1 FABRÍCIO GONÇALVES CORDEIRO CARACTERIZAÇÃO CLINICO-EPIDEMIOLÓGICA DA SEPSE EM PACIENTES INTERNADOS EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA DE UM HOSPITAL PÚBLICO EM BELÉM-PA. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários. Orientadora: Profa. Dra. Tereza Cristina de Oliveira Corvelo Laboratório de Imunogenética, ICB-UFPA Banca Examinadora: Prof. Dr. Anderson Raiol Rodrigues Instituto de Ciências Biológicas- ICB/UFPA Prof. Dr. Evonnildo Costa Gonçalves Instituto de Ciências Biológicas- ICB/UFPA Prof. Dra. Delia Cristina Figueira Aguiar Instituto de Ciências Biológicas- ICB-UFPA Profa. Dra. Maria da Conceição Pinheiro Instituto de Ciências Biológicas- ICB-UFPA Belém, 23 de setembro de 2015 2 “A caneta não sabe o que deverá escrever, o pincel não sabe o que deverá pintar e o cinzel não sabe o que deverá esculpir. Quando Deus toma em suas mãos uma criatura, para fazer surgir uma obra Sua, a pessoa escolhida não sabe o que deverá fazer. É um instrumento. Creio que este é o meu caso.” Chiara Lubich 3 AGRADECIMENTOS A Deus por ter me guiado e abençoado durante toda a minha vida, sem Ele não seria nada, muito menos teria conseguido chegar aonde já cheguei. A minha esposa, Larissa, pelo companheirismo e força nas horas de cansaço e desânimo. Te amo! Aos meus pais (Francisco e Maria) e minha irmã (Patrícia), pelo amor, carinho, dedicação. Pela educação que me deram sempre desde pequeno, me ensinando a ser digno, humilde e respeitar aos outros. Pela coragem e força para vencer na vida. Amo vocês! Vocês são minha vida. Aos meus amigos do curso de mestrado, pela união, amizade, brincadeiras, enfim, todos os bons momentos que passamos juntos durante nossas aulas. Enfim, a pessoa que abraçou esta temática comigo e sem a qual este trabalho não poderia ser realizado. Obrigado a minha orientadora, Dra Tereza Cristina de Oliveira Corvelo, por me conduzir nos difíceis caminhos da pesquisa e pela sua paciência. Também um agradecimento a equipe do Laboratório de Imunogenética, Gyselly, Dinelma e Eny pela ajuda na elaboração desta pesquisa. 4 SUMÁRIO RESUMO 6 1. INTRODUÇÃO 8 1.1. HISTÓRICO 8 1.2. DEFINIÇÕES 11 1.3. ASPECTOS EPIDEMIOLOGICOS DA SEPSE 14 1.4. FISIOPATOLOGIA 20 1.5. DIAGNÓSTICO DA SEPSE 26 1.6. ASPECTOS ETIOLÓGICOS DA SEPSE 29 1.7. OBJETIVOS 33 1.7.1. GERAL 33 1.7..2. ESPECÍFICOS 33 2. MATERIAL E MÉTODOS 34 2.1. DESENHO DO ESTUDO 34 2.2. LOCAL DO ESTUDO 34 2.3. ASPECTOS ÉTICOS 35 2.4. AMOSTRAGEM, CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO. 35 2.5. PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS 36 2.6. ANÁLISE ESTATÍSTICA 37 3. 38 RESULTADOS 3.1. CARACTERIZAÇÃO GERAL DA POPULAÇÃO EM ESTUDO 39 3.2. ANÁLISE QUANTO A CLASSIFICAÇÃO DA INFECÇÃO 42 3.3. ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA E O DESFECHO ÓBITO 45 3.4. IDENTIFICAÇÃO DOS AGENTES INFECCIOSOS NOS TIPOS DE SEPSE 48 4. DISCUSSÃO 49 5. CONCLUSÕES 60 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 62 5 ANEXO 1 77 ANEXO 2 78 6 RESUMO A sepse representa a segunda maior causa de morte dentro de unidades de tratamento intensivo (UTI), sendo estimados cerca de 19 milhões de casos no mundo todo por ano. Estudos no Brasil demonstram uma mortalidade acima de 40% para pacientes com sepse, sepse grave ou choque séptico, sendo que em 2009 atingiu 60%, a maior entre 37 países. Esta síndrome resulta tanto de infecções adquiridas na comunidade como aquelas de origem hospitalar, sendo a causa mais comum a pneumonia, seguida de infecções do trato urinário e intra-abdominais. Na literatura identificam-se padrões variados de agentes etiológicos para sepse, com predomínio das bactérias quando o estudo relaciona-se ao ambiente hospitalar, sobretudo, nas UTI. Constitui uma enfermidade tempo-dependente e seu diagnóstico é sugerido por dados clínicos e laboratoriais inespecíficos e confirmado, posteriormente, pelo isolamento do agente etiológico utilizando-se culturas de materiais biológicos. Assim, este estudo teve o objetivo de analisar as características clinico-epidemiológicas da sepse em pacientes internados em uma Unidade de Terapia Intensiva da FHCGV em Belém-PA. Tratou-se de um estudo de coorte, do tipo retrospectivo envolvendo pacientes que estiveram internados na UTI Geral da Fundação Pública Estadual Hospital de Clínicas Gaspar Vianna (FHCGV) no período de novembro de 2011 a outubro de 2014 diagnosticados com sepse, sepse grave ou choque séptico na admissão ou durante sua permanência na unidade, cuja definição dos casos de sepse foi baseada nas Diretrizes Internacionais para Tratamento da Sepse Grave e Choque Séptico publicadas em 2013. Foram revisados 167 prontuários médicos e coletados dados de interesse para o estudo, dentre os quais 27 pacientes (16,2%) com sepse, 62 (37,1%) com sepse grave e 78 (46,7%) com choque séptico. A mortalidade geral correspondeu a 75,45%. A maioria dos pacientes foi do sexo masculino e com idade acima de 60 anos. A média de permanência na UTI foi de 39 dias e a permanência hospitalar de 63 dias de internação. As variáveis: presença de comorbidades, infecções de origem hospitalar, evolução para o choque séptico, realização de hemodiálise e a idade maior que 60 anos estavam significativamente associadas ao óbito. Evidenciou-se uma elevada mortalidade por sepse, sobretudo entre pacientes que desenvolvem o choque séptico. Assim, a sepse em Belém, não diferentemente do que refere a literatura mundial, é uma das principais causas de morte em UTI, ocasionando elevado impacto econômico e social para o doente e sua família. O desenvolvimento de novos estudos e o estabelecimento de protocolos clínicos, segundo as diretrizes da Campanha Sobrevivendo à Sepse podem aprimorar o atendimento de maneira racional e eficaz, permitindo a identificação antecipada de pacientes com risco de sepse, o que diminuiria o risco de morte associado à evolução para os estágios de sepse grave e choque séptico, e, por conseguinte, garantindo um prognóstico melhor aos sujeitos vitimados pela sepse. Palavras-chave: sepse, UTI, óbito, fatores de risco. 7 ABSTRACT Sepsis is the second leading cause of death in intensive care units (ICU), affecting nearly 19 million people worldwide each year. Studies in Brazil show that mortality in patients with sepsis, severe sepsis or septic shock may reach rates above 40%, so that this rate was 60% in 2009, the highest among 37 countries. This syndrome is the result of community as well as hospital acquired infections, the most common cause of this disease is pneumonia, followed by those of the urinary tract and intraabdominal infections. In the literature, there are different patterns identified as etiological agents for sepsis, among which the bacteria are prevalent, particularly if the infection occurs in the hospital setting, especially in the ICU. Sepsis is a timedependent disease and its diagnosis is doing by specific clinical and laboratory data and later did confirmed by the etiologic agent isolation using biological cultures. This study aimed to analyze the clinical and epidemiological features of sepsis in patients admitted to the General Intensive Care Unit of the State Public Foundation ―Hospital de Clínicas Gaspar Vianna‖ (FHCGV- ICU) in Belém-PA. It is a retrospective cohort study involving patients, who were diagnosing with sepsis, severe sepsis or septic shock from November 2011 to October 2014 or during their stay in the unit. The definition the cases of sepsis was based on international guidelines for management of severe sepsis and septic shock, published in 2013.We reviewed 167 medical records and collected data of interest for the study, were identified 27 patients (16.2%) with sepsis, 62 (37.1%) with severe sepsis and 78 (46.7%). with septic shock. Overall mortality amounted to 75.45%. Most patients were male and over the age of 60 years. The average ICU stay was 39 days and hospital stay of 63 days. The variables associated with death were age older than 60 years, the presence of comorbidities, hospital-borne infections, the progression to septic shock and hemodialysis. It found a high mortality from sepsis, especially among patients who develop septic shock. Sepsis in Belem-PA, not unlike what refers to world literature, is one of the main causes of death in the ICU, causing high economic and social impact for the patient and his family. The development of new studies and the establishment of clinical protocols, according to the guidelines of the Campaign Surviving Sepsis can optimize the service, in order to favor the early identification of patients at risk for sepsis, prevent the development of the syndrome to severe stages, aiming to reduce the risk of death associated with severe sepsis and septic shock. Keywords: sepsis, ICU, death, risk factors. 8 1. INTRODUÇÃO 1.1. HISTÓRICO A palavra sepse deriva do grego σηψιζ que se refere à ―decomposição de animal, ou vegetal ou matéria orgânica‖ (Geroulanos & Douka, 2006). De acordo com Funk et al. (2009) o primeiro uso de sepse no contexto médico ocorreu há mais de 2.700 anos atrás nos poemas de Homero e o termo também foi encontrado nos escritos de Hipócrates (cerca de 400 aC), em seu Corpus Hippocraticum, sendo usado, segundo Majno (1991) para definir o processo pelo qual feridas inflamam, a carne apodrece e os pântanos geram maus ares. Para Thurston (2000), o médico e filósofo romano proeminente de origem grega, Galeno (129-200 dC), também foi uma figura histórica bem reverenciada no estudo das teorias de sepse, cujas práticas eram dedicadas ao derramamento de sangue e a drenagem de abscessos, porém era o uso de medicamentos para tratar a doença que constituia sua paixão. Foi quem, segundo Blum & Esterhai (2002), primeiro descreveu a cicatrização de feridas por segunda intenção e também a teoria de que a formação de pus (descrita por ele como ―pus louvável‖) que era fundamental para a cicatrização dos tecidos lesionados. Esta teoria permaneceu incontestada até que Leonardo DaVinci e Andreas Vesalius, no século XV questionaram o suposto benefício da supuração de feridas (Funk et al., 2009). Além disso, com base nas teorias de putrefação dos gregos, os primeiros romanos foram convencidos de que dentro de pântanos, havia a produção de criaturas invisíveis que emitiam gases pútridos chamados ―miasma‖ ou ―miasmata‖. Com isso, as iniciativas de saúde iniciais foram dirigidas a eliminar esses pântanos e da criação de elaborados sistemas de distribuição de água potável (Funk et al., 2009). A teoria dos miasmas foi dominante entre os pesquisadores até o século XIX, quando houve o crescimento exponencial do conhecimento acerca da origem e transmissão de doenças infecciosas, quando os médicos Ignaz Semmelweis, Joseph Lister, Louis Pasteur e Robert Koch contribuíram para avanços na compreensão da sepse como sendo o resultado da invasão do hospedeiro por patógenos que se espalhavam na corrente sanguínea (Funk et al., 2009). 9 O primeiro deles, Ignaz Semmelweis (1818-1865) foi um médico, em Viena, Áustria, o qual em 1841 trabalhando uma maternidade de um hospital e percebera que havia uma alta taxa de mortalidade por febre puerperal, também chamado de sepse puerperal (De Costa, 2002). Ele observara, de acordo com Best & Neuhauser (2004), que mulheres cujos partos eram assistidos por parteiras tinham uma taxa significativamente menor de infecções do que aqueles que foram assistidas por estudantes de medicina, respectivamente 2% e 16 %. Após esta análise de caso-controle, Semmelweis concluiu que a exposição ao material cadavérico aumentava o risco de febre puerperal, relacionando este fato a higienização das mãos nos dois grupos, pois na época, a prática dos estudantes de medicina era realizar necropsias nas mulheres que tinham morrido no dia anterior, e, em seguida, sem lavar as mãos, realizar partos no mesmo dia (Caplan, 2014). Semmelweis comentou: ―Os dedos e as mãos dos estudantes e médicos, sujos pelas recentes dissecações, carregam venenos mortíferos do cadáver para os órgãos genitais de mulheres em trabalho de parto‖ (De Costa, 2002). Ele então instituiu uma política de lavagem das mãos em sua maternidade antes contato com o paciente e observou em um estudo controlado usando uma solução de cloreto de cal, que a taxa de mortalidade caiu para cerca de 2%, ou seja, o mesmo nível que as parteiras. Mais tarde, ele começou a lavar os instrumentos médicos e a taxa diminuira para cerca de 1% (Best & Neuhauser, 2004). Na mesma época, Louis Pasteur (1822-1895) demonstrou claramente que para putrefação são necessários organismos vivos e finalmente foi refutada a teoria de geração espontânea de transmissão da doença (Baron et al., 2006). Pasteur essencialmente provou a teoria do germe da doença e lançou o campo da microbiologia moderna quando ele refutara a teoria da geração espontânea em 1857 (Wangesteen, O.N. & Wangesteen, S.D., apud Opal, 2009). Joseph Lister (1827-1912), nascido na Inglaterra, formou-se em medicina em 1852 pela Universidade de Londres (Funk et al., 2009). Inspirado por Pasteur, Lister investigou a possibilidade de utilizar desinfetantes químicos como forma de prevenção da infecção de feridas de pacientes com trauma ortopédico em enfermarias, em Glasgow, na Escócia, e demonstrou pela primeira vez o valor de soluções desinfetantes para manutenção da esterilidade de curativos, instrumentos cirúrgicos e as mãos de cirurgiões quando cuidavam de pacientes feridos. Seu 10 trabalho foi amplamente aceito e o uso de técnica estéril no cuidado de pacientes cirúrgicos tornou-se rapidamente um padrão internacional (Opal, 2009). Através do tratamento dos fios de sutura e compressas usados nos pacientes com solução de fenol, diminuiu a mortalidade pós-cirúrgica (Graziano et al., 2000). Ainda neste período, como Lister e Pasteur, Robert Koch (1843-1910), também trabalhava na teoria dos germes. Ele foi capaz de demonstrar que as ovelhas infectadas com Antraz tinham minúsculos organismos em forma de haste em seu sangue (Funk et al., 2009). Koch, em seguida, formulou seus postulados famosos na identificação de agentes infecciosos: (1) O parasita é encontrado em todos os casos em que ocorre a doença e suas características clínicas e patológicas; (2) O parasita não é encontrado em outras doenças como um parasita não patogênico ou parasita fortuito; (3) Depois de ter sido isolado a partir do corpo e cultivado repetidamente, o parasita pode provocar a doença de novo (em modelos animais ou de seres humanos voluntários); (4) Um mesmo parasita pode ser isolado novamente a partir do modelo animal doente. Estes postulados permaneceram o padrão-ouro para julgar a evidência de doença causada por qualquer microrganismo (Brock, apud Opal, 2009). Koch, juntamente com seu parceiro Julius Petri, foram fundamentais no desenvolvimento de técnicas microbiológicas modernas que permitiram o aprofundamento da teoria dos germes (Baron et al., 2006). Até a teoria dos germes tornar-se aceita, a terapia de infecções era estritamente empírica, contudo, a partir de sua aceitação pela comunidade médica, a atenção voltou-se para a erradicação dos recem-descobertos agentes infecciosos. Todavia, cientistas do século XX iniciaram a descoberta dos mistérios moleculares da sepse, o que tem permitido uma melhor compreensão da fisiopatologia da doença. Com o sequenciamento do genoma humano, polimorfismos de nucleotídeos começaram a se tornar uma nova ferramenta que permitiu prever poderá sofrer consequências adversas de doenças infecciosas (Funk et al., 2009). De acordo com Namas et al. (2012), avanços subsequentes levaram ao desenvolvimento de diretrizes diagnósticas bastante rígidas e baseadas na resposta do hospedeiro à infecção, as quais surgiram, em parte, devido à incapacidade para reduzir a sepse apenas através da terapia direcionada ao patógeno. 11 1.2. DEFINIÇÕES Ao longo do tempo, com a evolução das pesquisas sobre a sepse, muita confusão surgiu acerca da terminologia adequada para defini-la. Em 1991, o American College of Chest Physicians e Society of Critical Care Medicine convocaram uma Conferência de Consenso para tentar dirimir este problema sobre o uso de termos e definições inadequadas, pois os termos bacteremia, septicemia, sepse, síndrome de sepse e choque séptico estavam sendo usados quase como sinônimos, levando à confusão e compreensão imprecisa da sepse e doenças relacionadas. O consenso culminou com a publicação em 1992 de um novo conjunto de definições (Tabela 1) acerca da resposta inflamatória sistêmica e sepse que poderiam ser facilmente aplicadas para pacientes em diferentes fases de sepse, com o intuito de melhorar a capacidade para diagnosticar, monitorizar e tratar a sepse (Bone et al., 1992a). Tabela 1 - Definição de termos para descrição de sepse e suas sequelas a partir de Bone et al., 1992a. Termo Definição Infecção Processo patológico causado pela invasão no tecido, fluido ou cavidade normalmente estéril por microrganismos patogênicos ou potencialmente patogênicos. Bacteremia Presença de bactérias no sangue. SIRS1 Resposta sistêmica incluindo duas ou mais anormalidades: temperatura, frequência cardíaca, frequência respiratória e contagem de células brancas do sangue. Sepse Pacientes com uma resposta inflamatória e infecção documentada. Sepse Grave Sepse associada à disfunção orgânica, hipoperfusão e anormalidades na perfusão (acidose láctica, oligúria e alteração aguda do estado mental), ou hipotensão induzida por sepse (pressão sanguínea sistólica inferior a 90 mmHg ou a sua redução em 40mmHg ou mais da linha de base na ausência de outras causas para hipotensão). Choque Séptico A hipotensão arterial induzida por sepse não responsiva à adequada reposição volêmica com hipoperfusão ou disfunção orgânica. MODS1 Disfunção de dois ou mais órgãos. Fonte: Adaptado de Bone et al., 1992a. 1: Síndrome da Resposta inflamatória Sistêmica 2: Disfunção de Múltiplos Órgãos por Sepse Neste consenso, de acordo com Bone et al. (1992b) o termo sepse representou uma resposta clínica decorrente de infecção, porém respostas semelhantes ou até mesmo idênticas, podem ocorrer por patológias não infecciosas, 12 tais como, pancreatite, isquemia, politraumatismos, queimaduras e choque hemorrágico, para as quais a expressão síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS) foi sugerida para descrever-las. Independentemente de sua causa, a SIRS poderia ser identificado como mais de uma das seguintes manifestações clínicas, não estando limitada a estas: (1) temperatura corporal superior a 38ºC, ou menor que 36ºC; (2) frequência cardíaca maior que 90 batimentos por minuto; (3) frequência respiratória superior a 20 respirações por minuto, ou hiperventilação, como indicado por uma PaCO 2 < 32 mmHg; (4) alteração na contagem de leucócitos, tal como leucocitose > 12000/cumm, leucopenia < 4000/cumm, ou a presença de mais do que 10% de neutrófilos imaturos (―bands‖) (Bone et al., 1992a). O consenso, segundo Bone et al. (1992b), definiu que a SRIS como o resultado de um processo infeccioso confirmado, é denominada sepse. Portanto, o termo sepse passou a representar a resposta inflamatória sistêmica à presença de um processo infeccioso ativo no hospedeiro. Todavia, segundo Marshall (2000), dados experimentais relativos a um número de novas intervenções levaram a uma necessidade de rever e modificar as definições de 1992 e refletir melhor a compreensão da fisiopatologia da sepse grave e choque séptico. Em 2001, a Conferência Internacional para definições da sepse foi realizada, reunindo membros dos Society of Critical Care Medicine (SCCM), European Society of Intensive Care Medicine (ESICM), American College of Chest Physicians (ACCP), American Thoracic Society (ATS) e Surgical Infection Society (SIS), revisando os critérios de Bone et al. (1992a), e consideraram que os critérios de diagnóstico deveriam ser sensíveis o suficiente para identificar a maioria dos pacientes com a síndrome, não devendo ser tão complicados para memorizar ou aplicar, além de adequados para pacientes adultos, pediátricos e neonatais. Tal como em 1992, a sepse foi definida como a síndrome clínica caracterizada pela presença de infecção e da resposta inflamatória sistêmica, sendo incluídos novos parâmetros para sua determinação (Tabela 2), além da simples suspeita clínica de infecção sem confirmação microbiológica. É por esta razão que se incluiu entre os critérios para estabelecer o diagnóstico da sepse achados como instabilidade hemodinâmica, hipoxemia arterial, oligúria, coagulopatia e função hepática alterada (Levy et al., 2003). 