PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM SERVIÇO SOCIAL Maria Carolina Carvalho de Carlos A DEFENSORIA PÚBLICA DE PRESIDENTE PRUDENTE/SP COMO ESPAÇO SÓCIO-OCUPACIONAL DO SERVIÇO SOCIAL MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL SÃO PAULO/SP 2012 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM SERVIÇO SOCIAL Maria Carolina Carvalho de Carlos A DEFENSORIA PÚBLICA DE PRESIDENTE PRUDENTE/SP COMO ESPAÇO SÓCIO-OCUPACIONAL DO SERVIÇO SOCIAL MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL Dissertação de Mestrado apresentada à Banca Examinadora do Programa de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Serviço Social, sob orientação da Professora Doutora Maria Lúcia Martinelli. SÃO PAULO/SP 2012 Banca Examinadora _____________________________ Profª Drª Maria Lúcia Martinelli Profª Drª Maria Carmelita Yazbek Profª Drª Eunice Terezinha Fávero Um dia virá em que todo meu movimento será criação, nascimento, eu romperei todos os nãos que existem dentro de mim, provarei a mim mesma que nada há a temer, que tudo o que eu for será sempre onde haja uma mulher com meu princípio, erguerei dentro de mim o que sou um dia. Clarice Lispector. A nobreza de nosso ato profissional está em acolher aquela pessoa por inteiro, em conhecer a sua história, em saber como chegou a esta situação e construir com superação como ela deste é possível formas quadro. de Se reduzirmos a nossa prática a uma resposta urgente, a uma questão premente, retirarmos dela toda a sua grandeza, pois deixamos de considerar, neste sujeito, a sua dignidade humana. Martinelli Neste trajeto descobri profissionais comprometidos com o fazer cotidiano na Defensoria Pública, profissionais que, com olhar crítico, deram densidade a esta pesquisa. Agradeço aos sujeitos da pesquisa de campo, Luciano, Luiza e Renata. Aos operadores do Direito e Defensores Públicos, Dr. Matheus, Dr. Rodolfo e Dra Giovana. Parabenizo a humanização nos atendimentos e apoio a luta cotidiano de desburocratização construtor da do prática judiciário. não é Pois, “o apenas o profissional que a realiza, mas sim o conjunto dos sujeitos que, articuladamente com o assistente social, dão vida e concretude à prática” (Martinelli, 1999, p.12). 6 AGRADECIMENTOS Agradeço ao Senhor Deus pelo dom da vida, por todas as obras que realizas em mim e por permitir que eu conquiste mais esta vitória em minha vida. Tu és a minha fortaleza. Á Nossa Senhora Aparecida, mãe das mães, que sempre me protegeu com seu manto de paz e acalanto. Quero te agradecer Senhor, pelos meus pais, João Batista e Cristina, pela, minha irmã Marília e pelos meus familiares que estiveram ao meu lado durante toda a minha vida, apoiando e incentivando para que eu chegasse até aqui hoje, e conquistasse tudo o que sou. Agradeço meu Deus, pela presença do Ivan na minha vida, fonte de amor, compreensão e incentivo em todas as minhas decisões, mesmo que isso signifique compromissos e ausências. Não posso deixar de agradecer à minha madrinha Vera Canhoto, por seu incentivo sempre, por mostrar que conquistas maiores virão e pela sua maturidade me complementar em muitos momentos. Agradeço também duas amigas que acompanharam as batalhas e viagens semanais das aulas no mestrado, Ana Paula Proni e Márcia Guerra. Senhor, não poderia deixar de agradecer pela Profª Drª Maria Carmelita Yazbek e pela Profª Drª Eunice Terezinha Fávero, estarmos lado a lado significa um momento ímpar na minha vida. Apenas em poucos meses elas ultrapassaram as referências de profissionais, autoras e intelectuais e alcançaram referências de humildade e acolhimento e deixaram as capas dos livros para vida real, lugar onde sempre serão estrelas. Agradeço em especial, a querida Profª Drª Maria Lúcia Martinelli, além de orientadora ela é doutora na vida, com sua benção Senhor fez dela instrumento de paz nos meus momentos de angústia e aflição, me direcionando dos caminhos obscuros para que conseguisse superar todas as dificuldades que encontrei pelo caminho, vencemos esta etapa juntas. Agradeço Senhor, pela vida da minha orientadora e de todos os professores que contribuíram para meu crescimento, formação e vitórias conquistadas ao longo do mestrado. 7 Enfim, agradeço ao meu Deus por mais esta conquista que este trabalho representa. Peço que suas bênçãos e seu amor atinjam a todos que fazem parte da minha vida. Esta foi à forma que encontrei para dizer a todos, muito obrigada. Que meu agradecimento e gratidão cheguem a todos através da minha oração. Amém! 8 RESUMO A presente pesquisa, “A Defensoria Pública de Presidente Prudente/SP como espaço sócio-ocupacional do Serviço Social”, teve como objetivo desvelar a realidade social de atuação do Assistente Social na Defensoria Pública de Presidente Prudente, com base em aproximações concretas do dia-a-dia de trabalho, bem como apresentar a identidade da profissão nesse espaço sócio ocupacional, além de propiciar a construção de questionamentos e problematizações afim de que possam contribuir para a melhoria da qualidade dos atendimentos, considerando sua importância na proteção, conquista e efetivação de direitos sociais. Para fundamentar a análise foi realizada pesquisa bibliográfica, documental e de campo, tendo como referenciais teóricos o Serviço Social, a área sócio-jurídica e a Justiça. Parte-se de uma reflexão histórica sobre os direitos sociais, apresenta-se a Defensoria Pública como importante Instituição na área jurídica e social, focando na Regional de Presidente Prudente/SP. Foi realizada também cuidadosa pesquisa de campo com os Assistentes Sociais que atuam nesta área, analisando de forma crítica os pontos que mais se destacaram nas entrevistas realizadas. A pesquisa foi complementada com o Banco de Dados da Regional a partir do qual ficaram evidenciadas as demandas prevalecentes e que refletem a insuficiência das políticas sociais nas respectivas áreas, sendo as principais, assistência social e saúde. E finalmente são apresentadas propostas de atuação para o Serviço Social neste espaço sócio-ocupacional, tendo o Projeto ético-político como um referencial e como horizonte a humanização dos atendimentos nas áreas do campo sócio-judiciário. Palavras-chave: Direitos Sociais. Defensoria Pública, Justiça, Serviço Social. 9 ABSTRACT This research, "The Public Defender of Presidente Prudente / SP as the sociooccupational social work", aimed to reveal the social reality of the social worker acting in the Public Defender of Presidente Prudente, based on approximations of the concrete day-to-day work as well as present the identity of the profession inoccupational social space, besides enabling the construction of questions and concerns so that they may contribute to improving the quality of care, considering its importance in the protection, achievement and accomplishment of social rights. To support the analysis was performed on bibliographical research and field, having as theorical Social Services, the area socio-legal and justice.Starting from a historical reflection on social rights, presented the Public Defender as an important institution in the legal and social areas, focusing on the Regional Presidente Prudente / SP. We also carried out a carefully field research with social workers working in this field, by analyzing the critical points that stood out in interviews. The survey was complemented with the Regional Database, from whichwere evidenced by the prevailing demands and reflect the failure of social policies in their respective areas, the main ones being social care and health. And finally proposals are made for intervention by Social Services in the sociooccupational, and the ethical-political project as a reference horizon and the humanization of care in the areas of socio-legal field. Keywords: Social Rights. Public Defender. Justice. Social Service. 10 SUMÁRIO INTRODUÇÃO................................................................................................. 11 Situando a pesquisa de campo.........................................................................12 Capítulo I 1. DEFENSORIA PÚBLICA: a defesa intransigente dos direitos sociais.........................................................................................................20 Capítulo II 2. A DEFENSORIA PÚBLICA NO ESTADO DE SÃO PAULO COMO INSTITUIÇÃO JUDICIÁRIA E SOCIAL: do percurso histórico à realidade contemporâneo.........................................................................33 Capítulo III 3. O SERVIÇO SOCIAL NA DEFENSORIA PÚBLICA: O panorama do Estado de São Paulo.......................................................................................41 3.1. Afinal que espaço profissional é este? Olhar dos Assistentes Sociais...............................................................................................................52 Capítulo IV 4. A DEFENSORIA PÚBLICA DE PRESIDENTE PRUDENTE/SP COMO ESPAÇO SÓCIO-OCUPACIONAL DO SERVIÇO SOCIAL: suas especificidades............................................................................................... 58 4.1. Caracterização de Presidente Prudente................................................... 74 4.2. Análise crítica do Banco de Dados de Presidente Prudente/SP................84 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................88 REFERÊNCIAS...............................................................................................104 ANEXOS.........................................................................................................109 11 INTRODUÇÃO “A maioria dos problemas que chegam até a Defensoria são problemas sociais, a justiça não pode resolver tudo e o Serviço Social resolve grande parte. Hoje eu analiso que, de fato, o Judiciário resolve poucas questões e o Serviço Social atingiu uma dimensão admirável na resolução dos problemas que chegam ao judiciário” (Dr. Rodolfo Marques da Silva, depoimento colhido em Fevereiro de 2012). O tema abordado, e que deu origem nesta dissertação de mestrado: A Defensoria Pública de Presidente Prudente/SP como espaço sócio-ocupacional do Serviço Social, decorre da prática profissional que realizo como Assistente Social na referida instituição. Durante os atendimentos sociais com as famílias que buscam a Defensoria Pública para ações jurídicas, relacionadas na maioria das vezes com acesso aos seus direitos, que em geral se materializam através de políticas públicas, observei que há muito que se pesquisar, desvelar e dar visibilidade a esta área, reconhecendo-a como espaço sócio-ocupacional do Serviço Social, tendo no Projeto Ético-Político do Serviço Social um referencial para as intervenções profissionais. Neste sentido, constatei que muitas demandas que chegam até a Defensoria Pública podem ser resolvidas de forma extrajudicial. Minhas observações indicavam a necessidade de construir junto aos demais profissionais novas formas de atendimento, principalmente estreitando laços com a Rede de Apoio Municipal e Regional. Assim construí a hipótese de que múltiplos problemas sociais condicionavam e refletiam significativamente na vida das famílias que procuravam a assistência judiciária, problemas esses decorrentes, na sua grande maioria, da insuficiência das políticas públicas, conforme evidenciam os indicadores da pesquisa de campo. O objetivo desta dissertação é sistematizar a reflexão sobre algumas questões relevantes da prática do Assistente Social na Defensoria Pública, como a possibilidade de acesso à justiça, de forma humanizada, com destaque para o trabalho interdisciplinar desenvolvido pelo CAM – Centro de 12 Atendimento Multidisciplinar na área da assistência judiciária. Esta pesquisa busca ainda apresentar como se deu a implantação e como são realizadas a gestão e a prática do Serviço Social nessa instituição. Sua realização perpassa inúmeros pontos importantes, sendo os principais: desvelar a realidade social de atuação do Assistente Social na Defensoria Pública de Presidente Prudente como produto de conhecimento com base em aproximações concretas do dia-a-dia de trabalho, apresentar a identidade da profissão neste espaço sócio ocupacional, propiciar a construção de questionamentos e problematizações afim de que possam contribuir para a melhoria da qualidade dos atendimentos, considerando a referência em preceitos éticos e a importância da Defensoria Pública Regional de Presidente Prudente, e também em âmbito estadual, como necessária a proteção, conquista e efetivação de direitos sociais ainda que com inúmeros limites. Para isso, esta pesquisa tem como base teórica o referencial do Serviço Social como também o referencial teórico da área da Justiça, em seguida os índices sociais levantados na Defensoria Pública Regional de Presidente Prudente/SP. As bases teóricas da dissertação estão pautadas nos referenciais do Serviço Social, da área sócio-jurídica e da justiça. Situando a pesquisa de campo A pesquisa de campo possui dois eixos centralizadores, um refere-se à abordagem qualitativa, realizada através de contato com Assistentes Sociais que atuam nas Defensorias Públicas do Estado de São Paulo e com os Defensores Coordenadores da Regional de Presidente Prudente e a outra quantitativa realizada por meio de levantamento do Banco de Dados com índices dos atendimentos sociais especificamente na Defensoria de Presidente Prudente/SP. “O conjunto de dados quantitativos e qualitativos, porém, não se opõem. Ao contrário, se complementam, pois a realidade abrangida por eles interage dinamicamente, excluindo qualquer dicotomia”. (MINAYO, 2002:2) A Defensoria Pública no Estado de São Paulo conta atualmente com 500 Defensores Públicos, 30 Psicólogos e 17 Assistentes Sociais. As 13 equipes psicossociais atuam diretamente ligadas ao CAM – Centro e Atendimento Multidisciplinar. Aos dezessete profissionais de Serviço Social optamos por realizar a pesquisa de campo, de cunho qualitativo, com três profissionais, escolhidos por realizarem atividades de liderança e assessoria a nível estadual e por participarem de discussões e debates recentes da área. Além da pesquisa de campo quantitativa realizada via levantamento de índices da realidade social da Defensoria Pública de Presidente Prudente, houve necessidade da pesquisa qualitativa com os sujeitos, como uma aproximação empírica da realidade social. Buscou-se entrevistar os profissionais, Assistentes Sociais, com vistas a coleta de elementos e informações sobre as atividades realizadas pela categoria profissional em todo o Estado de São Paulo, considerando que a regional de Presidente Prudente iniciou suas atividades há pouco tempo, desde Fevereiro de 2011, por isso esta pesquisa visa problematizar e apresentar a ‘construção’ de um projeto profissional para o Serviço Social nas especificidades da Defensoria Pública, em âmbito estatal. Esta pesquisa foi realizada com os Assistentes Sociais através de vários formas via telefone e posteriores inúmeros por e-mail, assim o roteiro de perguntas e questões abertas foi encaminhado via e-mail para os sujeitos da pesquisa e respondidos da mesma forma, em seguida tais respostas foram analisadas pela pesquisadora. Já as entrevistas realizadas com os Coordenadores da Regional de Presidente Prudente foram realizadas pessoalmente. A pesquisadora foi questionando os pontos principais de acordo com o roteiro pré-elaborado, com o apoio de um gravador registrou as respostas e as transcreveu em seguida, logo as entrevistas se deram pessoalmente de forma individualizada na sede da Regional de Presidente Prudente/SP. A análise qualitativa tem por objetivo evidenciar a centralidade da dimensão do trabalho profissional realizado no Estado de São Paulo e na Regional de Presidente Prudente, nas suas especificidades, considerando que: A premissa fundamental para se realizar um trabalho que efetivamente parta da centralidade do sujeito, do reconhecimento da riqueza de sua experiência, é conhecer o modo de vida das pessoas, 14 como vivem as suas vidas, quais suas experiências sociais e que significados atribuem às mesmas. Em outras palavras, é conhecer o processo de fazer-se sujeito das pessoas com quem vamos realizar ou estamos realizando a pesquisa. (MARTINELLI, 2005, p,118). A pesquisa de campo partiu na concepção de que conhecer o trabalho realizado pelos profissionais de Serviço Social no Estado de São Paulo, a proposta de projeto de intervenção já construída pela categoria nesta área é de extrema relevância, considerando que a atuação do Serviço Social na Defensoria de Presidente Prudente deva estar articulada com as ações a nível estatal, assim as entrevistas e os contatos com os profissionais permitiram ampliar o entendimento a respeito de como é desenvolvido o trabalho, mesmo considerando as especificidades regionais. Quanto à metodologia de pesquisa, realizou-se também entrevista com os Defensores Coordenadores da Regional de Presidente Prudente/SP, sendo eles o Defensor Coordenador da Regional, a Defensora Coordenadora do CAM e o Defensor Subouvidor. Com olhar para o cotidiano da Instituição buscaram destacar as características específicas da Regional no que tange as atividades desenvolvidas pelo Serviço Social e pelo Centro de Atendimento Multiprofissional na sua abrangência interdisciplinar. As entrevistas realizadas com o apoio de um roteiro de perguntas, com base em questões abertas, buscaram levantar pontos estratégicos para visualização do panorama de atuação profissional no estado como por exemplo, 1- Como você avalia a Defensoria enquanto conquista no campo dos direitos? 2- Como você analisa a trajetória histórica de implantação da Defensoria no Estado de São Paulo? 3- Qual sua análise histórica quanto à implantação do Serviço Social na Defensoria? 4- Faça uma análise da presença e participação do Serviço Social nesta Instituição? 5- Reflita sobre as atribuições e competências do Assistente Social nesse campo de atuação? 6Quais as especificidades de atuação do Serviço Social no CAM – Centro de Atendimento Multidisciplinar? 7- Explique a proposta de projeto de intervenção construído para o Serviço Social nas especificidades deste espaço sócioocupacional? 8- Faça uma análise do trabalho interdisciplinar? 9- Quais os pontos fortes e fracos do trabalho do Serviço Social? 10- Como você analisa a 15 materialização do Projeto ético-político? 11- Como você tem visto a atuação do Serviço Social nesta Instituição? Já aos Defensores Coordenadores foram feitas questões específicas como: 1- Qual sua análise do trabalho interdisciplinar na Defensoria em Presidente Prudente? 2- Qual sua análise da importância do Serviço Social nesta Instituição? 3- O que precisa ser conquistado na Defensoria Pública? 4- O que precisa ser conquistado no Serviço Social/O que precisa avançar? Os sujeitos da pesquisa são: Luciano Alves, Assistente Social formado em 2001 pela Faculdade Paulista de Serviço Social 'São Caetano Sul', possui Mestrado pela PUC/SP com conclusão em 2010, foi membro do CRESS na gestão 2009 a 2011 atuou como Conselheiro Estadual, trabalhou na Defensoria Pública de 2007 a 2008 via convênio e ingressou em 2010 via concurso público, sua natureza de pesquisa é ética e trabalho profissional. Luiza Aparecida Barros atua na área de Assessoria Psicossocial no Estado de São Paulo na Defensoria Pública, possui formação em Serviço Social pela PUC/SP no ano de 2004, e Pós - graduação em Sócio-psicologia pela Fundação Escola Sociologia e Política/SP, atuou como Assistente Social do Tribunal de Justiça de Setembro de 2006 a Abril de 2010, e ingressou na Defensoria Pública em Junho de 2010, possuiu militância como membro da Coordenação Nacional Estudantil da ABEPSS na gestão 2002 a 2004, sua área de pesquisa é Sistema Prisional. E por fim, Renata Carvalho da Silva se formou em 2002, após 2003 atuou na área da Assistência Social e Saúde e ingressou na Defensoria Pública em 2010, milita no Movimento Feminista de SP, sua natureza de pesquisa é na área dos Direitos Humanos, atualmente é Assistente Social na Defensoria Pública Regional Leste, na área da Infância e Juventude. Quanto aos Defensores Públicos são eles: Dr. Matheus Assad João, formou-se em Direito no ano de 2006 pela Faculdades Integradas Antonio Eufrásio de Toledo de Presidente Prudente/SP, sua primeira atuação profissional foi na Defensoria Pública com ingresso via concurso em setembro de 2007, a partir de 2008 assumiu a Coordenação da Regional de Presidente Prudente permanecendo até os dias atuais, atua também na área Cível e 16 Família. Dr. Rodolfo Marques da Silva, possui formação em Direito pela Universidade do Oeste Paulista em 2004 de Presidente Prudente, advogou de 2004 a 2007, ingressou na Defensoria em 2008, atua desde abril de 2009 como sub-ouvidor da Regional de Pres. Prudente e também na área da Infância e Juventude. E por fim, Dra. Giovana Devito dos Santos Rota, colou grau em 2002 na Faculdades Integradas Antonio Eufrásio de Toledo de Presidente Prudente/SP, após formada trabalhou como advogada na área preponderantemente cível/família, ingressou na Defensoria Pública em 2007 e assumiu a coordenação CAM- Centro de Atendimento Multidisciplinar em 2010. Esta pesquisa apresenta ainda a sistematização e a categorização dos atendimentos realizados pelo Serviço Social na Defensoria Pública de Presidente Prudente no período de Fevereiro a Novembro de 2011, com foco nas demandas relacionadas nas políticas públicas, realizou-se ainda entrevistas com Defensores Coordenadores que atuam na Regional Presidente Prudente/SP, assim buscou-se desvelar o panorama do Estado e destacar as especificidades da Regional. O 1º Capítulo traz a contextualização histórica dos direitos sociais no Brasil, direitos estes compreendidos como o berço de origem da missão da Defensoria Pública. A análise sócio-histórica parte de 1964, período do Golpe Militar, acompanha o decorrer dos anos com foco no campo dos direitos. Enfatiza a Constituição Federal de 1988 como avanço ímpar para a população brasileira no que se refere; democracia, defesa das políticas públicas e justiça social. Destaca a Constituição Federal de 1988 para além da garantia da consolidação dos direitos, mas demarca também a inserção da Defensoria Pública no Sistema de Garantia de Direitos, reconhecendo e legitimando a Instituição como uma área do campo sócio-jurídico. O 1º Capítulo ainda é contemplado com a reflexão sobre os direitos civis, políticos e sociais, em especial a intervenção do Estado na sua materialidade. Intervenção esta que requer na contemporaneidade enfrentamento de instituições jurídicas e sociais para sua amplitude, como exemplo, a Defensoria Pública. 