1 INTERFERÊNCIAS PSICOSOCIAIS E ECONÔMICAS NO COMPORTAMENTO DE CONSUMO DOS HABITANTES DO VALE DO AÇO/MG Aeverton Ricardo de Oliveira Gonçalves Graduando do Curso de Administração de Empresas do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais / Unileste-MG; Bolsista do PIC-Programa de Iniciação Cientifica / Unileste-MG Santúsia Nunes Rabelo Dra. em Psicologia Clinica do Trabalho e Professora dos Cursos de Administração e Psicologia do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais / Unileste-MG RESUMO Este estudo é o resultado de uma pesquisa referente à análise de interferências psicosociais e econômicas observadas no comportamento de consumo em habitantes dos municípios de Coronel Fabriciano, Ipatinga e Timóteo no estado de Minas Gerais. Teve como objetivo principal conhecer as influências a que os consumidores da região do Vale do Aço estariam sujeitos e os fatores que contribuem para seus hábitos quotidianos de consumo. A discussão resultou inicialmente de uma pesquisa bibliográfica e posteriormente empírica, desenvolvida com o intuito de contribuir para a compreensão de hábitos específicos de consumo dos habitantes da referida região. Os resultados contemplam os seguintes itens: a influência da renda no consumo das pessoas, a satisfação, o prazer e o bem estar proporcionados pelo consumo dos produtos do mercado, o comportamento de consumo das pessoas mediante a atual condição em que vive nosso país, os reflexos das taxas de juros e índices de desemprego no consumo do mercado e o desconforto ocasionado por uma compra mal feita. Um dos resultados interessantes deste estudo é que a população da referida região parece estar preocupada em relação ao seu futuro, uma vez que, esta deu grande importância a poupança, aos estudos dos filhos, aos cursos de especialização e também a reforma da casa. Constatou-se também que tanto os homens tanto as mulheres buscam alcançar bem estar e satisfação em virtude dos produtos/objetos consumidos e o comportamento de investir em poupança se mostrou uma realidade ou mesmo uma tendência para os participantes deste estudo. Palavras–chave: comportamento de consumo, fatores econômicos e psicosociais e habitantes do Vale do Aço – MG. ABSTRACT This paper discusses the results of a research study undertaken to analyze how psycho-social and economic factors influence the consumer behavior of residents living in the municipalities of Coronel Fabriciano, Ipatinga and Timóteo in the state of Minas Gerais. These three municipalities constitute the micro-region called “ Vale de Aço”. The objective of the study was to understand the impact these factors can have on the everyday consumer habits of the people. A literature survey was carried out first, followed by an empirical analysis developed to identify the specific consumer habits of the people from the three municipalities The research contemplated the following themes: the effect of income on consumption, customer satisfaction, pleasure and welfare, living conditions, as well as the effect of taxes on unemployment, Another aspect that was analyzed was the dissatisfaction and discomfort that is brought upon the community by low purchasing power. Another significant result was the growing worry of the people about their future, on savings, education of children and owning a home. It was observed that both men and women aspire to have a good living standard and a sense of satisfaction from the products they consume, and it became evident that there was a rising tendency for the people to invest on savings. Key-words: consumer behavior, psycho-social and economic factors and residents in Vale do Aço – MG. 2 INTRODUÇÃO À volta do homem moderno prolifera-se uma espécie de consumo abundante, representado pela multiplicação fantástica de objetos, de serviços e de bens materiais que são colocados a sua disposição. Tal como o homem primitivo se via diante da lei da selva para sobreviver, o homem na modernidade depara-se com objetos que se apresentam como um “vegetal” que se prolifera, regido pela lei do valor de trocai Segundo Smithii (1985) esta abundância de objetos/produtos ofertada pelo mercado teve como impulso a própria divisão do trabalhoiii. O que originou-se do aumento exagerado de produtos industrializados; acarretando diversas outras implicações diretas no mercado de trabalho. Sua interferência não se deu somente no âmbito das atividades especializadas das fábricas, envolvidas na produção em larga escala. Atividades de aperfeiçoamento, de melhoramento e de pesquisa foram também desenvolvidas para que agregassem outros valores aos bens produzidos e assim trouxessem uma maior comodidade aos usuários e por conseqüência maior consumo. Dessa forma vê-se que a sociedade pós-industrial deslocou sua ênfase da produção para o consumo. O próprio homem se viu satisfazendo seus desejos e vontades em virtude de uma sociedade cujos valores enfatizam um alto padrão de consumo. Neste mundo, o verbo consumir está atrelado a produtos de alta tecnologia que movimentam a máquina econômica. O notável crescimento tecnológico impulsionou o desenvolvimento de novas tecnologias principalmente as telecomunicações e a informática, ou em outras palavras a sociedade da comunicação. No entanto, através do avanço tecnológico, as empresas puderam disponibilizar mais produtos no mercado com um menor intervalo de tempo. Este período foi marcado pela explosão da oferta que culminou num leque farto e variado de produtos no mercado. A presença dessa artificialidade pode explicar a criação de objetos como que num jogo de concorrência entre as empresas que através de seus departamentos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) se esmeram em processos de inovação de produtos. Por conseqüência, com o objetivo de assegurar a sobrevivência da empresa, a inovação fustiga a demanda, puxando-a para níveis de renda e de consumo cada vez mais altos. Esta artificialidade é também uma marca definitiva no controle e transformação que o homem faz da natureza. Enquanto na sociedade natural, anterior ao capitalismo moderno, o homem se via limitado às condições de sobrevivências naturais, (sendo o seu consumo altamente natural, ou seja, de produtos naturais), o homem na sociedade moderna passa a ser o senhor da