Definição de contentores para o enraizamento de estacas de batata-doce Sieglinde Brune; João Bosco C. Silva; Irene Moreira Franco. Embrapa Hortaliças, C. Postal 218, 70359-970 Brasília-DF; E-mail: [email protected]; [email protected] RESUMO Nos plantios comerciais de batata-doce é importante que se tenha um estande final de pelo menos 25.500 plantas por hectare, ou seja, no mínimo de 85% de brotação das ramas. O método tradicional de plantio consiste em enterrar parcialmente os segmentos do caule (ramas) contendo 6 a 8 nós sem enraizamento. Com isso ocorre o risco de falhas no estande, o que torna necessário realizar o replantio. Para contornar estes problemas o agricultor tem a opção de formar mudas em contentores, utilizando segmentos de ramas com dois nós. Este procedimento é também muito útil quando se pretende obter fazer a multiplicação rápida de ramas. O enraizamento de mini-estacas de batata-doce foi avaliado em três tipos de contentores: 1) bandeja alta, com 72 células, 11 cm de altura e 5 cm de lado; 2) bandeja baixa, com 128 células, 6 cm de altura e 3,5 cm de lado e; 3) tubetes com 2,5 cm de diâmetro e 11 cm de altura. O experimento foi instalado em casa-de-vegetação, no delineamento inteiramente ao acaso com três repetições, utilizando-se a Introdução n0 171 do banco de germoplasma da Embrapa Hortaliças e avaliado aos 30 dias após o plantio. Não se observou diferença entre tratamentos para estande ou número de raízes primárias. Entretanto, os tubetes destacaram-se para comprimento de raízes (10,5 cm) diferindo significativamente dos outros tratamentos: 8,2 cm em bandejas altas e 5,0 cm em bandejas baixas. Palavras-chave: Ipomoea batatas, rama-semente, mudas. ABSTRACT Comparison of trays in the rapid rooting of sweet potato cuttings - When sweet potato fields are installed, it is important that a stand of at least 85% will be achieved. In the traditional planting methods the cuttings are used having 6 to 8 nodes, without roots. Then it is possible to form a poor stand, being necessary to replant. To solve these problems, one option is to form plantlets in trays, using short cuttings having two nodes. This procedure is useful when it is necessary to have a high multiplication rate. Rooting of mini-cuttings was evaluated on three types of trays: 1) high trays having 72 holes and 11 cm height; 2) low trays having 128 holes and 6 cm height; 3) "tubetes" (tubular container) having 2.5 cm in diameter 1 and 11 cm hight. The experiment was installed in a greenhouse, using randomized plots and three replications with the access number 171 from the germoplasma bank of Embrapa Hortaliças, evaluated thirty days after planting date. No differences in stand or root number were observed among treatments. The use of “tubetes” presented better results for primary roots length (10.5 cm), differing significantly from the other treatments: 8.2 cm when high trays were used and 5.0 cm with the use of low trays. Keywords: Ipomoea batatas, cuttings, seedlings. INTRODUÇÃO A batata-doce (Ipomoea batatas), é uma planta extraordinária em termos de processos de multiplicação. Além de produzir sementes, que são utilizadas em trabalhos de melhoramento genético, ela é capaz de emitir raízes e brotações a partir de diversas partes da planta através da clonagem, formando plantas idênticas às plantas-mãe, permitindo formar lavouras com características uniformes. Em campos de produção da batata-doce usa-se colocar no camalhão de plantio as estacas obtidas da planta mãe. Neste sistema tradicional de plantio, é necessário que a lavoura seja muito bem irrigada, pelo menos na primeira semana, para evitar a desidratação das ramas-semente e conseqüentemente falha na brotação. Sabe-se que muitos agricultores não possuem sistema de irrigação e, mesmo quando irrigam, nem sempre mantêm o solo com umidade suficiente. O camalhão é constituído de solo esboroado e apresenta baixa capacidade de reter umidade. Conseqüentemente, a possibilidade de falhas no stand é bastante grande, sendo necessário o replantio quando o índice passa de 15%. Silva e Lopes (1995) avaliaram o pré-enraizamento de estacas em ambiente protegido. Neste ambiente, o enraizamento é mais rápido que no campo