psicologia da personalidade

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PSICOLOGIA DA PERSONALIDADE
Sigmund Freud
(1856-1939)
A primeira abordagem para o estudo formal da personalidade foi a
psicanálise, criação de Freud, que começou seu trabalho no final do século XIX. As
suas formulações foram tão importantes e de tão longo alcance que muitas das suas
ideias continuam influentes no século XXI. Além disso, quase todas as teorias da
personalidade desenvolvidas após Freud devem-se à sua posição, quer
concordando, quer discordando. A psicanálise freudiana enfatiza as forças do
inconsciente, os impulsos sexuais e de agressão motivados biologicamente e os
conflitos inevitáveis na infância, considerados os modeladores da nossa
personalidade.
Sem sombra de dúvida a teoria da personalidade que mais influência
exerceu sobre a psicologia foi a de Freud, no período que vai de 1900 até 1939. A
Psicanálise é ampla – uma teoria da personalidade, um método de psicoterapia e,
para muitos, uma interpretação filosófica da vida. Foram incalculáveis os seus
efeitos no pensamento humano durante a primeira metade do século 20, e sua força
está longe de se ter esgotada.
A história da construção da teoria psicanalítica da personalidade inicia-se
em 1895 quando Freud começou a trabalhar no que ele denominaria de “Projeto
para uma Psicologia Científica” que nada mais era do que um extenso esboço do
que viria a ser a Psicanálise. Em 1900, com a interpretação dos sonhos, Freud
remodela seu Projeto, dando lugar à primeira tópica freudiana (inconsciente, préconsciente, consciente), mais topográfica. Vinte anos após ele define sua teoria
calcando-a na segunda tópica (id-ego-superego), mais estrutural.
TEORIA DO APARELHO PSÍQUICO
Primeira Tópica Freudiana
Freud empregou a palavra “aparelho” para caracterizar uma organização
psíquica dividida em sistemas, ou instâncias psíquicas, com funções específicas para
cada uma delas, que interligadas entre si, ocupam um certo lugar na mente. Em
grego, “topos” quer dizer “lugar”, daí que o modelo tópico designa um “modelo de
lugares”, sendo que Freud descreveu dois deles: a “primeira tópica” conhecida
como topográfica e a “segunda tópica”, como estrutural.
A noção de “aparelho psíquico”, como um conjunto articulado de lugares –
virtuais – surge mais claramente na obra de Freud em “A interpretação dos sonhos”
de 1900, no qual elabora uma analogia do psiquismo com um aparelho ótico, de
como esse processa a origem, transformação e o objetivo final da energia luminosa.
Nesse modelo tópico, o aparelho psíquico é composto por três sistemas: o
inconsciente, o pré-consciente e o consciente. Algumas vezes, Freud denomina a
este último sistema de sistema percepção-consciência.
No sentido descritivo, o sistema consciente é a expressão da qualidade
momentânea que caracteriza as percepções externas e internas no conjunto dos
fenômenos psíquicos. Segundo a teoria metapsicológica de Freud a consciência
seria função de um sistema, o sistema percepção-consciência (Pcs-Cs), tendo o
consciente a função de receber informações provenientes das excitações exteriores e
interiores, registradas qualitativamente de acordo com o prazer e/ou, desprazer que
causam. A consciência desempenha um papel importante na dinâmica do conflito
(evitação consciente do desagradável, regulação mais discriminadora do princípio
de prazer) e do tratamento (função e limite da tomada de consciência).
O sistema pré-consciente foi concebido como articulado com o consciente e,
tal como sugere no “Projeto”, onde ele aparece esboçado com o nome de “barreira
de contato”, funciona como uma espécie de peneira que seleciona aquilo que pode,
ou não, passar para o consciente; e como substantivo, designa um sistema
nitidamente distinto do sistema inconsciente; como adjetivo, qualifica as operações
e conteúdos desse sistema pré-consciente. Do ponto de vista metapsicológico, é
regido pelo processo secundário. No quadro da segunda tópica freudiana, o termo
pré-consciente é sobretudo utilizado como adjetivo, para qualificar o que escapa à
consciência atual sem ser inconsciente no sentido estrito.
O sistema inconsciente designa a parte mais arcaica do aparelho psíquico.
Por herança genética, existem pulsões, acrescidas das respectivas energias e
“protofantasias”, possíveis fantasias atávicas ou “fantasias primitivas, primárias ou
originais”. As pulsões estão reprimidas sob a forma de repressão primária ou de
repressão secundária. O inconsciente é o conteúdo ausente, em um dado momento,
da consciência, que está no centro da teoria psicanalítica. É também constituído por
conteúdos recalcados aos quais foi recusado o acesso ao sistema pré-consciente-
consciente pela ação do recalque originário e recalque a posteriori. Freud acentuou
desde o início que o sujeito modifica a posteriori os acontecimentos passados e que
essa modificação lhes confere um sentido e mesmo uma eficácia ou um poder
patogênico.
Podemos resumir do seguinte modo as características essenciais do inconsciente
como sistema :
a) Os seus “conteúdos” são “representantes” das pulsões;
b) Estes “conteúdos” são regidos pelos mecanismos específicos do processo
primário, principalmente a condensação e o deslocamento;
c) Fortemente investidos pela energia pulsional, procuram retornar à
consciência e à ação (retorno do recalcado); mas só podem ter acesso ao
sistema Pcs-Cs nas formações de compromisso, depois de terem sido
submetidos às deformações da censura.
Segunda Tópica Freudiana
A primeira tópica inspirada pela análise do sonho e da histeria foi
sucedida por uma segunda tópica, elaborada em resposta aos problemas da psicose,
que abrange o id, o ego, e o superego. Da primeira, Freud dizia que tinha um valor
descritivo, ao passo que na segunda reconhecemos um valor sistemático.