13 Tabela 2 - Critérios de diagnóstico para a definição de Sepse. Infecção, documentada ou suspeita, com algumas das seguintes condições: Variáveis gerais Febre (> 38,3°C) Hipotermia (temperatura basal < 36°C) Frequência cardíaca > 90bpm ou mais do que dois DP* acima do valor normal para a idade Taquipnéia Estado mental alterado Edema significativo ou balanço fluido positivo (> 20 mL/kg acima de 24 hr) Hiperglicemia (glicose no plasma > 140 mg/dL ou 7,7 mmol/L) na ausência de diabetes Variáveis inflamatórias Leucocitose (contagem de glóbulos brancos > 12.000 μL –1) Leucopenia (contagem de glóbulos brancos < 4000 μL –1) Contagem de glóbulos brancos normal com mais do que 10% de formas imaturas Proteína C-reativa no plasma mais do que 02 DP* acima do valor normal Pró-calcitonina no plasma mais do que dois DP* acima do valor normal Variáveis hemodinâmicas Hipotensão arterial (PAS < 90 mm Hg, PAM < 70 mm Hg ou redução de PAS > 40 mm Hg em adultos ou menos de dois sd abaixo do normal para a idade) Variáveis de disfunção de órgãos Hipoxemia arterial (PaO2/FIO2< 300) Oligúria aguda (diurese < 0,5 mL/kg/h por pelo menos 2 h apesar de ressuscitação fluida adequada) Aumento de creatinina > 0,5 mg/dL ou 44,2 μmol/L Anormalidades de coagulação (RNI > 1,5 ou TTPA > 60 s) Íleo (ausência de sons intestinais) Trombocitopenia (contagem de plaquetas < 100.000 μL–1) Hiperbilirubinemia (bilirrubina total no plasma > 4 mg/dL ou 70 μmol/L) Variáveis de perfusão tissular Hiperlactatemia (> 1 mmol/L) Diminuição do enchimento capilar ou mosqueamento Fonte: Adaptado de Levy et al. (2003). *DP: Desvios Padrões Marshall et al. (1995), em seu estudo identificaram critérios para definição da presença de disfunção orgânica em pacientes de unidades de tratamento intensivo (UTI). Abordando a sepse grave, Vincent et al. (1996) definiram o escore SOFA 14 (Sepse related Organ Failure Assessment) que é utilizado amplamente para definir a presença e a gravidade das disfunções orgânicas na sepse (Tabela 3). Tabela 3 – Variáveis e pontuações utilizadas no índice SOFA (Sepsis related Organ Failure Assessment). Escore SOFA 1 2 3 4 Respiratório PaO2 (mmHg) <400 < 300 < 200 <100 Coagulação (plaquetas x 103mm3) Hepático (bilirrubinas mg/dl) Cardiovascular < 150 < 100 < 50 <20 1,2-1,9 2,0-5,9 6,0-11,9 >12,0 PAM <70mmHg dopamina ≤ 5 ou dobutamina (qualquer dose) dopamina> 5 ou epinefrina ≤ 0,1 ou norepinefrina ≤ 0,1 dopamina > 15 ou epinefrina >0,1 ou norepinefrina >0, 10-12 6-9 <6 2,0-3,4 3,5-4,9 ou < 500 ml/dia >5,0 ou < 200ml/dia (com suporte ventilatório) Sistema nervoso 13-14 central (GCS) Renal 1,2-1,9 (creatinina mg/dl) ou débito urinário Fonte: Extraído de Vincent et al., 1996. Para Lever & Mackenzie (2007) sepse corresponde a uma violação da integridade da barreira do hospedeiro, seja física ou imunológica, com a penetração direta do patógeno para a corrente sanguínea, levando ao estado séptico. É uma resposta do hospedeiro deletéria sistêmica à infecção que leva a sepse grave (disfunção orgânica aguda secundária à infecção documentada ou suspeita) e choque séptico (sepse grave acrescida de hipotensão não revertida com ressuscitação por meio de fluido) que semelhante ao politrauma, infarto agudo ou acidente vascular cerebral, a velocidade e a adequação da terapia administrada nas primeiras horas após o desenvolvimento da sepse grave são susceptíveis de influenciar o resultado (Dellinger et al., 2013). 1.3. ASPECTOS EPIDEMIOLOGICOS DA SEPSE A sepse representa, segundo Parillo et al. (1990) a segunda maior causa de morte dentro de unidades de tratamento intensivo (UTI) e a décima causa nos Estados Unidos de acordo com Hoyert et al. (2001). Sendo considerada, desde a década de 1980, uma causa cada vez mais comum de morbidade e mortalidade, 15 particularmente em pacientes críticos, como idosos e imunodeprimidos (Balk & Bone, 1989). Para Vincent et al. (1995), a sepse é a causa mais comum de admissão em UTI não coronarianas. Também é registrada em 2% dos pacientes internados em hospitais, dos quais, metade é tratada em UTI, representando 10% de todas as internações em UTI (Angus et al., 2001). Em estudo realizado por Martin et al. (2003), nos Estados Unidos, constatouse que durante 22 anos de acompanhamento dos registros hospitalares, a incidência da sepse aumentou de 82,7 casos/100.000 habitantes para 240,4 casos/100.000 habitantes, representando um aumento anual de 8,7%. Angus et al. (2001) estudaram 192.980 casos de sepse grave, compreendidos em uma coorte de mais de 6,5 milhões de pacientes internados em 847 hospitais em sete estados americanos e estimaram uma incidência de 751.000 casos anuais de sepse nos Estados Unidos, sendo esta responsável por mais de 215 mil mortes (9,3% de todos os óbitos em 1995), com um custo estimado por caso de 22.100 dólares, correspondendo a custos totais de 16,7 bilhões de dólares anualmente ao país. Adhikari et al. (2010), extrapolando, a partir da incidência tratada das taxas de sepse nos Estados Unidos, estimaram cerca de 19 milhões de casos no mundo todo por ano. Também um estudo multicêntrico europeu, realizado em 198 UTI de 24 países revelou uma incidência de sepse de 37%, com uma mortalidade hospitalar geral de 24.1%, sendo que para pacientes com sepse grave e choque séptico, a mortalidade foi de 32,2 e 54,1%, respectivamente (Vincent et al., 2006). Na Alemanha foi desenvolvido um estudo multicêntrico para verificar a prevalência pontual durante um dia em 310 hospitais e 454 UTI, sendo considerados os critérios do consenso internacional ACCP/SCCM para resposta inflamatória dos pacientes das UTI. A prevalência foi de 12.4% (95% IC, 10.9-13.8%) para sepse ou 11.0% (95% IC, 9.7-12.2%) para sepse grave incluindo o choque séptico. A mortalidade relacionada à sepse na UTI foi de 48,4%, enquanto que a hospitalar foi de 55.2% (Engel et al., 2007). Além disso, em Viena, Áustria, uma pesquisa retrospectiva, no Hospital Geral de Viena - um hospital de ensino de 2.000 leitos – a partir de um total de 68.305 admissões para internação foi selecionada para sepse 139 pacientes durante um 16 período de 12 meses, observando uma incidência hospitalar de dois casos/mil admissões no ano de 2007, dos quais 44 (32%) receberam pelo menos algum tipo de tratamento na UTI. Entre os outros pacientes sépticos, 95 (70%) receberam tratamento em enfermarias de clínica médica e 10% em enfermarias cirúrgicas. Os pacientes eram predominantemente do sexo masculino, com uma idade média de 64 anos e mediana de internação de 10 dias (Stiemaier et al., 2013). A sepse grave foi considerada como sendo a causa mais comum de morte em UTI não coronarianos em 2001, sendo responsável por aproximadamente 150 mil mortes anualmente na Europa e mais de 200.000 nos Estados Unidos (Angus et al., 2001). Adrie et al. (2005), na França, realizaram uma pesquisa utilizando um banco de dados de 3 anos de 6 UTI que incluiu 1.698 pacientes com sepse grave, dos quais 713 (42%) tiveram sepse grave na admissão e 339 durante sua estada na UTI (211 apresentaram ambos). Identificaram que a taxa de mortalidade foi duas vezes maior para pacientes que adquiriram a infecção fora da UTI, independentemente da presença de sepse grave na admissão, com uma média de custos 22.800 € (21 400 €; 15 800 €). Também neste país, um estudo prospectivo, observacional, multicêntrico, em 206 UTI, incluindo 3.738 pacientes, mostrou uma incidência de sepse grave e choque séptico de 14.6% e mortalidade de 35% em 30 dias (BrunBuisson et al., 2004). Para descrever a evolução dos pacientes com sepse de acordo com a localização em uma enfermaria ou em uma UTI, Estebam et al. (2007), realizaram um estudo observacional prospectivo multicêntrico, em três hospitais universitários em Madrid, Espanha, incluindo 15.852 pacientes maiores de 18 anos de idade, entre os quais em identificou-se 702 casos de sepse, (taxa de incidência estimada de 367 casos por 100.000 habitantes por ano e uma taxa de incidência cumulativa entre os pacientes admitidos no hospital de 4,4%), cuja maioria dos pacientes com sepse teve uma infecção adquirida na comunidade (71%), 199 pacientes desenvolveram sepse grave (taxa de incidência de 104 casos por 100.000 habitantes por ano), e 59 pacientes desenvolveram choque séptico (taxa de incidência de 31 casos por 100.000 habitantes adultos por ano). Apenas 32 % dos pacientes com sepse grave recebeu tratamento intensivo. A mortalidade hospitalar para todos os pacientes com sepse foi de 12,8 %, para sepse grave, 20,7%, e para choque séptico, 45,7% (Esteban et al., 2007). 17 Outra pesquisa, desenvolvida por Finfer et al. (2004), na Austrália e Nova Zelândia, objetivando determinar a incidência e desfecho da sepse grave em pacientes tratados em 23 UTI de 21 hospitais destes países e comparar com estudos respectivos nos EUA e Reino Unido. Os autores identificaram que entre um total de 5.878 admissões consecutivas na UTI, 691 pacientes apresentaram 752 episódios de sepse grave (incidência de 11,8 por 100 admissões na UTI). O sítio de infecção mais prevalente nesta pesquisa foi o pulmonar em 50,3% dos episódios e abdominal em 19,3% dos episódios, perfazendo uma incidência de sepse grave de 0,77 por 1.000 habitantes para adultos tratados na Austrália e Nova Zelândia, e 26,5% dos pacientes da pesquisa morreram ainda na UTI, 32,4% morreram em até 28 dias após o diagnóstico de sepse grave e 37,5% morreram durante sua permanência no hospital (Finfer et al., 2004). Estudo realizado na Colômbia, com o objetivo de estabelecer a evolução e os determinantes da progressão de estágios clínicos da infecção para o choque séptico, em uma análise secundária de um estudo multicêntrico, que incluiu 10 hospitais em quatro cidades da Colômbia, com 2.681 pacientes internados nas enfermarias gerais ou UTI, 136 (5,1%) foram classificados como tendo infecção sem sepse, 575 (21,4%) com sepse, 1.576 (58,8%) com sepse grave, e 394 (14,7%) com choque séptico no momento da inclusão no estudo, o que revelou uma progressão do risco para sepse grave e choque séptico aumentado para infecções de fonte intra-abdominal e respiratória (OR=1,32; 95% IC=1,20-1,46 e OR=1,21; 95% IC=1,11-1,33, respectivamente), sendo a fonte de infecção um efeito diferencial na mortalidade na primeira semana de acordo com essas etapas e sua progressão (León et al., 2013). No Brasil, estudos epidemiológicos sobre sepse são escassos, porém os resultados das pesquisas já realizadas apontam para uma mortalidade superior à encontrada em outros países, fato que necessita de uma avaliação mais aprofundada (Henkin et al., 2009). No estudo BASES (Brazilian Sepsis Epidemiological Study) de Silva et al. (2004) foram avaliados 1.383 pacientes internados em cinco UTI dos estados de São Paulo e Santa Catarina, registrando uma incidência de sepse, sepse grave e choque séptico de 46,9%, 27,3% e 23%, respectivamente. A mortalidade para estes pacientes foi 33,9%, 46,9% e 52,2%, respectivamente, e taxas de letalidade, entre 18 os 884 pacientes que permaneceram internados além das primeiras 24 horas desde a admissão, variando entre 33,9% a 52,2% (Silva et al., 2004). Sales Junior et al. (2006), em um estudo epidemiológico multicêntrico denominado Sepse Brasil, analisaram pacientes de 75 UTI das cinco regiões geográficas do Brasil para avaliar a incidência de sepse. A amostra populacional correspondeu a 3.128 pacientes críticos, dos quais 16,7% apresentaram sepse e registrou-se uma mortalidade geral de 46,6%. Quando estratificados os dados para sepse, sepse grave e choque séptico, a incidência foi de 19,6%, 29,6% e 50,8%, respectivamente, e a taxa de mortalidade foi equivalente a 16,7%, 34,4% e 65,3%, respectivamente. Em 2008, o Instituto Latino-Americano de Sepse (ILAS) conduziu o estudo para avaliar os custos do tratamento de pacientes sépticos nas UTI brasileiras (públicas e particulares), no qual Sogayar et al. (2008) avaliaram custos e modelos de tratamento de pacientes admitidos em 21 UTI nacionais. Os critérios para sepse grave estavam presentes em 85 (16,2%) dos 524 pacientes avaliados; já para outros 395 pacientes (75,4%), o choque séptico estava presente. Eles relataram ainda uma taxa de letalidade global de 44,3%. Sendo que para UTI pública e privada, esta taxa foi de 49,2% e 37,7%, respectivamente (Sogayar et al., 2008). O estudo multicêntrico PROGRESS (Promoting Global Research Excellence in Severe Sepsis), desenvolvido em sete UTI brasileiras no ano de 2003, com acompanhamento de 982 pacientes, e em mais 35 países, nos quais cerca de 12.000 pacientes compuseram o restante da coorte revelou uma taxa de letalidade nos sete centros equivalente a 56%, maior que aquela observada nos demais países (30% em países desenvolvidos e 45% nos demais países em desenvolvimento) que participaram do estudo, apesar de não existirem diferenças nas idades medianas de cada grupo, nem nos escores de prognóstico e de disfunção orgânica (Beale et al., 2003). Vale ressaltar que este estudo teve uma nova edição no ano de 2009, na qual houve uma variação considerável entre países, com a Austrália relatando a menor taxa de mortalidade hospitalar (33%) e o Brasil apresentando a taxa de mortalidade mais elevada (68%) (Beale et al., 2009). Estudo em UTI de um hospital privado na cidade de Salvador, Bahia que incluiu todos os pacientes admitidos na UTI geral, entre junho de 2008 e março de 2009 para descrever as características clínicas, os dados laboratoriais e o desfecho clínico de pacientes sépticos e não sépticos admitidos identificaram-se 144 19 pacientes, dos quais 29 (20,1%) eram sépticos, destes, 55,2% eram do sexo masculino e a média de idade foi de 73,1 ± 14,6 anos. Já no grupo não séptico, 36,3% eram do sexo masculino, a média de idade foi de 68,7 ± 17,7 anos. A taxa de mortalidade na UTI foi de 38,5% para pacientes sépticos, enquanto que, entre os não sépticos foi de 15,2%. A mortalidade hospitalar também foi maior para o grupo de pacientes sépticos (60%). Assim, verificou-se que pacientes diagnosticados com sepse apresentaram piores desfechos clínicos, provavelmente por causa de sua maior gravidade (Juncal et al., 2011). Em 2007, outro estudo realizado na região sul do Brasil com pacientes em choque séptico admitidos em UTI, durante os anos de 2003 e 2004, descreveu uma incidência de 30% e mortalidade de 66,5% (Dias et al., 2007). Percebe-se que a incidência e mortalidade para sepse é elevada e já em 1980, identificando-se que aproximadamente 40% dos pacientes com sepse evoluiu para choque (Kreger et al., 1980). Em 1996, um estudo conduzido por Bone (1996), constatou que a mortalidade na síndrome séptica sem choque era de 13%, ao passo que passava para 28%, quando o choque estava presente no início da sepse e quando após a sepse desenvolvia-se o choque séptico a mortalidade atingia uma taxa de 43%. Diversos fatores, como a nova Classificação Internacional de Doenças (CID10) codificação de regras, confusão sobre a distinção entre septicemia e sepse grave, a melhoria da assistência prestada em terapia intensiva, além de uma maior sensibilização e vigilância podem levar a confusões na interpretação das tendências temporais (Angus & Van der Poll, 2013). A sepse grave ocorre, de acordo com Lagu et al. (2012) e Vincent et al. (2009), como resultado tanto de infecções adquiridas na comunidade como as associadas com infecções hospitalares, sendo a pneumonia a sua causa mais comum, respondendo por aproximadamente metade de todos os casos, seguido por infecções do trato urinário e intra-abdominais. Para Angus et al. (2001) os fatores de risco para sepse grave estão relacionados a predisposição do paciente para a infecção e a probabilidade de disfunção orgânica aguda. Doenças crônicas como a síndrome da imunodeficiência adquirida, doença pulmonar obstrutiva crônica, muitos tipos de câncer e a utilização de agentes imunossupressores são, segundo estes autores fatores de riscos bem 20 conhecidos para as infecções que mais comumente precipitam a sepse grave e choque séptico. Entre os pacientes com tais infecções, no entanto, segundo Angus & Wax (2001), os fatores de risco para disfunção orgânica são pouco estudados, mas provavelmente incluem o organismo causador e a constituição genética do paciente, estado de saúde subjacente e preexistente, além da função do órgão, juntamente com a oportunidade de intervenção terapêutica. Para Mayr et al. (2010), a idade, sexo e grupo étnico, influenciam na incidência de sepse grave, sendo superior em crianças e idosos em relação a outras faixas etárias, maior no sexo masculino do que no feminino, e maior em negros do que em brancos. Angus & Wax (2001) afirmam que muitos estudos tem se centrado em polimorfismos em genes que codificam proteínas envolvidas na patogênese da sepse, incluindo citocinas e outros mediadores envolvidos na imunidade inata, coagulação, e fibrinólise. No entanto, os resultados são geralmente discordantes, devido, pelo menos em parte a heterogeneidade das populações de pacientes estudados (Chung & Waterer, 2011; Namath & Patterson, 2011). Assim, para Dellinger et al. (2004), vive-se hoje uma era de grandes expectativas de que, em face das relevantes descobertas recentes, consiga-se alcançar melhoras significativas nas inaceitáveis, elevadas taxas de letalidade da sepse. Em consonância com tal euforia, em outubro de 2002, a ―Declaração de Barcelona‖ lançou a campanha mundial ―Surviving Sepsis Campaign‖, iniciativa global que visa à implementação mundial de esforços no sentido de reduzir-se a taxa de letalidade da sepse em 25% até o final da presente década (Dellinger et al., 2004). Estas diretrizes de prática clínica estão na sua terceira edição, são uma revisão das diretrizes de 2004 e 2008, baseadas em pesquisas da literatura, com objetivo de fornecer evidencias para o tratamento de sepse grave e choque séptico (Dellinger et al., 2013). 