é um número. Exercícios: 1. Segundo a definição de adição para vetores de deslocamento, não é óbvio que vale a regra −→ ? −→ −→ −→ ∆r1 + ∆r2 = ∆r2 + ∆r1 . Prove (geometricamente) que de fato vale a regra acima. 2. Seguindo as definições a,b acima mostre geometricamente o significado da expressão, −→ −→ −→ ∆r3 = ∆r1 − ∆r2 . −→ −→ 3. Para um par de vetores de deslocamento, ∆r1 e ∆r2 , e dois números α e β, podemos construir o vetor, −→ −→ −→ ∆r3 = α∆r1 + β ∆r2 . 6.3. VETOR DESLOCAMENTO 67 −→ −→ −→ Dizemos que ∆r3 é uma combinação linear de ∆r1 e ∆r2 . −→ −→ Sejam ∆r1 e ∆r2 dados na figura abaixo ∆r 2 ∆r 1 −→ −→ Os vetores ∆r1 e ∆r2 são perpendiculares entre si e têm o mesmo módulo. Desenhe o vetor resultante das seguintes combinações lineares. 1 −→ 1 −→ ∆r1 + ∆r2 , 2 2 −→ −→ 2∆r1 + ∆r2 , −−→ −→ ∆r1 + 2∆r2 , −−→ −→ 3∆r1 − 2∆r2 , 4. Encontre a condição sobre os coeficientes α e β de uma combinação linear entre dois vetores, −→ −→ −→ ∆r3 = α∆r1 + β ∆r2 para a qual os pontos finais dos três vetores −→ −→ −→ ∆r1 , ∆r2 , ∆r3 fiquem numa mesma reta (veja a figura). 68 CHAPTER 6. MOVIMENTO BI- E TRI-DIMENSIONAL ∆r 3 ∆r 2 ∆r 1 Figure 6.1: 6.4 Espaço vetorial Na seção anterior definimos de forma intuitiva o que entendemos por vetores. Discutimos algumas das propriedades vetoriais que nos serão úteis ao longo do nosso curso. O objetivo principal para introduzir o conceito de vetor é incorporar a noção de "direção" na nossa analise. Cabe a pergunta. O que distingue uma direção a outra numa linguagem matemática? O objetivo da presente seção é formalizar matematicamente o conceito de vetor. Considere um conjunto V cujo elementos são denotados por uma seta, como por exemplo V = {#u, #v , ....} . Embora a notação #u lembre o vetor discutido na seção anterior, o símbolo → − → é utilizado somente para indicar que − u é elemento do conjunto V e, por enquanto, não estamos considerando quaisquer atribuições a esses elementos (ou seja, eles ainda podem ser qualquer coisa...). Agora, para introduzir a noção de direção em V , é fundamental que sejam definidas as seguintes duas operações: primeira, a adição, que a cada par de elementos #u, #v ∈ V faz corresponder um outro elemento de V , w # = #u + #v. Essa operação corresponde ao "deslocamento sucessivo" de dois vetores na seção anterior. Note que aqui o símbolo + em princípio não tem nada a ver com a adição de números comuns. Segunda, a multiplicação por um número real, que a cada número real α ∈ R (R : conjunto de todos os números reais) e a cada elemento #v ∈ V faz corresponder um outro elemento de V , α · #v, 6.4. ESPAÇO VETORIAL 69 geralmente escrito apenas como α#v. Essa operação corresponde a deslocar α vezes na direção do vetor #v . Dizemos que V é um espaço vetorial se, para quaisquer α , β ∈ R e #u, #v , w # ∈ V , forem satisfeitas as condições abaixo, conhecidas como axiomas de espaço vetorial: 1. (Comutatividade) #u + #v = #v + #u ; 2. (Associatividade) (#u + #v) + w # = #u + (#v + w) # ; 3. (Elemento nulo) existe um elemento #0 ∈ V tal que #0 + #v = #v + #0 = #v para todo #v ∈ V ; −−→ 4. (Inverso aditivo) para cada #v ∈ V existe um elemento (−v) ∈ V −−→ chamado de inverso aditivo de #v tal que #v + (−v) = 0.Denotamos −−→ simplesmente (−v) = −#v ; 5. (Distributividade) (α + β)#v = α#v + β#v e α(#u + #v ) = α#u + α#v ; 6. (Multiplicação por 1) 1 · #v = #v . Caso o conjunto V munido das duas operações + e · forme um espaço vetorial, diremos que seus elementos são vetores. Em princípio, α poderia ser um número complexo, ou, mais geralmente, um elemento de um corpo qualquer. Contudo, para este curso, o corpo em questão será sempre o dos reais. Exercício: 1. Mostre geometricamente que o conjunto formado pelos vetores deslocamento e munido das operações definidas na seção anterior forma um espaço vetorial. 