Projeto Viva Leitura: Leitura intencional: a dialogia para o despertar da autonomia do educador Justificativa: A reflexão entre a necessidade e os desafios da formação de educadores na sociedade contemporânea, globalizada, multiculturalista, imersa numa realidade complexa, traz para o estudo a dimensão sócio-política e o compromisso social do educador frente à implementação de práticas que promovam a leitura, para a formação profissional e o incentivo das crianças com os quais atuam. A autonomia proposta pela rede Municipal de Educação de Pinhais para construção do projeto político-pedagógico do Proinfância Enedina Alves Marques, através da equipe gestora, incentiva a prática da leitura diária, tornando os educadores co-responsáveis por evidenciar a literatura no trabalho diário, sendo que investir na formação dos educadores é essencial para que haja transformações na sociedade. O processo de formação permanente dos educadores que inclui tanto a formação inicial como sua continuidade ao longo de toda vida do profissional, não é um fim em si mesmo, mas um meio de contribuir para a melhoria da qualidade do ensino no Proinfância Enedina Alves Marques, e consequentemente na rede Municipal de Educação de Pinhais. Essa qualificação passa pela leitura e busca do conhecimento que está inserido em cada obra lida. A equipe gestora percebendo a necessidade de contribuir para transformação desta prática no ambiente educacional e no âmbito familiar, desperta no educador a autonomia da leitura, que a forma e por ela é formado, favorecendo a formação do sujeito leitor, e consequentemente da criança com a qual atua. Sabendo-se que a leitura é a base na qual construímos nosso jeito de ver o mundo, a vida, as relações, podemos constatar que esta precisa compor a vida do educador e das crianças com as quais trabalham, pois desenvolvem a forma de observar suas vidas, como eles a enxergam do ponto de vista da formação estética, humana, individual e coletiva e dão um recado direto àqueles que ainda têm dúvida sobre a importância de sua prática constante. Segundo Paulo Venturelli, a ”literatura é a melhor ferramenta para ler e entender o mundo. A literatura é um meio de contestar tudo o que está aí”. A literatura só é literatura se efetivamente inquietar, se levar o ser humano a pensar, porque nada mais no mundo nos faz pensar hoje em dia. A literatura tem na sua essência a capacidade de ampliar o repertório de mundo para se perceber e perceber o outro e a partir daí adotar novas posturas. Não é a literatura que vai mudar o mundo, provavelmente, mas como dizia o Mario Quintana, “a literatura muda pessoas e pessoas mudam o mundo”. A mente do leitor, através da literatura, é provocada a entrar em contato com todas essas linguagens e isso acaba estimulando-a, desenvolvendo a inteligência e a própria sensibilidade do leitor. O ato de ler é importante porque o leitor se expõe a essa multiplicidade de vozes e sai do senso comum. Ao ler, o ser humano observa, compara e decide aquilo que almeja para sua caminhada na sociedade. Podemos colocar que “literatura é abertura de horizontes, conhecimento de novas realidades, possibilidade de novas experiências, que enriquecem nosso cotidiano, e encantamento com o não vivido” (Ana Maria Tepedino). O papel da instituição escolar é evidenciado, ao longo do tempo, como espaço por excelência de aprendizagem, valorização e consolidação da leitura, assim é preciso entender a leitura como um caminho que possibilita a cidadania, a reflexividade e uma atitude consciente diante da vida. A qualificação profissional é uma relação social que envolve o coletivo sendo feita a articulação pela equipe gestora, entre educação e trabalho, pautada na tríade: leitura, literatura e educação. O Proinfância Enedina Alves Marques se revela como um espaço por excelência de aprendizagem, valorização e consolidação da prática da leitura, cooperando com o processo de legitimação da literatura e da escrita no mundo capitalista, sendo que todo saber se dá a partir da linguagem. Nietzsche coloca: “Não tem jeito: não há país desenvolvido – com níveis satisfatórios de bem-estar social e índices aceitáveis de desenvolvimento humano – que não tenha passado pela porta das bibliotecas, pelas páginas dos livros. Curiosamente, em um mundo que apregoa o utilitarismo como finalidade das nossas condutas, temos um elemento coincidente que é visto por muitos como inútil, mas perpassa a história dos povos que conseguiram autonomia no pensamento e apropriação de seus destinos: a leitura.” Machado reforça a legitimidade da literatura na formação plena da criança: “Leitura não é dever de ninguém. É um direito, isso sim, de todo cidadão, e por ele temos de lutar – isso sim é um dever.” (MACHADO, 2001, p.136) Como em toda profissão, essa relação possui uma dimensão formativa inicial: aquela que possibilita a uma categoria o exercício profissional. Essa qualificação implica uma formação sistemática, regular e regulamentada, que, quando obtida faz parte de um processo continuo que forma o profissional da