Queda nas `commodities` reduz em US$ 25 bi

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Ano 1 | Número 25 | Terça, 25 de agosto de 2015
Olhar Direto
Queda nas 'commodities' reduz em US$ 25
bi exportações do Brasil
A queda livre dos preços das commodities agropecuárias, metálicas e minerais
exportadas pelo Brasil afeta fortemente a balança comercial brasileira
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A queda livre dos preços das commodities agropecuárias, metálicas e minerais exportadas pelo Brasil afeta
fortemente a balança comercial brasileira, que só registra superávit em 2015 porque as importações estão
caindo mais do que as vendas externas, reflexo do desaquecimento da economia. Estimativa da Secretaria de
Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento e Comércio Exterior (Mdic) mostra que,
somente por causa do declínio das cotações de três categorias de produtos cotados em bolsas internacionais complexo de soja; minério de ferro; e petróleo e derivados - o país deixará de ganhar cerca de US$ 25 bilhões
com exportações em 2015.- Se os preços dessas commodities estivessem no mesmo patamar do ano passado,
com a expansão do volume vendido no exterior, as exportações poderiam crescer US$ 25 bilhões nessas três
categorias de produtos. Se levássemos em conta todas as commodities, a soma seria bem maior - disse ao
GLOBO o secretário de Comércio Exterior, Daniel Godinho.
Quantidade sobe 7,2%
Segundo Godinho, esses três itens responderam por 78,8% da queda de US$ 20,7 bilhões no valor absoluto
das exportações, nos sete primeiros meses de 2015, ante janeiro a julho de 2014. Enquanto a quantidade
exportada aumentou 7,2% em relação ao mesmo período de 2014, os preços desses produtos caíram 21%. No
caso do minério de ferro, o preço recuou 51% este ano, ficando no menor nível desde fevereiro de 2007. A
soja teve redução de 24% no preço e chegou ao seu menor valor desde julho de 2010. Já o preço do petróleo
teve queda de 47%, chegando ao menor valor desde junho de 2009. - O aumento da quantidade exportada foi
mais do que neutralizado pela queda do preço - afirmou Godinho.
Os dados da balança comercial contabilizados nas duas primeiras semanas de agosto pelo Mdic mostram que
o preço do petróleo caiu 50,2% em relação ao mesmo mês do ano passado, enquanto o volume exportado do
produto subiu 37%. Com isso, a receita da exportação baixou 31,8%%. Em outro exemplo, o preço do
etanolcaiu 31,3%, mas, neste caso, a redução foi compensada por uma elevação de 86,9% do volume
embarcado. Assim, a exportação registrada na balança comercial de álcool aumentou 28,4%.
O grupo petróleo e derivados tem uma característica importante: as exportações caíram com os preços desses
produtos, mas as importações também diminuíram, o que, neste caso, favorece o Brasil. Esse comportamento
é visto claramente na conta- petróleo. O déficit na balança comercial do setor caiu de US$ 9,937 bilhões no
período de janeiro a julho de 2014 para US$ 3,8 bilhões no acumulado dos sete primeiros meses deste ano.
O economista Fábio Silveira, da GO Associados, projeta uma queda nos preços do petróleo de 40% em 2015,
de 20% no caso da soja, e algo em torno de 50% nos valores do minério de ferro. Ele prevê uma
desvalorização do real em relação ao dólar em torno de 35% este ano, mas destaca que as alterações no
câmbio não têm efeito direto nas vendas de produtos básicos, como commodities.
- A desvalorização cambial não tem a propriedade de acentuar a exportação das commodities que, como o
próprio nome diz, tem características comuns com produtos de outros países. O importador de soja está
comprando do Brasil, mas pode comprar dos Estados Unidos. O preço em dólar será o mesmo. O
câmbioajuda as exportações de manufaturados - afirmou.
Saldo de US$ 10 bi para 2015
De janeiro até a segunda semana de agosto deste ano, a balança comercial registrou superávit de US$ 6
bilhões, ante déficit de US$ 1,289 bilhão acumulado no mesmo período de 2014. Tratase de um ajuste,
porém, apoiado na retração maior das importações. De forma geral, as consultorias esperam um saldo positivo
em torno de US$ 10 bilhões para 2015.
Fim de um ciclo de crescimento
Os sinais de desaceleração acentuada emitidos pela China e outros países emergentes ainda são reflexos da
crise global que deprimiu os mercados em 2008, na opinião de Luiz Carlos Delorme Prado, professor do
Instituto de Economia da UFRJ.
- Aquela crise que surgiu sete anos atrás já parece muito distante, mas a verdade é que ela começou nos países
desenvolvidos e só nos últimos atingiu em cheio os emergentes - observou o economista. - O principal foco
agora é a China. Quando ela desacelera seu crescimento, ela também afeta diretamente os preços das
commodities. O que estamos vendo agora é o efeito desse processo sobre o resto do mundo. Segundo Prado, o
ciclo de crescimento nos países emergentes iniciado em 2002 "definitivamente acabou" por causa do apetite
menor dos chineses por commodities metálicas e de energia.
- Com isso, tudo indica que a economia internacional continua pouco dinâmica. A boa notícia é que o cenário
pode levar o Federal Reserve ( Fed, o banco centraldos EUA) a adiar o aumento de juros no país, o que seria
bom para o Brasil - acrescentou o especialista. - Para a gente, porém, ainda há o complicador dos problemas
internos, que são a crise política e as dificuldades econômicas domésticas. Esta semana, o conglomerado
financeiro americano Citigroup reduziu de 3,3% para 3,1% sua perspectiva de crescimento global para o ano
que vem. A redução da estimativa, que foi a terceira consecutiva, foi motivada justamente pela desaceleração
chinesa e pela desvalorização de moedas emergentes.
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