Matemática - 2008/09 - Integral de…nido 68 Integral de…nido Introdução Seja f uma função real de variável real de…nida e contínua num intervalo real I = [a; b] e tal que f (x) 0; 8x 2 [a; b]: Se dividirmos [a; b] em n intervalos iguais, a amplitude b a : Designando por x0 ; x1 ; : : : ; xn os extremos consecutivos h de cada um deles é h = n destes intervalos, o produto de h pela imagem de xj ; 0 j < n; dá a área de cada um dos rectângulos representados no grá…co seguinte A soma Sn = hf (x1 ) + + hf (xn ) = n X hf (xi ) ; i=1 dá uma aproximação da área da …gura limitada pelo grá…co de f (x) ; pelo eixo das abcissas e pelas rectas x = a e x = b: Se aumentarmos n, o número de rectângulos aumenta e obtemos uma melhor aproximação da área. Se …zermos n tender para in…nito, podemos obter o valor correcto da área. Exemplo: Determinar a área A da região limitada pelo eixo das abcissas e pelas rectas x = 0; x = 2 e f (x) = x + 1; isto é, a área da região assinalada a cinzento no grá…co abaixo: Matemática - 2008/09 - Integral de…nido 69 Seguindo o que foi referido atrás, divide-se o intervalo [0; 2] em n intervalos iguais e tem-se: 2 4 2n ; x2 = ; : : : ; x n = = 2; n n n 2i + 1; para cada xi; f (xi ) = xi + 1 = n 2 a amplitude de cada intervalo é h = n x0 = 0; x1 = Assim, para este caso 2 X 2i 2 Sn = +1= n i=1 n n n Então A = lim Sn = lim 2 ! n n X 2X 2 i+ 1 = n i=1 n i=1 2 n (n + 1) +n n 2 =2 n+1 +2 n n+1 +2=4 n Este método não parece muito e…caz para o cálculo de áreas. O exemplo apresentado é um caso muito simples, (que não necessitava de este tipo de cálculo, dado tratar-se de uma área facilmente calculável por uma simples decomposição da …gura num triângulo e num rectângulo) e mesmo assim deu algum trabalho. No entanto o procedimento apresentado generaliza-se e conduz à de…nição de integral de…nido. Integral de…nido Seja f uma função contínua num intervalo real I = [a; b]. O raciocínio feito anteriormente pode ser feito de forma mais geral, dividindo [a; b] em n intervalos não regulares [xi ; xi+1 ] de amplitude hi e escolhendo, não um dos extremos do intervalo, mas um qualquer valor xi do intervalo [xi ; xi+1 ]. A soma obtida seria então n X hi f (xi ) : i=1 A partir daqui obtém-se a de…nição de integral de…nido: De…nição Chama-se integral de…nido de f no intervalo [a; b] ao limite, se existir, de n X hi f (xi ) ; i=1 quando hi ! 0: O integral, tal como foi de…nido (e quando existe...) representa-se por Zb a f (x) dx; Matemática - 2008/09 - Integral de…nido 70 que se lê integral (relativo a x) de f (x) entre a e b e diz-se que a função é integrável no intervalo [a; b] : A função f é a função integranda, x a variável de integração e a e b os limites de integração. Pode-se colocar a questão de quais são as funções integráveis num determinado intervalo [a; b] : O seguinte teorema caracteriza muitas dessas funções: Teorema 1 Se f é uma função contínua num intervalo [a; b] ; então f é integrável em [a; b] ; Rb isto é , existe f (x) dx: a Note-se que o teorema diz apenas que uma função contínua é integrável, não diz que se não fôr contínua não é integrável. Propriedades A de…nição de integral permite inferir uma série de propriedades para funções integráveis num intervalo [a; b]: Propriedades: 