1.4. FISIOPATOLOGIA Para Lewis et al. (2012) a sobrevivência de organismos viventes frente a infecções depende das barreiras físicas adequadas para resistir a entrada de 21 patógenos e também de um sistema imune bem constituído, para induzir rapidamente um resposta de defesa adequada. A sepse surge como resultado de uma complexa interação entre o microorganismo infectante e a resposta imune, pró-inflamatória e pró-coagulante do hospedeiro (Russel, 2006 / Hotchkiss & Karl, 2003). Para Cohen (2002) a sepse desenvolve-se quando uma resposta inicial e apropriada do hospedeiro a uma infecção se torna amplificada e subsequentemente desregulada levando a um desequilíbrio entre as respostas pro e anti-inflamatórias. Lacoma et al. (2010) referem que a resposta inflamatória que surge em decorrência de infecções, inicia a ativação de mecanismos humorais e celulares em resposta a presença de um micro-organismo ou algum de seus componentes nos tecidos com o objetivo de limitar efeitos nocivos, sendo variável a resposta de acordo com fatores dependentes tanto do hospedeiro quanto do micro-organismo, mediante as vias de reconhecimento imunológico. Nos últimos anos, um número significativo de pesquisas tem sido publicado na tentativa de compreender os mecanismos fisiopatológicos dinâmicos e complexos relacionados à sepse (Schulte et al., 2013). Tem sido relatado que a resposta imune inata, que ao contrário da resposta imune adaptativa, é capaz de responder imediatamente a invasão de patógenos, bem como produtos de dano celular podem ser reconhecidos através da expressão dos seus PAMPS (Padrões Moleculares Associados a Patógenos) pelos receptores de reconhecimento padrão(RRP) do hospedeiro, como principais moléculas podemos citar os receptores Tool like (TLR) e NOD like (NLR) que levam a ativação dos mecanismos de iniciação da cascata inflamatória (Kortegen et al., 2006), desempenhando um papel importante na iniciação da fisiopatologia da sepse (Hansen et al., 2011). O sistema imune inato, para Oberholzer et al. (2001) constitui a primeira linha de defesa do hospedeiro, enquanto o sistema imune adaptativo compreende células altamente especializadas em reconhecer patógenos específicos e gerar respostas mais fortes cada vez que o patógeno é encontrado. A interação entre micro-organismos e hospedeiro, de acordo com Henkin et al. (2009), se inicia pelo reconhecimento das substâncias não-próprias, pertencentes ao agente etiológico, os chamados PAMPS, os quais constituem estruturas moleculares não-variáveis expressas por grupos de patógenos, que são, 22 habitualmente, cruciais para a virulência e/ou sobrevivência do agente. Os PAMPS, tais como lipopolissacarídeos, ácido lipoteicóico e peptídeoglicanos (Van der Poll & Opal, 2008) são identificados pelos receptores de reconhecimento de padrão (RRP), os quais são expressos por células do sistema imune inato (Flohé, 2006). A detecção de micro-organismos invasores pelo sistema imune inato para Akira et al. (2006), acontece via RRP, expressos em barreiras epiteliais assim como células dendríticas e macrófagos, que liberam uma plêiade de citocinas próinflamatórias, incluindo TNF-α(fator de necrose tumoral alfa), IL-1β (interleucina 1beta), IL-6(interleucina-6), IFN-γ(interferon-gama) e anafilotoxinas (C5a), que proporcionam uma inflamação sistêmica e disfunções na barreira epitelial, e desse modo intensificam a indução da expressão de ICAM-1(molécula de adesão intercelular-1), assim como outras citocinas desprendidas dos macrófagos, ou seja, IL-8(interleucina-8) e MCP-1 (proteína quimiotática de monócitos-1) ativa e promove a migração de neutrófilos em direção ao sitio da inflamação, e ainda aos demais remotos órgãos do organismo (Aziz et al., 2013; Akira & Takeda, 2004). Tang et al. (2010) relataram que a sepse leva à uma regulação positiva dos RRP e à ativação das cascatas de transdução de sinal. Após serem ativados, os TLR desencadeiam uma cascata de eventos intracelulares que culmina com a translocação nuclear do fator nuclear κB (NF- κB), um fator de transcrição que promove a expressão gênica de moléculas pró-inflamatórias, como o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) e interleucina-1(IL-1) (Henkin et al., 2009). Após o estímulo inicial, as células do sistema imune inato liberam quantidades significativas de citocinas, quimiocinas, produtos de ativação de complemento, e alarminas intracelulares durante o início, assim como na fase tardia da sepse (Opal & Huber, 2002). Segundo Opal & Depalo (2000) um infiltrado neutrofílico excessivo exacerba ainda mais a inflamação pelo desprendimento de vários outros mediadores pró-inflamatórios do tipo MPO (mieloperoxidase), NO (óxido nítrico), ROS (espécies reativas de oxigênio), TNF-α e IL-6, levando a ocorrência de severa injuria tecidual através da citotoxidade, degranulação e aumento da permeabilidade vascular. Por outro lado, citocinas anti-inflamatórias tais como IL-10 (interleucina-10) e TGF-β (fator transformador de crescimento beta) secretadas por estes macrófagos e neutrófilos polimorfos nucleares contrabalançam esta excessiva resposta imune ao exercerem respostas de regulação negativa da atividade inflamatória, sendo que um 23 desequilíbrio por um aumento excessivo destes mediadores pode causar disfunção imune contra os patógenos (Opal & Depalo, 2000). Embora o processo de fagocitose seja desencadeado durante a defesa inata, principalmente por neutrófilos e monócitos, tem sido observado um impedimento da fagocitose durante a sepse que está relacionado a uma disfunção em neutrófilos, determinado em vários estudos que mostram correlação entre a expressão de CD64, um receptor de alta afinidade para o fragmento Fc da IgG, em monócitos e neutrófilos polimorfos nucleares com atividade fagocítica (Schiff et al., 1997; Wallace et al., 1997). Deste modo, uma analise da expressão de CD64 nestas células por citometria de fluxo pode ser outro marcador de prognóstico e do estado imunológico de pacientes com sepse. De acordo com Stearns-Kurosawa et al. (2011), a descoberta de um número de potentes citocinas, incluindo o fator de necrose tumoral (TNF) e interleucina-1 (IL1), que estão aumentadas em doentes com sepse, e quando injetadas em animais reproduz muitas características clínicas e laboratoriais da sepse, conduziu ao conceito de sepse como uma "tempestade de citocinas". Todavia, a liberação desregulada de uma citocina pode levar à disfunção endotelial, caracterizada pela vasodilatação e aumento da permeabilidade capilar. Esta alteração está clinicamente associada à hipotensão, hemoconcentração, extravasamento de macromoléculas, e edema, os quais são sinais frequentemente encontrados em pacientes sépticos (Rivers et al., 2001). A elaboração da resposta imune adaptativa é conduzida a partir de um direcionamento desta resposta inata, sendo induzida pela interação com as células apresentadoras de antígeno (macrófagos e células dendríticas) que fagocitam patógenos permitindo o reconhecimento destes antígenos pelas células da imunidade adaptativa, ou seja, os linfócitos T não ativados, que proliferam e geram células efetoras (Células T ativadas), que geram diferentes subpopulações liberando distintos perfis de citocinas, como Th1: IL-2, TNF-alfa e INF-γ; Th2: IL-4, IL-5, IL-10 e IL-13, e Th17: IL-17. Uma mudança no balanço de citocinas de Th1 para Th2 pode causar imunossupressão evidenciada particularmente na fase tardia do sepse, e assim expondo a susceptibilidade do hospedeiro a infecções nosocomiais (Rittirsch et al., 2008; Perl et al., 2006). Ao interagir com o patógeno, células dendríticas imaturas transformam-se na forma matura servindo como células apresentadoras de antígenos (APC) 24 profissionais, essenciais na ativação da resposta adaptativa estimulando através da apresentação de antígenos a atividade funcional das células T. Na sepse as células imunes sofrem apoptose levando a um ambiente de imunossupressão (Aziz et al., 2013). Sendo que os linfócitos T não são os únicos afetados na sepse, visto que a contagem de células B também se encontra reduzida. Observa-se que linfócitos de pacientes com sepse podem encontrar-se anérgicos ou com alterações na expressão das moléculas de superfície, as quais incluem uma regulação positiva de proteínas responsáveis por uma sinalização negativa no sistema imune como linfócitos T citotóxicos, moléculas CTL4, CD47 e morte programada (Bandyopadhyay et al., 2007). Nessa mesma rota de imunossupressão devemos ressaltar que células T-reg no curso do sepse são capazes de modular a resposta imune pelos seguintes mecanismos: indução direta de apoptose de linfócitos citotóxicos (via ligante Fas/Fas), inibição de IL-2 e TNF-α por outras células e pela produção de citocinas antinflamatórias principalmente IL-10 e TGF-β (Venet et al., 2008; Jiang & Chess, 2004). Neste aspecto, IL-10 é um inibir efetivo da síntese de varias citocinas próinflamatórias e sua liberação massiva e prolongada pode levar a efeitos paralisantes para o sistema imune e consequentemente o desenvolvimento de infecções secundárias (Monneret et al., 2004; Oberholzer et al., 2002). Outra molécula com similar efeito, incluindo uma tolerância dos monócitos ao LPS (lipopolissacarídeo), é o TGF-β, ou ainda entre outras mais temos prostaglandina E2, cortisol, HLA-G, norepinefrina e acetilcolina (Gonzalez-Rey et al., 2007; Monneret et al., 2007; Tracey, 2007). Nesse contexto merece ser ressaltado que monócitos de pacientes com septicemia são caracterizados por uma regulação negativa de citocinas próinflamatórias, como por exemplo, TNF-α, IL-1, IL-6 e IL-12 (Munoz et al., 1991), acompanhada por um aumento simultâneo na produção de citocinas antinflamatórias como IL-10, indicando que na sepse estas células sofrem ativação direcionada a síntese de mediadores antinflamatórios (Cavaillion & Adib-Conquy, 2007). Do mesmo modo, ocorre uma diminuição na superfície destas células da expressão de moléculas de HLA-DR. Portanto, isto possibilitou que este parâmetro possa ser aceito como de grande valor diagnóstico, pois a expressão diminuída destas moléculas nos monócitos prediz um curso grave de sepse e ocorrência de infecções secundárias e em pacientes criticamente doentes o prognóstico tende a ser desfavorável (Monneret et al., 2008; Monneret et al., 2006; Döcke et al., 2005). 25 Assim, constata-se que a sepse causa imunossupressão por pelo menos três mecanismos diferentes: 1) extensiva depleção apoptótica de linfócitos T e B dos linfonodos, baço, pulmão e intestinos, bem como de outros órgãos; 2) disfunção e depleção de macrófagos e células dendríticas resultando em falhas na apresentação de antígenos as células T, comprometendo a imunidade adaptativa; e 3) alterações nas funções das células fagocitárias (tais como quimiotaxia e resposta antibactericida), reduzindo a resistência aos organismos infecciosos. Tais eventos podem causar inadequada contensão de bactérias comensais e não comensais, assim como reduzir as defesas contra os fungos. Isto pode levar a falência múltipla de órgãos, choque séptico e morte(Boomer et al., 2011). Outro ponto crítico que acompanha a resposta imune do hospedeiro na sepse é o aumento da proporção de células T-reg, que foi provado ser devido à diminuição de outras células T (CD4+, CD25-) preferencialmente do que a proliferação de T-reg (Venet et al., 2004). Esta perda de subpopulações de linfócitos no curso da sepse ocorre via mecanismos programados de apoptose (Greineder et al., 2007). Em geral, o desenvolvimento da sepse está associado com uma resposta inflamatória desregulada, que afeta rotas de sinalização com uma série de eventos adversos em consequência de um desequilíbrio no controle da resposta inflamatória. Estratégias promissoras para o tratamento da sepse incluem bloqueios de alguns mediadores a exemplo do tratamento com a IL7 que revertendo à imunossupressão, atenua a cascata dos eventos da sepse. Embora a reação imune na sepse seja generalizada e clinicamente similar em muitos pacientes tem sido evidenciado que a imunopatologia da sepse difere entre os pacientes. Foi observado, em um estudo de 505 pacientes com sepse, diferenças nas células imunes circulantes dependendo do tipo de infecção primária (Gogos et al., 2010). Uma diferença principal foi verificada no padrão de resposta imune gerada entre infecções por patógenos Gram-positivos que levavam a uma diminuição elevada no total de linfócitos T, seja CD4+, CD8+ ou NK, do que na sepse por microrganismos Gram-negativos (Holub et al., 2003). Portanto, estaet al. heterogeneidade de resposta do sistema imune durante a sepse fornece um argumento a mais para um monitoramento cuidadoso da resposta imune durante a terapia. 26 1.5. DIAGNÓSTICO DA SEPSE A sepse para León et al. (2007) é uma enfermidade tempo-dependente. Seu diagnóstico para Siqueira-Batista et al. (2011) é sugerido por dados clínicos e laboratoriais inespecíficos e confirmado, posteriormente, pelo isolamento do agente etiológico utilizando-se culturas de materiais biológicos. Também os autores consideram os métodos de imagem, como a radiografia, a ultrassonografia, o ecocardigrama, a tomografia computadorizada e a ressonância magnética, como sendo de utilidade, tanto para o diagnóstico, como também para a avaliação evolutiva do quadro infeccioso do paciente. O padrão ouro para detecção de bacteremias e sepse, para Huttunen & Aittoniemi (2011), permanece sendo o método de hemocultura, pois apesar de demorado e de seu valor limitado na detecção de bactérias de crescimento lento, este método é essencial para testes de susceptibilidade microbiana e confirmação da presença de bactérias viáveis na circulação. Dependendo da população alvo estudada, a sepse é revelada por meio de hemoculturas positiva em 28 e 60% dos casos (Vincent et al., 2006). Para Angus et al. (2001) e Ranieri et al. (2012) as hemoculturas, geralmente, são positivas para apenas um terço dos casos, e em até um terço dos casos, culturas de todos os sítios tem resultado negativo. Staphylococcus aureus e Streptococcus pneumoniae são os microrganismos gram-positivos mais comumente isolados, enquanto que, Escherichia coli, Klebsiella e Pseudomonas aeruginosa predominam entre os gram-negativos (Ranieri et al., 2012). Como o tempo é essencial para o diagnóstico e tratamento da sepse, as técnicas moleculares têm sido desenvolvidas para acelerar alguns passos na estratégia de diagnóstico (Vincent et al., 2006). Apesar de reduzirem o tempo de identificação bacteriana, muitas destas técnicas requerem incubação em meios de cultura e não detectam o agente diretamente na amostra de sangue (Leggieri et al., 2010). Os biomarcadores de resposta inflamatória e infecção tem se mostrado ferramentas de auxílio para melhorar o diagnóstico e o tratamento da infecção e facilitar e agilizar a tomada de decisões vitais para o doente (Julián-Jiménez, 2012/ Tudela et al., 2012). 27 Essas substâncias são definidas como moléculas mensuráveis presentes em uma amostra biológica de forma objetiva, sistemática e precisa, cujos níveis constituem indicadores de que um processo é normal ou patológico, servindo para monitorar a resposta ao tratamento implementado (León & Loza, 2014). Pierrakos & Vincent (2010) em sua revisão, encontraram 178 moléculas distintas propostas como biomarcadores para a sepse, que devido sua complexa fisiopatologia relaciona diversos tipos de células, tecidos e sistemas do hospedeiro. Um grande número de substâncias biológicas, de acordo com Westphal et al. (2009) e Tshoeke et al. (2006), tem sido investigado como biomarcadores candidatos e/ou mediadores da sepse, entra as quais proteína C reativa (PCR), procalcitonina, interleucina 6 (IL-6) e interleucina 18 (IL-18) são consideradas úteis no diagnóstico, bem como na classificação de gravidade da sepse, embora com limitações. Para Reinhart et al. (2012) podem ser classificados em 7 grupos, de acordo com suas propriedades químicas: aminas vasoativas, peptídeos vasoativos, fragmentos de complemento, mediadores lipídicos, citocinas, quimiocinas e enzimas proteolíticas. Dependendo da resposta inflamatória gerada pelo hospedeiro pode ser ativada a maioria destas substâncias (León & Loza, 2014). Alguns biomarcadores de sepse, como as citocinas, também são considerados importantes mediadores da sepse e a modulação dessas substâncias é de importância terapêutica (Schefold et al., 2007). Julian-Jiménez et al. (2013) em sua revisão avaliaram biomarcadores para sepse, buscando a aplicabilidade e utilidade clínica das seguintes moléculas: interleucina 6 (IL-6), receptor de superfície expressado em células mieloides (sTREM-1), neopterina, proadenomedulina (MR-proADM), lactato, proteína C reativa (PCR) e procalcitonina (PCT), concluindo que para sepse, as mais representativas foram a PCT, a PCR e o lactato, sendo a primeira a mais sensível e adequada para determinação de infecção em pacientes com febre ou sinais de SIRS. A PCT se mostrou superior a PCR quando avaliada para distinguir entre infecção bacteriana e viral, entre infecção bacteriana sistêmica ou localizada e também entre infecções bacterianas e causas não infecciosas de inflamação (SIMON et al., 2004). Além disso, a delimitação de um uso conjunto de múltiplos marcadores moleculares e/ou escores de prognósticos mais precisos da gravidade poderá permitir a previsão do desfecho da sepse (Oberholzer et al., 2005). 