4°Edição – São Paulo – 28 de Outubro de 2015 JORNAL DA MUSICOTERAPIA DO ESTADO DE SÃO PAULO MUSICOTERAPIA NA ITÁLIA Pedagogia e musicoterapia Pág. 13 MUSICOTERAPIA NA SÍNDROME DE RETT Musicoterapeuta In Foco Com Raphael Soares . Conheça seu método no trabalho com crianças autistas e múltiplas deficiências. Pág.25 EU FUI! Entrevista com Fabiane Mayumi sobre o curso Práticas de Avaliação em Musicoterapia que aconteceu no Centro de Musicoterapia Benenzon Brasil . Confira Pág. 31 Nesta edição entrevistamos mts especialistas no assunto para saber mais como é o trabalho da musicoterapia com Síndrome de Rett. Confira, página 4. [ESCRITORES] - Realização de experimentos em musicoterapia no Brasil: uma longa jornada com Gustavo Gattino. Pág. 17 Confira atividade da comissão de regulamentação. Pág. 28 JOMESP JORNAL DA MUSICOTERAPIA DO ESTADO DE SÃO PAULO Quarta Edição - P. 2 Expediente Palavra do Presidente da APEMESP Coordenação: Denise Chrysostomo Suzuki e Daniel Conceição Santana Colaboradores: MT Raphael Soares, Mt Kássia Paiva; Mt Vanessa Lira; Mt Orlene Queila de Oliveira; Profa. Silvia Rosas; Mt Gildásio Januário; Maria Helena Voorsluys Battaglia; Mt. Gustavo Gattino; Mt. Fabiane Mayumi Charge: Raquel da Costa e Silva Contato: [email protected] Simbolizamos mais uma edição, um símbolo de trabalho cumprido. Queremos que todos os musicoterapeutas e também colaboradores possam usufruir das notícias da nossa área, mas que, sim, possam também contribuir para que essa classe cresça cada vez mais. Espero que todos, ao fazer a leitura, se conscientizem da importância do intercâmbio, entre nós profissionais, de uma maneira regional, de uma maneira nacional, de uma maneira internacional. Que busquemos agora forças para que, em 2016, possamos unir no CLAM - Congresso Latino Americano de Musicoterapia - todas as potências aqui no Brasil, da nossa força e das características pessoais de uma musicoterapia que parte de um mesmo olhar, um olhar socioeconômico e cultural, que é a latinidade. Então espero que tenhamos, todos, potência para usufruir do conhecimento que vem agora em forma de artigos, e que possam produzir os seus para esse próximo grande evento que será. Aguardo sempre as colaborações, um grande abraço e um parabéns aos dois de nossos maiores colaboradores desse jornal, Denise e Daniel. Um grande abraço a todos. Saudações sonoras. Editorial Chegamos a nossa quarta edição com novos conteúdos e algumas reformulações. Um exemplo é a coluna “Relatos reais de um musicoterapeuta”, que nesta edição foi rebatizada como “Musicoterapeuta in Foco” pelo Mt Paphael Soares. Na coluna "Eu fui!" temos o relato de uma das participantes do curso de Escalas de Avaliação em Musicoterapia, realizado em setembro no Centro de Musicoterapia Benenzon Brasil, Fabiane Mayumi, que dá suas impressões sobre o curso e sobre o conteúdo apresentado diante profissional e acadêmico. Além disso, inovamos na matéria Síndrome de Rett, com depoimento de diversos musicoterapeutas sobre o assunto e a participação de um dos pais, contando sua experiência com a musicoterapia. A partir disso, queremos trazer a família e nossos clientes/pacientes para perto. Conheceremos um pouco o panorama da Musicoterapia na Itália, que enfatiza o tema educação e musicoterapia, e das recentes representações da Musicoterapia na Assistência Social, além de conhecer um pouco mais sobre a jornada na Musicoterapia na área da pesquisa, como nos apresenta o colega Gustavo Gatinno. Vale lembrar também que o Jomesp é concebido por nós, musicoterapeutas, então comente, opine, sugira, compartilhe experiências e trabalhos. Vamos juntos construir e fortalecer mais esse canal. JOMESP JORNAL DA MUSICOTERAPIA DO ESTADO DE SÃO PAULO Quarta Edição - P. 3 NESTA EDIÇÃO 2. Palavra do presidente/Editorial 4. Saiba mais sobre musicoterapia: Musicoterapia na Síndrome de Rett 13. Musicoterapia pelo mundo: Itália 17. Escritores: Realização de experimentos em musicoterapia no Brasil: uma longa jornada 25. Musicoterapeuta in foco: Raphael Soares 28. SUAS/SUS: XIV Encontro de Trabalhadoras e Trabalhadores da Assistência Social de São Paulo e XI Conferência Municipal da Assistência Social 31. Eu fui! Métodos de avaliação em musicoterapia 32. Charge/Classificados 34. Canal do Leitor e Canal da APEMESP JOMESP JORNAL DA MUSICOTERAPIA DO ESTADO DE SÃO PAULO Quarta Edição - P.4 SAIBA MAIS Musicoterapia e Síndrome de Rett Confira entrevista com musicoterapeutas especialistas no assunto para saber mais como é o trabalho da musicoterapia com Síndrome de Rett. Segundo a Abre-te (Associação Brasileira de Síndrome de Rett) a Síndrome de Rett é definida como uma desordem do desenvolvimento neurológico relativamente rara, tendo sido reconhecida pelo mundo no início da década de 1980. Desde então, diversos estudos já apontaram que pode ocorrer em qualquer grupo étnico com aproximadamente a mesma incidência. A prevalência da Síndrome de Rett é de uma em cada 10.000-20.000 pessoas do sexo feminino. A Síndrome de Rett se manifesta tipicamente no período compreendido davia, são raros os relatos de crianças da cabeça) pode ser observada já aos que vieram a receber o diagnóstico de três meses de vida ou logo depois dessa Síndrome de Rett que tenham engati- idade, mas sempre ao longo do primei- nhado em qualquer fase da infância. ro ano. Deve-se enfatizar que a desace- Muitas dessas crianças também de- leração do perímetro cefálico não signi- senvolvem linguagem inicial na forma fica necessariamente microcefalia (ou de simples. cabeça anormalmente pequena), e que, Geralmente é observada hipotonia já por outro lado, o perímetro cefálico de desde o nascimento, e não é raro que muitas dessas meninas pode se manter sejam referidos como "bebês bonzi- dentro dos parâmetros normais. entre o 6º e o 18º mês de vida. Na grande maioria dos casos, a gravidez da mulher e o parto ocorrem normalmente. Os bebês nascem geralmente sem quaisquer intercorrências, e parecem se desenvolver dentro dos parâmetros normais na primeira infância. Geral- palavras ou frases nhos", e algumas vezes como "bebês excessivamente bonzinhos". Também se observa desaceleração do ganho de peso nesse período. Pode Durante esse período precoce de ocorrer, igualmente, desaceleração do dos de desenvolvimento motor no que vida, desaceleração nas medidas do crescimento linear (comprimento), mas se refere ao sentar-se e ao andar. To- perímetro cefálico (ou circunferência apenas depois do primeiro ano de vida. mente, apresentam padrões adequa- JOMESP JORNAL DA MUSICOTERAPIA DO ESTADO DE SÃO PAULO Quarta Edição - P.5 Missão da Abre-te Musicoterapia na Síndrome de Rett Segundo Silvia Rosas, voluntária na diretoria da associação e, também professora nos cursos de graduação em musicoterapia, a missao da Abre-te é rastrear casos de Síndrome de Rett em todo território nacional por meio da divulgação da patologia e da associação, para levar a essas comunidades recursos materiais e humanos para o fechamento diagnóstico e acompanhamento terapêutico educacional dessas pacientes fornecendo apoio a essas familias, promovendo politicas pública s junto às três esferas governamentais, participando de pesquisas clinicas e genética s sobre a condição e capacitando profissionais da saúde e da educação, a partir do conhecimento e da experiência acumulados com o atendimento direto a essas crianças no Centro de Referência. Desde a descrição da Síndrome de Rett, o Dr. objetivos das outras terapias (Fisioterapia, Fonoau- Andreas Rett já se referia à música como importante diologia, Terapia Ocupacional, Pedagogia), pois meio de intervenção terapêutica a essas pacientes. invoca a motivação e o interesse da paciente. Pacientes com Síndrome de Rett manifestam A partir da anamnese sonoro-musical e da observa- grande interesse por música por meio do olhar, de ção da criança, o musicoterapeuta desenvolve es- sorrisos e risadas, e de atenção mais constante. Por tratégias para: isso, a Musicoterapia se torna importante aliada aos Evocar respostas sonoras corporais específicas (ex. bater palmas). Desenvolver habilidades audiomotoras com aumento de tônus muscular. Estimular e desenvolver os sentidos auditivos e táteis pela audição de músicas e pela vibração de instrumento. Desenvolver a criatividade, a liberdade de expressão, a espontaneidade e a capacidade lúdica da paciente. Melhorar a atenção e a memória pela via musical. Conheça o trabalho de três musicoterapeutas pacientes na Abre-te desde o ano 2000. JOMESP JORNAL DA MUSICOTERAPIA DO ESTADO DE SÃO PAULO Quarta Edição - P.6 “Não existe padrão de trabalho com Síndrome de Rett, existem sim, temas singulares, Musicoterapeuta Orlene Queila de Oliveira, 36, realizou atendimentos na Abre-te entre 2000 e 2006. criança era acompanhada por 4 horas assim trabalhávamos nos níveis de prá- a abordagem e metodologia em seus por vínculo tica clinica aumentativo e intensivo isso atendimentos. (psicólogo), responsável pelas ativida- variava conforme o objetivo específico Mt Queila: A Abre-te começou seus des da vida diária, dentre outras. A da paciente naquele momento, ou seja, atendimentos no ano de 2000, onde equipe era formada por psicólogos, se era um objetivo musicoterapêutico fui convidada pelo musicoterapeuta fonoaudiólogo, fisioterapeuta e musi- ou fisioterapêutico. Também trabalhá- Renato Sampaio para fazer estágio de coterapeuta e, eram feitas reuniões vamos no nível auxiliar, pois nas reuni- observação e acabei ficando para atua- periódicas com a equipe para discutir o ões clínicas as outras terapeutas era ção. Após a saída do Musicoterapeuta objetivo traçado para a paciente, as- orientadas em como utilizar a música Renato Sampaio da instituição, perma- sim, cada área dentro de suas especia- de maneira mais apropriada em sua neci como estagiária até 2002 e em lidades traçava uma proposta de aten- terapia. 