2. Mostre que o conjunto de todas as funções, V = {f (x)} com domínio no intervalo a ≤ x ≤ b forma um espaço vetorial. 3. Mostre que o conjunto das regras acima para constituir um espaço vetorial permite, se α = 0 , a operação "algébrica": se α#u + β#v = #0,então β #u = − #v . α 70 6.5 CHAPTER 6. MOVIMENTO BI- E TRI-DIMENSIONAL Independência linear, Combinação linear e Dimensão de um espaço vetorial Somente da definição formal acima de um espaço vetorial V, a noção de "direção" que queremos formalizar ainda não fica explícita. Vamos analizar essa questão mais em detalhe. Consideremos um vetor u ∈ V e o vetor resultante de multiplicação por um número real α, #v = α#u ∈ V. No caso do vetor de deslocamento, essa operação corresponde a um deslocamento na mesma direção de #u pelo fator α. Assim, a multiplicação por um número não altera a direção. Generalizando essa ideia, podemos considerar que, para um dado vetor u, todos os vetores da forma #v = α#u (6.6) estão essencialmente na mesma direção (a direção oposta também considera a mesma direção). Quando os dois vetores estiverem na mesma direção, diremos que os dois vetores são linearmente dependentes. Inversamente, quando os dois vetores representarem essencialmente direções distintas, não é possível escrevê-los na forma Eq.(6.6), e diremos que os dois vetores são linearmente independentes. Como podemos expressar operacionalmente uma situação em que os dois vetores #u e #v não podem ser relacionados na forma Eq.(6.6)? Para responder a esta pergunta, vamos, primeiramente, considerar o caso inverso, ou seja, os dois vetores #u e #v são expressos em termos da Eq.(6.6) e, portanto, linearmente dependentes. A Eq.(6.6) mostra que existem dois números α, β ∈ R não nulos tal que α#u + β#v = #0. A forma do lado esquerdo da equação acima, α#u + β#v é chamada combinação linear de #u e #v. Agora, queremos a situação contrária. Neste caso, a afirmação de que não há α, β não nulos que satisfazem a equação acima é equivalente à condição α#u + β#v = #0, implicar necessariamente (se e somente se) em α = β = 0. Assim, estabelecemos a definição de independência linear de dois vetores por: 6.5. INDEPENDÊNCIA LINEAR, COMBINAÇÃO LINEAR E DIMENSÃO DE UM ESPAÇO VETORI Definição: Os dois elementos #u e #v ∈ V são ditos linearmente independentes quando a equação α#u + β#v = #0, se e somente se α = β = 0. No exemplo de vetores de deslocamento, a definição acima está dizendo que para se voltar ao ponto inicial (#0) fazendo deslocamentos de tamanho α e β, respectivamente, em duas direções distintas, #u e #v, a única maneira é não andar nem na direção #u nem #v,ou seja, α = 0, β = 0. Podemos generalizar a definição acima. Definição: Os n elementos #u1 , #u2 , .., #un ∈ V são ditos linearmente independentes quando a equação vale se e somente se α1#u1 + α2#u2 + · · · + αn#un = #0, α1 = α2 = · · · = αn = 0. Os n vetores linearmente independentes representam essencialmente n direções distintas. Mas para entender melhor o que significa "as direções essencialmente distintas", vamos considerar um exemplo de deslocamento no plano x − y. Escolhemos dois vetores de deslocamento #u e #v. Se esses dois vetores #u e #v representam duas direções essencialmente diferentes, sabemos que podemos alcançar qualquer ponto do plano combinando os dois deslocamentos adequadamente. Assim, sabemos que qualquer ponto no plano, w, # pode ser