PSICOLOGIA DA PERSONALIDADE – PERGUNTAS TEÓRICAS 1. A personalidade é uma máscara? Personalidade deriva da palavra latina persona, que designa máscara, em particular as máscaras que eram utilizadas no teatro da antiguidade para exprimir diferentes emoções e atitudes e para suscitar as mesmas interpretações no público, ou seja, de acordo com a sua origem etimológica, a personalidade corresponde a uma imagem social superficial que os indivíduos adoptam ao desempenharem papéis, mas também a um conjunto de características estáveis composto por diferentes atributos. Com efeito, a ideia de personalidade enquanto máscara é muito semelhante à que temos actualmente do conceito, pois estas máscaras eram imutáveis, como a personalidade tem um carácter estável; permitiam dar aos espectadores uma imagem estável e coerente dos actores, como a personalidade permite antecipar e prever certos comportamentos; e eram em número reduzido, tal como não há muitos tipos de personalidade. Todavia, a personalidade não pode ser vista apenas como uma máscara, pois engloba muito mais que isso, caracterizando os comportamentos habituais do sujeito. Além disso, dado o número extenso de definições e a dificuldade de definição e circunscrição deste conceito, não nos devemos limitar a uma só definição de personalidade, pois assim ficaríamos presos, sem qualquer possibilidade de criatividade e enriquecimento. Assim, devemos aceitar a pluralidade e multiplicidade de perspectivas da personalidade, entendendo que estas apenas representam diferentes ângulos da mesma realidade, ou seja, devemos manter em aberto a definição de personalidade. 2. Quais as definições a que chegou Cícero no século I? No século I, Cícero agrupou as diferentes definições de personalidade à luz da visão do teatro, tendo chegado a quatro. Assim, poderíamos ver a personalidade como a máscara (o que mostramos), como quem está por detrás da máscara (o que somos), como o papel que o actor interpreta na sua personagem (os papéis que desempenhamos), e como a estrela da peça de teatro (as características que nos tornam especiais, únicos e distintos de todos os outros). 3. Qual o estado actual do conceito de personalidade? Actualmente, o conceito de personalidade ainda não está bem definido nem devidamente circunscrito. Contudo, não podemos ter a ilusão de que existe apenas uma realidade. A pluralidade de definições do conceito de personalidade corresponde à variedade de perspectivas diferentes da mesma realidade, aos diferentes ângulos desta. Por isso, não devemos encarar o conceito de personalidade como limitado, devendo aceitar a multiplicidade de perspectivas, por forma a obter riqueza e criatividade. 4. Qual a definição de personalidade segundo Allport? Para Allport a personalidade é a organização dinâmica, no seio do indivíduo, de sistemas psicofísicos que determinam os seus comportamentos característicos e os seus pensamentos. 5. Qual a definição de personalidade segundo Eysenck? Para Eysenck, a personalidade é a organização mais ou menos durável e firme do carácter, do temperamento, da inteligência e da dimensão física de um sujeito. 6. Qual a definição de personalidade segundo Pervin? Para Pervin a personalidade é a organização complexa de cognições, afectos e comportamentos que dão coerência à vida das pessoas, incluindo os efeitos do passado e as construções do presente e do futuro. 7. Qual a definição de personalidade segundo Cattel? Para Cattel, a personalidade é o que permite predizer o que uma pessoa, numa dada situação, vai fazer. 8. Para Cook, por que razões se justifica a diversidade de definições de personalidade? A diversidade de definições de personalidade justifica-se por quatro aspectos: oferece uma grande variedade de perspectivas, oferece funcionalidade, tem em vista vários níveis de explicação e, por fim, pela ênfase colocada no estudo da estrutura e desenvolvimento. 9. Quais as comunalidades das definições de personalidade? Há três aspectos comuns a todas as definições de personalidade, nomeadamente, a unicidade do indivíduo, a estabilidade e durabilidade das características ao longo do tempo e das situações, e o estilo característico de interacção. O que varia de teoria para teoria é a ênfase atribuída a cada um destes aspectos. 10. O que é o temperamento? O temperamento é um sistema duradouro e mais ou menos estável do comportamento afectivo (emoções), sendo biologicamente determinado, ou seja, inato. 11. O que é o carácter? O carácter é um sistema duradouro e mais ou menos estável do comportamento conativo (vontade), ou seja, é a maneira habitual de agir, própria de cada pessoa. 12. Como começou a psicologia da personalidade? A psicologia da personalidade, enquanto disciplina científica começou com Allport e Murray nos anos 30. Para o primeiro autor, dever-se-ia começar o estudo da personalidade tomando como unidades básicas os traços. Para Murray, as unidades básicas de estudo deveriam ser os motivos. 