Como a crise brasileira pode se agravar com o tropeço

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Ano 1 | Número 27 | Terça, 8 de setembro de 2015
Época
Como a crise brasileira pode se agravar com
o tropeço da China
Com a mudança na economia, exportar produtos básicos para os chineses não dá os
mesmos lucros de antes. O Brasil terá de rever sua estratégia comercial
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Durante quase dez anos, a China representou uma espécie de Eldorado para o Brasil. Com o crescimento
acelerado da economia chinesa, que praticamente dobrou de tamanho no período, as exportações brasileiras
para a China explodiram. Puxados pela demanda chinesa, os preços de commodities, como a soja e o minério
de ferro, os dois produtos mais vendidos pelo Brasil à China, bateram recordes históricos. Mesmo depois da
crise no mercado imobiliário americano em 2008, da qual a economia global ainda não se recuperou
plenamente, os dólares da China continuaram a inundar o Brasil. A dinheirama de Pequim alavancou o
crescimento econômico do país e contribuiu para aumentar a renda nacional. Graças a ela, a moeda americana
manteve-se por um bom tempo abaixo de R$ 2. A importação de bens de consumo – boa parte dos quais
produzida pela própria China – transformou-se numa pechincha, e os “sacoleiros” do país puderam trocar
Cidade do Leste, no Paraguai, por Miami, nos Estados Unidos, para fazer suas compras. Tudo isso alimentou
a fantasia de empresários e de muitos políticos e burocratas de Brasília de que o Brasil havia, enfim,
carimbado o passaporte para entrar no exclusivíssimo clube dos países desenvolvidos.
A farra patrocinada pela China, porém, chegou ao fim. Com a desaceleração da economia chinesa e a queda
da demanda, associada a um excesso de oferta de países produtores como o Brasil, o “boom” das
commodities murchou. Os preços no mercado internacional despencaram, reduzindo o ingresso de divisas da
China no país. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, o volume
de vendas para a China caiu 21% nos primeiros sete meses deste ano em relação ao mesmo período de 2014,
de US$ 28 bilhões para US$ 22,6 bilhões. Foi uma queda bem maior que a retração geral das exportações
brasileiras, de 15,5%.
“Foi um longo e doce verão provocado pelas importações chinesas, mas ele acabou”, afirma o economista
Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES) e ex-ministro das Comunicações. “Hoje, o crescimento chinês é de outra natureza. Na nova matriz,
o Brasil não tem a mesma importância que teve no passado. Então, temos de nos adaptar a uma situação
diferente.”
Acompanhando a queda dos preços do minério de ferro, de 25% desde o final de 2014, as receitas das
exportações da commodity para a China caíram pela metade. Isso é efeito da redução das obras de
infraestrutura feitas pelo governo chinês. Não por acaso, as ações da Vale, a maior produtora de minério de
ferro do mundo e grande fornecedora da China, acumulavam uma queda de 25,9% em 2015, até sexta-feira
passada, na BM&FBovespa. Com a soja, a situação é semelhante, mas em menores proporções. Apesar de os
preços terem caído apenas 2% nos primeiros sete meses de 2015, o faturamento com as exportações para a
China teve uma queda de 14%. O pior é que, diante das incertezas que cercam o desempenho econômico
chinês e da mudança progressiva do modelo adotado pelo país, de uma economia baseada em exportações de
manufaturados para uma economia de serviços, voltada para o mercado interno, não há perspectivas de
melhora no horizonte. “As commodities não vão voltar aos preços a que chegaram, porque a demanda caiu
muito”, diz Mendonça de Barros.
O tranco provocado pela guinada da China nas exportações brasileiras revela, porém, apenas o lado mais
visível do problema. Seu impacto no Brasil será bem mais amplo e deverá afetar a vida das empresas e dos
consumidores. Até a exploração do pré-sal, com o petróleo cotado na faixa de US$ 40 por barril, por conta do
aumento da oferta e da queda da demanda, deve ficar economicamente inviável. Embora a atual crise
econômica do país se deva, basicamente, aos erros cometidos na economia desde o final da gestão de Lula,
acentuados no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, e não a fatores externos, como o governo
insiste em dizer, as mudanças na China deverão dificultar a retomada do crescimento. Desta vez, com o país
mergulhado na maior recessão em 25 anos, é pouco provável que Lula diga que as turbulências na China
provocarão apenas uma “marolinha” no país, como ele fez logo após o tsunami global de 2008. “A China é
mais um agravante para a nossa situação”, afirma Bernardo Parnes, presidente do Deutsche Bank na América
Latina e comandante do banco no Brasil. “O Brasil é um grande exportador de commodities e a queda dos
preços internacionais gera um forte impacto na economia.”
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