gordon-allport-teoria-da-personalidade

Propaganda
A PERSONALIDADE NA PERSPECTIVA FENOMENOLOGICA-EXISTENCIAL
Concepções de Edmund HUSSERL, Martin HEIDEGGER e Jean-Paul SARTRE - finalização
“Cintilante é a água em uma bacia,escura é a água no oceano.
A pequena verdade tem palavras que são claras, a grande verdade tem grande silêncio”.
(Tagore, “pássaros errantes”)
Bastante útil à compreensão da noção de inconsciente em Merleau-Ponty é o conceito gestaltista
de figura e fundo e a metáfora onda/mar, conforme definido por Araújo (2007) que recorreu a essa figura
de linguagem para contribuir à compreensão da ideia de inconsciente em Merleau-Ponty: “O mar, repleto
de toda sorte de seres aquáticos, ora com águas transparentes ao olhar humano, ora com águas mais
profundas e opacas (inconscientes?), ora, ainda, com águas insondáveis, representa o fundo (campo
perceptual cultural que compõe a história singular e coletiva do indivíduo). A onda (figura) é ondulação
no mar. Ela não se destaca do mar; ela se destaca no mar. Cada experiência vivida é uma ondulação no
mar, uma onda que se levanta e se faz figura, ganhando significado sob o lampejo da awareness. A
fluidez da relação figura/fundo é como fluidez da onda no mar. A onda (figura), em nenhum momento,
perde as características do mar (fundo). Nunca deixa de ser mar”. (p. 114)
A onda que se destaca mais visivelmente como figura, e o mar ao qual é reservado o papel de
fundo, criam um quadro vivo que nos leva a pensar nas reflexões do autor em torno de “O visível e o
invisível” (1964), quando diz que o invisível não é contraditório do visível, pois o que é visível possui
algo de invisível, e em outras palavras: “o visível é prenhe do invisível”.
Assim, para Merleau-Ponty o inconsciente funciona como pivô existencial. Ele é e não é
percebido, lembrando que o inconsciente não se opõe à consciência, mas se impõe na percepção, no
quiasma da experiência sensível de interseção corpo-mundo, compreendido como a atmosfera que
entrelaça o corpo e o mundo; jamais como estrutura linguística, mas como articulação visível-invisível –
processo de percepção.
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
“Adultos psicologicamente saudáveis
Não são afetados por eventos da infância,
porque à medida que a pessoa amadurece,
o vínculo com o passado se rompe. Num certo
sentido, existem duas personalidades:
uma para a infância e outra para a idade
adulta. A personalidade adulta não é limitada
pelas experiências da infância”.
- Gordon Allport
"MOTIVAÇÃO E PERSONALIDADE"
ALLPORT E SUA TEORIA DA PERSONALIDADE.
Allport não aceitava a teoria de que as forças inconscientes dominam nossa personalidade. Para ele as
pessoas emocionalmente saudáveis agem de forma racional e consciente, controlando as forças que as
motivam, e não somos prisioneiros dos conflitos da infância e experiências passadas, pois somos mais
guiados pelo presente e pela nossa visão do futuro. Escreveu que as pessoas estão ocupadas em se
conduzir para o futuro, enquanto a psicologia em sua maior parte, se ocupa do passado.
Uma característica importante da teoria da personalidade de Allport é a ênfase na singularidade da
personalidade de acordo com o que é definido pelos traços de cada pessoa, e argumentou que a
personalidade não é geral ou universal, mas particular e específica de cada indivíduo. Em seu livro
“Modelo e crescimento da personalidade”, ele examinou mais de 50 definições diferentes de
personalidade até chegar à sua própria definição:
“A personalidade é a organização dinâmica, dentro do indivíduo, dos sistemas psicofísicos
que determinam comportamentos e pensamentos característicos de uma pessoa”.
Segundo ele, a nossa personalidade reflete a nossa hereditariedade (nature) e o nosso ambiente (nurture).