13. Descreva a crise dos anos 70. Nos anos 70 há uma crise na psicologia da personalidade devido às limitações da preditividade e consistência dos traços. Haviam já surgido os situacionistas, como Mischel, que defendiam que os sujeitos se comportam de modo distinto de situação para situação; os humanistas, como Maslow e Rogers, que acreditavam na capacidade praticamente ilimitada de mudança e crescimento pessoal; e também as teorias dos estádios do desenvolvimento da personalidade ao longo da vida. Todas estas correntes se mostravam contrárias à ideia de que os traços são estáveis e têm poder preditivo. Assim, em 1973 fizeram-se conferências de paz científica, das quais surgiu a proposta de tomar como unidade básica no estudo da personalidade as cognições. 14. Quais são as duas abordagens da personalidade? Para o estudo da personalidade há duas abordagens: a idiográfica e a nomotética. A primeira procura entender o sujeito individual na sua própria existência e a segunda procura regras que possam ser aplicadas a vários indivíduos. 15. Para McAdams, quais são os três níveis no estudo da psicologia da personalidade? McAdams definiu três níveis paralelos na análise da personalidade. O nível I é dos traços disposicionais, correspondente ao ter. É o nível de análise mais superficial mas também mais sólido empiricamente. O nível II é das preocupações pessoais, ligado aos projectos pessoais e corresponde ao fazer. Por fim, o nível III é das narrativas de vida, como se constrói e desenrola a personalidade ao longo da vida, correspondente ao ser. 16. Descreva a tipologia de Hipócrates/Galeno. As primeiras tipologias foram propostas por Hipócrates e por Galeno inspirado no primeiro. Esta é baseada em quatro tipos de fluidos ou humores. O tipo colérico tem humor rápido e zangado e está associado à bílis amarela/fogo; o tipo sanguíneo é vigoroso, alegre e confiante, associando-se ao sangue/ar; o fleumático é calmo, cansao, preguiçoso, associado à fleuma/água; e o melancólico é pensativo e triste, estando associado à bilis preta/terra. 17. Descreva a tipologia de Kretshmer. Para Kretshmer a tipologia organiza-se segundo o tipo físico e a personalidade. O tipo esquizóide é frágil e magro e associa-se a problemas de esquizofrenia e perturbações no pensamento; o tipo atlético é musculado e está associado a pertutbações no pensamento; o tipo pínico é gordo e tem tendência para doenças cíclicas; por fim, o tipo displásico tem características físicas misturadas e é emocionalmente instável. 18. Quais os somatotipos e temperamentos associados para Sheldon? Para Sheldon os somatotipos são características físicas e encontram-se associados a determinados temperamentos. Então, o somatotipo endomorfo é caracterizado pela gordura corporal, formas redondas e sistema digestivo desenvolvido e está associado à viscerotonia (sociável, amigável, bom humor, relaxado); o mesomorfo é musculado, com corpo duro e forma rectangular e está associado à somatotonia (aventureiro, desejo de poder e domínio, coragem, assertivo, actividade física); o ectomorfo é magro, delicado, tem aparência jovem, é alto e tem um cérebro grande, associando-se à cerebrotonia (privacidade, introvertido, ansioso socialmente, mentalmente intenso e emocionalmente retraído). 19. O que são traços de personalidade? Traços de personalidade são características duradouras, disposições para nos comportarmos de modo particular em diversas situações, dimensões das diferenças individuais com tendência a mostrar padrões consistentes de pensamentos, sentimentos e acções. 20. Quais as tendências de investigação dos traços para Krahé (1992)? As tendências de investigação actualmente para os traços são a procura das dimensões básicas dos traços (quantidade), a exploração dos determinantes genéticos dos traços (origem) e a conceptualização dos traços como categorias socialmente definidas a partir das quais se constroem as dimensões da personalidade (invenções). 21. Quais as características dos traços? Os traços são: tendências de comportamento, dimensões das diferenças individuais, características gerais, padrões consistentes, inferidos, estilos emocionais, interpessoais, experienciais, atitudinais e motivacionais hierarquizados e disposições cognitivo – dinâmicas. 22. Descreva a teoria dos traços de Eysenck. Para Eysenck há três traços principais: neuroticismo (ansiedade, depressão, tensão, irracionalidade e sentimentos de culpa), extroversão (sociabilidade, vitalidade, actividade, assertividade, procura de sensações) e psicotismo (agressividade, frieza, egocentrismo, impessoalidade, mente “dura”). Na organização hierárquica da personalidade há, então, quatro níveis. O primeiro é o dos tipos, onde se agrupam os traços. Estes últimos constituem o segundo nível, e são construções teóricas baseadas em correlações entre respostas habituais. As respostas habituais são o terceiro nível e são comportamentos que têm lugar geralmente em determinadas situações. Por fim, o quarto nível é o das respostas específicas, comportamentos que apenas se verificam ocasionalmente, sendo desencadeados em situações particulares. 