escrito pela combinação linear w # = α#u + β#v . Em outras palavras, o plano x−y pode ser completado pela combinação linear de dois vetores linearmente independentes. Mas isto implica que quaisquer 3 vetores, #u, #v e #z no plano x − y sempre podem ser escrito como α#u + β#v + γ w # = #0. Ou seja, no espaço vetorial do plano x − y não há possibilidade de escolher 3 vetores linearmente independentes. O número máximo de vetores linearmente independentes neste caso é 2. Para um dado espaço vetorial V, o número máximo de vetores linearmente independentes possível é chamado de dimensão do espaço. Como vimos, no caso de plano x − y, a dimensão é 2. A dimensão do espaço é o número máximo de direções essencialmente distintas contidas no espaço. 72 6.6 CHAPTER 6. MOVIMENTO BI- E TRI-DIMENSIONAL Base, Componentes Seja V um espaço vetorial de dimensão n. Então, por definição, existem n vetores linearmente independentes. Sejam #e1 , #e2 , .., #en vetores linearmente independentes. Então, pela definição de dimensão, qualquer vetor #u ∈ V pode ser escrito como uma combinação linear desses vetores, #e1 , #e2 , .., #en . #u = u1#e1 + u2#e2 + · · · + un#en . O conjunto {#e1 , #e2 , .., #en } é dito uma base do espaço V. Os números, u1 , u2 , .., un são ditos os componentes do vetor #u na base {#e1 , #e2 , .., #en } . No caso de espaço 3-dimensional real, podemos considerar como base os 3 vetores #i, #j, #k que estão nas direções de eixos X,Y e Z, respectivamente. 6.7 Produto Escalar (Produto Interno) - Motivação A força física tem carater vetorial, ou seja, ela tem tamanho e direção. Assim, representamos a força por f#. Quando essa força movimenta uma partícula, causando um deslocamento ∆#r, podemos consideramos o trabalho feito por esta força. Escolhendo um sistema de coordenadas, podemos expressar tanto f# como ∆#r em termos de suas componentes, fx f# → fx , fz ∆x ∆#r → ∆y . ∆z O trabalho realizado pela força f# então é a soma das contribuições de cada uma das componentes, ∆W = fx dx + fy dy + fz dz. (6.7) A expressão acima pode ser considerada como um procedimento para se obter um número (∆W ), a partir de um par de vetores, ∆#r e f#, ∆#r, f# ∈ V → ∆W ∈ R Um procedimento para se construir um número (chamado de escalar, em contraste a vetor) a partir de dois vetores #u e #v quaisquer é dito o produto escalar (ou produto interno) e escrito como (#u, #v) ou #u · #v. 6.7. PRODUTO ESCALAR (PRODUTO INTERNO) - MOTIVAÇÃO 73 Exercícios: Consideremos dois vetores #a e #b no plano x − y, sendo #a = ax ay , #b = bx by . Definimos um produto escalar #a · #b por #a · #b = ax bx + ay by . (6.8) # Sendo #a, b , #c vetores quaisquer e x um número, mostre que o produto escalar tem as seguintes propriedades: 1. (a) Reciprocidade: #a · #b = #b · #a, (b) Distributividade: #a · #b + #c = #a · #b + #a · #c, #a + #b · #c = #a · #c + #b · #c, (c) Linearidade em ambos os argumentos: #a · x#b = x #a · #b , # # (x#a) · b = x #a · b . (d) Positividade: #a · #a ≥ 0, com a igualdade válida somente para o vetor nulo, ou seja #a · #a = 0 ⇔ #a = 0. Note que a quantidade, é o módulo do vetor #a. √ #a · #a = |#a| 74 CHAPTER 6. MOVIMENTO BI- E TRI-DIMENSIONAL 6.8 Produto Escalar para definir a geometria (ângulos, distâncias) Quando introduzimos um espaço vetorial na forma abstrata, pelas regras de adição e multiplicação por escalar como na seção anterior, devemos notar que ainda não temos noção de distância e nem de ângulos entre duas direções. Assim, ainda não temos conceito de eixos "ortogonais". Em seguida, veremos que, se o produto escalar é definido no espaço vetorial V, podemos