“Daremos o nome de inconsciente”, escrevia ele em 1900, “ao sistema
situado mais atrás; ele não poderia ter acesso à consciência, a não ser passando pelo
pré-consciente, e durante essa passagem o processo de excitação deverá se submeter
a certas modificações”.
Insatisfeito com o “modelo topográfico”, porquanto esse não conseguia
explicar muitos fenômenos psíquicos, em especial aqueles que emergiam na prática
clínica, Freud vinha gradativamente elaborando uma nova concepção, até que, em
1920, mais precisamente a partir do importante trabalho metapsicológico “Além do
princípio do prazer, ele estabeleceu de forma definitiva a sua clássica concepção do
aparelho psíquico, conhecido como modelo estrutural (ou dinâmico), tendo em
vista que a palavra “estrutura” significa um conjunto de elementos que
separadamente tem funções específicas, porém que são indissociados entre si,
interagem
permanentemente
e
influenciam-se
reciprocamente.
Ou
seja,
diferentemente da Primeira Tópica, que sugere uma passividade, a Segunda Tópica
é eminentemente ativa, dinâmica. Essa concepção estruturalista ficou cristalizada
em “O ego e o id” de 1923 e consiste em uma divisão tripartite da mente em três
instâncias: o id, o ego e o superego. Antes disso, convém lembrar que há três
estruturas clínicas-patológicas na teoria psicanalítica. São elas:
a) Estrutura Neurótica
b) Estrutura Psicótica
c) Estrutura Perversa
O termo id foi introduzido por Groddeck em 1923 e conceituado por Freud
no mesmo ano, para designar uma das três instâncias da segunda tópica freudiana.
O id (isso) é concebido como um conjunto de conteúdos de natureza pulsional e de
ordem inconsciente que constitui o pólo pulsional da personalidade. Seus
conteúdos, expressão psíquica das pulsões, são inconscientes, por um lado
hereditários e inatos e, por outro, recalcados e adquiridos.
Ego é um termo empregado na psicologia para designar a pessoa humana
como consciente de si. Em Freud, designou, num primeiro momento, a sede da
consciência. Na segunda tópica foi conceituado por Freud como uma instância
psíquica que abrangia outras duas instâncias: o superego e o id. O ego tornou-se
então, em grande parte, inconsciente. Ele está numa relação de dependência tanto
para com as reivindicações do id, como para com os imperativos do superego e
exigências da realidade. Embora se situe como o encarregado dos interesses da
totalidade da pessoa, sua autonomia é apenas relativa.
No conflito neurótico, o ego representa eminentemente, o pólo defensivo da
personalidade; põe em jogo uma série de mecanismos de defesa, estes motivados
pela percepção de um afeto desagradável (sinal de angústia). A teoria psicanalítica
procura explicar a gênese do ego em dois registros relativamente heterogêneos, quer
vendo nele um aparelho adaptativo, diferenciado a partir do id em contato com a
realidade exterior, quer definindo-o como o produto de identificações que levam à
formação no seio da pessoa de um objeto de amor investido pelo id.
Relativamente à primeira teoria do aparelho psíquico, o ego é mais vasto do
que o sistema pré-consciente-consciente, na medida em que as suas operações
defensivas são em grande parte inconscientes.
Freud descreveu o ego como uma parte do id, que por influência do mundo
exterior, ter-se-ia diferenciado. No id reina o princípio de prazer. Ora, o ser
humano é um animal social e, se quiser viver com seus congêneres, não pode se
instalar nessa espécie de nirvana, que é o princípio de prazer, ponto de menor
tensão, assim como lhe é impossível deixar que as pulsões se exprimam em estado
puro.
De fato, o mundo exterior impõe à criança pequenas proibições que
provocam o recalcamento e a transformação das pulsões, na busca de uma
satisfação substitutiva que irá provocar no eu, por sua vez, um sentimento de
desprazer. O princípio de realidade substitui o princípio de prazer. O eu se
apresenta como uma espécie de tampão entre os conflitos e clivagens do aparelho
psíquico, ao mesmo tempo que tenta desempenhar o papel de uma espécie de páraexcitação, em face das agressões do mundo exterior.
O superego é uma das instâncias da personalidade tal como Freud a
descreveu no quadro da sua segunda teoria do aparelho psíquico: o seu papel é
assimilável ao de um juiz ou de um censor relativamente ao ego. Freud vê na
consciência moral, na auto-observação, na formação de ideais, funções do
superego.
Classicamente, o superego é definido como herdeiro do complexo de Édipo;
constitui-se por interiorização das exigências e das interdições parentais. Certos
psicanalistas recuam para mais cedo a formação do superego, vendo esta instância
em ação desde as fases pré-edipianas (Melanie Klein) ou pelo menos procurando
comportamentos e mecanismos psicológicos muito precoces que seriam precursores
do superego (Glover, Spitz, por exemplo).
Melanie Klein situou as “primeiras fases do superego” no momento das
“primeiras identificações da criança”, quando, muito pequena, ela “começa a
introjetar seus objetos”; o medo que ela sente em decorrência disso determina
processos de rejeição e projeção cuja interação parece ter “uma importância
fundamental, não somente para a formação do superego, mas também para
relações com as pessoas e a adaptação à realidade”.
Freud foi um grande pioneiro na psicanálise, mas após suas descobertas e
reflexões muitos outros autores desenvolveram a psicanálise e reformularam pontos da
sua teoria, destacando-se Jaques Lacan e Donald Winnicott.
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