23. Indique e descreva os cinco factores do modelo dos “Big Five” de Costa e McCrae. O modelo dos cinco factores de McCrae e Costa inclui: abertura à experiência, conscienciosidade, extroversão, amabilidade e neuroticismo. O neuroticismo vai desde a adaptação à instabilidade e relaciona-se com a vida interior. A extroversão diz respeito à quantidade e intensidade das interacções e tem a ver com as relações com os outros. A abertura à experiência opõe a procura proactiva e a apreciação da experiência, a tolerância e a originalidade ao convencional, pragmático, sem inclinações artísticas. A amabilidade diz respeito à qualidade da orientação interpessoal e vai desde a paixão ao antagonismo nos pensamentos, sentimentos e acções, estando ligada às relações com os outros. Por fim, a conscienciosidade quantifica o grau de organização, persistência e motivação no comportamento orientado para um objectivo. 24. O que é o NEO – PI – R? O NEO – PI – R é um modelo de análise no estudo da personalidade que se encarrega de operacionalizar os cinco factores do modelo de McCrae e Costa. 25. Qual a grande conclusão das teorias dos traços actuais? As teorias dos traços actuais defendem a tendência para a estabilidade dos nossos traços inatos, apesar de estes se relacionarem com os outros níveis de forma dinâmica. 26. O segundo nível de análise de McAdams inclui que tipo de constructos? O segundo nível de análise de McAdams, preocupações pessoais inclui os PAC, constructos de acção pessoal, onde estão incluídos todos os conceitos relacionados com a acção e diz respeito a valores e objectivos. 27. O que são projectos pessoais e quais as dimensões do seu estudo? Os projectos pessoais são um conjunto extenso de actividades pessoalmente relevantes, que vai desde pequenas actividades até compromissos de uma vida. As dimensões no estudo dos projectos pessoais são 5: significado para o próprio, comunhão, estrutura do projecto, eficácia e stress. 28. Explique a teoria dos “free traits” de Bryan. Para Bryan existem traços livres (free traits), que correspondem a “agir fora da própria personalidade”, ou seja, apesar de termos o nosso perfil de personalidade (os nossos big five), em função dos nossos projectos podemos ir contra os traços que possuímos. 29. Quais as vantagens de trabalhar no nível II? Trabalhar no nível das preocupações pessoais permite compreender melhor o comportamento das pessoas, bem como mudar os seus projectos. Trabalhar com projectos é, de facto, mais viável em termos de intervenção, pois estes são formulados em função da personalidade de cada sujeito. 30. Podemos definir a psicanálise de duas formas. Quais? A psicanálise pode ser definida enquanto ciência do inconsciente e também enquanto teoria central da relação do objecto. 31. Indique os principais pressupostos da psicanálise. A psicanálise apresenta os seguintes pressupostos: todo o facto mental é baseado na relação e a nossa vida mental estrutura-se nela; a mente é como um iceberg, sendo o consciente a parte visível e o inconsciente a grande parte escondida e neste iceberg existem três partes: id, dominado pelo princípio do prazer, ego, princípio da realidade e superego, moral e juízo; a personalidade surge do conflito e equilíbrio entre o id, o ego e o superego; quando perdemos controlo sobre esse conflito ficamos ansiosos e o ego recorre a mecanismos de defesa que reduzem ou redireccionam a ansiedade; a personalidade é formada nos primeiros anos de vida e é enraizada nos conflitos da infância; há cinco estádios de desenvolvimento, cada qual associado a uma zona erógena particular; e a sexualidade adulta é polimorfa, desenvolvendo-se com recurso a todas as zonas erógenas, sendo a patologia a fixação num estádio. 32. O que ficou na actualidade da teoria de Freud (Pervin)? Da psicanálise freudiana ficou a ideia de processos inconscientes, o facto de nem tudo em nós ser racional, o conflito interno, os processos defensivos, a noção de estrutura de personalidade, a influência do passado e o facto de as coisas terem sentido e significado. De facto, a teoria freudiana é muito fecunda, pois permite gerar conhecimento. 33. Caracterize a teoria de Moreno e os seus aspectos teóricos mais relevantes. Moreno traz para a psicologia a espontaneidade e a criatividade, considerando importante descobrir a nossa arte criativa para resolver os problemas, mais do que simplesmente resolvê-los. Trouxe para a psicologia várias novidades importantes como a psicoterapia de grupo, a sociometria, o psicodrama e a improvisação e troca de papéis. Os aspectos teóricos mais importantes da teoria moreniana são: a importância da espontaneidade (factor E), a ideia de que ser saudável é ser criativo e espontâneo, a criatividade activa (importância da acção), a importância da catarse através da acção, a dinâmica grupal e o encontro de reunião. 