TERZIUS FACULDADE REDENTOR RUY CESAR APOLLONIO DAVATZ TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO INFARTO AGUDO DO MIOCARDIO OSASCO SETEMBRO – 2012 RUY CESAR APOLLONIO DAVATZ TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO REVISÃO BIBLIOGRÁFICA SOBRE INFARTO AGUDO DO MIOCARDO SUPRADESNIVELAMENTO DE ST. OSASCO SETEMBRO – 2012 COM I AGRADECIMENTOS Com o objetivo de sempre atingir as metas, o ser humano sempre de depara com a possibilidade de que encontre tropeços, porém a maior de todas as virtudes que nós temos é saber levantar e continuar de forma corajosa a busca incessante da vitória. Agradeço a pessoas que sempre ajudaram direta e indiretamente na elaboração desse trabalho. A MINHA ESPOSA, A MINHA FILHA E AOS MEUS FILHOS AO PROF. Dr. RENATO TERZI II SUMÁRIO AGRADECIMENTOS .............................................................................................. I 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 1 2. A CONTRAÇÃO CARDÍACA.............................................................................. 2 3. FISIOPATOLOGIA DA CARDIOPATIA ISQUÊMICA ......................................... 3 4. INFARTO DO MIOCÁRDIO................................................................................ 4 4.1. Classificação do IAM, segundo a definição mundial – ESC/ACCF/WHF/AHA ............................................................................................ 4 4.2. Achados Clínicos ........................................................................................ 5 4.3. Eletrocardiograma ...................................................................................... 5 4.4. Marcadores de necrose miocárdica ........................................................... 6 4.5. Classificação de KILLIP e FORRESTER.................................................... 7 4.6. Anticoagulantes ........................................................................................ 26 5. PRINCIPAIS COMPLICAÇÕES DO IAM.......................................................... 31 5.1. Dor Torácica no Pós-Infarto ..................................................................... 31 5.2. Arritmias ................................................................................................... 32 5.3. Insuficiência cardíaca ............................................................................... 32 5.4. Infarto de Ventrículo Direito (VD) ............................................................. 32 5.5. Complicações mecânicas ......................................................................... 33 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 37 7. REFERÊNCIAS ................................................................................................ 38 III 1 1. INTRODUÇÃO O coração humano tem função de uma bomba que recebe o sangue do organismo e o lança novamente na circulação. O Infarto Agudo do Miocárdio compreende uma patologia caracterizada basicamente pela isquemia prolongada causada por trombose e/ou vasoespasmo sobre uma placa aterosclerótica que compõem as principais causas de morbimortalidade no Brasil e no mundo. Sua apresentação clínica é variada e o diagnóstico e tratamento precoces dependem de alta suspeição clínica e de propedêutica adequada. Esta revisão abordará a fisiologia, diagnóstico e tratamento do infarto com elevação do segmento ST. 2 2. A CONTRAÇÃO CARDÍACA O coração humano é composto por duas bombas, uma do coração direito que recebe sangue dos órgãos periféricos, e outra do esquerdo, que recebe sangue oxigenado dos pulmões e lança nos órgãos periféricos. Cada bomba é composta por um átrio e um ventrículo. Os átrios se comportam como bombas de escorva que enchem os ventrículos de sangue. Os ventrículos se contraem e conferem alta pressão ao sangue, sendo essa pressão responsável por impulsioná-lo pela circulação. Mais da metade do ventrículo é composto por células musculares estriadas, os miócitos. Cada célula contém filamentos entrecruzados, as miofibrilas. No Citoplasma estão contidos outros