17 É importante esclarecer que o recorte desta pesquisa está nos direitos sociais considerando a relevância dos índices levantados via pesquisa de campo, no capítulo 4º deste estudo, que expressam as políticas sociais como as maiores demandas dos cidadãos atendidos pela Defensoria Pública Regional de Presidente Prudente/SP, demandas estas relacionadas ao acesso à saúde e assistência social em especial. Por fim, o 1º Capítulo busca destacar a relevância de compreendermos os fundamentos do trabalho profissional do Assistente Social para além da Defensoria Pública, situando-o no âmbito das relações sociais capitalistas, nos processos de produção e reprodução social, em uma perspectiva sócio-histórica, o que perpassa estudos acerca das demandas profissionais frente às transformações contemporâneas do Estado e das políticas públicas, problematizando os rebatimentos para a Defensoria Pública decorrentes da insuficiência das políticas públicas. Já o 2º Capítulo traz a criação da Defensoria Pública no Estado de São Paulo, analisa este processo histórico criticamente, pois o mesmo se deu somente em 2006 após pressão por parte da sociedade através do “Movimento pela criação da Defensoria”, considerando como destacado no capítulo anterior que a Defensoria Pública está garantida na Constituição Federal de 1988 que explicita a função e expressão da instituição, bem como sua missão constitucional. Atualmente há 500 Defensores Públicos atuantes em 27 Regionais no Estado de São Paulo, são elas: Araçatuba, Araraquara, Avaré, Bauru, Campinas, Jaú, Jundiaí, Marília, Presidente Prudente, Ribeirão Preto, Santos, São Carlos, São José do Rio Preto, São Vicente, Sorocaba, Taubaté, Avaré, Diadema, Franca, Guarulhos, Itaquaquecetuba, Mogi das Cruzes, Osasco, Piracicaba, Registro, São Bernardo do Campo e São Paulo. Desde 2010 a Defensoria Pública conta com 30 Psicólogos e 17 Assistentes Sociais ingressantes via concurso público. Esse capítulo traz uma reflexão sobre a atuação do Serviço Social na Defensoria Pública como área do campo sócio-jurídico. O 2º Capítulo é finalizado com uma análise crítica da gestão da Defensoria Pública no Estado de São Paulo atualmente, o que requer 18 enfrentamento do Estado no que condiz sua amplitude e qualidade nos serviços ofertados. Assim o capítulo destaca a implantação do Serviço Social na Defensoria Pública, no Estado de São Paulo, apresentando as legislações e deliberações que regulamentam a ação do profissional. O 3º capítulo destaca a inserção do Serviço Social na Defensoria Pública e suas especificidades: os objetivos e as atividades desenvolvidas pelo profissional, funções e ações, as condições de trabalho e as relações que se estabelecem no cotidiano profissional. Assim, o capítulo inicia-se com a discussão de espaço sócio-profissional, traz o avanço e amadurecimento do Serviço Social no Brasil, acompanhado da reflexão do projeto ético-político para alcançar a inserção da profissão na Defensoria Pública. Destaca a atuação da equipe psicossocial no CAM – Centro de Atendimento Multidisciplinar via deliberação CSDP nº 187/2010 que busca padronizar os serviços interprofissionais e a atuação interdisciplinar. Por fim, este capítulo 3º ainda explicita as localidades de trabalho da equipe psicossocial no Estado de São Paulo. O 3º Capítulo é desmembrado em subitem, 3.1, que aborda a pesquisa de campo de cunho qualitativo com os Assistentes Sociais atuantes nas Defensorias do Estado de São Paulo. Por fim, no Capítulo 4 apresenta a pesquisa de campo de Presidente Prudente/ SP que visa levantar, problematizar e buscar propostas de respostas profissionais aos indicadores sociais da Defensoria Pública, pesquisa esta realizada através de banco de dados com os índices dos atendimentos realizado pela equipe de Serviço Social de fevereiro a novembro de 2011, bem como os índices no que se refere as ações de acompanhamento e monitoramento. E por fim, diante dos problemas e questionamentos refletiu-se sobre os desafios e as possibilidades no âmbito do Serviço Social, tendo como referência teórica a Teoria Social Crítica de Marx e o Método Dialético, além do direcionamento do contemporâneo Projeto ético-político do Serviço Social brasileiro. Neste sentido esta produção apresenta os resultados de uma desafiadora e representativa pesquisa de campo, entrevistas com profissionais da área e com apoio de pesquisa em material documental e bibliográfico. 19 Assim, em um primeiro momento realizou-se uma aproximação bibliográfica dos textos fundamentais da temática, para localizar conceitualmente o debate e verificar os avanços contemporâneos sobre a mesma, sendo esta uma dinâmica constante que acrescentou conteúdos até o fim da elaboração da dissertação. Contempla a caracterização e identificação do Serviço Social na especificidade da Defensoria Pública de Presidente Prudente, abordando em especial o conteúdo do exercício profissional, não deixando de considerar as demandas dos atendimentos, os objetivos e atividades realizadas, instrumentais atualmente utilizados como o Banco de Dados no Programa Microsoft Acess, relações de trabalho e condições físicas e materiais que circunscrevem o exercício profissional. Nas considerações finais, parte-se do reconhecimento de que este é um relato da prática profissional, uma vez que trazemos à público a prática cotidiana da Assistente Social e pesquisadora e demais profissionais que mostram que podem resolver seus dilemas, questões e dificuldades sem a intervenção da justiça tradicional, contribuindo para a construção de uma atuação em defesa da humanização do judiciário e acesso do cidadão às políticas públicas que lhes são garantidas por direito, o que nos remete o reconhecimento da Defensoria Pública como espaço sócio ocupacional do Serviço Social afinado com Projeto ético-político da profissão. 20 1. DEFENSORIA PÚBLICA: a defesa intransigente dos direitos sociais “Foi com base nesta apreensão crítica, fomentada pela então participação dos movimentos sociais na vida política do Estado, que a Defensoria Pública de São Paulo foi pensada coletivamente e fundada democraticamente, não se deixando mais sucumbir tanto ao conservadorismo jurídico da máquina estatal” (Luciano Alves, depoimento colhido em Janeiro de 2012). É importante contextualizar os direitos sociais na sua trajetória histórica, a fim de que se possa acompanhar a conquista e defesa dos direitos sociais no Brasil, pois este é o berço de origem da missão da Defensoria Pública enquanto instituição jurídica e social, que tem exigido intervenção do profissional de Serviço Social. O período de 1964 a 1985 no Brasil conforme análise de Couto (2004, p. 31): Demarca a fase da ditadura militar e também o processo de abertura democrática, realizada a partir do governo Geisel (1974-79). Nesse período, é possível evidenciar, por meio das duas constituições promulgadas na época e do sistema institucional que fundamentou o sistema de proteção social dos governos militares, a importância que esses fatos tiveram para a consolidação do campo dos direitos no Brasil. Nesse quadro o mundo já conhecia a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão promulgado pela Assembléia Nacional Constituinte da França, desde 1789 e a Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU desde 1948. Esta última foi elaborada no século XX em meio à disputa e inserção dos direitos sociais no patamar dos de cunho político, econômico, civil e cultural. 21 Enquanto países da Europa e América do Norte eram signatários das referidas declarações e difundiam os direitos do homem, no Brasil os campos dos direitos civis, políticos e sociais, sinalizavam a expressão de interesses da classe dominante. Atos Institucionais foram publicados demarcando retrocessos significativos para classe trabalhadora, como por exemplo a cassação de direitos políticos às lideranças sindicais, criação de comissões de inquéritos militares, fechamento da União Nacional dos Estudantes, centralização da decisão de todas as questões relacionadas à política econômica, entre outros. A partir dos anos de 1970 fortalece-se no Brasil um meio de acumulação de riquezas das classes dominantes, através da definição de um novo modelo econômico e político. Na medida em que os programas sociais passaram a ser utilizados como instrumentos de acúmulo de economia, ou seja, integrando interesses específicos de empresas e da ação estatal, tendo sua execução privativa. Até 1974 os governos militares foram fundo na persecução da eficiência econômica e na defesa do sistema capitalista, optando por usar a repressão cruenta aos direitos civis e políticos para alcançar essa meta. Só a partir de 1975 é que, emaranhado nos desacertos internos e externos desse propósito, tais governos demonstraram, ao lado do crescimento relativo obtido na área econômica, uma inusitada preocupação pelos pobre. (Pereira, 2002, p. 137). Já a partir de 1974 o governo começa a se esforçar em ampliar o intuito da política social, com o objetivo estratégico de reaproximar o Estado da Sociedade, “para manter os governantes de um regime em franco desgaste como atores políticos viáveis a preocupação com a pobreza tornou-se um tema recorrente no discurso oficial” (Pereira, 2002, p 137), pois era por esse caminho que os lideres governamentais pretendiam descomprimir o regime autoritário. Entre 1976 e 1979 com o aprofundamento da crise econômica mundial e dos seus rebatimentos no Brasil, o voluntarismo do Estado descobriu-se insuficiente de elevar o país à potência emergente. 22 Foi nesse contexto brasileiro que a política social passou a ser intensificada, não como mera resposta às necessidades sociais, mas como uma via de reaproximação do Estado com a sociedade. Nos anos de 1980 a 1985 houve uma expressiva desarticulação na área do desenvolvimento social, culminando na diminuição dos gastos sociais, “acompanhada de gradual redução da importância da política social no planejamento e na gestão estatal, constituiu a principal evidência dessa desaceleração” (Pereira; 2002, p. 147). Logo, o momento histórico de abertura política decorrente da falência do regime militar, característico desde 1964, acrescido do crescimento dos movimentos reivindicatórios da população no acesso aos mínimos sociais, a organização popular, dentre outros, foram fatores determinantes para que houvessem avanços no âmbito dos direitos. Nos anos de 1980 acirraram-se ainda mais as dificuldades financeiras do Brasil, conseqüência da expressiva concentração de renda nas mãos de poucos, revelando-se uma sociedade desigual, de muita riqueza para poucos e de pouca riqueza para muitos, os trabalhadores. Os movimentos sociais, as organizações não governamentais, entidades e sindicatos, entre outros, foram os principais participantes que fizeram nascer no seio da sociedade civil a organização em prol do movimento da pré Constituição, que fez germinar a participação popular na construção da nova Constituição. Durante a década de 80 e de 90 marcou-se um momento único na história da democracia no Brasil, com uma nova configuração do cenário político, econômico e social e a promulgação da Constituição Federal de 1988. Foi nesse período de significativos avanços no campo dos direitos, advindos e expressos sob uma nova forma de organizar e gestar o sistema de seguridade social brasileiro, trazendo a proteção social para a área da política social, ou seja, natureza e dimensão pública. No que se refere à Constituição Federal de 1988 afirmam Oliveira e Oliveira (2011, p.6): No dia 5 de Outubro a Constituição Federal completou 21 anos de vigência atingindo, portanto, a maioridade. Conhecida como a ‘Constituição Cidadã’, mereceu essa alcunha em virtude da inclusão, 23 como direitos fundamentais, de uma série de direitos sociais que a colocaram em contemporaneidade com os anseios da sociedade brasileira, após 42 anos de vigência da Constituição Federal de setembro de 1946, última promulgada sob o regime democrático. Essa Constituição define a República Federativa do Brasil como Estado democrático de direitos, fundamentada na construção de uma sociedade igualitária que garante direitos de cidadania, pluralismo político e dignidade da pessoa humana. Decorreu da mobilização e organização de movimento sindical e popular, formado por expressivos segmentos da sociedade brasileira. Tratava-se de um contexto de um novo Plano econômico desenvolvido no Governo Sarney, e de uma longa tradição de políticas ancoradas no patrimonialismo, autoritarismo, burocracia e oligarquia, que rebateram significativamente no Brasil quando nos referimos à marginalização social da classe trabalhadora, características clientelistas na gestão e privatização da esfera pública, “causando uma imensa discrepância entre o ‘país legal’ do ‘país real’ e com obstáculos enormes à construção da cidadania, ao exercício dos direitos e à participação popular autônoma” (Santos, 2003 in Oliveira e Oliveira: 2011, p. 8). Neste sentido, afirmam Oliveira e Oliveira (2011, p.8): Em seu artigo 3º, a Constituição Federal define os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I- construir uma sociedade livre, justa e solidária; II- garantir o desenvolvimento nacional, III- erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais, IV- promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. (Brasil, 1988, grifos nossos). Desde os primeiros dispositivos, portanto, a Constituição de 1988 deixa claro que a promoção dos interesses dos trabalhadores e dos demais cidadãos é um traço distintivo da nova Carta, merecendo igual tratamento dado às questões da democracia e do desenvolvimento econômico. Outro avanço significativo na Constituição Federal de 1988 foi à definição de Seguridade Social, garantida no artigo 194, como um conjunto articulado de ações de caráter público e da sociedade civil, com a finalidade de garantir os direitos específicos à saúde, à previdência social e à assistência 24 social, avançando ainda no que diz respeito à cobertura dos atendimentos, a uniformidade dos benefícios e serviços tanto a população urbana como rural, a equidade na forma de participação no custeio, e em especial a dimensão democrática e descentralizada da gestão administrativa com a participação de toda comunidade, dando visibilidade a segmentos como aposentados e trabalhadores. Mas, não podemos negar que a Seguridade Social no Brasil deuse de forma atrasada, uma vez que a Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948, no artigo 85, já estabelecia: Todo homem tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem- estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos, os serviços sociais indispensáveis, o direito à seguridade social no caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice, outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle (ONU, 1948). A Constituição de 1988, além de ser um avanço na consolidação dos direitos à população brasileira, demarca o pano de fundo da inserção da Defensoria Pública no Sistema de Garantia de Direitos, reconhecendo e legitimando a Instituição como uma área do campo sócio jurídico. Os direitos geralmente estão classificados em gerações, de acordo com a ordem cronológica de seu aparecimento e reconhecimento a partir de certas exigências humanas e princípios orientadores: a) primeiro, surgiram exigências relacionadas à vida e à liberdade individual, propiciando a instituição dos direitos civis; b) segundo, surgiram exigências relacionadas às liberdades políticas e ao direito de participar no governo da sociedade, proporcionando a instituição dos direitos políticos; c) terceiro, surgiram exigências relacionadas à necessidade de combinar liberdade com igualdade, sobretudo para a satisfação de necessidades básicas, proporcionando a instituição dos direitos sociais; d) finalmente, surgiram exigências ‘mais controvertidas que afetam a humanidade e/ou que têm a ver com os avanços tecnológicos e com a mundialização da economia, da política e da cultura’ (Pisón, p.69), requerendo solidariedade e fraternidade e proporcionando o surgimento dos chamados direitos difusos (Pereira, 2008, p.103/104). 25 Os direitos sociais dentre outros garantidos na ‘Constituição Cidadã’ dependem da intervenção do Estado para sua materialidade, estando ligados às questões de cunho econômico, se efetivam através de políticas sociais públicas. Uma vez que: Os direitos sociais possuem caráter redistributivo, buscam promover a igualdade de acesso a bens socialmente produzidos, a fim de restaurar o equilíbrio para a coesão social. Partem de aspirações ideais que, ao serem proclamadas, não dão garantias de seu usufruto, pois o direito reivindicado não se traduz necessariamente em direito reconhecido e protegido. (Bobbio, 1992 in Couto; 2004 p.48) Afirma Lopes (2002, p.125): Tomemos alguns exemplos de direitos sociais expressos na Constituição Federal de 1988. Há uma divisão nos direitos sociais: direitos à seguridade social (saúde, previdência social, assistência social) e os outros direitos (cultura, educação e desporto; ciência e tecnologia; comunicação social; meio ambiente; família, criança, adolescente e idoso; índios). O campo dos direitos deve ser apreendido como “expressão de um patamar de sociabilidade, estão situados em um campo essencialmente político, porque são resultados do embate de interesses e ações dos sujeitos sociais. Envolvem lutas por espaços de poder, e estratégias de enfrentamento das desigualdades sociais” (Iamamoto, 2004, p.20). Assim, os direitos sociais são frutos do embate de classes, da luta dos trabalhadores por melhores condições de vida e acesso às políticas públicas eficientes e amplas, no campo da saúde, educação, assistência social e outros. Por sua dimensão pública os direitos, especialmente os materializados pelas políticas sociais, dependem do governo para sua efetividade. A característica básica dos direitos sociais está no fato de que, forjados numa linha oposta ao paradigma Kantiano de uma justiça universal, foram formulados dirigindo-se menos aos indivíduos 26 tomados isoladamente como cidadãos livres e anônimos e mais na perspectiva de grupos, comunidades, corporações e classes a que pertencem. Ao contrário da maioria dos direitos individuais tradicionais, cuja proteção exige apenas que o Estado jamais permita sua violação, os direitos sociais não podem simplesmente ser “atribuídos” aos cidadãos; cada vez mais elevados à condição de direitos constitucionais, os direitos sociais requerem do Estado um amplo rol de políticas públicas dirigidas a segmentos específicos da sociedade- políticas essas que têm por objetivo fundamentar esses direitos e atender às expectativas por eles geradas com sua positivação (Faria, 2002, p.104). O direito garantido legalmente, fruto do movimento histórico, não se apresenta essencialmente como direito materializado e acessível no dia a dia dos cidadãos brasileiros. Nesse âmbito, deve-se problematizar o papel do Estado no reconhecimento e proteção dos direitos. Afirma Couto (2004, p. 34): Existem dois paradigmas para compreender a idéia que iluminou o movimento de conquista de direitos. O primeiro é o defendido pelos jusnaturalistas, que compreendem o campo do direito como algo inerente à condição humana, fundado numa lógica apriorística, onde a natureza humana, por si só, é detentora de direitos. O segundo, representado pela idéia de que os direitos são resultados do movimento histórico em que são debatidos, correspondendo a um homem concreto e às suas necessidades, delimitado pelas condições sociais, econômicas e culturais de determinada sociedade, pois, os direitos do homem são direitos históricos que emergem gradualmente das lutas que o homem trava por sua própria emancipação e das transformações das condições de vida que essas lutam produzem’ (Bobbio, 1992, p.32). São direitos estabelecidos em determinados períodos, sob determinações culturais, sociais, políticas e econômicas e referem-se ao homem concreto, aquele que vive em determinada sociedade. É fundamental, “compreender que a criação, a negação, a expansão e a retração dos direitos são constitutivas de um processo, onde participam os mais diferentes sujeitos sociais”, segundo Couto (2004, p. 38). O movimento; histórico, social e político brasileiro, nos remete também a um contexto com marcos de desigualdades sociais, de retrocesso de direitos, de pobreza e discriminação e até mesmo de recuo dos movimentos sociais: 27 Pensar sobre a desigualdade social brasileira, normalmente leva a dois pontos: ao dos direitos sociais e ao da responsabilidade social. A respeito do primeiro, a impressão que se tem é a de que representam uma significativa trajetória de conquistas jurídicas, pois, principalmente dos anos 30 em diante, estão presentes em todas as Cartas Constituintes. O problema é que, mesmo que sua implementação tenha sido feita sob a orientação do Estado, as conquistas jurídicas não se traduzem em evidências empíricas. Isso remete a conclusão de que, no Brasil, o problema das desigualdades sociais não reside na inexistência de direitos sociais, mas sim, na sua não materialização. Ou seja, o problema não é a inexistência de direitos, mas sim a sua acessibilidade. Nesta mesma perspectiva, a Constituição de 1988 reveste-se no mais recente e significativo avanço no campo dos direitos sociais no Brasil. Isso porque consagra a concessão de direitos de forma universal e não contributiva. (Couto, 2004). Sucintamente, os direitos civis e políticos são os de natureza individualizada fundados na idéia de liberdade, enquanto os direitos sociais de âmbito coletivo (direitos universalizantes) na idéia de igualdade. Assim existem duas categorias de direitos, os individuais e os sociais, sendo que os individuais se dividem em civis e políticos. “No âmbito da cidadania, os direitos sociais são os mais dinâmicos e, conseqüentemente, os que têm se multiplicado e se especializado” (Bobbio,1992). As políticas públicas têm como uma de suas principais funções a materialização de direitos de cidadania, amparados por lei. Os direitos com os quais as políticas públicas se identificam, e devem concretizar, são os direitos sociais, que se guiam pelo princípio da igualdade, embora tenham no seu horizonte os direitos individuaisque se guiam pelo princípio da liberdade. A identificação das políticas públicas com os direitos sociais decorre do fato de esses direitos terem como perspectiva a equidade, a justiça social, e permitirem à sociedade exigir atitudes positivas, ativas do Estado para transformar esses valores em realidade. Daí porque, no campo de atuação das políticas públicas, a participação do Estado, seja como regulador, seja como provedor ou garantidor de bens públicos como direito, é considerada fundamental (Pereira, 2008, p. 103). Assim, refletir acerca dos direitos sociais exige que se reflita sobre o Estado social. Nesse contexto as áreas do campo jurídico também são contraditórias, pois nelas estão presentes projetos de sociedade distintos, compreendendo que fazer justiça não é apenas uma questão de leis, eles 28 podem sim serem cobrados e exigidos, o que requer a busca dos profissionais que atuam cotidianamente nesse campo, de mecanismos inovadores que possam efetivamente garantir a conquista destes direitos. Como bem afirma Baptista (2012, p 7): A garantia de direitos, no âmbito de nossa sociedade, é de responsabilidade de diferentes instituições que atuam de acordo com sua competências: as instituições legislativas nos diferentes níveis governamentais; as instituições ligadas ao sistema de justiça- a promotoria, o Judiciário, a Defensoria Pública, o Conselho Tutelaraquelas responsáveis pelas políticas e pelo conjunto de serviços e programas de atendimento direto (organizações governamentais e não governamentais) nas áreas de educação, saúde, trabalho, esportes, lazer, cultura, assistência social; aquelas que, representam a sociedade, são responsáveis pela formulação de políticas e pelo controle das ações do poder público, e ainda, aquelas que têm a possibilidade de disseminar direitos fazendo chegar a diferentes espaços da sociedade o conhecimento e a discussão sobre os mesmos: a mídia (escrita, falada e televisiva), o cinema e os diversificados espaços de apreensão e de discussões de saberes, como as unidades de ensino (infantil, fundamental e pós-graduado) e de conhecimento e crítica ( seminários, congressos, encontros, grupos de trabalho). No entanto, essas ações tem sido historicamente localizadas e fragmentadas, não compondo um projeto comum que permita a efetividade de sua abrangência e maior eficácia no alcance dos principais objetivos por elas buscados. Devemos considerar que a elaboração e promulgação deste aparato jurídico contemporâneo são frutos de mobilizações e enfrentamentos da própria sociedade civil organizada, na sua constante relação de enfrentamento e embate com o Poder Público, em especial o Estado. O instrumento legal, por si só, não dá conta de impor o novo nessa relação. Esse novo é estabelecido pelo movimento social... e esse novo o tempo todo está se debatendo com o velho, aquele que impõe as regras, submetendo os segmentos subalternos à lógica do mercado e impingindo aos direitos sociais sua transformação em mercadoria. Escrever na forma de leis, estabelecendo contratos, tem sido o caminho percorrido pelos homens na conformação da vida social. Essas leis vêm tendo papéis diferentes de acordo com a sociedade em que estão inseridas. Sua formalidade, muitas vezes, pode servir de justificativa para burocratizar os interesses da maioria e remeter sua consecução para um longo e penoso processo judicial. Nessa ótica, o aprisionamento do movimento social acontece de forma a individualizar e particularizar as demandas, trabalhando na dissolução da cadeia social que compõe a discussão dos direitos sociais e sua garantia (Couto, 2004). 