estabelecer os conceitos de distância e de ângulos entre dois vetores. Primeiramente, vamos supor que exista uma regra de construir um número #u · #v a partir de dois vetores quaisquer #u e #v no espaço vetorial V. ∀ #u, #v ∈ V → #u · #v ∈ R Aqui, não perguntamos na prática como obter o número #u · #v,mas exigimos que esta construção satisfaça às seguintes regras ∀#u, #v e w # ∈V 1. (a) Reciprocidade: #u · #v = #v · #u, (b) Distributividade: #u · (#v + w) # = #u · #v + #u · w, # (#u + #v ) · w # = #u · w # + #v · w, # (c) Linearidade em ambos os argumentos: #u · (x#v ) = x (#u · #v ) , (x#u) · #v = x (#u · #v ) . (d) Positividade: #u · #u ≥ 0, com a igualdade válida somente para o vetor nulo, ou seja #u · #u = 0 ⇔ #u = 0. A quantidade, √ #u · #u = |#u| , é chamada de módulo do vetor #u. 6.8. PRODUTO ESCALAR PARA DEFINIR A GEOMETRIA (ÂNGULOS, DISTÂNCIAS)75 Exercícios: 1. Usando somente as regras obtidas no exercício anterior, prove as seguintes igualdades. 2 #a + #b · #a − #b = |#a|2 − #b , 2 2 # # #a + b · #a + b = |#a| + #b + 2 #a · #b . 2. Sejam #e1 e #e2 os vetores unitários linearmente independentes num espaço vetorial de dimensão 2 (por exempo, o plano X − Y ). Qualquer vetor no espaço pode ser expresso como uma combinação linear dos #e1 e #e2 . Por exemplo, #a = a1 #e1 + a2 #e2 , #b = b1 #e1 + b2 #e2 . Como vimos, o conjunto de vetores #e1 e #e2 formam uma base deste espaço. Os coeficientes (a1 , a2 ) são chamados de componentes do vetor #a nesta base. Além disto, supomos que (#e1 · #e2 ) = 0. Neste caso, a base (#e1 , #e2 ) é dita "ortonormal". Analogamente, (b1 , b2 ) são as compontentes do vetor #b nesta base. Usando somente a regra utilizada na questão-1 acima, expresse o produto escalar #a · #b em termos dessas componentes. A partir daí mostre que a1 = #e1 · #a e a2 = #e2 · #a 3. Qual é a condição para que dois vetores, #a e #b sejam paralelos? Como fica esta condição em termos de componentes? Faça o mesmo para #a e #b ortogonais. 4. Mostre que o módulo de um vetor #a = a1 #e1 + a2 #e2 , é dado por |#a| = a21 + a22 . 5. Considere dois vetores #a e #b no plano X − Y. Sendo #e1 e #e2 os vetores unitários nas direções de X e Y respectivamente, use #a = a1 #e1 + a2 #e2 , #b = b1 #e1 + b2 #e2 . 76 CHAPTER 6. MOVIMENTO BI- E TRI-DIMENSIONAL para mostrar que o ângulo entre #a e #b é dado por cos θ = a1 b1 + a2 b2 , a21 + a22 b21 + b22 6. Muitas vezes expressamos um vetor em termos de suas componentes como a1 . #a → a2 Mostre que a1 a2 a1 + b1 + = a2 + b2 a1 xa1 x = . a2 xa2 b1 b2 , 7. Sejam #a → #b → 2 3 3 1 , , numa base {#e1 , #e2 } . Calcule o módulo dos seguintes vetores: 1) #a + #b, 2) 2#a − 3#b. 8. Sejam #a → #b → 5 3 2 −1 , , na base {#e1 , #e2 } . Obtenha o vetor #x (e suas componentes) que satisfaz às seguintes equações. 1) #a + #x = 2#b, 2) 2#a + #x = 3#b − #x 6.9. VETOR POSIÇÃO 77 9. Normalize o vetor #a → 2 3 , isto é, obtenha o vetor unitário que tem a mesma direção que #a. 10. Normalize os seguintes vetores: 1 1 −1 2 11. Demonstre geometricamente que os vetores 1 #a + #b 2 1 #v = #a − #b 2 #u = são ortogonais entre si se, e somente se, #a e #b têm o mesmo módulo. Também verifique algebricamente. 12. Demonstre que o trabalho definido na Eq.(6.7) é escrito também como dW = |d#r| f# cos θ, onde |d#r| = (dx)2 + (dy)2 + (dz)2 , # fx2 + fy2 + fz2 , f = e θ é o ângulo entre os vetores f# e d#r. 6.9 Vetor Posição Qualquer ponto no plano X − Y de coordenadas (x, y) pode ser obtido da origem através do deslocamento x . y 78 CHAPTER 6. MOVIMENTO BI- E TRI-DIMENSIONAL Desta forma, podemos identificar a posição de um objeto puntiforme qualquer no plano X − Y como sendo um vetor de deslocamento a partir da origem do sistema de coordenada em uso. Expresso dessa forma, o vetor correspondente é chamado vetor posição. Assim, para qualquer ponto P (x, y) associamos um vetor posição x y −→ como sendo a seta OP . Mas lembre que quando falamos de adição vetorial, sempre associamos o conceito de deslocamento para um vetor. 