constituintes celulares, incluindo o núcleo único, mitocôndrias, e o retículo endoplasmático. O sarcômero é a unidade estrutural e funcional da contração, encontra-se alternadas as bandas claras e escuras. O sarcômero é formado por filamentos grossos, compostos essencialmente pela proteína miosina que atravessam a banda A, e por filamentos finos, composto essencialmente de actina, que partem da linha Z atravessando a banda I para a banda A. Nesse processo de contração ambos os filamentos grossos e finos mantêm o comprimento geral tanto durante a contração como também no relaxamento. Com isso, os filamentos de actina são impulsionados para dentro da banda A. No processo a banda A mantém um comprimento constante, enquanto a banda I se encurta e as linhas Z movem-se umas contra as outras. 3 3. FISIOPATOLOGIA DA CARDIOPATIA ISQUÊMICA O conceito básico, diz respeito à oferta e demanda miocárdica. Em condição normal para qualquer nível de demanda de oxigênio, o músculo cardíaco será suprido com sangue rico em oxigênio para evitar a perfusão inadequada e subsequente isquemia e infarto. Os principais determinantes da demanda cardíaca de oxigênio são a frequência cardíaca, contrabilidade miocárdica e tensão da parede miocárdica. Para manter um bom suprimento de oxigênio, precisa-se de boa inspiração de oxigênio, boa função pulmonar e concentração de hemoglobina e um nível adequado de fluxo sanguíneo coronariano. A circulação coronariana normal é determinada e controlada pelas demandas de oxigênio do coração, atendidas pela capacidade que os vasos coronianos possuem de variar sua resistência. Com a redução do diâmetro interno das coronárias, a aterosclerose irá limitar os aumentos adequados da perfusão quando a demanda de sangue for aumentada, como ocorre em momentos de stress, seja físico ou psicológico. O fluxo sanguíneo coronariano pode também ser reduzido por espasmos coronianos, tal como ocorre na angina de Prinzmetal, por trombos arteriais, êmbolos coronarianos e aortite. A isquemia miocárdica também poderá ser ocasionada se as demandas de oxigênio do miocárdio forem aumentadas significamente, e quando houver limitação do fluxo sanguíneo, como ocorre na hipertrofia de ventrículo esquerdo. 4 4. INFARTO DO MIOCÁRDIO O termo infarto do miocárdio significa basicamente a morte de cardiomiócitos causada por isquemia prolongada. Em geral, essa isquemia é causada por trombose e/ou vasoespasmo sobre uma placa aterosclerótica. O processo migra do subendocárdio para o subepicárdio. A maior parte dos eventos é causada por rotura súbita e formação de trombo sobre placas vulneráveis, inflamadas, ricas em lipídios e com capa fibrosa delgada. Uma porção menor está associada à erosão da placa aterosclerótica. Existe um padrão dinâmico de trombose e trombólise simultaneamente, associadas ao vasoespasmo. O que pode causar obstrução do fluxo intermitente e embolização distal (um dos mecanismos responsáveis pela falência da reperfusão tecidual apesar da obtenção de fluxo na artéria acometida). Dentro de um espectro de possibilidades relacionadas com o tempo de evolução, o miocárdio sofre progressiva agressão representada pelas áreas de isquemia, lesão e necrose sucessivamente. Na primeira, predominam distúrbios eletrolíticos; na segunda, alterações morfológicas reversíveis e, na última, danos definitivos. Da mesma forma, essas etapas se correlacionam com a diversidade de apresentações clínicas que variam da angina instável e infarto sem supra até o infarto com supradesnível do segmento ST. É por isso que o manejo do infarto é baseado no rápido diagnóstico, na desobstrução imediata da coronária culpada, manutenção do fluxo obtido, profilaxia da embolização distal e reversão de suas complicações potencialmente fatais (arritimias, falência cardíaca e distúrbios mecânicos). 4.1. Classificação do IAM, segundo a definição mundial – ESC/ACCF/WHF/AHA Conforme a ESC (European Society of Cardiology)/ACCF (American College of Cardiolgy)/WHF(World Health Federation)/AHA(American Heart Association), o IAM (Infarto Agudo do Miocárdio) se classifica de acordo com os seguintes tipos: Tipo 1: IAM primário, devido à isquemia por erosão, fissura ou ruptura de placa aterosclerótica. 