29 Todavia as leis e suas garantias podem ser elementos constitutivos do exercício e acesso aos direitos, sob esta ótica se funda a compreensão de que a Legislação materializando a socialização, igualdade e a justiça social é um dos pilares da construção de uma nova ordem societária. O direito social é resultado do movimento histórico, ele foi construído através de lutas e embates dos trabalhadores no conjunto das relações sociais, com a finalidade de incluir a discussão de suas necessidades sociais na agenda política, necessidades estas expressas na vida cotidiana. A garantia dos direitos humanos constitui a base material e primordial da legitimidade do Estado Democrático de Direito, funcionando como limitador do Poder. É uma conquista frente à arbitrariedade e à opressão estatal. Assegurar a preservação e defesa dos Direitos Humanos na órbita interna (Direitos e Garantias Fundamentais) propiciou o surgimento do garantismo (Robert, 2000, p. 7). No contexto de desenvolvimento e amadurecimento do Capitalismo e na ótica neoliberal, o direito social se expressa como a responsabilidade do Estado no suprimento das dificuldades enfrentadas pelos sujeitos, para que assim possam viver com dignidade. Já “no seu estágio maduro a sociedade tem usado da juridificação para garantir o acesso de todos aos direitos, civis, políticos ou sociais, sendo que as constituições têm sido os mecanismos que representam essa pactuação” (Couto, 2004, p.183). Deste modo, a materialidade dos direitos depende das ações, intervenções e responsabilidades estatais, por meio da consecução de políticas que busquem promover o bem estar do cidadão, atendendo suas necessidades sociais. No âmbito dos direitos, o acesso à justiça social se apresenta enquanto direito ao usufruto de bens e serviços que possibilitam uma vida com dignidade, que garantam a cidadania, isto é, a possibilidade de viver, plenamente, como sujeitos de direitos. Justiça social nesta perspectiva vincula-se a direitos constitucionalmente assegurados, ainda que a legislação social, tanto as de caráter universal, como a saúde e a educação, por exemplo, como as focalizadas, caso de algumas vinculadas à assistência social, não estejam sendo efetivadas integralmente (Fávero e Mazuelos, 2010, p. 41). 30 É com base na compreensão da conquista, concessão e gestão dos direitos, bem como da análise de heranças conservadoras ainda presentes na sua efetivação, que os Assistentes Sociais devem decifrar e refletir acerca dos desafios que cabe a luta da construção de um sistema de proteção social na ótica da garantia dos direitos, em especial o seu rebatimento nas áreas do campo sócio jurídico. Mesmo com as investidas de desconstrução, os avanços assegurados pela Constituição de 1988 são relevantes se se compara o sistema de proteção social no Brasil com o de outros países da América Latina. E as propostas do neoliberalismo, de Estado mínimo e privatização dos serviços públicos, não foram implementadas de forma tão radical no Brasil como em outros países dessa região, devido à ação de parlamentares comprometidos com as causas sociais e à pressão de setores da sociedade, que trabalham na defesa da seguridade social (Oliveira e Oliveira, 2011 p.25). Trata-se de uma questão para além do direito, mas de um movimento contraditório onde existe a possibilidade da negação deste direito, o que leva as famílias aos atendimentos sociais e jurídicos em Instituições como a Defensoria Pública, como veremos mais a frente nesta pesquisa. Percebe-se nos estudos históricos que ao levar em conta as peculiaridades e os fatos que apontam a efetivação dos direitos na tradição européia e especificamente no Brasil, que na tradição européia o Estado regulou os direitos e proveu sua efetivação, já no Brasil estes direitos estão quase que vinculados a um enunciado de intenções, desvinculados do papel do Estado. Reconhecendo que ocorreram retrocessos após a Constituição Federal de 1988 e o Sistema histórico de Garantia de Direitos brasileiros; é importante destacarmos as repercussões nas áreas do campo judiciário, como por exemplo, as famílias, principalmente em situação de pobreza, devem recorrer ao judiciário para terem acesso a seus direitos, sejam eles relacionados às políticas públicas de saúde, assistência social, previdência social, educação, entre outros, pois isto reflete em melhores condições de viver. Os cidadãos mais empobrecidos vêm percorrendo o caminho do 31 judiciário com mais intensidade, isso se deu por conta dos avanços nessa área, por exemplo, através das implantações das Defensorias Públicas, em especial no Estado de São Paulo. Mas devemos deixar claro que ainda tem muito que caminhar e avançar na expansão de Instituições como a Defensoria Pública. Fávero e Mazuelos (2010, p. 43) trazem importante contribuição para esta análise a partir da contribuição de Boaventura de Souza Santos: Boaventura de Souza Santos nos revela que existe uma discrepância no acesso à justiça em razão de condicionantes econômicos, que se apresentam de maneira evidente. Nessa direção, ele relaciona alguns fatores que considera como responsáveis pela distancia entre grande parte dos cidadãos e a justiça: [...] os cidadãos de menores recursos tendem a conhecer pior seus direitos e, portanto, a ter mais dificuldades em reconhecer um problema que os afeta como sendo problema jurídico, [...] mesmo reconhecendo o problema como jurídico, como violação de um direito, é necessário que a pessoa se disponha a interpor a ação. Os dados mostram que os indivíduos das classes mais pobres hesitam muito mais que os outros em recorrer aos tribunais mesmo quando reconhecem estar perante um problema legal, [...] quanto mais baixo é estrato sócio econômico do cidadão menos provável é que conheça advogado. Finalizando o capítulo vale ressaltar a importância do reconhecimento do espaço sócio-ocupacional e do trabalho interdisciplinar realizado na Defensoria Pública para o Serviço Social, juntamente com a possibilidade de investir na providência de medidas extrajudiciais, bem como na orientação durante o atendimento social com a família para fornecer ferramentas e elementos para que os cidadãos tenham acesso a justiça, além disso, que tenham acesso a seus direitos que muitas vezes lhe foram negados. Neste sentido, os profissionais que atuam na Defensoria Pública devem ser defensores de direitos. Ainda há muito que se caminhar e avançar na consolidação e materialização dos direitos garantidos na Constituição Federal de 1988, bem como em todos os assegurados no Sistema de Garantia de Direitos. Até mesmo porque os direitos sejam eles sociais, políticos ou civis, são produtos sociais históricos, o que nos leva a compreendê-los como inacabados no 32 enfrentamento do dia-a-dia da população trabalhadora em prol de vida digna, rompendo as questões postas pelo sistema capitalista. Conclui-se que a Defensoria Pública nasce no seio da Constituição Federal para atuar à frente da defesa dos direitos da população brasileira, com foco aos direitos sociais. 33 2. A DEFENSORIA PÚBLICA NO ESTADO DE SÃO PAULO COMO INSTITUIÇÃO JUDICIÁRIA E SOCIAL: do percurso histórico à realidade contemporânea. “Com o crescimento e fortalecimento da Defensoria Pública há efetiva possibilidade de transformação da sociedade e maior aproximação da conquista dos ideais constitucionais básicos do Estado Brasileiro: construir uma sociedade livre, justa e igualitária; garantir o desenvolvimento nacional, erradicar a pobreza e a marginalidade e reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor e idade e quaisquer outras formas de discriminação” (Dra Giovana Devito dos Santos Rota, depoimento colhido em Janeiro de 2012). A Defensoria Pública do Estado de São Paulo foi criada por meio da Lei Complementar Estadual nº. 988 de 09 de janeiro de 2006, mas a sua promulgação “ocorreu em função de crescente pressão feita por diversos setores da sociedade civil – o que culminou na criação do “Movimento pela Criação da Defensoria” em meados de 2002. Apesar de prevista desde 1988 pela Constituição Federal, o Estado de São Paulo esperou quase 18 anos para instituir sua própria Defensoria”1. Contudo, os serviços jurídicos existiam. mesmo sem a institucionalização da Defensoria, na Procuradoria de Assistência Judiciária (PAJ). Ainda que as Defensorias estivessem previstas na Constituição Federal de 1988, São Paulo só as criou em 2006, depois que a maioria dos estados brasileiros já as haviam implantado. Segundo o Primeiro Subdefensor Público Geral do Estado, Davi Eduardo Depiné Filho, a demora se deveu a resistências por parte de instituições do 1 Disponível em: http://www.defensoria.sp.gov.br/ dpesp/Default.aspx?idPagina=2869. 34 sistema de justiça, que alegavam já existir um serviço de assistência judiciária. A antiga entidade, contudo, estava longe de cumprir o que era esperado de uma defensoria como o que previa a Constituição. ‘Somente com o crescimento de pressões advindas da sociedade civil é que a Defensoria Pública foi finalmente instituída em São Paulo’, diz Depiné. Este fato resultou em peculiaridades na concepção e estruturação da instituição, que se destaca por um forte caráter democrático e inovador. Segundo Depiné, isso explica, por exemplo, a existência de Conferências Públicas, que acontecem a cada dois anos e definem parâmetros para orientar a atuação da Defensoria, ou ainda, a criação de uma Ouvidoria externa, que contribui para uma aproximação entre a entidade e a sociedade (Jornal Psi nº 170 Set/Out de 2011). A Defensoria Pública é um órgão público estatal, ligado ao governo, possibilitando autonomia aos defensores públicos no que se refere à defesa dos interesses dos cidadãos, sejam individuais ou coletivos, pois como previsto na Constituição Federal de 1988, Art. 134: “A Defensoria Pública é instituição essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na forma do Art. 5º, LXXIV”. Deste modo, a Defensoria Pública tem sua atuação direcionada tanto para a orientação jurídica como para a defesa da população que busca pelo serviço, não estando vinculado a nenhum partido político. Para melhor compreendermos as especificidades desta Instituição e para apreendê-la como espaço sócio-ocupacional do Serviço Social as informações estão localizadas no site oficial da instituição que aqui sintetiza como: A Defensoria Pública do Estado de São Paulo é uma instituição permanente cuja função, como expressão e instrumento do regime democrático, é oferecer, de forma integral e gratuita, aos cidadãos necessitados a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos. A Constituição Federal a prevê como órgão de função essencial à Justiça e no Estado de São Paulo foi criada pela Lei Complementar Estadual nº 988 de 09 de janeiro de 2006. A Defensoria Pública, apesar de ser instituição estadual, não é vinculada ao governo. Sua autonomia é prevista pela Constituição Federal e é uma garantia para que os Defensores Públicos possam representar os direitos da população sem qualquer tipo de constrangimento. Internamente, cada Defensor possui independência funcional para seguir livremente sua convicção em cada caso em que atua. Atualmente, há 500 Defensores Públicos no Estado de São Paulo em atuação em 28 diferentes cidades. A administração 35 superior da instituição é conduzida pelo Defensor Público Geral do Estado – nomeado pelo Governador a partir de uma lista tríplice formada pelos candidatos mais votados em eleição com participação de toda a carreira. Seu principal órgão para tomada de decisões internas é o Conselho Superior da Defensoria Pública, formado por 05 membros natos e 08 membros eleitos diretamente pelos Defensores. Para ser Defensor Público do Estado é necessário ser bacharel em Direito e aprovado em concurso público específico para atuar em todas as áreas de atribuição da Defensoria. A Defensoria Pública apresenta como demanda jurídica da instituição, a presença do Defensor Público no que tange à necessidade da população, considerada em situação de pobreza segundo critérios por ela estabelecidos, o que se caracteriza como objetivo principal da instituição, ou seja, nomeação de advogados conveniados, ou a defesa dos usuários, pelos próprios Defensores Públicos. A Defensoria Pública teve sua origem no Estado do Rio de Janeiro, onde em 5 de maio de 1897 um Decreto instituiu a Assistência Judiciária no Distrito Federal, então a cidade do Rio de Janeiro. O Brasil é o único que deu tratamento constitucional ao direito de acesso dos insuficientes de recursos à Justiça, e a Defensoria Pública, com sua missão constitucional de garantir os princípios constitucionais de acesso à justiça e igualdade entre as partes, e o direito à efetivação de direitos e liberdades fundamentais, "o direito de ter direitos," desponta no cenário nacional e internacional como uma das mais relevantes Instituições Públicas, essencialmente comprometida com a democracia, a igualdade e a construção de 2 uma sociedade mais justa e solidária. A Defensoria Pública do Estado de São Paulo possui como critérios o atendimento às pessoas com renda familiar igual ou inferior a três salários mínimos e que não sejam proprietários de bens móveis e imóveis, cujos valores ultrapassem a cinco mil unidades fiscais do Estado de São Paulo, aproximadamente 80 mil reais, até momento da realização desta dissertação (Março/2012). Em casos em que a família ultrapassa os valores exigidos nessas condicionalidades existe a possibilidade de realizar um recurso que é analisado pelo Defensor Coordenador da Regional. 2 Disponível em: www.portaldpge.rj.gov.br/Portal/conteudo.php?id_conteudo=18) 36 A população atendida pelos serviços de assistência jurídica do Estado carece de recursos sociais, vivência um processo de exclusão social, sem poder escolher livremente o seu prestador de serviços, pois não tem meios para efetuar seu pagamento; sendo assim, necessita e depende desse serviço para garantir o atendimento de seus direitos e de seu acesso à justiça (Chuari, p.133, 2001). A demanda maior da instituição é a defesa dos interesses e direitos da população que procura os serviços prestados, buscando a efetivação dos direitos e da cidadania. A Defensoria Pública do Estado de São Paulo é um órgão do Poder Executivo do estado brasileiro de São Paulo e que tem como atribuição cumprir o dever constitucional de assegurar aos cidadãos menos favorecidos economicamente o acesso à defesa e a garantia de seus direitos interesses. O Conselho Superior da Defensoria, biênio 2010/2012, é formado por treze membros, sendo cinco natos e oito eleitos. A Defensora Pública-Geral é Daniela Sollberger Cembranelli, esposa do Promotor de Justiça paulista Francisco Cembranelli. Uma Lei complementar, a LP Estadual 1098/2009, criou mais 100 cargos para defensor, 63 deles deverão ser providos após realização do IV Concurso de Ingresso na Carreira de Defensor Público. O modelo institucional da Defensoria Pública de São Paulo é exemplo para a implantação e modificação dos demais órgãos estaduais de defesa, no Brasil. As cidades do Estado de São Paulo/SP que possuem Defensoria Pública são: Araçatuba, Araraquara, Avaré, Bauru, Campinas, Jaú, Jundiaí, Marília, Presidente Prudente, Ribeirão Preto, Santos, São Carlos, São José do Rio Preto, São Vicente, Sorocaba, Taubaté, Avaré, Diadema, Franca, Guarulhos, Itaquaquecetuba, Mogi das Cruzes, Osasco, Piracicaba, Registro, São Bernardo do Campo e São Paulo. Nas demais cidades, em que não há Defensoria, a pessoa deve procurar a subsecção local da Ordem dos Advogados do Brasil (Casa do Advogado), para que seja indicado um advogado que será custeado pela Defensoria. “O Estado de São Paulo subdivide-se em 645 municípios, distribuídos em 42 regiões de governo, 14 regiões administrativas e três 37 regiões metropolitanas: de São Paulo, da Baixada Santista (que tem a conformação espacial da RA de Santos) e de Campinas (contida na RA do mesmo nome).” (De acordo com: http://www.seade.gov.br/produtos/ atlasecon /intro/ cap2). Assim percebe-se que dos 645 municípios do Estado de São Paulo apenas 27 possuem Defensoria Pública, por isso embora as Defensorias Públicas sejam uma avanço, este percurso ainda tem um longo caminho a percorrer, para isso é necessário dar visibilidade à sua atuação, sendo este um dos objetivos desta pesquisa. A Defensoria Pública atua nas principais áreas: a) Área Cível: Trata-se de extenso campo que compreende ações na área do Direito Civil, Direito de Família e de Sucessões, Direito do Consumidor, Direito Urbanístico, Direito Ambiental, Direito à Saúde, Garantias Constitucionais, entre outras. Tutela Coletiva: A Defensoria Pública possui a prerrogativa legal de propor ações civis públicas na defesa coletiva de cidadãos carentes. Esse instrumento pode ser manejado em diversas áreas do Direito – tais como Habitação, Urbanismo, Saúde, Meio-Ambiente e Defesa do Consumidor. A lei prevê também que a Defensoria Pública promova termos de ajustamento de conduta (acordos extra-judiciais com força legal) para garantir que as demandas dessa natureza sejam resolvidas rapidamente e sem necessidade de um processo judicial. c) Área Criminal: A atuação na área criminal corresponde essencialmente à defesa de pessoas acusadas da prática de crimes de forma ampla e abrangente. A Defensoria promove não apenas a defesa em primeira instância, mas maneja todos os recursos cabíveis, tendo atuação marcante perante o STJ e o STF. Também é possível a atuação em defesa da vítima, especialmente nas hipóteses de Juizados Especiais ou de aplicação da Lei Maria da Penha (proteção contra mulheres vítimas de violência doméstica). d) Área da Infância e Juventude: A atuação perante as Varas da Infância e Juventude, abrange a área infracional, atuando na defesa de adolescentes acusados da prática de atos infracionais e que cumprem medidas socioeducativas (internação, liberdade assistida, serviços comunitários, entre outras). E também a área não infracional, incluindo pedidos de adoção ou de guarda, defesa em processos de destituição de pátrio poder, entre outras. e) Área de Execução Criminal: A atuação abrange a defesa de cidadãos que estejam cumprindo pena de reclusão, detenção ou penas alternativas após condenação judicial pelo cometimento de um crime. Inclui a formulação de diversos pedidos, tais como: progressão de regime, liberdade condicional, indulto, defesa em faltas disciplinares, além de outros relativos aos tratamentos dispensados dentro do sistema penitenciário. 38 A Defensoria Pública a fim de consolidar os direitos fundamentais e jurídicos da população, possui Defensores Públicos, equipes psicossociais e demais profissionais que devem estar à disposição da população no sentido de defendê-las e orientá-las quanto aos seus direitos. Nesta perspectiva, é importante considerar que os profissionais devem atuar com base em projeto de intervenção que direciona as ações para atenderem a população de forma justa e igualitária, não exercendo qualquer forma de autoritarismo perante os usuários. Neste sentido, é importante asseverar que: O serviço de assistência jurídica assume papel relevante na sociedade, principalmente junto às camadas da população subalternas, possibilitando a esses sujeitos o acesso à justiça para atendimento e garantia de seus direitos e do exercício de sua cidadania (Chuari, p.136, 2001). As discussões que perpassam as áreas do campo sócio-jurídico sejam elas do Poder Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública, Varas da Família ou Infância e Juventude, Sistema Prisional, dentre outros, não estão prontas e acabadas, mas devem ser repensadas e problematizadas cotidianamente, com vistas a buscar construir avanços para além do Serviço Social, alcançando o sistema de garantia de direitos e de sua materialidade. É importante esclarecer que o trabalho realizado pelo Serviço Social na Defensoria Pública, encontra-se no campo sócio-jurídico, pois: Campo (ou sistema) sócio-jurídico diz respeito ao conjunto de áreas em que a ação do Serviço Social articula-se a ações de natureza jurídica, como o sistema judiciário, o sistema penitenciário, o sistema de segurança, os sistemas de proteção e acolhimento como abrigos, internatos, conselhos de direitos, dentre outros. O termo sócio jurídico enquanto síntese dessas áreas tem sido disseminado no meio profissional do Serviço Social, em especial com a sua escolha como tema central da Revista Serviço Social e Sociedade nº 67 (Cortez Editora), pelo comitê que a organizou, tendo sido incorporada, a seguir, como uma das sessões temáticas do X CBASCongresso Brasileiro de Assistentes Sociais/2011. (Fávero, 2003, p.10). 39 Neste sentido, compreendemos que todas as áreas que de alguma forma tem relação com o sistema judiciário interessam ao campo sócio-jurídico, por isso não podemos afirmar que a Defensoria Pública é o campo sócio jurídico, mas sim faz parte dele. Desde abril de 2010 a Defensoria Pública do Estado de São Paulo conta com a presença de 30 psicólogos e 17 assistentes sociais em seus quadros de profissionais, que atuam diretamente ligados ao CAM – Centro de Atendimento Multidisciplinar, “área criada com o objetivo de atender pessoas em situação de vulnerabilidade, cujos casos demandam outros apoios além dos de natureza estritamente jurídica” (Jornal PSI, nº 170, set/out. 2011). “A presença de psicólogos e assistentes sociais na área do Direito não é nova, mas uma atuação nos moldes como se dá na Defensoria, em São Paulo, com uma proposta de caráter multidisciplinar e de atendimento integral, é inovadora’, afirma o psicólogo Paulo Kohara, assessor técnico psicossocial que gerencia as atividades do CAM. ‘As pessoas quando procuram a Defensoria anseiam por seus direitos, por justiça, e atender a esse pedido não se restringe, necessária e exclusivamente, à possibilidade do ajuizamento de ações, afirma” (Jornal PSI, nº 170, set/out. 2011). Neste sentido, cabe analisar e considerar que o Serviço Social está conquistando seu espaço profissional na Defensoria Pública, mas o número de profissionais atuantes na contemporaneidade é inferior ao necessário para isso a profissão necessita cada vez mais se apropriar destes espaços sócio-ocupacionais para avançar. Marcelo Semer (2011) refletindo sobre a Defensoria Pública no Estado de São Paulo faz as seguintes considerações: O uso desigual dos instrumentos públicos de repressão produz um Estado que criminaliza basicamente a pobreza. A pedra de toque é o generalizado descaso com as defensorias públicas, porta de acesso da população carente à cidadania. Por qualquer lado que se analise, o desprezo com a defensoria é o que se costuma chamar de economia porca- o barato sai caro... as defensorias são um importante canal para equilibrar as desigualdades da Justiça, dando voz a quem se encontra à margem do sistema. Embora tenhamos mais de 22 anos da Constituição Federal, que determinou a criação 40 das defensorias públicas, ainda há Estados que não a implantaram. Santa Catarina, por exemplo, simplesmente se recusa a criá-la. Mas, mesmo onde existe, a defensoria recebe um tratamento que não condiz com sua importância. São Paulo é o maior Estado da Federação e conta com apenas 500 defensores para uma população carente que deve superar uma dezena de milhões. Não é preciso muita matemática para supor o tamanho da insuficiência. Este olhar crítico do Juiz de Direito Marcelo Semer condiz com a realidade das Defensorias Públicas, são inúmeros os problemas de gestão do Estado com este ‘instrumento da cidadania’, como por exemplo, baixo número de unidades regionais, poucos defensores públicos no Estado, número quase que insuficientes de equipe psicossociais – conhecidos como agentes de defensoria, baixa remuneração para os oficiais administrativos, entre outros. Acessar um Defensor Público em São Paulo, por exemplo, tem se revelado geralmente, um processo permeado por dificuldades, entre elas, de comunicação e de distancias geográficas, difíceis de serem ultrapassadas. E, quando ultrapassadas, os sujeitos deparam com a longa ‘distancia’ temporal do tramite de um processo, em razão do volume de trabalho, da burocracia, do apego a ritos formais pelo meio judiciário, que resiste à inovação. Somam-se a isso as dificuldades existentes em muitos dos serviços de assistência judiciária, de dar conta de acompanhamento sistemático dos processos sob sua responsabilidade, pelo fato de nem sempre estarem suficientemente aparelhados – material e em recursos humanos, para o atendimento das complexidades e do volume das demandas (Fávero e Mazuelos, 2010, p. 41). Sob uma perspectiva crítica, devemos analisar a importância e avanço da implantação das Defensorias Públicas no estado de São Paulo, mas também reconhecer que ainda há muito que avançar nesta Instituição. Questões como a falta de recursos humanos, ampliação das regionais e outros, expressam os desafios que temos à frente, e afirmo ‘temos’ porque é uma questão que deve ser enfrentada por todos os cidadãos a fim de pressionar o Poder Público. Neste sentido, vale a pergunta de Marcelo Semer (2011) “manteremos o acesso à Justiça como um tigre de papel ou assumiremos a tarefa de fazê-lo real?”. 