CUIDADOS PALIATIVOS, EXERCÍCIOS FÍSICOS E REABLITAÇÃO: desafios da Atenção Primária à Saúde Palliative Care, physical exercise and rehabilitation: a challenge for primary health care Simone Piccoli Vitoriano(a), Débora Dupas G. Nascimento(b), Matthew Maddocks(c) (a) (b) (c) Fisioterapeuta Especialista em Saúde da Família – FASM/CSSM/MS. São Paulo, SP, Brasil. E-mail: [email protected] Fisioterapeuta. Mestre em Enfermagem em Saúde Coletiva. Tutora da Residência Multiprofissional em Saúde da Família – FASM/CSSM/MS. São Paulo, SP, Brasil. PhD MCSP– Kings College London, Cicely Saunders Institute, Department of Palliative Care, Policy & Rehabilitation. London, England, United Kingdom. Resumo Intrudução: Vivenciamos um crescente envelhecimento populacional e aumento da prevalência de doenças e agravos não transmissíveis afetando a qualidade de vida desta população, o que tem gerado diversas demandas relativas aos cuidados paliativos. Neste sentido, o Ministério da Saúde instituiu a Política Nacional de Dor e Cuidados Paliativos em 2002, estabelecendo uma linha de cuidados ao doente terminal no âmbito do Sistema Único de Saúde, visando o desenvolvimento de ações integrais a partir da Atenção Primária à Saúde. Objetivos: Identificar na literatura científica como o exercício físico e a reabilitação são desenvolvidos no contexto de cuidados paliativos e avaliar sua aplicabilidade na Atenção Primaria à Saúde. Metodologia: Estudo de revisão bibliográfica realizada busca nas bases de dados MEDLINE, SciELO e LILACS no periodo de 1994 a maio de 2012 utilizando os descritores: Cuidados Paliativos, Exercício Físico e Reabilitação. Resultados: Foi evidenciado que os pacientes em Cuidados Paliativos aderem às intervenções de exercícios físicos e que os programas de reabilitação melhoram a fadiga, dispneia e qualidade de vida. Foi possível identificar que os sujeitos em cuidados paliativos gostariam de iniciar um programa de exercício físico e a maioria prefere que seja desenvolvida em seu domicilio. Conclusão: Tal afirmação aponta para a possibilidade de atuação dos profissionais da Atenção Primária à Saúde devido à proximidade do domicílio, família e comunidade onde essas pessoas vivem, fazendo desta característica um incentivo aos exercícios físicos. Palavras Chave: Cuidados Paliativos, Exercício Físico, Reabilitação. Abstract Introduction: We live in a growing aging population with a high prevalence of non-communicable diseases and injuries, which impact adversely on patients quality of life and generate demand for palliative care. The Ministry of Health in Brazil established the National Policy of Pain and Palliative Care in 2002, creating a line of care to the terminally ill under the Unified Health System, carrying out actions that seek the entirety of its users on Primary Health Care. Objectives: Identify the scientific literature about exercise and rehabilitation programmes being developed in palliative care and evaluate their applicability in Primary Health Care. Methodology: A search was conducted in MEDLINE, SciELO and LILACS databases period 1994 to May 2012 with the descriptors: Palliative Care, Physical Exercise and Rehabilitation. Results: From the evidence synthesis we demonstrate that it is possible for palliative care patients to adhere to exercise programs and that participation in a rehabilitation program can alleviate fatigue and dyspnea, and improve quality of life. It was also observed that patients receiving palliative care express an interest in exercise and that most prefer a program to be offered at home. Conclusion: These findings suggest physical exercise and rehabilitation may usefully be integrated into the practice of Primary Health Care professionals, who work near their home, family and the community where these patients live. Keywords: Palliative Care, Physical Exercise, Rehabilitation. Introdução Cuidados Paliativos (CP) é um conceito de assistência no final da vida, onde se busca valorizar a morte como processo do ser humano. Os Cuidados Paliativos podem ser oferecidos a indivíduos e famílias em qualquer idade, desde a criança mais jovem até o idoso, que esteja vivenciando esse processo. Apesar desta premissa, essa forma de cuidado esta tradicionalmente mais presente no paciente com câncer e em idosos, uma vez que em nossa sociedade atualmente observamos que a pirâmide demográfica vem se modificando com um aumento crescente da faixa etária acima de 60 anos (1), com 600 milhões de idosos ao redor do mundo (2). Associado ao envelhecimento populacional há a prevalência de doenças e agravos não transmissíveis (DANT) como a hipertensão arterial, diabetes mellitus, câncer e demências. Nesta população, 75,5% dos idosos referem ser portadores de pelo menos uma doença crônica (3). No tocante aos aspectos físicos, é comum observarmos a deterioração física e o déficit funcional no final da vida, assim como sintomas de fadiga e dispneia que podem ser observados na maioria dos casos de doença crônicas avançada. Tais sintomas foram avaliados em um estudo, com uma população com câncer avançado que se mostraram piores nos últimos