5 Tipo 2: IAM secundário, ocasionado por isquemia secundária a maior demanda de oxigênio ou por redução da oferta de oxigênio. Tipo 3: Morte súbita ou parada cardíaca, frequentemente com sintomas sugestivos de isquemia miocárdia ou achados sugestivos de IAM (elevação de segmento ST, novo bloqueio de ramo esquerdo ou evidência de trombo recente em coronária). Tipo 4a: IAM associado à angiosplatia. Tipo 4b: IAM associado à trombose de stent. Tipo 5: IAM associado à cirurgia de revascularização do miocárdio. 4.2. Achados Clínicos Em até metade dos casos de infarto do miocárdio pode haver um fator precipitante como: exercício físico, stress emocional, doença aguda ou cirurgia. O tipo de dor precordial em aperto à esquerda que pode se irradiar para o membro superior esquerdo, sendo bem intensa e prolongada, isto é, com mais de vinte minutos de duração, e não aliviada por nitratos ou repouso. Alguns pacientes como, por exemplo, idosos, diabéticos e mulheres mais comumente têm isquemia com sintomas atípicos, como uma piora da dispneia, náusea, vômitos, diaforese que devem chamar atenção do plantonista. Sempre se deve lembrar que no caso de infarto de parede inferior, este pode iniciar com bradicardia e hipotensão, devido a hiperatividade parassimpática. Ao exame físico o paciente encontra-se agitado e ansioso. Pode ser achado de ausculta cardíaca: taquicardia, sopros e terceira bulha. A presença de estertores pulmonares é sinal de falência ventricular. 4.3. Eletrocardiograma O ECG (electrocardiograma de 12 derivações) deve ser realizado em no máximo dez minutos em todos pacientes com dor ou desconforto precordial. Devem-se buscar alterações indicativas de isquemia e necrose miocárdica: 6 1 – Elevação do segmento ST: elevação do segmento ST > 1 mV, acima do ponto J, em duas ou mais derivações contíguas. 2 – Presença de novo bloqueio de ramo esquerdo. 3 – Infradesnivelamento do segmento ST > 1 mV em V1-V3 quando associado à elevação do segmento ST em derivações de parede inferior indica infarto dorsal associado. Na ausência de elevação de ST nas outras derivações, é indicativo de infarto posterior isolado. 4 – Elevação do segmento ST em V3R e V4R: cerca de 30% dos doentes com infarto podem evoluir com infarto de ventrículo direito. O diagnóstico de IAM de VD é sugerido pelo ECG: derivações precordiais direitas, V3R a V6R, elevação do segmento ST > 1 mm em duas derivações contíguas tem sensibilidade e especificidade maior que 90%. 5 – Ondas T apiculadas: Presença de ondas T elevadas pode indicar fases muito precoces de IAM, necessitando monitorização e ECG seriados. 4.4. Marcadores de necrose miocárdica É importante salientar que o diagnóstico do infarto agudo do miocárdio (IAM) é evidentemente clínico junto a alterações eletrocardiográficas. O marcador mais sensível e específico para necrose do miocárdio é a troponina sérica. Algumas outras situações podem elevar também a tromponina sérica, como: pericardite, miocardite, embolia pulmonar, etc. Outro marcador útil é a dosagem de CKMB massa, embora seja menos específico do que a troponina, tem boa utilidade clínica. Outros marcadores como: CK total, desidrogenase lática ou aspartatoaminotransferase não devem ser utilizados. A mioglobina tem vantagem de elevar-se mais precocemente, em cerca de duas horas a quatro horas após o evento, entretanto sempre deve ser confirmado com ensaios mais específicos. O diagnóstico de reinfarto precoce é importante, nesse caso, as troponinas são menos úteis, pois permanecem por longos períodos. 