41 3. O SERVIÇO SOCIAL NA DEFENSORIA PÚBLICA: O panorama do Estado de São Paulo. “Acho também essencial que a Defensoria Pública mantenha em seus quadros profissionais da área de Serviço Social, com o intuito de proteger integralmente o cidadão, atingindo o fim qual se presta a instituição, qual seja, a erradicação da miséria, da pobreza, da marginalização, possibilitando a construção de um estado democrático de direitos, com a contribuição dos Assistentes Sociais no campo sóciojurídico” (Dr. Matheus Assad João, depoimento colhido em Fevereiro de 2012). Este capítulo visa destacar a inserção do Serviço Social na Defensoria Pública e suas especificidades: os objetivos e as atividades desenvolvidas pelo profissional, funções e ações, as condições de trabalho e as relações que se estabelecem no cotidiano profissional. Inicialmente é importante refletirmos sobre espaço sócioprofissional: Analisar os espaços sócios ocupacionais do Assistente Social exige inscrever a reflexão no movimento histórico da sociedade brasileira e mundial, considerando os processos sócio-políticos que condicionam o modo como o Serviço Social se insere na sociedade capitalista madura como um tipo de especialização do trabalho inscrito na divisão sócio- técnica do trabalho, articulado aos processos de produção e reprodução das relações sociais. Ao mesmo tempo, para além das dimensões objetivas que conferem materialidade ao fazer profissional, é preciso considerar também, e de forma nem sempre convergente o modo pelo qual o profissional incorpora na sua consciência o significado do seu trabalho, as representações que faz da profissão, a intencionalidade de suas ações, as justificativas que elabora para legitimar sua atividade que orientam a direção social do exercício profissional. Nesses termos, é importante demarcar de saída que refletir sobre os espaços sócio-ocupacionais do Serviço Social implica considerá-lo como expressões das dimensões contraditórias do fazer profissional, nos quais se condensam e se confrontam concepções, valores, intencionalidades, propostas de sujeitos individuais e coletivos, articulados em torno de distintos projetos em disputa no espaço institucional onde se implementam políticas públicas (Raichelis, 2010, p.752). 42 Embora a Igreja Católica esteja presente na história, no que se refere à configuração da identidade que marca o início do Serviço Social no contexto brasileiro nos anos de 1930, foi com o processo de urbanização e sua relação com a aceleração industrial aliados ao crescimento das classes sociais em solo urbano, em especial o operariado, que vai exigir intervenções do Estado às necessidades sociais dos trabalhadores que migraram do campo para a cidade. É neste âmbito que se restituem as condições para o Serviço Social se configurar como profissão, “no contexto em que a questão social se põe como alvo da intervenção do Estado, por meio das políticas sociais públicas” (Raichelis; 2009, p. 379). O enfrentamento da questão social, no contexto brasileiro, expressa projetos para a sociedade, assumindo uma dimensão política. O avanço das desigualdades sociais radicaliza as expressões da questão social presentes na vida dos sujeitos o que reflete diretamente na base da tendência de ampliação do mercado de trabalho para os Assistentes Sociais na última década. Neste sentido, afirmou Iamamoto: As alterações verificadas nos espaços ocupacionais do assistente social têm raízes nesses processos sociais, historicamente datados, expressando tanto a dinâmica da acumulação, sob a prevalência de interesses rentistas, quanto à composição do poder político e a correlação de forças no seu âmbito, capturando os Estados Nacionais, com resultados regressistas no âmbito da conquista e usufruto dos direitos para o universo dos trabalhadores. Mas os espaços ocupacionais refratam ainda as particulares condições e relações de trabalho prevalentes na sociedade brasileira nesses tempos de profunda alteração da base técnica da produção com a informática, a biotecnologia, a robótica e outras inovações tecnológicas e organizacionais, que potenciam a produtividade e a intensificação do trabalho. É esse solo histórico movente que atribui novos contornos ao mercado profissional de trabalho, diversificando os espaços ocupacionais e fazendo emergir inéditas requisições e demandas a esse profissional, novas habilidades, competências e atribuições. Mas ele impõe também específicas exigências de capacitação acadêmica que permitam atribuir transparências às brumas ideológicas que encobrem os processos sociais e alimentem um direcionamento ético-político e técnico ao trabalho do assistente social capaz de impulsionar o fortalecimento da luta contrahegemônica comprometida com o universo do trabalho (2009, p.343). 43 É importante lembrar que: “o espaço profissional não pode ser tratado exclusivamente na ótica das demandas já consolidadas socialmente, sendo necessário, a partir de um distanciamento crítico do panorama ocupacional, apropriar-se das demandas potenciais que se abrem historicamente à profissão no curso da realidade” (Iamamoto, 2009, p. 344). Estudar questões pertinentes ao trabalho do Assistente Social na Defensoria Pública é algo recente, principalmente no que se refere à atuação interdisciplinar e a dimensão do trabalho do Serviço Social como facilitador e mediador dos usuários no acesso aos seus direitos, o que coloca indagações acerca das competências e atribuições específicas do trabalho profissional, desafios e as possibilidades de atuação profissional pautadas pelo projeto ético-político. O Serviço Social tem como um dos eixos do seu projeto profissional na contemporaneidade o trabalho na direção do acesso, da garantia e da efetivação de direitos à população que faz uso dos serviços que presta. Da mesma maneira, a justiça social, a cidadania, a democracia, a liberdade, a não-discriminação, são fundamentais em sua ação, todos eles explicitados no Código de Ética Profissional do Assistente Social, compondo o conjunto de princípios fundamentais do exercício profissional (Fávero e Mazuelos, 2010, p.40). Na transição dos anos entre 1970 aos 80 foi que a categoria profissional do Assistente Social iniciou o processo de rompimento do conservadorismo, assim a luta contra a ditadura e a conquista da democracia possibilitaram discussões na categoria sobre a diversidade de projetos societários, no contexto de disputa dos movimentos das classes sociais distintas. Nesse momento histórico, intensificam-se os cursos de pósgraduação no Serviço Social, logo com a produção de conhecimento muito se contribuiu para o acúmulo teórico. Paralelo ao avanço no campo dos direitos, o Serviço Social nos anos de 1980 foi marcado pela maturidade teórica e política da vertente de ruptura do Serviço Social assim titulada pelo Professor Drº. José Paulo Netto (2004), com qualquer forma de filantropia e assistencialismo presentes no cotidiano profissional. As universidades como agências formadoras 44 contribuíram para objetivar a proposta de formação profissional à luz da competência teórica e metodológica, direcionada pela teoria social crítica bem como o compromisso ético-político com os cidadãos, reconhecido na totalidade de classe trabalhadora. Afirmam Barroco e Brites (2000, p. 26): A formação ética, por sua natureza filosófica, é pressuposto essencial, tanto para o desvelamento crítico do significado das escolhas individuais em face dos projetos coletivos, quanto para orientar a construção de respostas profissionais que, diante dos desafios cotidianos, tenham a capacidade objetiva de romper, em algumas situações, ou de resistir aos limites da ordem burguesa. Os processos societários mais amplos e a organização da categoria profissional influenciaram a trajetória do Serviço Social, redefinindo e direcionando a formação e o exercício profissional do Assistente Social. Os principais atores foram Conselho Federal de Serviço Social, Conselho Regional de Serviço Social, Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social e Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social, em parceria com os sindicatos e as demais associações de Assistentes Sociais, fizeram parte de uma organização em prol de um novo projeto profissional. Para isso, é necessário compreendermos que “é no processo de recusa e crítica do conservadorismo que se encontra as raízes de um projeto profissional novo, precisamente as bases do que se está sendo denominado projeto ético-político” (Netto, 2006, p. 142). Os projetos societários expressam uma imagem de sociedade a ser construída o que requer que predominem determinados valores e os meios de materializá-los, trata-se de projetos coletivos e não individuais, abrangem ações e dimensões macroscópicas, ou seja, propostas para uma sociedade, logo são projetos de classe social. Assim, afirma Netto (2004, p. 144): Os projetos profissionais apresentam a auto-imagem de uma profissão, elegem os valores que a legitimam socialmente, delimitando e priorizando seus objetivos e funções, formulam os requisitos (teóricos, práticos e institucionais) para o seu exercício, prescrevem normas para o comportamento dos profissionais e estabelecem as bases das suas relações 45 com os usuários de seus serviços, com as outras profissões e com as organizações e instituições sociais privadas e públicas. Foi no curso dos anos 80 para os 90 que o projeto ético-político foi configurando sua organização e estrutura básica. Este projeto se posiciona a favor da justiça e equidade social, da universalização dos direitos, através de políticas públicas, logo ampliando a cidadania como garantia da materialização dos direitos, sejam eles; civis, políticos e sociais da classe trabalhadora. Com raiz democrática este Projeto busca contribuir para a socialização da riqueza produzida. Nas palavras de Netto (2004, p.155): Esquematicamente, este projeto tem em seu núcleo o reconhecimento da liberdade como valor central- a liberdade concebida historicamente, como possibilidade de escolha entre alternativas concretas; daí um compromisso com a autonomia, a emancipação e a plena expansão dos indivíduos. Conseqüentemente, este projeto profissional se vincula a um projeto societário que propõe a construção de uma nova ordem social, sem exploração/dominação de classe, etnia e gênero. A partir destas opções que o fundamentam, tal projeto afirma a defesa intransigente dos direitos humanos e o repudio do arbítrio e dos preconceitos, contemplando positivamente o pluralismo, tanto na sociedade como no exercício profissional. Afirma Yazbek (2004, p. 23) em relação ao Projeto ético-político: Um projeto de profissão envolve, portanto, um conjunto de componentes que necessita se articular: são valores, saberes e escolhas teóricas, práticas, ideológicas, políticas, éticas, normatizações acerca de direitos e deveres, recursos políticoorganizativos, processos de debates, investigações, interlocução crítica com o movimento da sociedade. Este projeto profissional ganhou maturidade e hegemonia na categoria profissional na segunda metade dos anos 90, sua construção acompanhou a curva crescente do movimento democrático no país, em especial podemos citar dois momentos históricos, a derrota da Ditadura e a 46 Constituição de 1988. A partir de 1995 no Brasil, as incidências da crise econômica rebateram diretamente na vida da população, uma vez que o grande capital passou a ocupar as instâncias políticas, contribuindo para o acirramento e desenvolvimento do modo de produção Capitalista. Na medida em que, no Brasil, tornam-se visíveis e sensíveis os resultados do projeto societário inspirado no neoliberalismoprivatização do Estado, desnacionalização da economia, desemprego, desproteção social, concentração exponenciada da riqueza, etc.-, nesta mesma medida fica claro que o projeto éticopolítico do Serviço Social tem futuro. E tem futuro porque aponta precisamente ao combate- ético, teórico, ideológico, político e prático-social ao neoliberalismo, de modo a preservar e atualizar os valores que, enquanto projeto profissional, o informa e o torna solidário ao projeto de sociedade que interessa à massa da população. (Netto, 2004, p. 158). Afinal, afirma Martinelli (2006, p.16): O projeto ético-político que temos hoje no âmbito do Serviço Social, cuja base de sustentação é a teoria social marxista, é uma construção coletiva da qual todos nós participamos, com nossas vidas, com nossas histórias, com a densidade de nossas práticas. Para Yazbek (2009, p.119), na atualidade devemos considerar que o Assistente Social: É assim desafiado pelas mudanças em andamento, convivendo cotidianamente com a violência da pobreza e com as incontáveis faces da exclusão social que o Assistente Social trava o embate a que se propõe: o de avançar em seu projeto ético-político na direção de uma sociabilidade mais justa, mais igualitária e em que direitos sejam observados. É importante esclarecer que o Serviço Social na Defensoria Pública atua diretamente vinculado ao CAM – Centro de Atendimento 47 Multidisciplinar, regido pela Deliberação CSDP nº187 de 12 de Agosto de 2010, pg. 4, promulgada em consideração à concretização da integralidade e efetividade na prestação da Assistência Jurídica, que necessita de atuação interdisciplinar e padronização dos serviços interprofissionais nas áreas de Psicologia e Serviço Social, tendo como princípios: Art. 1º- Humanização dos atendimentos; Instrumentalidade da atuação dos CAMs em relação à missão institucional da Defensoria Pública, prevista na Lei Complementar nº 80 de 12 de Janeiro de 1994 e na Lei Complementar Estadual nº 988 de 9 de Janeiro de 2006; Não substitutividade dos serviços da rede de atendimento psicossocial e de outras políticas sociais e de saúde, sobretudo depois de concluído o atendimento jurídico pela Defensoria Regional; Estrita obediência aos Códigos de Ética e demais normas que regulam o exercício das atividades dos profissionais integrantes dos CAMs; Preservação da independência técnica na área de atuação; Fundamentação do trabalho no respeito e na promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano; preservação prioritária dos interesses do usuário atendido pela Defensoria Pública ou pelo Defensor solicitante da intervenção psicossocial, sem prejuízo da independência técnica; Preservação da privacidade nos atendimentos; Intercâmbio de informações entre os profissionais que atuam no caso, garantindo-lhes sigilo de informações colhidas; Respeito à autonomia do usuário, considerando suas potencialidades e limitações; Interdisciplinaridade e intersetorialidade do atendimento; Adoção da perspectiva preventiva, sócio-educativa e promocional e Articulação com a rede de atendimento psicossocial e outras políticas sociais e de saúde. Tais princípios evidenciam a relevância dos atendimentos sociais realizados, como momento de escuta, orientações e possibilidades de direcionamentos frente às políticas públicas. Como bem sinaliza Martinelli (2006, p.11): É fundamental que reconheçamos a importância da nossa profissão ao abrir espaços de escuta para estes sujeitos que pouco são alcançados por outras profissões. Com freqüência somos nós, assistentes sociais, os interlocutores deste segmento que praticamente já não mais interessa a quase ninguém. Homens de rua não votam, imigrantes estão sem trabalho, anciãos não são produtivos sob o ponto de vista do mercado, enfim este é o segmento pensado por muitos como uma população sobrante, sem inserção no mercado de trabalho. 48 O Estado de São Paulo possui 17 Assistentes Sociais atuantes na Defensoria Pública, 14 realizam trabalho nos CAM – Centro de Atendimento Multidisciplinar e 02 realizam atividades nos Núcleos Especializados - da Infância e Juventude e Diversidade Sexual - , e por fim 01 que presta assessoria técnica psicossocial a todas os profissionais do Estado de São Paulo, por meio da elaboração, planejamento e desenvolvimento de projetos e programas. Há uma profissional que atua na Regional de Presidente Prudente com base de convênio firmado com Faculdade Toledo/ Presidente Prudente, pois em: [...] espaços sócio-ocupacionais, que podem ser vinculados ao chamado campo sócio jurídico, conforme tem sido denominado no âmbito do Serviço Social, a presença do assistente social em equipes que prestam assistência judiciária à população vem se mostrando fundamental. Sua participação tem sido chamada para diversas ações, desde a identificação das demandas e articulações com a rede social, até como responsável pela organização e desenvolvimento de trabalhos voltados para a mediação, conciliação e resolução no âmbito judicial e extrajudicial (Fávero e Mazuelos, 2010, p. 45). Os profissionais que atuam no Centro de Atendimento Multidisciplinar das Defensorias Públicas, conforme publicado no site oficial da defensoria e estão atualmente localizados conforme quadro abaixo. Assessoria Técnica Psicossocial Luiza Aparecida de Barros – Serviço Social – São Paulo/SP Paulo Keishi Ichimura Kohara – Psicologia – São Paulo/SP Atuação dos Agentes do CAM- Regional Araçatuba Araraquara Bauru Campinas Central – Capital/SP Criminal – Capital/SP Grande ABCD – Capital/SP Guarulhos Infância e Juventude – Infracional – Capital/SP Jaú Jundiaí Leste – Capital/SP Marília Mogi das Cruzes Área de Atuação Psicologia Serviço Social e Psicologia Serviço Social e Psicologia Psicologia Serviço Social e Psicologia Serviço Social e Psicologia Serviço Social e Psicologia Psicologia Serviço Social Serviço Social e Psicologia Psicologia Serviço Social e Psicologia Psicologia Psicologia 49 Norte – Oeste – Capital/SP Núcleo da Infância e Juventude – Capital/SP Núcleo da Mulher – Capital/SP Núcleo de Combate à Discriminação – Capital/SP Núcleo do Idoso e da Pessoa com Deficiência – NEDIPED – Capital/SP Osasco Presidente Prudente Ribeirão Preto Santos São Carlos São José do Rio Preto São José dos Campos São Vicente Sorocaba Sul – Ipiranga – Capital/SP Sul – Santo Amaro – Capital/SP Taubaté Vale do Ribeira Serviço Social e Psicologia Serviço Social Psicologia Serviço Social Psicologia Psicologia Psicologia e Serviço Social(Convênio) Psicologia Serviço Social e Psicologia Serviço Social e Psicologia Psicologia Psicologia Serviço Social e Psicologia Psicologia Serviço Social e Psicologia Serviço Social e Psicologia Psicologia Serviço Social Fonte: Defensoria pública site www.defensoria.sp.gov.br O primeiro concurso que possibilitou o ingresso de profissionais do Serviço Social à Defensoria Pública do Estado de São Paulo ocorreu durante o ano de 2010, com 73 vagas, as quais foram preenchidas por profissionais de diferentes áreas, intitulados Agentes de Defensoria, de acordo com a Lei Complementar nº988 de 2006, que são estes os profissionais compõe a equipe multidisciplinar do CAM. As Legislações referentes ao trabalho Interdisciplinar são: Deliberação 187/2010 (Conselho Superior da Defensoria Pública – trata especificamente de funções de assistentes sociais e psicólogos na Defensoria e do funcionamento dos CAMs), Lei Complementar 988/2006 – prevê a criação dos CAMs e Lei Complementar nº 1050 de 24 de Junho de 2008 institui no quadro da Defensoria as classes de apoio. Lei Complementar nº 1050 de 24 de Junho de 2008: Artigo 5º- O ingresso nos cargos das classes previstas nos incisos I e II do artigo 1º desta lei complementar far-se-á no padrão inicial da respectiva classe, mediante concurso público de provas ou de provas e títulos, observados os seguintes requisitos mínimos: II- Agente de Defensoria Pública: diploma de graduação em curso de nível superior, de acordo com a área de atuação. Artigo 22- Ficam criados, no subquadro de cargos de apoio da Defensoria Pública ( SQCA), os cargos adiante mencionados, na seguinte conformidade: b) 73 (setenta e três) de Agente de Defensoria Pública. 50 Já no que se refere à delimitação das atribuições, que norteia a atividade profissional dos profissionais de Psicologia e Serviço Social no Centro de Atendimento Multidisciplinar tem-se a Deliberação 187/2010 (Conselho Superior da Defensoria Pública): Artigo 5º. - São atribuições dos Agentes de Defensoria Psicólogos e Assistentes Sociais dos Centros de Atendimento Multidisciplinar: ISugerir propostas de regulamentação de procedimentos técnicos à Assessoria Técnica Psicossocial. II- Prestar suporte técnico e treinamento aos Defensores Públicos, Servidores, estagiários e ouvidoria-geral, nas áreas de psicologia e Serviço Social. IIIInterpretar documentos técnicos e elaborar discussão de casos e demandas com Defensores Públicos. IV- Elaborar perícias e laudos periciais, respondendo aos eventuais quesitos formulados pelos Defensores Públicos. V- Elaborar estudos, informações e pareceres sobre matérias específicas, a partir do enfoque apresentado pelo Defensor Público. VI- Contribuir na elaboração de projetos e de procedimentos técnicos de atuação, segundo sua área técnica, para atender a demanda da Regional. VII- Fomentar Estratégias de soluções alternativas de conflitos na comunidade. VIII- Atuar como conciliador, facilitador e mediador. IX- Fortalecer a integração entre os diversos Núcleos Especializados e os demais órgãos da Defensoria e entidades conveniadas de modo a evitar a fragmentação do atendimento. X- Mapear e se articular com a rede de serviços da respectiva Regional, assegurando-se quando do encaminhamento do usuário, da contra-referência em conformidade com os procedimentos técnicos a serem estabelecidos. XI- Manter registro atualizado da rede de serviços acessível a todos os Defensores Públicos, Servidores e Estagiários, encaminhando-os à Assessoria Técnico Psicossocial. XII- Atuar em grupos de reflexão específicos para análise de questões técnicas da área psicossocial. XIII- Receber dos Defensores Públicos e da Ouvidoria Geral os pedidos de intervenção, cabendo-lhes conforme escala pré-definida, registrá-los e atende-los observando as prioridades e os critérios definidos pelo Coordenador do Centro de Atendimento Multidisciplinar. XIV- Auxiliar em sua respectiva área temática, o Coordenador do Centro de Atendimento Multidisciplinar na definição de escalas, prioridades e critérios de atendimento multidisciplinar na Regional. XV- Prestar apoio ao serviço de atendimento realizado ao público. Participar das atividades de educação em direitos e suas respectivas regionais, de eventos promovidos pelos Núcleos Especializados em suas respectivas áreas de atuação e fortalecer a articulação com a sociedade civil. XVII- Registrar o histórico das sessões de conciliação e mediação no Sistema Integrado de Atendimento – SAI e manter arquivos seguros. XVIII- Orientar a supervisor tecnicamente o estágio dos estudantes ligados às suas áreas de conhecimento. XIX- Participar de fóruns de discussão de casos, supervisões em grupo e encontros presenciais periódicos, com o intuito de aperfeiçoamento e troca entre profissionais. XXAcompanhar e participar quando possível, das deliberações dos Conselhos Municipais, Estaduais e Federais afetos as funções institucionais. XXI- Realizar visitas externas quando necessário, no âmbito de suas atribuições. XXII- Elaborar relatórios estatísticos, quantitativos e qualitativos das atividades mensalmente 51 desenvolvidas de acordo com modelo a ser definido pela Assessoria Técnica Psicossocial, encaminhando-os a tal órgão. A importância das equipes multidisciplinares é ressaltada pela coordenadora da Regional de Presidente Prudente ao realizar a seguinte análise: O Assistente Social no CAM – Centro de Atendimento Multidisciplinar é responsável por permitir um dos principais objetivos institucionais: “a humanização dos atendimentos”. O acolhimento inicial com os cidadãos é feito pelo Assistente Social, que participa também dos atendimentos jurídicos para identificar se há necessidade de inclusão em algum programa governamental de transferência de renda, benefícios, projetos, grupos de apoio e tudo o que for necessário em cada atendimento concreto, observando o que há à disposição na rede de apoio municipal, estadual e federal. Significa olhar as necessidades dos cidadãos de forma ampla e não apenas as jurídicas (Dra. Giovana Devito dos Santos Rota, depoimento colhido em Janeiro de 2012). Por fim, o próximo subitem explicitará as especificidades da atuação dos Assistentes Sociais do Estado de São Paulo, desde sua implantação, atribuições e competências, até os desafios e as possibilidades cotidianos de construção de um projeto de intervenção para os Assistentes Sociais em defesa da população em situação de vulnerabilidade social. 3.1 Afinal que espaço profissional é este? Olhar dos profissionais “Lidamos diretamente com pessoas que vivenciam a degradação das condições de vida em meio a múltiplas expressões de violência” (Renata Carvalho da Silva, depoimento colhido em Janeiro 2012). 