natureza, administrando-a, regulando-a e transformando-a a seu critério e a seu dispor. Como resultado há um imenso manancial de recursos colocados à disposição da sociedade, seja para consumo, seja para investimento. Aparecendo na sociedade moderna à figura dos grandes centros comerciais (os shoppings) com sua variedade de lojas, disponibilizando uma infinidade de objetos/produtos no mercado a fim de aflorar no homem o seu mais íntimo desejo, o que também é relatado por Baudrillard: “Todas as ruas, com as montras (vitrinas) repletas, cintilantes [...] toda a festa alimentar e vestimentar que põem em cena, tudo estimula a salivação fantástica [...] os nossos mercados, artérias comerciais, imitam assim uma natureza reencontrada, prodigiosamente fecunda: são os nossos vales de Canaã onde correm, em vez do leite e do mel, as ondas de néon sobre o ketchup e o plástico”. Baudrillard (1995, p. 16) 3 Ainda segundo Baudrillard (1972, p.137) “as diferenças são atualmente produzidas industrialmente, burocraticamente programadas sob a forma de modelos coletivos”. Assim o que as empresas fazem nada mais é que rotular seus produtos, atribuindo-lhes signosiv. A esse respeito Bock (2001, p. 56) analisa que a primeira forma de debate aponta, então a série de modificações que expressariam o surgimento de uma nova condição, como resultado do desenvolvimento do capitalismo. O capitalismo, com suas características intrínsecas levaria a uma realidade social, econômica e política nova, totalmente atrelada e dependente do desenvolvimento tecnológico e do desenvolvimento dos signos e símbolos. Uma nova sociedade, cujas leis não seriam mais as da luta de classes, mas as da produção de símbolos e tecnologias. Tratar-se-ia da consolidação de uma sociedade tecnológica com o fim das classes sociais e da dicotomia capital-trabalho Dessa forma os produtos industrializados evidenciaram características específicas, visíveis que os diferenciaram dos demais produtos no mercado. O produto rotulado é agora um “signo” que se apresenta no mercado através das estratégias de marketing. É este ultimo que cria e lança modelos de utilização de objetos veiculando junto aos produtos a figura do signo. O que é transmitido em forma de linguagem, trabalhando na cabeça das pessoas uma imagem arquitetada (pronta) dos produtos. Um símbolo/signo que emite uma mensagem de conforto, de bem estar proporcionado pelo estimulo visual do produto. Ou seja, o que o signo faz então é ativar por meio de estímulos sensoriais a vontade do indivíduo de satisfazer um desejo. Além de conforto e bem-estar os objetos consumidos garantem ainda a seus consumidores ares de poder e status: [...] os objetos nunca se esgotam naquilo para que servem, e é neste excesso de presença que ganham a sua significação de prestígio, que designam não já o mundo, mas o ser e a categoria social do seu possuidor (Baudrillard 1972, p. 14). Em meio a tudo isso aparece ainda o mecanismo de discriminação social, uma vez que, os consumidores ao manifestarem suas preferências de consumo, reafirmam as diferenças criadas pelas indústrias, já que os objetos ganham significação perante a sociedade, quando consumidos pelas pessoas. Por conseqüência, os meios utilizados pelo marketing e veiculados pela manipulação e consumo exagerado de objetos geram, cada vez mais, controle e estratificação das classes. O que segundo nossas observações e analises é explicitado por influencias econômicas e psicosociais. OBJETIVO E CONTEXTO Este trabalho busca apresentar algumas influências identificadas em uma amostra aleatória de consumidores/habitantes da região do Vale do Aço - MG. Para tal, considerou-se que as influências constituidoras dos hábitos de consumo poderiam ocorrer tanto no âmbito social, psicológico ou econômico. O contexto escolhido: ou seja, as cidades de Coronel Fabriciano, Ipatinga e Timóteo, justifica-se, uma vez que, estas são consideradas como as cidades mais importantes e expressivas que compõem o cenário da região do Vale do Aço - MG. Nossa amostra compõe-se de 568 questionários aplicados na referida região; o que caracteriza uma pesquisa-piloto, visto que o total da população da região é de 381.425 habitantes de acordo com o censo demográficov do ano de 2000. Os questionários foram aplicados aleatoriamente em diversos locais. Na cidade de Coronel Fabriciano participaram pessoas de circulação pela prefeitura municipal desta cidade, alunos e professores do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – Unileste-MG, habitantes dos bairros Caladinho, Planalto e 4 Centro. Em Ipatinga, habitantes dos bairros Areal, Bom Retiro, Imbaúbas, Veneza, Centro e usuários do Shopping do Vale do Aço participaram do estudo. E na cidade de Timóteo, moradores dos bairros João XXIII, Quitandinha, Olaria e Centro também contribuíram para este estudo. RESULTADOS E COMENTÁRIOS DO ESTUDO Identificação dos participantes Quanto a distribuição por gênero, do total de 568 participantes, 305 pessoas são do sexo feminino, o que corresponde a 53,7% da amostra. 263 homens contribuíram para este estudo, ou seja, 46,3% do total de participantes. Assim, esta pesquisa compõe-se de um numero relativamente próximo entre homens e mulheres.vi Segundo amostra pesquisada, quanto a faixa etária dos habitantes do Vale do Aço que participaram deste estudo, a parcela mais significativa, representada por 40% desta amostra, está classificada no intervalo de 35 a 44 anos de idade. 