2003 fui contratada. Não existiam mui- dimento para alcançar aquele objetivo tos estudos sobre Síndrome de Rett principal. Assim, não utilizávamos um naquela época, a própria descoberta modelo especifico de musicoterapia, Uma das questões que me fez querer do gene causador (MECP2) da SR havia ou uma técnicas, isso variava conforme escrever sobre o assunto, é que muitas sido descoberta um ano antes (1999). o modelo ou técnica que melhor se vezes lia sobre a importância da musi- Então fomos atrás da bibliografia musi- enquadrava nas respostas da paciente coterapia na SR, pois as pacientes gos- coterapêutica e encontramos apenas e objetivo a serem alcançados. tavam de música e respondiam bem às Jomesp: Conte-nos um pouco sobre um terapeuta de J: Como a musicoterapia contribui com a SR? um artigo de uma brasileira descreven- A musicoterapia na época era reali- atividades que envolviam música, mas do um caso e, outro artigo do musico- zada na sala que era utilizada para pouco se falava em como a musicotera- terapeuta Tony Wigran, voltado ao convivência e para o atendimento fisi- pia poderia realmente contribuir. Para modelo comportamental, o que não oterapêutico, como a fisioterapia era mim, a musicoterapia pode contribuir era a proposta da instituição. A insti- necessária todos os dias, acabamos em vários aspectos no trabalho com a tuição nos primeiros anos propôs o propondo então um atendimento em SR os principais são: Contato, interesse, modelo psicopedagógico, assim, cada conjunto musicoterapia e fisioterapia, concentração, percepção, comunicação JOMESP JORNAL DA MUSICOTERAPIA DO ESTADO DE SÃO PAULO Segunda Edição - P.7 e linguagem, aspectos emocionais e físi- do um determinado movimento. Nos- se momento foi indescritível. cos. so objetivo muitas vezes era mostrar Fisioterapeuta: Nesta época Destes considero a importância do para a paciente que ela ainda podia trabalhávamos unto com a fisio- trabalho em equipe junto aos seguintes fazer muitas coisas, para isso, era im- terapeuta, assim, quando os ob- profissionais: portante fazer a escolha do material jetivos eram musicoterapêuticos Fonoaudiologia, esse profissional pode certo para a paciente. o teclado era a fisio nos ajudava posicionando a orientar melhor o musicoterapeuta em muito utilizado, pois produz som com paciente de uma maneira mais como trabalhar a escolha do “sim” e adequada na terapia e quando os “não”, de canções, que figuras utilizar e objetivos eram fisioterapêuticos a como utilizar. A música é um grande música era utilizada para: Estimu- incentivador na resposta das meninas, lar e desencadear reações postu- por esse motivo é importante colocar- rais; Adequar tônus; Incentivar mos em nossas terapias não apenas a uso funcional das mãos; Localizar comunicação sonoro-musical, mas sim a o som (orientação espacial e comunicação alternativa e complementar, como um auxiliar, assim também Preparação para manter a paciente em quatro apoios. contribuindo com os objetivos da Fono e equilíbrio); Promover noções de lateralidade; Incentivar transferências posturais (supino, prono, principalmente da paciente. Na Abre-te um pequeno toque em suas teclas. Às quatro apoios, sentada e ortostá- tínhamos uma paciente que conseguia vezes, também criávamos músicas tica; e, Incentivar o deslocamento fazer escolha com o olhar, assim, cantá- para paciente. Uma das pacientes da pelo meio). Assim o musicotera- vamos as canções que ela escolhia e tam- Abre-te passou por um momento mui- peuta escolhia os instrumentos bém utilizávamos canções como o Sítio to complicado onde estava tendo mui- conforme esses objetivos. Muitas do Seu Lobato, onde ela mesma escolhia tas crises de convulsão, apneia e hiper- vezes a paciente não aceitava a ordem dos bichos na canção. ventilação, sendo dispensada dos aten- ficar em quatro apoios, então Terapeuta de vínculo (Psicóloga), por dimentos até conseguir controlar a colocávamos ser a terapeuta que convivia mais com a medicação. Quando voltou, havia per- que ela gostava muito, de forma paciente, era a que melhor orientava o dido muitas de suas funções e, come- que ela só conseguisse tocar nes- musicoterapeuta em relação ao contato, çou a apresentar apraxia manual, não ta posição, por exemplo. Dentro interesse por atividades, concentração e conseguindo mais manter o objeto em do trabalho com a fisioterapeuta principalmente nos aspectos emocionais. suas mãos por muito tempo. Era nítido trabalhávamos também a percep- Temos que entender que embora seja em seu olhar a tristeza, assim, fizemos ção auditiva e conscientização uma síndrome progressiva, as meninas uma improvisação cuja canção falava: corporal, colocando os instru- sentem, e muitas ficavam muito abaladas “Fulano vai pegar o chocalho, tocar, mentos em partes diferentes do quando percebiam que estavam perden- tocar, tocar e jogar” a alegria dela nes- corpo da paciente, trabalhando a um instrumento JOMESP JORNAL DA MUSICOTERAPIA DO ESTADO DE SÃO PAULO Segunda Edição - P.8 localização do som, etc. capacidade lúdica; Estimular e desen- pia na família da criança com SR? Em resumo os objetivos específicos volver os sentidos auditivos e táteis; Em um dos anos que estava na Abre da musicoterapia dentro da equipe Desenvolver habilidades cognitivas; -te, começamos a lutar pela regula- eram: Comunicação não verbal como Promover a receptividade; Respostas mentação da musicoterapia, para isso ponte para comunicação verbal; For- sonoras corporais; Habilidades áudio- solicitamos para algumas mães que mação do IS0 (identidade sonora); motoras, como aumento do tônus fizessem um depoimento, vou colocar Aspectos do eu na relação com os muscular; sensório- aqui alguns trechos desses depoimen- outros, através do fazer musical; De- motoras como relaxamento; e, Aten- tos que tenho guardado com tanto senvolver a criatividade, a liberdade ção e memória musical. carinho: de expressão, a espontaneidade e Habilidades J: Qual é o impacto da musicotera- Mãe A: “... Foi na musicoterapia que passei a conhecer a minha filha um pouco melhor, descobri do que gosta e do que não gosta, do que a deixa calma e o que a deixa nervosa, do que a deixa feliz e o que a deixa triste. Como explicar tudo isso? “Simples, esta no olhar no sorriso, na expressão, esta num pequeno gesto e até mesmo numa simples palavra, e talvez depois de eu ter falado tudo isso, venha, mas uma pergunta. Como saber disso? Fácil antes da música-terapia era quase que impossível, obter uma resposta tão clara como essa, gostar da música e aumentar o volume até o último até vibrar a cada vez que repete, ou simplesmente não gostar e diminuir o volume ou desligar...” Mãe B: “...Estou muito contente com o resultado que a minha filha teve depois que começou a musicoterapia. Ela era mais agitada, e só gostava de uma musica em especial, um forró. Agora ela acostumou a gostar de vários tipos de músicas. E agora ela está bem mais calma e prestativa” Mãe C: “Desde o nascimento da minha filha, Y., usei a música como um meio de comunicação e, depois que foi diagnosticada a S.R., e li a respeito da música como um dos canais de aprendizagem, comecei a usar a música em todas as circunstâncias, principalmente a música infantil com letras simples e claras (Cantigas de roda). Mas todo esse trabalho era desenvolvido intuitivamente como mãe. Ao abrir o Centro de Referência p/ atender as meninas com S.R., uma das terapias previstas era a musicoterapia e com um trabalho orientado e desenvolvido por um profissional da área, fomos