52 O processo de implantação da Defensoria Pública no Estado de São Paulo se deu tardiamente considerando que está prevista na Constituição Federal de 1988, assim este processo tardio foi influenciado por diversos fatores, dentre eles, o conservadorismo. Mas não podemos deixar de negar que a Defensoria é expressão de uma sociedade democrática, uma vez que ela nasceu do próprio apelo popular, o que contribuiu e reflete consideravelmente para a forma como tem ela esta estruturada, em especial sua atuação no campo da conquista e defesa de direitos. Sendo a mesma um campo potencial de acesso à justiça, tendo como público-alvo os trabalhadores e as famílias em situação de vulnerabilidade social, sinalizando sua importância impar numa sociedade cujas expressões da desigualdade social são gritantes. “Lidamos diretamente com pessoas que vivenciam a degradação das condições de vida em meio a múltiplas expressões de violência” (Renata Carvalho da Silva, depoimento colhido em Janeiro 2012). Ainda quanto à implantação da Defensoria como conquista no campo dos direitos: “Eu avalio como uma grande conquista da cidadania paulista... Também porque se trata de uma política pública que materializa de fato o direito de acessar a justiça [...] O Estado de São Paulo, por conta do seu governo de perfil conservador vigente desde o fim do mandato de André Franco Montoro, em 1987, estacionou no que se refere à oferta da política pública da então chamada ‘ assistência judiciária’, onde tal serviço foi executado durante muitas décadas por um órgão destacado no organograma da Procuradoria Geral do Estado, a Procuradoria de Assistência Judiciária (PAJ). Se você parar para pensar de forma lógica, vai perceber com clareza a problemática: a Procuradoria é o órgão historicamente ligado ao Governador [...] Neste sentido, como conceber criticamente uma repartição pública deste órgão para prestar assistência jurídica à população, se essa mesma população tem como seu maior devedor o próprio Estado de São Paulo, no âmbito das conhecidas e históricas ausências, negligências e autoritarismos deste poder público?” (Luciano Alves, depoimento colhido em Janeiro de 2012). 53 Como bem analisado criticamente acima, a Defensoria nasceu e permanece situada num campo contraditório de embate de forças políticas, de movimentos da sociedade presentes, mas principalmente do desafio diário de seus servidores realizarem um trabalho a fim de ultrapassar o olhar de ‘assistido’, considerando que o termo assistido remete ao atendimento na Defensoria como um favor implicado na autoridade do Poder Público, posicionando o cidadão numa situação de passividade, de espera de reposta do Estado, desconstruindo o direito do cidadão de autonomia de processar o Estado, quando este lhe nega acesso à seus direitos. “Foi com base nesta apreensão crítica, fomentada pela então participação dos movimentos sociais na vida política do Estado, que a Defensoria Pública de São Paulo foi pensada coletivamente e fundada democraticamente, não se deixando mais sucumbir tanto ao conservadorismo jurídico da máquina estatal” (Luciano Alves, depoimento colhido em Janeiro de 2012). Assim, percebe-se que o Estado de São Paulo muito demorou em implantar as Defensorias Públicas, pois como Instituição Jurídica e Social tem como objetivo atuar na linha de frente ao enfrentamento das expressões da questão social. Questiona-se: Por que o Estado implantaria a Defensoria Pública sendo que esta lhe questionaria seu papel frente o acesso da população a seus direitos? Neste sentido, os profissionais que atuam na Defensoria Pública têm o desafio cotidiano de consolidar sua atuação na direção de materializar a ultrapassagem do ‘assistido’ para ‘sujeito de direitos’. Não devemos deixar de reconhecer que houve, no processo de implantação da Defensoria no Estado de São Paulo, inúmeros desafios que ainda existem e limitam sua ampliação, porém é preciso reconhecer também que foi um processo riquíssimo de organização dos sujeitos coletivos compromissados com a efetivação de seus direitos. Um desafio destacado atualmente: 54 “E que tal exercício de cidadania deixe de ser passivo e passe a buscar a própria qualificação do serviço, visando uma assistência jurídica integral, onde o cidadão deixe, definitivamente, de ser tratado como ‘ assistido’ (termo ligado à antiga condição passiva de subalternidade ao assistencialismo do Estado) e seja considerado como cidadão-usuário, aquele que literalmente usa o serviço não porque somente precisa, mas porque tem o direito de usar pelo fato de se tratar de contrapartida dos impostos recolhidos” (Luciano Alves, depoimento colhido em Janeiro de 2012) O Serviço Social na Defensoria fez dois anos em Abril/2012, trata-se de um espaço sócio-ocupacional de recente atuação, como destacou: “qualquer análise dessa implantação ainda pode ser interpretada como precipitada, dado o pouco tempo do Serviço Social na Instituição se comparada aos outros órgãos a Defensoria ainda engatinha” (Renata Carvalho da Silva, depoimento colhido em Janeiro de 2012). Embora a Instituição já venha possibilitando maior abertura para participação do Assistente Social do que em relação ao Tribunal de Justiça e Ministério Público; “Eu participei de alguns movimentos pela criação da Defensoria, pois observo que há uma perspectiva democrática” (Luiza Aparecida Barros, depoimento colhido em Janeiro de 2012). Quando questionado sobre a presença e participação do Serviço Social na Defensoria analisou: “A presença de Assistentes Sociais, inicialmente, foi diretamente ligada ao imaginário que o senso comum tem da Assistência Social, bem como às demandas que são recorrentes em todos os espaços públicos: solicitações dos cidadãos de baixa renda por recursos e até alimentos para o cotidiano, sem falar da situação de rua. Mas penso que isto é compreensível e que é tarefa nossa reverter esta imagem, dentro e fora da Instituição. Estamos falando isso, ou seja, nossa participação no cotidiano institucional tem sido adentrar neste processo do cotidiano afirmando a postura de uma profissão nova, mas madura e crítica nas suas intervenções, onde se destaca com uma proeminência interessante, a meu ver, na articulação com outras políticas públicas, proporcionando uma ‘canalização’ entre elas antes inexistentes onde, usando essa analogia, se presenciava uma ‘enxurrada’ de demandas com nítida judicialização e criminalização da questão social, para as quais não havia fluxo objetivo, claro e confiável. Porém, outro ponto que posso destacar neste âmbito de participação, é o contato a princípio multidisciplinar com o Defensor Público, onde temos avançado na reconfiguração do próprio cotidiano profissional da Instituição a partir do afinamento da atuação conforma as prerrogativas do Defensor Público e do Serviço Social” (Luciano Alves, depoimento colhido em Janeiro de 2012). 55 Analisou Luiza Aparecida Barros: “É importante esclarecer que tanto o Serviço Social quanto a psicologia participa em três frentes diferentes – a seguir discriminadas - além de outras diversas que são específicas dos locais de trabalho, como Fóruns intersetoriais, encontros na comunidade, projetos de educação em direitos, etc. 1- CAM: trata-se do setor onde está a equipe psicossocial na Defensoria. Nesse Centro os profissionais subsidiam os Defensores nos atendimentos diretos, como em defesas processuais. 2- Assessoria Técnica Psicossocial, criada através da Deliberação 187/2010, trata-se de função de confiança vinculada diretamente à Administração Superior, tem duas frentes: subsidiar a administração nas matérias atinentes ao Serviço Social e a Psicologia e coordenar os trabalhos vinculados ao CAM. 3- Comissão de Estudos Interdisciplinares: comissão que estuda diretrizes de atendimento a partir de casos emblemáticos concretos, e também pensa diretrizes gerais para o atendimento” (Luiza Aparecida Barros, depoimento colhido em Janeiro de 2012). O Serviço Social possui na Instituição especificidades de atuação, seja realizando um trabalho com perspectiva interdisciplinar via Centro de Atendimento Multidisciplinar, como destacado nas entrevistas pelos próprios Assistentes Sociais, ou os instrumentais de laudos e perícias sociais, bem como a avaliação socioeconômica em intervenções nas comunidades, os projetos com foco na educação em direitos, entre outros. No que se refere ao trabalho interdisciplinar destacou: “Analiso como tímido, entendo que temos garantido bem as condições para uma intervenção multidisciplinar. Porém, uma intervenção onde se possam ter condições e estruturas suficientes para oferecer uma atuação que apresente uma intervenção uníssona entre Serviço Social, Psicologia e Direito, ainda esta longe de ser alcançada. Não por falta de vontade política da instituição, mas porque penso que, além da instituição ser recente, com profissionais iniciando carreira no serviço público, uma intervenção dessa envergadura somente se estabelecerá quando a Defensoria tiver tanto uma capilaridade maior no território do Estado, quanto um aprimoramento constante de todos os servidores, a começar por completar a dupla psicossocial (nomeados por concurso) em todas as regionais de Defensoria” (Luciano Alves, depoimento colhido em Janeiro de 2012). Os Assistentes Sociais entrevistados, com unanimidade, destacaram que o Serviço Social na Instituição tem alcançado certo êxito no 56 árduo trabalho diário de busca pela humanização da estrutura conservadora do judiciário, isso com base nos pressupostos do Projeto Profissional. “Estamos, a meu ver, conseguindo avanços no que se refere ao enfrentamento do conservadorismo no cotidiano institucional, posicionando os princípios fundamentais da profissão em consonância com os princípios da Defensoria; respeitando e exigindo respeito à Legislação profissional, e afirmando que as atribuições do Assistente Social se iniciam com base nas Diretrizes Curriculares da ABEPSS, portanto na formação acadêmica e se estendem para a formação profissional, rompendo com a falsa dicotomia entre teoria e prática” (Luciano Alves, depoimento colhido em Janeiro de 2012) Uma questão destacada pelos entrevistados de forma coletiva é a falsa ideia de que a Justiça se configura apenas na imagem dos operadores do direito, deixando o desafio denso para o Serviço Social de atuar na ampliação da compreensão de que equipes psicossociais atuam na defesa continua da Justiça e para, além disso, o profissional deve buscar estender sua atuação em prol do fortalecimento pleno da liberdade de expressão considerando que cada ação no âmbito judiciário deve direcioná-la à constantes participações. “Considero que há na Defensoria Pública um espaço fértil de possibilidades de materialização do Projeto ético-político que outros espaços ainda penam por ter, pelo fato da Defensoria poder se posicionar legitimamente em favor da emancipação política, mesmo sabendo que a efetividade de tal postura institucional vá depender de sujeitos políticos que neguem a necessidade de encastelamento. Cito o exemplo de um Defensor Público que construiu a ação jurídica de um cidadão em conjunto com ele, pedindo danos morais a uma emissora de TV por ofensas à sua liberdade de consciência, onde o apresentador de TV dedicou um dia inteiro de seu programa para depreciar os ateus e agnósticos. O cidadão ganhou ação, de modo que esta colocou um novo capítulo na luta pela laicidade em sociedade. Portanto, o Serviço Social, ao se fazer presente institucionalmente, mediante uma postura crítica e propositiva pode (e deve) se posicionar cada vez melhor no campo sócio-jurídico”. (Luciano Alves, depoimento colhido em Janeiro de 2012) Por fim, a pesquisa realizada através de contato com profissionais que atuam no âmbito do Serviço Social nas Defensorias Públicas no Estado de São Paulo/SP proporcionaram com riqueza de informações 57 apresentarem por meio de seus conhecimentos a atuação que vem sendo realizada pela categoria profissional nas especificidades da Instituição. Este Capítulo trouxe riqueza de informações à pesquisa de campo e visibilidade de um espaço profissional recente, mas que já vem avançando no cotidiano de atuação, e como profissionais críticos e propositivos pontuaram com propriedade os desafios que devem ser problematizados e a importância de dar visibilidade aos mesmos para que assim os desafios e entraves cotidianos possam ser ultrapassados. 58 4. A DEFENSORIA PÚBLICA DE PRESIDENTE PRUDENTE/SP COMO ESPAÇO SÓCIO-OCUPACIONAL DO SERVIÇO SOCIAL: suas especificidades “Eu participei de alguns movimentos pela criação da Defensoria, pois observo que na mesma há uma perspectiva democrática” (Luiza Aparecida Barros, depoimento colhido em Janeiro de 2012). O profissional de Serviço Social encontra nas áreas do campo sócio jurídico um vasto campo de atuação, que deve ser enfatizada e reforçada cotidianamente no processo de construção de um projeto ético-político competente e comprometido com a classe trabalhadora, baseando-se na especificidade das ações de proteção social, assim não se pode desconsiderar a direta ligação do Sistema de Garantia de Direitos e a contínua busca pela construção de saberes e pela conquista de direitos. Orientar o trabalho nos rumos aludidos requisita um perfil de profissional culto, crítico e capaz de formular, recriar e avaliar propostas que apontem para a progressiva democratização das relações sociais. Exige-se, para tanto, compromisso ético-político com os valores democráticos e competência teórico-metodológica na teoria crítica, em sua lógica de explicação da vida social. Esses elementos, aliados à pesquisa da realidade, possibilitam decifrar as situações particulares com que se defronta o assistente social no seu trabalho, de modo a conectá-las aos processos sociais macroscópicos que as geram e as modificam (Iamamoto; 2009, p. 368). A atuação profissional do Assistente Social na Defensoria Pública, dentre suas especificidades de trabalho, tem foco na defesa de direitos de forma ampla, na realização de medidas extrajudiciais, entre outros. Afirma Mazuelos (2009, p. 18) em relação à prática profissional: Está apoiada no projeto ético-político da profissão, uma vez que a proposta, nesse espaço, vincula-se à defesa de direitos, defesa de acesso à informação, à cidadania, à desburocratização da 59 informação, pois, prestando esse serviço à comunidade, evita-se ou reduz-se a possibilidade de a família entrar nas malhas do Judiciário, instância que, pelo volume de trabalho e outras questões, é lenta e, por vezes, quando uma das partes solicita ação judicial e a formaliza, o processo judicial pode colaborar para a acentuação do conflito familiar. A inserção do Serviço Social em áreas do campo sócio jurídico vem crescendo consideravelmente, o mesmo vem sendo reconhecido como espaço sócio ocupacional do Assistente Social, enfim como campo de trabalho, o que exige articulação com todos os instrumentos e equipamentos públicos vigentes. Assim, há diferentes contextos e espaços em que a justiça se operacionaliza como Ministério Público, Fórum de Direitos e suas Varas específicas, Sistema Prisional, Defensoria Pública, entre outros. A Defensoria Pública é entendida antes de espaço sócioocupacional do Serviço Social como uma Instituição que atua no campo dos direitos, pois faz a intermediação entre o Estado e os cidadãos, busca cotidianamente assegurar os direitos da população, negados pelo Poder Público. A Defensoria Pública do Estado de São Paulo – Regional de Presidente Prudente está localizada na Rua Comendador João Peretti, nº. 26, Jardim Santa Helena, telefone: (18) 3901-1486/3901-1485, Presidente Prudente/SP, e presta assistência jurídica gratuita e integral às famílias de baixa renda, cujo rendimento, na maioria das vezes, é igual ou inferior a três salários mínimos. Isso não significa que o atendimento é pautado em condicionalidades financeiras, pois mesmo sendo negado o atendimento sócio jurídico, o usuário tem direito a realizar recurso administrativo junto à Defensoria Pública, o qual é analisado pelo Defensor Coordenador da Regional, que pode ou não deferir a assistência jurídica ao usuário. É necessário apreendermos a Defensoria Pública de Presidente Prudente/SP, como instituição no campo do Direito, e a recente inserção do Serviço Social. Com a implantação do Serviço Social na Defensoria Pública, há aproximadamente um ano, desde Fevereiro de 2011, as demandas dos sujeitos que antes permaneciam na obscuridade devido à imediaticidade do atendimento jurídico, nos dias de hoje são desveladas no atendimento social 60 prestado ao sujeito e sua família, com o objetivo de que sane todas as suas dúvidas e possa ser encaminhado para os serviços correspondentes às suas demandas, tendo assim um atendimento especializado no que condiz às suas necessidades sociais. A implantação do Serviço Social na Defensoria Pública do Estado de São Paulo/Pres. Prudente se consolidou por um convênio firmado com as Faculdades Integradas Antônio Eufrásio de Toledo do mesmo município, até então não existia atuação de profissional de Serviço Social na instituição. O objetivo do trabalho do Assistente Social se insere na perspectiva da humanização do atendimento, atendendo, acolhendo ao sujeito e sua família, através de um atendimento de qualidade, direcionando-os corretamente para os devidos serviços que a rede oferece. Busca-se a efetivação dos direitos do sujeito, bem como de sua família, no sentido de atendê-los e orientá-los, a fim de que seja possível respaldá-los com respostas profissionais. O trabalho do Serviço Social não se esgota somente nesta ação de orientá-lo, direcioná-lo e encaminhá-lo para as políticas sociais, projetos, programas e serviços, o Assistente Social, ao acolher a família na instituição, realiza atendimentos sociais com foco no fortalecimento dos vínculos pessoais, familiares e comunitários. ...este espaço profissional permite a reflexão e a análise da realidade social dessa população, da efetividade das leis e de direitos na sociedade, possibilitando o desenvolvimento de ações que ampliem o alcance dos direitos humanos e a eficácia da ordem jurídica em nossa sociedade (Chuairi, p. 139, 2001). Logo, o trabalho do Assistente Social tem como objetivo o respeito à diversidade, com princípios éticos, buscando a defesa do sujeito, bem como a garantia de sua integridade humana, tem como princípio a privacidade nos atendimentos sociais, garantindo o sigilo do que lhe for conferido, além de considerar as potencialidades e as limitações individuais dos sujeitos que buscam o atendimento jurídico e social na Defensoria Pública. Considera-se que o trabalho do profissional de Serviço Social na Defensoria Pública é muito importante, pois é pautado no projeto ético político 61 o que propicia ao Assistente Social maior respaldo para sua atuação junto à equipe técnica interdisciplinar e também com os sujeitos. É importante destacar que com a implantação do Serviço Social na Defensoria Pública o atendimento vem recebendo significativas contribuições para a humanização, uma vez que o profissional visualiza o sujeito na sua totalidade e não mais parcialmente, destacando assim a importância de um olhar para além da demanda imediata. No que tange ao Serviço Social, a demanda institucional é identificada no acolhimento e acompanhamento do atendimento jurídico, processo pelo qual é diagnosticada a necessidade de intervenção do Assistente Social no sentido de construir respostas às necessidades da família para além da ação jurídica, ou seja, busca-se cotidianamente contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária através de orientações, sensibilizações e abordagens individuais e coletivas que visem propiciar maior criticidade à população no que se refere o acesso aos seus direitos, que ultrapassem o jurídico, e reflitam na melhoria de sua qualidade de vida. As famílias chegam a esse serviço desorientadas; muitas passaram por vários órgãos (governamentais ou não) com a intenção de serem ouvidas e orientadas; chegam ao limite da paciência; acabam experimentando a violência institucional e, muitas vezes não encontram ajuda nem a solução para sua questão (Mazuelos, 2009, p.36). O Serviço Social na Defensoria Pública Regional de Presidente Prudente dentre suas inúmeras propostas de trabalho, em parceria com o CAM – Centro de Atendimento Multidisciplinar, busca no dia-a-dia qualificar as ações profissionais. Formalizar parcerias institucionais internas e externas, eventos de capacitação continuada e treinamentos. Participar de conferências, seminários e reuniões com a rede, com objetivo de construir uma agenda de discussões éticas e políticas na defesa de um exercício com condições dignas de trabalho, além disso, exigindo e problematizando a importância dos poderes seja eles em âmbito Federal, Estadual ou Municipal para assumirem, legitimarem e cumprirem suas responsabilidades de garantir o acesso à política pública universalizante, ao Estado em especial garantir que as famílias 62 tenham acesso a Justiça e que possam restabelecer seus direitos, ameaçados e violados ou garantidos. Neste sentido, é preciso lutar por condições, como afirma Iamamoto (2011, p. 10): [...] que permitam uma ação profissional preocupada com o devido alcance social, isto é, ser capaz de contribuir com transformações na realidade social que gera a judicialização da pobreza, a exclusão dos desiguais e a justificação das divergências por patologias. É impossível deixar de destacar a respeitabilidade e o diálogo que os demais profissionais desta Instituição têm para com a equipe de Serviço Social, composta por uma Assistente Social e três estagiárias, bem como o diálogo freqüente junto aos coordenadores regionais, garantindo melhorias contínuas. Avançando para além dos muros da Defensoria Pública de Presidente Prudente/SP é importante destacar o reconhecimento junto a Rede de Apoio Municipal e Regional que busca, nessa Instituição, parcerias para a construção de políticas públicas, serviços e projetos em implantação e formação no município, “vencendo o isolamento e a incompletude institucional” (Fávero, 2001 p.10). O Serviço Social é uma profissão que tem, nos seus marcos históricos, práticas clientelistas, mas com o avanço do contexto sócio-político a profissão foi se redefinindo e se fortalecendo cada vez mais com atuação profissional crítica e propositiva, afiançando sua prática no âmbito das políticas públicas e da materialidade de direitos. Segundo análise de Iamamoto (2011, p.16): O Serviço Social brasileiro, no marco de sua renovação crítica, vem afirmando o compromisso profissional com os interesses dos usuários e com a qualidade dos serviços prestados, afirmando uma nova forma de pensar e realizar o trabalho profissional- em contraposição à herança conservadora do passado- orientada por uma perspectiva teórico-metodológica apoiada na teoria crítica e em princípios éticos de um humanismo radicalmente histórico. A profissão apresenta uma face acadêmica e social renovada, voltada 63 à defesa dos direitos de cidadania e dos valores democráticos, na perspectiva da liberdade, da equidade e da justiça social. Os assistentes sociais demonstrado um compromisso efetivo com os interesses públicos, atuando na defesa dos direitos sociais dos cidadãos e cidadãs brasileiros e na sua viabilização junto aos segmentos majoritários da população. A dimensão crítica do fazer profissional na contemporaneidade condiz com o Projeto ético-político do Serviço Social, na medida em que assume compromisso com a classe trabalhadora e atua em face de construir estratégias em prol da materialização da cidadania, equidade social, inclusão social, entre outros. Na medida em que afirmamos que o Assistente Social afinado com o Projeto ético-político profissional atuante nas áreas do campo sócio jurídico visa cotidianamente contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, de defesa de direitos sociais universalizantes, de melhoria da qualidade de vida dos sujeitos sociais, do fortalecimento de vínculos familiares e comunitários é importante partimos da análise da historicidade à contemporaneidade referente à questão social, quando situamos em que território está lutando, enfrentando e avançando na defesa de atendimentos dignos a cidadãos brasileiros. Assim, compreender a construção do Serviço Social no Judiciário lado a lado ao movimento histórico pressupõe contextualizá-lo, ou seja, entendê-lo a partir de suas relações sociais concretas na realidade brasileira que consolidou a profissão como eminentemente prática, e importante como campo de conhecimento. Percebemos o terreno tenso em que os Assistentes Sociais brasileiros estão inseridos, seja no campo sócio jurídico ou não, mas que requer do profissional constante produção de conhecimentos, até mesmo como uma estratégia de análise crítica da realidade social, com vistas a superar a naturalização da questão social. Afinal, como diz Bernardi (2011, p. 22). Situações impactantes de uma realidade social desigual e injusta são mostradas ao Judiciário pelo saberes (e dizeres) dos profissionais. Estes são, assim, narradores de histórias cujos finais nem sempre 64 conhecem. ‘Fotógrafos’ de lugares e de pessoas cujas cores se misturam, tornando-se invariavelmente pálidas e envelhecidas em inúmeros processos arquivados. A atuação do Serviço Social vem sendo pressionada pelo modo de produção capitalista a perder sua direção crítica e assumir novas atribuições profissionais que não ultrapassem ações pontuais ou até mesmo administrativas, como profissionais que se acotovelam na burocracia institucional, por isso é importante o profissional ter visão ampla e totalizante da realidade social, conforme Iamamoto (2011, p.19): É nesse terreno de disputas e conflitos que trabalham os Assistentes Sociais, exercendo suas atribuições tendo em vista oferecer subsídios para a decisão judicial por meio de estudo social, acolhimento, aconselhamentos, orientação e acompanhamentos, além de atuarem na viabilização de benefícios, no acesso aos serviços judiciários e recursos oferecidos pelas políticas públicas e pela sociedade, articulando-se às formas públicas de controle democrático do Estado. É importante a compreensão de que as áreas do campo sócio jurídico configuram-se como espaços sócio ocupacionais do Serviço Social o que nos remete analisá-lo e reconhecê-lo na contemporaneidade como espaços de atuação profissional que tem inúmeros desafios cotidianos, principalmente o de alargar os horizontes de intervenção para práticas interdisciplinares á luz da qualidade dos atendimentos com foco na realização de ações extrajudiciais. E, isso requer compreendê-la como um mecanismo que deve pressionar o Estado a cumprir seu dever. Trata-se de dirimir conflitos, que contemplam ações em função instrumental e política na medida em que busca promover o controle social e a democracia á luz da construção de uma sociedade mais justa e de famílias menos desfavorecidas e miseráveis economicamente. Esse contexto exige do profissional de Serviço Social que atua nesta área a busca cotidiana por sua identidade mais precisa, bem como sua legitimidade sócio-política. 