26,2% encontra-se entre os 25 a 34 anos. Os acima de 45 anos compõe-se de 22,2% do total de participante e a parcela menos significativa está representada por 11,6% enquadrandose na faixa etária de até 24 anos. Ainda em relação a análise da identificação dos participantes deste estudo, do total de mulheres, 81,3% mantém um vínculo empregatício e do total de homens, 87,8% dentre eles também exerce alguma atividade remunerada. O que representa um número próximo da igualdade entre homens e mulheres que exercem atividade remunerada. Assim pode-se dizer que, dentre aqueles que colaboraram para este estudo (realizado no Vale do Aço/MG), tanto os homens quanto às mulheres participam do mercado de consumo e com uma diferença vantajosa de apenas 6,5% para os homens; dados que se aproximam da realidade nacional e regional.vii Quanto ao estado civil de nossos participantes, estes se distribuem em 50,4% de casados, 19,0% de solteiros, 12,3% de divorciados, 9,9% de separados e 8,5% de viúvos. Aspectos econômicos que influenciam no comportamento de consumo Uma das preocupações desta pesquisa foi identificar a influência do fator econômico (renda mensal) no comportamento de consumo dos participantes. Assim, num primeiro momento foi estabelecida uma relação entre a renda pessoal e a quantia desta renda que sobra para gastos considerados supérfluos. Na busca de informações sobre características desse fator de influencia, foi dada uma situação hipotética em que cada habitante respondesse a pergunta: se você gasta 70% de sua renda mensal com necessidades básicas (água, luz...), o que você faz com os 30% restantes? Dessa forma, poder-se-ia observar qual seria o destino dado àquela parcela da renda mensal que sobra após serem pagas as despesas rotineiras do mês. De acordo com os resultados apresentados pela TAB. 1, pôde-se observar que aqueles que têm rendimentos até 1 salário mínimo apresentam maiores interesse em investir em poupança; opção vista como a mais significativa para gastos mensais considerados supérfluos. Esta seria a opção de 20,9% destes consumidores. Como segunda opção de escolha, estes optaram em trocar/comprar carros, sendo a preferência de 19,4% dos participantes. Os demais participantes desta faixa salarial diluíram suas preferências entre as outras propostas como está demonstrado abaixo. 5 Tabela 1 - Sobra de renda-30% X Rendimentos Pessoais Até 1 salário Entre 2 e 4 Entre 5 e 7 Mais de 8 Total mínimo salários mínimos salários mínimos salários mínimos Rendimentos / Sobra de Renda Gastaria viagens em 10,4 % (7) 8,6 % (26) 7,8 % (51) 8,8 % (50) 8,4 % (134) Investiria poupança em 20,9 % (14) 16,9 % (51) 13,4 % (88) 17,7 % (101) 15,9 % (254) Trocaria/Comprari 19,4 % (13) a carros 11,9 % (36) 16,4 % (108) 14,4 % (82) 15,0 % (239) Eletrodoméstico 1,5 % (1) 10,3 % (31) 8,1 % (53) 9,6 % (55) 8,8 % (140) p/ 7,5 % (5) 15,2 % (46) 12,9 % (85) 13,8 % (79) 13,5 % (215) Reservariam imprevistos Reformaria casa 13,4 % (9) 12,3 % (37) 14,5 % (95) 13,0 % (74) 13,5 % (215) Comprariam móveis 10,4 % (7) 13,9 % (42) 14,5 % (95) 10,9 % (62) 12,9 % (206) Roupas e objetos 16,4 % (11) pessoais 10,9 % (33) 12,5 % (82) 11,9 % (68) 12,1 % (194) Total 100 % (302) 100 % (657) 100 % (571) 100 % (1597) 100 % (67) Os valores da tabela estão apresentados em porcentagens, analisados por colunas e estabelecidos em 1.597 respostas. O item investir em poupança também seria a primeira escolha daqueles que ganham entre 2 e 4 salários mínimos, correspondendo a 16,9% destes consumidores. Estes apresentaram ainda como segunda opção para destinar os rendimentos que estão fora dos compromissos mensais, o item reservar para imprevistos, sendo a opção de escolha de 15,2%. Já os consumidores da faixa de rendimentos entre 5 e 7 salários mínimos teriam na opção de trocar/comprar carros, a escolha mais importante, sendo escolhida por 16,4%. Os itens reforma da casa e compra de móveis estão empatados, pois ambos foram escolhidos pela mesma parcela da amostra, ou seja, por 14,5% dos consumidores desta faixa de rendimentos. Para aqueles que tem rendimentos superiores a 8 salários mínimos, o item principal de escolha foi investir em poupança com 17,7% e o item trocar/comprar carros está em segundo grau de importância, escolhido por 14,4% dos participantes desta faixa. Analisando os resultados acima como um todo, observa-se que em geral os itens investir em poupança e trocar/comprar carros apresentam-se como aqueles de maior interesse entre os participantes segundo suas rendas mensais. 6 Outro fator de influência econômica (aumento de salário) também foi investigado. A esse respeito os participantes foram questionados quanto à destinação dos rendimentos, diante de possíveis acréscimos em seus salários. Dessa forma estariam sendo visualizados alguns dos desejos latentes destes homens e mulheres do Vale do Aço, quanto aos seus comportamentos de consumo. Para isso cada um deveria responder a seguinte pergunta: se você tivesse um aumento de salário considerável, em quais destes itens investiria? Apresentam-se abaixo os resultados encontrados em função do possível aumento nos rendimentos mensais. Rendimentos / Acréscimo de renda Tabela 2 - Acréscimo de renda x Rendimentos pessoais Entre 2 e 4 Entre 5 e 7 Mais de 7 Até 1 salário mínimo salários salários mínimos salários mínimos mínimos Sem resposta 2,6 % (3) Total 1,4 % (7) 0,5 % (5) 0,8 % (7) 0,8 % (22) 6,5 % (32) 3,7 % (40) 4,9 % (45) 4,6 % (121) Computador 10,3 % (12) 6,7 % (33) 6,1 % (65) 6,3 % (58) 6,4 % (168) Cirurgia estética 8,6 % (10) 5,5 % (27) 6,5 % (70) 6,0 % (56) 6,3 % (163) Livros 6,9 % (8) 6,1 % (30) 6,2 % (67) 5,5 % (51) 6,0 % (156) Celular 6,9 % (8) 5,1 % (25) 5,8 % (62) 6,4 % (59) 5,9 % (154) Viagens 7,8 % (9) 7,3 % (36) 9,0 % (97) 8,5 % (79) 8,5 % (221) Carro/moto 8,6 % (10) 7,8 % (38) 8,5 % (91) 7,4 % (69) 8,0 % (208) Cursos 8,6 % (10) 10,2 % (50) 10,0 % (107) 9,2 % (85) 9,7 % (252) Reforma da casa 8,6 % (10) 9,8 % (48) 9,8 % (105) Estudo dos filhos 8,6 % (10) 9,4 % (46) 10,6 % (114) 10,8 % (100) 10,4 % (270) Poupança 7,8 % (9) 10,6 % (52) 11,6 % (125) 11,3 % (105) 11,2 % (291) Lazer 6,0% (7) 7,6 % (37) 6,1 % (66) 7,0 % (65) 6,7 % (175) Móveis para casa 5,2 % (6) 5,9 % (29) 5,6 % (60) 5,2 % (48) 5,5 % (143) Total 100 (116) Aparelho de DVD / 3,4 % (4) Vídeo % 100 % (490) 100 (1074) 10,8 % (100) 10,1 % (263) % 100 % (927) 100 (2607) % Os valores da tabela estão apresentados em porcentagens e analisados em coluna estabelecidos em 2607 respostas. Nesta questão o participante poderia marcar mais de uma opção. 