Mixoma Atrial Esquerdo Causando Estenose Mitral Importante em

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Rev Bras Clin Med, 2008;6:208-209
RELATO DE CASO
Mixoma Atrial Esquerdo Causando Estenose Mitral Importante em
Paciente Oligossintomática. Relato de Caso*
Left Atrial Myxoma causing Mitral Valve Stenosis in an Oligosymptomatic Patient.
Case Report
Francelito Costa Chaves1, Maxney do Nascimento†2, George Adrson Butel Tavares3, Sevasty Gomes Donsouzis4
*Recebido da Fundação Hospital Adriano Jorge / Escola Superior de Ciências da Saúde da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Manaus, AM
Descritores: Estenose mitral, Mixoma atrial, Oligossintomática.
Keywords: Atrial myxoma, Mitral stenosis, oligosymptomatic.
INTRODUÇÃO
A incidência de tumores primários do coração em séries de
necropsias varia de 0,0017% a 0,28%. Portanto, estes tumores são muito menos comuns do que os tumores metastáticos
cardíacos. O diagnóstico é ainda complicado devido ao tumor cardíaco mais comum, mixoma, causar uma extraordinária variedade de sintomas e sinais clínicos inespecíficos1.
O objetivo deste estudo foi apresentar um caso de paciente
portadora de mixoma do átrio esquerdo, oligossintomática, estudado por vários métodos e tratado cirurgicamente.
atrial esquerdo. Foi solicitado ecocardiograma transtorácico (Figura 2) que revelou grande massa no átrio esquerdo
sugestiva de mixoma atrial, que comprometia a abertura
valvar mitral, causando estenose mitral de grau importante.
A área valvar mitral foi calculada em 1,0 cm2 pelo método
PHT. A tomografia computadorizada de tórax confirmou
o achado de mixoma solitário. Não foram observadas alterações na cineangiocoronariografia.
RELATO DO CASO
Paciente do sexo feminino, 55 anos, natural e residente em Manaus (AM), procurou o ambulatório de Cardiologia com queixa de “dormência nas mãos e nos pés”. A paciente relatou que
há onze meses iniciou quadro de parestesia nas extremidades e
há um mês apresentava hemiparesia do dimídio esquerdo.
Durante este intervalo, esteve em avaliação no serviço de
Neurologia sem conclusão diagnóstica.
O exame físico estava sem alterações. A ausculta cardíaca
não evidenciou nenhum sopro cardíaco. O eletrocardiograma e a radiografia de tórax (Figura 1) mostravam aumento
Figura 1 – Radiografia de Tórax no Pré-Operatório, na Posição Póstero-Anterior, demonstrando Aumento do Átrio
Esquerdo (seta).
1. Residente de Clínica Médica da Fundação Hospital Adriano Jorge
2. Residente de Cirurgia Cardiovascular do Hospital Universitário Dona Francisca Mendes-AM
†
In memorian
3. Professor da Disciplina de Clínica Cirúrgica da Universidade
do Estado do Amazonas
4. Professora da Disciplina de Cardiologia da Universidade do
Estado do Amazonas
Apresentado em 30 de janeiro de 2008.
Aceito para publicação em 05 de setembro de 2008
Endereço para correspondência:
Dra Sevasty Gomes Donsouzis
Rua Acre, 12 CEMOM
69053-130 Manaus, AM
Fones: (92) 3584-0070
E-mail: [email protected]
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Figura 2 – Ecocardiograma Transtorácico no Pré-Operatório demonstrando Mixoma Atrial Esquerdo.
VE = ventrículo esquerdo; AO = aorta; AE = átrio esquerdo; TU - tumor
© Sociedade Brasileira de Clínica Médica
Mixoma Atrial Esquerdo Causando Estenose Mitral Importante
em Paciente Oligossintomática. Relato de Caso
A paciente foi encaminhada ao serviço de cirurgia cardíaca, sendo realizada a exérese do tumor. (Figura 3)
Figura 3 – Peça Cirúrgica demonstrando o Aspecto Macroscópico do Tumor
O estudo histopatológico revelou formação nodular do átrio
esquerdo medindo 6,3 cm de diâmetro, com aspecto mixomatoso e aos cortes exibe superfície compacta e homogênea.