dias de vida, levando a diminuição das atividades de vida diária e a dependência de um cuidador (4). Solano et al. (5) avaliou em seu estudo de revisão bibliográfica a predominância dos sintomas de dor, fadiga, dispneia e depressão, encontrados em cinco doenças fora de possibilidade de cura, sendo elas: câncer avançado, AIDS, doenças cardíacas, Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) e doenças renais. Em outro estudo, o mesmo autor demonstrou que os mesmos quatro sintomas - dor, fadiga, dispneia e depressão, foram observados em idosos da periferia de São Paulo, no último ano de vida e na última semana de vida e que foram mais bem paliados nos últimos dias de vida e dentro da assistência terciária a saúde (6). As DANTs não causam morte abrupta, mas passam por um longo período de aquisição de comorbidades que afetam a qualidade de vida dos indivíduos. Devendo os serviços de saúde estar preparados para receber e desenvolver ações com vistas a estes usuários que necessitam de cuidados especializados e multiprofissionais, uma vez que muitos apresentam graus variados de dependência devido à presença de déficits funcionais (7). Para atender as necessidades e demandas deste perfil populacional, a estruturação dos cuidados no fim da vida tem se ampliado em nosso meio nos últimos anos por meio de algumas iniciativas governamentais. Tais iniciativas priorizam ações que absorvam as necessidades advindas do envelhecimento, mantendo o compromisso com a qualidade da assistência, partindo de uma reorganização do sistema de saúde pública (8). Assim, pertence ao campo da Saúde Pública o planejamento e implantação de ações e serviços de sistemas de saúde que contemplem o cuidado no fim da vida, assim como políticas setoriais específicas, inclusive na formação de recursos humanos em saúde (9). Como forma de direcionar os cuidados paliativos no país, o Ministério da Saúde em 2002 instituiu a Política Nacional de Dor e Cuidados Paliativos, estabelecendo uma linha de cuidados ao doente terminal, que envolve os três níveis de atenção à saúde e produz estratégias que permitam, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), uma abordagem multidisciplinar destes pacientes, abordando os diversos aspectos físicos, psicológicos, familiares, sociais, religiosos, éticos, filosóficos do paciente, seus familiares, cuidadores e equipe de saúde (10). Para um cuidado integral aos pacientes com doenças sem possibilidade de tratamento curativo, a realização de uma abordagem ampla incluindo todos os níveis de atenção e a equipe multidisciplinar articulados em rede geraria o desenvolvimento de estratégias seguras e humanas de paliar. Nos três níveis de atenção à saúde, o trabalho das equipes da Atenção Primária à Saúde (APS)/Estratégia de Saúde da Família (ESF) engloba ações coletivas na comunidade, atividades de grupo, e incentivo à participação das redes sociais dos usuários sendo recursos indispensáveis para atuação nas dimensões cultural e social (11). Este modelo permite a manutenção das ações ao usuário em CP no seu lar por maior período de tempo, além de garantir vínculo e proximidade dos familiares, em acordo com a linha internacional de valorização da morte no domicílio, reduzindo assim, fatores de estresse e custos de uma internação (9,12). A ESF conta com o apoio do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), que trabalha na perspectiva da interdisciplinaridade, com profissionais de diversas áreas da saúde - incluindo fisioterapeuta, e utiliza ferramentas próprias que também os qualificam para desenvolver os cuidados necessários no fim da vida (13). Aveiro et al. (14) apresenta uma gama de possibilidade de intervenção do fisioterapeuta para idosos dentro do Programa de Saúde da Família e caracteriza a atuação desse profissional em diversas doenças e comorbidades, incluindo as DANTs, que em algum momento da evolução da patologia vai necessitar dos cuidados paliativos. De acordo com o Caderno de Atenção Básica nº 27 – Diretrizes do NASF, “as atividades clínicas em reabilitação são importantes ferramentas para a ampliação das possibilidades de um processo adequado de recuperação, contemplando necessariamente o caráter biopsicossocial inerente ao ser humano” (13 p.60), fazendo dos profissionais do NASF agentes importantes no controle dos sintomas físicos e mentais no processo de finitude e morte. Dentro deste processo multidisciplinar a equipe de reabilitação e da fisioterapia paliativa se integra aos cuidados do paciente terminal com o objetivo principal de melhora da qualidade de vida dos pacientes, redução dos sintomas e promoção da independência funcional (15). A reabilitação pulmonar no paciente com DPOC consiste em um programa individualizado que contempla aspectos físicos, utilizando o programa de fortalecimento, ganho de resistência e treino aeróbico, e aspectos psicológicos. É preconizado pelo American College of Chest Physicians (ACCP/AACVPR) para melhora dos sintomas de dispneia e cansaço, e pode ser replicável para controle de outras doenças crônicas respiratórias (16). O mesmo é observado no indivíduo idoso com benefícios