34. Qual a explicação de Reich para os problemas da personalidade? Para Reich, todos os problemas da personalidade têm a ver com a energia sexual, com o recalcamento dessas energias, que gera tensões. 35. Descreva as características do movimento da Bioenergia de Reich. Para o movimento da Bioenergia, os aspectos físicos do carácter são fundamentais, pois, enquanto crianças, somos reprimidos e sempre que isso ocorre cria-se uma tensão muscular no nosso corpo. Se essa tensão for muitas vezes reprimida, cria-se uma couraça muscular, que serve para nos defendermos, mas impede o livre fluir da nossa energia. Os conceitos principais de Reich são: carácter, movimento e couraça caracteriológica. 36. Qual é a técnica de Alexander? A técnica de Alexander consiste em descodificar a linguagem corporal subtil para podermos compreender e mudar os padrões de comportamento, o carácter e, em certa medida, controlar o nosso destino. 37. Em que consiste a terapia bioenergética de Lowen? Para a terapia bioenergética a personalidade pode ser compreendida através dos processos corporais e energéticos, pois o ser humano responde aos desafios da vida usando a sua energia vital, pelo que é fundamental compreender como usamos a nossa energia. Assim, o conceito de aliveness é muito importante, pois segundo este, quanto mais energia temos, mais vivos estamos e se temos muita tensão, a nossa vivacidade é reprimida. Deste modo, para utilizar bem a sua energia, o sujeito deve ter consciência do seu corpo, deve expressar os seus sentimentos e deve haver integração. Este processo baseia-se em três conceitos: grounding (enraizamento com o que nos sustenta, equilíbrio), surrender (entrega, relaxamento, abertura) e graciosidade (livre no movimento). 38. Qual o pressuposto do existencialismo? Para o existencialismo, as coisas são o que são, independentemente de o querermos ou não e é preciso aceitar a realidade existencial, ou seja, o que existe é o agora, e não nos devemos centrar no passado ou no futuro. 39. Quais os pressupostos do humanismo? Para os humanistas, a base é o potencial humano, em que estes acreditam. Assim, há uma crença no desenvolvimento pessoal e na auto – actualização, sendo que o sujeito se desenvolve enquanto pessoa, é um ser em mutação, constantemente a ser desafiado e tem que se organizar para se equilibrar. 40. Quais os pressupostos da teoria de Perls? Perls adoptou uma concepção gestaltica da personalidade em que, o organismo é visto como um todo, não se diferencia corpo e pensamento, a figura-fundo é também importante, pois quando há um problema salienta-se da realidade determinadas figuras/situações. Outro conceito básico é o de aqui e agora, ou seja, de auto – percepção do indivíduo no seu meio, no momento presente. Por fim, Perls defende a preponderância do como sobre o porquê, ou seja, as causas são quase impossíveis de determinar dado o carácter multi – determinado dos problemas, e, como tal, é mais importante ver como a pessoa está no momento, o que faz e do que necessita. 41. Indique as principais abordagens da psicologia da personalidade? As principais abordagens da psicologia da personalidade são a psicanálise, a perspectiva diferencial (traços e perspectiva psicométrica), a perspectiva situacional (importância da situação/contexto), a perspectiva interaccionista (interacção das características do sujeito com a situação), os movimentos humanistas (crença no potencial humano e na transformação) e a perspectiva cognitivista. 42. Quais as grandes questões abordadas pela psicologia da personalidade? Verifica-se na psicologia da personalidade a questão da estabilidade da personalidade (é algo estável ou instável?), da origem da personalidade (deve-se a factores internos ou externos, a factores biológicos ou situacionais?) e da abordagem (qual a melhor para a análise da personalidade: a idiográfica ou a nomotética). 43. Para Pervin, quais são os tópicos ainda em estudo para a psicologia da personalidade? Os tópicos ainda em estudo na psicologia da personalidade segundo Pervin são os traços recontextualizados, algumas heranças da psicanálise, como os contructos de origem dinâmica, e o interaccionismo. 44. Quais as novas tendências da psicologia da personalidade? As novas tendências da psicologia da personalidade, resultantes da inversão do paradigma são o aparecimento de novos constructos, novas unidades, a aceitação da complexidade, ou seja, de que a realidade da personalidade é complexa e que os diferentes olhares são importantes e complementares para perceber essa complexidade. Há, aqui, uma tendência inter/transdisciplinar, pois há que olhar entre as várias disciplinas e perceber que o conceito as transcende. Por fim, há também a tendência para o ecletismo e pluralismo metodológico, segundo a qual devemos recorrer, quer ao método idiográfico, quer ao método nomotético em complementaridade para estudar a personalidade. 