1 NÚCLEO DE ECOENDOSCOPIA – COMENTARIOS DO ARTIGO Effectiveness of contrast-enhanced harmonic endoscopic ultrasound for the evaluation of solid pancreatic masses Trata-se da análise da utilidade da CHEUS (contrast-enhanced harmonic endoscopic ultrasound) na diferenciação entre adenocarcinoma pancreático e outras doenças pancreáticas em pacientes que apresentavam massas sólidas pancreáticas e imagens hipoecóicas à ecoendoscopia. NÚCLEO DE ECOENDOSCOPIA – COMENTARIOS DO ARTIGO Effectiveness of contrast-enhanced harmonic endoscopic ultrasound for the evaluation of solid pancreatic masses Jin-Seok Park, Hyung Kil Kim, Byoung Wook Bang, Sang Gu Kim, Seok Jeong, Don Haeng Lee World J Gastroenterol 2014 January 14; 20(2): 518-524 DOI: 10.3748/wjg.v20.i2.518 Resumo do Artigo Park e cols. analisaram a utilidade da CHEUS (contrast-enhanced harmonic endoscopic ultrasound) na diferenciação entre adenocarcinoma pancreático e outras doenças pancreáticas, através de estudo de coorte retrospectiva, em 90 pacientes que apresentavam massas sólidas pancreáticas e imagens hipoecóicas à ecoendoscopia, os quais foram submetidos à CHEUS, entre novembro 2010 a maio 2013 (30 meses), em centro único e apenas um único ecoendoscopista. As imagens, perante os achados na CHEUS, foram classificadas em: Lesão com hipo-realce Lesão com iso-realce Lesão com hiper-realce O “padrões-ouro” comparativos foram considerados, conforme disponibilidade de: Anatomopatológico o Punção ecoguiada (EUS-FNA) o Cirurgia Seguimento clínico com evolução maligna Resultados: 2 CHEUS Pacientes Adenocarcinoma (EUSFNA/cirurgia) Neuroendócrino Seguimento clinico maligno Pancreatite Outros Hipo-realce Iso-realce Hiper-realce Total 66 57 1 2 6 0 8 2 0 0 5 1 16 3 2 0 8 3 90 62 3 2 19 4 Análise de CHEUS: Sensibilidade Especificidade Acurácia 92% 68% 82% Na análise da curva ROC (Receiver Operating Characteristic), a área sob a curva foi 0,799; Há uma significante associação entre padrão de hipo-realce (CHEUS) e adenocarcinoma ductal pancreático (χ 2 = 35.264, P < 0.001); Na análise dos exames anatomopatológicos, 5 pacientes com massas pancreáticas com padrão de hipo-realce na CHEUS: o 3 punções ecoguiadas foram consideradas insuficientes; o 2 punções ecoguiadas apresentaram negativos para malignidade; Os 5 pacientes foram submetidos a novas biópsias ou seguimento clínico, quando: o 3 pacientes diagnosticados como adenocarcinoma por cirurgia; o 2 pacientes diagnosticados como malignos, no seguimento clínico. O autor conclui que CHEUS é útil na distinção entre adenocarcinoma pancreático e outras patologias pancreáticas. Sugere que, quando uma massa pancreática apresenta padrão de hipo-realce na CHEUS e se obteve resultado benigno ou material insuficiente na punção ecoguiada, deve-se considerar uma nova punção ecoguiada para nova análise histológica. Comentários sobre artigo Outras tecnologias utilizadas pelos radiologistas também têm sido agregadas à ecoendoscopia. Uma delas é a análise da perfusão parequimatosa pela injeção de microbolhas na corrente sanguínea, com avaliação em tempo real, através das imagens ecográficas obtidas pela difusão de ondas harmônicas. Esta técnica engloba 2 fatores principais: Microbolhas: A injeção de microbolhas que permite uma maior contrastação e possibilita identificar com maior clareza e definição, os locais por onde as microbolhas perfundem na microvasculatura tecidual. Ou seja, as microbolhas funcionam como um meio de contraste nos vasos do tecido. Uso de ondas harmônicas: As ondas harmônicas emitidas pelo ecoendoscópio, através de um filtro eletrônico, melhora a definição e nitidez da imagem, 3 mesmo em meios que teriam uma atenuação maior, como por exemplo, um meio com ar. Assim, com a associação dos 2 métodos pela ecoendoscopia, desenvolveu-se o CHEUS (contrast-enhanced harmonic endoscopic ultrasound). A sequência técnica para CHEUS constitui-se por: 1. Localização da imagem a ser estudada através da ecoendoscopia convencional (ondas convencionais); 2. Com a imagem ecográfica em foco, injeta-se as microbolhas, através de acesso venoso (central ou periférico) e, rapidamente