28 Na França, estudo realizado para determinar a utilidade da combinação de biomarcadores para o diagnóstico da sepse, avaliando no plasma as moléculas sTREM-1 e PCT; e em neutrófilos a molécula CD64, identificou-se que a sepse é mais provável em pacientes que apresentaram níveis elevados destas moléculas. Verificando-se alto desempenho na detecção quando combinados estes biomarcadores (Gibot et al., 2012). Para determinar a associação entre biomarcadores de base e episódios subsequentes de sepse, Wang et al. (2013), realizaram um estudo de caso-controle comparando 162 casos de sepse (hospitalizados por infecção grave com dois ou mais critérios de síndrome da resposta inflamatória sistêmica) e 162 controles (hospitalizado por uma infecção grave , mas não sepsis). Avaliaram as associações entre sepse e os níveis basais de interleucina 6 (IL-6), fator de necrose tumoral α (TNF-α), E-selectina, molécula de adesão intercelular-1 (ICAM-1) e molécula de adesão celular vascular-1 (VCAM-1), verificando que indivíduos com elevados níveis de IL-6 , E-selectina e ICAM-1 foram mais propensos a desenvolver futuramente sepse. Mostraram que esses biomarcadores podem desempenhar um papel na identificação precoce e prevenção de sepse (Wang et al.,2013). Na avaliação e no acompanhamento do paciente com sepse, também podese utilizar o escore Acute Physiologic Chronic Health Evaluation (APACHE II) — criado para avaliar a mortalidade hospitalar, sendo baseada na avaliação fisiológica para determinação da gravidade de doenças (Knaus et al., 1985). Porém, para Siqueira-Batista (2011) a melhor estratégia, para esta finalidade, é o escore Sequential Organ Failure Assessment (SOFA) de Vincent et al. (1996), o qual abrange variáveis respiratórias, hematológicas, hepáticas, cardiovasculares, neurológicas e renais. Além disso, conforme Bozza et al. (2007), tem-se ponderado uma associação de biomarcadores da inflamação a estes escores com o objetivo de ampliar a avaliação prognóstica nos pacientes sépticos. Em estudo realizado pelos autores os pacientes que morreram tiveram maior APACHE II e SOFA, em comparação com sobreviventes. Ainda observaram uma correlação positiva entre as citocinas IL-1β, IL-6, IL-8, IL-10, MCP-1 e G-CSF (fator estimulador de colônias de granulócitos) e o escore SOFA no primeiro dia de internação, além de que a combinação de MCP-1 e APACHE II teve a melhor precisão quanto ao aumento da mortalidade (BOZZA et al., 2007). 29 Também Oberholzer et al. (2005), em seu estudo, observaram que a associação das concentrações de IL-6 e o escore APACHE II exibiram bom desempenho na predição de mortalidade em pacientes com sepse grave. Giamarellos-Bourboulis et al. (2012), associando o prognóstico pelo APACHE II com a concentração de suPAR solúvel (receptor do ativador de plasminogénio tipo uroquinase) em uma coorte prospectiva na Grécia, envolvendo 1.914 pacientes com sepse (62,2% com sepse e 37,8% com sepse grave ou choque séptico), identificaram que APACHE II ≥ 17 e concentrações de ≥ 12 Supar ng/ml estavam associados com uma taxa de mortalidade de 51,7%. Outro estudo avaliou 794 admissões em UTI no Sul do Brasil, dos quais 239 (30%) apresentaram choque séptico, cujo índice APACHE II médio foi de 23,3 e o escore SOFA médio foi de 9,7; concluindo que a gravidade da doença (APACHE II> 24 pontos) é indicativa de mortalidade de alto risco; enquanto que o escore SOFA> 8 pontos é indicativo de pior prognóstico (Dias et al., 2007). Vale ressaltar que em uma considerável minoria de pacientes que apresentam sinais clínicos de sepse, o agente causador não é identificado. Contudo, se há suspeita de infecção causadora de SIRS, o paciente deve ser considerado séptico, apesar da cultura negativa, e deve ser instituída terapia adequada (O’Brien et al., 2007). 1.6. ASPECTOS ETIOLÓGICOS DA SEPSE Para O’Brien et al. (2007) as bactérias são consideradas frequentemente os únicos agentes causadores de sepse, entretanto fungos, vírus e parasitas também podem causar sepse. Para Huttunen & Aittoniemi (2011) a sepse é uma síndrome com muitas causas, sendo que bactérias gram-positivas, gram-negativas, fungos e vírus são os responsáveis por esta condição. Um estudo epidemiológico da sepse realizado por Martin et al. (2003) mostrou que, durante o período de 1979 a 2000, infecções por bactérias gram-positivas ultrapassaram infecções por bactérias gram-negativas, no entanto, recentemente Vincent et al. (2009), em um estudo envolvendo 14.000 pacientes internados em UTI em 75 países, descreveram isolamento de bactérias gram-negativas em 62% dos 30 pacientes com sepse grave que tiveram culturas positivas, enquanto bactérias grampositivas e fungos foram isoladas, respectivamente, em 47% e 19 % dos pacientes. Na literatura identificam-se padrões variados de agentes etiológicos para sepse, sendo que as bactérias são predominantes quando o estudo relaciona-se ao ambiente hospitalar, sobretudo, nas UTI conforme se verifica na Tabela 4. Zanon et al. (2008), acompanharam 971 pacientes admitidos em UTI de hospitais do Rio Grande do Sul, dos quais 414 (73,9%) desenvolveram infecção, sendo realizadas culturas de 340 pacientes (60,7%), cujos resultados foram positivos em 50,3% dos casos. A infecção nosocomial foi encontrada em 53,8% dos casos e os sítios mais frequentes de infecção foram os pulmões (71,6%), trato urinário (4%) e as feridas cirúrgicas (3%). As culturas positivas foram na maioria das vezes obtidas por saliva (23%), urina (18,8%) e sangue (12,7%). Os patógenos mais frequentes foram bacilos gram-negativos (Escherichia coli, Pseudomonas aeruginosa, Enterobacter sp e Acinetobacter sp) em 53,2% dos casos e cocos grampositivos (30,4%) (Staphylococcus Coagulase-negativo e Staphylococcus aureus). Em 2,8% dos casos foram identificados mais de um patógeno e fungos em 1,3%. 31 Tabela 4. Distribuição dos agentes infecciosos causadores de sepse na literatura. Artigo Local Tipo de agente Guidet et al. (2005) França Gram-Positivos Sthaphilococcus aureus MRSA Streptococcus pneumoniae Enterococcus GramNegativos Pseudomonas E. Coli H. Influenzae Klebsiella Fungos Não especificado Vírus Não especificado Parasitas Não especificado 12,4% 3,4% 6,3% 1,5% Gram-Positivos Staphilococcus Streptococcus Clostridium GramNegativos Neisseria Outros Gram-Negativos Fungos Candida Anaeróbios Não especificado 19,4% 5,8% 0,7% Gram-Positivos S. Aureus S. Pneumoniae Enterococcus faecalis Staphylococcus epidermidis GramNegativos Pseudomonas aeruginosa Acinetobacter Baumanni Legionella pneumophila Klebsiella pneumoniae Fungos Candida spp Pneumocystis carini 32,7% 21,2% 9,6% 7,7% Gram-Positivos S.aureus MRSA S. Epidermides GramNegativos E. Coli Enterobacter Klebsiella Pseudomonas Acinetobacter Fungos Candida Parasitas Não especificado 20,5% 10,2% 10,8% Gram-Positivos Staphilococcus C.N. S. Pneumoniae MRSA 26,0% 21,0% 18,0% Stiermaier et al. (2013) Alemanha Madrid, Blanco et al. (2008) Espanha Vincent et al. (2009) Esteban et al. (2007) Espanha Gênero/Espécie Frequência 8,0% 8,5% 4,0% 2,2% 1,8% 2,7% 2,2% 1,4% 9,4% 2,2% 1,4% 20,9% 10,9% 7,8% 3,1% 20,0% 13,3% 16,0% 7,0% 12,7% 19,9% 8,8% 17,0% 0,7% 32 GramNegativos E. Coli 63,0% Klebsiella 9,5% Pseudomonas 7,8% Proteus 6,0% Fonte: Adaptado de Guidet et al. (2005), Stiemaier et al. (2013), Blanco et al. (2008) Vincent et al. (2009), Esteban et al. (2007). Assim, percebe-se que a sepse apresenta padrões variados em todos os seus aspectos que dependendo de fatores como: a região geográfica, condições sócioeconômicas da população, prevalência de comorbidades e medidas terapêuticas empregadas no tratamento; o perfil epidemiológico e clínico pode se comportar de maneira diferente. Especificamente no Brasil, devido suas dimensões continentais, há variações quanto ao perfil de pacientes sépticos e taxas de prevalência, incidência e mortalidade por sepse, sepse grave e choque séptico, entre as cinco regiões geográficas do país e dentro dos estados membros, tornando-se importante o estudo das características desta síndrome a fim de melhorar o diagnóstico, tratamento e prognóstico de pacientes acometidos por sepse para evitar que não evoluam para os estágios mais avançados da doença e para reduzir as taxas de mortalidade. 33 1.7. OBJETIVOS 1.7.1. GERAL Analisar as características clinico-epidemiologicas da sepse em pacientes internados em uma Unidade de Terapia Intensiva da Fundação Hospital de Clínicas Gaspar Vianna em Belém-PA. 1.7..2. ESPECÍFICOS Determinar os fatores de risco preditivos da sepse na UTI estudada; Identificar os micro-organismos mais frequentes na população de pacientes estudada; Estabelecer a relação entre sepse e mortalidade. 34 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1. DESENHO DO ESTUDO Foi desenvolvido um estudo de coorte, do tipo retrospectivo, envolvendo pacientes com sepse, sepse grave e choque séptico, que estiveram internados na UTI Geral da Fundação Pública Estadual Hospital de Clínicas Gaspar Vianna (FHCGV) no período de novembro de 2011 a outubro de 2014. O estudo visou responder os seguintes questionamentos: quais os aspectos epidemiológicos da sepse em pacientes internados na UTI pesquisada? Quais variáveis epidemiológicas (sexo, faixa etária, grupo étnico) estão associadas à sepse nos pacientes pesquisados? Quais os fatores de risco envolvidos na ocorrência de sepse na UTI? Quais os agentes infecciosos causadores de sepse de maior prevalência encontrados na UTI em estudo? Qual a relação entre sepse e mortalidade dentro da UTI? As hipóteses para a referida pesquisa foram: a) Existem fatores de risco associados ao prognostico ruim no quadro séptico. b) Pacientes com sepse apresentam maior mortalidade entre pacientes internados em UTI. 2.2. LOCAL DO ESTUDO O estudo foi realizado na UTI adulto da Fundação Pública Estadual Hospital de Clínicas Gaspar Vianna (FHCGV), na cidade de Belém-PA, o qual é referência nos serviços de cardiologia, nefrologia e psiquiatria do Estado do Pará. A FHCGV é um hospital público de nível terciário, pertencente ao Governo do Estado do Pará vinculada à Câmara Setorial de Políticas Sociais. O hospital tem como missão de garantir atendimento ambulatorial e hospitalar de média e alta complexidade e apoiar o ensino e pesquisa na área de saúde. É referência em psiquiatria, em nefrologia e cardiologia, oferece, além do atendimento nos serviços de referência supracitados, consultas e internações em clínica médica, clínica cirúrgica, clínica pediátrica e clínica ginecológica e obstétrica, voltadas prioritariamente a pacientes que se encaixam no perfil das novas referências. É 35 constituído por 245 leitos, incluindo 39 leitos de terapia intensiva, sendo 11 leitos de UTI adulto geral, 10 leitos de UTI coronariana, além de 8 leitos de UTI pediátrica e 10 leitos UTI neonatal. A escolha pela unidade de terapia intensivo adulto geral foi devida este setor favorecer o acompanhamento dos pacientes devido à média de permanência mostrar-se maior neste setor em comparação com as demais UTI da instituição. 2.3. ASPECTOS ÉTICOS Este estudo foi submetido à análise do Comitê de Ética em Pesquisa Humana da Fundação Hospital de Clínicas Gaspar Vianna, conforme indicação da Plataforma Brasil/MS, sendo aprovado segundo as normas e diretrizes do CONEP (Resoluções 466/2012 e 345/2005), CAAE (35929614.0.0000.0016). Como a pesquisa foi realizada a partir de informações obtidas em prontuários clínicos e boletim hospitalar, referente a um período retrospectivo, entre os anos de 2011 e 2014, foi solicitado à dispensa do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), na oportunidade de submissão do projeto junto ao Comitê de Ética em Pesquisa. 2.4. AMOSTRAGEM, CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO. A coorte deste estudo foi formada por pacientes de ambos os sexos, que foram admitidos na UTI geral da FHCGV no período de novembro de 2011 a outubro de 2014 para tratamento clínico ou cirúrgico, com suspeita ou não de infecção ou com prévia confirmação desta, que evoluíram com sinais clínicos compatíveis com sepse, sepse grave ou choque séptico na admissão na unidade ou durante sua permanência na mesma. Para definição dos casos de sepse foram utilizados as diretrizes internacionais para tratamento da sepse grave e choque séptico de Dellinger et al. (2013) apresentados na Tabela 2 (Critérios de diagnóstico para a definição de Sepse), que compõem a campanha sobrevivendo a sepse, com critérios clínicos padronizados internacionalmente em consensos para caracterização de indivíduos com SIRS, sepse, sepse grave e choque séptico, de acordo com os sinais clínicos de infecção ou infecção comprovada por meios laboratoriais (culturas de microorganismos com resultado positivo e descrição do agente etiológico envolvido na infecção). 36 As informações para este estudo tiveram como fonte prévia os levantamentos do banco de dados da Comissão de Infecção Hospitalar (CCIH) da FHCGV, possibilitando identificar os pacientes que apresentaram infecção no período de novembro de 2011 a outubro de 2014. A partir deste levantamento, os prontuários médicos destes pacientes foram revisados minuciosamente e coletados dados de interesse para o estudo. Para inclusão no estudo, foram considerados pacientes de ambos os sexos, independentemente de raça, que foram internados na FHCGV durante o período estudado e durante este período foram admitidos na UTI geral, e evoluíram com quadro compatível com sepse, sepse grave ou choque séptico, independente de diagnostico prévio de infecção ou infecção adquirida dentro da UTI, cujos prontuários possuam dados completos para a realização da pesquisa. Foram excluídos deste estudo os pacientes internados na UTI durante o período de estudo, em que a SIRS foi determinada por outra causa, além daqueles que desenvolveram quadro compatível com sepse, ou aqueles cujos prontuários não estavam completos ou não foram encontrados no arquivo médico hospitalar. 2.5. PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS Os dados foram coletados em formulário próprio (Anexo 1) criado para esta pesquisa e integrante de um banco de dados do Epi Info® versão 7.0, que constituiu a fonte de registro para este estudo. As informações coletadas incluiram as variáveis: sexo, raça, idade, tempo de internação na UTI, sinais e sintomas relacionados à sepse (conforme diretrizes internacionais para tratamento da sepse grave e choque séptico), sitio de infecção provável ou determinada, antecedente mórbido pessoal (hipertensão arterial, diabetes mellitus, cardiopatia, nefropatia, pneumopatia), informações da alta hospitalar (alta para clínica ou óbito), exposição a dispositivos e procedimentos invasivos relativos a cateter venoso central, intubação orotraqueal, traqueostomia, sondagem vesical, cirurgias. 37 2.6. ANÁLISE ESTATÍSTICA Os resultados do presente estudo foram analisados com auxilio do banco de dados criado e utilizando o programa estatístico Epi Info® versão 7.0 e o Bioestat® versão 5.4. O teste de Odds Ratio foi utilizado para verificar o risco de óbito entre as categorias identificadas, a fim de verificar a diferença significativa entre as proporções de melhora (alta) e óbito. O teste G foi utilizado para comparar as variáveis segundo o estágio da sepse (sepse, sepse grave ou choque séptico). O teste T foi utilizado para comparar as médias das variáveis idade, tempo de internação na UTI e tempo de internação hospitalar segundo os grupos de sepse, sepse grave e choque séptico. Para o cálculo da significância estatística foi estabelecido nível alfa (p< 0,05) (Ayres et al., 2006). 38 3. RESULTADOS Durante o período compreendido entre o mês de novembro de 2011 ao mês de outubro de 2014, foram elegíveis para o estudo 181 pacientes que estiveram internados na UTI Adulto da FHCGV. Foram excluídos da pesquisa 14 pacientes, sendo 11 por indisponibilidade do prontuário clínico (não encontrado) e 03 por apresentarem dados insuficientes. Deste modo, foi avaliado um total de 167 pacientes, classificados em 03 grupos ou categorias: sepse, com 27 pacientes (16,2%), sepse grave com 62 (37,1%) e choque séptico com 78 indivíduos (46,7%). Entre estes pacientes ocorreram 126 óbitos, correspondendo a uma taxa de mortalidade geral de 75,45%. Estas informações estão detalhadas na figura 1. Pacientes elegíveis para o estudo n=181 Pacientes excluídos n=14 Pacientes analisados no estudo n=167 Mortalidade=75% Prontuários não encontrados n=11 Sepse n=27 (16%) Mortalidade=63% Dados insuficientes n=03 Sepse Grave n=62 (37%) Mortalidade=63% Choque Séptico n=78 (47%) Mortalidade=90% Figura 1 - Diagrama do estudo envolvendo os tipos de sepse e o desfecho óbito entre os pacientes internados na UTI Adulto da FHCGV, 2011 a 2014. 