7 Do total de respostas (2.607), os itens considerados mais significativos foram: poupança, representada por 11,2% dos participantes (o que também foi verificado na tabela 5 como opção mais escolhida), estudo dos filhos (10,4%) e reforma da casa (10,1%). Segundo estes resultados certifica-se que para essas pessoas os investimentos, realizados tanto com o que sobrou da renda mensal quanto com o possível aumento de salário, podem ser prioritariamente destinados à poupança. A este respeito podemos dizer que há, por parte destes consumidores, certa preocupação com o futuro. Essa preocupação poderia justificar-se, em partes, nos altos índices de desemprego (e instabilidade economia) que caracteriza o momento econômico do país.viii Quanto a distribuição por faixa de renda e itens importantes para se investir, os traços de comportamento de consumo pouco se diferem. Para facilitar nossa análise optamos por considerar mais significativos destacar os 4 índices mais representativos, apresentados por cada faixa de rendimento. Desta forma obtivemos como resultado a presença dos itens: Poupança, Estudo dos filhos, Reforma da casa e Cursos como os itens mais significativos para todos os níveis de rendimentos com alterações pouco significativas. Já as pessoas com rendimento mensal de até 1 salário mínimo apresentaram ainda uma diferença em sua escolha. Estas apresentaram também interesse nos itens Computador, Carro/moto e Viagens dentre os três mais significativos para os seus interesses. Verificou-se então que o destino dos recursos financeiros (rendimentos que sobram e aumento de salário), entre todas as faixas de rendimentos é bem semelhante estando pulverizados entre as várias opções disponibilizadas para a escolha. Vê-se que quanto maior o nível da faixa de renda desses consumidores, menor é a preocupação com bens materiais domésticos, uma vez que, a maior parte destes bens já deve estar presente em suas casas. Para Baudrillard (1995, p.80), a circulação, a compra, a venda, a apropriação de bens e de objetos/signos diferenciados constituem hoje a nossa linguagem e o nosso código, por cujo intermédio toda a sociedade comunica e fala. Baudrillard (1995, p.59) diz ainda que os objetos na sociedade se ordenam como valores estatutários (regras e costumes) e através da manipulação dos significantes sociais uma hierarquia social se manifesta. Portanto vê-se que o consumo não é somente uma simples atividade em que o homem compra ou vende produtos no mercado. Parece que o consumo se apresenta como um meio de comunicação, uma vez que, as pessoas estão inseridas em uma comunidade e acabam se comunicando ao consumir os objetos que são disponíveis as suas faixas de renda. Outro resultado que chamou nossa atenção está na constatação de que não podemos afirmar que “quem ganha mais gasta mais”. Segundo tabela abaixo, a distribuição por faixa de rendimentos mensais e a escolha da forma de pagamento de uma compra obtivemos o resultado de que tanto aqueles que ganham até 1 salário mínimo quanto aqueles que ganham acima de 2 salários, em níveis não proporcionais, tendem a economizar. Tabela 3 - Renda X Opção de compra aproveitaria aproveitaria Parcelar o pagamento Non- réponse pagaria à vista parcelaria o e aproveitaria pagamento e para comprar para comprar para aproveitaria outros outros economizar para produtos a vista produtos economizar também parcelados Rend.-indivíduais Non- réponse 0,0% ( 0) 50,0% ( 5) 20,0% ( 2) 10,0% ( 1) 20,0% ( 2) 4,0% ( 2) 42,0% ( 21) 20,0% ( 10) 10,0% ( 5) 24,0% ( 12) até 1 salário mínimo 3,7% ( 9) 42,4% (103) 23,0% ( 56) 9,9% ( 24) 21,0% ( 51) entre 2 e 4 salários mínimos 4,0% ( 7) 32,2% ( 56) 27,0% ( 47) 13,2% ( 23) 23,6% ( 41) entre 5 e 7 salários mínimos 5,5% ( 5) 37,4% ( 34) 28,6% ( 26) 9,9% ( 9) 18,7% ( 17) acima de 8 salários mínimos 4,0% ( 23) TOTAL 38,6% (219) 24,8% (141) 10,9% ( 62) 21,7% (123) TOTAL 100% ( 10) 100% ( 50) 100% (243) 100% (174) 100% ( 91) 100% (568) 8 Os valores da tabela estão representados em porcentagens e analisados pela linha em um total de 568 participantes. Essa realidade pode, em partes, ser explicada em função da relação existente entre consumo e nível de renda chamada de teoria geral. Keynes foi quem estabeleceu essa relação (consumo e nível de renda). Para ele quanto maior for a renda maior tende a ser o consumo. A teoria geral corresponde a uma lei psicológica fundamental: onde os indivíduos aumentam o consumo conforme a renda aumenta, mas não na mesma magnitude, pois ocorre também um aumento da poupança ou desejo de economizar que foi então verificado por nossa amostra de consumidores (Gremaud, 1999). Outra observação realizada quanto ao desejo de economizar é que não foi observada uma diferença significativa entre homens e mulheres. Os resultados mostram que na atual conjuntura ambos estão preocupados em fazer economias, como é demonstrado na tabela abaixo. No ato da compra de um produto o vendedor lhe oferece a condição de vários parcelamentos para o pagamento. Neste caso, o que você faria? Tabela 4 - Parcelar o pagamento x Sexo sexo Parcelar o pagamento Non- réponse pagaria à vista e aproveitaria para economizar parcelaria o pagamento e aproveitaria para economizar aproveitaria para comprar outros produtos a vista aproveitaria para comprar outros produtos também parcelados TOTAL masculino feminino TOTAL 2,7% ( 7) 33,3% ( 88) 30,3% ( 80) 10,2% ( 27) 23,5% ( 62) 100% (264) 5,3% ( 16) 43,1% (131) 20,1% ( 61) 11,5% ( 35) 20,1% ( 61) 100% (304) 4,0% ( 23) 38,6% (219) 24,8% (141) 10,9% ( 62) 21,7% (123) 100% (568) Os valores da tabela estão representados em porcentagens e analisados pela coluna em um total de 568 participantes. Mas as mulheres em particular preferem aproveitar o parcelamento para gastar mais um pouco, comprando outros produtos à vista, como pode ser verificado nas tabelas abaixo. No ato da compra de um produto o vendedor lhe oferece a condição de vários parcelamentos para o pagamento. Neste caso, o que você faria? Tabela 5 - Parcelar o pagamento x Sexo sexo Parcelar o pagamento Non- réponse pagaria à vista e aproveitaria para economizar parcelaria o pagamento e aproveitaria para economizar aproveitaria para comprar outros produtos a vista aproveitaria para comprar outros produtos também parcelados TOTAL masculino feminino TOTAL 30,4% ( 7) 40,2% ( 88) 56,7% ( 80) 43,5% ( 27) 50,4% ( 62) 46,5% (264) 69,6% ( 16) 59,8% (131) 43,3% ( 61) 56,5% ( 35) 49,6% ( 61) 53,5% (304) 100% ( 23) 100% (219) 100% (141) 100% ( 62) 100% (123) 100% (568) Os valores da tabela estão representados em porcentagens e analisados pela linha em um total de 568 participantes. 