perceber que ela podia atuar na parte cognitiva. E desde então, ela vem mostrando uma melhora significativa em relação à compreensão, apurou sua audição e capacidade de expressar seus desejos, passou a escolher a atividade que gostaria de ouvir... A musicoterapia tornou-se a terapia que serve de apoio para as outras terapias e atividades, fazendo com que aceite melhor as atividades que tem mais dificuldade em realizar por causa do comprometimento motor. Imaginar sua vida hoje sem esse trabalho seria o mesmo que devolvê-la às trevas, à escuridão de sua alma, é fechá-la em si, ao mesmo tempo em que a música à ilumina e resplandece por inteiro”. J: Atualmente trabalha com SR? também o atendimento em conjunto ram apresentados resultados de novos Tenho uma paciente que comecei a pelo menos uma vez por mês. A crian- medicamentos que estão sendo testa- ça tem 1 ano e 10 meses. dos nos EUA e pesquisas, assim, pude atender em agosto e recebeu o diagnóstico a apenas 4 meses. Comecei a atendê-la a apenas 3 meses e estamos J: Gostaria de acrescentar mais alguma coisa? ver como hoje estamos bem mais avançados no conhecimento da Sín- trabalhando principalmente com a Estive no VIII Encontro Brasileiro de drome De Rett e que cada dia mais escolha de instrumentos e percepção Síndrome de Rett, realizado nos dias estão sendo descobertos novos trata- sensorial, foi combinado com a mãe 22 a 25 de outubro de 2015. Nele fo- mentos para proporcionar uma me- JOMESP JORNAL DA MUSICOTERAPIA DO ESTADO DE SÃO PAULO Segunda Edição - P.9 lhor qualidade de vida para estas me- que podem inclusive ajudar as outras sentam a Síndrome de Rett também, ninas. Mas todos os médicos ressalta- terapias a alcançarem seus objetivos. pois um dos X apresenta um MecP2. ram que independente dos resultados Apenas por curiosidade a Síndrome destes medicamentos as meninas de Klinefelter é uma síndrome predo- sempre irão precisar de um acompa- minante dos meninos, são casos em nhamento terapêutico e sempre acre- que os meninos nascem com dois X, ditei que a musicoterapia tem um pa- sendo assim, XXY, no congresso foi pel muito importante no atendimento informado que temos 60 meninos no a SR, pois, através da música, pode- mundo com essa Síndrome que apre- mos abrir vários canais de respostas Musicoterapeuta Orlene Queila de Oliveira Formação e Especialização: Bacharel em Musicoterapia (FPA), Especialização em Intervenção em Neuropediatria (UFSCAR) e Especialização em Educação Musical (FPA). Data/Ano em que trabalhou com SR: Outubro/2000 a Dezembro/2006 “Acredito que a MT pode proporcionar às meninas rett uma forma de mediação para a comunicação e valorização delas como sujeitos dotados de sentimentos, vontades e sensações; pois muitas vezes percebo que o profissional de saúde se preocupa demasiadamente com a patologia do sujeito e suas “limitações” e se esquece de perceber que aquele indivíduo é um SER e não uma doença, é um ser único.” Musicoterapeuta Vanessa Lira Vieira , 29, realizou atendimentos na Abre-te entre 2009 e 2012 J: Como a musicoterapia contribui pia na família da criança com SR? realizados na área manifestaram-se Na minha experiência os pais senti- também nas pacientes da Abre-te du- comunicação am-se motivados ao perceber suas rante as sessões, dentre eles: relaxa- (intenção comunicativa, vocalizações e filhas mais felizes e tranquilas durante mento, redução dos níveis de tensão, atenção), para o relaxamento e dimi- e após o atendimento musicoterápico. sinais de prazer, e procura, espontâ- nuição da espasticidade e estereotipi- Outros atribuíram à musicoterapia nea ou não, das vibrações. O trata- as, no estímulo de manifestações uma melhoria na intenção comunicati- mento proporcionou benefícios para emocionais que podem e devem ser va e exploração vocal. as pacientes e também despertou a com a SR? Principalmente na contextualizadas durante o atendimento, no trabalho em conjunto com as demais terapias (desviando o foco da dor para à experiência musical). J: Qual é o impacto da musicotera- J: Qual a abordagem do seu trabalho? curiosidade da equipe em função das diversas possibilidades que a musico- Pesquisa qualitativa. Alguns dos terapia aliada à vibroacústica trouxe efeitos da terapia vibroacústica aliada para a clínica multidisciplinar. O traba- à música e observados em trabalhos já lho musicoterapêutico permitiu tam- JOMESP JORNAL DA MUSICOTERAPIA DO ESTADO DE SÃO PAULO Quarta Edição - P.10 bém notar a necessidade de mais e alterações mais relevantes da musi- Curso de Pós-Graduação em Musicote- pesquisas sobre a aplicação das on- coterapia vibroacústica nos sintomas rapia Organizacional e Hospitalar. Fa- das sonoras de baixa frequência alia- da Síndrome de Rett com as seis paci- culdades Metropolitanas Unidas. São das à música em musicoterapia. Atu- entes atendidas na Abre-te. Paulo, 2010 almente está sendo realizado na Abre -te um estudo piloto sobre os efeitos J: Quais pesquisas realizou na área? CARRER, R.J.L & LIRA,V.L. MUSICOTERAPIA VIBROACÚSTICA NA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE SÍNDROME DE Musicoterapeuta Vanessa Lira Vieira Bacharel em Musicoterapia (2008); Especialista em Musicoterapia Organizacional e Hospitalar(2010), AMOS REALIZADOS NA FMU; Graduanda em Fonoaudiologia (7ºsemestre-FMU) RETT (ABRE-TE/SP). São Paulo, 2012. LIRA, V.S. A Musicoterapia Vibroacústica no Tratamento da Síndrome Email e telefone: [email protected]; (11) 997731154, 970299038. de Rett. Trabalho de Conclusão de Musicoterapeuta Kássia Paiva, 28, realiza atendimentos na Abre-te desde 2012 J: Há quanto tempo atende na Abre-te? Iniciei o trabalho na Abre-te em 2012. Desde o primeiro encontro me apaixonei pelas meninas que foram muito receptivas à minha presença. O musicoterapeuta anterior (Vanessa De modo geral os objetivos da mu- Lira) facilitou muito o processo para sicoterapia se baseiam, principalmen- que os novos vínculos fossem estabe- te, nas características da Síndrome, lecidos com naturalidade no processo como por exemplo, o de reduzir as de seu desligamento. estereotipias. No entanto as formas A partir de 2014, por necessidade de interação aos estímulos musicais administrativa, a Abre-te interrompeu para cada paciente são muito particu- temporariamente os atendimentos lares e o trabalho é adaptado às capa- terapêuticos que eram oferecidos às cidades e peculiaridades de cada uma meninas. Foi necessário particularizar delas. o tratamento e as famílias passaram a O objetivo principal do tratamento contratar os terapeutas independen- de musicoterapia é proporcionar um temente. Alguns terapeutas deixaram ambiente onde a paciente com Síndro- a instituição, porém os que continua- me de Rett possa criar, interagir e ex- ram mantiveram suas salas contando pressar o que quer que sinta, sem com a estrutura oferecida pela Abre- julgamento e com o acolhimento que te. ela necessitar. J: Como é o atendimento de musicoterapia? Dentro das peculiaridades acima citadas pode-se observar diferentes JOMESP JORNAL DA MUSICOTERAPIA DO ESTADO DE SÃO PAULO Quarta Edição - P. 11 preferências de interação. Uma inten- respeitar esse tempo e acompanha-las ção de vocalização, uma maior moti- de modo que se sintam à vontade vação na execução de instrumentos, enquanto cantam. estereotipia por alguns minutos. Outra forma de estimulá-las a interagirem com os instrumentos musicais um interesse por movimentos corpo- A redução das estereotipias manu- é utilizar outras partes do corpo, como rais e o relaxamento com escuta cor- ais pode ser trabalhada com a execu- as pernas e os pés, inclusive em alguns poral são alguns exemplos. ção dos instrumentos musicais, a prin- casos de cadeirantes. Nos casos de pacientes que mos- cípio com auxílio do musicoterapeuta. É importante que o musicoterapeu- tram tendência para o entoar, a repro- Geralmente elas conseguem realizar ta esteja atento aos sinais para identi- dução de vocalizações ascendentes e movimentos voluntários com a mão ficar o que a atrai e o que ela quer descentes, com interpretação lúdica dominante (direita se forem destras e expressar. Como todos nós, a paciente que as façam rir, é uma forma de esti- esquerda se forem canhotas) na inte- com Síndrome de Rett passa por mo- mulá-las. Ao despertar o riso criamos ração com os instrumentos se a mão mentos de tristeza, de raiva, euforia, um campo relaxado para que elas co- não dominante estiver contida. Há carência, e encontra na musicoterapia mecem a vocalizar, o som do riso aca- casos em que a execução de uma mú- um espaço para externar esses senti- ba por ser o início do canto. O tempo sica que emociona a paciente é sufici- mentos. de resposta pode variar. É preciso ente para