1. Consideremos três pontos, A, B e C no plano X − Y . Escolhendo um outro ponto O como origem, podemos considerar três vetores posição, #a, #b e #c, correspondentes aos pontos A, B, e C, respectivamente. Expresse o vetor posição #g do centro geométrico do triângulo ABC em termos dos vetores, #a, #b e #c. 2. Mostre que se escolhermos o centro geométrico do triângulo ABC como origem, os vetores posição #a, #b e #c satisfazem à relação, #a + #b + #c = #0. 3. Num triângulo, podemos associar um vetor para cada uma das arestas. Sejam #a, #b e #c estes três vetores. Mostre que, escolhendo as direções destes vetores apropriadamente, podemos ter #a + #b + #c = #0. (a) Expresse o centro geométrico do triângulo em termos destes vetores. (b) Mostre que a2 + b2 − c2 = cos θ. 2ab onde a, b e c são os comprimentos das arestas e θ é o ângulo entre as arestas a e b (veja a Fig. abaixo). b c θ a 6.9. VETOR POSIÇÃO 79 4. Sejam O, A, B e C 4 pontos distintos no plano X − Y . Prove que se OB ⊥ CA, OC ⊥ AB, então OA ⊥ BC. 5. Seja t um parâmetro que varia no intervalo −1 ≤ t ≤ 1. e #e1 = #e2 = #r0 = #a = 1 0 0 1 1 2 3 −1 , , Desenhe a trajetória dos seguintes vetores #r (t) no plano (X − Y ) . Calcule o vetor velocidade e desenhe seu movimento em t. #r (t) #r (t) #r (t) #r (t) = = = = 2t #e1 − (2 + t) #e2 , (1 − t) #a + #r0 , 1 − t2 #e2 + t #e1 + #r0 . t2#a + t#e1 + (1 − 2t) #e2 + #r0 6. O movimento de uma partícula é dado por #r (t) = #r0 + #v0 t, onde t é o tempo e #r0 e #v0 são vetores constantes. (a) Qual é o movimento desta partícula? (b) Um observador está numa posição cujo vetor posição é dado por #a. Expresse a distância entre a partícula e o observador em função do tempo t e discuta o comportamento desta função. 80 CHAPTER 6. MOVIMENTO BI- E TRI-DIMENSIONAL (c) Obtenha o instante tmin para o qual esta distância é mínima. Encontre o vetor posição #rmin da partícula neste instante e calcule a partir daí a distância mínima entre a partícula e o observador. (d) Calcule o vetor velocidade da partícula. (e) Mostre que o vetor d# (t) = #r (t) − #a fica ortogonal à velocidade no tempo t = tmin . Interprete geometricamente este resultado. 6.10 Velocidade e Aceleração como vetor Vamos considerar o movimento de um objeto cuja trajetória é dada por #r = #r (t) . A velocidade é definida como a variação do vetor posição num intervalo de tempo infinitesimal. Já que a variação de um vetor é um vetor, a velocidade é um vetor. Temos d (#r) . #v ≡ dt Note que a definição da derivada de uma função pode ser generalizada como d #r (t + ∆t) − r (t) (#r) ≡ lim , ∆t→0 dt ∆t uma vez que todas as operações necessárias são bem definidas mesmo para um vetor. Analogamente, o vetor aceleração é definido como d#v dt d2#r = . dt2 #a = Podemos também generalizar o conceito de integral para um vetor. Seja #v (t) um vetor que depende da variável t. Podemos definir a integral deste vetor em t como tf N ′ ′ #v (t ) dt = lim ∆t #v (ti ) , t0 ∆t→0 N→∞ i=0 onde ti = t0 + i∆t, N∆t = (tf − t0 ) . 6.11. EQUAÇÃO DE NEWTON NA FORMA VETORIAL 81 Note que aqui também todas as operações necessárias são definidas para vetores sem problemas. Como no caso unidimensional, se a aceleração é dada explicitamente como função do tempo t, podemos integrar a aceleração no tempo e obter o vetor velocidade. Ao integrarmos o vetor velocidade no tempo, teremos o vetor posição. 