7 Tabela 1 – Marcadores de lesão miocárdica Marcadores Elevação inicial Pico sem Normalização Pico com Normalização trombólise sem trombólise com trombólise trombólise Mioglobina 1-3 horas 6-7 horas 24 horas - - CKMB 3-12 20-24 48-72 horas 10-12 24 horas horas horas 3-12 24-48 horas horas 3-12 24-48 horas horas cTnl cTnT 4.5. horas 5-10 dias 18-24 4 dias horas 5-14 dias 12-48 4-5 dias horas Classificação de KILLIP e FORRESTER Além das diversas classificações de IAM, devemos lembrar que podemos classificá-lo de acordo com: Apresentação e evolução clínica (Killip) e parâmetros hemodinâmicos com caráter de artéria pulmonar (Forrester). Em ambas as classificações, a mortalidade é crescente da classe I a IV. Tabela 2 – Classificação de Killip para IAM Killip Característica Clínica I Ausência de estertores pulmonares ou B3. II Estertores < 50% dos campos pulmonares, podendo ou não ter B3. III Estertores > 50% dos campos pulmonares (edema agudo de pulmão) IV Choque cardiogênico Tabela 3 – Classificação de Forrester para IAM Forrester Característica Hemodinâmica I POAP < 18 e IC > 2,2. II POAP > 18 e IC > 2,2. III POAP < 18 e IC < 2,2. IV POAP > 18 e IC < 2,2. POAP = Pressão de Oclusão de Artéria Pulmonar; IC = Índice Cardíaco. 8 a. Tratamento Em todo paciente com dor torácica o ECG deve ser feito em até dez minutos, e se confirmado o IAM, a prioridade nesse momento, é prescrever ácido acetilsalicílico e clopidogrel e desobstruir a coronária, seja com trombólise química ou angioplastia. I. Oxigênio É indicada sua administração na dose de 3l/min a 100% por meio de cateter nasal em todos pacientes com infarto do miocárdio por 3 a 6 horas, de acordo com recomendações como: saturação de oxigênio abaixo de 90% e presença de congestão pulmonar. Quando utilizado de forma desnecessária, o oxigênio em excesso pode provocar vasoconstricção sistêmica e aumento da resistência vascular e da pressão arterial, reduzindo o débito cardíaco. II. AAS Mostrou benefício em relação à mortalidade, estudo ISIS-2 associada ou não à Estreptoquinase21. Deve ser administrada imediatamente, em doses de 200-325 mg VO e mantida indefinidamente. Deve ser evitada em pacientes com antecedente de alergia ao fármaco, insuficiência hepática grave, discrasia sanguínea ou úlcera hemorrágica. Em casos de alergia pode ser substituída por Clopidogrel (300mg VO de ataque, seguido de 75mg VO ao dia). Na ausência de Clopidogrel, está indicada Ticlopidina (250mg de 12/12h). III. Clopidogrel Atualmente o que é recomendado, de acordo com os destaques da ESC (Congresso Europeu de Cardiologia) e TCT (Congresso Americano de Cardiologia), ambos de 2010, para pacientes com síndrome isquêmica aguda, com supradesnível de ST, o clopidogrel 600 mg deve ser utilizado como Classe I, e também o ticagrelor, que é uma droga, novo antiplaquetário que foi testado no estudo PLATO, também foi considerado como Classe I. Além disso, o prasugrel, que é um novo antiplaquetário que terá a disposição, em breve no Brasil, é considerado Classe IIa. Em relação aos pacientes com infarto com supra, a diretriz recomenda como Classe I as três drogas. Então, o cardiologista, que atende o paciente, o intervencionista, a partir de agora tem a opção de escolher entre três antiplaquetários, clopidogrel 600 mg, prasugrel ou ticagrelor. 9 O estudo PLATO comparou o novo antiagregante plaquetário Ticagrelor versus Clopidogrel no tratamento de pacientes com síndromes coronarianas agudas. Este foi um ensaio clínico randomizado envolvendo 18.000 pacientes, financiado pela indústria farmacêutica produtora do novo produto. Quando comparado à terapia padrão com Clopidogrel, o Ticagrelor demonstrou redução de eventos cardiovasculares à custa de redução de infarto não fatal e óbito em seguimento de 12 meses (9.8% vs. 11.7%). Calculando o NNT, nota-se que será preciso tratar 52 pacientes com Ticagrelor (ao invés de Clopidogrel) para prevenir um evento cardiovascular ou tratar 91 pacientes para prevenir o óbito. Estes números (NNT > 50) indicam que o benefício não é de grande magnitude, representa algo como moderada magnitude na melhor das hipóteses. O Ticagrelor tem o efeito mais rapidamente revertido após sua suspensão, quando comparado a Clopidogrel. Esta menor incidência de sangramento cirúrgico compensou a maior incidência de sangramento espontâneo. Desta forma, pode-se dizer que Ticagrelor é uma droga moderadamente superior em eficácia e de segurança semelhante