9 Em resumo, constata-se nas tabela acima que 20,1% das mulheres parcelaria o pagamento e aproveitaria para economizar. Essa mesma condição foi aceita por 30,3% dos homens. Assim parece que os homens estão com um comportamento de consumo menor que o das mulheres, uma vez que, uma grande parte das mulheres também aproveitam para comprar mais produtos/objetos à vista (11,5%), enquanto os homens preferem poupar (economizar). Uma das razoes que poderia explicar o fato das mulheres aproveitarem para comprar mais produtos poderia ser explicado em função do comercio realizar liquidações e promoções de seus estoques a preços de custo. A mulher parece assim estar mais perceptível a esse tipo de apelo (promoções) por parte do comércio. Conforme resultados da tabela abaixo, do total de participantes 7% observam o item ofertas e promoções. Os motivos para este comportamento são variados. Um deles pode ser a mudança de estação (moda) que impulsiona o consumo sazonal de roupas e calçados com lançamentos de novos produtos a cada estação (primavera, verão, outono, inverno). Tabela 6 – Observação na hora de comprar sexo Observacao na compra Non- réponse preco formas de pagamento marca desejo de ter o produto qualidade a necessidade do produto aparencia do produto ter sido bem atendido ofertas e promocoes propaganda propaganda de pessoas famosas embalagem garantia do produto conforto proporcionado validade do produto a opiniao de sua família e outros TOTAL masculino feminino 0,6% ( 7) 11,3% (143) 7,1% ( 90) 9,1% (116) 7,6% ( 97) 9,9% (125) 9,5% (121) 5,7% ( 72) 6,3% ( 80) 6,1% ( 77) 5,1% ( 65) 3,2% ( 41) 4,2% ( 53) 6,4% ( 81) 3,3% ( 42) 3,7% ( 47) 0,9% ( 12) 100% (1269) 0,8% ( 12) 12,0% (173) 7,7% (111) 8,4% (121) 7,4% (107) 10,7% (155) 10,4% (151) 5,7% ( 82) 5,9% ( 85) 7,7% (112) 3,7% ( 53) 3,4% ( 49) 2,4% ( 34) 5,1% ( 74) 3,7% ( 53) 3,9% ( 57) 1,2% ( 17) 100% (1446) TOTAL 0,7% ( 19) 11,6% (316) 7,4% (201) 8,7% (237) 7,5% (204) 10,3% (280) 10,0% (272) 5,7% (154) 6,1% (165) 7,0% (189) 4,3% (118) 3,3% ( 90) 3,2% ( 87) 5,7% (155) 3,5% ( 95) 3,8% (104) 1,1% ( 29) 100% (2715) Aspectos psicosociais que influenciam no comportamento de consumo Buscando evidenciar alguns fatores de influencia psicosocial sugerimos aos participantes que respondessem uma série de questões. Uma das influências de âmbito psicológica diz respeito a manifestação de traços de consumo compulsivo, o que leva as pessoas a consumir objetos disponíveis no mercado pelo simples fato de consumir e não em função da necessidade do objeto. Para essas pessoas os objetos consumidos trazem bem estar e satisfação em suas vidas, uma vez que, estas pessoas utilizam o consumo como um meio para satisfazer necessidades afetivo-emocionais ainda não satisfeitas. Dessa forma, uma outra proposta desta pesquisa foi analisar qual seria o comportamento dos consumidores mediante uma maior facilidade de pagamento na compra de um produto, cientes de que esta é nada mais que uma estratégia utilizada pelas empresas para promover o consumo. Para obter dados a respeito foi sugerida a seguinte pergunta: No ato da compra de um produto o vendedor lhe oferece a condição de vários parcelamentos para o pagamento. Neste caso, o que você faria?. Veja os resultados demonstrados na tabela abaixo. 10 Tabela 7 - Parcelar o pagamento Parcelar o pagamento Non- réponse pagaria à vista e aproveitaria para economizar parcelaria o pagamento e aproveitaria para economizar aproveitaria para comprar outros produtos a vista aproveitaria para comprar outros produtos também parcelados TOTAL CIT. Nb. cit. Fréq. 23 219 141 62 123 568 4,0% 38,6% 24,8% 10,9% 21,7% 100% Assim, conforme resultados obtidos 32,6% das pessoas que participaram deste estudo disseram aproveitar a oportunidade do parcelamento da compra para adquirir outros produtos quer seja à vista ou parcelados, ou seja, estas pessoas estão dispostas a consumir mais. Vemos aqui que a oportunidade de parcelamento das compras, por parte das empresas, parece ser realmente, um referencial para impulsionar novas vendas, podendo ser utilizado como uma estratégia para promover o aumento do consumo. Vê-se que a oportunidade de parcelamento das compras, por parte das empresas, parece ser realmente, um referencial para impulsionar novas vendas, podendo ser utilizado como uma estratégia para promover o aumento do consumo. Em contra partida obtivemos ainda como resultados nesta analise que 63,4% optaram por pagar á vista ou a prazo, mas com o desejo de economizar (fato que se constata mais uma vez). Este elevado índice de pessoas que estariam tendendo a não se endividarem poderia ser explicado, pelas fortes tendências de instabilidade, as quais permanecem presentes na economia nacional. Outro aspecto que poderia explicar essa medida, digamos preventiva, seria a alta taxa de jurosix mantida internamente no país, o que poderia endividá-las ainda mais (se elas não já tiverem), influenciando-as a não assumirem mais dívidas em função das incertezas econômicas do país. Uma outra análise buscou evidenciar o motivo que levam as pessoas a se presentear. A partir dos resultados obtidos (veja o resultado na tabela abaixo), constatamos que apesar da diferença de gênero, homens e mulheres consideram como motivo mais significativo para se presentear a necessidade de melhorar a auto-estima. Tabela 8 – Motivo de ter se presenteado x Sexo Motivo de ter-se presenteado / Sexo Feminino Masculino Total Não responderam 5,8% (84) 4,3% (58) 5,1% (142) Em virtude do meu aniversário 13,3% (192) 13,2% (178) 13,2% (370) Por ter realizado algo pessoal 13,6% (197) 13,7% (186) 13,7% (383) Por ter realizado algo profissional 12,7% (184) 13,5% (183) 13,1% (367) Por não ter sido presenteado 13,1% (190) 13,4% (181) 13,2% (371) Para esquecer algo desagradável 13,5% (196) 14,0% (189) 13,7% (385) Para melhorar minha auto-estima 14,6% (211) 14,2% (192) 14,4% (403) Pelo prazer em comprar 13,5% (195) 13,7% (186) 13,6% (381) Total 100% (1449) 100% (1353) 100% (2802) 11 Os valores da tabela estão representados em porcentagens e analisados pela coluna em um total de 2802 citações. A esse respeito ressalta-se a idéia de que o “ego”x das pessoas influencia bastante o consumo de produtos e dessa forma elas têm no consumo uma âncora para elevar sua auto-estima. Dessa forma parece que o nosso “eu” que fornece uma noção de individualidade é acentuado em razão daquilo que é colocado à nossa disposição ou não. Assim, pessoas com falta de afeto dentem a suprir essa falta através do comportamento de consumo, buscando