39 3.1. CARACTERIZAÇÃO GERAL DA POPULAÇÃO EM ESTUDO A tabela 5 apresenta a caracterização geral dos pacientes incluídos no estudo, na qual se verifica que a maioria era do sexo masculino (59,9%). A faixa etária variou de 13 a 95 anos, com média de 63,75± 17,15 anos e predomínio de pacientes com mais de 60 anos (65,9%). Quanto ao grupo étnico, 126 (75,44%) dos investigados eram negróides, 40 (23,95%) caucasóides e apenas um indígena. As internações do tipo emergência foram predominantes em relação às internações eletivas, 89,2% e 10,78%, respectivamente, sendo o setor de origem mais frequente o setor de Emergência (53,3%), seguido pela Clínica Médica (23,9%). As patologias cardiovasculares (37,7%) e respiratórias (26,9%) foram os principais motivos de admissão na UTI. Quanto aos procedimentos invasivos, em 98,2% dos pacientes os procedimentos mais realizados foram ventilação mecânica e cateterização central (ambos 96,4%), hemodiálise (46,1%) e procedimentos cirúrgicos em geral (19,77%), enquanto que 03 pacientes (1,8%) não foram submetidos a nenhum procedimento invasivo. A maioria dos pacientes deste estudo apresentou infecção em múltiplos sítios (56,3%), mas em 4,8% não foi especificado o foco exato do processo infeccioso. Entre estes as infecções corresponderam aquelas do trato respiratório (84%), na pele e mucosas (41%), e infecções relativas ao uso do cateter venoso central (29%). A infecção de origem hospitalar ocorreu em 79,64% dos casos, enquanto a comunitária em 8,98%, e, ambas as infecções em 11,37% dos pacientes (Tabela 5). Apenas 11 pacientes (6,6%) não apresentaram nenhuma comorbidade associada à sepse, ao passo que, identificou-se 47 pacientes (28,14%) apresentando apenas uma comorbidade e 109 (65%) apresentando mais de uma comorbidade (Figura 2). As patologias associadas mais prevalentes foram a hipertensão arterial sistêmica (HAS), doenças pulmonares obstrutivas crônicas (DPOC) e insuficiência cardíaca congestiva (ICC), conforme figura 3. Entre os pacientes com sepse grave e choque séptico com disfunções orgânicas, englobando aquelas de forma isolada e múltiplas verifica-se que as mais prevalentes foram a respiratória (54%), a nefrológica (39%) e a cardiovascular (27%), seguidas pelas disfunções neurológica (8%), hematológica (8%) e hepática (6%) (Figura 4). Na amostra em geral, as disfunções orgânicas classificadas de forma isolada e múltiplas estavam presentes em 54,3% e 45,7% dos pacientes, respectivamente. 40 Tabela 5 - Características gerais da população em estudo. Variáveis Sexo Categorias Feminino Masculino Idade ≤ 60 Anos > 60 Anos Etnia Caucasóide Negróide Indígena Tipo de Internação Eletiva Emergência Setor De Origem Hemodinamica Emergência Clínica Médica Cirurgia Outro Hospital Motivo da admissão na UTI Genitourinário Cardiovascular Respiratório Infeccioso Outros Motivos Comorbidades Ausente Presente Disfunções Orgânicas Ausente Presente Origem da Infecção Comunitária Hospitalar Ambas Agentes Infecciosos Não Identificado Isolado Único Polimicrobiano Foco da Infecção 01 Foco Múltiplos focos Não especificado Classificação da Infecção Sepse Sepse Grave Choque Séptico Número de procedimentos ≤ 03 invasivos > 03 Procedimentos Invasivos Cirurgia (80.23/19.77) Ventilação Mecânica Cateter Central Hemodiálise Nº de pacientes (167) 67 100 57 110 40 126 01 18 149 10 89 40 21 07 17 63 45 26 16 11 156 27 140 15 133 19 50 79 38 65 94 08 27 62 78 24 143 33 161 161 77 % 40,12 59,88 34,13 65,87 23,95 75,44 0,60 10,78 89,22 5,99 53,29 23,95 12,57 4,20 10,18 37,72 26,95 15,57 9,58 6,59 93,41 16,17 83,83 8,98 79,64 11,37 29,95 47,30 22,75 38,90 56,30 4,80 16,17 37,12 46,70 14,37 85,63 19,77 96,41 96,41 46,11 41 7% 28% Ausente Isoladas 65% Múltiplas Figura 2 - Frequências de comorbidades entre os pacientes internados na UTI Adulto da FHCGV, 2011 a 2014. 60% 56% 53% 50% % de pacientes 43% 42% 40% 34% 29% 29% 27% 30% 20% 13% 7% 10% 8% 4% 1% 0% 2% 0% 2% 2% 0% HAS DPOC Isoladas ICC Em conjunto DM IRC OUTRAS Mortalidade Figura 3 - Distribuição das comorbidades e a relação com o desfecho óbito na sepse. 42 3.2. ANÁLISE QUANTO A CLASSIFICAÇÃO DA INFECÇÃO A tabela 6 apresenta a caracterização epidemiológica dos pacientes deste estudo em relação ao tipo de infecção (sepse, sepse grave ou choque séptico). Nota-se que as variáveis como idade, sexo, etnia, setor de origem, motivo de internação, comorbidades, origem e foco da infecção não apresentaram diferença estatisticamente significante entre os grupos. Por sua vez, as variáveis referentes a saída da UTI, tipo de internação, presença de disfunções orgânicas e procedimentos invasivos como intubação e hemodiálise apresentaram uma associação significativa. E nestes casos, uma interpretação geral desta analise estatística, com o Teste-G, demonstra que esta relação de dependência entre estas variáveis significativas tende a ocorrer na direção daquelas categorias de maior severidade da sepse, ou seja, sepse grave e choque séptico. Tabela 6 - Características epidemiológicas dos indivíduos estudados segundo o tipo de sepse. Variáveis Idade ≤ 60 Anos > 60 Anos Sexo Masculino Feminino Etnia Caucasóide Negróide Indígena Setor de Origem Emergência Clínica Médica Cirurgia Hematologia Outro Hospital Saída da Uti Alta Óbito Tipo de Internação Emergência Eletiva Motivo da Internação Cardiovascular N= 27 Sepse Grave N= 62 Choque Séptico N= 78 57 110 06 21 20 42 31 47 0,23 100 67 15 12 38 24 47 31 0,89 40 126 01 4 23 0 12 49 01 24 54 01 89 40 21 10 07 14 05 06 00 02 34 14 07 05 02 41 21 08 05 03 0,74 41 126 10 17 23 39 08 70 0,0002 149 18 20 07 57 05 72 06 0,05 63 10 26 27 0,12 Total Sepse N= 167 p-Valor* 0,15 _ 43 Variáveis Total Sepse N= 167 45 17 26 16 N= 27 03 03 05 06 Sepse Grave N= 62 19 08 07 02 Choque Séptico N= 78 23 06 14 08 p-Valor* Respiratório Genitourinário Infeccioso Outros Motivos Comorbidades Ausentes 11 04 03 04 0,19 HAS 26 09 08 09 DPOC 12 01 06 05 ICC 11 0 07 04 DM 01 0 01 0 Multiplas 106 13 37 56 Disfunções Orgânicas ˂ 0,0001 Ausentes 27 27 0 0 Únicas 76 0 37 38 Multiplas 64 0 25 40 Procedimentos Invasivos Ventilação Mecânica 0,04 (Não/Sim) 6/161 3/24 3/59 0/78 Cirúrgia (Não/Sim) 134/33 23/4 51/11 60/18 0,58 Cateter Central (Não/Sim) 6/161 2/25 4/58 0/78 0,08 0,0019 Hemodiálise (Não/Sim) 90/77 21/06 37/25 32/46 Origem da Infecção Comunitária 15 04 06 05 0,76 Hospitalar 133 20 50 63 Ambas 19 03 06 10 Foco da Infecção Respiratório 51 06 20 25 0,36 Genitourinário 01 0 01 0 Cardiovascular 03 01 01 01 Pele 10 04 04 02 Focos Múltiplos 94 13 32 49 Foco não Especificado 08 03 04 01 * Os valores de p desta tabela foram obtidos a partir do teste estatístico não paramétrico tipo G. A média de permanência na UTI foi de 39 dias e de permanência hospitalar de 63 dias de internação. Observou-se ainda diferença estatisticamente significante no tempo de permanência na UTI entre os diferentes tipos de sepse (sepse x sepse grave; sepse x choque séptico e sepse grave x choque séptico), sendo maior o tempo de internação no choque séptico (média 59,20 ± 44,14 dias) e menor na sepse (média 29,15 ± 25,34dias), conforme descrito na tabela 7. 44 Tabela 7 - Tempo de permanência em dias na UTI em relação aos tipos de sepse. Variável Grupo Sepse X Sepse grave Sepse X Choque séptico Sepse grave X Choque séptico Média ± SD 29,15 ± 25, 34 p-valor (unilateral) IC 95% 0,0361 -27,9749 a -0,2651 0,0006 -44,4068 a -15,6932 0,0120 -29,5984 a -2,2616 43,27 ± 36,62 29,15 ± 25,34 59,20 ± 44,14 43,27 ± 36,62 59,20 ± 44,14 45 3.3. ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA E O DESFECHO ÓBITO As variáveis estudadas entre os pacientes com sepse, sepse grave ou choque séptico em função do desfecho óbito estão incluídas na tabela 8. Especificamente, nos grupos sepse, sepse grave e choque séptico a taxa de mortalidade foi de 10%, 23% e 42%, respectivamente (Figura 5). Sendo que, os pacientes que evoluem para choque séptico apresentam risco de óbito 5 vezes maior em relação aos pacientes com sepse ou sepse grave. Além disso, percebe-se que há diferença estatisticamente significante entre o desfecho dos casos e a variável idade, que mostrou risco duas vezes maior para óbito em pacientes maiores de 60 anos. Adicionalmente, os pacientes com algum tipo de comorbidade apresentam risco 4 vezes maior para óbito do que aqueles sem quaisquer comorbidades. A figura 3 mostra a distribuição de comorbidades e sua relação com a frequência de mortalidade na sepse. Do mesmo modo, observou-se que a mortalidade foi maior entre o grupo acometido por infecções nosocomiais (79,69%) em relação ao grupo de infecções comunitárias (46,66%). A origem da infecção apresentou diferença estatisticamente significante, sendo que, a probabilidade de óbito entre os indivíduos com infecção hospitalar foi 4 vezes maior em relação a infecção comunitária. No que se refere aos procedimentos invasivos realizados durante a internação dos pacientes na UTI Adulto, verificou-se que a realização de sessões de hemodiálise aumenta o risco de óbito que passa a ser duas vezes superior em relação ao dos pacientes que não foram submetidos a este procedimento. Além do que, as variáveis como sexo, etnia, tipo e motivo de internação, setor de origem, número de focos de infecção, ocorrência de disfunções orgânicas, identificação de agentes infecciosos, e ainda aquelas referentes ao número e ao tipo de procedimentos invasivos não apresentaram associação significativa com o desfecho óbito entre os pacientes avaliados. Assim, isto pode ser evidenciado, por exemplo, no caso dos pacientes com disfunções orgânicas e sepse grave ou choque séptico, cuja mortalidade atingiu 77,86 %, ainda que a diferença na frequência de mortalidade entre os vários tipos de disfunções orgânicas não seja estatisticamente significante (Figura 4). 46 Tabela 8 - Características epidemiológicas da população em estudo e o risco de óbito. Variáveis Sexo Feminino Masculino Idade ≤ 60 Anos > 60 Anos Etnia Caucasóide Negróide Indígena Tipo de Internação Eletiva Emergência Setor De Origem Hemodinamica Emergência Clínica Médica Cirurgia Outro Hospital Motivo da Internação Genitourinário Cardiovascular Respiratório Infeccioso Outros Motivos Comorbidades Ausente Presente Disfunções Orgânicas Ausente Presente Origem da Infecção Comunitária Hospitalar Ambas Agentes Infecciosos Não Identificado Isolado Único Polimicrobiano Foco da Infecção 01 Foco Múltiplos focos Não especificado Total Nº de óbitos (%) OR (95% IC) p-Valor 67 100 53 (79,10) 73 (73,00) 1,00 0,71 (0,34 ≤ µ ≤1,49) 0,47 57 110 37 (64,91) 89 (80,90) 1,00 2,29 (1,11 ≤ µ ≤ 4,72) 0,04 40 126 01 28 (70,00) 97 (76,98) 01 (100,00) 1,00 1,43 _ (0,65 ≤ µ ≤ 3,17) _ 0,50 _ 18 149 13 (72,22) 113 (75,84) 1 1,21 (0,40 ≤ µ ≤ 3,62) 10 89 40 21 07 07 (70,00) 65 (73,03) 34 (85,00) 15 (71,43) 05 (71,43) 1,00 1,16 2,43 1,07 1,07 (0,28 ≤ µ ≤ 4,86) (0,49 ≤ µ ≤ 12,1) (0,21 ≤ µ ≤ 5,58) _ 0,86 0,52 0,73 0,63 17 63 45 26 16 11 (64,7) 53 (84,13) 32 (71,11) 18 (69,23) 12 (75,00) 1 2,89 1,34 1,23 1,64 (0,87 ≤ µ ≤ 9,62) (0,41 ≤ µ ≤ 4,39) (0,33 ≤ µ ≤ 4,49) (0,36 ≤ µ ≤ 7,38) 0,1513 0,8577 0,9815 0,7917 11 156 05 (83,33) 121 (77,56) 1 4,15 (1,19 ≤ µ ≤ 14,4) 0,0424 27 140 17 (62,96) 109 (77,86) 1 2,07 (0,86 ≤ µ ≤ 4,97) 0,1608 15 133 19 07 (46,66) 106 (79,69) 13 (68,42) 1 4,49 2,48 (1,49 ≤ µ ≤ 13,5) (0,61 ≤ µ ≤ 10,1) 0.0113 0,3530 50 79 38 35 (70,00) 61 (77,21) 30 (78,95) 1 1,45 1,61 (0,65≤ µ ≤ 3,24) (0,60≤ µ ≤ 4,31) 0,4790 0,4831 65 94 08 48 (73,8) 71 (75,5) 07 (87,5) 1 1,09 2,48 (0,53 ≤ µ ≤ 2,26) (0,28 ≤ µ ≤ 21,6) 0,9562 0,6812 0,9626 47 Variáveis Classificação da Infecção Sepse Sepse Grave Choque Séptico Nº De Procedimentos Invasivos ≤ 03 > 03 Procedimentos Invasivos Cirúrgia (Não/Sim) Ventilação Mecânica (Não/Sim) Cateter Central (Não/Sim) Hemodiálise (Não/Sim) Total Nº de óbitos (%) 27 62 78 17 (62,9) 39 (62,9) 70 (89,7) 1,00 1,00 5,15 (0,39 ≤ µ ≤ 2,54) (1,76 ≤ µ ≤ 15,0) 0,82 0,0039 24 143 15 (62,5) 111 (77,62) 1,00 2,08 (0,83 ≤ µ ≤ 5,20) 0,18 134/33 102/24(80,95/19,15) 0,84 (0,35 ≤ µ ≤ 1,98) 0,86 6/161 0/126 (0/78,26) 6/161 90/77 0/126 (0/78,26) 62/64 (68,88/83,11) Alta 5% Óbito 10% OR (95% IC) _ _ _ _ _ _ 2,22 (1,06 ≤ µ ≤ 4,68) Alta 6% Óbito 42% Óbito 23% Alta 14% p-Valor Sepse Sepse Grave Choque Séptico Figura 5 - Frequência de óbito e alta na sepse, sepse grave e choque séptico. 0,05 48 3.4. IDENTIFICAÇÃO DOS AGENTES INFECCIOSOS NOS TIPOS DE SEPSE As informações relativas a identificação dos agentes infecciosos em relação aos tipos de sepse estão especificadas na tabela 9. O agente infeccioso não foi determinado em 50 casos (29,95%), ao passo que, um único microrganismo causador foi isolado em 79 (47,3%) casos e a infecção polimicrobial esteve presente em 38 pacientes (22,75%). Identificou-se um predomínio de bactérias Gram-Negativas (41,32%) em relação a microrganismos Gram-Positivos (4,79%) e fungos (1,20%), sendo as espécies Pseudomonas aeruginosa e Klebsiella pneumoniae os agentes mais prevalentes, com 39,13% e 24,64%, respectivamente. Os indivíduos acometidos por estas espécies de microrganismos apresentaram elevada taxa de mortalidade (85,18% e 64,71%, respectivamente). Tabela 9. Identificação dos agentes infecciosos e a frequência de mortalidade distribuída entre os diferentes tipos de sepse. Sepse Choque Microrganismos Total (%) Sepse Grave Séptico Mortalidade (%) a Gram-Positivo 08 (04,79) 01 07 05 (62,50) Gram-Negativo 69 (41,32) 15 29 25 54 (78,26) P. aeruginosa 27 (39,13) 03 14 10 23 (85,18) K. pneumoniae 17 (24,64) 07 06 04 11 (64,71) Outras espéciesb 25 (36,23) 05 09 11 20 (80,00) _ Candida sp. 02 (01,20) 01 01 02 (100,00) Não Identificado 50 (29,94) 08 19 23 35 (68,62) Polimicrobial 38 (22,75) 03 13 22 30 (78,95) 167 (100,00) 27 62 78 126 (100,00) Total a:Inclui os microrganismos: Staphylococcus sp, Streptococcus epidermidis, Enterococcus sp; b:Inclui os microrganismos: Escherichia coli, Acinetobacter baumannii, Proteus mirabilis, Stenotrophomonas maltophilia, Burkholdelia cepacea, Serratia sp. 49 4. DISCUSSÃO A sepse permanece como uma importante síndrome que resulta em taxas elevadas de mortalidade, principalmente em UTI. Os pacientes com sepse apresentam alterados parâmetros vitais e laboratoriais, levando a um prolongado tempo de internação e tendo, quase sempre, como desfecho o óbito (Sales Junior et al., 2006 & Koury et al., 2007). Este estudo descreveu o perfil clínico e epidemiológico de pacientes admitidos em uma UTI Adulto Geral que apresentavam sepse, sepse grave e choque séptico, no qual se observou que a mortalidade por sepse torna-se elevada à medida que há evolução para as fases de sepse grave e choque séptico. E comparativamente estes dados foram similares aos do estudo de Alberti et al. (2003), que descreveram um aumento da mortalidade na sepse grave (40,9%) e choque séptico (60,5 %) ao estudar pacientes internados em UTI na Europa, Canadá e Israel. No Brasil, observa-se uma tendência para altas taxas de mortalidades em relação a outros países, havendo ainda diferenças internas entre as regiões do país, onde se verifica taxas de mortalidade mais elevadas nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste em relação às regiões Sul e Sudeste. No estudo de Beale et al. (2009) foi relatada uma variação considerável da mortalidade entre os países participantes da pesquisa, com a Austrália revelando a menor taxa de mortalidade hospitalar (33%) e o Brasil apresentando a taxa de mortalidade mais elevada (68%). Uma pesquisa realizada por Sales Junior et al. (2006) em UTI das cinco regiões geográficas brasileiras revelou uma mortalidade geral de 46,6%, com incidências de sepse, sepse grave e choque séptico de 19,6%, 29,6% e 50,8%, respectivamente, sendo que no grupo representado pelas regiões Norte, Nordeste e Centro-oeste, eles relataram uma mortalidade de 55,4%, enquanto que as incidências de sepse, sepse grave e choque séptico foram de 10%, 40% e 50%, respectivamente, as quais se mostram similares as estimadas no presente estudo (Figura 5). Também, frequências semelhantes foram observadas por Kauss et al. (2010), em estudo realizado em um Hospital Universitário de Londrina para verificar a incidência e mortalidade da sepse, no qual constataram que há aumento progressivo da mortalidade em casos de sepse grave (49,9%) e choque séptico (72,7%). 