45. Qual o constructo que pertende unir os níveis de análise de McAdams? Um constructo que abarca a pluralidade e a totalidade da realidade da personalidade, unindo os níveis de análise é a ideia de self, que permite o estudo da pessoa total de forma integrada. 46. O início do estudo do self remonta a William James. Quais os tipos de self? A primeira ideia a ter em relação ao self é a ideia de não – self, ou seja, para compreender o eu é preciso entender que existe um não – eu. Assim, o self divide-se em dois: o I, o eu que conhece, e o Me, o self que é conhecido. Só com estas duas partes podemos analisar-nos, ver-nos e compreendermo-nos. Além disso, derivados do conceito de self, encontramos o self real (o que sou) e o self ideal (o que desejo ser), sendo que a discrepância entre os dois leva ao sofrimento. 47. Descreva os três tipos de self para Miguel Gonçalves. Para Miguel Gonçalves, há três tipos de self estudados. As teorias individuais referem um self monadal (contentor), ou seja, um self privado, íntimo, isolado, real e que possui coerência interna (integridade, unidade pessoal separada da sociedade). O interaccionismo simbólico e o construtivismo social abordam o self social, ou seja, o self construído socialmente, na relação com o outro. Aqui, o interaccionismo simbólico considera que é através dos outros que o sujeito se olha ao espelho e se vai construíndo face ao que vê. Por sua vez, o construtivismo social recorre ao conceito de multifrenia, ou seja, o self é múltiplo e permite-nos ser flexíveis. Por fim, há ainda o self narrativo, que permite alguma unicidade no self, pois através do discurso torna-se possível unificar a multiplicidade. 48. Self indefinido? Não é o auto – conhecimento que leva à saúde mental, mas antes o auto – desconhecimento, na medida em que só este permite a flexibilidade pessoal. Se tivermos um conceito estático (monadal) sobre nós próprios ficamos presos a essa concepção e fechados nela. Ou seja, é a indefinição do self que leva à plasticidade/flexibilidade. Gordon Allport Allport foi o primeiro a utilizar o termo traço de personalidade, adoptou uma posição idiográfica. Na sua opinião, o individuo é único em virtude uma configuração especifica de traços. A noção de traços é central na sua teoria: constituem predisposições para se responder sempre da mesma maneira a diversos estímulos. No individuo os traços asseguram a estabilidade dos comportamentos ao longo do tempo e nas variadas situações da vida, influenciando fortemente a percepção dos acontecimentos. Os traços respondem a determinados critérios: são definidos de forma clara; são mais do que um hábito; a sua natureza é puramente lógica; eles existem e são observáveis; a sua existência pode ser empiricamente demonstrada; os traços interagem entre si; não são objecto de julgamento moral algum; são distribuídos normalmente na população; um comportamento inconsciente com um traço não constitui uma prova da não existência desse traço. Allport distingue traços comuns de traços individuais (denominados de disposições pessoais. Os primeiros são monotéticos, distribuindo-se normalmente na população. Descrevem características partilhadas por inúmeras pessoas numa determinada cultura. Os segundos diferem de individuo para individuo. Allport consagrou grande parte das suas obras ao desenvolvimento da personalidade. Interessou pelo eu, bem como pela forma como este se desenvolve através dos diferentes estádios. Allport foi o primeiro a falar de traços de personalidade. Ainda que autor reconheça que determinados traços são comuns aos indivíduos, outros são claramente mais específicos, como as disposições pessoas secundárias. A sua abordagem idiográfica deixa subentender que os indivíduos não agem necessariamente da mesma forma em contextos diferentes e que nem sempre é possível fazer generalizações a partir de comportamentos individuais. Teoria Analítica de C. Jung Jung distingue-se me muitas passagens das concepções freudianas. Este autor rejeita, sobretudo, a teoria da sexualidade, interpreta os sonhos de forma diferente- baseando-se eminentemente na interpretação simbólica universal, dá credito às experiências extra-sensoriais. Jung considera que uma das tarefas primordiais da vida do homem consistia no desenvolvimento do seu próprio eu. Considerava, igualmente, que o homem era composto por diferentes facetas, devendo aceitar a sua presença, tanto as boas como as más. Um dos aspectos importantes da teoria do Jung reside no facto de o inconsciente estar divido em duas entidades diferentes: o