ao Clopidogrel1. O estudo em andamento OASIS 7, randomizado, 2x2, visa descobrir qual seria a dose ótima de AAS e Clopidogrel em pacientes com síndrome coronária aguda que se apresentem a emergência. Segundo o Dr. Mehta, participante do estudo, dados recentes sugerem que dobrando a dose de ataque e de manutenção do clopidogrel resultaria em um efeito antiplaquetário mais rápido e mais eficaz, que resultará em melhores resultados clínicos. Quanto o AAS há grande variação em todo o mundo, incluindo disparidades clínicas. Neste estudo, os pacientes atribuídos a alta dose de clopidogrel receberam uma dose de 600 mg no dia e depois 150 mg uma vez por dia para os próximos sete dias, seguido de 75 mg uma vez por dia até 30 dias. Os pacientes no braço do clopidogrel dose padrão receberam uma dose de 300 mg no dia 1, seguido de 75 mg uma vez por dia até 30 dias. Os pacientes também foram atribuídos de forma aleatória, 300 a 325 mg de aspirina uma vez por dia ou 75-100 mg de aspirina pro dia. Comparado com doses baixas de aspirina, uso de aspirina 300-325 mg não resultou em diferenças significativas no caso de um maior sangramento, definido como maior sangramento TIMI ou o mais atual e sangramentos intensos. 10 Tabela 4 – Terapia antitrombótica das síndromes coronarianas agudas: Destaques da ESC e do TCT 2010. Diretrizes ESC para Terapia Antiplaquetária em SCA e Infartos c/ Elevação de ST Tratamento Classe Nível AAS I C Clopidogrel I C I B Prasugrel IIa B Ticagrelor I B (com dose de ataque de 600 mg assim que possível) Clopidogrel (por 9 a 12 meses após ICP) *Extraída da the heart.org Dr. Mehta afirma que dentre as atuais definições de sangramento são mais sensíveis a do TIMI e principalmente considera outros fatores tais como a necessidade de inotrópicos, cirurgia ou transfusão de sangue. Em termos de eficácia, não houve diferença significativa no resultado primário ou seus componentes, embora tenha havido uma diminuição numérica com uma maior dose de aspirina. Durante a sessão clínica, o debatedor Dr. Frans Van de Werf (Universidade de Leuven, Bélgica) concordou com as conclusões dos pesquisadores, afirmando que a maioria dos pacientes com SCA submetidos a ICP devem receber a dose dobrada de clopidogrel, por causa do favorável benefício clínico. 11 Tabela 5 – Resultado da comparação da dose de aspirina: Eficácia e Sangramento Medida AAS (75-100 mg) AAS (300 a Taxa de Risco (Cl 325mg) /morte CV, 95%) IAM, 4.4 4.1 0.96 (0.85-1.08) ICP 4.2 4.2 0.98 (0.84-1.13) ICP 4.7 4.4 0.92 (0.75-1.14) Trombose de stent 2.1 1.9 0.91 (0.73-1.12) TIMI sangramento 1.03 0.97 0.94 (0.73-1.21) Em andamento c/ 2.3 2.3 0.99 (0.84-1.17) 1.7 1.7 1.00(0.83-1.21) AVC (n=25087) Coorte (n=17232) Não Coorte (n=7855) maior sangramento maior Em andamento com sangramento severo ICP = Intervenção Coronária Percutânea; CV = Cardiovascular IV. Nitratos São usados para alívio dos sintomas e não diminuíram a mortalidade do IAM em grandes estudos. Dinitrato de Isossorbida pode ser usado SL para alívio imediato da dor e para afastar espasmo coronariano. Nitroglicerina EV deve ser usada, especialmente em casos de sintomas congestivos associados ou hipertensão (10-20mcg/min com incrementos de 5-10 mcg a cada cinco minutos até alívio da dor, pressão sistólica menor do que 90mmHg ou diminuição de 30% na PAS inicial). O tratamento endovenoso pode ser usado até 24-48h e convertido a drogas orais posteriormente, que devem ser administradas em horários assimétricos (ex: 8,14 e 20h) com pelo menos 10 horas de intervalo entre duas tomadas, no sentido de evitar tolerância. A medicação pode causar cefaléia e hipotensão postural, que podem ser revertidas com diminuição da dose e analgésicos. Não devem ser usados em pacientes que utilizaram sildenafil nas últimas 24 horas e devem ser usados cautelosamente em infartos 12 inferiores com possibilidade de ventrículo direito associado, pelo risco de hipotensão. V. Morfina Pode ser usada para controle da dor, ansiedade, exerce também uma ação vasodilatadora. É utilizada na dose de 2 a 4 mg IV em bolus, doses