50 Vale lembrar que o Brasil é um país heterogêneo em diversos aspectos como distribuição de renda, educação e uso de tecnologias, onde as caraterísticas variam significativamente em cada estado (Silva et al., 2004). Deste modo, variações tanto na frequência quanto na taxa de mortalidade por sepse devem ser consideradas, dentro do próprio país e em comparação com países desenvolvidos. Segundo Alberti et al. (2002), muitos fatores contribuem para as variações no desfecho da sepse, incluindo diferenças entre os pacientes quanto a gravidade da doença, existência de comorbidades, origem e fontes de infecção, bem como, provavelmente, o tratamento convencional com escolhas de agentes antimicrobianos, tipo e tempo de suporte nutricional, reações transfusionais e estratégias de assistência ventilatória e cardíaca. Nesta pesquisa notou-se que houve associação entre o risco de óbito e a presença de comorbidades (Tabela 8), onde a quase totalidade dos pacientes que evoluíram para óbito apresentava pelo menos uma comorbidade subjacente. Em um estudo multicentrico de Granja et al. (2013) realizado em Portugal envolvendo 17 UTI com aproximadamente 4000 pacientes também foi verificado que o número de comorbidades associadas estava significativamente relacionada com a mortalidade (Odds Ratio = 1,9 para 2 ou mais comorbidades versus ausência). Há de se considerar ainda que as comorbidades mais prevalentes podem variar de acordo com as características da população estudada. Nesta pesquisa, as mais frequentes foram a hipertensão arterial sistêmica (HAS), diabetes mellitus (DM), doenças pulmonares obstrutivas congestivas (DPOC) e insuficiência cardíaca congestiva (ICC) (Figura 3). De forma idêntica, os dados descritos por Sales Junior et al. (2006) em estudo multicêntrico brasileiro observaram que as patologias do aparelho cardiovascular e respiratório, sobretudo a DPOC (25,7% dos casos) e a ICC (18,4% dos casos) foram as mais comuns, seguidas por DM com 23,6% dos casos e insuficiência renal crônica (IRC) em 11,3% dos casos. Estes autores ainda referiram que a mortalidade relacionou-se com o número de comorbidades, atingindo 56% nos portadores com três doenças associadas. Já em outro estudo multicêntrico, abrangendo 37 países, publicado por Beale et al. (2009) que envolveu 276 UTI e quase 13.000 pacientes com sepse grave e visando fornecer dados comparativos da prática clínica diária, com a intenção de explorar e padronizar intervenções médicas em sepse grave, entre as instituições participantes, identificaram como comorbidades mais comuns o DM (20,9% dos 51 pacientes), DPOC (16,5%), neoplasia malígna (15,0%), ICC (13,8%) e IRNC (10,7%). Em pesquisa na Colômbia, de León et al. (2013), na busca de identificar os determinantes de progressão dos estágios da sepse, em 2681 pacientes, observaram que as condições mais associadas a sepse foram o trauma ou cirurgia (28,5%), DM (15,2%), IRNC (10,5%), ICC (9,9%) e DPOC (9,9%), sendo que 33% dos indivíduos não apresentaram nenhuma comorbidade. E ainda, eles relataram que o risco de progressão para estágios avançados da sepse aumenta com o tempo de internação na UTI para pacientes que apresentavam pelo menos uma comorbidade. No estudo observacional de Angus et al. (2001) envolvendo 192.980 pacientes com sepse grave foi constatado que em 55,5% dos casos existia alguma comorbidade subjacente, e entre estas preexistentes, as mais prevalentes foram a DPOC (12,3%) e a neoplasia não metastática (11,6%). A população com idade avançada vem aumentando, e cada vez mais se torna o grupo predominante das UTI de todo o país, sendo que a presença de comorbidades pode refletir uma maior suscetibilidade em desenvolver sepse na ocorrência de doenças crônicas, entre as quais são mais frequentes a insuficiência cardíaca, diabetes mellitus, neoplasias malignas, insuficiência renal crônica, hepatopatia crônica, hipertensão arterial e sequelas de doenças neurológicas (Sales Junior et al., 2006). Reforçando tais evidencias Artero et al. (2012) ainda enfatizam que os pacientes com sepse grave e choque séptico frequentemente têm comorbidades subjacentes que os predispõem a infecções e podem estar relacioanadas ao aumento da mortalidade. No presente estudo, a presença de disfunções orgânicas não apresentou relação significante com o risco de óbito. No entanto, no estudo realizado por Aukje et al. (2004 - impresso) em uma UTI na Holanda foi observado que pacientes com disfunções orgânicas apresentam risco em torno de 4,9 vezes superior de evoluir para o quadro de choque séptico. Todavia, apesar da população estudada pelos autores ser comparável quanto a idade e sexo com a amostra do presente estudo, outras características próprias da população holandesa podem ter contribuído para a discordância em relação aos resultados do presente estudo. Estes autores também mencioraram que 90% dos pacientes evoluíram com disfunções respiratórias, 72% com disfunções cardiovasculares e 53% com disfunções renais. 52 E do mesmo modo, Beale et al. (2009) também indicaram que entre pacientes com sepse grave e choque séptico, 81,2% apresentaram disfunção respiratória, 74,6% disfunção cardiovascular, 45,0% disfunção renal e 42,2% disfunção metabólica. Portanto, estes estudos estão em concordância com nossos resultados, onde foi observado que as disfunções orgânicas mais prevalentes foram as respiratórias, nefrológicas e cardiológicas. Além disso, Engel (2007), na Alemanha, identificaram as disfunções respiratórias e renais como as mais frequentes (52,0% e 42.2%, respectivamente) entre os pacientes estudados, sendo que pelo menos, uma disfunção orgânica estava presente em 11,9% destes pacientes. Aliado a isto, constatou-se que com a severidade da sepse e a presença de disfunções orgânicas aumenta o numero de pacientes submetidos a procedimentos invasivos. Uma vez que, neste estudo, os procedimentos invasivos mais frequentes, ou seja, ventilação mecânica e hemodiálise estavam relacionadas com as disfunções organicas mais prevalentes, a saber, respiratórias e nefrológicas. De acordo com o estudo de Vincent et al. (2006), entre os fatores preditivos de mortalidade estão os procedimentos invasivos de ventilação mecânica e hemodiálise que se mostraram associados a elevado risco de óbito (Odds Ratio= 7,0 e Odds Ratio= 1,9; respectivamente). Em nossos achados a realização de hemodíálise está relacionada com um elevado risco de mortalidade (Tabela 8), enquanto que, para ventilação mecânica se pode constatar que, apesar de ter sido inviável a analise de risco, em consequencia de ausencia de casos na distribuição por categorias, todos os 126 pacientes que evoluiram para óbito tinham sido submetidos a este procedimento, o que pode ser sugestivo de uma dependencia desta medida terapêutica com o risco de óbito entre pacientes sépticos. Além disso, Sales Junior et al. (2006) também registraram uma alta incidência de pacientes sépticos submetidos a ventilação mecânica (82%). Tal evidencia demostra que cada vez mais o sítio respiratório está implicado na fonte do processo infeccioso, um fato compatível com um número cada vez maior de pacientes submetidos à ventilação mecânica e com internação prolongada nas unidades de terapia intensiva. As distribuições de frequências observadas neste estudo quanto as variáveis idade e sexo (Tabela 5) estão em concordância com aquelas publicadas na literatura conforme serão citadas no texto abaixo. Sendo que, o risco de óbito foi duas vezes 53 superior em pacientes com idade acima de 60 anos (Tabela 8). Resultados idênticos também foram observados no estudo de Granja et al. (2013) em Portugal, cujos os respectivos Odds Ratio estimados foram de 1,5 para o grupo etário de 60 anos e de 3,4 para aqueles na faixa etária acima de 80 anos. Em geral, existe uma marcante tendência no aumento da idade média para maior de 60 anos e com predomínio do sexo masculino entre os pacientes sépticos, tanto no Brasil como em outros países. Assim, ressalta-se o estudo de Silva et al. (2004) no Sul e Sudeste do país, que na análise de uma coorte de 1383 pacientes, de UTI identificaram 58,7% do sexo masculino e uma média de idade de 66,4 anos. No estudo de Kauss et al. (2010), no Paraná, também identificou uma predominância sexo masculino (60,0%) entre pacientes sépticos em comparação com não sépticos (52,9%) e media de idade observada foi 65,2 anos. Do mesmo modo, o estudo multicêntrico de Sales Junior et al. (2006) nas 5 regiões brasileiras revelou uma predominância do sexo masculino (55,7%) e a idade média foi de 61,7 anos. Por outro lado, nos EUA, em um período de 23 anos (1979-2002), constatouse que a média de idade de pacientes com sepse aumentou de 57,4 anos para 60,8 anos, do mesmo modo que, a incidência de sepse aumentou 20,4% mais entre aqueles pacientes maiores de 65 anos de idade do que entre os pacientes mais jovens (aumento médio por ano, de 11,5% e 9,5%; respectivamente), segundo dados de Martin et al. (2003). Wang et al. (2007) e Angus et al. (2001) afirmam que existe uma relação direta entre a idade avançada e a incidência de sepse grave e choque séptico. Portanto, o que se percebe é que às internações em UTI estão relacionadas com o progressivo envelhecimento da população acompanhado pelo aumento da expectativa de vida, em consequência da maior vulnerabilidade na imunossenescência, manifestada pela frequência elevada de comorbidades relacionadas à idade e aos maus hábitos ao longo da vida, favorecendo o aparecimento de processos infecciosos e doenças graves. Em relação ao sexo, vale ressaltar que alguns estudos defendem que as diferenças hormonais e os níveis mais elevados de mediadores anti-inflamatórios nas mulheres sejam as causas prováveis de incidências elevadas de sepse e piores desfechos (Adrie et al., 2007; Schröder et al., 1998). Uma investigação dos efeitos do β-17- estradiol em ratos, em relação a expressão de moléculas de padrão de 54 reconhecimento associadas a patógenos (PAMPs) com células da imunidade inata destes animais, demonstraram que a retirada dos estrógenos endógenos leva a diminuição de citocinas pró e anti-inflamatórias, e concomitante redução da expressão dos receptores de reconhecimento padrão, a exemplo dos receptores Toll-like 4 e CD14 nos macrófagos dos animais estudados (Rettew et al., 2009). Contudo, esta hipótese ainda permanece controvertida, pois não está claro se esta diferença pode ser em virtude de uma maior prevalência de comorbidades nos homens, ou ao estado de maior imunoproteção contra as alterações inflamatórias que ocorrem na sepse grave e choque séptico, no caso das mulheres (Angus, 2001). Por outro lado, independente dos fatores de risco analisados alguns achados sugerem que o sexo feminino está associado com um risco reduzido de desenvolver sepse grave (Bateman et al., 2010; Angus et al., 2001). Neste contexto, segundo Artero et al. (2012) a inexistencia de uma relação direta entre a incidência de sepse grave e a menopausa não apoia que estas diferenças de gênero sejam mediadas exclusivamente via hormônios sexuais. Assim, torna-se necessário a realização de mais estudos para elucidar a específica relação do sexo com a sepse e o desenvolvimento dos estágios de sepse grave e choque séptico. No que diz respeito a etnia não foi observada uma associação significativa nem com o desfecho óbito e nem com a evolução do quadro séptico. Embora, neste estudo a maioria dos pacientes fosse categorizada no grupo negróide, ou seja, incluindo individuos de cor de pele parda e negra. Vale lembrar aqui, que a constituição racial da população brasileira é muito heterogenea, com uma participação expressiva de europeus, indígenas e africanos, e particularmente nas regiões Norte e Nordeste ressalta-se a maior participação, além dos europeus, de indígenas e africanos, respectivamente. Em comparação a maior frequencia do componente europeu no Sul e Sudeste do país. Neste aspecto, isto pode ser evidenciado, por exemplo, pelo estudo de Sales Junior et al. (2006), que apesar de incluir pacientes das cinco regiões brasileiras, teve maior participação de instituições do Sul e Sudeste, sendo encontrado 80,1% de brancos entre os pacientes com sepse. Adicionalmente, em um estudo nos Estados Unidos, entre pacientes com sepse grave, observou que a taxa de infecção, bem como o risco de disfunção orgânica aguda foi maior em negros do que em brancos (Mayr et al., 2010). E, como 55 há indícios de uma maior incidência de sepse grave e choque séptico em negros, isto leva a sugerir uma possível predisposição genética, além de influencias ambientais considerando que um grande percentual destes individuos vive na pobreza (Artero et al., 2012). Neste sentido, não se pode desprezar que os polimorfismos genéticos, como marcadores específicos de grupos racias possam atuar predispondo os indivíduos a ocorrencia ou a uma maior gravidade de quadros sépticos (Berkowitz & Martin, 2007). Portanto, ainda não está claro se a maior suscetibilidade dos negros a sepse grave e choque séptico se deva a fatores genéticos ou a fatores ambientais, ou na verdade, resultaria da influencia de ambos os fatores. Como seria o esperado, o número de pacientes com desfecho óbito foi significativamente maior naqueles com infecção de origem hospitalar, embora não tenham sido observadas diferenças significativas na mortalidadede em função do diagnóstico de admissão hospitalar, do foco de infecção e do tipo de agente infeccioso. Comparativamente a outros estudos relatados na literatura como o de Carvalho et al. (2010), entre os casos de sepse, sepse grave e choque séptico na UTI de um hospital universitário de Uberlândia, foram determinadas taxas de incidência de sepse hospitalar e comunitária de 72% e 28%, respectivamente, sendo que entre as de origem hospitalar em 74% dos casos a infecção foi adquirida diretamente na UTI. Do mesmo, Granja et al. (2013) confirmam estes achados com uma mortalidade estatisticamente expressiva na infecção de origem hospitalar em relação a de origem comunitária. Contrariando estes achados, um estudo multicentrico registrou uma frequência de 59,6% de infecção adquirida na comunidade versus 32,5% de infecção nosocomial, embora a mortalidade fosse maior (49,8%) entre os doentes com infecções hospitalares quando da admissão na UTI (Moreno et al., 2008). Estes achados vem reforçar dados anteriormente obtidos em outras UTI da Europa, Canadá e Israel, onde as infecções adquiridas na comunidade representaram 61,2% versus 38,8% de infecções hospitalares (Alberti et al., 2002). Tomando em consideração o sítio ou foco da infecção neste estudo, o sitio pulmonar foi o mais prevalente como na maioria dos outros estudos já publicados envolvendo pacientes com sepse. Assim, nota-se no estudo de Van Gestel et al. (2004), realizado na Holanda, que o sitio de infecção mais comum foi o pulmonar (47%) seguido pelo abdominal (34%). E também, no estudo de Moreno et al. (2008), 56 o trato respiratório foi o local mais comum de infecção (48,9%), seguido do trato digestivo. Além disso, outro estudo publicado por Beale et al. (2009) também revelou que o principal local de infecção também foi o pulmão em 45,3% dos casos, seguido por abdomen em 22,9%, trato urinário em 7,7%, sangue em 6,4%, a pele em 5,0%, outros focos em 5,2%, desconhecido em 2,6%, meninges em 1,5%, osso e articulações em 1,4%, cateter ou local de acesso vascular em 1,4%, e acesso para diálise em 0,7%. Deste modo, verifica-se que entre 85% das infecções adquiridas na UTI, 75,6% delas o alvo foi o trato respiratório além do que, as infecções de sítios múltiplos somaram 13,4%, enquanto que 33,8% representaram as infecções polimicrobiais (Alberti et al., 2002). Neste estudo, as bactérias Gram-negativas foram os agentes etiológicos predominantes da sepse, conforme descrito na tabela 9. As bactérias são os mais comuns microorganismos causadores da sepse, sendo as culturas positivas em cerca de 50% dos casos (Martin et al., 2003) Perfis microbiológicos semelhantes ao descrito nesta pesquisa também têm sido documentados em estudos realizados no Brasil e em outros países. Entre estas investigações podemos destacar aquela de Zanon et al. (2008), que descreveram que 53,2% dos casos de infecções foram causadas por bactérias Gram-negativas, 30,4% por bactérias Gram-positivas e 1,3% por fungos. E nos resultados publicados por Sales Junior et al. (2006) os bacilos Gram-negativos foram mais prevalentes (40,1%) em relação a cocos Gram-positivos (32,8%) e as infecções fúngicas atingiram apenas 5% dos casos. E ainda, podemos salientar a análise realizada por Beale et al. (2009) em pacientes sépticos que apresentavam em 41,4% dos casos infecções por microorganismos Gram-negativos, outros 32,4% por Gram-positivos e, em 34% a infecção não pode ser determinada, enquanto as infecções fúngicas ocorreram em 8,7% dos pacientes e infecções virais em 1,3%, contudo, as infecções parasitárias foram raras, e representaram menos de 1% dos casos. Durante a identificação dos microrganismos isolados da corrente sanguínea dos pacientes estudados pode-se perceber que as bactérias Gram-negativas eram as mais prevalentes, em especial as espécies Pseudomonas aeruginosa e K. Pneumoniae. Entre pacientes com sepse grave de UTI da Espanha tem sido 57 relatado ao longo do tempo aumento das infecções por microrganismos Gramnegativos, ou seja, de 56,3% em 2006 para 64,5% em 2011(Bouza et al., 2015). Dados anteriormente publicados por Artero et al. (2012) mencionam que, tradicionalmente, os bacilos Gram-negativos, representados na maioria das vezes por Escherichia coli, Pseudomonas aeruginosa e Klebsiella pneumoniae, são bactérias mais prevalentes que bactérias Gram-positivas, como Staphylococcus aureus, Streptococcus pneumoniae Enterococcus spp. Além disso, similarmente aos nossos resultados, estes mesmos autores detectaram que em cerca de um terço dos casos de sepse grave e choque séptico o agente etiológico não foi identificado. Por outro lado, alguns estudos como o desenvolvido por Guidet (2005), que relatou não ter conseguido identificar o agente etiológico em 40% dos casos, atribui esta evidencia como uma consequencia da crescente demanda do tratamento com antibióticoterapia empírica. Paralelamente, dados epidemiológicos envolvendo estudos multicêntricos indicam que a gravidade da doença e a mortalidade não dependem significativamente da identificação do tipo do agente etiológico durante a sepse. (Alberti et al., 2002; Vincent et al., 2006; Kumar et al., 2006) Os resultados relativos ao setor de origem dos pacientes provenientes deste estudo demonstraram que as internações realizadas em situações de emergência, sejam cirúrgicas ou clínicas, aconteciam com maior frequência em pacientes com sepse grave e choque séptico, o que indubitavelmente elevou a mortalidade, devido ao grave estado de entrada do doente. Assim, estes resultados corroboram relatos anteriormente publicados, como aqueles do estudo PROGRESS (Promoting Global Research Excellence in Severe Sepsis), realizado com aproximadamente 13.000 pacientes em UTI de 37 paises, que observaram que 76,5% dos pacientes foram oriundos de setores do próprio hospital, sendo 27,5% de enfermarias, 22,3% do setor de emergência, 20,6% da sala de cirurgia, e 6,0% a partir de cuidados intermediários e cuidados crônicos, além de 13,4% pacientes encaminhados de outros hospitais (Beale et al., 2009). Em outro estudo, também a fonte mais frequente de pacientes para internação foi a sala de emergência e/ou ambulância (32%) e apenas 12% dos pacientes eram referidos como de outro hospital (Vincent et al.,2006). Além disto, estes autores constataram que as internações de carater emergencial relacionavamse diretamente com os estágios avançados da sepse (sepse grave e choque séptico). 