Motivação: a autonomia funcional dos motivos: Para Allport, o problema central para qualquer teoria da
personalidade é a forma como ela trata o conceito de motivação. Ele enfatizou a influência da situação
atual de uma pessoa, na sua visão de motivação, dizendo que é o estado atual da pessoa que é importante,
e não o que aconteceu no passado durante por exemplo o seu “treinamento de toillete”, escolarização, ou
alguma outra crise da infância. Qualquer coisa que tenha acontecido no passado é exatamente isso:
passado. Para ele a melhor definição de passado é: passou. O passado, portanto, não está mais ativo e não
explica o comportamento adulto, a menos que exista como força motivadora no presente. Enfim, se o
passado surge no presente é porque, de fato, ainda não passou.
RESUMÃO DA TEORIA DA PERSONALIDADE DE ALLPORT
HEREDITARIEDADE E AMBIENTE – Enfatizando a singularidade da personalidade, afirma que a
hereditariedade fornece a matéria prima da personalidade, como o físico, a inteligência e o temperamento,
podendo ser moldada, ampliada ou limitada pelas condições do ambiente, demonstrando a importância da
genética e aprendizagem. E que essa dotação genética é responsável pela maior parte da singularidade e
interage com o ambiente social. Com isso ele considerava que a personalidade pode ser distinta ou
descontinua. E que existem duas personalidades: uma para a infância e outra para a idade adulta. A
personalidade adulta não é limitada pelas experiências da infância. Ao enfatizar o consciente e não o
inconsciente, o presente e o futuro, e não o passado, reconheceu a singularidade da personalidade optando
por estudar a personalidade normal.
TRAÇOS DE PERSONALIDADE – São reais e existem em cada ser humano, não são construtos teóricos
criados para explicar comportamentos. Os traçados determinam ou causam o comportamento. Os traços
podem ser demonstrados empiricamente. São interrelacionados e variam de acordo com a situação.
Enfim, traços são características diferenciadas que regem o comportamento e são medidos num
continuum, estando sujeitos a influências sociais, ambientais e culturais. Esses traços podem ser
individuais, peculiares da pessoa e definem o seu caráter; e os comuns, que são compartilhados por uma
série de indivíduos, como os membros de uma cultura.
DISPOSIÇÕES PESSOAIS – São traços peculiares à pessoa, o contrário dos traços compartilhados por
uma série de pessoas. Um traço cardinal é tão penetrante e influente que afeta quase todos os aspectos da
vida, mais difundidos e poderosos, já os traços centrais são aqueles temas que melhor descrevem o
comportamento humano, como agressividade, autopiedade e cinismo. Esses traços são uma série de traços
especiais que descreve o comportamento de uma pessoa.Os traços secundários são menos importantes
que uma pessoa pode apresentar tênue ou inconscientemente.
HÁBITOS E ATITUDES – Os hábitos são respostas especificas e inflexíveis a determinados estímulos.
Vários hábitos podem se combinar para formar um traço. As atitudes são semelhantes aos traços, mas
elas tem objetos de referência especificos e envolvem avaliações positivas ou negativas, levando as
pessoas a gostar ou odiar, aceitar ou rejeitar, ser a favor ou contra, entre outras.
MOTIVAÇÃO – Allport considerou que é o estado atual da pessoa que é importante, uma vez que
planos e interações conscientes que são processos cognitivos são um aspecto vital para a personalidade.
As intenções deliberadas são uma parte essencial da personalidade: “o que se quer” e “em relação a que
se luta”, são chaves para se entender o comportamento.
O funcionamento autônomo é um processo de organização que mantem o senso de self e determina a
forma como se percebe o mundo, o que se lembra das experiências e a direção que se toma na vida. Esses
processos perceptivos e cognitivos são seletivos, selecionam apenas os motivais que são relevantes aos
interesses e valores da massa de estímulos existente no ambiente. Esse processo de organização é regido
por três princípios: organização do nível de energia, domínio e competência, e padronização autônoma.