65 A rede de apoio no trabalho social se tornou imprescindível, pois se apresenta como grande parceira. O Assistente Social busca referenciar o cidadão, em relação aos serviços disponíveis, na rede e no bairro em que reside, possibilitando assim que seja atendido de acordo com a sua demanda específica. Assim o que se procura no dia-a-dia, com a ação da equipe de Serviço Social, é valorizar aquilo que é inerente à profissão: o acolhimento e a escuta nos atendimentos, atuando articulado em rede, pois sozinho e isoladamente não conseguirá avançar e construir respostas profissionais transformadoras na vida dos sujeitos sociais: Daí a necessidade de conexão dos recursos sociais governamentais e não- governamentais em Rede Social de Apoio. A finalidade é buscar também a articulação da família em rede afetiva, entendida aqui como espaço de pertencimento e de continente, capaz de garantir o necessário para o desenvolvimento sadio de seus integrantes, além dos laços consanguíneos (Turck, 2002, p.49 in Mazuelos, 2009, p. 35). Neste âmbito, a atuação profissional se consolida também por meio da rede de apoio, a qual se apresenta como estratégia de trabalho do Assistente Social. O profissional, ao estabelecer um diálogo com a rede, pode, enfim, encaminhar e monitorar os sujeitos para os serviços específicos e especializados, conforme suas demandas identificadas pelo profissional de Serviço Social, bem como por técnicos preparados para atender a população. É de se destacar que as ações são desenvolvidas em âmbito interdisciplinar: Serviço Social, Direito, Psicologia e Administração. Especificamente, o Serviço Social na Defensoria Pública de Presidente Prudente realiza o acolhimento das famílias no período da manhã – 8h, de segunda à sexta-feira – entregando senhas (limite de 50 atendimentos por manhã) de atendimento às famílias, orientando quanto aos documentos necessários para o atendimento com os Defensores, buscando efetivar o direito do atendimento preferencial. Após o diálogo com a família a equipe de Serviço Social busca direcionar o cidadão aos Defensores que atuam em áreas especificas, como: Infância e Juventude, Execução Criminal e Família. É 66 importante esclarecer que não se trata de uma ação imediata, mas entende-se que o acolhimento é um meio que possibilita a humanização do atendimento. Em seguida, na sala individualizada o cidadão é atendido pelos profissionais de Direito e de Serviço Social em conjunto. Cada um com suas atribuições e competências específicas, busca atender as demandas de acordo com sua área de formação. Quando necessário o atendimento social é realizado de forma individualizada pelo Serviço Social, após a conclusão do atendimento jurídico, algumas vezes em parceria com a Psicóloga (Agente de Defensoria). O trabalho do Serviço Social se efetiva em abordagens individuais, mas também em abordagens coletivas. Nesta perspectiva os atendimentos sociais são realizados de forma que garantam os direitos da população que busca os serviços e também que os sujeitos sejam atendidos em suas especificidades. Os trabalhos técnicos realizados devem estar baseados em premissas éticas e precisam considerar a complexidade da vida desses indivíduos, respeitando-os como sujeitos de direitos, não os reduzindo a uma mera medida jurídica, colaborando, desta forma, para o reencontro de sua dignidade e de sua cidadania (Chuairi, p. 139, 2001). A Defensoria Pública de Presidente Prudente é composta por sete Defensores Públicos sendo que cada um atua em uma determinada área e um dos Defensores Públicos acumula o cargo de Coordenador Chefe, e outro de Coordenador do Centro de Atendimento Multiprofissional, um Assistente Social/Convênio, uma Agente Psicóloga, quatro Oficiais Administrativos, um Administrador, 30 Estagiários do Direito, sendo 15 Estagiários de manhã e 15 Estagiários no período da tarde, três Estagiários do Serviço Social/Convênio, Estagiários da Administração e Estagiários do Ensino Médio, que atuam na administração e no atendimento aos usuários, e por fim, dois serviços gerais e cinco seguranças que são de empresas terceirizadas. Desta forma, é de extrema relevância apresentar o organograma da instituição para serem visualizados e compreendidos os atores que nela trabalham. 67 Fonte: Organograma da Defensoria Pública de Presidente Prudente Os serviços ofertados pela Defensoria Pública são regionais, atendendo a região de Presidente Prudente no que tange assistência jurídica e o trabalho do Serviço Social e da Psicologia. Os municípios de abrangência são: Adamantina, Caiabú, Estrela do Norte, Florida Paulista, Irapuru, Martinópolis, Narandiba, Panorama, Pirapozinho, Rancharia, Sagres, Santo Anastácio, Tarabai, Alfredo Marcondes, Caiuá, Euclides da Cunha, Iepê, Junqueirópolis, Mirante do Paranapanema, Nova Guataporanga, Parapuã, Presidente Bernardes, Regente Feijó, Salmourão, Santo Expedito, Teodoro Sampaio, Álvares Machado, Dracena, Paulista, Indiana, Marabá Paulista, Monte Castelo, Ouro Verde, Paulicéia, Presidente Epitácio, Ribeirão dos Índios, Sandovalina, São João do Pau D’alho, Tupi Paulista, Anhumas, Emilianópolis, Flora Rica, Inúbia Paulista, Mariápolis, Nantes, Pacaembu, Piquerobi, Presidente Venceslau, Rosana, Santa Mercedes e Taciba, conforme a deliberação CSDP 132 - 17/07/2009. O sujeito ao comparecer na instituição tem a intenção de obter um advogado gratuito para sua demanda, e pode estar inserida na área cível, tutela coletiva, área criminal, área da infância e juventude, área de execução criminal, entre outros. É importante destacar que a instituição não atua na área trabalhista, pois esta é de competência da Justiça Federal ou Justiça do Trabalho, por ser da União e não do Estado. 68 É importante esclarecer ainda que a instituição conta com alguns convênios firmados, para que se possa atender a população de forma ampla, para que possa ter acesso ao seu direito de forma mais eficiente e ágil. Estes convênios não são somente com a área do Direito, mas também com o Serviço Social, que passam a atuar na Defensoria Pública de Presidente Prudente no ano de 2011, por meio de convênio firmado com o escritório das “Faculdades Integradas Antônio Eufrásio de Toledo”. O Serviço Social possui uma interface histórica com o Direito, à medida que sua ação profissional, ao tratar das manifestações e enfrentamento da questão social, coloca a cidadania, a defesa, preservação e conquista de direitos, bem como sua efetivação e viabilização social, como foco de seu trabalho (Chuairi, p. 137, 2001). O Serviço Social é uma profissão extremamente importante para essa área, pois como bem afirma a autora na citação acima, o foco de seu trabalho coloca a cidadania e os direitos sociais em evidência, buscando a consolidação dos direitos, bem como a efetivação e viabilização dos mesmos de forma universalizante. Afirma Fávero no que se refere ao trabalho da equipe interdisciplinar no judiciário do estado de São Paulo (2011, p.216): [...] o trabalho do assistente social e do psicólogo evidencia-se como espaço contraditório, propício ao sofrimento, mas, ao mesmo tempo, possibilitador de realizações individuais e coletivas, na medida em que, mesmo frente a falta de investimentos institucionais, muitos dos profissionais criam formas de resistências, projetam, organizam-se, estudam, envolvem-se em ações coletivas, locais e mais amplas, na direção da garantia dos direitos dos usuários da justiça e do enfrentamento de situações de sofrimento, ocasionadas, via de regra, pelas relações e condições de trabalho. O Assistente Social também realiza articulações com a comunidade e a sociedade civil em geral, a exemplo de trabalho já realizado com lideranças de determinados bairros para realização de ACP – Ação Cível 69 Pública, com vistas à implantação de creches e escolas nos bairros referenciados, que se trata de locais com alto índice de criminalidade, sendo considerados bolsões de pobreza. Outro exemplo foi a realização de trabalho com famílias que receberam ordem de despejo por invadirem espaço público em que residiam há mais de 10 anos. Esta demanda ultrapassou a defesa jurídica para o atendimento do Serviço Social na busca da efetivação do acesso à habitação para famílias que se encontram em situação de pobreza, atendimento que requereu inúmeras abordagens coletivas e articulação com a rede de apoio, em especial saúde e educação. O Serviço Social ainda busca estratégias de legitimar, bem como dar visibilidade ao seu trabalho nesse espaço sócio-ocupacional através da realização de uma cartilha, denominada Cartilha do Cidadão para publicizar que a Regional possui esse profissional e informa de forma clara, sucinta e objetiva, através de perguntas e respostas: O que faz o Assistente Social na Defensoria? Quem deve procurar o atendimento do Serviço Social? E quais as principais demandas que se apresentam ao profissional? Realiza-se ainda o Projeto Recepção Educativa, apresentado às famílias todos os dias, pela manhã, logo após o acolhimento, slides informando sobre direitos sociais, políticas públicas e os serviços ofertados no município para os cidadãos, expondo também os endereços, telefones e pessoas responsáveis destas Instituições e entidades, a quem deve procurar e quais os serviços ofertados, com o objetivo amplo de orientar o cidadão acerca de seus direitos. Ao final de cada mês, é feito relatório mensal, informando os devidos atendimentos que foram prestados para a população, apresentando as entidades que foram visitadas, a fim de que haja o monitoramento e a contrareferência junto à instituição, bem como, reuniões de supervisão de estágio e avaliação das atividades desenvolvidas no referido mês. O relatório mensal feito pela equipe do Serviço Social tem a finalidade de sistematizar as ações realizadas, desvelando e problematizando os índices levantados. Dentre inúmeras atividades que o Assistente Social realiza no contexto do trabalho interdisciplinar tem a avaliação de recurso de denegação – situações em que a família não se enquadra nos critérios (condicionalidades) de atendimento na Defensoria Pública. Nestes casos, é realizada avaliação 70 individual do ponto de vista social, para possível deferimento do pedido de recurso, em todas as situações avaliadas pelo Defensor Coordenador da Regional, atualmente Dr. Matheus Assad João. Este trabalho visa garantir o acesso à assistência jurídica de forma ampla e integral. É fundamental destacar que na atuação como Assistente Social na Defensoria Pública de Presidente Prudente/SP foi possível diagnosticar que as famílias que procuram orientações jurídicas para terem acesso aos seus direitos já passaram por inúmeras situações de exclusão social e de negação de acesso aos serviços e políticas públicas, sendo a Defensoria, por meio jurídico, a última instância de possibilidade de acesso ao serviço que, na maioria das vezes, busca realizar o suprimento da necessidade e demanda da família. Como os próprios cidadãos verbalizam “a Defensoria é a última porta, a última alternativa que temos”. Neste âmbito, a análise dos índices de atendimento sociais brevemente levantados nessa instituição expressou que o acesso à Assistência Social e à Saúde são as demandas mais expressivas, sendo estas as políticas públicas que mais lhe são ‘negadas’, restando o campo judiciário como a última alternativa do cidadão, uma vez que “obriga” o Estado e o Município a garantir o que é do cidadão por direito. Não se pode repensar a questão da assistência judiciária, sem, antes de tudo, colocá-la no âmbito das políticas sociais, relacionada à efetividade de direitos dos sujeitos, no complexo quadro da realidade brasileira (Chuairi, 2001, p. 42). Logo, é fundamental que os profissionais da Defensoria busquem atuar sob a ótica da perspectiva crítica em relação ao acesso à assistência jurídica na Defensoria Pública, pois partiram da concepção de direito do cidadão e dever do Estado. Assim o trabalho do Assistente Social deve ser pautado em seu projeto ético político o que dará sustentação ao seu trabalho juntamente com as outras leis que vigoram e que proporcionam legitimidade aos trabalhos e ações realizadas. 71 É necessário esclarecer o caráter recente do trabalho. Por isso está em processo contínuo de implantação, embora seja período curto já se tem diagnosticado fatores desafiadores para atuação de forma abrangente, podendo destacar a falta de espaço físico, número reduzido de equipe técnica e, principalmente, o elevado número de atendimentos jurídicos que requerem intervenção social, uma vez que a Defensoria de Presidente Prudente atende 50 famílias por manhã. Sob o ponto de vista crítico, percebe-se que o grande número de atendimentos diários requer intervenções de nível imediato, sendo um desafio realizar intervenções em nível de monitoramento e acompanhamento das famílias quando encaminhadas à rede de apoio, por exemplo, mas que não deve ser desconsiderado. A dimensão da atuação do Assistente Social na Defensoria Pública mostra uma parcela das respostas profissionais do Serviço Social e das condições em que vem operando seu trabalho, “desafiando todos aqueles compromissados com a qualificação da esfera pública em seus mais altos propósitos, para um esforço coletivo na busca de encaminhar e superar dilemas e impasses identificados” (Iamamoto, 2011 p.20), É importante esclarecer que o trabalho que o Serviço Social vem realizando, desde sua implantação até os dias atuais na Defensoria Pública de Presidente Prudente, não se esgota por aqui, afinal é um caminhar cotidiano, é um trabalho social que se implanta dia a dia, conquistando espaço no meio dos Defensores Públicos, dos Oficiais Administrativos e demais profissionais, mas deve-se considerar que em pouco tempo muito já se avançou no que se reflete a legitimidade e credibilidade do Serviço Social frente os demais profissionais. Por fim, problematizar a atuação do Serviço Social no campo sócio jurídico, seja na Defensoria Pública ou não, a luz da consolidação do Projeto ético-político profissional remete ao entendimento de que, afirmar a política pública como direito não é tarefa exclusiva do Assistente Social, mas de toda a sociedade, “disputando, nos marcos do capitalismo, a ampliação da fatia dos investimentos que devem ser utilizados sobre o trabalho para que os efeitos perversos da exploração do capital sobre o trabalho possam ser reduzidos” (Couto, 2004, p.187). Afirmam Oliveira e Oliveira (2011, p.26): 72 Fica a certeza de que os avanços constitucionais no campo dos direitos sociais foram e continuam sendo um passo de extrema relevância para que a sociedade brasileira continue seu caminho rumo à superação das graves desigualdades sociais e à construção da cidadania. No entanto, é imperioso constatar que esses avanços continuam em disputa na sociedade brasileira e é fundamental que os cidadãos os conheçam e continuem lutando por sua permanência e aprimoramento no plano jurídico e na vida real. De tal modo, contribuiremos no cotidiano profissional para tirar da invisibilidade os problemas sociais, e avançarmos para o patamar de que acesso à política pública remete acesso ao direito social, incumbindo o Poder Executivo de definir os caminhos a serem percorridos pela política com o controle e ativa participação da sociedade civil. Pois, é nos movimentos sociais que visualizamos a política social e os direitos um caminho possível, considerando que “os instrumentos que devem romper com a cultura assistencialista devem ser perseguidos por todos aqueles que lutam, na sociedade brasileira, pela justiça social” (Couto, 2004, p.187). [...] para desencadear um processo de desvelamento do que se oculta nas práticas cotidianas das famílias que atendemos e, concomitantemente, apreender as possibilidades do novo, faz-se necessário a ação investigativa em compreender os conflitos vivenciados pelas famílias, lendo a realidade social de maneira crítica e essa possibilidade revela-se na prática profissional. Essa assertividade fundamenta-se na perspectiva apontada por Vázquez (1979: 154): ‘ a prática profissional é o fundamento e limite do conhecimento e do objeto humanizado que, como produto da ação, é objeto do conhecimento’ (Mazuelos, 2009, p. 38). É importante lembrar que são realizadas reuniões com a equipe interna da instituição bem como com a rede de apoio, para possibilitar a sustentação ao trabalho realizado pelo Serviço Social na Defensoria Pública, pois é a rede de apoio que oferece um atendimento especializado de forma a garantir os direitos já reconhecidos dos sujeitos. Contudo as reuniões internas da Defensoria Pública ocorrem mensalmente e as reuniões com a rede de 73 apoio ocorrem com maior frequência devido ao número de usuários que são encaminhados para os serviços disponíveis na rede. Entretanto o monitoramento das ações realizadas junto à rede de apoio é feito por telefone e por visitas, quando necessário. Acredita-se complexidade, que se que existem desvelam, na demandas de maior maioria das vezes, nível de após o acompanhamento da família, ou seja, posterior à construção de vínculo entre profissional e usuário. Considerando que: Em tempos de neoliberalismo, no contexto da desumanização crescente das relações sociais, ‘ remar contra a maré’, na esfera ética, significa não compactuar com a reprodução de valores que neguem os direitos humanos e sociais, não se omitir diante das injustiças, opressões e discriminações. Tais atitudes éticas, se não forem trazidas para o âmbito da ação política, permanecem apenas como objeto de uma indignação, que não transforma objetivamente a realidade. (Brites e Barroco, 2000 p.29). As demandas dos sujeitos são acompanhadas pelo monitoramento realizado pela equipe do Serviço Social, constituída pela Assistente Social e as Estagiárias, caracterizando essas demandas para além da imediaticidade, pois buscam mediante este monitoramento, acompanhar os serviços que foram ou estão sendo prestados para com o usuário, bem como saber se este teve a oportunidade de chegar até os serviços encaminhados e se está tendo acompanhamento, a fim de que sua demanda seja solucionada dentro das especificidades que a caracterizam. O acompanhamento aos usuários se faz importante na instituição, pois com esse monitoramento é possível relacionar os dados da realidade social com os sujeitos que estão chegando até os serviços, e, posteriormente, os que não chegaram, e assim identificar o porquê desta situação. O objetivo maior é buscar cotidianamente realizar um trabalho articulado em rede para que coletivamente possam ser construídas respostas profissionais. 74 Os atendimentos sociais realizados pela equipe do Serviço Social também serão expostos no próximo subtítulo e como índices dos atendimentos e das demandas da população serão apresentados gráficos referentes aos atendimentos prestados a elas. Estes gráficos buscarão evidenciar quais as demandas mais frequentes de fevereiro a novembro de 2011 possibilitando assim que possamos pensar novas formas de intervenção. Será apresentada ainda uma análise dos referidos gráficos, cruzando com a gestão do trabalho social, buscando construir estratégias que se interponham à ação imediata e que sejam implementadas novas formas de monitoramento das ações desenvolvidas pelos profissionais da Defensoria Pública, especialmente no que se refere ao Serviço Social. 4.1. Caracterização de Presidente Prudente Presidente Prudente é um município localizado no interior do estado de São Paulo, a oeste da capital do estado, da qual 558 km. Segundo dados do IBGE Cidades (2010), o município de Presidente Prudente ocupa uma área de 562.107 km² e uma população de 207.625 habitantes, considerado a capital do oeste paulista. Mas os dados do SEADE, que estão mais atualizados, revelam que em 2011 a estimativa de número de habitantes é de 209.396. Presidente Prudente é uma cidade que nasceu com vocação para ser líder regional. Tornou-se um pólo disseminador de tecnologia e prestador de serviços para toda região, graças a fatores históricos a partir de sua colonização e desenvolvimento, bem como econômicos que acabam por acentuar sua importância no contexto regional. Com 81 anos, possui uma população de 221 mil habitantes - número contestado por muita gente que acha que a cidade tem muito mais. Cerca de 55% da sua população é formada por jovens com menos de 25 anos, representando um grande mercado consumidor em potencial.Conhecida como capital nacional do Gado Nelore e do cavalo Quarto de Milha, vem mudando suas características econômicas com o passar dos anos. Recentemente firmou-se como centro prestador de serviços, com o comércio mais forte do Oeste Paulista e o desenvolvimento da área educacional, que passaram a agropecuária como principais atividades econômicas do município. A diversificação do setor terciário levou a cidade a tornar-se um parque 75 atacadista e varejista de grande porte, atingindo uma extensa área de polarização, especialmente em derivados de petróleo, eletrodomésticos, máquinas e implementos, produtos farmacêuticos e perfumarias, veículos e autopeças, vestuários, cosméticos e artigos para festas. Hospeda mais de dez mil universitários dos mais diferentes pontos do Brasil, que aqui vieram para estudar nos 34 cursos superiores oferecidos pela Unoeste, Unesp e Instituição 3 Toledo de Ensino . Atualmente o município é um dos principais pólos industriais de serviços e na área cultural. É considerado um município de grande porte, segundo os critérios da Política Nacional de Assistência Social. É importante ressaltar que o município de Presidente Prudente configura um padrão territorial que expressa a desigualdade própria do sistema capitalista. Os que possuem melhor poder aquisitivo residem em condomínios fechados, com segurança privada 24 horas, enquanto que a classe trabalhadora, desempregados, autônomos, diaristas, ocupam a periferia ampliando assim a desigualdade urbana. O município: Localiza-se a oeste da capital do estado, distando desta cerca de 558 km. Ocupa uma área de 562,107 km², sendo que 16,5600 km² estão em perímetro urbano, e sua população foi estimada no ano de 2010 em 207 625 habitantes, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, sendo então o 36º mais populoso de São Paulo e primeiro de sua microrregião. A sede tem uma temperatura média anual de 21,6°C e na vegetação do município predomina uma formação arbórea esparsa. Em relação à frota automobilística, em 2009 foram contabilizados 103 460 veículos. Com uma taxa de urbanização da ordem de 97,91%, o município contava, em 2009, com 91 estabelecimentos de saúde. O seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é de 0,846, considerando como 4 elevado em relação ao estado . 