inconsciente pessoal e inconsciente colectivo. O primeiro corresponde aos elementos que, um dia, estiveram na consciência. O segundo corresponde ás nossas experiências ancestrais, sendo comum a todos os indivíduos. Este inconsciente é composto por elementos designados de arquétipos, que representam experiências universais que nos predispõem a reagir de determinada forma em diferentes contextos. As sensações de dejá vu constituem um forma de representação dos arquétipos, correspondendo aos facto de os outros, antes de nós, terem visto a mesma coisa. O eu representa tudo aquilo de que o individuo está consciente e tudo o que pensa. O desenvolvimento do eu permite harmonizar os elementos concientes. Quando aos tipos de personalidade e as funções psicológicas, Jung considerou que os indivíduos em poderiam ser divididos em duas grandes categorias: extroversão e a introversão. A extroversão corresponde ao facto de se dirigir a libido para o exterior, o que implica a existência de centros de interesse que não se encontrem virados para o próprio, mas antes para os outros. A introversão referese às pessoas que orientam a sua libido para si mesmas, o que implica que não tenham centros de interesse dirigidos para os outros. Paralelamente às duas atitudes do eu, Jung definia 4 funções psicológicas: o pensamento, as impressões, as sensações e as intuições. De acordo com Jung, o modo como a personalidade se desenvolve corresponde a um mecanismo de individuação. Trata-se de um processo através do qual uma pessoa se torna um indivíduo psicológico, ou seja, uma unidade indivisível, inteira e única. É a realização do Eu que é o responsável pelo processo descrito, através do equilíbrio entre os pólos opostos que formam o indivíduo, como o inconsciente e o consciente. O processo intermédio do qual o indivíduo consegue equilibrar os extremos designa-se função transcendental. Teorias Psicológicas Sociais: Adler Podemos resumir a teoria de Adler em 5 pontos: todos os comportamentos têm um significado social; todos os comportamentos têm um objectivo; a pessoa é um todo; os comportamentos são emitidos para ultrapassar sentimentos de inferioridade e alcançar sentimentos de superioridade; os comportamentos resultam das nossas percepções subjectivas. Por outras palavras, o individuo é social, reflectido, sabe o que quer e responde às frustrações infantis com os seus comportamentos, com vista a aquisição de um nível superior. Adler, contrariemente a Freud, considera o individuo como um pessoa inteira, cuja vida passa da imaturidade para a maturidade. Os indivíduos decidem, eles próprios, que direcção é que a vida vai tomar, e, independentemente da direcção tomada, procuram alcançar a perfeição dentro do que estabelecem. Adler postulava a existência de sentimentos de inferioridade, que apareciam precoccemente na vida do individuo e que careciam de compensações para o resto da vida. Este conceito central, exprimindo-se pelo termo complexo de inferioridade. Este autor considerava que os indivíduos têm vontade de ser superiores e actuantes com vista a compensarem frustrações infantis. Trata-se do complexo de superioridade. Adler considera que as diferenças entre os indivíduos são, acima de tudo, psicossoais. Um dos factores de maior importância é o sentimento social. O homem deve cumprir 3 tarefas na vida: inserirse na sociedade, dedicar tempo a um trabalho e desenvolver relações amorosas. As atitudes tomadas por um individuo face à sociedade, o trabalho e amor estão resumidas no estilo de vida. Teorias Psicológicas Sociais: Fromm A teoria de Fromm baseia-se no impacte dos factores sociológicos sobre a personalidade. A personalidade resulta da interacção dinâmica entre as necessidades inenrentes á natureza humana e as forças exercidas pelas normais sociais e instituições. Existem 8 necessidas: a representação do mundo e do objecto de devoção (necessidade de ter um representação mental do seu ambiente físico e social; relações (necessidade de relações que os unam ao outro); vínculos (necessidade de se vincular e separarem deles sem dificuldade); identidade (necessidad de se sentirem únicos e de terem uma identidade própria); unidade (necessidade de transformar o nosso papel de criador passivo num papel de criador activo e consequente); efectividade (necessidade que compensa o facto de vivermos num mundo que nos domina, provar a nós próprios que podemos ter um efeito sobre as coisas que nos rodeiam); excitações e estimulações (necessidades que são necessárias para o funcionamento do sistema nervoso central). Fromm concebe um lugar importante aos caracteres, estes refletem a forma como o individuo interage com o mundo. Existe um carácter individual e um carácter social. O primeiro constitui um padrão de comportamentos de um individuo. Os caracteres sociais representam, por sua vez, a base da estrutura dos caracteres que é