educação e da própria instituição. Ambas as dimensões - inicial e continuada, como o foco na formação do leitor, apoiam-se em pressupostos comuns, considerando as crianças e educadores como sujeitos, valorizando suas experiências pessoais e seus saberes. Objetivos: Perceber a leitura com fonte de prazer e encantamento, estimulando aspectos relacionados, como a criatividade, imaginação e sensibilidade. Formar indivíduos que sejam capazes de compreender cada vez mais e melhor o mundo, inclusive transformando-o. Incentivar e orientar a leitura, visando o desenvolvimento do gosto pela leitura e a formação de leitores, por meio de atividades diversificadas. Apoiar o setor público no trabalho de formar leitores, entre eles educadores, secretários, auxiliares de limpeza e merendeiras. Favorecer a criação de ambientes propícios à irradiação da leitura entre as crianças, educadores e membros da comunidade. Difundir o hábito de leitura como prática pedagógica nas Unidades de Educação. Metodologia: O desenvolvimento da oralidade na Educação Infantil e sua relação com a linguagem escrita envolvem a expressão e comunicação oral, bem como as práticas de leitura consistentes, que precisam permear os projetos e práticas realizadas na unidade de ensino, de forma integrada, possibilitando a ampliação desse repertório literário. De posse dessa premissa buscou-se nessa unidade de ensino democratizar a leitura, favorecendo seu acesso aos educadores, funcionários e a comunidade escolar que se faz presente. É possível distender esse ato que é a leitura para esta comunidade, ofertando essa possibilidade para um maior número de pessoas, pois há um sistema político e ideológico por trás de tudo isso que é difícil romper. A instituição se propõe através do acervo bibliográfico, constituído com recursos municipais, promover o acesso a obras de literatura que favoreçam a ampliação do conhecimento e leitura de mundo dos educadores e funcionários que nela atuam. Com essa perspectiva os educadores da instituição e demais funcionários dispõe de espaço destinado a leitura durante seu horário de trabalho, utilizando o acervo da unidade, atendendo a legislação nacional que orienta que 33% da jornada de trabalho semanal dos educadores, se componha em hora-atividade, focando o trabalho na formação continuada em serviço. Parte dessa hora-atividade é composta por momentos de reflexão acerca da importância do exercício diário da leitura e revertendo-se em uma prática de qualidade para as crianças matriculadas na unidade, com abrangência à comunidade. A comunidade participa desse processo desde o início de 2014, tendo acesso diário ao acervo da unidade, e também através da sacola da leitura, enviada semanalmente as famílias, composta por cinco obras de literatura, para leitura no âmbito familiar. O ato de ler é essencialmente importante por isso. É um ato de resistência a esse sistema da mente, a esse denominador comum ao qual somos obrigados a nos submeter no dia-a-dia de nossas vidas. A leitura do texto literário pode e deve ser profundamente produtiva como um ato no qual o leitor diz: “Eu quero ser eu, ter o meu discurso, a minha visão de mundo. Quero ter a minha sensibilidade, não quero ser arrastado por essa onda”. Paulo Venturelli. Uma prática significativa que realizamos nesse ano foi convidar o escritor do município Luiz Francisco Silva, autor da obra infantil “A Menina e o Vira-Lata”, para realizar uma palestra com as equipe do Proinfância Enedina Alves Marques, com foco na leitura e na diversidade, uma vez que sua aborda essa temática. A cada dia a tecnologia avança mais, e com isso algumas características como a sensibilidade, a intuição e a criatividade, estão sendo esquecidas e pouco desenvolvidas. Esses elementos são dados significativamente pela literatura. A leitura ajuda a desenvolver a intuição e a intuição é extremamente necessária neste mundo globalizado em que tudo vem pronto, que não é preciso se fazer mais nada. Tudo está dentro de uma razão sistêmica extremamente escravizadora e esse pensamento intuitivo acaba sendo esquecido. A sensibilidade e criatividade são pouco praticadas. Isso tudo envolve o ato de leitura, o ato das pessoas pensarem, favorecendo a autonomia para o pensar, o ser e o agir. Avaliação: A autonomia implica conhecimento, discernimento e análise da situação e isso se aprende. Para dar conta desse processo o leitor autônomo não é simplesmente aquele que lê conforme seus desejos, opções, interesses. Consistindo-se em um detentor do conhecimento, dentro dessa perspectiva do projeto. Com o desenvolvimento desse projeto ampliamos o repertório literário das educadoras, bem como favorecemos o hábito da leitura diária, ampliando essa cultura nas práticas pedagógicas desenvolvidas em sala de aula, e na comunidade atendida. Uma pedagogia de leitura condizente com esse princípio partirá do pressuposto de que o leitor é autônomo, investindo decididamente para que amplie cada vez mais sua autonomia de leitura por meio da experiência, através do acervo bibliográfico da unidade.