1. Sendo k 2 R, 2. Ra Rb kdx = k (b a) : a f (x) dx = 0: a 3. Rb Ra f (x) dx = a 4. Rb f (x) dx: b (f (x) + g (x)) dx = a 5. Sendo k 2 R, Rb f (x) dx + a Rb Rb g (x) dx: a kf (x) dx = k a Rb f (x) dx: a 6. Se f é contínua em [a; b] e a < c < b; então Zb f (x) dx = a 7. Se 8x 2 [a; b] ; f (x) 8. Se 8x 2 [a; b] ; m Zc f (x) dx + a g (x), então Rb Rc f (x) dx M , então m (b f (x) dx: c a f (x) Zb g (x) dx a a) Rb a f (x) dx M (b a) : Matemática - 2008/09 - Integral de…nido 71 Teorema fundamental do cálculo integral O teorema fundamental do cálculo integral permite o cálculo de integrais de…nidos sem recorrer à de…nição e mostra a relação entre integrais de…nidos e primitivas (ou integrais inde…nidos). Teorema 2 (Teorema fundamental do cálculo integral) Seja f uma função contínua num intervalo real I = [a; b] e ' (x) a função de…nida, 8x 2 [a; b]; por ' (x) = Zx f (t) dt: a Então '0 (x) = f (x) : Corolário Se f é uma função contínua num intervalo real I = [a; b] e F é uma primitiva de f em [a; b]; então Zb f (x) dx = F (b) F (a) : a Demostração (do corolário) Seja F uma primitiva de f em [a; b]: Como F (x) e Zx ' (x) = f (x) dx são primitivas da mesma função, diferem apenas numa constante, isto é, a Zx f (x) dx = F (x) + k: a Para x = a; vem Za f (x) dx = F (a) + k , a , 0 = F (a) + k , k= F (a) Para x = b; tem-se Zb f (x) dx = F (b) + k: a Substituindo k por F (a) obtém-se, então, Zb f (x) dx = F (b) F (a) a Observação: A diferença F (b) [F (x)]ba = F (b) F (a) costuma representar-se por [F (x)]ba e à igualdade F (a) chama-se fórmula de Barrow. Matemática - 2008/09 - Integral de…nido 72 Exemplos: Z17 1. 4 dx = [4x]17 5 = 4 (17 5) = 48 5 2. Z5 ex dx = [ex ]51 = e5 Z5 x2 dx = e 1 3. 5 x3 3 = 1 1 4. Z5 x3 3 x2 dx = 1 5. Z2 (x 2) dx == 53 3 13 124 = 3 3 5 = 1 ( 5)3 3 2 x2 2 2x = 0 0 6. Z4 x2 2) dx = 2 (x 4 2x 2 2 7. Z1 ( x 2 ( 1)3 = 3 42 = 2 2 2 1 3 = 2 1 +2 2 1 3 2 ( 2) 3 1 22 2 4 8. 1 dx = [ln x]e1 = ln e x 9. Z2 sin x dx = [ cos x]20 = 10. Z sin x dx = [ cos x]0 = 11. Z2 ( sin x) dx = [cos x]2 = cos (2 ) 12. Zx t3 t dt = 3 0 2 2 ( 2)) ! = 2 =2 = ( 2) + (2 2 Ze 2 2 2 3 02 2 2 x2 + 2x 2 x3 3 x + 2) dx: = 22 2 124 3 = 9 2 ln 1 = 1 1 cos (2 ) ( cos (0)) = 1+1=0 0 cos ( ) ( cos (0)) = 1 + 1 = 2 0 x 2 1 13. Se ' (x) = Zx = 1 x3 3 (cos ) = 1 ( 1) = 2 1 3 t2 dt, pelo teorema fundamental do cálculo integral, '0 (x) = x2 : Isto 1 pode ser con…rmado derivando directamente a expressão obtida no exemplo 3. Zx 2 t x2 0 14. Se ' (x) = dt, aplicando o teorema fundamental, ' (x) = : t2 + 1 x2 + 1 1 Matemática - 2008/09 - Integral de…nido 73 Aplicações do integral de…nido ao cálculo de áreas O integral de…nido tem aplicações directas ao cálculo de áreas. Consideramos, no que se segue, funções contínuas num intervalo [a; b] : Caso 1: Se f (x) 0; 8x 2 I; então a área A da …gura delimitada pelo grá…co de f (x), pelo eixo das abcissas e pelas rectas x = a e x = b é A= Zb f (x) dx a Exemplo: 1 ; calcular a área A da …gura delimitada pelo grá…co de f (x), pelo x eixo das abcissas e pelas rectas x = 1 e x = e; ou seja, a área assinalada a cinzento no Sendo f (x) = grá…co abaixo: Como no intervalo [1; e] se tem f (x) A= Ze 0; 1 dx = [ln x]e1 = ln e x ln 1 = 1 1 Caso 2: Se f (x) 0; 8x 2 I; então a área da …gura descrita