A organização do nível de energia explica a aquisição dos novos motivos que surgem de uma necessidade
para ajudar a consumir o excesso de energia que poderia ser expressa de formas destrutivas ou
prejudiciais.
FASES DE DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE – São identificadas sete fases que
compreendem a infância até a adolescência, denominada de desenvolvimento próprio.
A fase do Eu Corporal - primeiros três anos, quando as crianças ficam cientes da sua existência e
distinguem o seu próprio corpo dos objetos do ambiente.
A fase Identidade do Self ocorre quando as crianças percebem que sua identidade permanece intacta
apesar das várias mudanças que estão ocorrendo.
A fase da Autoestima quando as crianças aprendem a ter orgulho das suas realizações.
A fase de Extensão do eu, surge no período entre o quarto e o sexto ano, quando as crianças passam a
reconhecer os objetos e pessoas que fazem parte do seu mundo.
A fase da Autoimagem ocorre quando as crianças elaboram uma imagem real e uma outra idealista de si
mesmas e do seu comportamento e ficam cientes do fato de satisfazerem ou não as expectativas do pai.
A fase do Self como solução racional é a fase que ocorre durante as idades de 6 a 12 anos, quando as
crianças começam a aplicar a razão e alógica à solução dos problemas cotidianos.
A fase da Luta pela autonomia ocorre durante a adolescência, os jovens começam a traçar metas e
planos de longo prazo, e quando adultos normais e maduros são funcionamento autônomos, independente
dos motivos da infância. Eles funcionam racionalmente no presente e criam conscientemente os seus
próprios estilos de vida.
A PERSONALIDADE ADULTA SAUDÁVEL – O adulto maduro estende o seu senso de self para as
pessoas e as atividades além do self. Relaciona-se carinhosamente com as outras pessoas, exibindo
intimidade, compaixão e tolerância. A autoaceitação do adulto maduro o ajuda a obter segurança
emocional. Tem uma percepção realista da vida, desenvolve habilidades pessoais e se compromete com
algum tipo de trabalho; conserva um senso de humor e objetivação do self (compreensão ou insight do
próprio self)/ adota uma filosofia de vida unificadora, que é responsável pela condução da personalidade
na direção de metas futuras.
CONCLUSÃO – Allport divergiu da Psicanalise de Freud, não aceitando a teoria de que forças
inconscientes dominavam a personalidade de adultos normais e maduros; acreditava que pessoas
emocionalmente saudáveis agem de forma racional, consciente, cientes e controlando várias das forças
que as motivam. Allport não negava a existência do inconsciente, mas para ele, o inconsciente só é
importante no comportamento neurótico ou problemático, alegando que todo ser humano é guiado pelo
presente e pela visão do futuro, ocupado em conduzir sua vida para o futuro. Também se opôs a coletar
dados de pessoas emocionalmente perturbadas, vendo uma clara diferença: a personalidade anormal age
num nível infantil. A única maneira correta de estudar a personalidade seria coletar dados de adultos
emocionalmente saudáveis. Entendia que não há semelhanças funcionais na personalidade de crianças e
adultos, pessoas normais e anormais ou animais e humanos. Ele dá ênfase na singularidade da
personalidade de acordo com o definido pelos traços de cada pessoa, particulares e específicos de cada
individuo.
REFERÊNCIAS
ATKINSON, Richard; HILGARD, Ernest; ATKINSON, Rita; BEM, Daryl; HOEKSENA, Susan.
Introdução à Psicologia. São Paulo: Cengage, 2011.
MORRIS, Charles; MAISTO, Alberto. Introdução à psicologia. São Paulo: Pretence Hall, 2004.
MYERS, David. Psicologia. Rio de Janeiro: LTC, 2006.
SCHULTZ, Duane; SCHULTZ, Sydney. Historia da psicologia moderna. São Paulo: Cengage Learning,
2012.
______. Teorias da personalidade. São Paulo: Cengage Learning, 2014.
Download