para a manutenção da independência, funcionalidade e qualidade de vida (17,18,19,20), mas poucos estudos investigaram os benefícios da atividade física em cuidados paliativos e no fim da vida, e em sua maioria, estão relacionados ao paciente de câncer terminal. Como ferramenta, os exercícios físicos são largamente conhecidos no contexto do indivíduo saudável e para a reabilitação física e mental, no entanto, existe uma série de estudos, ainda pouco conclusivos, referentes aos benefícios do exercício físico para melhora de sintomas como fadiga e dispneia em pacientes com câncer avançado, por exemplo, com incremento para sua qualidade de vida (21). Neste sentido, este estudo pretende discutir o uso de exercícios físico como forma terapêutica em pacientes em cuidados paliativos e doentes terminais, assim com suas técnicas e formas de aplicação. Estima-se que a aplicabilidade e eficácia de um programa de exercícios físicos - na perspectiva da saúde funcional, no âmbito da Atenção Primária à Saúde/ Estratégia de Saúde da Família, busque a melhora do quadro geral do paciente em cuidados paliativos, incrementando suas atividades de vida diária, qualidade de vida, autonomia e funcionalidade. Metodologia Estudo de revisão bibliografica desenvolvido por meio de busca nas bases de dados MEDLINE, SciELO e LILACS no periodo de 1994 a maio de 2012 com os descritores: Cuidados Paliativos, Exercício Físico e Reabilitação e seus sinônimos. Os títulos e resumos das obras foram primeiramente analisados e textos completos de todos os artigos utilizados, foram levantados, seguindo os critérios de inclusão: estudos em lingua portuguesa ou inglesa, quantitativos e qualitativos, estudos clínicos que abordaram o exercício físico em cuidados paliativos e doentes terminais, sem restrições quanto diagnóstico ou de gênero e que apresentaram intervenção e eficácia a partir de exercícios físicos, qualidade de vida, experiência e preferências dos pacientes em cuidados paliativos. Foram excluidos artigos que não abordavam a temática em questão, relatos de caso com apenas um sujeito, revisão bibliográfica, estudos que continham população mista de pacientes em cuidados paliativos e tratamento curativo e referente a cuidados paliativos pediátricos. Os dados sobre o tipo de estudos, os pacientes, a intervenção e os resultados foram registrados por um único revisor e apresentados em um formato de tabela. Não foi considerado adequado utilizar uma avaliação de qualidade nos estudos devido aos diferentes modelos teórico metodológicos. Em vez disso, os diferentes aspectos de qualidade relevantes para cada estudo foram considerados, como por exemplo, o processo de aleatorização, tamanho da amostra, notificação incompleta etc. Pela mesma razão, não seria possível combinar resultados entre estudos, portanto houve a opção de realizar uma análise descritiva. No levantamento bibliográfico foi possível identificarmos 951 artigos e todos tiveram seus resumos lidos. Destes, 48 abordavam o assunto relativo à atividade física, no entanto, apenas 16 foram incluídos na revisão por estarem em consonância com os critérios de inclusão (Figura 1). Os artigos foram organizados por ano de publicação em ordem cronológica, iniciando do mais antigo para o mais novo e serão apresentados posteriormente (Quadro 1). Figura 1. Método de Seleção dos estudos. Resultados Dos artigos avaliados e selecionados todos discutiram a temática acerca dos Cuidados Paliativos, Exercícios Físicos e Reabilitação em pacientes com câncer avançado e terminal. Outros diagnósticos como, por exemplo, DPOC (22) e fibrose pulmonar (23) foram encontrados, apenas em revisão de literatura. Dos 16 artigos avaliados, 9 são estudos quantitativos e 7 qualitativos, sendo 25% dos estudos randomizado (n=4). Na soma total dos estudos analisados foram avaliados 1298 participantes, sendo que observamos uma porcentagem de 55,8% dos participantes do sexo feminino e 44,11% do sexo masculino. Um dos estudos com n=49, não forneceu o dado do gênero dos participantes (24). A média da idade dos participantes foi de 62,77 anos, tal dado foi calculado a partir de 15 estudos, pois Buss et al. (24) não forneceu a média de idade de seus sujeitos. Em 100% dos estudos foram incluídos pacientes com diagnóstico médico de câncer. Dos tipos de câncer existentes houve uma divisão de pacientes em 2 grupos principais, a saber: misto (75%) ou com câncer de pulmão (25%), com uma faixa de expectativa de vida para inclusão nos estudos que variou de 1 mês a 2 anos. Sete dos estudos analisados não delimitaram a expectativa de vida como critério de inclusão e exclusão e consideraram para seus estudos o doente terminal sem perspectiva de cura. Dois artigos que não forneceram expectativa de vida relataram em seus resultados a sobrevida dos sujeitos e no total 6 (37,5%) estudos conseguiram observar a sobrevida desses pacientes atingindo média de 6,88 meses. Dos estudos avaliados, 3 foram realizados em Hospice, 7 em pacientes ambulatoriais, 3 no domicilio do sujeito e 3 em dois locais (ambulatório e domicilio). Dentre os 16 estudos, 10 passaram por intervenção terapêutica, sendo 5 em programa com fortalecimento e treino aeróbico, 3 com cinesioterapia e 2 com outro tipo de intervenção (NEMS, DEEP e relaxamento), aplicadas em 37,5% dos estudos de forma individual, 25% em grupo e em 37,5% não foi mencionado ou não se aplicava ao estudo. 