relaxá-la a ponto de cessar a Kássia Paiva é Musicoterapeuta formada pela FMU – 2008 Especialista em Psicodrama com foco Sócio Educacional pela ABPS – Associação Brasileira de Psicodrama e Sociodrama. Musicoterapeuta na Casa da Criança Excepcional Maria Maia Professora de música no Núcleo de Reabilitação Especializado Jaty. Musicoterapeuta em consultório particular. Telefone e email: (11)98467-8655 / [email protected] E para finalizar... Entrevistamos Maria Helena Voorsluys Battaglia, mãe de uma paciente da Abre-te . J: Há quanto tempo tem atendimento instrumentos musicais diversos, che- de musicoterapia? gando a tocar com ajuda da terapeuta Desde que começou o atendimento na para observar o som que produz. Abre-te, por volta de 2001. J: Aponte outros benefícios, se hou- J: Qual é o principal benefício obser- ver. vado? Desde bebê cantava músicas infantis O principal benefício é a interação que com ela e, depois de descobrir que tem com a música, com instrumentos tinha síndrome de Rett, passei a inten- musicais, melhorando sua capacidade sificar o uso da música, porque sabia de expressar sentimentos. Com a mu- que era o canal pelo qual elas se co- sicoterapia, passou a ter contato com municavam. Envolvia toda atividade JOMESP JORNAL DA MUSICOTERAPIA DO ESTADO DE SÃO PAULO Quarta Edição - P. 12 realizada com ela em alguma música shows musicais. E a musicoterapia ao trocar de roupa, dar de comer, dar mostrou a ela e a nós, que música é banho. Além disso, a música era usada além de uma arte, é uma terapia que Serviços da Abre-te para entretê-la e verificar se sabia o não basta ser só cantada, ouvida, mas que estava ouvindo, prestava atenção é possível explorar um mundo de coi- na letra e fazíamos testes trocando a sas através da música e desenvolver letra e ela imediatamente parava a habilidades cognitivas e motoras. estereotipia e olhava, como quem diz, Jomesp - Quer fazer algum comentá- “não é assim!” Ela conhecia a sequên- rio? 1-) Atendimento Familiar 2-) Avaliação Diagnóstica 3-) Exame Molecular para Mutações no Gene MECP2 4-) Avaliação Global 5-) Encaminhamentos 6-) Núcleo Campinas para Apoio e Orientação a Famílias de pessoas com a Síndrome de Rett cia em que as músicas eram tocadas, A música e por extensão a musicotera- isso também descobríamos ao inver- pia tem sido a atividade mais aprecia- ter a ordem. Ela demonstra irritação da pela Juliana, é onde se realiza, con- ou sono quando a música ou o progra- segue expressar a emoção e se sentir ma de tv não agradam. Também não realizada. A música é como o sol que gosta de programas infantis em que os brilha e alegra sua vida, deixando-a personagens falam muito, prefere muito feliz, uma felicidade que acaba contagiando todos à sua volta. JOMESP JORNAL DA MUSICOTERAPIA DO ESTADO DE SÃO PAULO Quarta Edição - P.13 Musicoterapia Pelo ITÁLIA Por: Crema Trovesi Giulia Se olharmos para a história da música na Itália, após a Idade Média, vemos o surgimento de estilos e gêneros musicais colocados em diferentes cidades, como Roma, Florença, Nápoles, Veneza... A presença de diferentes escolas artísticas, por vezes, lutando entre si, ajudou a criar produções artísticas do mais alto nível. Assim aconteceu e acontece com a musicoterapia. Na Itália existem diferentes modelos. Cada modelo tem seu valor e é um recurso. Essa diversidade tem sido e é uma fonte de crescimento cultural e profissional que levou à colaboração atual. A história da musicoterapia na Itália começou em Assis. Desde o iní- cio a palavra terapia tem enganado terapia. Vários estudantes de Assis alguns especialistas não músicos. Eles me pediram para fazer o curso com consideraram o termo "terapia" em base em minhas experiências, que foi ordem de prioridade sobre a música. organizado como um grupo de estudo Seguindo esta interpretação, o pri- em aumento constante e progressivo, meiro curso de musicoterapia na Itá- ainda ativo. Em maio de 1991, eu lia, que foi seguido por outros e ou- fundei a APMM (Associação de Peda- tros, também foi aberto a pessoas gogia que possuem formação na escola "Giulia Cremaschi Trovesi". Estava fundamental, mesmo sem nenhum surgindo um modelo de musicotera- conhecimento musical. pia onde a educação e terapia especí- Musical e Musicoterapia) Ao longo dos anos o curso de Assis fica se baseiam nos mesmos princí- teve como requisito aos alunos a con- pios. Muitos dos profissionais que clusão do ensino médio. Nunca foram participam do grupo de estudo da solicitados estudos musicais específi- APMM fundaram associações, cen- cos. A grande maioria dos cursos de tros de estudo, workshops, ateliês de musicoterapia italianos, ainda hoje, música, entre outros, em suas cida- não requerem estudos musicais. des. Eu sempre fui convencida de que a Com a extensão das experiências, música é fundamental para a musico- em maio de 1998 fundada a FIM JOMESP JORNAL DA MUSICOTERAPIA DO ESTADO DE SÃO PAULO Quarta Edição - P.14 (Federação Italiana de Musicotera- confirmaram que a música é funda- tica clínica, dos estudos e da análise pia). A FIM é uma organização sem mental para musicoterapia. Expressei dos resultados de diferentes habilida- fins lucrativos. Os membros FIM esta- claramente a minha opinião nos livros des profissionais. Os fundamentos beleceram um registro profissional "A musicoterapia, arte da comunica- teóricos estão enraizadas no pensa- para a proteção dos profissionais e ção" e "The Body Viva" (mostra testes mento fenomenológico - existencial. usuários, emitindo em 2001 o Código de audição de 485 crianças surdas). A Musicoterapia Humanista tem a de Ética. Atualmente o APMM, assim Com a ajuda do companheiro psi- sua própria identidade como um mo- como outras associações presentes coterapeuta e musicoterapeuta Mau- delo teórico com os fundamentos em outras cidades italianas, é o lar ro Scardovelli, compartilhando expe- epistemológicos. Os profissionais as- dos cursos de formação e reuniões de riências com psicólogo Simona Colpa- sociados à FIM operam no território supervisão, enquanto a FIM realiza ni e contribuição profissional e cultu- italiano, seguindo o modelo de musi- seu papel institucional e informativo. ral filósofo Carlo Sini, foram trazidos à coterapia Humanística. Seu trabalho é As experiências através de estudos luz os princípios teóricos e fundamen- recomendado a validação do Ministé- e a comparação com realidades es- tos epistemológicos da musicotera- rio da Educação, Universidade e Pes- trangeiras com quem tivemos em pia. O modelo de musicoterapia hu- quisa. contato através do e EMTC WFMT, manista foi delineado através da prá- A Formação em Terapia Musical Aspectos Institucionais Regional Regionalmente, a FIM está inscrita no Registro Regional de Associações sem fins lucrativos, da região da Lombardia, com o Decreto de número 31366 de 2001/12/14. A FIM está envolvida no trabalho de reconhecimento da musicoterapia como uma nova profissão, na região da Lombardia. Nacional A FIM é credenciada pelo Ministério da Educação, Universidade e Pesquisa, sob o Decreto Ministerial 177/2000, prot. n. 4420 / C / 3 / A, datada de 12-01-2005. A FIM está registado, desde 2001, no CNEL (Conselho Nacional e da Economia Mundial), organização comprometida com o reconhecimento das novas profissões. A FIM também é registrada no CoLAP (Coordenação das Associações Profissionais Gratuitos). Internacional FIM está associada com EMTC e a WFMT. JOMESP JORNAL DA MUSICOTERAPIA DO ESTADO DE SÃO PAULO Quarta Edição - P.15 Atividades Para patrocinar cursos de formação, seminários, conferências, concertos, simpósios, eventos culturais para as organizações, instituições, associações ou centros especializados preparadas de acordo com profissional ela reconheceu: - O 1º Congresso de "The Sound of Life" foi feito para Assis, em junho de 2000. Milan 4-5- maio 2001 "Corpo, Voz, Word: Expressão das Emoções" com Carlo Sini eo escritor Joseph Pontiggia. Bergamo 26-27 outubro 2002 »A dinâmica do gesto como um teatro da palavra" análise dos trabalhos sobre o autismo infantil com Carlo Sini, Scardovelli, Cremaschi. Nos dias 10-11-12 novembro 2005 terá lugar na Sicília o II Congresso de italiano musicoterapia, intitulado "Canção Original"fundamentos epistemológicos - Musical de Musicoterapia Humanista, setembro 2005; a publicação do livro "The Sound of Life" por G. Cremaschi Trovesi e Mauro Scardovelli ARMANDO colar EDITOR, médico psicopedagógico dirigido por John Bollea. Humanista se articula nos seguintes preferências. damentos teóricos - modelo episte- Supervisão - O modelo de Musi- mológico humanista - incluem educa- Musical - Educação Musical coterapia Humanista gira em ção e terapia. A Musicoterapia Huma- (modelo