Microscopicamente, observou-se neoplasia de linhagem mesenquimal, constituída pela proliferação de células globosas,
células endoteliais, células do músculo liso e células indiferenciadas, confirmando o diagnóstico de mixoma.
A paciente evoluiu no pós-operatório sem intercorrências.
Encontra-se assintomática em seguimento de seis meses.
DISCUSSÃO
Os tumores cardíacos mais comuns são os benignos, por
volta de 75% de todos os tumores primários do coração,
sendo os mixomas os mais encontrados dentre estes, correspondendo a 27% de todos os tumores benignos primários.
A idade de incidência varia desde 3 até 80 anos de idade, na
proporção de duas mulheres para cada homem. A localização mais comum é no átrio esquerdo (75%)2.
As manifestações clínicas dependem de seu tamanho, mobilidade, localização e friabilidade. Os achados clínicos
incluem sintomas e sinais constitucionais (febre, perda de
peso, mal estar, artralgia, fenômeno de Raynaud, eritema
cutâneo, baqueteamento, anemia, VSG elevado e leucocitose), embolia sistêmica e pulmonar, além de sintomas
de obstrução intermitente ao fluxo sanguíneo (mimetiza
achados da estenose mitral)3, que são ortopnéia, dispnéia
paroxística noturna, edema pulmonar, tosse, hemoptise,
dor torácica, edema periférico e fadiga. O exame físico de
paciente com mixoma caracteriza-se por apresentar ausculta inexpressiva, sem impulsões cardíacas visíveis mesmo
quando o tumor é de tamanho considerável. Os mixomas
de átrio esquerdo comumente apresentam sopro mitral de
regurgitação, estenose ou de dupla lesão4.
No caso relatado a paciente apresentava parestesia de extremidades e hemiparesia temporária do dimídio esquerdo,
por provável processo microembólico. Apesar de o mixoma
estar causando estenose mitral de grau importante, a paciente não apresentava quadro clínico compatível.
No eletrocardiograma e na radiografia de tórax, observouse aumento do átrio esquerdo, levando a solicitação do
ecocardiograma que evidenciou a massa cardíaca. Atualmente, o ecocardiograma é o método diagnóstico de eleição
no mixoma intracardíaco. Os achados eletrocardiográficos
são inespecíficos. A telerradiografia do tórax pode revelar
alargamento do átrio esquerdo, sinais de congestão e de hipertensão pulmonar5.
A tomografia por computador constitui ao lado da ecocardiografia, um importante método de diagnóstico dos mixomas do coração, podendo dispensar, na maioria dos casos,
a realização do estudo angiográfico6. No presente caso foi
realizado este exame para confirmação de mixoma único,
como auxílio à cirurgia.
O mixoma tem indicação cirúrgica pelo risco de complicações para o paciente. A embolização de fragmentos do
tumor ou trombos da superfície do tumor é uma ocorrência
clínica freqüente, muitas vezes dramática1.
CONCLUSÃO
O diagnóstico de mixoma muitas vezes se faz por achados
ocasionais em exames, tendo em vista que os sinais e sintomas são inespecíficos, até mesmo quando o mixoma é volumoso. O tratamento cirúrgico mostrou-se seguro e eficaz.
REFERÊNCIAS
01. Colucci WS, Schoen FJ, Braunwald E. Tumores Primários do Coração. In: Braunwald E, Tratado de Medicina Cardiovascular. 5ª Ed, São Paulo: Roca, 1999;15661582.
02. Falcão NF, Falcão JL, Figueiredo MP, et al. Cardiomiopatias e Insuficiência Cardíaca. In: Serrano Jr CV.
Cardiologia Baseada em Relato de Casos. São Paulo:
Manole, 2006;285-287.
03. Hatem D. Tumores Cardíacos. In: Castro I. Cardiologia:
Princípios e Prática. Porto Alegre: Artmed, 1999;10491052.
04. Carvalho AC, Silva CO, Gimenes AC, et al. Bilateral
myxoma – preoperative diagnosis and successful surgical removal. Arq Bras Cardiol, 1980;35:235-240.
05. Barbuto C, Sueth DM, Pena FM, et al. Mixoma Atrial
Esquerdo. Revista da SOCERJ, 2006;19:180-183.
06. Stoif NA, Moreira FA, Beyruti R. Myxoma of the left
atrium: the value of computerized tomography in its diagnosis. Arq Bras Cardiol, 1982;38:125-159.
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