adicionais podem ser feitas a cada quinze minutos, em caso de dor persistente. Efeitos colaterais caso aconteçam, podem ser revertidos com naloxone. VI. β- bloqueadores Os bloqueadores de canais de cálcio não demonstraram benefício no tratamento do IAM suficiente para sua indicação rotineira. Portanto, seu uso fica restrito ao controle de arritmias supraventriculares (ex: FA de alta resposta) quando os b-bloqueadores forem contra-indicados e não houver disfunção ventricular. Os b-bloqueadores, β- bloqueadores ou beta bloqueadores chamados, inibem preferencialmente os b1-receptores reduzindo a freqüência e inotropismo cardíacos e determinando redução no consumo de oxigênio do miocárdio. Os b-bloqueadores não seletivos inibem também os b2-receptores, aumentando a resistência bronquiolar e vascular periférica. Alguns b- bloqueadores são, também, vasodilatadores. O tratamento prolongado com os bbloqueadores aumenta a densidade dos b-receptores na membrana celular, o que pode explicar a hiperatividade simpática que pode ocorrer durante a parada do tratamento desses medicamentos. Em cirurgia não cardíaca, os efeitos benéficos do b-bloqueadores em pacientes hipertensos ou nos que apresentam doença coronariana têm sido demonstrados, com redução da incidência de isquemia miocárdica no pós-operatório e da mortalidade durante o período de dois anos que se segue à operação. Os beta-bloqueadores são agentes antidisrítmicos classe II, segundo a classificação de Vaughan-Williams. São efetivos no tratamento das disritmias provocadas por aumento da atividade simpática e pela isquemia miocárdica. As catecolaminas têm importante influência na velocidade de condução, no período refratário e na vulnerabilidade à fibrilação. Os betabloqueadores diminuem a velocidade de despolarização diastólica (fase 4) e são 13 efetivos em reduzir as disritmias ectópicas, principalmente no átrio. Na vigência de fibrilação ou flutter atrial, o aumento no período refratário e na velocidade do nó atrioventricular controla a freqüência ventricular e pode interromper taquidisritmias provocadas por reentrada. A eficiência dos beta-bloqueadores na insuficiência coronariana é atribuída à diminuição do consumo de oxigênio pelo miocárdio (MVO2), que é precedida pelos efeitos cronotrópicos negativos, notadamente durante o exercício, e inotrópico negativo. Antes que o propranolol aumente a resistência periférica total, por causa do bloqueio dos β2-receptores vasculares, e diminua o débito cardíaco, a pressão arterial diminui por causa da redução da freqüência cardíaca e da diminuição da contratilidade miocárdica e, eventualmente, de menor atividade da renina plasmática. Por outro lado, os beta-bloqueadores não agem sobre o espasmo coronariano e podem mesmo favorecê-lo. A bradicardia e a diminuição do inotropismo determinadas pelos beta-bloqueadores aumentam o tempo de ejeção sistólica e o volume diastólico final do ventrículo esquerdo, que podem aumentar o MVO2, principalmente durante o exercício. As circulações locais são diferentemente afetadas pelos beta-bloqueadores. Assim, a resistência vascular sistêmica é aumentada pelos que são desprovidos de atividade simpaticomimética intrínseca, principalmente por aqueles que não são cardiosseletivos. O inverso ocorre com os que apresentam essa atividade. O mesmo ocorre em relação à circulação renal e cerebral. Na circulação hepática, o propranolol diminui o fluxo sangüíneo da artéria hepática e da veia porta. Os bronquíolos possuem em sua maioria receptores b2-adrenérgicos, cuja estimulação determina broncodilatação. Os bbloqueadores são broncoconstritores, principalmente em asmáticos. A seletividade em beta1 e a atividade simpaticomimética intrínseca diminuem a atividade broncoconstritora dos beta-bloqueadores. A ação dos beta-bloqueadores sobre a função renal é variável na dependência de efeitos diretos e indiretos, podendo aumentar, manter ou diminuir a diurese. Diminuem a pressão intra-ocular em pacientes com glaucoma e também os níveis plasmáticos de angiotensina e de aldosterona, a 