APMM) Epistemologia torno de três aspectos: Música nística e Pedagogia Musical são con- música (modelo APMM); Impro- (Improvisação clínica no modo gruentes (modelo APMM). Esses prin- visação Clinica ao piano (modelo de piano específico e detalha- cípios permitem operar de forma efi- APMM) Relacionamento Circu- do); Harmonia e musicalidade caz em termos de educação, na sala lar (modelo APMM) em expressão corporal; Staff de aula, nas colocações escolares das Psicológica - Modelo PNL; Hu- (PNLUm.Int.). crianças com deficiência colocadas aspectos. manística - integrado. Na Itália, desde 1974, as crianças Pessoal - Profissional escolhe o com deficiência são colocadas em treinador de acordo com suas turmas com crianças normais. Os fun- com os companheiros sãos e no contexto terapêutico. Os pilares desse modelo giram em torno dos seguintes aspectos teóricos: ressonância corporal; improvisação clínica no piano; diálogo sonoro; eurritmia; instrumentos musicais idiofone (epistemologia da música). As relações entre o som, o movimento, a origem e a formação da palavra e o número de crianças normais e crianças com deficiência; presença dos pais (para intervenções precoces com crianças); o terapeuta trabalha com o co-terapeuta em casos de deficiência grave ou múltiplas deficiências. As JOMESP JORNAL DA MUSICOTERAPIA DO ESTADO DE SÃO PAULO Quarta Edição - P.16 modalidades teórico-operacionais da dos a iniciativas privadas. O musicote- do ensino, obrigatório para a área musicoterapia humanista são congru- rapeuta formado sob o modelo hu- não-verbal; formação de professores entes com os da PNL (Programação manista, através da validação do Mi- do ensino básico nas áreas de linguís- Neuro Linguística) Humanista – inte- nistério da Educação, Universidade e tica e lógico-matemática; formação grada e desenvolvida por Mauro Scar- Pesquisa, oficialmente a sua profissão na universidade para estudantes de dovelli. pode atuar nas seguintes áreas: inclu- humanas e; treinamento para estu- Estudos e treinamento em musi- são e integração das crianças com dantes em conservatórios de música. coterapia na Itália ainda estão confia- deficiência; formação de professores Crema Trovesi Giulia Presidente da FIM (Federação Italiana de Musicoterapia) Giulia Cremaschi Trovesi, professora de música (piano e composição), fundadora musicoterapeuta do modelo "humanista APMM musicoterapia (Associação de Pedagogia Musical e Musicoterapia)". Musicoterapeuta no APMM, professora de música cursos de musicoterapia italianos e estrangeiros, ensinou no estado para a inclusão e integração das crianças com deficiência, a partir de outras fontes. Adequação no ensinamento de Piano no Conservatório principal. Musicoterapeuta de 1981-1997 no Instituto de Audiologia da Universidade de Milão. Tem interesse em pedagogia e música para crianças em idade escolar aparentemente fluxos menos dotados em estudos de Musicoterapia. Tem participado como palestrante em vários congressos internacionaisl. Seu compromisso com a experimentação e estudo começou na década de setenta. Atualmente é Presidente da FIM (Federação das musicoterapeutas italianos). JOMESP JORNAL DA MUSICOTERAPIA DO ESTADO DE SÃO PAULO Quarta Edição - P.17 ESCRITORES Realização de experimentos em musicoterapia no Brasil: uma longa jornada Por: Gustavo Schulz Gattino Nos últimos oito anos, tenho atua- dor divide os participantes da pesqui- para verificar se um determinado do diretamente na condução de expe- sa em pelo menos dois grupos por tratamento modifica determinadas rimentos em musicoterapia no Brasil sorteio (randomização). Os grupos da variáveis onde a única diferença entre e no exterior. Pode-se definir um ex- pesquisa consistem em modalidades os grupos é aplicação do tratamento perimento como qualquer tipo de distintas de intervenção, onde o mais em questão (MOHER et al., 2011). estudo que envolve uma intervenção comum é a presença de um grupo Dessa forma, os participantes da pes- em musicoterapia para um determi- que receberá a musicoterapia e outro quisa devem ser muito parecidos en- nado grupo de pessoas, onde pode que será o grupo controle que rece- tre si, no que diz respeito a diagnósti- existir ou não a presença de compara- berá uma intervenção distinta ou o co, idade, tratamentos em que parti- ção (grupo controle) que não recebe tratamento padrão para uma deter- cipa, sexo, etc. Os ECRs devem ser o musicoterapêutico minada patologia. Costuma-se utilizar aprovados em comitês de ética em (GATTINO, 2009). O tipo mais conhe- a sigla ECR para se referir aos ensaios pesquisa, assim como numa platafor- cido de estudo experimental é o en- controlados randomizados. ma online de experimentos. Em fun- saio tratamento controlado randomizado O ECR é um dos tipos mais co- ção desse rigor metodológico, os (GERETSEGGER et al., 2012). Nessa muns de pesquisa quantitativa, pois ECRs são amplamente utilizados em categoria de investigação, o pesquisa- utiliza um grande rigor metodológico musicoterapia e consistem no princi- JOMESP JORNAL DA MUSICOTERAPIA DO ESTADO DE SÃO PAULO Quarta Edição - P.18 espaços físicos apropriados para a “as práticas que não foram comprovadas por pesquisas não devem ser indicadas ou não possuem evidências suficientes que comprovem a sua eficiência” realização desse tipo de estudo (GATTINO et al., 2014). Essas são algumas das razões que explicam o porquê os referidos países publicam tantos estudos desse tipo. Os Estados Unidos possuem o pal tipo de pesquisa quantitativa usa- ram até o momento da publicação maior número de ensaios controlados do no campo musicoterapêutico tan- (MOHER et al., 2011). Existem livros e randomizados publicados em musico- to Brasil quanto no exterior. A realiza- artigos que servem como guias para a terapia e a quantidade de publicações ção de um ECRs pressupõe o uso de condução e publicação de experimen- é muito maior se compararmos com regras e procedimentos realmente tos. Contudo, nenhum desses livros os demais países ao redor do planeta sistemáticos e específicos. Por esta está adaptado para a realidade brasi- (WHEELER, 2005). Há uma cultura do razão há um protocolo de diretrizes leira e para as subjetividades encon- nos Estados Unidos sobre práticas internacionais para a condução de tradas no cotidiano da condução e baseadas em evidências. Esse concei- ECRs intitulada CONSORT (MOHER et realização desse tipo de investigação. to se refere à utilização de práticas Em alguns países da Europa que estejam embasadas por evidên- Quando decidi trabalhar com esse (Noruega, Finlândia, Alemanha e Di- cias científicas. Em outras palavras, as tipo de pesquisa não tinha a dimen- namarca, por exemplo), Austrália, práticas que não foram comprovadas são do quão difícil seria aprender e Estados Unidos e em alguns países da por pesquisas não devem ser indica- lidar diariamente com experimentos Ásia (Coréia do Sul e Taiwan), há uma das ou não possuem evidências sufici- na minha prática como investigador. grande infraestrutura para a realiza- entes que comprovem a sua eficiên- Ao verificar um experimento publica- ção de experimentos, tanto no que se cia. Essa forma de pensar levou e do, não há como mensurar ou ter refere à equipe de profissionais, trei- leva até hoje à elaboração constante uma ideia da complexidade e das namento e formações para a condu- de ensaios controlados randomizados dificuldades que os autores enfrenta- ção de experimentos, assim como para justificar o uso da musicoterapia al., 2011). JOMESP JORNAL DA MUSICOTERAPIA DO ESTADO DE SÃO PAULO Quarta Edição - P.19 como forma de intervenção em dife- pesquisas internacionais e programas Os aspectos logísticos se referem rentes patologias (WHEELER, 2005).. de pós-graduação. As dificuldades dos ao planejamento e execução prática Experimentos em musicoterapia musicoterapeutas brasileiros para a das distintas fases da pesquisa. Essas no Brasil condução os ECRs está ligada direta- fases incluem a elaboração do proje- O rigor dos ensaios controlados mente à logística necessárias pa- to, aprovação no comitê de ética, randomizados e a perspectiva das ra realização dos estudos e também seleção dos participantes, divisão dos práticas baseadas em evidências re- aos recursos financeiros para esse participantes nos diferentes grupos, presentam desafios diários para pes- tipo de estudo. Ainda, acredito que aplicação dos tratamentos, mensura- quisadores em musicoterapia no Bra- outra grande dificuldade para a reali- ção das variáveis e análise dos resul- sil. O nosso país tem um potencial zação dos experimentos no Brasil é o tados (WHEELER, 2005). Uma primei- enorme para realizar esse tipo de pensamento da comunidade musico- ra