comum à maioria de determinados indivíduos, numa cultura especificam, e que mostram o grau em que os caracteres são formados por influencias culturais. Fromm identificou 6 caracteres que refletem o modo como os sujeitos consideram as coisas e as pessoas. As pessoas que possuem um carácter receptivo consideram que a fonte de reforço é exterior a si próprias e que a única forma de obter qualquer coisa consiste em recebê-la do exterior. O carácter explorados pensa também que a fonte de todas as coisas é o exterior aos sujeitos, mas, mais do que esperar receber dos outros, estas pessoas tiram a força. As pessoas cujo carácter é rígido pensam que o reforço vem do interior de si mesmas. O carácter do tipo marketing consideram ser um valor que pode ser negociado, aumentado ou vendido. As pessoas com carácter necrófilo são continuamente atraídas pela morta. As pessoas com carácter produtivo representam a integração no mundo que nos rodeia, com o auxilio de qualidades humanas. Teoria Psicossocial de Erik Erickson Erikson concebe o desenvolvimento da personalidade de acordo com 8 estádios psicossociais. O termo psicossocial refere-se á relação que existe entre o desenvolvimento psicológico do individuo e o contexto social em que o desenvolvimento tem lugar. A maturidade adquire-se através da resolução dos conflitos ligados a estas contradições. Metaforicamente, em cada estádio, a pessoa é submetida a forças negativas e positivas, devendo a própria pessoa conseguir aproximar-se das forças negativas e positivas, que se opõem, devendo a própria pessoa conseguir aproximar-se das forças positivas para resolver a crise. Teoria do constructo pessoal de George Kelly Kelly considera que os indivíduos são governados por um principio interno, que corresponde á forma como organizam os acontecimentos do mundo exterior. O mesmo é claramente influenciado por um elemento exterior: as relações sociais. Kelly dá pouca importância pão passado e, em seu entender, o homem encontra-se virado para o futuro. Kelly considera que os processos cognitivos representam a característica dominante da personalidade. Cada sujeito descodifica a realidade como um cientista intuitivo que tenta compreender, explicar, antecipar e controlar o seu ambiente directo, para se adaptar o melhor possível. Os contructos permitem uma rápida categorização da informação pertinente.Cada pessoa faz a sua própria leitura do mundo, em função dos seus construtos pessoais. São estes que nos levam a predizer e a interpretar os acontecimentos do mundo exterior. Walter Mischel Michel rejeitou a noção de traço de personalidade. Na sua opinião, não existem elementos invariantes e permanentes que determinem comportamentos estáveis, nas diferentes situações. Considera o autor que diversos exemplos demonstram que os indivíduos sabem distinguir uma situação de outra e que se comportam de forma diferente, em função das situações. Os indivíduos decidem comportar-se de uma ou outra maneira em função do contexto. Os indivíduos diferem, não apenas na forma como codificam as informações do ambiente, mas também nas suas expectativa, crenças e objectivos. Estes diferentes elementos interagem uns com os outros e com a situação exterior. Michel sugeriu que uma teoria adequada da personalidade deve ter em conta 5 categorias de várias cognitivas: competência (a pessoa possui qualidades cognitivas para realizar um comportamento adequado); codificação (visão especifica de um individuo sobre o mundo, esquemas cognitivos); expectativas (dois tipos de expectativas – a primeira resume-se a que, face a estímulos conhecidos, esperemos ver determinadas coisas, e a segunda diz respeito às nossas expectativas face aos nossos comportamentos); valores subjectivos da pessoa; sistemas de auto-regulação e por planos. Adiar a gratificação consiste em esperar pelo momento adequado para fazer, ou ter, algo, com vista a dai retirar o máximo de prazer. O autor conclui que o importante não é o que as crianças têm à sua frente, mas antes o que têm na cabeça. Michel propõe um modelo cognitivo emocional que dá conta do auto-controlo, componente que permite adir uma gratificação, que representa as emoções. O equilíbrio entre os dois sistemas é determinado por factores stressantes, pelo nível desenvolvimental e por processos dinâmicos de autoregulação. Personologia de Henry Murray O foco da sua teoria está nos indivíduos e em toda a sua complexidade. Esse ponto de vista é salientado pelo termo “personalogia”. As suas ideias da personalidade foram influenciadas pela teoria psicanalítica, mas em muitos aspectos são diferentes da visão freudiana. Segundo Murray a personalidade é uma abstracção formuladado por teóricos e não simplesmente uma descrição do comportamento dos indivíduos; refere-se a uma série de eventos que idealmente abrangem toda a sua vida; a personalidade deve reflectir os elementos