se faz a lavagem do acesso com solução fisiológica; 3. Com módulo de ecoendoscopia programado para ondas harmônicas, iniciase aquisição de novas imagens ecoendoscópicas, com a visibilização da perfusão das microbolhas no parêquima pancreático. Geralmente, obtémse imagem de realce (padrão dourado homogêneo) que perfunde difusamente no tecido pancreático normal. A perfusão das mocrobolhas será viável, num intervalo de duração, no máximo de 3 minutos (tempo de passagem das microbolhas no tecido); 4. Em função das imagens obtidas, em tempo real, classifica-se como: a. Lesão com hipo-realce b. Lesão com iso-realce c. Lesão com hiper-realce 5. Realiza-se as punções ecoguiadas para análise citológica e/ou anatomopatológica direcionada pela imagem ecoendoscópica. Em teoria, os tumores malignos possuem angiogênese diferente do tecido normal, o que contribui para o crescimento de microvasos anômalos e com comportamentos distintos ao tecido parenquimatoso normal. Assim, a passagem das microbolhas pela microvasculatura em lesões sólidas malignas tende a um comportamento diferente em relação ao tecido preservado. Geralmente, em lesão sólida pancreática por adenocarcinoma apresenta uma imagem de hipo-realce à infusão de microbolhas. Neste estudo de Park e cols, na análise da sensibilidade de detecção de adenocarcinoma pancreático, se focarmos apenas para imagem com padrão de hiporealce ao CHEUS foi: [57 hipo-realce com adenoca + 02 hipo-realce com seguimento clinico maligno] / [66 total de hipo-realce] = 0,89 Assim, demonstrou-se um sensibilidade semelhante à sensibilidade da Ecoendoscopia com punção ecoguiada do estudo (EUS-FNA em 58 pacientes sensibilidade de 90,19% e especificidade 100%). Ou seja, individualmente não tem poder de definir adenocarcinoma pancreático. E utilizar o CHEUS, não tem diferença se puncionar a lesão. E quase sempre precisaremos puncionar a lesão. Se considerarmos, ao contrário, para diagnóstico de lesão inflamatória, isto é pancreatite. Teremos: 4 [05 iso-realce com pancreatite + 08 hiper-realce com pancreatite] / [19 total de pancreatite] = 0,68 A sensibilidade do CHEUS com imagens com iso e hiper-realce para pancreatite é 0,68. Mais uma vez, não possui poder de direcionar categoricamente à hipótese de pancreatite. Isto põe em dúvida se a aplicabilidade de CHEUS é suficiente para detecção e direcionamento de lesão neoplásica sólida em parênquima com acometimento difuso pela pancreatite crônica. Com as sensibilidades nestes valores, o CHEUS pode ser utilizado como mais um passo propedêutico de imagem que agrega a vários outros parâmetros, na avaliação de paciente que possui dados clínicos, imagem, ecoendoscopia e punção ecoguiada suspeitos para adenocarcinoma pancreático. Como exemplo, um paciente pancreatopata crônico com nódulo sólido em tomografia computadorizada, confirmada à RMN abdominal, ecoendoscopia com imagem sólida nodular hipoecóica, padrão hipo-realce à infusão de microbolhas, elastografia com aspecto endurecido e 2 punções ecoguiadas duvidosas ou difíceis de obter amostras representativas, pode ser forte candidato a discutir com cirurgião sobre maior probabilidade de benefício com intervenção cirúrgica que um paciente com nódulo sólido em tomografia computadorizada, confirmada à RMN abdominal, ecoendoscopia com imagem sólida nodular hipoecóica, padrão hiper-realce à infusão de microbolhas, elastografia com normal e 2 punções ecoguiadas duvidosas ou difíceis de obter amostras representativas. Maiores estudos prospectivos, com número amostral amplo, talvez possam nos demonstrar melhores desempenhos do CHEUS. Sérgio Eiji Matuguma e Fauze Maluf-Filho Sérgio Eiji Matuguma: Médico Assistente do Serviço de Endoscopia Gastrointestinal do Hospital das Clínicas e Membro do Núcleo de Ecoendoscopia da SOBED. Fauze Maluf Filho: Livre docente do Departamento de Gastroenterologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Coordenador do Serviço de Endoscopia do Instituto de Câncer de São Paulo - ICESP - FMUSP, Coordenador do Núcleo de Ecoendoscopia da SOBED, Editor associado da Gastrointestinal Endoscopy.