dificuldade encontrada é a aprova- estudo, visto que tem uma prática de terapêutica no Brasil sobre esse tipo ção do projeto no comitê de ética em musicoterapia consolidada há mais de de trabalho.Trato de explicar nos pró- pesquisa. Ainda que nos últimos anos 50 anos e tem aumentado o número ximos parágrafos um pouco dessas a dificuldade com aspectos burocráti- de musicoterapeutas envolvidos com dificuldades. cos diminuiu no Brasil para a aprova- JOMESP JORNAL DA MUSICOTERAPIA DO ESTADO DE SÃO PAULO Quarta Edição - P.20 ção de projetos, as leis e regras não pessoas recebem um diagnóstico com o oferecimento de tratamento são devidamente claras e o governo equivocado e por isso dificultam a gratuito de musicoterapia. Os partici- brasileiro dificulta a aprovação para seleção de participantes para a pes- pantes ou a família entendem que estudos internacio- quisa. Acredito que a divisão dos par- receberão um tratamento gratuito, nais. Cabe salientar que os estudos ticipantes segundo o critério de sor- mas não se detém ao fato de que o internacionais devem ser analisados teio (randomização) seja o cerne das tratamento está atrelado a verifica- de modo especial pelo Conselho Naci- dificuldades para a realização de ECRs ção de um efeito em relação a uma onal de Pesquisa (CONEP) que costu- no Brasil. Quando o participante é determinada intervenção. ma levar escolhido para o grupo que não rece- No que diz respeito à aplicação do berá musicoterapia, muitas vezes a tratamento, é proibido cobrar por Na escolha dos participantes, há família ou o próprio participante de- uma intervenção que esteja atrelada uma dificuldade no Brasil para encon- siste de participar do estudo. Mesmo a uma pesquisa no Brasil. Não acho trar as pessoas elegíveis para os estu- que a pessoa saiba que depois do que devemos cobrar por uma inter- dos, pois muitas pessoas não possu- tratamento do grupo que receberá venção musicoterapêutica em uma em um diagnóstico formal da patolo- musicoterapia ele receberá essa in- pesquisa, mas tenho verificado nos gia em questão ou os instrumentos tervenção, a pessoa pode optar por últimos anos que as pessoas não atri- que realizam o diagnóstico ainda não desistir, pois não receberá musicote- buem o devido valor à musicoterapia foram validados para uso no Brasil rapia imediatamente. Além disso, quando ela é oferecida no contexto (GATTINO et al., 2014). Ainda, muitas muitas pessoas confundem pesquisa de investigação. Além disso, tenho multicêntricos em média um ano para aprovar esse tipo de projeto. percebido que muitos participantes faltam às intervenções ao longo do “Quando o participante é escolhido para o grupo que não receberá musicoterapia, muitas vezes a família ou o próprio participante desiste de participar do estudo. “ processo e isso ocorre em muitas situações por razões realmente sem fundamento: presença de chuva na cidade, esquecimento das sessões, JOMESP JORNAL DA MUSICOTERAPIA DO ESTADO DE SÃO PAULO Quarta Edição - P.21 grande dificuldade para conseguir disponibilizar no Brasil as escalas solicitadas para conduzir essa investigação, que ocorre no Brasil e em mais oito países (GERETSEGGER et al., 2012). Foi preciso comprar os direitos autorais de três escalas, bem como traduzir e adaptar para uso no Brasil um desses instrumentos de avaliação. Muitas escalas estão traduzidas e marcação de outros compromissos no concluir a avaliação da pesquisa, dei- adaptadas para uso no Brasil, porém horário das sessões. Ainda, é possível xando o investigador sem o resultado não foram publicadas por nenhuma perceber em algumas pessoas que necessário para a conclusão da estu- editora. Nesse caso, é preciso com- elas estão participando da pesquisa do. Saliento que essa situação não é prar diretamente da empresa que como se estivessem prestando um regra, mas acontece em diferentes detém os direitos autorais a partir de favor ao investigador. Algumas famí- investigações. Outro grande proble- um número de aplicação das escalas lias dificultam a participação no trata- ma na avaliação das variáveis é a utili- para fins de pesquisa. O processo de mento e exigem que as avaliações e zação de testes e escalas validadas compra dos direitos autorais e a tra- intervenções da pesquisa sejam reali- para uso no Brasil (tanto na área mu- dução e adaptação de uma das esca- zadas na casa do participante. sicoterapêutica quanto em outras las no estudo TIME-A atrasou a pes- A avaliação das variáveis da pes- áreas). Enfrentei dentro do estudo quisa em dois anos. Em outras pala- quisa também representa um grande internacional de Musicoterapia e Au- vras, enquanto outros países da pes- problema na condução de ECRs no tismo TIME-A, por exemplo, uma quisa já estavam coletando dados dos Brasil (WHEELER, 2005). Muitas ferra- participantes, nós no Brasil estáva- mentas de avaliação necessárias para mos realizando uma etapa anterior ao a mensuração dos desfechos são realizadas por profissionais de outras áreas oriundas da educação, psicolo- “Muitas ferramentas de avaliação necessárias para a início da investigação. Cabe salientar também que a falta de escalas de musicoterapia traduzidas e validadas gia e medicina, por exemplo. Esses mensuração dos desfechos profissionais podem ter dificuldade são realizadas por ção de experimentos, pois muitas em entender no que consiste a musi- profissionais de outras áreas vezes usamos escalas de outras áreas coterapia e de que forma a avaliação oriundas da educação, porque os nossos instrumentos de deles vai colaborar para a pesquisa.Inclusive, em alguns casos os profissionais alegam que não foi possível psicologia e medicina, por exemplo.“ para uso no Brasil dificulta a realiza- avaliação não foram submetidas a processos de validade. No momento da análise dos resul- JOMESP JORNAL DA MUSICOTERAPIA DO ESTADO DE SÃO PAULO Quarta Edição - P.22 tados, o investigador enfrenta um dificuldade. Vale lembrar que a ter- sistematização e rigor metodológico grande problema: a falta de prática ceira edição desse livro será publica- para comprovar que a musicoterapia com estatística. Nos cursos de gradu- da no ano que vem. funciona. A pesquisa em musicotera- ação e pós-graduação em musicotera- Além de todas as dificuldades de pia no Brasil tem uma grande forma pia os estudantes tem pouco contato logística já citadas até aqui, creio que na área qualitativa. Isso se justifica com termos da estatística e por isso o modo de pensar dos musicotera- pela origem histórica da musicotera- os alunos têm dificuldade para inter- peutas no Brasil sobre práticas basea- pia no Brasil que foi influenciada for- pretar os resultados de investigações das em evidências seja um dos gran- temente por modelos teóricos da quantitativas em musicoterapia. O des entraves para a realização de psicanálise, das teorias da comunica- investigador precisa muitas vezes experimentos no Brasil (GATTINO, ção, pelas teorias sociais e pela antro- aprender desde os elementos mais 2014). Temos um modo muito prático pologia, por exemplo. Nesse sentido, básicos da estatística para compreen- e empírico de comprovar que as nos- parece que o musicoterapeuta que der no que consistem os resultados sas intervenções funcionam. Isso não trabalha com experimentos precisa encontrados na sua pesquisa e que quer dizer que essa forma de pensar estar todo tempo justificando o por- relevância eles trazem para a prática seja melhor ou pior que o pensamen- quê está realizando esse tipo de pes- clínica. O livro Music Therapy Rese- to baseado em evidências. Todavia, quisa. Além desses fatores, cabe so- arch (2005), organizado pela musico- esse modo de entender a realidade mar a dificuldade encontrada no Bra- terapeuta Barba Wheeler talvez seja a traz dificuldades sobre o porquê é sil para realizar práticas sistemáticas melhor para resolver esse tipo de necessário fazer estudos com grande em musicoterapia. Muitos musicote- JOMESP JORNAL DA MUSICOTERAPIA DO ESTADO DE SÃO PAULO Quarta Edição - P.23 são uma boa solução para melhorar a “Muitos musicoterapeutas trabalham isolados nas suas pesquisas e acabam assumindo uma série de tarefas que dificultam a condução de um estudo. “ qualidade dos experimentos no Brasil. Muitos musicoterapeutas trabalham isolados nas suas pesquisas e acabam assumindo uma série de tarefas que dificultam a condução de um estudo. rapeutas criaram suas próprias esca- condução de experimentos em musi- las e suas próprias técnicas e por isso coterapia. Recomenda-se que os mu- é difícil traduzir esse tipo de situação sicoterapeutas que trabalham com para experimentos onde a sistemati- experimentos formem grupos de dis- zação é uma regra para explicar o cussão da mesma forma como