1. Obtenha o vetor posição como função do tempo para os seguintes casos (#v : vetor velocidade, #a: aceleração. #e1 , #e2 : vetores constantes, ω : constante). Assuma a condição inicial como #r (0) = #r0 , #v (0) = #v0 . 1) #a (t) = #e2 , 2) #a (t) = #e1 + t #e2 3) #a (t) = sin (ωt) #e1 + cos (ωt) #e2 6.11 Equação de Newton na forma vetorial Podemos generalizar a segunda lei de Newton para a forma vetorial escrevendo f# = m#a, onde m é a massa do objeto, #a o vetor aceleração e f# o vetor força. Esta equação diz que para alterar a velocidade, não apenas em módulo, mas também em direção, precisa-se de uma força. Note que esta equação é uma relação que vale independentemente do sistema de coordenadas adotado. As vezes é útil introduzir uma base (sistema de coordenadas) e expressar esta relação em termos de componentes. Sejam #e1 e #e2 os vetores unitários nas direções de X e Y , respectivamente. Estes vetores formam uma base ortonormal, isto é, #e1 · #e1 = 1, #e1 · #e2 = 0, #e2 · #e2 = 1, ou, numa forma mais compacta, ei · ej = δ ij , 82 CHAPTER 6. MOVIMENTO BI- E TRI-DIMENSIONAL onde o simbolo δ ij é chamado de delta de Kronecker e definido por δ ij = 1, i = j . 0, i = j Exercícios: 1. Seja i, j ∈ {1, 2, ..., N} . Mostre as seguintes propriedades da delta de Kronecker. δ ij = δ 2ij , N δ ij = 1. i=1 N i=1 N N δ ij ai = aj , δ ij ai bj = i=1 j=1 N N ai bi , i=1 δ ij δ jk = δ ik , j=1 N i=1 δ ij (1 − δ ij ) = 0. 2. Seja #a um vetor que expresso em termos da base ortonormal{#e1 , #e2 } fica #a = a1#e1 + a2#e2 . Mostre que a1 = #e1 · #a, a2 = #e2 · #a, ou seja, ai = #ei · #a, i = 1, 2. 6.12. A 2A LEI DE NEWTON EM TERMOS DE COMPONENTES 6.12 83 A 2a Lei de Newton em termos de componentes Como vimos, podemos expressar qualquer vetor no plano X − Y como uma combinação linear dos vetores base {#e1 , #e2 }. Escrevendo #a = a1#e1 + a2#e2 , f# = f1#e1 + f2#e2 , a segunda lei fica f1#e1 + f2#e2 = m (a1#e1 + a2#e2 ) . Rearruamando, temos (f1 − ma1 ) #e1 + (f2 − ma2 ) #e2 = #0. Esta equação tem a forma, x#e1 + y#e2 = #0. Usando as propriedades de #e1 e #e2 , definidos na seção anterior, é fácil perceber (mostre!) que a única solução da equação acima é x = y = 0, ou seja, Equivalentemente, temos f1 − ma1 = 0, f2 − ma2 = 0. f1 = ma1 , f2 = ma2 . Em outras palavras, a equação vetorial f# = m#a, implica que cada componente dos vetores são iguais. Uma equação vetorial bi-dimensional resulta em duas equações, uma para cada componente. Em termos de componentes, a equação vetorial f1 a1 =m , f2 a2 representa as duas equações f1 = ma1 , f2 = ma2 . 84 CHAPTER 6. MOVIMENTO BI- E TRI-DIMENSIONAL 6.13 Caso Tridimensional No espaço tridimensional existem 3 direções independentes. Ou seja, existem 3 vetores linearmente independentes. Como vimos, três vetores #a, #b e #c são ditos linearmente independentes se a equação x#a + y#b + z#c = 0 possuir como única solução x = y = z = 0. Exercícios: 1. Mostre, a partir da definição acima, que se três vetores forem linearmente independentes então nenhum dos três vetores pode ser expresso como uma combinação linear dos outros dois. 2. Expresse a condição para que três vetores #a, #b e #c fiquem num mesmo plano. 