CORREIO BRAZILIENSE – quarta-feira, 22set04 CONJUNTURA Sobe juro ao consumidor Taxa média anual cobrada pelos bancos nos empréstimos feitos às pessoas atingiu 63,1% em agosto, superando o índice de julho Ricardo Allan Da equipe do Correio Os efeitos do aumento da taxa de juros básica (Selic) só agora Cadu Gomes/CB devem começar a ser sentidos no consumo, mas o aperto no /20.9.04 bolso dos clientes bancários veio um mês antes. De acordo com o Banco Central (BC), mesmo com os níveis de inadimplência estáveis, a taxa média de juros nos empréstimos para pessoas físicas subiu de 62% ao ano em julho para 63,1% em agosto. A taxa para o crédito pessoal, uma das modalidades de financiamento às pessoas físicas, passou de 71,7% para 73,8%, a primeira elevação desde março de 2003. Bancos aumentaram Os números mostram claramente o fim da trajetória de juros cobrados nos estabilidade nos juros. Os bancos aumentaram as taxas dos financiamentos antes financiamentos antes mesmo de o BC elevar a Selic de 16% mesmo de a taxa subir para para 16,25%, decisão tomada na semana passada. O BC básica 16,25% aumentou a Selic para segurar o consumo e estancar a inflação. A diretoria do banco acredita que a economia está crescendo num ritmo muito forte, o que pode empurrar a inflação acima do limite da meta de 8% neste ano. Nas próximas semanas, o efeito da alta dos juros deve chegar ao crediário nas lojas. Num primeiro momento, o reflexo será pequeno. Mas o BC já avisou que sua ação não vai ficar por aí. No comunicado em que anunciou a elevação da Selic, os diretores afirmaram que estão no início de um ‘‘processo de ajuste moderado’’ na taxa para conter a inflação. As próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) devem elevar a Selic novamente. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, aproveitou uma solenidade no Ministério do Desenvolvimento Agrário para reafirmar sua convicção de que a situação macroeconômica do país já permite o crescimento sustentado. Meirelles também defendeu a necessidade de manter a inflação sob controle, para que o desenvolvimento possa trazer consigo uma melhor distribuição de renda. ‘‘A instabilidade atinge primeiro o segmento de baixa renda. Portanto, é muito importante a estabilidade e o desenvolvimento para que outros programas possam prosperar’’, disse Meirelles, justificando o aumento de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros. Apesar da má sinalização que a alta de juros nos empréstimos às pessoas físicas traz para a economia e da esperada ascensão da Selic, o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, acredita que as taxas de juros dos empréstimos bancários não devem passar por um aumento ‘‘significativo’’ nos próximos meses. Segundo Altamir, há uma ‘‘clara migração’’ dos tomadores de recursos no cheque especial para os empréstimos com desconto na folha de pagamento, que têm juros mais baixos. Segundo o relatório do BC, o crescimento dos juros para o crédito pessoal se deve ao aumento do custo de captação de recursos pelos bancos e ao aumento do spread médio nas operações, que passou de 45,3% para 45,7% ao ano. O spread é a diferença entre a taxa de juros com que os bancos captam os recursos no mercado financeiro e a taxa dos empréstimos concedidos aos clientes. O governo tinha a idéia de reduzir os impostos sobre a atividade dos bancos para reduzir o spread e, em conseqüência, os juros. O objetivo era estimular o aumento do volume de crédito na economia. Mas a equipe econômica acabou arquivando a idéia por enquanto porque, no novo cenário, não faz mais sentido tomar uma medida que reduza os juros. A taxa média de juros nas operações com recursos livres (que não contam destinações obrigatórias para a habitação e o setor rural) ficou estável em 43,9%, mas Altamir informou que ela já chegou a 45,2% nos primeiros seis dias úteis de setembro. A média dos juros cobrados só nos empréstimos a empresas caiu de 29,7% para 28,8% em agosto, mas subiu para 30,8% nos seis dias de setembro. Os juros do cheque especial subiram um pouco, passando de 140,1% ao ano para 140,6% em agosto, enquanto a taxa da compra de veículos cresceu de 36,1% para 36,3%. Inflação fica em 0,62% O Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) registrou variação de 0,61% na segunda prévia de setembro, ante 0,62% no mês passado. No ano, o índice acumula alta de 10,16%. ‘‘Os dados da segunda prévia mostram estabilidade e reforçam a idéia de que não há processo (inflacionário) descontrolado’’, afirmou o coordenador de Análises Econômicas do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros. O Índice de Preços no Atacado (IPA), por sua vez, avançou 0,17 ponto porcentual, passando de 0,60% na primeira prévia deste mês para 0,77%. Pesou para esse resultado o avanço nos preços de bens duráveis, de 0,67% para 1,14% no período. ‘‘Os bens duráveis têm peso relativamente pequeno, mas no atacado começou a haver aumentos. Aí, sim, cria-se certo potencial de repasse no varejo‘‘, diz o economista da FGV. Os produtos agrícolas mostraram sinais de deflação. O destaque ficou para o tomate, que na composição do IPCA recuou 32,34%, frente aumento de 62,05% no mesmo período do mês passado. Taxa básica maior nos EUA O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) elevou ontem, pela terceira vez seguida, sua taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual para 1,75% ao ano. O objetivo é manter o crescimento da maior economia do planeta sem riscos inflacionários. Com a elevação, os juros básicos norte-americanos voltam ao patamar verificado até novembro de 2002, quando o Fed havia baixado a taxa de 1,75% para 1,25% ao ano. Segundo o presidente do Fed, Alan Greenspan, a economia americana sofreu uma desaceleração em junho, causada pela disparada do preço do petróleo. O barril do produto chegou a bater o recorde absoluto de US$ 49,40 em agosto, mas acumulou altas durante todo o mês de julho. Os juros do Fed funcionam como o piso das taxas de financiamento nos Estados Unidos. A decisão do Fed ficou dentro do esperado tanto por investidores quanto por economistas. Em seu pronunciamento diante do Comitê de Orçamento do Congresso americano no último dia 8, Greenspan disse que dois dos principais indicadores econômicos dos EUA (gastos do consumidor e construção de casas) se recuperaram em julho, depois de resultados fracos em junho. Apesar de ter dito que a alta nos preços do petróleo contribuiu para a desaceleração da economia nos últimos meses, não há sinais de descontrole da inflação, disse Greenspan. Empregos A menos de dois meses da eleição presidencial nos EUA, o atual presidente americano e candidato pelo Partido Republicano, George W. Bush, vem sofrendo críticas devido ao lento aquecimento do mercado de trabalho, mesmo em um cenário de leve recuperação da economia. Em agosto, foram criados 144 mil empregos, contra 73 mil em julho. A construção de casas nos EUA em agosto atingiu o maior nível desde março deste ano, com o crescimento de 0,6% em relação a julho, informou o Departamento de Comércio dos Estados Unidos. O número de novas casas cresceu a uma taxa anualizada de dois milhões de unidades contra 1,988 milhão de unidades em julho. O dado contribui para aumentar a confiança na sustentabilidade da economia dos EUA. O resultado de julho também ficou positivo depois da revisão, registrando uma taxa anual de 1,99 milhão de unidades. Os dados de agosto ficaram acima do esperado pelos analistas do setor, que previam um declínio. O dado reforçou a opinião de Greenspan, que disse ao Congresso que a economia americana está ‘‘ganhando tração’’. Editor: Raul Pilati// [email protected] Subeditores: Sandro Silveira, Maísa Moura Coordenador: Carlos Alberto Jr. e-mail:[email protected] Tel. 214-1148