Processos gerais no metabolismo proteico e síntese de aminoácidos

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Processos gerais e síntese de aminoácidos; Rui Fontes
Processos gerais no metabolismo proteico e síntese de aminoácidos
1- Um determinado número de moléculas de cada proteína endógena sofre hidrólise durante um dia mas,
nos indivíduos adultos saudáveis, um número equivalente é sintetizado. A percentagem de moléculas
afetadas por este processo de renovação depende principalmente da proteína em análise sendo muito
baixa no caso do colagénio (cerca de 0,2% de renovação diária), relativamente modesta no caso das
proteínas dos músculos esqueléticos (2%/dia), elevada no caso das proteínas das vísceras (7-15%/dia) e
elevadíssima no caso de enzimas reguladas por transcrição/tradução (renovação total em horas).
Considerando o conjunto das proteínas de um adulto (cerca de 10-12 kg de proteínas num adulto
normal com 70 kg) cerca de 300 g de proteínas sofrem hidrólise por dia e um valor idêntico sofre resíntese o que representa uma taxa de renovação (turnover) de cerca de 3% (em média, 1 cadáver novo
por mês). Apesar da sua modesta taxa de renovação, porque as proteínas dos músculos constituem
cerca de metade da massa total de proteínas do organismo, a sua taxa de renovação (cerca de 120 g/dia)
contribui com 40% para a taxa global. Em geral, um indivíduo adulto saudável mantém constante a
quantidade total de proteínas endógenas. De facto, a massa de proteínas endógenas “flutua” ao longo
de um dia aumentando no período pós-prandial e diminuindo durante o jejum. No entanto, tendo em
conta a massa total de proteínas, as variações percentuais são mínimas e, além disso, considerando um
período de 24h (ou mais) pode dizer-se que a velocidade de hidrólise é, no adulto, igual à de síntese.
Um indivíduo que está nestas condições diz-se em equilíbrio azotado (ou que tem um balanço
azotado nulo).
2- A hidrólise das proteínas endógenas é catalisada por protéases e a dos polipeptídeos formados por
peptídases acabando na libertação dos aminoácidos constituintes. No caso das proteínas
citoplasmáticas ou do retículo endoplasmático, nomeadamente as que têm taxas de renovação elevada
(caso das enzimas reguladas por transcrição/tradução) ou alterações estruturais, estes processos
hidrolíticos envolvem protéases do citoplasma que estão integradas numa estrutura proteica designada
por proteossoma. As proteínas que vão ser degradadas no proteossoma são previamente conjugadas
com a ubiquitina (uma proteína) numa reação em que se consome ATP. As proteínas extracelulares ou
associados à membrana são sobretudo degradadas nos lisossomas por protéases designadas por
catepsinas. Os componentes intracelulares que são degradadas nos lisossomas são previamente
reunidos em estruturas rodeadas de uma membrana constituindo os vaculos autofágicos. As proteínas
segregadas para o lúmen do tubo digestivo ou que resultam da descamação do epitélio são, juntamente
com as proteínas da dieta, hidrolisadas pelas protéases e peptídases digestivas.
3- A esmagadora maioria dos aminoácidos formados durante a hidrólise das proteínas endógenas (cerca
de 300 g/dia) é reutilizada na síntese de novas moléculas proteicas. No entanto, uma parte não é
reutilizada porque uma parte das moléculas dos aminoácidos libertados no catabolismo das proteínas
endógenas é transformada de tal forma que fica excluída do ciclo de reutilização. Esta perda
obrigatória de aminoácidos endógenos (cerca de 25 g/dia no adulto) 1 é, em grande parte, uma
consequência da presença, nas células, de enzimas que têm como substratos aminoácidos e catalisam
transformações catabólicas irreversíveis incluindo desaminações e oxidações. O azoto dos
aminoácidos que sofrem catabolismo é maioritariamente transformado em ureia (que se perde na
urina) enquanto o seu esqueleto carbonado (a parte desprovida de azoto) pode ser oxidado a CO2, em
última análise contribuindo para a síntese de ATP. O azoto das proteínas não se perde apenas na
forma de ureia. A urina contém outros compostos azotados que, em última análise, também provêm do
metabolismo dos aminoácidos; dentre estes é de destacar a creatinina, o ácido úrico, o ião amónio e,
embora em quantidades muito mais pequenas, aminoácidos (modificados ou não) e catabolitos de
hormonas e neurotransmissores que tiveram aminoácidos na sua génese. Também se perdem
aminoácidos endógenos nas fezes pois uma parte das proteínas do epitélio intestinal que descama, das
mucinas secretadas (sobretudo do intestino grosso) ou mesmo das enzimas digestivas não são
completamente digeridas. O facto de, em média, 16% da massa das proteínas ser azoto permite
1
A perda obrigatória de aminoácidos (obligatory aminoacids losses) pode, na prática, ser determinada avaliando as perdas
de azoto do organismo num indivíduo que tem uma dieta equilibrada sob todos os pontos de vista exceto um: não ingere
proteínas. Porque a ureia é, no rim e no intestino, reabsorvida para ser de novo reexcretada, é necessário esperar vários dias
antes de se tornarem patentes as consequências (diminuição da excreção de ureia) da exclusão das proteínas da dieta.