3. Vamos introduzir três vetores unitários {#e1 , #e2 , #e3 } nas direções de X, Y e Z respectivamente. Este conjunto forma uma base ortonormal. Podemos expressar qualquer vetor #a como uma combinação linear destes vetores base. #a = a1#e1 + a2#e2 + a2#e2 . Sabemos que para quaisquer dois vetores #a e #b existe um plano que os contém. Neste plano, podemos definir o produto escalar exatamente como no caso bi-dimensional. Assim, mesmo para vetores tridimensionais, definimos o produto escalar #a · #b como sendo #a · #b = |#a| #b cos θ, onde θ é o ângulo entre estes dois vetores definido no plano que os contém. (a) Mostre que #ei · #ej = δ ij , (i, j) = {1, 2, 3} . (b) Mostre que mesmo para três vetores #a, #b, e #c que não estejam num mesmo plano vale a seguinte lei de distributividade, # #a · b + #c = #a · #b + #a · #c. 6.13. CASO TRIDIMENSIONAL 85 (c) Sejam #a = a1#e1 + a2#e2 + a2#e2 , #b = b1#e1 + b2#e2 + b2#e2 . Expresse o produto escalar #a · #b em termos de a1 , a2 , a3 , b1 , b2 e b3 . 86 CHAPTER 6. MOVIMENTO BI- E TRI-DIMENSIONAL 4. Argumente porquê as definições de derivada e integral de um vetor que é função de um parâmetro t podem ser extendidas igualmente para o caso tridimensional. 5. Consideremos o movimento de um objeto cuja aceleração é um vetor constante, #a = #a0 . (a) Obtenha o vetor velocidade como função do tempo t, posta a condição inicial #v (0) = #v0 Mostre que existe um plano que contém o vetor velocidade para todo o instante t. (b) Obtenha o vetor posição correspondente como função do tempo t, com a condição inicial, #r (0) = #r0 . Demonstre que o movimento da partícula está restrito a um plano e discuta a trajetória da partícula neste plano. 6. Seja #x = #x (t) = cos (ωt) #e1 + sin (ωt) #e2 , onde #e1 e #e2 são os vetores unitários nas direções de X e Y , respectivamente. (a) Esboce o movimento do vetor posição no plano X − Y . (b) Calcule o vetor velocidade #v em função do tempo e esboce o movimento deste vetor no plano X − Y . (c) Calcule o vetor aceleração #a em função do tempo e esboce o movimento deste vetor no plano X − Y . 7. Sejam #a = #a (t) , #b = #b (t) , dois vetores que variam no tempo. (a) O produto escalar destes dois vetores é uma função (escalar) no tempo. Usando as propriedades do produto escalar, mostre que d#b d # d#a # #a · b = · b + #a · . dt dt dt 6.13. CASO TRIDIMENSIONAL 87 (b) Prove que para um movimento em que o vetor posição mantém seu módulo constante (i.e., um movimento circular, mas não necessariamente uniforme), o vetor velocidade é perpendicular ao vetor posição. 8. Considere o movimento de um projétil de massa m lançado no ar com velocidade inicial #v0 e posição inicial #r0 . Despreze a força de atrito do ar. A força gravitacional da Terra é dada por f# = −mg#e3 , onde g é a constante de aceleração gravitacional da Terra e #e3 é o vetor unitário na direção vertical da Terra, que escolhemos como o eixo Z. (a) Calcule o vetor velocidade. (b) Calcule o vetor posição. (c) Mostre que os vetores posição e velocidade sempre estão num mesmo plano. (d) Podemos escolher os eixos X e Y de tal forma que o plano X − Z seja o plano do movimento. Isto equivale a escolher os dois vetores #r0 e #v0 apropriadamente. Quais devem ser as formas destes vetores na base {#e1 , #e2 , #e3 }? #e1 e #e2 são os vetores unitários nas direções de X e Y respectivamente. (e) Obtenha a equação da trajetória neste plano, z = z (x) . (f) Seja cos θ #v0 = v0 0 , sin θ onde v0 > 0 é o módulo da velocidade inicial e θ é o ângulo entre a velocidade inicial e o eixo X. Obtenha a altura máxima que o projétil alcança em função do ângulo θ e de v0 . (g) Obtenha as coordenadas no plano X − Y do ponto onde o projétil cai na superfície da Terra (alcance do projétil), tomando a origem no ponto de lançamento. (h) Para um dado v0 , qual é o ângulo de lançamento que fornece o maior alcance do projétil?