58 Em nosso estudo também foi avaliado o tempo de internação hospitalar que se mostrou superior aqueles já descritos na literatura, existindo a tendência de aumentar à medida que o quadro clínico evoluiu para estágios mais avançados da sepse (Tabela 7). Diversos estudos têm referido que o tempo médio de internação de pacientes sépticos era de aproximadamente 15,5 (± 11 dias), com a ocorrência de acréscimo no tempo de permanência na UTI para pacientes com sepse grave e choque séptico (Martin et al., 2003; Brun-Buisson, 2004; Padkin, 2003; Silva et al., 2004; Sales Junior et al., 2006). Contudo, períodos médios de permanência menores também foram observados em determinados estudos. Um deles (Angus et al., 2001) apontou uma duração de permanência na UTI de 13,8 ± 20 dias em hospitais universitários e de 10,0 ± 13,8 dias em hospitais gerais, enquanto em outro (Engel et al., 2007) o tempo médio de permanência na UTI foi de 12,3 dias., E ainda, no estudo PROGRESS (Beale et al., 2009) o tempo médio de permanência na UTI foi de 14,6 ± 16,1 dias, entretanto, o tempo médio de permanência hospitalar foi de 28,2 ± 30,0 dias. Todavia, Edbrooke et al. (1999) também encontraram uma média de permanência em UTI de 16,5 dias para os pacientes que desenvolveram sepse na UTI de um hospital universitário no Reino Unido. Neste sentido, vale ressaltar que no presente estudo o tempo de internação na UTI está bastante acima dos valores observados como média geral, o que pode estar relacionado a ocorrencia majoritária de internações em situações de emergência, e até mesmo da maior severidade do quadro séptico dos pacientes, intensificado por um diagnóstico da sepse em fase avançada. Assim, o tempo de internação é variável, dependendo do local estudado, do tipo de UTI, da gravidade dos pacientes, entre outros fatores próprios da sepse. No que se referem aos motivos de admissão na UTI, a grande maioria dos casos analisados durante esta investigação tinham como causa diagnóstica as doenças cardiovasculares (37,72%) e as respiratórios (27%) confirmando os achados anteriormente publicados para estes mais frequentes diagnósticos admissionais (Vincent et al. 2006; Silva et al., 2004). Em vista disso, concluímos que neste estudo lidamos com pacientes muito graves, e na maioria dos casos com disfunções orgânicas e necessidade de serem submetidos a procedimentos invasivos, determinando uma elevada mortalidade. E entre vários destes pacientes estudados pode ter acontecido uma demora na 59 admissão em UTI e, consequentemente, ter havido complicações nos casos com evolução para estágios severos da sepse, aumentando os casos de sepse grave e choque séptico. Em nosso país, tal situação acontece pela escassez de infraestrutura e recursos financeiros e humanos, acarretando um grave problema na saúde pública, pois não existem informações acerca do tempo de espera nas salas de emergência ou enfermarias para a internação na UTI (Sales Junior et al., 2006). No que diz respeito às possíveis limitações deste estudo deve ser mencionada aquela inerente ao reduzido tamanho amostral obtido em um único centro hospitalar, que de forma crítica interfere no poder dos testes estatísticos, dificultando a analise e interpretação de algumas variáveis de ocorrências mais raras na população. Por outro lado, sabe-se que a maior parte dos estudos apresenta limitações no que refere a sua representatividade, uma vez que estão restritas as dimensões e tipos de hospitais, bem como as regiões geográficas, e desconsideram as flutuações sazonais (Moss & Martin, 2004) Logo, a partir de tais limitações se faz necessário esperar a realização de estudos mais extensivos, os quais devem incluir um número maior de pacientes e outras UTI, para compreender melhor as características da sepse nesta região, ajudando a esclarecer o espectro e a estratificação de gravidade de cada estágio da sepse. Além disso, o acompanhamento e desenvolvimento de protocolos clínicos, segundo os critérios e as diretrizes da Campanha Sobrevivendo à Sepse (Dellinger et al., 2013) devem ser o alvo da reflexão e execução por uma equipe multidisciplinar, que possibilite aprimorar o atendimento de maneira racional e eficaz, permitindo a identificação antecipada de pacientes com risco de sepse, o que diminuiria o risco de morte associado à evolução para os estágios de sepse grave e choque séptico, e, por conseguinte, garantindo um prognóstico melhor aos sujeitos vitimados pela sepse. 60 5. CONCLUSÕES Nos pacientes internados na UTI Geral Adulto da FHCGV em Belém-PA foi detectada uma elevada mortalidade por sepse, sobretudo entre pacientes que desenvolveram o choque séptico. Adicionalmente, deve-se ressaltar que a internação do tipo emergencial e o tempo de permanência na UTI, acompanhado da presença de disfunções orgânicas e da utilização de procedimentos invasivos como intubação e hemodiálise entre os pacientes demonstraram uma tendência maior de ocorrência em direção a sepse grave e ao choque séptico. No contexto das características clínicas e epidemiológicas dos pacientes com sepse foi observado que a idade avançada, a presença de comorbidades, particularmente as cardiorrespiratórias, bem como as infecções de origem hospitalar apresentaram uma relevância significativa como fatores de risco preditivos para a evolução do quadro séptico e óbito entre os pacientes, sendo, portanto, considerados importantes para o reconhecimento e uma intervenção clínica precoce em casos de sepse. A identificação de microrganismos entre os pacientes com infecção da corrente sanguínea diagnosticou uma elevada frequência de bactérias Gram-negativas, com contribuição expressiva das espécies P. Aeruginosa e K. Pneumoniae em relação aquelas Gram-positivas, enquanto que episódios com múltiplos patógenos atingiram aproximadamente 20% dos pacientes. Além do que, em cerca de 30% dos casos não foi possível o isolamento do agente etiológico. Então, estes perfis microbiológicos corroboram com os parâmetros prognósticos de bacteremia, previamente relacionados aos pacientes sépticos. No âmbito geral os achados relativos às características clínicas e epidemiológicas dos pacientes com sepse em Belém-PA, não diferiram daqueles referenciados na literatura mundial, considerando que a sepse é uma das principais causas de morte em UTI, ocasionando elevado impacto econômico e social para o doente e sua família, precisando-se que cada vez mais sejam investidos recursos e uma reflexão baseada em evidencias, buscando de forma 61 mais precoce maximizar os cuidados e a terapia dispensados ao paciente séptico. 62 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADHIKARI, N.K., FOWLER, R.A., BHAGWANJEE, S., RUBENFELD, G.D. Critical care and the global burden of critical illness in adults. Lancet 376(9749):133946, 2010. ADRIE, C., ALBERTI, C., CHAIX-COUTURIER, C., AZOULAY, E., DE LASSENCE, A., COHEN, Y., MESHAKA, P., CHEVAL, C., THUONG, M., TROCHÉ, G., GARROUSTE-ORGEAS, M., TIMSIT, J.F. Epidemiology and economic evaluation of severe sepsis in France: age, severity, infection site, and place of acquisition (community, hospital, or intensive care unit) as determinants of workload and cost. J Crit Care 20(1):46-58, 2005. ADRIE, C., AZOULAY, E., FRANCAIS, A., CLEC'H, C., DARQUES, L., SCHWEBEL, C., NAKACHE, D., JAMALI, S., GOLDGRAN-TOLEDANO, D., GARROUSTEORGEAS, M., TIMSIT, J.F.; OUTCOMEREA STUDY GROUP. Influence of gender on the outcome of severe sepsis: a reappraisal. Chest 132(6):1786-93, 2007. AKIRA, S., TAKEDA, K. Toll-like receptor signaling. Nat Rev Immunol 4(7):499–511, 2004. AKIRA, S., UEMATSU, S., TAKEUCHI, O. Pathogen recognition and innate immunity. Cell 124(4):783-801, 2006. ALBERTI, C., BRUN-BUISSON, C., BURCHARDI, H., MARTIN, C., GOODMAN, S., ARTIGAS, A., SICIGNANO, A., PALAZZO, M., MORENO, R., BOULMÉ, R., LEPAGE, E., LE GALL, R. Epidemiology of sepsis and infection in ICU patients from an international multicentre cohort study. Intensive Care Med 28(2):10821, 2002. ALBERTI, C., BRUN-BUISSON, C., GOODMAN, S.V., GUIDICI, D., GRANTON, J., MORENO, R., SMITHIES, M., THOMAS, O., ARTIGAS, A., LE GALL, J.R., EUROPEAN SEPSIS GROUP. Influence of systemic inflammatory response syndrome and sepsis on outcome of critically ill infected patients. Am J Respir Crit Care Med 168(1):77-84, 2003. ANGUS D.C., VAN DER POLL, T. Severe Sepsis and Septic Shock. N Engl J Med 369 (9): 840-851, 2013. ANGUS, D.C., LINDE-ZWIRBLE, W.T., LIDICKER, J., CLERMONT, G., CARCILLO, J., PINSKY, M.R. Epidemiology of severe sepsis in the United States: analysis of incidence, outcome, and associated costs of care. Crit Care Med 29(7):1303-10, 2001. 63 ANGUS, D.C., WAX, R.S. Epidemiology of sepsis: an update. Crit Care Med 29(7):S109-16, 2001. ARTERO, A., ZARAGOZA, R. NOGUEIRA, J.M. Epidemiology of Severe Sepsis and Septic Shock. In: Severe Sepsis and Septic Shock - Understanding a Serious Killer. Fernandez, R. (ed.). Rijeka, InTech, 2012. P.3-24 Disponível em: http://www.intechopen.com/books/severe-sepsis-and-septic-shockunderstanding-a-serious-killer/epidemiology-of-severe-sepsis-and-septic-shock. Acesso em 02/08/2015. AYRES, M., AYRES, M.J., AYRES, D.L., SANTOS, A.S. BioEstat 5.0: Aplicações estatísticas nas áreas das ciências biológicas e médicas. Belém: Sociedade Civil Mamirauá, Brasília CNPq, 2006. 291p. AZIZ, M., JACOB, A., YANG, W.L., MATSUDA, A., WANG, P. Current trends in inflammatory and immunomodulatory mediators in sepsis. J Leukoc Biol 93(3):329-42, 2013. BALK, R.A., BONE, R.C. The septic syndrome: definition and clinical implications. Crit Care Clin 5(1):1-8, 1989. BANDYOPADHYAY, G., DE, A., LAUDANSKI, K., L.I., F., LENTZ, C., BANKEY, P., MILLER-GRAZIANO, C. Negative signaling contributes to T-cell anergy in trauma patients. Crit Care Med 35(3):794-801, 2007. BARON, R.M., BARON, M.J., PERRELLA M.A. Pathobiology of sepsis: are we still asking the same questions? Am J Respir Cell Mol Biol 34(2):129–34, 2006. BATEMAN, B.T., SCHMIDT, U., BERMAN, M.F., BITTNER, E.A. Temporal trends in the epidemiology of severe postoperative sepsis after elective surgery: a large, nationwide sample. Anesthesiology 112(4):917-25, 2010. BEALE, R., REINHART, K., BRUNKHORST, F.M., DOBB, G., LEVY, M., MARTIN, G., MARTIN, C., RAMSEY, G., SILVA, E., VALLET, B., VINCENT, J.L., JANES, J.M., SARWAT, S., WILLIAMS, M.D. Promoting Global Research Excellence in Severe Sepsis (PROGRESS): lessons from an international sepsis registry. Infection 37(3):222-32, 2009. BEALE, R., REINHART, K., DOBB, G., SILVA, E., LECLERC, J., BASSON, B., ANGUS, D.C. PROGRESS (Promoting Global Research Excellence in Severe Sepsis): a preliminary report of an internet-based sepsis rgistry. Chest 24(4):224S, 2003. 64 BERKOWITZ, D.M., MARTIN, G.S. Disparities in sepsis: what do we understand? Crit Care Med 35(3):958-60, 2007. BEST, M., NEUHAUSER, D. Ignaz Semmelweis and the birth of infection control. Qual Saf Health Care 13(3):233–234, 2004. BLANCO, J., MURIEL-BOMBÍN, A., SAGREDO, V., TABOADA, F., GANDÍA, F., TAMAYO, L., COLLADO, J., GARCÍA-LABATTUT, A., CARRIEDO, D., VALLEDOR, M., DE FRUTOS, M., LÓPEZ, M.J., CABALLERO, A., GUERRA, J., ALVAREZ, B., MAYO, A., VILLAR, J. Incidence, organ dysfunction and mortality in severe sepsis: a Spanish multicentre study. Crit Care 12(6):R158, 2008. BLUM, Y., ESTERHAI, J. The history of the treatment of musculoskeletal infection. Oper Tech Orthop 12(4): 226-231, 2002. BONE, R.C. The sepsis syndrome. Definition and general approach to management. Clin Chest Med 17(2):175-81, 1996. BONE, R.C., BALK, R.A., CERRA, F.B., DELLINGER, R.P., FEIN, A.M., KNAUS, W.A., SCHEIN, R.M., SIBBALD, W.J. Definitions for sepsis and organ failure and guidelines for the use of innovative therapies in sepsis. The ACCP/SCCM Consensus Conference Committee. American College of Chest Physicians/ Society of Critical Care Medicine. Chest 101(6):1644-55, 1992a. BONE, R.C., SIBBALD, W.J., SPRUNG, C.L. The ACCP-SCCM consensus conference on sepsis and organ failure. Chest 101(6):1481-3, 1992b. BOOMER, J.S., TO, K., CHANG, K.C., TAKASU, O., OSBORNE, D.F., WALTON, A.H., BRICKER, T.L., JARMAN, S.D.2ND, KREISEL, D., KRUPNICK, A.S., SRIVASTAVA, A., SWANSON, P.E., GREEN, J.M., HOTCHKISS, R.S. Immunosuppression in patients who die of sepsis and multiple organ failure. JAMA 306(23):2594-605, 2011. BOUZA, C., LÓPEZ-CUADRADO, T., SAZ-PARKINSON, Z., AMATE-BLANCO, J.M. Epidemiology and recent trends of severe sepsis in Spain: a nationwide population-based analysis (2006-2011). BMC Infect Dis 14:3863, 2015. BOZZA, F.A., SALLUH, J.I., JAPIASSU, A.M., SOARES, M., ASSIS, E.F., GOMES, R.N, BOZZA, M.T., FARIA NETO, H.C.C., BOZZA, P.T. Cytokine profiles as markers of disease severity in sepsis: a multiplex analysis. Critical Care 11(2):R49-56, 2007. 65 BROCK, T.D. Robert Koch: a life in medicine and bacteriology.Washington DC, American Society for Microbiology; 1988. p. 1–353. In: OPAL, S.M. The Evolution of the Understanding of Sepsis, Infection, and the Host Response: A Brief History. Crit Care Clin 25(4):637–663, 2009. BRUN-BUISSON, C., MESHAKA, P., PINTON, P., VALLET, B., EPISEPSIS STUDY GROUP. EPISEPSIS: a reappraisal of the epidemiology and outcome of severe sepsis in French intensive care units. Intensive Care Med 30(4):5808, 2004. CAPLAN, C.E. The childbed fever mystery and the meaning of medical journalism. Disponível em: http://www.medicine.mcgill.ca/mjm/issues/v01n01/fever.html Acesso em: 10/06/2014. CARVALHO, R.H., VIEIRA, J.F., GONTIJO FILHO, P.P., RIBAS, R.M. Sepse, sepse grave e choque séptico: aspectos clínicos, epidemiológicos e prognóstico em pacientes de Unidade de Terapia Intensiva de um Hospital Universitário. Rev. Soc. Bras. Med. Trop 43(5):591-593, 2010. CAVAILLON, J.M., Adib-Conquy, M. Determining the degree of immunodysregulation in sepsis. Contrib Nephrol 156(1):101-11, 2007. CHUNG, L.P., WATERER, G.W. Genetic predisposition to respiratory infection and sepsis. Crit Rev Clin Lab Sci 48(5-6):250-68, 2011. COHEN, J. The immunopathogenesis of sepsis. Nature 420 (6917): 885-91, 2002. DE COSTA, C.M. The contagiousness of childbed fever: a short history of puerperal sepsis and its treatment. Med J Aust 177(11-12):668–71, 2002. DELLINGER, R.P., CARLET, J.M., MASUR, H., GERLACH, H., CALANDRA, T., COHEN, J., GEA-BANACLOCHE, J., KEH, D., MARSHALL, J.C., PARKER, M.M., RAMSAY, G., ZIMMERMAN, J.L., VINCENT, J.L., LEVY, M.M. Surviving Sepsis Campaign guidelines for management of severe sepsis and septic shock. Crit Care Med 32(3):858-73, 2004. DELLINGER, R.P., LEVY, M.M., RHODES, A., ANNANE, D., GERLACH, H., OPAL, S.M., SEVRANSKY, J.E., SPRUNG, C.L., DOUGLAS, I.S., JAESCHKE, R., OSBORN, T.M., NUNNALLY, M.E., TOWNSEND, S.R., REINHART, K., KLEINPELL, R.M., ANGUS, D.C., DEUTSCHMAN, C.S., MACHADO, F.R., RUBENFELD, G.D., WEBB, S.A., BEALE, R.J., VINCENT, J.L., MORENO, R. Surviving sepsis campaign: international guidelines for 66 management of severe sepsis and septic shock: 2012. Crit Care Med 41(2):580-637, 2013. DIAS, F.S., EIDT, M., DUQUIA, R.P., STRINGHI, F., SCHWARTZMAN, C., SZTILER, F., GUERREIRO, M.O., CANABARRO, M.S., LEONHARDT, C. Clinical factors associated with mortality in septic shock. Crit Care 11(3):P20, 2007. DÖCKE, W.D., HÖFLICH, C., DAVIS, K.A., RÖTTGERS, K., MEISEL, C., KIEFER, P., WEBER, S.U., HEDWIG-GEISSING, M., KREUZFELDER, E., TSCHENTSCHER, P., NEBE, T., ENGEL, A., MONNERET, G., SPITTLER, A., SCHMOLKE, K., REINKE, P., VOLK, H.D., KUNZ, D. Monitoring temporary immunodepression by flow cytometric measurement of monocytic HLA-DR expression: a multicenter standardized study. Clin Chem 51(12):2341-7, 2005. EDBROOKE, D.L., HIBBERT, C.L., KINGSLEY, J.M., SMITH, S., BRIGHT, N.M., QUINN, J.M. The patient-related costs of care for sepsis patients in a United Kingdom adult general intensive care unit. Crit Care Med 27(9):1760-7, 1999. ENGEL, C., BRUNKHORST, F.M., BONE, H.G., BRUNKHORST, R., GERLACH, H., GROND, S., GRUENDLING, M., HUHLE, G., JASCHINSKI, U., JOHN, S., MAYER, K., OPPERT, M., OLTHOFF, D., QUINTEL, M., RAGALLER, M., ROSSAINT, R., STUBER, F., WEILER, N., WELTE, T., BOGATSCH, H., HARTOG, C., LOEFFLER, M., REINHART, K. Epidemiology of sepsis in Germany: results from a national prospective multicenter study. Intensive Care Med 33(4):606-18, 2007. ESTEBAN, A., FRUTOS-VIVAR, F., FERGUSON, N.D., PEÑUELAS, O., LORENTE, J.A., GORDO, F., HONRUBIA, T., ALGORA, A., BUSTOS, A., GARCÍA, G., DIAZ-REGAÑÓN, I.R., DE LUNA, R.R.: Sepsis incidence and outcome: contrasting the intensive care unit with the hospital ward. Crit Care Med 35(5):1284-9, 2007. FINFER, S., BELLOMO, R., LIPMAN, J., FRENCH, C., DOBB, G., MYBURGH, J. Adult-population incidence of severe sepsis in Australian and New Zealand intensive care units. Intensive Care Med 30(4):589-96, 2004. FLOHÉ, S.B., AGRAWAL, H., SCHMITZ, D., GERTZ, M., FLOHÉ, S., SCHADE, F.U. Dendritic cells during polymicrobial sepsis rapidly mature but fail to initiate a protective Th1-type immuneresponse. J Leukoc Biol 79(3):473-81, 2006. FUNK, D.J., PARILLO, J.E., KUMAR, A. Sepsis and Septic Shock: A History. Crit Care Clin 25(1):83–101, 2009. 67 GEROULANOS, S., DOUKA, E.T. Historical perspective of the word ―sepsis‖. Intensive Care Med 32(12):2077, 2006. GIAMARELLOS-BOURBOULIS, E.J., NORRBY-TEGLUND, A., MYLONA, V., SAVVA, A., TSANGARIS, I., DIMOPOULOU, I., MOUKTAROUDI, M., RAFTOGIANNIS, M., GEORGITSI, M., LINNÉR, A., ADAMIS, G., ANTONOPOULOU, A., APOSTOLIDOU, E., CHRISOFOS, M., KATSENOS, C., KOUTELIDAKIS, I., KOTZAMPASSI, K., KORATZANIS, G., KOUPETORI, M., KRITSELIS, I., LYMBEROPOULOU, K., MANDRAGOS, K., MARIOLI, A., SUNDÉN-CULLBERG, J., MEGA, A., PREKATES, A., ROUTSI, C., GOGOS, C., TREUTIGER, C.J., ARMAGANIDIS, A., DIMOPOULOS, G. Risk assessment in sepsis: a new prognostication rule by APACHE II score and serum soluble urokinaseplasminogen activator receptor. Crit Care 16(4):R149, 2012. GIBOT, S., BÉNÉ, M.C., NOEL, R., MASSIN, F., GUY, J., CRAVOISY, A., BARRAUD, D., BITTENCOURT, M.C., QUENOT, J.P., BOLLAERT, P.E., FAURE, G., CHARLES, P.E.: Combination biomarkers to diagnose sepsis in the critically ill patient. Am J Respir Crit Care Med 186(1):65–71, 2012. GOGOS, C., KOTSAKI, A., PELEKANOU, A., GIANNIKOPOULOS, G., VAKI, I., MARAVITSA, P., ADAMIS, S., ALEXIOU, Z., ANDRIANOPOULOS, G., ANTONOPOULOU, A., ATHANASSIA, S., BAZIAKA, F., CHARALAMBOUS, A., CHRISTODOULOU, S., DIMOPOULOU, I., FLOROS, I., GIANNITSIOTI, E., GKANAS, P., IOAKEIMIDOU, A., KANELLAKOPOULOU, K., KARABELA, N., KARAGIANNI, V., KATSAROLIS, I., KONTOPITHARI, G., KOPTERIDES, P., KOUTELIDAKIS, I., KOUTOUKAS, P., KRANIDIOTI, H., LIGNOS, M., LOUIS, K., LYMBEROPOULOU, K., MAINAS, E., MARIOLI, A., MASSOURAS, C., MAVROU, I., MPALLA, M., MICHALIA, M., MYLONA, H., MYTAS, V., PAPANIKOLAOU, .I, PAPANIKOLAOU, K., PATRANI, M., PERDIOS, I., PLACHOURAS, D., PISTIKI, A., PROTOPAPAS, K., RIGAKI, K., SAKKA, V., SARTZI, M., SKOURAS, V., SOULI, M., SPYRIDAKI, A., STROUVALIS, I., TSAGANOS, T., ZOGRAFOS, G., MANDRAGOS, K., KLOUVA-MOLYVDAS, P., MAGGINA, N., GIAMARELLOU, H., ARMAGANIDIS, A., GIAMARELLOSBOURBOULIS, E.J. Early alterations of the innate and adaptive immune statuses in sepsis according to the type of underlying infection. Crit Care 14(3):R96, 2010. GONZALEZ-REY, E., CHORNY, A., DELGADO, M. Regulation of immune tolerance by anti-inflammatory neuropeptides. Nat Rev Immunol 7(1):52-63, 2007. GRANJA, C., PÓVOA, P., LOBO, C., TEIXEIRA-PINTO, A., CARNEIRO, A., COSTAPEREIRA, A. The predisposition, infection, response and organ failure (PIRO) sepsis classification system: results of hospital mortality using a novel concept and methodological approach. PLOS One 8(1):e53885, 2013. 