e varia de dois a cinco dias, dependendo da temperatura ambiente e da idade do tecido. A vantagem deste processo consiste na redução do número de irrigações no campo além de eliminar a operação de replantio. Outra opção para evitar falhas e ainda se obter plantas com maior qualidade e alta taxa de multiplicação, consiste em utilizar segmentos de ramas com dois nós plantadas inicialmente em substrato e transplantada para o campo. Os contentores mais utilizados são bandejas de isopor e tubetes, que devem ser colocadas sobre uma bancada formada por fios de arame esticados, para que as raízes sejam podadas naturalmente por desidratação. Com isso, as raízes têm o comprimento 2 máximo entre os pontos de crescimento e a base da célula da bandeja ou do fundo do tubete. Este trabalho visou avaliar a formação do sistema radicular de estacas de batatadoce em casa de vegetação, comparando três tipos de contentor. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi instalado em julho de 2005, em casa de vegetação, na Embrapa Hortaliças, Brasília. O delineamento foi inteiramente casualizado, avaliando três tratamentos: 1) bandejas de isopor com 6 cm de altura e 128 furos; bandejas altas de 11 cm e 72 furos; e tubetes de 2,5 cm de diâmetro e 12 cm de altura, em três repetições. Como planta teste, foi utilizada o acesso número 171 que faz parte do banco de germoplasma da Embrapa Hortaliças. As estacas de batata-doce foram retiradas da planta-mãe com idade de aproximadamente 90 dias. Após serem destacadas, foram cortadas mini-estacas contendo dois nós cada. Estas foram tratadas com fungicida (imersão das estacas durante dez minutos em solução contendo 5 ml/L de Derosal). Nas bandejas e tubetes colocou-se o substrato orgânico estéril industrial da marca Bioagro e, após umedecido, as estacas foram plantadas individualmente em cada célula. Após o plantio, as bandejas e tubetes foram colocados sobre bancadas para enraizamento das estacas. Avaliou-se aos 30 dias do plantio, o número de plântulas enraizadas em cada tratamento, o comprimento e o número de raízes primárias em dez plântulas obtidas ao acaso em cada tratamento. RESULTADOS E CONCLUSÃO Comparando os três tipos de contentores, o maior stand foi obtido com o uso de bandejas altas (84,7% de sobrevivência) e o menor stand foi obtido com o uso de bandejas baixas (81,2%), entretanto, sem diferença estatística (Tabela 1). Provavelmente este resultado sofreu maior influência do volume de substrato em cada célula que da altura da mesma (cada célula da bandeja alta tinha 106 cm3 e da bandeja baixa e tubete tinha o volume de 40 cm3). O comprimento das raízes primárias foi diferente entre tratamentos, com valores variando de 10,5 cm (tubete) e 5,0 cm (bandeja baixa). Estes resultados mostram que quanto maior a altura do substrato, maior o comprimento das raízes primárias. 3 O número de raízes primárias não sofreu influência do tipo de contentor, variando de 5,4 raízes (tubetes) a 9,0 raízes (bandeja alta). Apesar de esses resultados não diferirem entre si, observou-se um melhor desempenho em plântulas enraizadas nas bandejas altas, como pode ser visto na figura 1, onde é nítido o maior volume de raízes formadas com o uso de bandejas altas. Aparentemente, o volume de raízes formadas dependeu mais da largura de cada contentor que do seu comprimento (5,0, 3,5 e 2,5 cm, respectivamente em bandejas altas, bandejas baixas e tubetes). LITERATURA CITADA SILVA, J.B.; LOPES, C.A. Uso de pequenos segmentos de ramas para multiplicação rápida da batata-doce. Horticultura Brasileira, Brasília, v.13, n.2, p.176-179, 1995. Tabela 1. Estande, comprimento e número de raízes primárias de plântulas de batata-doce enraizadas em três tipos de contentores. Brasília, Embrapa Hortaliças, 2005. Contentores Bandeja alta (10 cm - 72 células) Bandeja baixa (6 cm - 128 células) Tubete (11 cm - 2,5 cm diâmetro) CV % Estande (%) (30 dias do plantio) 84,7 a 81,2 a 84,6 a 9,3 Comprimento da Número de raízes raiz primária (cm) primárias 8,2 b 5,0 c 10,5 a 2,44 9,0 a 7,5 a 5,4 a 32,5 Figura 1. Volume de raízes formadas em mini-estacas de batata-doce, após o enraizamento em tubetes (à esquerda), bandejas altas (centro) e bandejas baixas (direita). 4