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estabelecer uma relação entre a massa de azoto perdida nas excreções e a massa de proteínas que essa
massa de azoto representa. Assim, para converter a massa do azoto excretado em equivalentes de massa
de proteínas multiplica-se a massa do azoto excretado por 6,25 (100/16 = 6,25). Cerca de 70% do azoto
correspondente às perdas obrigatórias de aminoácidos perde-se na urina (50% na forma de ureia e 20%
na forma de creatinina, amónio e outros compostos) e cerca de 20% nas fezes; os restante 10%
correspondem às perdas de proteínas inteiras na pele que descama, nas unhas e cabelos que crescem,
nas secreções nasais, no fluxo menstrual ou na ejaculação e na ureia que está presente no suor.
4- Poderia pensar-se que, para repor as perdas obrigatórias de 25 g de aminoácidos/dia, bastaria ingerir
uma quantidade equivalente de proteínas, mas não é isso que acontece. A absorção de aminoácidos no
intestino, leva a um aumento transitório da sua concentração nas células e a um aumento da velocidade
do seu catabolismo: uma parte substancial dos aminoácidos ingeridos fica sujeita à ação das enzimas
catabólicas sofrendo, junto com os libertados na hidrólise das proteínas endógenas, oxidação e
desaminação irreversível. Além disto, uma parte das proteínas ingeridas não chega a ser absorvida e
perde-se nas fezes. Os trabalhos experimentais com seres humanos adultos saudáveis apontam para
valores da ordem dos 50 g/dia como o mínimo de proteínas a ingerir para repor as perdas obrigatórias
de aminoácidos [1]. Nas situações em que a massa de proteínas endógenas está a aumentar diz-se que
há um balanço azotado positivo; na condição contrária diz-se que o balanço azotado é negativo; o
balanço azotado é nulo quando não há aumento nem diminuição da massa proteica. Porque é uma boa
aproximação à realidade considerar que a massa de aminoácidos livres (cerca de 150 g) é estacionária,
quando o balanço azotado é positivo (negativo, nulo) a massa de azoto ingerido é superior (inferior,
igual) à de azoto excretado; caso exista uma diferença entre os valores da síntese e da hidrólise de
proteínas esse valor reflete-se numa diferença equivalente entre o azoto ingerido e excretado. Assim
uma outra definição de balanço azotado baseia-se na diferença entre a massa de azoto ingerido e a
massa de azoto excretado. Um indivíduo que está em balanço azotado nulo e ingere 50 g de proteínas,
perde na urina, fezes, pele, nariz e genitais uma massa de azoto equivalente (50 g × 0,16 = 8 g de
azoto).
5- Poderia pensar-se que a massa de proteínas ingeridas seria um importante fator na definição da
variação da quantidade de proteínas do organismo. A massa de gordura do organismo aumenta quando
o valor calórico da dieta é superior à despesa energética mas, no caso do azoto, o sistema funciona de
forma diferente. A massa de proteínas endógenas baixa (balanço azotado negativo) se a ingestão for
inferior à quantidade necessária para repor as perdas obrigatórias (≈25 g/dia) e fazer face ao acréscimo
de perdas resultante da ingestão (outros 25 g/dia), mas uma ingestão de proteínas acima do montante
necessário para cobrir as necessidades (≈50 g/dia) resulta apenas no catabolismo dos aminoácidos
excedentários e num aumento da produção de ureia. Ao contrário do que acontece com a massa de
gordura, a quantidade de cada uma das proteínas do organismo só depende da dieta na medida em que
(i) esta pode constituir um fator limitador da sua síntese e (ii), acessoriamente, na medida em que o
aumento da massa de gordura é acompanhado pela formação de vasos sanguíneos, de adipócitos e de
tecidos de suporte (que contêm proteínas). Ingerir mais proteínas que as necessárias para repor os
aminoácidos que sofrem catabolismo, não provoca, por si só, balanço azotado positivo.
6- Considerando o organismo como um todo, o balanço entre a massa de proteínas que sofre hidrólise e a
que é sintetizada é, em grande medida, dependente do que acontece com as proteínas dos músculos: o
contributo dos músculos para a taxa de renovação proteica global é de 40%. Por isso os fatores que
afetam a síntese e a degradação das proteínas musculares são importantes para compreender a
regulação do balanço azotado. A hormona do crescimento (também designada por somatotrofina), a
testosterona e a insulina são hormonas que afetam positivamente a síntese das proteínas musculares;
reforçando este perfil anabolizante a insulina tem, além disso, um efeito negativo na taxa de hidrólise.