através da aquisição de um objeto satisfazer faltas emocionais. Se compramos pra melhorar de vida, e em geral, melhorar nosso conforto, bem estar, se compramos para mostrar que amamos e presentear, nada mais compreensível que comprar para nosso próprio benefício. Assim, através de uma linguagem inconsciente, a cada ato de compra tentamos realizar desejos frustrados. Uma outra observação a fazer é que o item pelo prazer de comprar, escolhido por 13,5% das mulheres e 13,7% dos homens vem desmistificar a idéia de que as mulheres são as que mais utilizam o consumo para se satisfazerxi, pois se constata aqui que os homens também buscam através do comportamento de consumo alcançar bem estar e satisfação pessoal. O que se confirma mais uma vez pela escolha das opções por ter realizado algo pessoal (como o terceiro fator de importância) e em virtude do meu aniversário, escolhas feitas por ambos os sexos (análise conforme a TAB. 8). A esse respeito Kotler (1998) enfatiza que cada produto do mercado é capaz de despertar um conjunto exclusivo de motivos nos consumidores. Ele mostra o exemplo da indústria de uísque que tem tido posições diferenciadas em relação aos apelos dirigidos ao mercado. Essas indústrias basicamente usam três apelos voltados a atender ao desejo de alguém que busca descontração social, posição social ou alegria. Para apontar outro fator psicológico de influencia no comportamento de consumo foi proposta outra questão. Assim cada entrevistado foi levado a responder a seguinte pergunta: o que você mais observa na hora de comprar um produto? Dessa forma poderíamos perceber alguns fatores subjetivos que norteiam o comportamento de compra dessas pessoas. De acordo com os resultados (dados pela TAB. 6), vê-se que o preço foi considerado a opção mais significativa, com 11,7% dos participantes. Logo após vieram: a qualidade com 10,4%, a necessidade do produto com 10,1% e em quarto lugar de importância a marca com 8,8%. Segundo a opção preço lembramos que este referencial é também utilizado como um diferencial competitivo pelas empresas no mercado de consumo, uma vez que, estas enxugam os seus custos (com grandes estoques, grande volume de compras e outros) a fim de disponibilizar mais produtos no mercado com um preço menor do que o do concorrente. Tradicionalmente, consideramos ainda que os dois itens mais representativos (preço e qualidade) têm sido considerados como sinônimos pelos consumidores que inferem a qualidade no preço, o que muitas vezes torna o produto mais caro desnecessariamente. Ou seja, em busca de qualidade, passamos a acreditar que apenas aquilo que é bom, que tem valor nutritivo, resistência, durabilidade e outros indicadores merecem maior valor econômico, o que permite as alterações especulativas e exorbitantes do preço em relação a sua qualidade, assim o mercado econômico se sustenta no valor cultural, pois: “o que é bom é caro e se é caro deve ser bom”.xii Além disso, na atual economia globalizada os produtos precisam ser competitivos e necessitam de um grau de qualidade cada vez maior. Estes itens passaram a ser considerados de fundamental importância no mercado em meio ao emaranhado de produtos/objetos que estão à disposição dos consumidores. As próprias empresas passaram a ter no item qualidade uma garantia (ou não) da manutenção de suas atividades, uma vez que, a qualidade passou a ser uma exigência para a sobrevivência da empresa no mercado. Um grande impulso veio das certificações de qualidades que passaram a ser emitidas para as empresas como sinônimo de prestação de serviços/vendas de produtos com alto padrão de qualidadexiii. 12 No intuito de conhecer os padrões de comportamento de consumo relacionados aos fatores que definem uma compra (após ou não especulações, pechinchas, escolhas, influencias de terceiros e da própria mídia e outros), cada participante deveria responder a seguinte pergunta: o que é decisivo para você definir a compra de um produto? Segundos os dados aqui obtidos (observados na tabela abaixo), observa-se que na decisão de comprar ou não um produto, por parte destes consumidores do Vale do Aço, o item necessidade do produto foi apontado como o mais significativo, sendo o preferido por 19,2% de nossa amostra. O item preço foi apontado como segunda opção, em nível de importante, escolhido por 18,1% dos consumidores. O terceiro item que mais interfere na decisão de compra foi a qualidade do produto, escolhida por 14,7% das pessoas. A opção formas de pagamento também merece destaque, pois foi escolhida por 10,9% da amostra. Tabela 9 - Decisão de compra Decisão na hora de comprar Respostas Preço 18,1% (100) Formas de pagamento 10,9% (30) Marca 9,2% (51) Desejo de ter o produto 9,1% (50) Qualidade 14,7% (81) Necessidade do produto 19,2% (106) Aparência do produto 5,8% (32) Ter sido bem atendido 2,9% (16) Ofertas e promoções 3,8% (21) Propaganda 1,1% (6) Propaganda de pessoas famosas 0,4% (2) Embalagem 0,5% (3) Garantia do produto 2,2% (12) Conforto proporcionado 0,4% (2) Validade do produto 0,4% (2) Opinião da família 0,5% (3) Total 100% (552) 13 Considerando os resultados das TAB. 6 e 9, não deveríamos deixar de relatar que existe então uma certa diferença entre observar o produto e realmente definir o ato de compra. Para nossa amostra (parte da população do Vale do Aço), a observação (fator de ordem psicológica, mais precisamente ordenado pelas habilidades cognitivas e pelos estímulos sinestésicos)xiv foi orientada, por ordem de importância, pelos itens preço, qualidade, necessidade do produto e marca. Em contra partida, a definição da compra foi, em grande parte, direcionada pelos itens necessidade do produto, preço, qualidade e formas de pagamento. Isso significa dizer que apesar dos outros estímulos propostos (preço, formas de pagamento, marca, desejo de ter o produto, qualidade, necessidade do produto, aparência do produto, ter sido bem atendido, ofertas e promoções e outros), esses habitantes foram levados a comprar por outros motivos diferentes da necessidade do produto. Por um lado, isso pode ser visto com “bons olhos”, pois diante de tanta sedução (de propagandas, marcas e outros atrativos) ainda existem aquelas pessoas que parecem refletir um pouco mais antes de comprar e compram porque necessitam do