ocorre efeito de um tratamento. em outros países. Há por exemplo Considerações finais uma rede de discussão de musicote- Não pretendo com esse texto rapeutas que trabalham com famílias mostrar que os experimentos sejam a e outra de profissionais que atuam no melhor opção de pesquisa em musi- campo do autismo. Esses grupos au- coterapia e que não temos condições xiliam na resolução de dúvidas e para realizar esse tipo de estudo. No questionamentos para uma melhor entanto, precisamos repensar muitas condução de experimentos e facilita a coisas se temos a pretensão de usar realização de estudos multicêntricos. esse tipo de pesquisa para justificar Justamente os estudos multicêntricos os efeitos da musicoterapia no Brasil, comparando os resultados encontrados com outros países que realizam esse mesmo tipo de pesquisa. Precisamos incentivar os estudantes de musicoterapia a conhecerem esse tipo de pesquisa como uma realidade possível para compreender os fenômenos que encontramos na nossa prática. É necessário aumentar a quantidade de cursos, seminários e formações específicos sobre metodologia de pesquisa para proporcionar discussões mais profundas sobre a Nesse sentido, com mais musicoterapeutas como responsáveis esse problema diminui e há um maior controle sobre as fases que precisam ser realizadas no estudo. Alguns colegas já relataram que se pudessem escolher não realizariam mais ensaios controlados randomizados. Realmente, não é uma tarefa fácil. No entanto, quando escolhemos ser musicoterapeutas sabíamos que estaríamos quebrando barreiras e paradigmas o tempo todo. Por isso, sempre é tempo de renovar as forças e seguir trabalhando. JOMESP JORNAL DA MUSICOTERAPIA DO ESTADO DE SÃO PAULO Quarta Edição - P.24 Dr. Gustavo Schulz Gattino Email: [email protected] Graduado em musicoterapia pelas Faculdades EST (2007), mestre (2009) e doutor (2012) pelo Programa de Pós-graduação em Saúde da Criança e do Adolescente pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É professor titular do curso de Licenciatura em Música da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Membro do Grupo de Pesquisa Educação Musical e Formação Docente (UDESC/CNPq). Realizou estágio de doutorado sanduíche pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) na Universidade do Porto (UP), cidade do Porto, Portugal. Foi musicoterapeuta voluntário em Portugal na Associação SócioTerapêutica de Almeida (ASTA) e no Movimento de Pais e Amigos do Diminuído Mental (MAPADI). Tem experiência no atendimento de indivíduos com deficiência intelectual, autismo e deficiências múltiplas em musicoterapia. Pesquisa os efeitos da musicoterapia para pessoas com autismo, deficiência intelectual e deficiências múltiplas. Desenvolve projetos de tradução e validação de instrumentos de avaliação em musicoterapia. Apresentou trabalhos na Argentina, Áustria, Brasil, Chile, Colômbia, Espanha e Portugal. É o coordenador brasileiro do estudo multicêntrico de Musicoterapia e Autismo TIME-A. Atualmente, é membro do conselho editorial da Revista Brasileira de Musicoterapia e coordena o Grupo Ibero-Americano de Investigação em Musicoterapia (GIIMT) no Brasil. REFERÊNCIAS Gattino GS. A influência da Musicoterapia na comunicação de crianças com transtorno autista. [Dissertação]. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2009. Gattino GS, Araujo GA, Rodrigues I, Mauat A. Instrumentos de avaliação em Musicoterapia validados no Brasil. XIV Encontro Nacional de Pesquisa em Musicoterapia. Brasília, Distrito Federal, nov 7-9, 2014. Gattino GS, Pesquisa em Musicoterapia.IV Fórum Catarinense de Musicoterapia. Florianópolis, Santa Catarina, nov 29, 2014. Geretsegger M, Holck U, Gold C. Randomised controlled Trial of Improvisational Music therapy's effectiveness for children with Autism Spectrum Disorders (TIME-A): study protocol. BMC Pediatr. 2012; 12(1):2. Moher D, Schulz KF, Altman D. The CONSORT Statement: revised recommendations for improving the quality of reports of parallel-group randomized trials 2001. Explore (NY). 2005 Jan;1(1):40-5. Wheeler, B. L. (Ed.). Music therapy research (2nd ed.). Gilsum, NH: Barcelona, 2005. JOMESP JORNAL DA MUSICOTERAPIA DO ESTADO DE SÃO PAULO Quarta Edição - P.25 Musicoterapeuta in foco "Almejar o equilíbrio, é aspirar a transformação do âmago" Porque decidiu cursar musicotera- Como foi sua experiÊncia na gradua- dantes e professores fizeram essa pia? ção? estrutura A minha intenção inicial foi cursar Umas das experiências mais ricas e do durante os 4 anos de curso. música, pois como sempre tive conta- gratificantes que já tive, graças aos Como foi sua experiência após a gra- tos com instrumentos musicais (por colegas de curso, que tive a felicidade duação, mercado de trabalho, espe- vontade própria e não por histórico de conhecer e, o corpo docente ser cialização? familiar) tive a grande ideia de me extremamente preparado para minis- Uma das experiências mais proveito- tornar maestro. Porém, os planos trar as aulas, auxiliando tanto em sas que tive na graduação foram os mudaram quando li o histórico do minha jornada profissional, quanto estágios, pois fazíamos os mesmos curso de Musicoterapia na FPA - Fa- pessoal. fora da instituição, em hospitais, clíni- culdade Paulista de Artes (atualmente Na com um curso de musicoterapia ex- a estrutura física que havia em outras tre tinto). instituições, porém a união dos estu- gios externos acabaram se tornando Foi então que decide fazer apenas o 1º semestre para ver se gostaria do que estava por vir. Dizer que gostei logo de cara e me apaixonei pela musicoterapia seria mentira, porém me aguçou a curiosidade de saber como realmente poderia funcionar uma "coisa" tão lúdica e artística no tratamento e auxílio de pessoas. Minha insistência e esta curiosidade me fez frequentar diariamente os oitos semestres que estariam por vir. faculdade não tínhamos passar despercebi- cas, ONG's, instituições, escolas, denoutros. Esses está- JOMESP JORNAL DA MUSICOTERAPIA DO ESTADO DE SÃO PAULO Quarta Edição - P.26 muito ricos devido ao contato com sional necessário em todos os mode- ses, auxiliando assim todos nós a en- outros profissionais, como fisiotera- los de atendimentos e, encaixados tendermos algumas diferenças cultu- peutas, psicólogos, terapeutas ocupa- em equipes inter e multidisciplinares. rais e suas implicações nas formas de cionais, fonoaudiólogos, entre outros. Além de musicoterapeuta, tenho du- atendimentos. Nestes estágios, tínhamos a oportuni- as especializações. Uma delas em dade de visualizar que a musicotera- Ciências da Saúde - Psicossomática, pia poderia atuar na saúde mental, onde me formei pela FACIS - Faculda- social, geriatria, educacional, e nas de de Ciências e Saúde ,que foi uma mais diversas áreas de atuação. Com experiência rica de conhecimentos, isso consegui filtrar onde exatamente pois durante os 3 anos de especializa- me encaixava no mercado de traba- ção estive em contato com outros Como é seu atendimento? lho e o que procuraria estudar após a profissionais, principalmente da área Trabalho com uma abordagem huma- graduação. da psicologia. Sendo um dos únicos nista: utilizo os dados que os pacien- O mercado de trabalho atualmente musicoterapeutas da turma, havia a tes trazem para mim. Trabalho com está se expandido não só em São Pau- curiosidade de saber mais sobre essa improvisação musical, construção de lo, mas pelo Brasil e pelo mundo. Ho- "tal instrumentos musicais, expressão não je encontramos poucas pessoas que mos sempre trocando informações. -verbal. Sempre procuro fazer um não sabem o que é musicoterapia, Minha outra especialização foi em método de re-criação, improvisação, dificilmente ouvimos aquele "hã!?" Neuromusicoterapia e Autismo, expe- composição. que estávamos acostumados a ouvir riência gratificante e rica, graças às Estou escrevendo dois artigos, sendo: na época da graduação. A maioria das trocas de materiais e informações A importância da composição musical pessoas, de alguma forma, já ouviu que se somaram durante o curso. O para o autista (cognitivo emocional) falar, seja pelos meios de comunica- mais interessante, neste curso, foi a e; A importância da construção dos ção, ou por conhecer algum profissio- diversidade cultural que tínhamos instrumentos musicais com paralisia nal e/ou estudante de musicoterapia. que conviver, pois a classe era forma- cerebral (motor e membro superior). Com isto ocorrendo, faz com que se- da por paulistas, paulistanos, baianos, Falarei brevemente sobre cada um. jamos reconhecidos como um profis- mineiros, cariocas e até amazonen- Construção de Instrumento profissão", com isso estáva- “comecei a introduzir o processo