3 Informação acessível em: http://www.sinomar.com.br/pp_prudente2.asp. Dados extraídos da home page: www.presidenteprudente.net/historia_de_presidente_prudente.php) 4 76 Vista aérea da cidade de Presidente Prudente A cidade de Presidente Prudente foi emancipada de Conceição de Monte Alegre (hoje Paraguaçu Paulista) na década de 1910. A versão de sua etimologia é a de que o nome seja uma referência ao ex-presidente brasileiro Prudente de Morais (Itu, 4 de outubro de 1841— Piracicaba, 13 de dezembro de 1902), que foi um advogado e político brasileiro, primeiro governador do estado de São Paulo (1889-1890). Hoje conhecida como a "Capital do Oeste Paulista", é formada pela cidade de Presidente Prudente além dos distritos de Ameliópolis, Eneida, Floresta do Sul, Montalvão e a Sede, subdivididos ainda em cerca de 220 bairros. Com a grande crise econômica de 1929, a economia dos municípios brasileiros ligados à cafeicultura sofreu grande abalo e Presidente Prudente passou a ter novas atividades econômicas, como o cultivo do algodão. Já a industrialização da cidade iniciou-se em meados da década de 1930. No que se refere à emancipação político e administrativa merece destaque a data de sua criação em 14 de setembro de 1917, pelo Coronel 77 Francisco de Paula Goulart. Com a inauguração do tráfego de trens, em 19 de janeiro de 1919, o povoamento foi aumentando tanto na área rural como na urbana. De forma diversa ao Goulart, o Coronel José Soares Marcondes não era dono de terras, mas sim de uma empresa para a venda de terras, a Cia. Marcondes de Colonização, Indústria e Comércio. Obteve opção de venda de vários tratos de terra, sendo um em Montalvão e outro latifúndio fronteiriço à Fazenda Pirapó – Santo Anastácio, separados pela linha férrea. De acordo com o mesmo site: Quando emancipada, a cidade era composta de apenas um distrito, a Sede, criada pela Lei estadual n.º 1.798, de 28 de novembro de 1921 e instalada a 13 de março de 1923 - que abrangia uma área de cerca de 20.000 km. A Comarca, de 4ª. entrância, foi criada pela Lei n.º 1.887, de 8 de dezembro de 1922. Primeiramente possuiu o nome de Vila Goulart, em homenagem a Francisco de Paula Goulart. Porém, anos mais tarde, recebeu sua denominação atual em honra ao ex-presidente brasileiro Prudente de Morais. A cultura do café era a atividade econômica mais importante para o novo município, exercida por proprietários, empreiteiros e colonos. Em 1927, era estimado em 10 mil o número de cafeeiros no município. A primeira metade da década de 1920 caracterizou-se pelo auge da produção cafeeira prudentina. A decadência da produção ocorreu pela concorrência de outros países e pela crise econômica de 1929. Com a crise do café, a troca pelo algodão foi inevitável, ajudada por condições nacionais e internacionais. O algodão trouxe à região empresas estrangeiras que se instalaram nas cidades do oeste paulista, comercializando e financiando pequenos plantadores, incentivados pelo aumento do consumo nacional e internacional da fibra. A introdução da cultura do amendoim provocou mudanças na estrutura das relações trabalhistas da área. O algodão foi introduzido em Presidente Prudente no final da década de 1920, porém foi apenas na década seguinte que seu cultivo passou a ser relevante, com um aumento significativo na área plantada, à medida que a cultura do café começava a diminuir. Outros produtos como arroz, milho, feijão e batata se tornaram a base econômica do lavrador que, com sua venda, financiava a lavoura de café, pagava a 78 propriedade e sustentava sua família. O beneficiamento desses produtos era feito nos municípios, o que aumentou o número de estabelecimentos e conseqüentemente o crescimento delas. No que se refere ao crescimento social a evolução da cidade exigiu a criação do primeiro grupo escolar, em 1925; da primeira Casa de Saúde, 1926; a instalação da Paróquia, 1925; e da Inspetoria Distrital de Ensino, 1928, que em 1932 foi transformada em Delegacia de Ensino. Partindo disso, Presidente Prudente, num pequeno intervalo de tempo, adquiria um nível de autonomia político-administrativa importante na região, efetivando-se como a maior cidade da região. Presidente Prudente está localizada junto à bacia hidrográfica do rio Paraná, apresenta-se levemente ondulada com ocorrência contínua de colinas, na grande maioria com divisores constituídos por cursos d’água. O clima é caracterizado tropical chuvoso com diminuição de chuvas no inverno e temperatura média anual de 23,6°C, tendo invernos secos e frios (com ocorrências de geadas leves em alguns poucos dias da estação) e verões chuvosos com temperaturas altas. O município faz aniversário em 14 de Setembro, o Santo Padroeiro é São Sebastião, atualmente o Prefeito é Sr. Milton Carlos de Mello (PTB) e a Presidente da Câmara de Vereadores é a Sra. Alba Lucena (PTB). Panoramas gerais da cidade Fundação: 14 de setembro de 1917 Área total do município: 530,89 km2 Temperatura média anual: 24.oC Número de residências 48.758 Agências bancárias: 36 Frota licenciada: 70.403 veículos Habitantes/veículo: 2,52 Edifícios aprovados: 206 Número de indústrias: 445 Habitantes/telefone: 5,8 79 Crescimento populacional: 1, 38% ao ano Eleitores: 122.305 Cinemas: 04 Restaurantes: 20 Emissoras de rádio: 8 (5 AM e 3 FM) Canais de TV locais: 3 (2 canais abertos e 1 TV Cabo) Jornais: 2 diários e 1 semanal Revista: 1 bimensal Fontes: Conjuntura Econômica/97 – Unesp e Prefeitura Municipal HINO A PRESIDENTE PRUDENTE Letra e Música de César Cava Louvores a Marcondes e a Goulart Que aqui vieram para desbravar Este rincão, Do meu coração, Cantado em prosa e verso Hoje nesta canção. Rasgando os sertões sorocabanos, Valentes, corajosos, soberanos, Tão brava gente Plantou a semente, Que vingou e assim nasceu Prudente. Pedaço de terra Na boca do sertão, Que abriga e encerra Um vasto coração. Qualquer raça do mundo Que nela aportar. O labor e o amor profundo Há de encontrar. Aqui se planta e colhe com cantigas Do branco algodão à loura espiga, A pecuária, Em plena ascensão, Exporta para o mundo A sua produção. Cresceu, cresceu demais e tão menina, Orgulho dessa gente prudentina, Seus edifícios, Quais mãos numa prece, Erguem aos céus e a Deus agradecem. 5 Informação extraída do site: www.sinomar.com.br/pp_prudente2.asp 5 80 Afirma Koga (2003, p.33): É no território que as desigualdades sociais tornam-se evidentes entre os cidadãos, as condições de vida entre moradores de uma mesma cidade mostram-se diferentes, a presença/ausência dos serviços políticos se faz sentir e a qualidade destes mesmos serviços apresenta-se desigual. O mapa abaixo mostra a localização do município de Presidente Prudente na distribuição territorial do Estado de São Paulo, bem como na imagem menor a cidade de Presidente Prudente no mapa Estado de São Paulo. 81 Segundo o SEADE, os dados relativos ao território e a população são os seguintes6: Território e População Ano Município Área (Em km2) População Densidade Demográfica (Habitantes/km2) Taxa Geométrica de Crescimento Anual da População - 2000/2010 (Em % .a.) Grau de Urbanização (Em %) Índice de Envelhecimento (Em ) População com menos de 15 Anos (Em %) População com 60 Anos e Mais (Em %) 2011 2011 2011 562,11 209.396 372,52 17.981,24 582.532 32,40 248.209,43 41.692.668 167,97 2010 0,94 0,53 1,09 2010 2011 2011 2011 97,96 68,96 19,69 13,58 89,77 65,81 20,70 13,63 95,94 53,79 21,48 11,55 Reg. Gov. Estado Fonte: Seade De acordo com os dados acima percebe-se que Presidente Prudente é um município de grande porte, com índice de urbanização elevado em relação ao índice estadual, bem como elevado o grau de urbanização, possui dois extremos, alto índice de criança e adolescente, até 15 anos de idade, ao mesmo tempo expressivo o número de população idosa. 6 Fonte Seade no site www.seade.gov.br/produtos/perfil/ perfil.php (acesso em 10 de Fevereiro de 2012). 82 Estatísticas Vitais e Saúde Taxa de Natalidade (Por mil habitantes) Taxa de Fecundidade Geral (Por mil mulheres entre 15 e 49 anos) Taxa de Mortalidade Infantil (Por mil nascidos vivos) Mães Adolescentes (com menos de 18 anos) (Em %) Mães que Tiveram Sete e Mais Consultas de Pré-natal (Em %) Partos Cesáreos (Em %) Nascimentos de Baixo Peso (menos de 2,5kg) (Em %) Domicílios com Renda per Capita até 1/4 do Salário Mínimo (Em %) Domicílios com Renda per Capita até 1/2 do Salário Mínimo (Em %) PIB (Em milhões de reais correntes) PIB per Capita (Em reais correntes) Considerando Ano Município Reg. Gov. Estado 2010 12,85 12,55 14,59 2009 45,21 46,20 51,30 2010 9,75 11,69 11,86 2009 6,16 9,17 7,22 2009 74,08 77,61 76,61 2009 76,48 70,34 57,56 2009 7,68 7,50 9,22 2000 3,83 6,71 5,16 2000 9,23 16,63 11,19 2008 3.182,33 8.012,57 1.003.015,76 2008 15.435,91 13.725,23 24.457,00 que alguns dos dados do SEADE estão desatualizados, foi realizado contato via fone em 10 de Fevereiro de 2012 pela manhã com a Secretaria Municipal de Planejamento e Desenvolvimento Urbano de Presidente Prudente/SP, mas especificamente a Sra. Mônica, que nos esclareceu que a Secretaria utiliza-se dos dados do IBGE e SEADE, assim não tendo nenhuma pesquisa recente realizada no âmbito da mesma. Em seguida, apresenta-se o Mapa de Exclusão Social disponibilizado pela Secretaria Municipal de Assistência Social de Presidente Prudente/SP, que visa demonstrar os bairros que apresentam expressivos índices de exclusão social e pobreza, foram divididos em: Inclusão Social (cor branca) pertencem 67 bairros, Exclusão Social baixa (cor Amarela) 104 bairros, Exclusão Social Média (cor rosa claro) 56 bairros, Exclusão Social Alta (cor vermelha) 7 bairros, uma informação importante é que as famílias que procuram a Defensoria Pública para atendimento residem nos bairros de Exclusão Social Média e Alta, como veremos a seguir. 83 84 4.2 Análise crítica do Banco de Dados de Presidente Prudente/SP “O relacionamento com a população mudou depois do ingresso do Serviço Social nesta Regional, o tratamento com as pessoas é muito mais fácil através do Assistente Social, é um canal de comunicação entre a população e os Defensores” (Dr. Matheus Assad João, depoimento colhido em Fevereiro de 2012). Este subitem apresenta o desenvolvimento da pesquisa de campo como expressão, desvelamento e problematização da prática profissional na especificidade da Defensoria Pública de Presidente Prudente/SP, constituintes da realidade de trabalho do Serviço Social enfocando nas demandas a face das expressões da questão social que se apresentam através de depoimentos no dia-a-dia do atendimento, exigindo dos profissionais a devida competência, inclusive para lidar com demandas na maioria das vezes decorrentes da insuficiência das políticas públicas. Através da análise dos dados levantados frente à construção das principais intervenções com o objetivo de dar visibilidade à Instituição como espaço sócio ocupacional, de forma a garantir a qualidade dos serviços prestados. Considerando que: Nos diferentes espaços ocupacionais do Assistente Social, é de suma importância impulsionar pesquisas e projetos que favoreçam o conhecimento do modo de vida e de trabalho – e correspondentes expressões culturais- dos segmentos populacionais atendidos, criando um acervo de dados sobre os sujeitos e as expressões da questão social que as vivenciam. O conhecimento criterioso dos processos sociais e de sua vivência pelos indivíduos sociais poderá alimentar ações inovadoras, capazes de proporcionar o atendimento às efetivas necessidades sociais dos segmentos subalternizados, alvos das ações institucionais. Esse conhecimento é pré- requisito para impulsionar a consciência crítica e uma cultura pública democrática para além das mistificações difundidas pela prática social em geral e particularmente pela mídia. Isso requer, também, estratégias técnicas e políticas no campo da comunicação social- no emprego da linguagem escrita, oral e midiática –, para o desencadeamento de ações coletivas que viabilizem propostas 85 profissionais para além das demandas instituídas (Iamamoto, 2009, p. 362). As tabelas a seguir foram construídas a partir dos atendimentos realizados a cada mês ao longo do ano de 2011. Por isso, expressam somente as ações realizadas pela equipe do Serviço Social, no sentido de apresentar com mais exatidão as demandas que se apresentaram nos atendimentos com maior freqüência para que sejam pensadas novas formas de intervenção junto à rede de apoio. É importante esclarecer que todas as demandas são tratadas com a mesma intencionalidade, mas a cada mês o trabalho do Serviço Social se aprimora e busca trazer respostas para as demandas mais expressivas. O universo desta análise corresponde ao mês de fevereiro até o mês de novembro de 2011, destacando na tabela o indicador de cada demanda referente ao mês exposto, o que proporcionará melhor visibilidade para as demandas que mais se expressam no cotidiano profissional. As tabelas a seguir têm o objetivo de ressaltar o que há de mais significativo em termos de incidências mais expressivas nos atendimentos realizados pela equipe de Serviço Social na Defensoria Pública de Presidente Prudente/SP. Tabela 1 – Fevereiro Fevereiro Tabela 2 – Março Indicador (%) Assistência Social Março 42 Avaliação socioeconômica 4 Habitação Infância e Juventude 5 3 Saúde 19 Assistência Social Avaliação socioeconômica Mulher em situação de violência Educação Infância e Juventude Indicador (%) 15 5 9 6 4 SEMAV 3 Saúde Sistema Prisional 4 SEMAV 3 Sistema Prisional 5 Outros Total 20 - Outros 100 Total 25 28 100 86 Tabela 3 – Abril Abril Tabela 4 – Maio Indicador (%) A Assistência Social Maio Indicador (%) Assistência Social 10 24 A Avaliação socioeconômica 7 Avaliação socioeconômica 3 E Educação 5 Habitação 3 Educação Mulher em situação de violência Infância e Juventude 5 H Habitação InInfância e JJuventude M Mulher em Situação de Violência 11 6 9 Saúde 20 15 8 Saúde 8 6 Saúde Psiquiátrica 3 Saúde Psiquiátrica Sistema Prisional 3 Sistema Prisional 11 Outros 17 Outros 26 Total 100 Total 100 Tabela 5 – Junho Junho Assistência Social Tabela 6 – Julho Indicador (%) Indicador (%) Julho 17 Assistência Social 13 13 Avaliação socioeconômica 3 Assistência Jurídica Educação 9 Educação 3 Mulher em situação de violência Infância e Juventude 7 7 12 Mulher em situação de violência Infância e Juventude 16 Saúde 15 Saúde 21 Saúde Psiquiátrica 10 Sistema Prisional Sistema Prisional Outros Total 8 19 100 6 Outros Total 21 100 87 Tabela 7 – Agosto Tabela 8 – Setembro Indicador (%) Agosto Assistência Social Indicador (%) Setembro 9 Assistência Social 12 26 Assistência Jurídica 13 Assistência Jurídica Educação 10 Avaliação socioeconômica 5 Educação 7 Mulher em situação de violência 3 Infância e Juventude 18 Mulher em situação de violência Saúde 22 Infância e Juventude 10 8 Saúde Psiquiátrica 7 Saúde Sistema Prisional 2 Saúde Psiquiátrica 6 Sistema Prisional 4 Outros 16 - - Outros Total 100 12 Total Tabela 9 – Outubro 100 Tabela 10 – Novembro Indicador (%) Outubro 10 Indicador (%) Novembro Assistência Jurídica 21 Infância e Juventude 20 Saúde 19 Assistência Jurídica 17 Infância e Juventude 17 Saúde 12 Saúde Psiquiátrica 11 Mulher em situação de violência 10 Assistência Social 9 Assistência Social 9 Sistema Prisional 7 Saúde Psiquiátrica 7 Mulher em situação de violência 6 Avaliação sócio econômica 5 Habitação 5 Sistema Prisional 3 Educação 2 Educação 2 Outros 5 Outros Total 100 Diante dos dados 15 Total apresentados 100 percebe-se que nos atendimentos sociais realizados pela equipe do Serviço Social prevaleceram demandas no âmbito da política de assistência social, atividades que se caracterizam por situações de violações de direitos, situações de violência contra a mulher, famílias em situação de vulnerabilidade social e falta de 88 condições mínimas de sobrevivência, por fim, famílias que correspondem às condicionalidades impostas pelos programas de transferência de renda, bem como a inclusão em projetos, programas e serviços que são ofertados pelo Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) e pela Secretaria de Assistência Social. Já as ações relacionadas na área da saúde, destacadas pela dificuldade do acesso à política pública, seja por medicação de alto custo, cirurgias e consultas com prazos longos para serem efetivadas, ou pela falta de acesso aos tratamentos médicos devidos, à denegação de transporte urbano gratuito, dentre outras. Neste contexto, é possível ressaltar que a maioria dos sujeitos e famílias que procuram a instituição encontra-se em situação de pobreza, embora não sejam cadastrados nos Programas de Transferência de Renda ou incluídos em projetos e serviços do município. Deste modo, a equipe do Serviço Social procura orientá-las, no sentido de que tenham acesso a esta política pública, esclarecendo-os quanto aos procedimentos necessários para a inclusão, sobre as condicionalidades exigidas em cada programa ou projeto social. Logo são famílias que não possuem condições financeiras de custear um advogado, assim com a intervenção conjunta dos profissionais de Direito e de Serviço Social o atendimento tem possibilidades de ir além da orientação judicial, abrange patamar que rebaterá na qualidade de vida da população. “A partir do momento que ingressei na Defensoria comecei a atender pessoas carentes, era perceptível que além do atendimento jurídico estava acompanhado de problemas de cunho social. E vi necessário mapear a rede de proteção ao cidadão que esta intimamente relacionada ao trabalho do Serviço Social. Entendo que as atribuições básicas do Assistente Social é pacificar os conflitos mediando-os e também ser um instrumento de fácil acesso dos cidadãos aos principais benefícios da Previdência Social, Saúde, Assistência Social e demais serviços dispostos na Constituição Federal de 1988” (Dr. Matheus Assad João, Defensor Coordenador da Regional de Presidente Prudente/SP, depoimento colhido em Fevereiro de 2012). Deve-se considerar que as situações envolvendo mulheres, crianças e adolescentes ou idosos vítimas de violência que também competem 89 à Política de Assistência Social, sendo esta referente à Proteção Social Especial de média ou alta complexidade. Diante do indicador elevado de mulheres que sofrem violência, busca-se apresentar os dados de forma destacada nas tabelas precedentes, para que assim seja possível evidenciar com mais clareza o índice de mulheres, que durante o atendimento social, versam que procuram a Defensoria Pública, sendo diagnosticada a situação violenta que vivenciam. As mulheres que sofrem violência e que buscam a assistência jurídica da instituição, na maior parte das vezes, procuram o serviço com o intuito de ingressar com ação de divórcio, sendo muitas vezes violentadas por seus cônjuges. Desta forma, quando identificados os casos de violência, a equipe busca acolher esta mulher, orientá-la, jurídica e socialmente, direcionando – as ao CREAS – Serviço de Proteção e Atendimento Especializado à Mulher Vítima de Violência, após agendamento prévio e também à Delegacia de Defesa da Mulher, quando a mesma assim consente. No que tange à Política de Saúde, a qual se destaca com freqüência em todos os meses, percebe-se que a população em geral tem dificuldades no acesso referente aos equipamentos da saúde pública, sejam eles municipais ou regionais. Diante das dificuldades encontradas, os sujeitos e suas famílias buscam judicialmente o que lhe é de direito e que poderia ser ofertado com rapidez, mas em decorrência do sucateamento da saúde pública, a falta de profissionais e equipamentos de qualidade, os sujeitos e suas famílias optam pelo meio judicial, o que pode levar muito tempo, por conta da burocratização e da lentidão das ações propostas. Assim, os sujeitos, sem visualizar outras possibilidades, encontram este meio para ter acesso aos seus direitos. É importante ressaltar que, anterior ao ingresso da ação judicial, o sujeito e sua família são orientados a acessar o serviço de forma administrativa, e se nesse momento o atendimento a demanda for negado, se torna assim necessário ingressar com ação judicial para poder usufruir o direito. A saúde psiquiátrica, especificamente, também se apresenta nas tabelas separadamente da saúde, verificando-se assim, muitas famílias que procuram o serviço da instituição com o intuito de buscar internação 90 compulsória para seus familiares, em função do alto grau de drogadição em que estão envolvidos. Nesses casos, os atendimentos sociais se estendem também para os psicológicos com ação interdisciplinar para que esta família seja atendida por toda equipe. É importante esclarecer que as ações do Serviço Social se apresentam muito além de orientações e encaminhamentos à rede de apoio, mas sim na intervenção social, na humanização do atendimento, bem como no direito às informações, não esquecendo que no exercício profissional é necessário ter clareza de como as ações que serão desenvolvidas para que os sujeitos e sua família tenham acesso aos direitos de forma ampla, superando qualquer olhar parcial de individualização dos problemas sociais, como afirma Netto (1992, p. 37): O lastro legitimador que se contém na psicologização engendrada neste processo está longe de esgotar-se na possibilidade, já referida, de responsabilizar o(s) sujeito (s) singular (es), na sua particular configuração individual, pelo seu destino pessoal. É óbvio que esta possibilidade tem significância: a individualização dos problemas sociais, sua remissão à problemática singular (“psicológica”) dos sujeitos por eles afetados, é, como vimos, um elemento constante, embora com gravitação variável, no enfrentamento da ‘questão social’ na idade do monopólio ela permite- com todas as consequências que daí recorrem- psicologizar os problemas sociais, transferindo a sua atenuação ou proposta de resolução para a modificação e/ou redefinição de características pessoais do indivíduo (é então que emergem, com rebatimento práticos-sociais de monta, as estratégias, retóricas e terapias de ajustamento, etc). As demais demandas se caracterizam com índices muito baixos, ou seja, são desempenhadas com menor freqüência durante o mês, como: avaliações socioeconômicas, Secretaria Municipal de Assuntos Viários – SEMAV, transportes, dentre outras que aparece nas tabelas. Desse modo é necessário ter clareza que as abordagens não devem ser estáticas, mas sim compreendidas em suas interfaces, respeitando o contexto social, comunitário, político e econômico em que os sujeitos e sua família estão inseridos. O acompanhamento monitoramento das famílias tem por objetivo atendidas, seja a em realização do termos de 91 encaminhamentos realizados a rede de apoio ou demais providências necessárias buscando a superação dos problemas vivenciados para além do imediato. Nesse sentido, a tabela abaixo busca esclarecer o percentual de ações destinadas ao acompanhamento das famílias, assim, do conjunto de atividades realizadas pela equipe o percentual destaca o acompanhamento, as demais tratam-se de acolhimentos. Tabela 11 – Monitoramento Mês referenciado % Percentual Abril 11 Maio 25 Junho 19 Julho 13 Agosto 14 Setembro 15 Outubro 14 Novembro 16 Por fim, optou-se por apresentar os dados em forma de tabela para visualização comparativa de todos os meses para, desta forma, visualizar que as demandas relacionadas à saúde e à assistência social constam em todos os meses, com percentual elevado entre as demais ações. 92 Gráfico 01 – Atendimentos na Defensoria Pública: territorialidade do CRAS Fonte: Atendimentos do Serviço Social no âmbito da Defensoria Pública. Gráfico elaborado pela autora. No que tange, os atendimentos realizados pela equipe do Serviço Social na Defensoria Pública, e relacionando-os com os territórios de abrangência do CRAS, foi possível identificar que o território que reincide com maior frequencia é o bairro Augusto de Paula, com 21%, sendo que em alguns bairros não existe o equipamento, o que totaliza 24% dos atendimentos. Muitas vezes, a Secretaria de Assistencia Social é quem absorve as necessidades sociais da população uma vez que não possui o CRAS nos território, como: Ana Jacinta, Bongiovani, Santa Fé, Prudentino, Santa Helena, dentre outros mais. Considerando que, como afirma Santos (2000, p.113) in Mazuelos (2009, p. 75): 93 A localização das pessoas no território é, na maioria das vezes, produto de uma combinação entre forças de mercado e decisões de governo. Como resultado é independente da vontade dos indivíduos atingidos, frequentemente se fala de migrações forçadas pelas circunstâncias a que se alude acima. Isso também equivale a falar de localizações forçadas. Muitas destas contribuem para aumentar a pobreza. Contudo, é necessário compreender que a categoria “outros” que consta no gráfico, totalizando 20%, refere-se aos primeiros atendimentos, na maioria das vezes, emergencias, o que impossibilita o preenchimento da ficha social detalhada, e, por isso, muitas vezes, no relatório social dessa familia, não consta o bairro onde reside. Tabela 12 – Atendimentos realizados pelo Serviço Social no ano: Mês/ 2011 Nº de Atendimentos realizados pela equipe de Serviço Social Demanda mais expressiva Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro 75 140 180 209 168 215 245 188 291 175 125 Assistência Social Saúde Saúde Assistência Social Assistência Social Saúde Saúde Assistência Social Saúde Infância e Juventude Saúde Os índices da realidade social dos atendimentos desenvolvidos pela equipe do Serviço Social para com os usuários dos serviços da Defensoria Pública, aqui apresentados como tabelas, são possíveis de visualizar que os atendimentos vêm crescendo a cada mês, diagnosticando uma demanda que até então estavam permanecendo no circuito do trabalho jurídico, ou seja, não havia sido desvelada pelo Serviço Social. 