atrás é dada pelo simétrico do integral (evidentemente que uma área não pode ser negativa). A= Zb f (x) dx a Exemplo: Sendo f (x) = x2 5x + 4; calcular a área A da …gura delimitada pelo grá…co de f (x), pelo eixo das abcissas e pelas rectas x = 2 e x = 4; ou seja, a área assinalada a Matemática - 2008/09 - Integral de…nido 74 cinzento no grá…co abaixo: No intervalo [2; 4], f (x) A = Z4 x 2 0 pelo que 5x + 4 dx = x3 3 5x2 + 4x 2 23 3 5 2 = 43 3 42 5 2 +4 4 22 2 4 = 2 +4 2 = 10 3 = 10 3 Caso 3: Quando a função toma valores positivos e negativos no intervalo [a; b] o integral não dá directamente a área, podendo tomar valores negativos ou nulos. Por exemplo, o integral da função sin x entre 0 e 2 é 0; como foi visto no exemplo 9 da página 72: De facto, observando o grá…co de sin x; vê-se que as áreas das regiões a cinzento assinaladas por A1 e A2 são iguais e, por isso, os valores do integral de sin x entre 0 e e entre e 2 são simétricos e anulam-se. No entanto a área A = A1 + A2 não é 0! Então, para funções que tomem valores negativos e positivos num intervalo [a; b], a área A da região delimitada pelo grá…co da função, pelo eixo das abcissas e pelas rectas Matemática - 2008/09 - Integral de…nido 75 x = a e x = b é dada por A= Zb jf (x)j dx: a No exemplo anterior a área da …gura assinalada a cinzento, é dada por Z2 jsin xj dx: 0 Como sin x 0 entre 0 e e sin x 0 entre e 2 ; tem-se Z2 Z Z2 jsin xj dx = sin x dx + ( sin x) dx = 2 + 2 = 4 0 0 O cálculo dos dois últimos integrais foi feito nos exemplos 10 e 11 da página 72. Caso 4: É ainda possível calcular as áreas de regiões delimitadas por duas funções, para o que se tem: 1. Se f e g são funções contínuas tais que f (x) g (x) ; 8x 2 [a; b], a área A da região limitada pelas funções f (x) e g (x) e pelas rectas x = a e x = b é A= Zb (f (x) g (x)) dx a Exemplo: Vamos determinar a área A da região do plano delimitada pelos grá…cos x2 e g (x) = x das funções f (x) = 2. Esboçando o grá…co vê-se que se pretende determinar a área assinalada a cinzento no grá…co seguinte: Neste caso, para determinar os limites de integração resolve-se a equação a…m de determinar as abcissas dos pontos de intersecção dos dois grá…cos: x2 = x Assim A= Z1 2 (f (x) 2 , x = 1 ou x = g (x)) dx = Z1 x2 (x 2: 2) dx = 2 O cálculo do último integral foi feito no exemplo 7 da página 72. 9 2 x2 = x 2; Matemática - 2008/09 - Integral de…nido 76 2. Se f e g são funções contínuas quaisquer no intervalo [a; b] ; a área A da região limitada pelas funções f (x) e g (x) e pelas rectas x = a e x = b é A= Zb jf (x) g (x)j dx a Exemplo: Vamos determinar a área A da região do plano delimitada pelos grá…cos 3 5 das funções f (x) = sin x e g (x) = cos x e pelas rectas x = e x = ; que 4 4 corresponde à região assinalada a cinzento no seguinte grá…co: Veri…ca-se que, entre neste caso, A = Z 5 4 3 e ; sin x 4 4 jsin x cos x e que, entre 4 e 5 sin x 4 cos x: Então, cos xj dx; o que corresponde a calcular A1 + A2 : 3 4 5 A= Z4 jsin x cos xj dx = 3 4 Z4 (cos x 3 4 | = [sin x + cos x] 4 3 + [ cos x 4 = sin +cos 4 4 p p 2 2 = + 2 2 5 sin p 2 2 sin x) dx + {z } A1 sin x] 5 4 = Z4 |4 (sin x cos x) dx = {z A2 } 4 3 3 + cos 4 4 p ! p p 2 2 2 + + 2 2 2 + 5 5 sin 4 4 p p ! p 2 2 =4 2 2 2 cos cos 4 sin 4 =