10 estudos relataram a intensidade dos exercícios sendo 5 de intensidade leve e 5 moderada. As sessões duraram em média 73,75 minutos (relatado em 8 estudos) com duração de 4 a 12 semanas (relatado em 9 estudos), com uma frequência média de 4,22 vezes por semana (relatado em 9 estudos). Foi observado em 9 estudos que realizaram intervenção a porcentagem de sujeitos que completaram o estudo abrangendo uma faixa de 44 a 100%. Os resultados e características dos artigos revisados foram ilustrados nos quadros abaixo. (Quadro 1) Quadro 1 – Distribuição dos estudos segundo, autores, tipo, método adotado e resultados da pesquisa. Autor Yoshioka, 1994 (25) Porock et al.,2000 (26) Oldervoll et al.,2006 (27) Clark et al.,2007 (28) Temel et al.,2009 (29) Maddocks et al.,2009 (30) Low e et al., 2009 (31) Low e et al.,2009 (32) Buss et al., 2010 (24) Cheville et al., 2010 (33) Oechsle et al., 2010 (34) Maddocks et al., 2010 (35) Adamsen et al., 2011 (36) Gulde, 2011 (37) Quist et al., 2011 (38) Oldervoll et al., 2011 (39) Tipo de Estudo Expostfacto Estudo Piloto Estudo Piloto Pesquisa Quali Estudo Piloto Estudo Piloto Pesquisa Quali Pesquisa Quali Estudo controlado Estudo Controlado Pesquisa Quali Pesquisa Quali Pesquisa Quali Pesquisa Quali Estudo Piloto Estudo Controlado Randomizado N (n) 301 Genero (M:F) Média de idade Grupo Expectativa Sobrevida de Vida (Meses) (meses) 122|179 61.5 Misto 6 1,6 N 9 3|6 59.87 Misto 1 NA N 34 15|19 65 Misto 12 N 128 54|74 59.8 Misto N 25 9|16 68 S 16 N Local Hospice Tipo de Forma de Intensidade Exercícios aplicação Cinesiotera pia I Tempo da Frequencia Duração Completaram sessão (por (semanas) (%) (min.) semana) NA NA NA NA NA I Leve variável 7 4 82 NA Hospice DEEP ambulatorio e Hospice F+A G Moderado 50 2 6 100 6 NA ambulatorio NA NA NA NA NA NA 100 CA Pulmão NA 12,98 ambulatorio F+A I moderado 120 2 12 44 9|7 64c, 56 int. CA Pulmão NA 8,8 domicilio NMES I Leve 60 7 4 100 50 20|30 61.5 Misto 12 3,4 domicilio NA NA NA NA NA NA 100 N 50 20|30 61.5 Misto 12 3,4 domicilio NA NA NA NA 100 S 49 NA NA Misto 3 NA Leve 30 3 4 78.94 S 103 66|37 59 Misto 6 NA NA NA Cinesiotera ambulatorio pia I Cinesiotera ambulatorio pia I Leve 90 3 4 89.3 N 53 24|29 58 Misto NA NA ambulatorio NA NA NA NA NA NA 100 N 200 97|103 64 Misto NA NA NA NA NA NA NA 89 N 15 7|8 66 CA Pulmão NA NA ambulatorio NA ambulatorio e domicilio F+A G moderada 90 5 6 100 N 11 5|6 61.4 Misto NA NA NA NA NA NA NA 100 N 23 13|10 63 CA Pulmão NA NA hospice NA ambulatorio e domicilio F+A G moderada 90 7 6 73.3 S 231 87|144 62 Misto 24 11,1 ambulatorio F+A G Leve 60 2 8 70.5 Dados avaliados na revisão de literatura para formulação dos resultados. S=Randomizado N= não randomizado; CA= câncer; NA = Não se aplica ou não informado; F+A = Treino de força muscular e aeróbico; I = individual G= Grupo. Discussão Força, Resistência e Treino Aeróbio. Como intervenção terapêutica 5 dos artigos selecionados usaram um programa padronizado de exercícios físicos com treino de força e resistência somado a treino aeróbico em esteira ou bicicleta ergométrica, para avaliar seus efeitos nos sintomas de fadiga e dispneia e na qualidade de vida dos pacientes terminais. Uma forma semelhante de assistência vem sido preconizada pela revisão de literatura feita pela ACCP/AACVPR em 2007 para a reabilitação pulmonar (16). O estudo piloto Oldervoll et al. (27) avaliou um programa de exercício físico aplicado em pacientes em cuidados paliativos oncológicos executado em grupo durante 6 semanas. Foi observado nesse estudo melhora nos aspectos emocionais e diminuição do sintoma de fadiga. No desempenho físico houve aumentando em média de 29 metros no teste de caminhada de 6 minutos, diminuição no tempo do teste de sentado para de pé passando de 5.1 para 4.1 segundos e no teste de alcance passando de 30.4 para 32.8 metros (27). No estudo controlado randomizado do mesmo autor, com desenho semelhante ao anterior aplicado a pacientes com câncer avançado e incurável, mostrou melhora do desempenho físico em comparação do grupo de intervenção para o grupo controle nos testes de 6 minutos de caminhada, sentado para de pé, grip strength test e número máximo de passos diários, mas não houve melhora estatisticamente significante no sintoma de fadiga que foi explicado devido à gravidade da doença e sua rápida progressão (39). Para Temel et al. (29) após a intervenção não houve mudança estatisticamente significativa na qualidade de vida, no sintoma de fadiga e humor, mas por outro lado não houve piora destas características. No teste de 6 minutos de caminhada houve aumento na distância percorrida, mas não foi estatisticamente significante. Na avaliação de força houve melhora dos resultados apenas com significância para a extensão de ombro. Os pacientes que completaram o programa de exercícios (11 de 20 sujeitos que iniciaram a pesquisa) vivenciaram