94 Esta tabela expressa com importância a atuação do Assistente Social voltada às políticas sociais, revela que a grande maioria das famílias, que procuram a Defensoria Pública, clama pelo acesso aos seus direitos, revelando mais uma vez a incapacidade do Estado na intervenção em prol da materialização de políticas públicas eficientes. “Acho também essencial que a Defensoria Pública mantenha em seus quadros profissionais da área de Serviço Social, com o intuito de proteger integralmente o cidadão, atingindo o fim qual se presta a instituição, qual seja, a erradicação da miséria, da pobreza, da marginalização, possibilitando a construção de um estado democrático de direitos, com a contribuição dos Assistentes Sociais no campo sócio-jurídico” (Dr. Matheus Assad João, Defensor Coordenador da Regional de Presidente Prudente/SP, depoimento colhido em Fevereiro de 2012). Tabela 13 – Evolução da Demanda – Política Social Mês/ 2011 Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Assistência Social- % 42 15 10 24 17 13 9 12 9 9 Saúde- % 19 25 20 17 15 21 22 10 19 12 Esta tabela desvela a evolução dos atendimentos realizados pelo Serviço Social no que se refere às demandas de políticas sociais mais gritantes, a saúde e a assistência social, assim expressa que os números oscilam, mas as demandas não deixaram, no decorrer dos meses, de exigirem intervenções do Assistente Social. 95 “A maioria dos problemas que chegam até a Defensoria são problemas sociais, a justiça não pode resolver tudo e o Serviço Social resolve grande parte dos mesmos. Hoje eu analiso que de fato o Judiciário resolve poucas questões e o Serviço Social atingiu uma dimensão admirável na resolução dos problemas que chegam ao judiciário” (Dr. Rodolfo Marques da Silva, Defensor Subouvidor da Regional de Presidente Prudente, depoimento colhido em Fevereiro de 2012). Tabela 14 – Políticas Públicas mais expressivas: Colocação seqüencial Colocação 1° 2° 3° 4° 5° 6° 7° 8° 9° 10° 11° Política Pública – demandas Saúde Outros Assistência Social Infância e Juventude Assistência Jurídica Mulher Vítima de Violência Saúde Psiquiátrica Educação Sistema Prisional Avaliação Socioeconômica Habitação Número Total de atendimentosno ano de 2011 308 244 235 208 185 149 149 100 99 71 31 Fonte: Relatórios Mensais de atendimento social na DPESP (2011) As tabelas buscam expressar de forma seqüencial o número de atendimentos ao longo do tempo, logo expressam a evolução das intervenções realizadas pela equipe de Serviço Social na Defensoria Pública de Presidente Prudente, destacando ainda as políticas sociais que se colocam em evidência nos atendimentos sociais e motivo pelo qual os cidadãos procuram a Instituição para terem acesso à mesma, que são elas Saúde e Assistência Social. A tabela que revela a Assistência Social e a Saúde como as demandas mais expressivas nos atendimentos sociais, demonstra a vulnerabilidade do município no que tange os direitos sociais, principalmente os consagrados por meio da Constituição Federal de 1988. 96 É importante esclarecer que as principais problemáticas estão diretamente ligadas ao acesso à política pública social. A tabela busca expressar a constante relação que a Assistência Social possui com a Saúde como as mais gritantes na Defensoria Pública, assim destaca-se a porcentagem que elas expressaram na totalidade, 100%, dos atendimentos realizados no mês. O agravamento das desigualdades sociais e da pobreza na sociedade brasileira, o desrespeito aos direitos dos homens leva cada vez mais à procura do serviço de assistência judiciária um contingente de pessoas em número muito superior à sua capacidade de atendimento. A solução para este problema está estritamente vinculada a medidas de enfrentamento da pobreza e de reformas estruturais na sociedade (Chuairi, 2001: 132). A Agente de Psicologia esclareceu que de Fevereiro a Julho de 2011 realizou 236 atendimentos no total, voltados predominantemente à mediação/conciliação. No que se refere á intervenção do Serviço Social na Defensoria Pública, principalmente no que tange os atendimentos realizados de maneira interdisciplinar com os operadores do direito, ressaltaram: “Visualizei a aproximação dos Defensores com a população nos atendimentos por intermédio da Assistente Social” (Dr. Rodolfo Marques da Silva, Defensor Subouvidor da Regional de Presidente Prudente, depoimento colhido em Fevereiro de 2012). “O relacionamento com a população mudou depois do ingresso do Serviço Social nesta Regional, o tratamento com as pessoas é muito mais fácil através do Assistente Social, é um canal de comunicação entre a população e os Defensores”. (Dr. Matheus Assad João, Defensor Coordenador da Regional de Presidente Prudente, depoimento colhido em Fevereiro de 2012). Considerando como afirmou Dra Giovana Devito dos Santos Rota: 97 Com o crescimento e fortalecimento da Defensoria Pública há efetiva possibilidade de transformação da sociedade e maior aproximação da conquista dos ideais constitucionais básicos do Estado Brasileiro: construir uma sociedade livre, justa e igualitária; garantir o desenvolvimento nacional, erradicar a pobreza e a marginalidade e reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor e idade e quaisquer outras formas de discriminação. (Depoimento colhido em Janeiro de 2012). Finalizando, os desafios contemporâneos, que não podemos deixar de citar são, a articulação e o fortalecimento da rede de apoio municipal e regional, o fortalecimento cotidiano da realização do trabalho interdisciplinar, articulação com políticas públicas sociais, entre outros. Esclarecendo que da forma como está organizado o trabalho hoje o Assistente Social atua no cotidiano dos atendimentos sociais em parceria com Direito e quando necessário com a Psicologia, mas eminentemente esta profissional realiza mediação/conciliação. A articulação destas profissionais através do CAM envolve atendimentos com abrangência em transtorno ou deficiência mental, recursos assistenciais, conflito familiar, violência doméstica, psicológico, guarda, acordos, encaminhamentos, dentre outros. suporte 98 CONSIDERAÇÕES FINAIS “Acho também essencial que a Defensoria Pública mantenha em seus quadros profissionais da área de Serviço Social, com o intuito de proteger integralmente o cidadão, atingindo o fim qual se presta a instituição, qual seja, a erradicação da miséria, da pobreza, da marginalização, possibilitando a construção de um estado democrático de direitos, com a contribuição dos Assistentes Sociais no campo sóciojurídico” (Dr. Matheus Assad João, depoimento colhido em Fevereiro de 2012). É recente a discussão da Defensoria Pública, e as reflexões das áreas ligadas ao campo sócio-jurídico não alcançam a Instituição especificamente. Neste sentido, vale destacar que esta pesquisa tem a preocupação em posicionar o Serviço Social no campo dos direitos, destacando que Presidente Prudente é uma cidade grande, mas com as limitações do interior do Estado de São Paulo. A limitação do trabalho em rede e articulação entre as políticas sociais são pontos fracos que merecem ser destacados. Devemos reconhecer que a Defensoria Pública possui possibilidades de ampliar sua atuação, bem mais do que o Poder Judiciário, por exemplo. A Defensoria deve construir coletivamente este espaço de ampliação, na medida em que a Instituição possui o espaço de trabalho com as famílias, afinal a instituição por si mesmo possui maior autonomia. Enquanto o Judiciário possui inúmeros limites institucionais, a Defensoria Pública pode trabalhar com a população e contribuir para a sua organização na luta por direitos. Considerando que: “No caso da esfera judiciária, os assistentes sociais atuam no vasto campo do acesso aos direitos e à justiça, na perspectiva de buscar superar a aplicação discriminatória das leis que se verifica no cotidiano das classes subalternas” (Rachelis; 2009, p. 386), Outra questão que merece destaque é que o Serviço Social tem papel de igual relevância que os Defensores Públicos, isso é, uma construção diária. E se os Assistentes Sociais souberem se posicionar criticamente e 99 conquistar o espaço de trabalho, a categoria será amplamente reconhecida. Percebe-se que é um campo com significativas possibilidades de avanços, frente aos demais espaços sócio-ocupacionais do campo sócio jurídico, podendo dentro deste campo avançar o projeto ético-político, reconhecer que tem um campo de trabalho e atuação a serem legitimados. Como diagnosticado na pesquisa de campo, a assistência social e a saúde são as políticas mais expressivas, dessa forma a atuação da equipe técnica deve estar articulada com a rede de apoio, considerando que sem um trabalho conjunto não é possível obter avanços. Este indicador é de grande relevância para o trabalho social como contribuição para a Instituição, para os profissionais e para os atores envolvidos. No âmbito estatal, o retraimento das funções do Estado e a redução dos gastos sociais vêm contribuindo para o processo de desresponsabilização em relação às políticas sociais universais e o conseqüente retrocesso na consolidação e expansão dos direitos sociais. Trata-se de uma dinâmica societária que atinge as diferentes profissões, e também o Serviço Social, que tem nas políticas sociais seu campo de intervenção privilegiado (Raichelis, 2009, p. 383) A Defensoria Pública como espaço sócio-ocupacional do Serviço Social possui novas requisições profissionais sob duas perspectivas, a primeira por ser um campo de atuação recente, implantado em 2006 e por apresentar novas possibilidades de trabalho ao Assistente Social. A segunda, vista à luz da materialização do Projeto ético-político, considerando como destacamos na pesquisa o judiciário como o último recurso para as famílias terem acesso aos seus direitos em decorrência da insuficiência das políticas públicas. Num contexto em que, como afirmam Brites e Barroco (2000, p.22): Falar de liberdade e igualdade, defender direitos humanos, pode parecer uma abstração, pois a universalização da liberdade choca-se com as necessidades socioeconômicas de reprodução das relações sociais burguesas, donde os limites da cidadania burguesa que só poderá contemplar a igualdade enquanto norma jurídica. Perante a lei, todos são iguais, mas, de um lado, todos não podem ter 100 cidadania econômica, porque isto fere o direito ‘natural’ à propriedade privada, fundamento da sociedade capitalista. Entendendo a fragilidade da camada social das pessoas que buscam atendimento jurídico na Defensoria Pública, percebeu-se que as medidas de caráter extrajudiciais orientariam e contribuiriam de forma significativa na vida dos sujeitos. A intervenção do Serviço Social permite momento de escuta importante, possibilitando que as solicitações sejam entendidas, orientadas e solucionadas na maioria das vezes por contatos com a Rede de Apoio, dando-lhes a oportunidade de refletirem e se informarem sobre a ação judicial solicitada. Considerando que, como afirma Telles (1992, p. 89) in Mazuelos (2009, p. 96): A centralidade da família pode ser vista como registro de uma sociedade na qual a chamada questão social foi equacionada nas formas de uma pobreza colonizada, despolitizada e privatizada nas suas formas de manifestação. Para construir estratégias de superação dos pontos fracos levantados na realização do trabalho do Serviço Social, é importante como afirma Mazuelos (2009, p. 54 e 98): Propor formas de atender as famílias que nos procuram com atenção e investigação mais profundas dos problemas sociais, estendendo as reflexões aos demais profissionais, é uma das maneiras de entender as diferentes expressões da questão social e perceber como interferem no relacionamento dos membros da família... evidenciar a necessidade de instrumentalizar práticas, contribuindo sempre para alavancar ações que possam transformar nosso cotidiano profissional e intervir no dos sujeitos que nos procuram. A atuação do Assistente Social na Defensoria Pública de Presidente Prudente/SP pautado pelo Projeto Ético-Político do Serviço Social 101 possibilita a contribuição da humanização do atendimento na área do campo sócio jurídico, a defesa dos direitos para as famílias em situação de vulnerabilidade e risco social, atuação em equipe interdisciplinar, enfim a construção de uma sociedade mais democrática e de justiça social. Não deixando de considerar as novas requisições para o trabalho do Assistente Social á luz de contexto de minimização das políticas públicas universalizantes e das transformações no mundo do trabalho, o rebatimento, os impactos e as particularidades do exercício profissional do Assistente Social. Como destaca Raichelis (2009, p. 390): Impactos e avanços na esfera pública somente serão possíveis pela articulação dos variados sujeitos e organizações governamentais e não governamentais, como os conselhos de direitos, tutelares e de gestão, os fóruns e órgãos de defesa dos direitos, o poder judiciário, o Ministério Público, as defensorias e ouvidorias públicas, em uma efetiva cruzada pela ampliação de direitos e da cultura pública democráticas em nossa sociedade. Para concluir, é necessário ressaltar que, apesar de todos os obstáculos encontrados no exercício profissional, a categoria dos assistentes sociais vem construindo uma história de lutas e de resistência, apostando no futuro, mas entendendo que ele se constrói agora, no tempo presente. A prática profissional tornou-se reveladora para os demais profissionais que atendem a família em situação de vulnerabilidade social. É por interlocução do Serviço Social que demais profissionais da equipe interdisciplinar percebem que estas famílias vivenciam intensas injustiças sociais, para além da ação jurídica seja ela, regulamentação de guarda, divórcio, acesso à determinada política pública, como vimos nesta pesquisa, saúde e assistência social como de maior relevância, entre outros. Conforme afirma Yazbek (2004, p. 29): É tarefa da profissão propor alternativas de ação com criatividade, sendo crítico e domínio da comunicação, contribuindo para que a população tenha acesso a serviços sociais básicos, na perspectiva de efetivação da cidadania. 102 Por se tratar de um campo de trabalho do Serviço Social recente, esta pesquisa buscou dar visibilidade ao mesmo, desvelando e problematizando demandas importantes que perpassam o dia-a-dia da Instituição, através de dados quantitativos e qualitativos buscou-se expressar que há muitos desafios a serem enfrentados e superados pela categoria profissional, articulado com toda a equipe e a rede de apoio, não deixando de destacar que possibilidades para os avanços existem e caminhar na direção da materialização do Projeto ético-político depende de compromisso, construção de estratégias e articulação. A pesquisa permitiu concluir que a atuação do Assistente Social na Defensoria Pública ampara-se na premissa de desburocratizar as questões jurídicas, em orientar as famílias sobre seus direitos, e principalmente sobre os tramites processual e da própria Instituição, e possibilitar o atendimento social como um canal de reflexão e escuta. Outra questão destacada e que precisa ser revista pelo Poder Público é a urgente ampliação das Defensorias no Estado, concomitantemente com a ampliação de seus recursos humanos, para que o acesso e atendimento à população alcancem os municípios na proporção do Tribunal de Justiça/SP. “O número reduzido de profissionais inviabiliza potencialidades da prática profissional, reduzindo-a ao estritamente solicitado pela administração superior. Cumpre ressaltar que número de Assistentes Sociais é menor que o de Psicólogos, o que não contempla em muitos lugares um trabalho mais enriquecido com abordagem da dupla psicossocial”. (Renata Carvalho da Silva, depoimento colhido em Janeiro de 2012). Como proposituras de reflexão para avanços no âmbito do Serviço Social no espaço sócio-ocupacional. Ressalta-se a necessidade urgente de ampliação do número de profissionais concursados, considerando que profissionais efetivos possuem maior autonomia para dar continuidade no trabalho social realizado. Destaca-se também a importância da comunicação e do trabalho interdisciplinar entre os operadores do Direito e Psicologia. Além de fomentar a 103 atuação do Assistente Social nas ações de educação em direitos através de projetos de intervenção e instrumentais formalizados, por exemplo, cartilhas. Ressalta-se a necessidade de dar visibilidade para o trabalho profissional com o objetivo de refletir na valorização e reconhecimento da profissão. Outra questão relevante é que o Assistente Social deve atuar como articulador no âmbito das políticas públicas para possibilitar o acesso do cidadão aos seus direitos, de forma extrajudicial. Questões como a materialidade da Lei das 30 horas, conquista da categoria profissional dos Assistentes Sociais, e alterações na própria nomenclatura dos profissionais com formação em Serviço Social, hoje designados Agentes de Defensoria, devem ser problematizadas. Ao olhar para traz, relembro os caminhos andados, as modificações e delimitações feitas e refeitas, as dificuldades, as possibilidades, os medos ao mesmo tempo o foco na finalização deste mestrado, cada um deles permitiu que, hoje, esta dissertação seja o que é. Foi um percurso difícil, de dúvidas e acertos, mas ao final, com a certeza de ter dado o meu melhor e direcionado esta pesquisa pelo melhor caminho. 104 REFERENCIAS BARROCO, Maria Lúcia Silva. Ética e Serviço Social: fundamentos ontológic os, 2ª Ed., São Paulo: Cortez, 2003. 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Acesso em 25 de Março de 2012. 109 ANEXOS ANEXO 1 ROTEIRO DE PERGUNTAS PARA ENTREVISTA: Pesquisa de Campo – Indicação de Procedimentos Metodológicos As perguntas previamente elaboradas são: 1. Como você avalia a Defensoria Pública no Estado de São Paulo, enquanto conquista no campo dos direitos? 2. Como você avalia a trajetória histórica da implantação da Defensoria Pública no Estado de São Paulo? 3. Qual a sua percepção quanto à presença e participação do Serviço Social nesta Instituição? 4. Como você vê as atribuições e competências do Serviço Social na Defensoria? 5. Já está sendo construído um projeto de intervenção do Serviço Social na Defensoria no Estado de São Paulo? 6. Como você analisa a materialização do projeto ético-político do Serviço Social na defensoria hoje? 7. Quais são os pontos fortes (possibilidades) e fracos (desafios) do trabalho do assistente social na defensoria? 8. Específica para os Coordenadores: - Qual sua análise sobre o trabalho interdisciplinar na Defensoria em Presidente Prudente? - Como tem visto a atuação do Serviço Social? 110 - Quais suas considerações sobre a ação integrada do Serviço Social e da Psicologia? - O que precisa avançar ainda na Defensoria Pública como Instituição? - O que precisa avançar em relação ao Serviço Social? 111 ANEXO 2 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Você está sendo convidado (a) a participar, como sujeito (a), da pesquisa de campo da dissertação: “A Defensoria Pública de Presidente Prudente/SP como espaço sócio-ocupacional do Serviço Social”. Caso concorde em participar, você deve assinar no final desse documento. Sua recusa de participação não lhe trará nenhuma penalidade. Você receberá uma cópia deste termo onde consta o telefone da pesquisadora, podendo tirar dúvidas sobre a pesquisa e sua participação. TÍTULO DA PESQUISA: A Defensoria Pública de Presidente Prudente/SP como espaço sócio-ocupacional do Serviço Social. PESQUISADORA RESPONSÁVEL: Maria Carolina Carvalho de Carlos – mestranda do Programa de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. TELEFONE: (18) 97179127, (18) 3279-4547. OBJETIVO: Analisar a atuação profissional do Assistente Social na Defensoria Pública, compreendendo o mesmo como espaço sócio-ocupacional, ao mesmo tempo desvelando e problematizando o trabalho profissional na contemporaneidade, á luz do projeto ético-político do Serviço Social. PROCEDIMENTO DO ESTUDO: Serão realizadas entrevistas individuais, as quais serão colhidas via preenchimento de roteiro de perguntas encaminhadas online para os sujeitos da pesquisa, sendo utilizados trechos dos depoimentos no texto da dissertação de mestrado da pesquisadora. CUSTO/REEMBOLSO PARA O PARTICIPANTE: A pesquisa não implica em nenhum gasto para os entrevistados, os quais também não receberão qualquer espécie de reembolso ou gratificação devido à sua participação na pesquisa. CONFIDENCIALIDADE DA PESQUISA: serão divulgados os nomes e as principais informações dos currículos dos participantes. Assim, declara o participante que o mesmo permite que seja mantido o seu nome no texto da Dissertação. . 112 _________________________________________________ ASSINATURA DO PESQUISADOR RESPONSÁVEL CONSENTIMENTO DE PARTICIPAÇÃO DA PESSOA COMO SUJEITO Eu, _____________________________________________________, declaro que li as informações contidas nesse documento, fui devidamente informada(o) pela pesquisadora, Maria Carolina Carvalho de Carlos, sobre os objetivos da pesquisa, procedimentos que serão utilizados e custo/reembolso dos participantes, concordando em participar. Declaro, ainda, que permito que seja mantido o meu nome no texto da Dissertação, e que recebi uma cópia desse Termo de Consentimento. Presidente Prudente/SP, de Abril de 2012. ___________________________________________________________ Assinatura do sujeito da pesquisa 113 ANEXO 3 1) Gráfico do mês de fevereiro Gráfico 1 – Atendimento Geral Habitação 4% 2% 5% 3% Assistência Social 3% Delegacia de Segurança Publica 19% Sistema Prisional 42% Entidades Saúde 12% 4% Infancia e Juventude 6% SEMAV Fonte: Atendimentos do Serviço Social referente ao mês de Fevereiro/2011 2 ) Gráfico do mês de março Gráfico 2 – Atendimento Geral Saúde Assistência Social 25% 25% CREAS/Mulher CREAS/ infância e juventude Educação Sistema Prisional 3% 3% 15% 5% 5% 6% 4% 9% Avaliação Socioeconômica SEMAV Previdência Social Outros Fonte: Atendimentos do Serviço Social referente ao mês de Março/2011 114 3) Gráficos do mês de abril Gráfico 3 – Atendimento Geral Fonte: Atendimentos do Serviço Social referente ao mês de Abril/2011 Fonte: Atividades do Serviço Social voltadas ao monitoramento e acompanhamento. 115 4) Gráfico do mês de Maio Gráfico 5 – Atendimento Geral Fonte: Atendimentos do Serviço Social referente ao mês de Maio/2011 Fonte: Atividades do Serviço Social voltadas ao monitoramento e acompanhamento. 116 5) Gráficos do mês de Junho Gráfico 7– Atendimento Geral Fonte: Atendimentos do Serviço Social referente ao mês de Junho/2011 Fonte: Atividades do Serviço Social voltadas ao monitoramento e acompanhamento. 117 6) Gráficos do mês de Julho Gráfico 9 – Atendimento Geral Fonte: Atendimentos do Serviço Social referente ao mês de Julho/2011 Fonte: Atividades do Serviço Social voltadas ao monitoramento e acompanhamento. 118 7) Gráficos do mês de Agosto Gráfico 11 – Atendimento Geral Fonte: Atendimentos do Serviço Social referente ao mês de Agosto/2011 Fonte: Atividades do Serviço Social voltadas ao monitoramento e acompanhamento. 119 8) Gráficos do mês de Setembro Gráfico 12 – Atendimento Geral Fonte: Atendimentos do Serviço Social referente ao mês de Setembro/2011 Fonte: Atividades do Serviço Social voltadas ao monitoramento e acompanhamento. 120 9) Gráficos do mês de Outubro Gráfico 13 – Atendimento Geral Fonte: Atendimentos do Serviço Social referente ao mês de Outubro/2011 Fonte: Atividades do Serviço Social voltadas ao monitoramento e acompanhamento 121 10) Gráficos do mês de Novembro Gráfico 14 – Atendimento Geral Fonte: Atendimentos do Serviço Social referente ao mês de Novembro/2011 Fonte: Atividades do Serviço Social voltadas ao monitoramento e acompanhamento