produto. Mas por outro, constata-se que 80,8% dos participantes efetuam uma compra por outros motivos, diferentes daquele ligado à necessidade do produto. Parece realmente existir em meio a essas pessoas um fator de influencia extremamente eficaz, levando-as a consumir impensadamente; sem necessidade. Esse comportamento de consumo compulsivo pode ser explicado pelo que Festinger (1975) chamou de dissonância cognitiva. Para ele uma pessoa em determinado momento, impensadamente ou forçada, faz algo (por exemplo, age por impulso ou emotivamente na compra de um bem de consumo). Como conseqüência ela terá um resultado psicológico desagradável e incômodo, chamado de dissonância cognitiva. Mas além de consumirem sem necessidade, observa-se que em conseqüência o comportamento impulsivo (compulsivo) traz arrependimento, levando as pessoas a viverem uma espécie de remorso pós-compra. Assim procuramos evidenciar ainda a conseqüência da compulsão de compra na vida das pessoas. Um dos resultados parece ser o remorso ocasionado em virtude de uma compra realizada. Esse remorso pode surgir em função de um impulso ou até mesmo em função de um momento de excitação emotiva. A conseqüência gerada por esta compulsão pode levar as pessoas a um resultado psicológico desagradável e incômodo. Através da pergunta: você já se arrependeu de ter comprado algum produto, buscamos evidenciar em que freqüência os atos de compra trazem esse tipo de arrependimento. A partir dos resultados observa-se que grande parte dos consumidores, ou seja, 58,1% disse já ter se arrependido algumas vezes por comprar um produto. 21,7% arrependeu-se muitas vezes, mas em contra partida 14,8% nunca se arrependeu. O grande número de pessoas que disseram já ter se arrependido por comprar um produto vem reafirmar que o marketing tem tido um papel importante no fomento ao consumo, influenciando o comportamento de compra das pessoas. Parece então que apenas essa ultima parcela de nossa amostra conhece bem suas necessidades, uma vez que, nunca se arrependeram de ter comprado algum bem de consumo. Para que se pudesse ainda identificar as influências sofridas por estes consumidores, as quais os levaram ao arrependimento, questionamos quanto aos motivos que os levaram a esse sentimento. Através dos resultados pôde-se observar, de acordo com a tabela 10, que 26,2% dos consumidores, apontaram como sendo o principal motivo de seu arrependimento que o produto adquirido não correspondeu as suas expectativas. Observa-se ainda que para 24,6%, houve um engano quanto ao produto adquirido. E aqueles que disseram ter sido influenciados por alguém somam 22,7% de nossa amostra. 14 Tabela 10 - Motivo do arrependimento Motivo do arrependimento Respostas Respostas em branco 15,1% (86) Não havia necessidade 11,3% (64) Fui influenciado por alguém 22,7% (129) Houve um engano quanto ao produto 24,6% (140) Não correspondeu a minha expectativa 26,2% (149) Total 100% (568) A respeito desses últimos, através desses resultados somos levados a atribuir parte desse arrependimento às influências vindas de outras pessoas como familiares, amigos, vendedores e outros. A respeito desses últimos lembramos do crescente investimento por parte das empresas em seus recursos humanos para capacitá-los com técnicas de vendas e persuasão. Mas haver um engano quanto ao produto e dizer que ele (o produto) não correspondeu as minhas expectativas é realmente evidenciar ter sito enganado de alguma forma. Dessa forma pode-se inferir que as indústrias têm utilizado mecanismos como o marketing (por exemplo) para incutir nas pessoas desejos alheios a sua própria vontade. Propaganda e propagandas enganosas enchem os olhos, ouvidos e demais órgãos dos sentimentos do consumidor de possibilidades infinitas para enganá-lo, tornando-o presa fácil, já que estes são alvo de pesquisas de mercado e assim facilmente manipulados. CONCLUSÃO Através dos dados obtidos, analises e comentários realizados ao longo desse estudo pudemos concluir algumas idéia a cerca do comportamento de consumo dos habitantes do Vale do Aço/MG. Um dos resultados interessantes deste estudo é que parece-nos que essa parcela da população do Vale do Aço/mg está preocupada em relação ao seu futuro. Este fato pôde ser comprovado devido a grande importância dada a poupança, aos estudos dos filhos, aos cursos de especialização e também a reforma da casa. Quanto a diferença de gênero pouco ousamos inferir, mas não deixaríamos de fazê-lo. A esse respeito constatamos que na atualidade, as mulheres consomem pouco mais que os homens. Referindo-se as influencias de âmbito econômico, independente do gênero e da estratificação por faixa de renda salarial, parece-nos que homens e mulheres estão em busca de economizar, visto que o comportamento de investir em poupança se mostrou como uma realidade ou tendência para essas pessoas. O que se confirmou com uma preocupação significativa com o preço na hora de observar o produto. O mercado de consumo atual apresenta essa característica fundamental em relação a qualidade dos produtos disponíveis no mercado, o preço. Ou seja, ainda em relação a este item (preço) podemos dizer que tradicionalmente no consumo, o consideramos como sinônimo de qualidade, onde em função da qualidade justificamos dar mais valor econômico ao produto. 15 Em contra partida no momento de definir uma compra o item necessidade do produto foi considerado o mais significativo. Mas isso não quis dizer que este seja o mais importante para todos os participantes, pois de fato, grande parte dessas pessoas definem o ato de compra com os motivos mais variados. Assim, por um lado pudemos então dizer, que existem pessoas não tão próximas do comportamento de consumo compulsivo, mas por outro lado constatou-se que o comportamento de consumo dessa amostra em específico mostrou-se o mais variado possível. Esta parcela da amostra se deixa influenciar por outros estímulos que não a necessidade. Acabando “por deixar-se seduzir” por outros mecanismos do mercado de consumo (preço, formas de pagamento, marca, desejo de ter o produto, qualidade, necessidade do produto, aparência do produto, ter sido bem atendido, ofertas, promoções e outros). Sendo assim, vê-se que o comportamento de consumo dessa amostra da população do Vale do Aço