benefícios em relação aos sintomas o que instigam os pesquisadores para novas abordagens (29). Na mesma linha, Quist et al. (38) conseguiu observar aumento na capacidade aeróbica- VO2 máximo, capacidade funcional, também avaliada pelo teste de 6 minutos de caminhada, e da força muscular. Na avaliação de qualidade de vida houve melhora significante apenas no item de bem estar emocional. De forma qualitativa, Adamsen et al. (36) explorou a aplicabilidade e os benefícios à saúde vivenciados por pacientes com câncer de pulmão avançado recebendo quimioterapia, em um programa estruturado de 6 semanas, com uma programação diária de exercícios, sendo 3 vezes na semana realizados em casa e mais duas vezes por semana em grupo supervisionado em um hospital. A partir de respostas abertas dos participantes o estudo indicou que mesmo os pacientes sedentários podem incrementar sua vitalidade realizando exercícios moderados e de relaxamento. Os mesmos podiam vivenciar dores devido à fadiga muscular, mas era interpretada como algo bom na perspectiva dos sujeitos. O momento de relaxamento teve uma participação importante na sensação de bem estar, preparando os participantes antes de retornar as atividades diárias (36). No início, alguns participantes se mostraram resistentes em realizar exercícios e em participar de um programa de atividade física em grupo, mas o grupo ofereceu melhor esclarecimento sobre algumas questões relativas à doença, como por exemplo, prognóstico e fraqueza. Estar com outros pacientes com o mesmo problema aliviou a sensação de isolamento e solidão além do ganho social. Entretanto, apesar dos participantes considerarem o programa desenvolvido para casa fácil de compreender e aderir à prática, eles não o fizeram com frequência e os motivos relatados foram: falta de autodisciplina e dúvida acerca da eficácia dos exercícios (36). As sessões realizadas no hospital obtiveram uma taxa de adesão de 76% (35), semelhante à encontrada por Quist et al. (38) em seu programa em grupo (73.3%), enquanto no programa domiciliar apenas dois participantes realizaram o que lhes foi orientado (8.7%) (36). Apesar dos estudos diferirem na metodologia todos demonstraram relação positiva do programa de exercícios físicos aplicado nos cuidados paliativos e que inserida no cotidiano dessa população pode melhorar a capacidade física, funcional e o bem estar dos indivíduos. Sachs (22) em sua revisão bibliográfica acerca da Reabilitação Pulmonar nos Cuidados Paliativos, concluiu que incorporar tal abordagem nessa população pode aperfeiçoar a capacidade funcional e reduzir os sintomas. Incluir pacientes em CP no início da trajetória da doença nos programas de atividade física pode prevenir perda de massa muscular com a evolução da doença (27), além de promover a manutenção da independência em pacientes com expectativa de vida curta, e de controlar os principais sintomas (39), mantendo assim a funcionalidade e qualidade de vida. O uso de exercícios físicos como modalidade de reabilitação tem se mostrado aplicável até mesmo na exacerbação dos sintomas em pacientes com DPOC, possibilitando menor perda muscular e tempo de recuperação (40), além disso, quanto maior o período de realização dos programas, melhor são os resultados, quando o programa de reabilitação pulmonar e aplicado por um período de 6 meses há aumenta do desempenho na funcionalidade (41). Podemos transpor essas afirmações para inserção de programas semelhantes na APS em pacientes de CP que no cotidiano de trabalho da ESF e NASF os exercícios físicos podem aparecer no contexto por meio das Práticas Corporais Terapêuticas que inclui a Medicina Tradicional Chinesa, caminhada, danças circulares, entre outras práticas integrativas e complementares em saúde. Estas formas de mobilização corporal e comunitária atingem em média 70% dos equipamentos da rede municipal de saúde (42). A análise evidenciou que há boa aceitação de um programa de exercícios físicos em grupo, demostrando assim que é factível para o contexto Atenção Primária à Saúde (APS). No entanto, os estudos que utilizaram como complemento a realização dos exercícios no domicilio demonstraram falta de aderência para tal (38), mas vemos esta abordagem como possível na ESF e NASF pois contamos com profissionais voltados para o acompanhamento direto da comunidade. Outras abordagens terapêuticas. Outras formas de exercícios físicos na modalidade terapêutica foram avaliadas. Nos estudos onde a cinesioterapia foi aplicada objetivando ganho funcional dos pacientes terminais foi observado melhora no estado geral dos sujeitos, na mobilidade, fadiga e outros sintomas (24,25,33). A cinesioterapia aplicada regularmente pode manter a forma física, a flexibilidade, força e equilíbrio em mulheres pós-menopausa (43), ou quando aplicada em pacientes que sofreram acidente vascular encefálico pode prevenir dores e favorecer melhora motora do segmento acometido (44). No estudo retrospectivo de Yoshika (25) apresentou melhora da mobilidade e dos 239 pacientes que receberam atendimento de fisioterapia, 46 puderam ser liberados para retornar ao domicilio por um