Keynes e Pancho Villa

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Keynes e Pancho Villa
George Vidor 12 outubro 2015
Déficits nas contas públicas podem até ajudar o Japão a sair da
recessão, mas aqui só geram mais problemas
Diz a lenda que o bandoleiro Pancho Villa, após a Revolução Mexicana, teria emitido papel-moeda com
sua própria efígie e distribuído as notas a rodo numa das regiões pobres, então sob seu comando militar, do
país, para tentar impulsionar a economia local. É uma fórmula — claro que não de maneira tão rústica —
que muitos governos ainda tentam quando se veem envolvidos pela ameaça de recessão. John Maynard
Keynes, inspirador de uma escola de pensamento econômico que continua a exercer forte influência no
mundo acadêmico, discordava da teoria clássica pela qual a oferta de bens e serviços seria capaz de criar a
própria demanda. Em síntese, para os períodos recessivos, ele defendia estímulos à demanda, inclusive por
meio de déficits governamentais, invertendo a lógica anterior.
As economias se sofisticaram muito desde a época de Keynes (que morreu em 1946). Suas teorias são até
hoje passíveis de diferentes interpretações. O livro que publicou em 1936, apontado como sua obra-prima,
é tão hermético que os estudantes de economia geralmente só o conhecem por releituras de terceiros, e
quase sempre sob olhares pouco isentos de paixões ideológicas. Keynes tinha aversão ao socialismo. Era
um lorde inglês, bon vivant, que pessoalmente adorava especular nos mercados — é famosa a história que
certa vez usou uma igreja para estocar mercadorias com meros fins especulativos. Curiosamente, por
defender gastos públicos em momentos recessivos, acabou sendo uma espécie de patrono de economistas
com pensamento mais à esquerda, em contraposição a ideias liberais.
Mas, na prática, nenhum governo segue um keynesianismo puro, nem um monetarismo puro. A miscelânea
acaba empurrando as políticas econômicas para caminhos ilusoriamente salvadores do tipo atribuído a
Pancho Villa. Foi, por exemplo, o que aconteceu nos dois últimos anos do primeiro governo Dilma, que
vem obrigando o país a passar por essa necessidade enorme de ajuste.
Mas por que o antídoto preconizado por Keynes (aumento de gastos públicos) não funciona para tirar o
Brasil da recessão? O diagnóstico de Keynes se aplicava a economias envolvidas com o fenômeno que ele
denominou armadilha da liquidez. Na expectativa de que os preços viessem a cair mais, os agentes
econômicos retardavam consumo e investimento, formando uma espiral negativa. No Brasil, temos a
retração da economia associada a uma onda inflacionária. Déficits nas finanças públicas (gastar mais do
que receber em impostos) correspondem a pôr mais lenha na fogueira, o que é diferente do Japão, onde o
baixo crescimento está associado à deflação.(redução dos preços, mediante baixo consumo)
Por aqui, o desequilíbrio financeiro nas contas governamentais provoca estragos terríveis. No Rio Grande
do Sul, onde o estado está sem condições de manter em dia os salários públicos, o mercado travou. Consertar
isso não é fácil.
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