tende a ser bastante heterogêneo. Provavelmente, devido ao caráter aleatório de nossa amostra que por sua vez utilizou como objeto de pesquisa, pessoas de classes sociais, idades e estado civil diferentes. Este fato nos leva a constatar que existe certamente uma diferença entre observar (ação designada pelas habilidades cognitivas e pelo estimulo externo) e definir uma comprar. O que por sua vez nos define que há, por conseqüência, uma diferença entre aquilo que há em comum em cada um de nós (os processos cognitivos) e aquilo que nos diferencia de todos os outros - a tomada de decisão (o livre arbítrio), analisada aqui como o que define uma compra. Verificou-se também que uma compra desnecessária ou errada pode acarretar uma conseqüência para a vida das pessoas. Esse “mal” chamado de dissonância cognitiva é entendido como um desconforto e um incômodo causados por um impulso de compra. Uma outra constatação desta pesquisa foi que tanto os homens tanto as mulheres buscam alcançar bem estar e satisfação em virtude dos produtos/objetos que consomem. i Medida que indica o poder apresentado por uma determinada mercadoria de obter certas quantidades de outras mercadorias através de um processo de troca. Humberto Eco (2000). ii Adam Smith (1723 – 1790) formado em ciências morais e também em políticas em Oxford é o autor do livro “A riqueza das nações” e fundador da Escola Clássica de Administração. Para Smith, a solução para o funcionamento da economia na sociedade deveria ser encontrada nas leis de mercado. iii Corresponde a distribuição de tarefas entre os diversos indivíduos, grupos sociais ou entre as nações de acordo com a posição que estes ocupam na estrutura social ou mundial. Smith (1985). iv É signo tudo aquilo quanto possa ser assumido como um substituto significante de outra coisa qualquer ou ainda tudo que tiver um significado socialmente estabelecido que representa um valor, uma norma, uma idéia, uma crença, um sentimento, cuja presença o associa ao objeto representado, lembrando-o. É alguma coisa/objeto cujo valor ou significado é atribuído pelas pessoas que o usam. Eco (2000). v Dados do último censo demográfico realizado no Brasil no ano 2000. (IBGE, 2004), acesso em 01/02/2004. vi Tal fato não foi proposital, pois esta amostra foi obtida em caráter aleatório e não é interesse principal dos pesquisadores analisar aqui questões relativas a gênero, apesar de termos realizadas algumas analises e comentários a respeito. vii Segundo dados do IBGE a população ativa a nível nacional encontra-se aproximadamente em 48.300 milhões de homens e 34.800 milhões de mulheres exercendo algum tipo de atividade remunerada. No estado de Minas Gerais está registrada uma população de 8.800 milhões de homens e 9.000 milhões de mulheres com vínculo empregatício. Dados do último censo demográfico realizado no Brasil no ano 2000. (IBGE, 2004), acesso em 06/04/2004. viii O atual nível de desemprego no estado de Minas Gerais é de 12% em relação a mão de obra economicamente ativa. (IBGE, 2004) . Acesso em 01/04/2004. ix A taxa Selic de juros no Brasil de acordo com a reunião do COPOM em 17/03/2004 foi fixada em 16,25% a.a. IBGE (2004) verificado em 03/04/2004. Selic significa Sistema Especial de Liquidação e Custódia que tem o objetivo de tornar mais transparente e segura a negociação de títulos públicos. x Ego é o resultado de um processo repetido de transformação das tendências inconscientes mais superficiais, ao contato da realidade exterior, e graças à intervenção da percepção consciente. xi A idéia de satisfação dos consumidores em função do consumo de objetos pode estar ligada a teoria de Maslow. Autor que desenvolveu a teria das motivações por necessidades primárias e secundárias, uma das mais conhecidas teorias da motivação. Segundo ele as pessoas buscam meios para satisfazer suas necessidades. Assim as 16 necessidades das pessoas são consideradas motivações para suas satisfações e o consumo o meio para alcançá-las. (Mosley citado por Kotler , 1998:173) xii Segundo Baudrillard (1995: p.65) “é que o consumo traz uma idéia de bem estar. Quanto mais o homem ganha, mais vai gastar e exigir produtos de maior qualidade e assim pagar mais caro por eles”. xiii As certificações de qualidades foram necessárias para um mínimo de padronização para que as empresas pudessem se diferenciar no mercado e se tornarem mais competitivas. Esse fato se deu principalmente em virtude da abertura do mercado brasileiro. Assim uma das conseqüências observadas foi uma maior preocupação das empresas nacionais com a exportação, principalmente para o mercado europeu, havendo dessa forma uma corrida pelas certificações de qualidade. Em pouco tempo, as certificações, principalmente as ISO´s, foram se tornando referenciais de qualidade para o mercado interno também. (Brandão, 2004) xiv Estímulos originados dos órgãos dos sentidos: Audição, Visão, Olfato, Tato e Paladar. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAUDRILLARD, Jean. A sociedade do consumo. Lisboa: Edições 70, 1995. 213p. BAUDRILLARD, Jean. Para uma crítica da economia política do signo. São Paulo: Martins Fontes, 1972. 278p. BOCK, Ana Mercês Bahia (Coord.) et al. Psicologia sócio-histórica. São Paulo: Cortez, 2001. 224p. BRANDÃO, Marcelo Moll. Marketing de relacionamento: valor do cliente é diferente de qualidade total.. Disponível em: http:/www.gazetaonline.globo.com/marketingplace/ artigo.php?id_artigo=26. Acesso em: 05/04/2004. ECO, Umberto. Tratado geral da semiótica. 3.ed. São Paulo: Perspectiva, 2000. 282p. FESTINGER, Leon. Teoria da dissonância cognitiva. Rio de Janeiro: Zahar, 1975. 252p. GREMAUD, Amaury. Patrick. et. al. Economia brasileira contemporânea. 3.ed. São Paulo: Atlas, 1999. 371p. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Site. Rio de Janeiro IBGE, 2004. Disponível em: <http://www.ibge.com.br> Acesso em: 05/04/2004. KOTLER, Philip. Administração de marketing. 5.ed. São Paulo: Atlas, 1998. 725p. SCHUMPETER, J. A teoria do desenvolvimento econômico: uma investigação sobre lucros, capital, credito, juro e o ciclo economico. São Paulo: Vozes, 1982. 169p. SMITH, Adam. A riqueza das nações: investigação sobre sua natureza e suas causas. 2. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1985. 2v. (Os economistas)