período devido a essa melhora e consequentemente em suas atividades de vida diária. Para Cheville et al. (33) que avaliou um programa ambulatorial de 4 semanas em pacientes com câncer terminal recebendo quimioterapia houve melhora da qualidade de vida e bem estar físico no grupo de intervenção em relação ao grupo controle, mas não houve mudança do nível de fadiga. Diferentemente em Buss et al. (24) que se propôs a avaliar a influência da cinesioterapia no controle da fadiga e na qualidade de vida em pacientes terminais de um hospice, no qual no grupo de intervenção houve diminuição da intensidade da fadiga após 3 semanas enquanto no grupo controle houve piora progressiva. Outros sintomas físicos também diminuíram após duas semanas no grupo de intervenção, por outro lado no grupo controle houve aumento da intensidade. O estado mental no grupo de intervenção não apresentou melhora, mas manteve-se estável, já no grupo controle houve tendência à deterioração da qualidade de vida (24). A cinesioterapia traz benefícios na qualidade de vida e na capacidade funcional (45), é de fácil aplicação podendo ser desenvolvida em diferentes cenários, na APS o profissional fisioterapeuta inserido nas equipes do NASF torna-se um facilitador ao acesso dos pacientes a este recurso, podendo fazer parte de um programa voltado para pacientes em cuidados paliativos desde o diagnóstico até o momento da terminalidade como forma de prevenção e alivio dos sintomas. Nessa revisão mais duas formas de exercícios físicos foram encontradas como terapêutica em cuidados paliativos. No estudo de Porock (26) os pesquisadores utilizaram o “Duke Energizing Exercise Plan” (DEEP) como intervenção. O DEEP é um programa individualizado que considera o estado de saúde, capacidade funcional, tratamento, metas e preferência de exercícios do paciente. O estudo demostrou uma leve melhora das atividades diárias, motivação e fadiga mental. Houve incremento na qualidade de vida que foi confirmada pelo relato dos pacientes (26). Esse estudo por ser piloto possui um número de sujeitos pequeno e melhor ilustrou o trabalho com três casos os quais continham resultados semelhantes de melhora do estado geral e qualidade de vida. O achado mais importante foi o de que os participantes gostaram do programa de exercícios individualizados e que o mesmo não causou piora da fadiga (26). Já Maddocks (30) apresentou um estudo piloto randomizado com a proposta de avaliar o uso da Estimulação Elétrica Neuromuscular (NMES) no Músculo Quadríceps em molde padronizado para reabilitação em pacientes com câncer avançado. Esse dispositivo já foi utilizado em pacientes com Insuficiência Cardíaca Congestiva e DPOC mostrando bons resultados quando aplicado aos músculos da deambulação, sendo assim uma opção de recurso para os pacientes com intolerância ao exercício físico (46). O uso do NMES foi domiciliar, auto administrado e diário, com média de 80% de aderência. Na avaliação do desempenho demonstrou aumento da força do músculo quadríceps e na atividade livre diária com incremento em média de 136 passos diários (11%). Já no grupo controle não houve alterações do músculo quadríceps e apresentou piora na quantidade de passos (30). As intervenções relacionadas à cinesioterapia, NMES e DEEP foram conduzidas individualmente, podendo ou não ser adaptada para cada indivíduo. Dentre as modalidades de Cinesioterapia e DEEP há a possibilidade de aplicação em qualquer nível dos equipamentos de saúde inclusive na APS por necessitar de pouco ou nenhum recurso físico. Já o NMES por ser um dispositivo tecnológico só poderia ser aplicado em centros de reabilitação, hospitais ou por meio de protocolo de pesquisa. Explorando as Preferências e Desejos. Outra proposta dessa revisão foi investigar a correlação da prática de exercício físico com qualidade de vida e preferências em relação à modalidade do exercício aplicado ou já realizado pelos pacientes em cuidados paliativos. Essa avaliação possibilita o planejamento futuro de ações voltadas para os cuidados paliativos, seja para a clínica ou para a pesquisa. Clark et al. (28) procurou investigar o interesse e o planejamento de iniciar a pratica de exercícios físico em pacientes com câncer avançado recebendo quimioterapia. Foi relatado por 50% dos entrevistados o planejamento de iniciar a pratica de exercícios físicos e 47% reportaram ter o interesse de se tornar mais ativo. Os sujeitos descreveram expectativas positivas sobre iniciar a pratica de exercício físico e que o bom aspecto emocional e orientação profissional estariam relacionados à eficácia do exercício. Lowe et al. (31) correlacionou o exercício físico com qualidade de vida em pacientes com câncer avançado recebendo cuidados paliativos. Nesse estudo não houve uma intervenção, mas sim procurou investigar os exercícios físicos referidos e a qualidade de vida desses pacientes por meio de questionários. Dos entrevistados que realizavam 30 minutos ou mais de caminhada (50%) e os que realizavam 60 minutos o mais por dia de exercícios físico (50%) apresentaram maior pontuação no questionário de qualidade de vida (MQOL). Apesar