Pelo contrário, o cortisol e as hormonas tiroideias estimulam a hidrólise. Em consonância com o
efeito das hormonas tiroideias no metabolismo basal (as hormonas tiroideias aumentam o metabolismo
basal), as hormonas tiroideias também têm um efeito positivo na taxa de síntese proteica mas,
considerando o somatório dos dois efeitos antagónicos, o efeito catabólico predomina sobre o
anabólico. Sob efeito destas hormonas e de outros fatores, a quantidade total de proteínas do organismo
aumenta (balanço azotado positivo) nos indivíduos (i) em fase de crescimento (crianças e
adolescentes), (ii) que estão a engordar, (iii) que estão a recuperar após um período de balanço azotado
negativo ou (iv) que, através de exercício físico (ou ingerindo esteroides anabolizantes), estão a
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aumentar a sua massa muscular. O contrário (balanço azotado negativo) acontece normalmente (i) a
partir dos 40-50 anos de idade, (ii) quando se diminui a atividade física ou (iii) quando se emagrece
voluntariamente, (iv) em consequência de má nutrição ou (v) em situações de doença. Grande parte das
doenças agudas ou crónicas cursam com balanço azotado negativo, quer porque há diminuição do
apetite, quer porque os fatores catabólicos predominam sobre os anabólicos. Em muitos casos um fator
determinante é o aumento do cortisol, mas também podem ter um papel importante determinadas
citosinas; as citosinas são produzidas por células do sistema imunológico e aumentam em situação de
inflamação. A diminuição da secreção de insulina ou/e a diminuição da sensibilidade à insulina
também podem ser determinantes. Neste contexto, é clássico referir que, antes da introdução da
terapêutica insulínica, os doentes com diabetes tipo 1 morriam num estado de caquexia: as proteínas
dos músculos iam desaparecendo enquanto os aminoácidos constituintes se iam convertendo em glicose
que, em grande parte, se perdia na urina.
7- Num indivíduo adulto saudável que mantém constante a sua massa muscular, é de prever que a
quantidade total de proteínas também se mantém mais ou menos constante: nestas condições, os
aminoácidos excluídos do ciclo de reutilização são repostos por ingestão e incorporados nas proteínas
sintetizadas existindo balanço azotado nulo. Quando a ingestão proteica não é suficiente para repor os
aminoácidos que sofrem catabolismo há balanço azotado negativo. No caso das crianças o balanço
azotado é fisiologicamente positivo, mas uma ingestão deficiente de proteínas provoca atraso no
crescimento. Em situações de subnutrição proteica pode surgir uma doença designada de kwashiorkor
em que além do atraso de crescimento há edemas nos membros e ascite (líquido no espaço entre os dois
folhetos do peritoneu). O edema e a ascite são provocados pela diminuição da produção de albumina no
fígado. A albumina é a proteína mais abundante no plasma sanguíneo e tem efeito osmótico que
contrabalança a pressão hidráulica que favorece a saída de líquido do plasma para o espaço
extracelular. Quando a concentração plasmática de albumina baixa este fator de retenção de líquido no
plasma diminui e passa a predominar a pressão hidráulica provocando edema e ascite.
8- Poderia pensar-se que cada uma das moléculas de cada um dos aminoácidos que se perde para o ciclo
de reutilização teria de ser substituída pela ingestão de uma molécula igual mas esta ideia, só
parcialmente, é verdadeira. (i) Alguns dos aminoácidos excluídos do ciclo não podem ser sintetizados
pelo organismo humano pois não dispomos das enzimas indispensáveis para o processo e nestes casos
os aminoácidos dizem-se nutricionalmente indispensáveis (ou essenciais). Para substituir um
determinado aminoácido nutricionalmente indispensável que sofreu catabolismo é necessário ingerir
esse aminoácido. Ou seja, no caso dos aminoácidos nutricionalmente indispensáveis, cada molécula
perdida tem de ser substituída por uma igual. (ii) Alguns dos aminoácidos excluídos do ciclo podem ser
repostos por síntese endógena a partir de intermediários do metabolismo da glicose e, nestes casos, os
aminoácidos dizem-se nutricionalmente dispensáveis (ou não essenciais). No entanto, deve notar-se
que, embora o esqueleto carbonado provenha da glicose, o grupo azotado vem de outros aminoácidos
que terão de ser ingeridos em quantidade suficiente para colmatar as perdas de azoto. A “esqueleto
carbonado” da alanina, por exemplo, pode ser sintetizada a partir do piruvato mas o azoto da alanina
“tem de vir” doutro aminoácido. (iii) Um terceiro grupo de aminoácidos (cisteína e tirosina) forma-se a
partir de aminoácidos indispensáveis (metionina e fenilalanina, respetivamente) e poderão classificar-se
como semi-indispensáveis2 [2, 3].
9- No caso dos aminoácidos sintetizados a partir de intermediários do metabolismo da glicose (serina
[3C,1N,1OH], glicina [2C,1N], alanina [3C,1N], aspartato [4C,1N], asparagina [4C,2N], glutamato
[5C,1N], glutamina [5C,2N], prolina [5C,1N] e arginina [6C,4N]) embora o esqueleto carbonado possa
ser formado a partir da glicose, os grupos azotados (amina, amida ou guanidina) resultam da
transferência direta ou indireta de grupos amina (ou amida) de aminoácidos para esses intermediários.
Para que um indivíduo adulto tenha a capacidade de manter constante a massa das suas proteínas
precisa de absorver, na forma de aminoácidos, tantos átomos de azoto como os que perde na urina, nas
fezes, nos genitais, nas secreções nasais ou na pele. Se a quantidade total de azoto ingerido (na forma
de proteínas) não for suficiente para colmatar o azoto excretado o indivíduo fica em balanço azotado
2
Quem classifica faz um exercício de organização dos conhecimentos da forma que lhe dá mais jeito. Também é frequente
chamarem à cisteína e à tirosina “condicionalmente indispensáveis” porque só são indispensáveis se a dieta for pobre em
metionina e fenilalanina, respetivamente.