duradouros e recorrentes do comportamento, bem como elementos novos e únicos; é um agente organizador ou governador do individuo, as suas funções são integrar os conflitos e limitações aos quais os indivíduos estão expostos; está localizada no cérebro. Ao analisarmos a teoria de Murray da motivação temos de ter em conta alguns conceitos chave: necessidade; pressão; redução da tensão; tema; necessidade integrada; unidade-tema; reinância e conceitos de valor e vector. A necessidade é um constructo que representa força, e existem vários tipos de necessidades: primárias e secundárias; necessidades aparentes e necessidades ocultas; necessidades focais e necessidades difusas; necessidades pró-activas e necessidades reactivas; actividade processo, necessidades modais e necessidades efeito. As necessidades não operam em completo isolamento umas das outras, existe uma hierarquia de necessidades. O conceito predominância é usado para referir-se a necessidades que se tornam dominantes rapidamente e não são satisfeitas. O conceito pressão representa os determinantes significativos do comportamento no ambiente, é uma propriedade ou atributo de um objecto ou pessoa ambiente que facilita ou impede os esforços do individuo para atingir uma determinada meta. Quando uma necessidade é despertada, o individuo fica em estado de tensão, e a satisfação da necessidade envolve redução da tensão. O tema é simplesmente uma unidade de comportamento molar e interactiva. Ele inclui a pressão e a necessidade que está operando. Assim, ele lida com a interacção entre as necessidades e as pressões e permite uma visão do comportamento mais global e menos segmental. Por meio deste conceito, o teórico pode representar as situações que instigam ou levam à operação de determinadas necessidades, assim como a consequência ou os resultantes da operação dessas necessidades. Uma necessidade integrada é uma “disposição temática” bem-estabelecida – a necessidade de um certo tipo de interacção com um certo tipo de pessoa ou objecto. O despertar da necessidade geralmente levará a pessoa a buscar de maneira apropriada o objecto ambiental correspondente à imagem que faz parte do integrado de necessidades. A unidade-tema é um padrão único de necessidades e de pressões relacionadas, derivado da experiência infantil, que dá significado e coerência à porção maior do comportamento do indivíduo. Opera amplamente como uma força inconsciente, nem sempre é possível descobrir a unidade-tema. Os processos de reinância são o acompanhamento fisiológico de um processo psicológico dominante. Por fim, temos o esquema de o esquema de valor-meta. Podemos representar o individuo em qualquer ponto do tempo como um processo integrado complexo de necessidades e pressões ou vectores e valores, estruturas de personalidade, habilidades, realizações e sentimentos. Ao discutir o desenvolvimento da personalidade temos de falar em complexos infantis, incluindo também determinantes genéticas e de maturação, aprendizagem, socioculturais, singulariedades dos indivíduos, papel dos factores inconscientes e processos de socialização. Fritz Perls Fritz Perls foi o criador da Gestalt-Terapia, este tinha uma visão gestáltica do ser humano. Os conceitos principais na teoria de Perls são: o organismo como um todo; a ênfase do aqui e agora; a preponderância do como sobre o porquê; Os 3 principais conceitos da abordagem de Perls (organismo como um todo, a ênfase no aqui e o agora e a preponderância do como sobre porquê- constituem fundamentos para entender a conscientização. Perls considera que a fuga à conscientização e a consequente rigidez da percepção e do comportamento são os principais obstáculos ao crescimento psicológico. Perls sugere que existem 4 mecanismos neuróticos básicos – distúrbios de limite- que impedem o crescimento: introjecção, projecção, confluência e retroflexão. Quando à estrutura Perls referia o corpo; relacionamento social, vontade; emoções; intelecto e o self. Quando ao corpo este considera a cisão mente/corpo da maioria das psicologias como arbitrária e falaciosa. A actividade mental é simplesmente uma actividade que funciona em níveis menos intensos que a actividade física. A gestal-terapia é sobretudo uma síntese de abordagens que visa a compreensão da psicologia e comportamentos humanos. A Gestalt- terapia incorporou de forma útil muito da psicologia existencial e psicanalítica, assim como fragmentos e partes do behaviorismo, psicodrama, psicologia de grupo e Zen Budismo. O espírito da Gestalt-terapia é humanista e orientado para o crescimento. Esta terapia suscitou algumas criticas: a ideia de capacidade de fazer escolhas, de assumir responsabilidades pela própria vida, de tornar-se um individuo “auto-apoiado e auto-regulado” tem como premissa uma relativa liberdade, em termos de restrições sociais, o que é certamente inacessível para muitas pessoas.