de não ser estatisticamente significante, há uma correlação entre os participantes que realizaram 30 minutos ou mais por dia de caminhada na última semana e um menor índice de fadiga (ESAS) (31). Em continuação do estudo anterior (32) a mesma população de pacientes foi questionada sobre as preferências e interesses no exercício físico através de questionário elaborado especificamente para a pesquisa e concluiu-se que 92% dos entrevistados estavam dispostos a participar de um programa de exercício físico e 84% gostariam realizar o programa em casa. Dentre a preferencia de tipo de atividade 72% dos participantes indicaram que caminhar seria a atividade em que estariam mais interessados no momento do questionário, enquanto o treino de resistência seria o segundo tipo de atividade mais escolhida (12%) (32). No estudo de Oechsle et al. (34) o interesse em um programa individual e adaptado de treino físico foi de 60% dos entrevistados. Sobre o tipo de atividade esportiva 20% escolheram a bicicleta e 16% a natação ou técnicas de relaxamento. Outros exercícios físicos escolhidos foram a caminhada (13%), treino de força e ginastica (10%) e corrida em trote (8%). Demostrando assim grande variedade de preferencias do tipo de exercícios físicos. Mantendo a linha de preferências e aceitabilidade, Maddocks (35) explorou a aceitabilidade, de pacientes com câncer incurável, de 6 programas baseados em diferentes tipos de exercícios (aeróbios e resistidos). Dos 200 pacientes entrevistados todos disseram estar fisicamente capaz de participar de um ou mais programa de exercícios. Mais de 80% consideram-se capaz de participar de um programa que inclui treino de resistência, vibração ou estimulação neuromuscular, enquanto apenas metade se sentia capaz de participar de um programa que inclui caminhada, caminhada na esteira ou bicicleta ergométrica (35). Um dos motivos do interesse em participar de um programa de atividade física seria manter independência e mobilidade (34,35), enquanto que das razões dadas para não se sentir capaz de realizar algum exercício físico foram citadas a falta de ar, cansaço, fadiga, dor, desequilíbrio, problemas articulares, desconhecimento dos equipamentos ou técnicas de exercício e fraqueza respiratória e de MMII (35). A maioria dos entrevistados também referiu preferir realizar o exercício físico em casa, sozinhos e sem a necessidade de supervisão e apenas 12% prefere o grupo de exercícios em um centro comunitário (35), mas. Esses dados são contrários aos observados na pesquisa quantitativa de Quist et al. (38) onde o programa em grupo obteve uma aderência de 73.3%, enquanto no programa domiciliar apenas dois participantes realizou o que lhes foi orientado (8.7%). Um programa em centros comunitários se torna facilitador para transpor as barreiras da distância entre domicilio e hospital gerando maior aderência aos programas propostos pelos profissionais de saúde (47). Há uma aparente dificuldade de adesão nos programas direcionados à realização no domicilio e essa correlação é observada nos pacientes que não tinham a pratica de exercícios físicos inserida no seu cotidiano. Por outro lado Oechsle (34) revelou que dos 53 pacientes entrevistados em seu estudo 38 (72%) referiram praticar exercícios físicos regularmente, mas o tempo gasto com a prática diminuiu em média de 1.6 horas por semana para 0.8 horas por semana após o diagnóstico. Há uma correlação da malignidade da doença e a necessidade de repouso e tal orientação ainda é dada, principalmente quando ocorre o sintoma de fadiga, devido à falta de estudos que demonstrem efetivamente tal melhora (34). No entanto, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) propõe como terapêutica da fadiga o incentivo a pratica de exercício físico para manutenção da força muscular (48). Para pacientes de câncer a prática de exercícios traz benefícios físicos, psicológicos, sociais e espirituais refletindo positivamente na qualidade de vida (49), e revelou que pacientes que se mantinham ativos mostraram menor intensidade no sintoma de fadiga(34). É interessante observar que esses pacientes ainda aproveitavam de forma prazerosa o exercício físico apesar da doença terminal e da diminuição do tempo gasto com tais atividades após o diagnóstico (34). Na pesquisa qualitativa de Gulde et al. (37), pacientes de cuidados paliativos que participaram de um grupo conduzido por um fisioterapeuta, mas sem um programa específico, revelaram em entrevistas aberta, ligação entre quatro domínios principais: rotina do dia a dia, menos fadiga, orientação profissional e esperança. Para os participantes o exercício físico fez com que eles se sentissem mais em forma, favorecendo a energia e força para realizar outras atividades. Também vivenciaram diminuição do sintoma de fadiga enquanto estavam fisicamente ativos, contradizendo a orientação comum de repouso. Em varias entrevistas a esperança em relação ao futuro foi tema recorrente e para muitos melhorar a função física se tornou o incentivo para realizar os exercícios (37). Os exercícios físicos eram aplicados de forma individual ou em grupo, mas o grupo