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negativo. Em geral, a deficiência de aminoácidos nutricionalmente dispensáveis corresponde a uma
ingestão quantitativamente inadequada de proteínas: na presença de azoto aminoacídico em quantidade
suficiente para formar os grupos azotados o organismo pode sintetizar um aminoácido nutricionalmente
dispensável a partir de intermediários do metabolismo glicídico e, nesta síntese, todos os outros
aminoácidos são, em última análise, potenciais dadores de azoto.
10- Através da ação catalítica de variadas enzimas, os aminoácidos podem libertar o azoto do seu grupo
amina (ou de outros grupos azotados) na forma de amónio (NH4+). O ião amónio é a forma protonada
do amoníaco (NH3); o seu pKa é cerca de 9,3, predominando, por isso, a forma protonada, quer no
meio interno, quer na urina. A maioria do amónio (azoto inorgânico) formado dá origem a ureia que se
perde na urina, mas uma parte pode ser recuperado para o metabolismo por ação catalítica (i) da
desidrogénase do glutamato (ver Equação 1) e (ii) da sintétase da glutamina (ver Equação 2). Por
ação destas enzimas o azoto inorgânico do amónio pode ser convertido em azoto aminoacídico. O
glutamato [5C,1N] é um aminoácido dicarboxílico com 5 carbonos e difere do α-cetoglutarato por ter,
em vez do grupo cetónico, um grupo amina no carbono 2. A glutamina [5C,2N] difere do glutamato
porque, em vez do grupo carboxílico em C5, tem um grupo amida nesse carbono.
Equação 1
Equação 2
α-cetoglutarato + NH4+ + NADPH → glutamato + NADP+ + H2O
glutamato + NH4+ + ATP → glutamina + ADP + Pi
11- Para além de poder ter origem na ação da desidrogénase do glutamato (ver Equação 1), a síntese de
glutamato também tem lugar em reações de transaminação (ver Equação 3) em que diversos
aminoácidos cedem o grupo amina (azoto orgânico) ao α-cetoglutarato gerando glutamato e os αcetoácidos correspondentes. Assim, o glutamato e a glutamina (via sintétase da glutamina; ver Equação
2) podem formar-se endogenamente a partir de um intermediário do ciclo de Krebs (o α-cetoglutarato);
sabendo-se que os intermediários do ciclo de Krebs se podem formar a partir da glicose (via glicólise e
carboxílase do piruvato) conclui-se que o glutamato e a glutamina são aminoácidos nutricionalmente
dispensáveis.
Equação 3
α-aminoácido X + α-cetoglutarato ↔ glutamato + α-cetoácido X
12- A alanina [3C,1N] difere do piruvato porque, em vez do grupo cetónico no carbono 2, tem um grupo
amina; o aspartato [4C,1N] difere do oxalacetato pela mesma razão. A síntese de alanina e aspartato é
o resultado da transferência do grupo amina do glutamato para os α-cetoácidos correspondentes: o
piruvato e o oxalacetato, respetivamente. A transamínase da alanina (ver Equação 4) e a
transamínase do aspartato (ver Equação 5) catalisam, respetivamente, a formação de alanina e
aspartato mas, como estas reações são fisiologicamente reversíveis, também intervêm nos processos em
que estes aminoácidos perdem o grupo α-amina para o α-cetoglutarato. Existem muitas transamínases
com especificidades distintas relativamente a um dos substratos, mas o outro substrato é (quase)
sempre o glutamato/α-cetoglutarato (ver Equação 3). Dependendo do sentido em que a reação esteja a
ocorrer uma reação de transaminação pode servir para formar um determinado aminoácido à custa da
conversão do glutamato em α-cetoglutarato ou para formar glutamato à custa da conversão de um
determinado aminoácido no seu α-cetoácido correspondente. Uma característica comum a todas as
transamínases (e a muitas outras enzimas envolvidas no metabolismo aminoacídico) é a presença de
fosfato de piridoxal (derivado da vitamina B6) como grupo prostético3.
Equação 4
Equação 5
glutamato + piruvato ↔ α-cetoglutarato + alanina
glutamato + oxalacetato ↔ α-cetoglutarato + aspartato
13- A serina [3C,1N,1OH] é um aminoácido que contém 3 carbonos e um grupo hidroxilo em C3. A
glicina [2C,1N] é o aminoácido mais simples e contém apenas 2 carbonos. Transamínases com
diferentes especificidades intervém no processo de síntese da serina a partir de 3-fosfoglicerato (um
intermediário da glicólise) e da glicina a partir de glioxilato (contém um grupo aldeído em vez do
3
No decurso do ciclo catalítico o piridoxal-fosfato que está, no início do ciclo, ligado ao grupo 6-amina de um resíduo de
lisina da transamínase, converte-se em piridoxamina-fosfato, mas, no final do ciclo, regenera-se a forma original.
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grupo amina no carbono α). No processo de síntese da serina a partir do 3-fosfoglicerato intervém
primeiro uma desidrogénase que converte o grupo hidroxilo do carbono 2 num grupo cetónico levando
à formação do 3-fosfohidroxipiruvato (ver Equação 6) que é substrato da transamínase da fosfoserina
(ver Equação 7). A fosfoserina (formada após a reação de transaminação) é hidrolisada por uma
fosfátase com a consequente formação da serina (ver Equação 8). O glioxilato (aceitador de grupos
amina em reações de transaminação em que a alanina é o dador da amina; ver Equação 9) pode resultar
da oxidação do glicolato (que existe em muitas plantas comestíveis) por ação da oxídase do glicolato
(ver Equação 10)4.