68 GRAZIANO, K.U., SILVA, A., BIANCHI, E.R.F. Limpeza, desinfecção, esterilização de artigos e antisepsia. In: FERNANDES, A.T. Infecção hospitalar e suas interfaces na área de saúde. São Paulo: Atheneu; 2000. p.266-305. GREINEDER, C.F., NELSON, P.W., DRESSEL, A.L., ERBA, H.P., YOUNGER, J.G. In vitro and in silico analysis of annexin V binding to lymphocytes as a biomarker in emergency department sepsis studies. Acad Emerg Med 14(9):763-71, 2007. GUIDET, B., AEGERTER, P., GAUZIT, R., MESHAKA, P., DREYFUSS, D. Incidence and impact of organ dysfunctions associated with sepsis. Chest 127(3):942-51, 2005. HANSEN, J.D., VOJTECH, L.N., LAING, K.J. Sensing disease and danger: a survey of vertebrate PRRs and their origins. Dev Comp Immunol 35(9):886-97, 2011. HENKIN, C.S., COELHO, J.C., PAGANELLA, M.C., SIQUEIRA, R.M., DIAS, F.S. Sepse: uma visão atual. Scientia Medica 19(3):135-145, 2009. HOLUB, M., KLUCKOVÁ, Z., HELCL, M., PRÍHODOV, J., ROKYTA, R., BERAN, O. Lymphocyte subset numbers depend on the bacterial origin of sepsis. Clin Microbiol Infect 9(3):202-11, 2003. HOTCHKISS, R.S., KARL, I.E. The pathophysiology and treatment of sepsis. N Engl J Med 348(2):138-50, 2003. HOYERT, D.L., ARIAS, E., SMITH, B.L., MURPHY, S.L., KOCHANEK, K.D. Deaths: final data for 1999. National Vital Statistics Reports 49(8)114p., 2001. HUTTUNEN, R., AITTONIEMI, J. New concepts in the pathogenesis, diagnosis and treatment of bacteremia and sepsis. J Infect 63(6):407-19, 2011. JIANG, H., CHESS, L. An integrated model of immunoregulation mediated by regulatory T cell subsets. Adv Immunol 83(1):253-88, 2004. JULIÁN-JIMÉNEZ A. Biomarcadores de infección en urgencias: ¿cuáles pueden sernos útiles? Emergencias 24(5):343–5, 2012. JULIÁN-JIMÉNEZ, A., CANDEL-GONZÁLEZ, F.J., GONZÁLEZ DEL CASTILLO, J. Utilidad de los biomarcadores de inflamación e infección en los servicios de urgencias. Enferm Infecc Microbiol Clin 32(3):177-90, 2013. 69 JUNCAL, V.R., BRITTO NETO, L.A., CAMELIER, A.A., MESSEDER, O.H., FARIAS, A.M. Clinical impact of sepsis at admission to the ICU of a private hospital in Salvador, Brazil. J Bras Pneumol 37(1):85-92, 2011. KAUSS, I.A., GRION, C.M., CARDOSO, L.T., ANAMI, E.H., NUNES, L.B., FERREIRA, G.L., MATSUO, T., BONAMETTI, A.M. The epidemiology of sepsis in a Brazilian teaching hospital. Braz J Infect Dis 14(3):264-70, 2010. KNAUS, W.A., DRAPER, E.A., WAGNER, D.P., ZIMMERMAN, J.E. APACHE II: A severity of disease classification system. Crit Care Med 13(10):818-29, 1985. KORTGEN, A., HOFMANN, G., BAUER, M. Sepsis – Current Aspects of Pathophysiology and Implications for Diagnosis and Management. European Journal of Trauma 32(1):3-9, 2006. KOURY, J.C., LACERDA, H.R., BARROS NETO, A.J. Fatores de risco associados à mortalidade em pacientes com sepse em Unidade de Terapia Intensiva de Hospital Privado de Pernambuco. Rev Bras Ter Intensiva 19(1):23-30, 2007. KREGER, B.E., CRAVEN, D.E., MCCABE, W.R. Gram-negative bacteremia: IV Reevaluation of clinical features and treatment in 612 patients. Am J Med 68 (3): 344-55, 1980. KUMAR, A., ROBERTS, D., WOOD, K.E., LIGHT, B., PARRILLO, J.E., SHARMA, S., SUPPES, R., FEINSTEIN, D., ZANOTTI, S., TAIBERG, L., GURKA, D., KUMAR, A., CHEANG, M. Duration of hypotension before initiation of effective antimicrobial therapy is the critical determinant of survival in human septic shock. Crit Care Med 34(6):1589-96, 2006. LACOMA, A., PRAT, C., AUSINA, V. Relevancia de los marcadores de inflamación en el diagnóstico, pronóstico y nuevas formas de tratamiento de las enfermidades infecciosas. Enferm Infecc Microbiol Clin 28(5):263–5, 2010. LAGU, T., ROTHBERG, M.B., SHIEH, M.S., PEKOW, P.S., STEINGRUB, J.S., LINDENAUER, P.K. Hospitalizations, costs, and outcomes of severe sepsis in the United States 2003 to 2007. Crit Care Med 40(3):754-61, 2012. LEGGIERI, N., RIDA, A., FRANÇOIS, P., SCHRENZEL, J. Molecular diagnosis of bloodstream infections: planning to (physically) reach the bedside. Curr Opin Infect Dis 23(4):311-9, 2010. LEÓN, A.L., HOYOS, N.A., BARRERA, L.I., DE LA ROSA. G., DENNIS, R., DUEÑAS, C., GRANADOS, M., LONDOÑO, D., RODRÍGUEZ, F.A., MOLINA, 70 F.J., ORTIZ, G., JAIMES, F.A. Clinical course of sepsis, severe sepsis, and septic shock in cohort of infected patients from ten Colombian hospitals. BMC Infect Dis 13:345, 2013. LEÓN, C., LOZA, A. Biomarcadores en la sepsis. ¿Simplificando lo complejo? Enferm Infecc Microbiol Clin 32(3):137- 9, 2014. LEÓN, G.C., GARCÍA-CASTRILLO RIESGO, L., MOYA MIR, M., ARTIGAS RAVENTÓS, A., BORGES SA, M., CANDEL GONZÁLEZ,. F.J., CHANOVAS BORRÁS, M., FERRER ROCA, R., JIMÉNEZ, A.J., LOZA VÁZQUEZ, A., SÁNCHEZ GARCÍA, M. Consensus document (SEMES-SEMICYUC): Recommendations for the initial and multidisciplinary diagnostic management of severe sepsis in the hospital Emergency Departments. Med Intensiva 31(7):375-87, 2007. LEVER, A., MACKENZIE, I. Sepsis: definition, epidemiology, and diagnosis. BMJ 335(7625):879–883, 2007. LEVY, M.M., FINK, M.P., MARSHALL, J.C., ABRAHAM, E., ANGUS, D.C., COOK, D., COHEN, J., OPAL, S.M., VINCENT, J.L., RAMSAY, G.: 2001 SCCM/ESICM/ACCP/ATS/SIS International Sepsis Definitions Conference. Crit Care Med 31(4):1250-6, 2003. LEWIS, D.H., CHAN, D.L., PINHEIRO, D., ARMITAGE-CHAN, E., GARDEN, O.A. The immunopathology of sepsis: pathogen recognition, systemic inflammation, the compensatory anti-inflammatory response, and regulatory T cells. J Vet Intern Med 26(3):457-82, 2012. MAJNO, G. The ancient riddle of sigma eta psi iota sigma (sepsis). J Infect Dis 163(5):937-45, 1991. MARSHALL, J.C. SIRS and MODS: What is their relevance to the science and practice of intensive care? Shock 14(6):586–589, 2000. MARSHALL, J.C., COOK, D.J., CHRISTOU, N.V., BERNARD, G.R., SPRUNG, C.L., SIBBALD, W.J. Multiple organ dysfunction score: a reliable descriptor of a complex clinical outcome. Crit Care Med 23(10):1638-52, 1995. MARTIN, G.S., MANNINO, D.M., EATON, S., MOSS, M. Epidemiology of sepsis in the USA from 79 through 2000. N Engl J Med 348(16):1546-54, 2003. MAYR, F.B., YENDE, S., LINDE-ZWIRBLE, W.T., PECK-PALMER, O.M., BARNATO, A.E., WEISSFELD, L.A., ANGUS, D.C. Infection rate and 71 acute organ dysfunction risk as explanations for racial differences in severe sepsis. JAMA 303(24):2495-503, 2010. MONNERET, G., FINCK, M.E., VENET, F., DEBARD, A.L., BOHÉ, J., BIENVENU, J., LEPAPE, A. The anti-inflammatory response dominates after septic shock: association of low monocyte HLA-DR expression and high interleukin-10 concentration. Immunol Lett 95(2):193-8, 2004. MONNERET, G., LEPAPE, A., VOIRIN, N., BOHÉ, J., VENET, F., DEBARD, A.L., THIZY, H., BIENVENU, J., GUEYFFIER, F., VANHEMS, P. Persisting low monocyte human leukocyte antigen-DR expression predicts mortality in septic shock. Intensive Care Med 32(8):1175-83, 2006. MONNERET, G., VENET, F., PACHOT, A., LEPAPE, A. Monitoring immune dysfunctions in the septic patient: a new skin for the old ceremony. Mol Med 14(1-2):64-78, 2008. MONNERET, G., VOIRIN, N., KRAWICE-RADANNE, I., BOHÉ, J., LEPAPE, A., ROUAS-FREISS, N., CAROSELLA, E.D. Soluble human leukocyte antigen-G5 in septic shock: marked and persisting elevation as a predictor of survival. Crit Care Med 35(8):1942-7, 2007. MORENO, R.P., METNITZ, B., ADLER, L., HOECHTL, A., BAUER, P., METNITZ, P.G., SAPS 3 INVESTIGATORS. Sepsis mortality prediction based on predisposition, infection and response. Intensive Care Med 34(3):496-504, 2008. MOSS, M. & MARTIN, G.S. A global perspective on the epidemiology of sepsis. Intensive Care Med 30(4):527-9, 2004. MUNOZ, C., CARLET, J., FITTING, C., MISSET, B., BLÉRIOT, J.P., CAVAILLON, J.M. Dysregulation of in vitro cytokine production by monocytes during sepsis. J Clin Invest 88(5):1747-54, 1991. NAMAS, R., ZAMORA, R., NAMAS, R., AN, G., DOYLE, J., DICK, T.E., JACONO, F.J., ANDROULAKIS, I.P., NIEMAN, G.F., CHANG, S., BILLIAR, T.R., KELLUM, J.A., ANGUS, D.C., VODOVOTZ, Y.: Sepsis: Something old, something new, and a systems view. J Crit Care 27 (3): 314.e1-e11, 2012. NAMATH, A., PATTERSON, A.J. Genetic polymorphisms in sepsis. Crit Care Nurs Clin North Am 23(1):181-202, 2011. 72 OBERHOLZER, A., OBERHOLZER, C., MOLDAWER, L.L. Interleukin-10: A complex role in the pathogenesis of sepsis syndromes and its potential as an antiinflammatory drug. Crit Care Med 30(1):S58-S63, 2002. OBERHOLZER, A., OBERHOLZER, C., MOLDAWER, L.L. Sepsis syndromes: understanding the role of innate and acquired immunity. Shock 16(2):8396, 2001. OBERHOLZER, A., SOUZA, S.M., TSCHOEKE, S.K., OBERHOLZER, C., ABOUHAMZE, A., PRIBBLE, J.P., MOLDAWER, L.L. Plasma cytokine measurements augment prognostic scores as indicators of outcome in patients with severe sepsis. Shock 23(6):488-93, 2005. O'BRIEN, J.M., ALI, N.A., ABEREGG, S.K., ABRAHAM, E. Sepsis. Am J Med 120(12):1012-22, 2007. OPAL, S.M. The evolution of the understanding of sepsis, infection, and the host response: A brief history. Crit Care Clin 25(4):637–663, 2009. OPAL, S.M., DEPALO, V.A. Anti-inflammatory cytokines. Chest 117(4):1162-72, 2000. OPAL, S.M., HUBER, C.E. Bench-to-bedside review: Toll-like their role in septic shock. Crit Care 6(2):125-36, 2002. receptors and PADKIN, A., GOLDFRAD, C., BRADY, A.R., YOUNG, D., BLACK, N., ROWAN, K. Epidemiology of severe sepsis occurring in the first 24 hrs in intensive care units in England, Wales, and Northern Ireland. Crit Care Med 31(9):2332-8, 2003. PARRILLO, J.E., PARKER, M.M., NATANSON, C., SUFFREDINI. A.F., DANNER, R.L., CUNNION, R.E., OGNIBENE, F.P. Septic shock in humans: advances in the understanding of pathogenesis, cardiovascular dysfunction, and therapy. Ann Intern Med 113(3):227-42, 1990. PERL, M., CHUNG, C.S., GARBER, M., HUANG, X., AYALA, A. Contribution of antiinflammatory/immune suppressive processes to the pathology of sepsis. Front Biosci 1(11):272-99, 2006. PIERRAKOS, C., VINCENT, J.L. Sepsis biomarkers: A review. Crit Care 14(1):R15, 2010. 73 RANIERI, V.M., THOMPSON, B.T., BARIE, P.S., DHAINAUT, J.F., DOUGLAS, I.S., FINFER, S., GÅRDLUND, B., MARSHALL, J.C., RHODES, A., ARTIGAS, A., PAYEN, D., TENHUNEN, J., AL-KHALIDI, H.R.,THOMPSON, V., JANES, J., MACIAS, W.L., VANGEROW, B., WILLIAMS, M.D. Drotrecogin Alfa (Activated) in Adults with Septic Shock. N Engl J Med 366(22):2055-2064, 2012. REINHART, K., BAUER, M., RIEDEMANN, N.C., HARTOG, C.S. New approaches to sepsis: molecular diagnostics and biomarkers. Clin Microbiol Rev 25(4):60934, 2012. RETTEW, J.A., HUET, Y.M., MARRIOTT, I. Estrogens augment cell surface TLR4 expression on murine macrophages and regulate sepsis susceptibility in vivo. Endocrinology 150(8):3877-84, 2009. RITTIRSCH, D., FLIERL, M.A., WARD, P.A. Harmful molecular mechanisms in sepsis. Nat Rev Immunol 8(10):776-87, 2008. RIVERS, E., NGUYEN, B., HAVSTAD, S., RESSLER, J., MUZZIN, A., KNOBLICH, B., PETERSON, E., TOMLANOVICH, M. Early goal-directed therapy in the treatment of severe sepsis and septic shock. N Engl J Med 345(19):136877, 2001. RUSSELL, J.A. Management of sepsis. N Engl J Med 355(16):1699-713, 2006. SALES JÚNIOR, J.A.L., DAVID, C.M., HATUM, R., SOUZA, P.C.S.P., JAPIASSÚ, A., PINHEIRO, C.T.S., FRIEDMAN, G., SILVA, O.B., DIAS, M.D., KOTERBA, E., DIAS, F.S., PIRAS, C., LUIZ, R.R.: Sepse Brasil: estudo epidemiológico da sepse em Unidades de Terapia Intensiva brasileiras. Rev Bras Ter Intensiva 18(1):9-17, 2006. SCHEFOLD, J.C., VON HAEHLING, S., CORSEPIUS, M., POHLE, C., KRUSCHKE, P., ZUCKERMANN, H., VOLK, H.D., REINKE, P. A novel selective extracorporeal intervention in sepsis: immunoadsorption of endotoxin, interleukin 6, and complement-activating product 5a. Shock 28(4):418-25, 2007. SCHIFF, D.E., RAE, J., MARTIN, T.R., DAVIS, B.H., CURNUTTE, J.T. Increased phagocyte Fc gammaRI expression and improved Fc gamma-receptormediated phagocytosis after in vivo recombinant human interferon-gamma treatment of normal human subjects. Blood 90(8):3187-94, 1997. SCHRÖDER, J., KAHLKE, V., STAUBACH, K.H., ZABEL, P., STÜBER, F. Gender differences in human sepsis. Arch Surg 133(11):1200-5, 1998. 74 SCHULTE, W., BERNHAGEN, J., BUCALA, R. Cytokines in sepsis: potent immunoregulators and potential therapeutic targets-an updated view. Mediators Inflamm 2013(1):1-16, 2013. SILVA, E., PEDRO, M.A., SOGAYAR, A.C., MOHOVIC, T., SILVA, C.L., JANISZEWSKI, M., CAL, R.G., SOUSA, E.F., ABE T.P., ANDRADE, J., MATOS, J.D., REZENDE, E., ASSUNÇÃO, M., AVEZUM, A., ROCHA, P.C., MATOS, G.F., BENTO, A.M., CORRÊA, A.D., VIEIRA, P.C., KNOBEL, E. Brazilian Sepsis Epidemiological Study (BASES study). Crit Care 8(4):251-60, 2004. SIMON, L., GAUVIN, F., AMRE, D.K., SAINT-LOUIS, P., LACROIX, J. Serum procalcitonin and C-reactive protein levels as markers of bacterial infection: a systematic review and meta-analysis. Clin Infect Dis 39(2):206-17, 2004. SIQUEIRA-BATISTA, R., GOMES, A.P., LIMA, L.C., VITORINO, R.R., PEREZ, M.C.A. MENDONÇA, E.G., OLIVEIRA, M.G.A., GELLER, M. Sepse: atualidades e perspectivas. Rev Bras Ter Intensiva 23(2):207-21, 2011. SOGAYAR, A.M., MACHADO, F.R., REA-NETO, A., DORNAS, A., GRION, C.M., LOBO, S.M., TURA, B.R., SILVA, C.L., CAL, R.G., BEER, I., MICHELS, V.,SAFI, J., KAYATH, M., SILVA, E.: A multicentre, prospective study to evaluate costs of septic patients in Brazilian intensive care units. Pharmacoeconomics 26(5):425-34, 2008. STEARNS-KUROSAWA, D.J., OSUCHOWSKI, M.F., VALENTINE, C., KUROSAWA, S., REMICK, D.G.: The pathogenesis of sepsis. Annu Rev Pathol 6(1):19-48, 2011. STIERMAIER, T., HERKNER, H., TOBUDIC, S., BURGMANN, K., STAUDINGER, T., SCHELLONGOWSKI, P., BURGMANN, H.: Incidence and long-term outcome of sepsis on general wards and in an ICU at the General Hospital of Vienna: an observational cohort study. Wien Klin Wochenschr 125(11-12):302-8, 2013. TANG, B.M., HUANG, S.J., MCLEAN, A.S. Genome-wide transcription profiling of human sepsis: a systematic review. Crit Care 14(6):R237, 2010. THURSTON, A.J. Of blood, inflammation and gunshot wounds: The history of the control of Sepsis. Aust N Z J Surg 70(12):855-861, 2000. TRACEY, K.J. Physiology and immunology of the cholinergic antiinflammatory pathway. J Clin Invest 117(2):289-96, 2007. 75 TSCHOEKE, S.K., OBERHOLZER, A., MOLDAWER, L.L. Interleukin-18: a novel prognostic cytokine in bacteria-induced sepsis. Crit Care Med 34(4):1225-33, 2006. TUDELA, P., PRAT, C., LACOMA, A., MÒDOL, J.M. Biomarcadores y sospecha de infección en los servicios de urgencias. Med Clin (Barc) 139(1):33–7, 2012. VAN DER POLL, T., OPAL, S.M. Host-pathogen interactions in sepsis. Lancet Infect Dis 8(1):32-43, 2008. VAN GESTEL, A., BAKKER, J., VERAART, C.P., VAN HOUT, B.A. Prevalence and incidence of severe sepsis in Dutch intensive care units. Crit Care 8(4):R15362, 2004. VENET, F., CHUNG, C.S., MONNERET, G., HUANG, X., HORNER, B., GARBER, M., AYALA, A. Regulatory T cell populations in sepsis and trauma. J Leukoc Biol 83(3):523-35, 2008. VENET, F., PACHOT, A., DEBARD, A.L., BOHÉ, J., BIENVENU, J., LEPAPE, A., MONNERET, G. Increased percentage of CD4+CD25+ regulatory T cells during septic shock is due to the decrease of CD4+CD25- lymphocytes. Crit Care Med 32(11):2329-31, 2004. VINCENT, J.L., BIHARI, D.J., SUTER, P.M., BRUINING, H.A., WHITE, J., NICOLASCHANOIN, M.H., WOLFF, M., SPENCER, R.C., HEMMER, M. The prevalence of nosocomial infection in intensive care units in Europe: Results of the European Prevalence of Infection in Intensive Care (EPIC) Study. JAMA 274(8):639-44, 1995. VINCENT, J.L., MORENO, R., TAKALA, J., WILLATTS, S., DE MENDONÇA, A., BRUINING, H., REINHART, C.K., SUTER, P.M., THIJS, L.G. The SOFA (Sepsis-related Organ Failure Assessment) score to describe organ dysfunction/failure. On behalf of the Working Group on Sepsis-Related Problems of the European Society of Intensive Care Medicine. Intensive Care Med 22(7):707-10, 1996. VINCENT, J.L., RELLO, J., MARSHALL, J., SILVA, E., ANZUETO, A., MARTIN, C.D., MORENO, R., LIPMAN, J., GOMERSALL, C., SAKR, Y., REINHART, K. International study of the prevalence and outcomes of infection in intensive care units. JAMA 302 (21): 2323-9, 2009. VINCENT, J.L., SAKR, Y., SPRUNG, C.L., RANIERI, V.M., REINHART, K., GERLACH, H., MORENO, R., CARLET, J., LE GALL, J.R., PAYEN, D. Sepsis 76 in European intensive care units: results of the SOAP study. Crit Care Med 34(2):344-53, 2006. WALLACE, P.K., KELER, T., COLEMAN, K., FISHER, J., VITALE, L., GRAZIANO, R.F., GUYRE, P.M., FANGER, M.W. Humanized mAb H22 binds the human high affinity Fc receptor for IgG (FcgammaRI), blocks phagocytosis, and modulates receptor expression. J Leukoc Biol 62(4):469-79, 1997. WANG, H.E., SHAPIRO, N.I., ANGUS, D.C., YEALY, D.M. National estimates of severe sepsis in United States emergency departments. Crit Care Med 35(8):1928-36, 2007. WANG, H.E., SHAPIRO, N.I., GRIFFIN, R., SAFFORD, M.M., JUDD, S., HOWARD, G. Inflammatory and endothelial activation biomarkers and risk of sepsis: a nested case-control study. J Crit Care 28(5):549-55, 2013. WANGESTEEN, O.N., WANGESTEEN, S.D. The rise of surgery, from an empiric craft to scientific discipline. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1978, 414–52p. In: OPAL, S.M. The Evolution of the Understanding of Sepsis, Infection, and the Host Response: A Brief History. Crit Care Clin 25(4):637– 63, 2009. WESTPHAL, G.A., FEIJÓ, J., ANDRADE, P.S., TRINDADE, L., SUCHARD, C., MONTEIRO, M.A.G, MARTINS, S.F., NUNES, F., CALDEIRA FILHO, M. Estratégia de detecção precoce e redução de mortalidade na sepse grave. Rev Bras Ter Intensiva 21(2):113-23, 2009. ZANON, F., CAOVILLA, J.J., MICHEL, R.S., CABEDA, E.V., CERETTA, D.F., LUCKEMEYER, G.D., BELTRAME, C., POSENATTO, N. Sepse na unidade de terapia intensiva: etiologias, fatores prognósticos e mortalidade. Rev Bras Ter Intensiva 20(2):128-134, 2008. 77 ANEXO 1 FORMULÁRIO PARA COLETA DE DADOS 78 ANEXO 2 PARECER CONSTUBSTANCIADO DO CEP 79 ANEXO 2 PARECER CONSTUBSTANCIADO DO CEP