trazia um senso de comunidade e se tornou importante, pois os pacientes tinham algo para fazer durante a semana que tinha significado e resultado positivo no aspecto físico e mental além de ser mais um motivador. Os exercícios físicos permitiram aos participantes realizar coisas que já não eram mais possíveis devido à doença como, por exemplo, encontrar os amigos ou fazer compras, trouxe estruturação para a vida diária e esperança para o futuro (37). O mesmo foi observado em Adamsen (36) onde na aplicação do programa de exercícios em grupo iniciado a partir do diagnóstico encorajou pacientes com câncer de pulmão inoperável, mesmo apresentando um estilo de vida sedentário, a serem mais ativos fisicamente e com isso, houve mudanças no estilo de vida preexistente e reafirmação de sua identidade dentro da sociedade. Os pacientes com câncer avançado e em cuidados paliativos estão interessados e dispostos a incluir exercícios físicos no em sua rotina como forma de melhorar a qualidade de vida e manutenção da funcionalidade. Um dos limites mencionados pelos sujeitos foi a dificuldade de se locomover até os hospitais e se deslocar para locais longe de seus domicílios (36). Apesar dessa afirmação os estudos dessa revisão demostraram que um programa aplicado em hospital ou ambulatório atinge uma faixa de aderência maior que os programas direcionados para casa. A dificuldade de aderência às terapêuticas esta presente em todo tipo de abordagem e há grande empenho dos profissionais de saúde em buscar novas formas de conscientização dos pacientes e familiares. As equipes de ESF e NASF procuram esse entendimento dos usuários com um contato próximo e intimo estabelecendo uma relação de confiança tanto do paciente e família quanto dos profissionais. O NASF com sua abordagem multidisciplinar e ferramentas facilitadoras podem dar guia para as linhas de cuidado e auxiliar as equipes da ESF a coordenar o cuidado (13), considerando as vontades e desejos e desenhando ao programa mais adequado para cada usuário. Promover um cenário para ações em grupo, não apenas de exercícios físicos, mas de educação e orientações de controle dos sintomas no futuro, instrumentaliza a família, cuidadores e comunidade para coordenação, enfrentamento e participação ativa dos cuidados e no processo da morte. No entanto a inserção do exercício físico nos CP no contexto da APS traz a melhora física e movimento para o cotidiano dos usuários. Visa também o desenvolvimento da capacidade de negociação, o fortalecimento da identidade, da solidariedade, o empoderamento e entendimento de sua própria vida e condição de saúde (42,50). Considerações Finais Para humanizar os Cuidados Paliativos a morte necessita ser tratada como um processo natural sem a necessidade de ser velada ou significar desistir, mas sim conduzir a morte a um nível confortável tanto para o paciente quanto para seus familiares. Esta revisão pode evidenciar que os pacientes em cuidados paliativos, mesmo sem haver possibilidade de cura para sua doença, aderem às intervenções de exercícios físicos enquanto proposta e de modo geral apresentam melhora e controle dos sintomas de fadiga e dispneia, além de apresentarem melhora da qualidade de vida e funcionalidade. Foi observado também que os sujeitos em cuidados paliativos gostariam de iniciar um programa de exercícios físico, e a maioria preferem que seja desenvolvida no seu domicilio. Os estudos abordaram apenas pacientes com câncer terminal e dentro das pesquisas em cuidados paliativos essa população ainda é a mais pesquisada. Na prática clínica, observamos que muitos pacientes com diferentes patologias se encontram nesse processo, mas que devido à falta de evidencias da evolução da doença deixam de receber os cuidados paliativos, como por exemplo, a inserção em alguma prática de exercícios físicos e práticas corporais no cotidiano para manutenção da força muscular e funcionalidade. Apesar dos diferentes modelos observados nesta revisão todos foram realizados em hospitais e ambulatórios, mas com metodologia fácil de ser aplicada no contexto da APS/ESF. No entanto estes programas seriam melhor desenhados se houvessem estudos com esse tema para aplicação pelo profissional fisioterapeuta em conjunto com seus colegas do NASF. Pesquisas sobre cuidados paliativos na APS/ESF trariam novas perspectivas de abordagem multiprofissional, buscado o cuidado humanizado e integral. Referências Bibliográficas 1. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. CENSO demográfico 2010: Características da população e dos domicílios. Rio de Janeiro: IBGE, 2011. 2. World Health Organization. Active Ageing: a Policy Framework. Geneve: World Health Organization, 2002. 3. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estudos e Pesquisas Informação Demográfica e Socioeconômica: Indicadores sociodemográficos e de saúde no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2009. 4. Elmqvist MA, Jordhøy MS, Bjordal K, Kaasa S, JannertM. Health-related quality of life during the last three months of life in patients with advanced cancer. 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