Equação 6
Equação 7
Equação 8
Equação 9
Equação 10
3-fosfoglicerato + NAD+ → 3-fosfohidroxipiruvato + NADH
glutamato + 3-fosfohidroxipiruvato ↔ α-cetoglutarato + fosfoserina
fosfoserina + H2O → serina + Pi
alanina + glioxilato → piruvato + glicina
glicolato + O2 → glioxilato + H2O2
14- A reação catalisada pela hidroximetiltransférase da serina (ver equação 11) para além de permitir a
síntese de glicina a partir de serina (e o inverso) também permite a metilação do tetrahidro-folato (H4folato): o N5,N10-metileno-H4-folato formado nesta reação é indispensável na síntese de timina e,
portanto, do DNA. O facto de a glicina se poder formar a partir da serina (ver Equação 11) e de esta
poder gerar-se a partir de um intermediário da glicólise (3-fosfoglicerato; ver Equação 6, Equação 7 e
Equação 8) permite compreender que, quer a serina, quer a glicina sejam aminoácidos nutricionalmente
dispensáveis.
Equação 11
serina + H4-folato ↔ glicina + N5,N10-metileno H4-folato
15- A prolina [5C,1N] é o único aminoácido em que o grupo amina é uma amina secundária (que liga os
carbonos 2 e 5). A arginina [6C,4N] contém 6 carbonos mas um deles faz parte da estrutura do grupo
guanidina [1C;3N] que se liga ao carbono 5. Quer a prolina quer a arginina podem ser sintetizadas a
partir do glutamato. O glutamato pode, por redução do grupo carboxílico C5, originar o semialdeído
do glutamato e este composto pode seguir dois destinos distintos: (i) num deles (por redução
dependente do NADPH) dá origem à prolina e (ii) no outro origina a ornitina e, posteriormente, a
arginina. A conversão do semialdeído do glutamato em ornitina é catalisada por uma transamínase
(ver Equação 12).
Equação 12
glutamato + semialdeído do glutamato ↔ α-cetoglutarato + ornitina
16- A arginina é sintetizada no ciclo da ureia [1C,2N] a partir de ornitina [5C,2N] e esta pode formar-se
(via semialdeído do glutamato) a partir do glutamato. A ureia é apenas sintetizada no fígado pois é
neste órgão que existe a argínase, uma hidrólase que catalisa a formação de ureia a partir da arginina.
No entanto, as enzimas que levam, a partir da glutamina (via glutamato) à formação de ornitina e à
conversão desta em citrulina [6C,3N] também existem nos enterócitos. Os enterócitos captam
glutamina do plasma e uma parte desta glutamina é convertida em citrulina. A citrulina formada nos
enterócitos passa para o plasma sanguíneo e pode ser captada pelo fígado mas também pelo rim. As
enzimas “do ciclo da ureia” que catalisam a conversão sequenciada de citrulina em arginino-succinato e
deste em arginina (sintétase do arginino-succinato e arginino-succínase) existem nestes dois órgãos e
levam à formação de arginina. As enzimas do ciclo da ureia, para além do seu papel no catabolismo
de todos os aminoácidos também têm um papel anabólico: a síntese de arginina. A velocidade de
formação líquida de arginina (massa formada subtraída da parte que se converte em ureia e ornitina) é,
contudo, inadequada nos indivíduos em crescimento ou em situações em que, após um período em que
o indivíduo perdeu proteínas endógenas (por doença ou/e por má nutrição), este se encontra em fase de
4
A glicina também pode formar-se a partir da colina. Nesta via metabólica a colina é oxidada no grupo hidroxilo
formando-se betaína (trimetilglicina). A betaína é dadora de um metilo à homocisteína formando-se dimetilglicina (betaína
+ homocisteína → dimetilglicina + metionina) que por sua vez pode ceder os dois restantes metilos ao tetrahidrofolato
(H4-folato) gerando-se a glicina (dimetilglicina + H4-folato → sarcosina + N5,N10-metileno-H4-folato; sarcosina + H4folato → glicina + N5,N10-metileno-H4-folato).
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convalescença a recuperar as proteínas perdidas. Do ponto de vista nutricional, Stipanuk [2, 3]
classifica a arginina como um aminoácido condicionalmente indispensável.
17- A asparagina [4C,2N] difere do aspartato [4C,1N] porque, em vez do grupo carboxílico em C4, tem
um grupo amida nesse carbono. De forma semelhante ao que acontece no caso da glutamina e do
glutamato, a asparagina forma-se a partir do aspartato por ação catalítica da sintétase da asparagina
(ver Equação 13). No entanto, ao contrário do caso da síntese da glutamina em que o azoto incorporado
é azoto inorgânico, na síntese da asparagina, o dador do azoto é a glutamina. Além disso, na reação
catalisada pela sintétase da asparagina, forma-se AMP e PPi e não ADP e Pi como no caso da sintétase
da glutamina (ver Equação 2).