de construção de instrumentos no atendimento, com objetivos terapêuticos” O hobbie de construir instrumentos é Um trabalho que eu desenvolvo com autistas é a composição musical junto com imagens. mais antigo que a musicoterapia, portanto tenho muita experiência com as ferramentas e sei os cuidados para utilizá-las. A partir disso, comecei a introduzir o processo de construção de instrumentos no atendimento, com objetivos terapêuticos. JOMESP JORNAL DA MUSICOTERAPIA DO ESTADO DE SÃO PAULO Quarta Edição - P.27 A atividade contempla todos os tipos têm contato com isso em nenhum da produção de materiais como: gra- de pacientes, seja autista, deficiente lugar, portanto ficam muito entusias- vações de CD; quadros com as ima- intelectual ou pessoas com paralisia mados. Além disso, a vibração das gens e letra da música; ou seja, existe cerebral, trazendo benefícios para ferramentas motiva a vontade de uma produção artística que traz mui- todos. pegar a ferramenta. Aqueles que têm ta gratificação. Uma paciente fez uma A atividade envolve todos os proces- melhor tem a possibilidade de furar musica muito interessante que foi sos de construção, tais como: limpeza de utilizar todas as ferramentas. gravada por uma banda e, a mãe tam- de material, lixa, ferramenta, monta- Terapeutas ocupacionais e fonoau- bém fez um quadro para colocar na gem, acabamento e pintura. diólogos se interessam muito por esta parede da sala. Na paralisia, ao fazer esforços para metodologia no atendimento. pegar a ferramenta, o paciente traba- Composição Local de atendimento lha a extensão dos membros superio- Um trabalho que eu desenvolvo com Já trabalhei no centro dos paraplégi- res, o que é muito importante para autistas é a composição musical junto cos. Atualmente trabalho no Lar da ele. com imagens. São escolhidas imagens Redenção, que atende paralisia cere- São oferecidos todos os tipos de fer- de revistas a partir das quais são cria- bral que são (internos). Trabalho no ramenta necessários, como: serra tico das palavras, frases, melodias. LENDA, com todo tipo de síndromes, tico, serra circular, furadeira, ferra- Existem muitas composições musicais deficiências e autismo. mentais manuais. Muitos deles não como resultado desta proposta, além JOMESP JORNAL DA MUSICOTERAPIA DO ESTADO DE SÃO PAULO Quarta Edição - P.28 MUSICOTERAPIA SOCIAL Mais uma vez a musicoterapia esteve presente no Encontro Estadual de Trabalhadora(es) da Assistência Social de São Paulo, trabalhando pela regulamentação. Nosso querido coordenador da comissão de regulamentação Gildásio Januário nos escreveu contando como foi o evento. Os Mts Gildasio Januario e Lilian Foi feita uma análise pelos convi- anos, bandeiras de lutas para as con- Coelho, estiveram presentes no XIV dados, das conferências que já foram ferências assistências de 2015, mo- Encontro de Trabalhadoras e Traba- realizadas em âmbito municipal e ções para X Conferência Estadual os lhadores da Assistência Social de São bem como discussões acerca dos ce- principais desafios futuros, apresen- Paulo, que foi realizado no município nários políticos daquelas que irão ser tação das entidades que compõem o de Santo André. realizadas em âmbito estadual e fede- FETSUAS/SP e aquelas que irão conti- O tema do encontro foi: Conferên- ral. Ainda, sim a coordenação do FET- nuar na próxima coordenação execu- cias de Assistência Social: rumos do SUAS/SP apresentou um balanço das tiva. controle e da participação social. ações realizadas nos últimos dois JOMESP JORNAL DA MUSICOTERAPIA DO ESTADO DE SÃO PAULO Quarta Edição - P.29 As Conferências de Assistência Social são espaços de caráter deliberativo em que é debatida e avaliada a Política de Assistência Social. Também são propostas novas diretrizes, no sentido de consolidar e ampliar os direitos socioassistenciais dos seus usuários. Os debates são coletivos com participação social mais representativa, assegurando momentos para discussão e avaliação das ações governamentais e também para a eleição de prioridades políticas que representam os usuários, trabalhadores e as entidades de assistência social. Nas Conferências estaduais, participam os delegados, eleitos nas Conferências municipais, observadores e convidados credenciados. Já na etapa municipal, podem participar todos os sujeitos envolvidos na Assistência Social e pessoas interessadas nas questões relativas a essa Política. Fonte: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome JOMESP JORNAL DA MUSICOTERAPIA DO ESTADO DE SÃO PAULO Quarta Edição - P.30 A Musicoterapia, na Conferência Municipal da Assistência Social Entre os dias 14/09/2015 e 17/09/2015, a APEMESP representada pelo MT Gildasio Januario e a MT Allana Morais, participaram também da XI Conferência Municipal da Assistência Social, no Centro de Convenções Anhembi, São Paulo. A conferência acontece em esfera Regional, Municipal, Estadual e Federal esta edição tem como tema: Consolidar o SUAS de vez rumo a 2026. Na oportunidade, uma Moção (proposta pública com pedido de apoio) com base na Resolução 17/2011 do Conselho Nacional de Assistência Social, que reconhece o profissional Musicoterapeuta, a fim de garantir concurso público para a categoria na cidade de São Paulo. Entregamos alguns folhetos com informações gerais sobre a Musicoterapia e o SUAS, com o propósito de facilitar a compreensão daqueles que ali estavam. Em resumo, conseguimos apoio de mais de 160 presentes e a aprovação desta moção a ser encaminhada à Conferência Estadual em Setembro de 2015. É um espaço importante de Controle Social da política de Assistência, sendo assim, é imprescindível a participação de profissionais e estudantes de Musicoterapia. JOMESP JORNAL DA MUSICOTERAPIA DO ESTADO DE SÃO PAULO Quarta Edição - P. 31 Nos dias 12 e 13 de setembro foi ção. Informa que já conhecia as esca- incorporação do conhecimento em realizado no Centro de Musicoterapia las IMTAP, ERI, PAFM (Protocolo de escalas de avaliação com um foco e Benenzon Brasil o curso Práticas de Funções Musiciais), mas a participa- exploração desse conteúdo de forma Avaliação em Musicoterapia, minis- ção no curso ampliou seus conheci- mais profunda desde a graduação, o trado pelos musicoterapeutas Gusta- mentos e visão sobre o uso das esca- que poderia conceder aos formandos vo S. Gattino e Karina D. Ferrari, onde las. E complementa acrescentando outras ferramentas para a prática foram apresentadas as principais es- que considera muito importante a clínica. calas de avaliação de musicoterapia validadas no Brasil, e aproveitamos para bater um papo com a musicoterapeuta Fabiane Mayume Shimoze. Fabiane nos conta que atualmente é aprimoranda em musicoterapia na AACD e em sua prática clínica surgiram alguns questionamentos sobre a disponibilidade e utilização de escalas de avaliação específicas em musicoterapia para verificar a evolução do paciente. Essas questões, junto com algumas necessidades surgidas em suas pesquisas, despertaram o interesse em aprimorar-se quanto a escalas de avalia- Fabiane Mayume Shimose Musicoterapeuta formada pela Faculdade Paulista de Artes (FPA) Estudou Especialização em Arteterapia, também pela FPA Atualmente atua como musicoterapeuta aprimoranda na AACD e educadora musical. JOMESP JORNAL DA MUSICOTERAPIA DO ESTADO DE SÃO PAULO Quarta Edição - P.32 CLASSIFICADOS CANTO YBÁ INSTRUMENTOS MUSICAIS ARTESANAIS Bongo de bambu Bongo de coco Tambor bambu grd, med, peq Cabuletê bambu Cabuletê coco Cabuletê cabaça Ganzá bambu med e peq Guizo de arco Maraca de cabaça Pau de chuva med, grd Réco réco Tambor de cabaça Tambor de coco Tambor de língua 2 ou 3,4 pts Tambor PVC Tambor PVC bocal duplo ou triplo Xequerê grd ou peq Pandeiro Quadrado Tel. 99739-0110 Email: [email protected] JOMESP JORNAL DA MUSICOTERAPIA DO ESTADO DE SÃO PAULO Quarta Edição - P.33 QUADRINHO Colaboração de Raquel Costa e Silva, 13 anos JOMESP JORNAL DA MUSICOTERAPIA DO ESTADO DE SÃO PAULO Quarta Edição - P. 34 Redação: envie sugestões, comentários, críticas e dúvidas. Colaboração: Escreva para a gente se deseja participar do jornal. Email: [email protected] FALE CONOSCO: cias: [email protected]. SITE: www.apemesp.com Solicitação de 2ª via de carteirinha: [email protected] FACEBOOK: https://www.facebook.com/apemesp Se procura um musicoterapeuta: //www.apemesp.com/ > Consulte um Mt Outros assuntos: http:// www.apemesp.com/ > Contato Para associar-se: http://www.apemesp.com/ > Associe-se Atualização de dados cadastrais; alteração de categoria (de estudante para bacharel/ especialista): [email protected]. Pagamento de anuidades, consultas sobre pendên- REALIZAÇÃO Associação de Profissionais e Estudantes de Musicoterapia do Estado de São Paulo