Diminuem transplantes de rins no RN

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Natal, 07 de Março de 2012 | Atualizado às 16:44
Diminuem transplantes de rins no RN
Órgão vital para funções básicas do corpo humano, como a eliminação de substâncias
tóxicas, o rim é, mundialmente, um dos órgãos mais requisitados para transplante. Na
lista de espera no Rio Grande do Norte, 87 pacientes aguardam um novo rim, número que
poderia ser bem menor se não fossem as dificuldades enfrentadas pelo centro de
transplante do órgão, único do Estado, localizado no Hospital Universitário Onofre
Lopes (HUOL). No ano passado, a média de procedimentos chegou a seis por mês,
quantidade inferior aos 11 transplantes mensais realizados em anos anteriores.
Frankie Marcone
Nefrologista Flávio Ribeiro Dantas de Aguiar quer mais consciência
De acordo com o nefrologista e coordenador da Central de Transplantes no Rio
Grande do Norte, Rodrigo Furtado, a explicação para o decréscimo reside no fato de
que os médicos do HUOL não conseguem absorver a demanda proporcionada pelo
aumento na captação de órgãos, aprimorada em 2011. "Em virtude desse crescimento, os
profissionais que realizam os transplantes estavam trabalhando mais pelo mesmo valor.
Foi então que eles resolverem barrar o número de cirurgias", explica o nefrologista. Por
causa da limitação, cerca de 60% dos rins captados por mês no RN são distribuídos para
outros Estados, como Pernambuco e Ceará.
Questionado sobre a situação, o coordenador da equipe cirúrgica de transplantes
renais do HUOL, Paulo José Medeiros, argumentou que a redução da equipe foi o
que influenciou a diminuição dos procedimentos. A questão salarial, segundo ele, não
interfere na produtividade dos cirurgiões. "Se hoje chegar um rim compatível com um
paciente do nosso Estado, realizaremos o transplante sem problemas", afirmou. De
acordo com Paulo, o processo para contratação de novos profissionais é lento e
burocrático e, enquanto não for resolvido, o centro de transplantes continuará funcionando
com capacidade reduzida.
Em alguns casos, se a necessidade for extrema e equipe não der conta, os próprios
pacientes são transferidos para outros Estados. A solução, no entanto, não é a ideal.
"Com essa medida o governo estadual gasta mais. O melhor seria podermos realizar
todos os transplante aqui", complementa.
Apesar desses entraves, o nosso Estado foi o que mais cresceu na captação de órgãos,
deixando para trás Santa Catarina, São Paulo e Ceará, considerados grandes centros
captadores. Também ultrapassamos esses mesmos centros na identificação de potenciais
doadores. Os dados são do Registro Brasileiro de Transplantes (RBT) e atestam a
posição do RN em relação à recomendação do Ministério da Saúde, que espera, até
2015, um aumento no número de doadores: para cada um milhão de habitantes, 15
deverão ter doador.
"Alcançamos essa marca bem antes, já em 2011. Estamos orgulhosos e prosseguiremos
na luta", contou Rodrigo. O Rio Grande do Norte também realiza transplantes de médula
óssea, córneas e rins. Até o fim do ano, a lista de especialidades deve incorporar os
transplantes de coração e fígado.
A espera
Maria da Conceição Serafin, 61 anos, é uma das pacientes que esperam por um
transplante de rim. A empresária aguarda por um doador compatível há mais de um ano.
A rotina de Maria consiste em visitas diárias ao Centro de Hemodiálise da Ribeira, em
Natal, onde retira o líquido acumulado em virtude do mau funcionamento dos seus rins.
Desde que descobriu a doença, em 2009, o número de medicamentos que precisa tomar
diariamente só tem crescido. Hoje em dia são 20.
A filha Jaqueline Serafin acompanha o sofrimento de Maria bem de perto. Por causa da
hemodiálise, os pulmões e o coração da mãe já estão sobrecarregados. "Ela já perdeu
uma irmã por causa do mesmo problema. Não queremos que aconteça de novo",
desabafa Jaqueline. A filha acredita que o transplante da mãe já teria sido feito se a
central do HUOL estivesse funcionando normalmente. Até hoje, por exemplo, a
família não teve acesso à lista de pacientes prioritários. Mãe de 3 filhas - todas
impossibilitadas de doar devido a doenças crônicas - Maria da Conceição espera retornar
às atividades normais o mais breve possível. "Quero voltar a viver", disse.
Sociedade de Nefrologia faz campanha preventiva
Estudos populacionais em diferentes países têm demonstrado uma predominância da
Doença Renal Crônica (DRC) de 7% para indivíduos acima de 30 anos e 28% a 46% em
indivíduos acima de 64 anos, como é o caso de Maria da Conceição.
Para tentar diminuir esses índices, a Sociedade Brasileira de Nefrologia realiza nesta
quinta, em todo o país, atividades relacionadas ao Dia Mundial do Rim, comemorado no
dia 8 de março. No Rio Grande do Norte estão previstas distribuição de folhetos e
palestras nas zonas oeste e zona norte de Natal e nos municípios de Caicó, Assu, Pau
dos Ferros e Mossoró; o objetivo é alertar governantes e a população para a gravidade
da doença, que já atinge 10 milhões brasileiros. A programação completa pode ser vista
aqui: http://www.sbn.org.br/pdf/rn.pdf
"A Doença Renal Crônica é silenciosa. A população precisa se conscientizar de que a
negligência pode levar ao óbito", explica o nefrologista e presidente da Sociedade
Regional de Nefrologia, Flávio Ribeiro Dantas de Aguiar. Segundo ele, é preciso que o
cidadão incorpore o hábito de solicitar exames para avaliar a saúde dos rins. Em muitos
casos, a deficiência do órgão só é detectada quando a necessidade de transplante já é
urgente.
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