Equação 13
aspartato + glutamina + ATP → asparagina + glutamato + AMP + PPi
18- A fenilalanina [9C,1N] contém um anel benzénico; a tirosina [9C,1N,1OH] deriva da fenilalanina por
hidroxilação desse anel benzénico. É frequente classificar-se a tirosina como semi-indispensável
porque é sintetizada a partir da fenilalanina, um aminoácido nutricionalmente indispensável. Uma
deficiência nutricional de tirosina pode ser colmatada desde que ocorra a ingestão de fenilalanina em
quantidade adequada para satisfazer as necessidades dos dois aminoácidos. A reação de formação da
tirosina é catalisada pela hidroxílase da fenilalanina, uma oxigénase de função mista (ver Equação 14).
Para que o processo possa continuar a dihidrobiopterina formada é reduzida pelo NADPH numa reação
catalisada por uma redútase (ver Equação 15).
Equação 14
Equação 15
fenilalanina + tetrahidrobiopterina + O2 → tirosina + dihidrobiopterina + H2O
dihidrobiopterina + NADPH → tetrahidrobiopterina + NADP+
19- O átomo de enxofre da cisteína [3C,1N,1S] tem origem na metionina [5C,1N,1S], um aminoácido
indispensável. Tal como no caso da tirosina, também a cisteína pode ser classificada como semiindispensável: as necessidades nutricionais de cisteína podem ser colmatadas desde que ocorra a
ingestão de metionina em quantidade adequada para satisfazer as necessidades dos dois aminoácidos.
Os carbonos da cisteína têm origem na serina. O processo de síntese da cisteína é complexo porque
se relaciona com a complexa via metabólica da degradação da metionina (ver Equações 16- 21).
Durante o catabolismo da metionina forma-se um intermediário (homocisteína) que contém ainda 4
carbonos da metionina mas que, em vez do grupo metilo ligado ao carbono 4 por uma ligação sulfureto,
contém um grupo tiol. Este intermediário reage com a serina formando-se um composto (cistationina)
que contém o átomo de enxofre entre os carbonos que derivaram da homocisteína e os que derivaram
da serina (ver Equação 19). A clivagem da cistationina (ver Equação 20) origina cisteína (3 carbonos e
azoto derivados da serina e o enxofre da homocisteína) assim como NH3 e α-cetobutirato (derivados da
homocisteína).
Equação 16
Equação 17
Equação 18
Equação 19
Equação 20
Equação 21
ATP + metionina → S-adenosil-metionina + Pi + PPi
S-adenosil-metionina + aceitador → S-adenosil-homocisteína + aceitador metilado
S-adenosil-homocisteína + H2O → homocisteína + adenosina
homocisteína + serina → cistationina
cistationina → cisteína + NH3 + α-cetobutirato
α-cetobutirato + NAD+ + CoA → propionil-CoA + NADH + CO2
Embora a metionina seja um aminoácido nutricionalmente indispensável existe um mecanismo que
permite "salvar" metionina em processo catabólico: a homocisteína é aceitadora do grupo metilo do N5metil-H4-folato regenerando-se metionina (síntase da metionina; ver Equação 22). O N5-metil-H4-folato
forma-se por redução dependente do NADPH que é catalisada pela redútase do N5,N10-metileno-H4folato (ver Equação 23).
Equação 22
Equação 23
N5-metil-H4-folato + homocisteína → H4-folato + metionina
N5,N10-metileno-H4-folato + NADPH → N5-metil-H4-folato + NADP+
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20- Oito (valina, leucina, isoleucina, treonina, metionina, lisina, fenilalanina, triptofano) dos 20
aminoácidos 5 que são incorporados nas proteínas aquando da sua síntese são, classicamente,
classificados como nutricionalmente indispensáveis. Com três exceções (treonina, lisina e
triptofano) existem, contudo, transamínases que (com maior ou menor eficácia) são capazes de
catalisar a troca entre o grupo cetónico dos α-cetoácidos correspondentes e o grupo amina do glutamato
[3]. Embora absurdo do ponto de vista económico, seria possível usar os α-cetoácidos correspondentes
para substituir na dieta uma grande parte dos aminoácidos nutricionalmente indispensáveis. A Equação
24, a Equação 25 e a Equação 26 mostram as reações de transaminação que envolvem os aminoácidos
ramificados. Na prática, porque os α-cetoácidos referidos não fazem parte de uma dieta normal as
reações 24-26 são fisiologicamente irreversíveis no sentido em que os aminoácidos essenciais
(presentes na dieta ou que resultam da hidrólise das proteínas endógenas) são consumidos. No caso da
histidina também não existem, nos mamíferos, vias metabólicas de síntese, mas a deficiência deste
aminoácido só se torna aparente após meses de exclusão da histidina na dieta [4]. É possível que na
origem desta resistência esteja a capacidade de formar histidina a partir de carnosina, um dipeptídeo (βalanil-histidina) abundante no tecido muscular. Embora alguns livros de texto classifiquem a histidina
num grupo à parte, de acordo com Kopple e Swendseid [4], a histidina é um aminoácido
nutricionalmente indispensável.
Equação 24
Equação 25
Equação 26
α-ceto-isocaproato + glutamato ↔ leucina + α-cetoglutarato
α-ceto-β-metil-valerato + glutamato ↔ isoleucina + α-cetoglutarato
α-ceto-isovalerato + glutamato ↔ valina + α-cetoglutarato
21- Tal como os aminoácidos dispensáveis também os aminoácidos indispensáveis sofrem catabolismo a
uma velocidade que depende da atividade intrínseca das enzimas envolvidas e da concentração do
aminoácido em causa. Para assegurar a manutenção da massa de proteínas do organismo há, não só que
ingerir uma quantidade total de aminoácidos adequada (em média 50 g/dia num adulto saudável com
70 kg), mas também que repor todos e cada um dos aminoácidos indispensáveis que se perderam.
Tendo em conta as necessidades mínimas de cada um dos aminoácidos indispensáveis foram
inventadas proteínas padrão: uma proteína padrão é uma proteína que, ingerida na quantidade mínima
indispensável para repor as perdas obrigatórias de azoto, contém a quantidade mínima de cada
aminoácido indispensável para repor a perda individual de cada um destes aminoácidos [5]. Se uma
dieta contiver como único constituinte proteico uma proteína que não contém um aminoácido
indispensável (caso da gelatina que não contém triptofano) a capacidade dessa dieta para colmatar as
necessidades aminoacídicas é nula. Todas as proteínas endógenas contêm pelo menos um resíduo de
triptofano e, por isso, nenhuma proteína pode ser sintetizada na ausência de triptofano e o mesmo
poderia ser dito relativamente a cada um dos outros aminoácidos indispensáveis. Quando se ingere
como única proteína gelatina nenhum dos aminoácidos que resultam da sua hidrólise intestinal pode ser
usado na síntese proteica porque falta o triptofano. Nestas circunstâncias, com a exceção do triptofano,
todos os aminoácidos aumentam de concentração aumentando a velocidade da sua oxidação. Quando se
ingere como única proteína gelatina a quantidade de azoto perdido é igual à perda obrigatória somada a
toda a gelatina ingerida cujos aminoácidos são também perdidos. No caso da gelatina o aminoácido
limitante da sua qualidade dietética é o triptofano mas, no caso de outras proteínas como, por exemplo,
nas proteínas do trigo e outros cereais, o aminoácido limitante é a lisina. No caso das proteínas do trigo
a lisina não está ausente mas existe numa quantidade menor que a prevista nas proteínas padrão. A
percentagem de lisina nas proteínas de trigo é cerca de metade da percentagem de lisina numa proteína
padrão: assim, para colmatar as necessidades de lisina usando exclusivamente proteínas de trigo
haveria que ingerir não 50 g de proteína de trigo mas o dobro deste valor [2, 6].
22- Um parâmetro que costuma ser utilizado para avaliar a qualidade dietética das proteínas é o índice
químico6. Para calcular o índice químico de uma proteína começa-se por determinar a percentagem de
cada um dos aminoácidos essenciais na proteína em questão (massa de aminoácido essencial/100 g de
proteína). Depois comparam-se essas percentagens com as percentagens correspondentes numa
proteína padrão dividindo, para cada aminoácido essencial, a percentagem na proteína em análise pela
5
Ou 21, se considerarmos também o caso da selenocisteína.
Um outro parâmetro na avaliação da qualidade dietética das proteínas é a sua “digestibilidade” que varia com o
processamento culinário e a natureza dos alimentos de que essa proteína faz parte.
6
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percentagem na proteína padrão. A cada aminoácido essencial vai, assim, corresponder uma
determinada fração que será inferior a 1 se a proteína em análise for menos rica nesse aminoácido que a
proteína padrão. A fração de valor mais baixo é o índice químico da proteína em questão e o
aminoácido correspondente é o aminoácido limitante dessa proteína. No caso das proteínas do trigo,
como já referido, o aminoácido limitante é a lisina, o índice químico é 0,5 e para alimentar um
indivíduo adulto saudável, usando exclusivamente, proteínas de trigo, a ingestão proteica deveria ser o
dobro (1/0,5 = 2) da que seria necessária se o índice químico das proteínas da dieta fosse 1 ou superior
a 1 (como acontece no caso da maioria das proteínas de origem animal). No caso da gelatina o índice
químico é zero e é impossível obter uma ingestão proteica adequada usando exclusivamente esta
proteína. Na realidade é muito pouco comum que a dieta seja tão monótona que apenas contemple uma
única espécie vegetal. Na maioria dos casos o aminoácido limitante num determinado alimento não é o
mesmo em dois alimentos de natureza distinta. Porque o aminoácido limitante num determinado
alimento pode não ser o aminoácido limitante noutro alimento, a ingestão conjunta dos dois alimentos
resulta num índice químico conjunto mais próximo de 1 (ou mesmo superior a 1). Um exemplo clássico
de complementaridade entre proteínas é a mistura feijão e arroz. Os aminoácidos limitantes da
proteína do feijão são os aminoácidos sulfurados cisteína e metionina e o índice químico é 0,8; o
aminoácido limitante no caso do arroz é a lisina e o índice químico é 0,76. No entanto, uma mistura
50:50 de proteínas de feijão e arroz resulta num índice químico superior a 1. Quando o índice químico
é superior a 1 não significa que seja suficiente ingerir menos proteínas que as necessárias no caso de o
índice químico ser 1: para manter o organismo em balanço azotado nulo, a massa de azoto proteico
ingerido deve ser sempre suficiente para contrabalançar as perdas.
23- Em algumas proteínas (como a peroxídase do glutatião) existem resíduos de selenocisteína
[3C,1N,1Se] , um aminoácido semelhante à cisteína e à serina. Na selenocisteína em vez do átomo de
enxofre do grupo tiol (caso da cisteína) ou do átomo de oxigénio do grupo hidroxilo (caso da serina)
existe um átomo de selénio. A síntese da selenocisteína ocorre a partir da serina quando esta está ligada
a um tRNA específico que tem como anticodão a sequência ACU e se denomina tRNASec (Sec é a
abreviatura de selenocisteína). A reação é catalisada por uma transférase (ver Equação 27) em que o
dador de selénio é o seleno-fosfato (“selénio ativado”). O codão correspondente ao tRNASec (UGA) é
normalmente um codão de terminação mas em determinados RNA mensageiros contendo sequências
específicas (como é o caso do RNAm codificador da peroxídase do glutatião) este codão liga-se ao
anticodão do selenocisteinil-tRNASec ocorrendo a incorporação do aminoácido selenocisteína na
estrutura da proteína em processo de síntese.
Equação 27
seleno-fosfato + seril-tRNASec → selenocisteinil-tRNASec + Pi
24- Os aminoácidos hidroxiprolina [5C,1N,1OH] e hidroxilisina [6C,2N,1OH] constituem casos
especiais pois existem na estrutura do colagénio (a proteína mais abundante dos mamíferos) mas não
existem no RNA codificador do colagénio codões para estes aminoácidos. A síntese da hidroxiprolina e
da hidroxilisina ocorre por ação de oxigénases do retículo endoplasmático (hidroxílases da prolina e da
lisina) que catalisam a hidroxilação de resíduos de prolina e lisina do colagénio durante o processo de
acabamento pós-tradução (ver Equação 28). A vitamina C é um cofactor das hidroxílases da prolina e
da lisina e a deficiência de vitamina C leva à formação de colagénio anormal.
Equação 28
resíduo prolil ou lisil + O2 + α-cetoglutarato →
resíduo hidroxiprolil ou hidroxilisil + succinato + CO2
25- O caso do aminoácido carboxiglutamato [6C,1N] (constituinte de várias proteínas como a
protrombina e outras proteínas envolvidas no processo de coagulação sanguínea) tem algumas
semelhanças com os casos da hidroxiprolina e hidroxilisina já que a sua formação resulta da
transformação de resíduos de glutamato após a síntese da proteína. A transformação envolve a
atividade de uma oxigénase (ver Equação 29) e uma reação não enzímica (ver Equação 30). Na ação da
oxigénase o oxigénio molecular oxida a vitamina K que passa da forma hidroquinona à forma epóxido;
simultaneamente, o carbono C4 de resíduos de glutamato da proteína ioniza-se a carbanião (carga -1)
que é aceitador de CO2. A regeneração da forma hidroquinona da vitamina K a partir da forma epóxido
envolve a ação de oxiredútases.
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Equação 29
Equação 30
resíduo de glutamato + O2 + vitamina K (forma hidroquinona) →
resíduo de glutamato na forma de carbanião + vitamina K (forma epóxido)
resíduo de glutamato na forma de carbanião + CO2 → resíduo de carboxiglutamato
1. Rand, W. M., Uauy, R. & S., S. N. (1984) Protein-Energy-Requirement Studies in Developing Countries: Results of
International Research in FOOD AND NUTRITION BULLETIN SUPPLEMENT (UNIVERSITY, T. U. N., ed),
http://www.unu.edu/Unupress/unupbooks/80481e/80481E00.htm, Tokyo 150, Japan.
2. Fuller, M. F. (2000) Protein and amino acid requirements in Biochemical and physiological aspects of human nutrition
(Stipanuk, M. H., ed) pp. 287-04, W.B. Saunders Company, Philadelphia.
3. Stipanuk, M. H. (2006) Biochemical, Physiological, Molecular Aspects of Human Nutrition, 2nd edn, Sunders,
Elsevier., St. Louis.
4. Kopple, J. D. & Swendseid, M. E. (1975) Evidence that histidine is an essential amino acid in normal and chronically
uremic man, J Clin Invest. 55, 881-91.
5. Young, V. R. & el-Khoury, A. E. (1995) Can amino acid requirements for nutritional maintenance in adult humans be
approximated from the amino acid composition of body mixed proteins?, Proc Natl Acad Sci U S A. 92, 300-4.
6. Schaafsma, G. (2000) The protein digestibility-corrected amino acid score, J Nutr. 130, 1865S-7S.
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colina
cisteína
na
glicose
betaína
cistationina
dimetil-glicina
homocisteína
sarcosina
metionina
3-fosfoglicerato
3-fosfohidroxipiruvato
3-fosfoserina
serina
glicina
glicolato
alanina
piruvato
oxalacetato
treonina
asparagina
aspartato
arginina
ureia
prolina
ornitina
Ciclo de
Krebs
semiladeído do
glutamato
NH3 + NAD(P)H
glioxilato
Carbamilfosfato
Ciclo
da ureia
citrulina
NAD(P)+
α-ceto-glutarato
glutamato
fenilalanina
glutamina
tirosina
prolina
hidroxiprolina
lisina
hidroxilisina
glutamato
carboxiglutamato
Seril-t-RNASec
Selenocisteinil-t-RNASec
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