14 secreção de glucagon em resposta à hipoglicemia fisiológica e a glicogenólise. A seletividade beta1 e a atividade simpaticomimética intrínseca diminuem esses efeitos. VII. Inibidores da ECA Inibidores da ECA ou da angiotensina inibidores da enzima conversora, são um grupo de medicamentos que são usados principalmente no tratamento da hipertensão e insuficiência cardíaca congestiva que eles também são por vezes utilizadas em pacientes com insuficiência cardíaca, doença renal ou esclerose sistêmica. O primeiro passo no desenvolvimento de (ECA) foi a descoberta da enzima conversora da angiotensina (ACE) no plasma por Leonard T. Skeggs e seus colegas em 1956. Cientista brasileiro Sergio Ferreira relatou em 1965 de um "fator potencializador da bradicinina (BPFs) presente no veneno de Bothrops jararaca, uma sul-americana jararaca. Dr. SH Ferreira então passou a John laboratório Palhetas como um Post-Doc com sua BPFs já isolado. A conversão da angiotensina I inativa à angiotensina II potente foi pensado para ter lugar no plasma. No entanto, em 1967, Kevin KF Ng e John R. Vane mostrou que o plasma (ACE) era muito lento para dar conta da conversão da angiotensina I em angiotensina II''in vivo''. Investigação posterior mostrou que a conversão rápida ocorre durante a sua passagem através da circulação pulmonar. Bradicinina é rapidamente inativada no sangue circulante e desaparece completamente em uma única passagem através da circulação pulmonar. Angiotensina I também desaparece da circulação pulmonar devido à sua conversão à angiotensina II. Além disso, a angiotensina II passa pelos pulmões sem qualquer perda. A inativação da bradicinina e pela conversão da angiotensina I em angiotensina II nos pulmões foi pensado para ser causado pela mesma enzima. Em 1970, Ng e Vane fator potencializador da bradicinina usando (BPF) fornecidos por Sérgio Henrique Ferreira mostrou que a conversão da angiotensina I em angiotensina II foi inibida durante a sua passagem através da circulação pulmonar.Inibidores da ECA podem ser divididos em três grupos baseados em sua estrutura molecular: Sulfidrila contendo agentes Captopril (Capoten nome comercial), o primeiro inibidor da ECA 15 Zofenopril Dicarboxilato contendo agentes Este é o maior grupo, incluindo: Enalapril (Vasotec / Renitec) Ramipril (Altace / Tritace / Ramace / Ramiwin) Quinapril (Accupril) Perindopril (Coversyl / Aceon) Lisinopril (Lisodur / Lopril / Novatec / Prinivil / Zestril) Benazepril (Lotensin) Fosfonato contendo agentes Fosinopril (Monopril) é o único membro desse grupo Figura 1 – Tabela de Dosagens IECA 16 Os pacientes eram selecionados de modo a preencher pelo menos um dos 3 critérios de avaliação: Grupo I – Pacientes diabéticos tipo 2, sem história prévia de evento cardiovascular e/ou coronariopatia; Grupo II – Pacientes com doença arterial coronariana, sem o diagnóstico de Diabetes Mellitus; Grupo III – Pacientes com DM tipo 2 e doença coronária. O diagnóstico de doença arterial coronariana (DAC) era realizado caso o paciente preenchesse pelo menos 1 dos seguintes critérios: (i) Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) prévio, confirmado através de pelo menos dois dos seguintes achados: dor precordial e/ou alteração no eletrocardiograma e/ou elevação de enzimas cardíacas; (ii) Acidente Vascular Cerebral (AVC) Isquêmico prévio, confirmado através de tomografia computadorizada e/ou ressonância magnética; (iii) Teste Ergométrico positivo e/ou cintilografia de perfusão miocárdica positivo e/ou angiografia coronária mostrando obstruções de pelo menos 50% da luz do vaso; (iv) Angioplastia coronariana transluminal percutânea e/ou colocação de stent prévios e (vi) enxertos de veia safena ou artérias mamárias. O diagnóstico do DM era realizado conforme critérios da American Diabetes Association (9) em pacientes com mais de 45 anos. Os pacientes eram selecionados de modo a preencher pelo menos um dos 3 critérios de avaliação: Grupo I – Pacientes diabéticos tipo 2, sem história prévia de evento cardiovascular e/ou coronariopatia; Grupo II – Pacientes com doença arterial coronariana, sem o diagnóstico de Diabetes Mellitus; Grupo III – Pacientes com DM tipo 2 e doença coronária. O diagnóstico de doença arterial coronariana (DAC) era realizado caso o paciente preenchesse pelo menos 1 dos seguintes critérios: (i) Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) prévio, confirmado através de pelo menos dois dos seguintes achados: dor precordial e/ou alteração no eletrocardiograma e/ou elevação de enzimas cardíacas; (ii) Acidente Vascular Cerebral (AVC) Isquêmico prévio, confirmado através de tomografia computadorizada e/ou ressonância magnética; (iii) Teste Ergométrico positivo e/ou cintilografia de perfusão miocárdica positivo e/ou angiografia coronária mostrando obstruções de pelo menos 50% da luz do vaso; (iv) Angioplastia coronariana transluminal percutânea e/ou colocação de stent prévios e (vi) enxertos de veia safena ou artérias mamárias. 17 O diagnóstico do DM era realizado conforme critérios da American Diabetes Association (9) em pacientes com mais de 45 anos. Foi excluído da pesquisa o paciente que apresentasse, no prontuário, qualquer dos seguintes itens: Acidente Vascular Cerebral Hemorrágico Prévio; Doença endócrina predispondo à obesidade (tais como hipotireoidismo descompensado e Síndrome de Cushing); Doença renal (creatinina sérica > 1,8 mg/dL [159 mmol/L]) ou hepática (enzimas hepáticas [AST, ALT], bilirrubinas ou fosfatase alcalina > 2,5 vezes os valores de referência) clinicamente manifesta; história prévia de crise convulsiva e/ou uso de anticonvulsivantes; abuso de álcool ou drogas; antecedentes de cirurgia gastrintestinal com a finalidade de perda de peso; outras doenças sistêmicas significativas; pacientes em tratamento para Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (uso de inibidores de protease e/ou inibidores da transcriptase reversa). VIII. Hipolipemiantes Os agentes hipolipidémicos ou hipolipemiantes são os fármacos usados no tratamento das dislipidemias, e principalmente no controlo dos níveis colesterol. Os altos níveis de colesterol (hipercolesterolemia) aceleram a aterosclerose, que leva no limite ao infarto do miocárdio e aos acidentes vasculares cerebrais (AVCs). O conhecimento da abordagem diagnóstica e terapêutica das dislipidemias é de fundamental importância não apenas para o cardiologista, visto que as dislipidemias são achados freqüentes em sua forma isolada ou associada a outros distúrbios metabólicos (tireoideanos, hepáticos, renais ou associados ao diabetes mellitus), em conseqüência do emprego de medicamentos como diuréticos, beta-bloqueadores, imunossupressores, antiretrovirais, corticosteróides e, ainda, nas formas genéticas. As dislipidemias podem ter sua expressão fenotípica na infância ou, mais tardiamente, desencadeadas pelo estilo de vida inapropriado, especialmente sedentarismo, dieta inadequada, resistência à insulina e outros fatores relacionados ao estilo de vida. Podem ou não apresentar sinais clínicos característicos e associar-se a complicações como doença aterosclerótica ou pancreatite. A abordagem desses pacientes deve visar mudanças do estilo de vida e o emprego de tratamento medicamentoso, por tempo prolongado, em geral 18 ao longo da vida. As indicações para o uso de fármacos hipolipemiantes e as metas a serem atingidas estão bem definidas por diretrizes. O uso de hipolipemiantes requer o conhecimento de suas características farmacodinâmicas e farmacocinéticas, perfil de segurança e eventos adversos, interações com outros fármacos e presença de comorbidades. A clara associação entre os fatores de risco e a aterosclerose norteou a elaboração de algoritmos para a estratificação do risco cardiovascular, os ensaios clínicos randomizados forneceram a base de evidências para a utilização dos hipolipemiantes na prevenção primária e secundária da doença cardiovascular e em muitas outras situações clínicas, de acordo com as estimativas de risco. Situações especiais, como os transplantados, idosos, portadores da síndrome da imunodeficiência adquirida e outras condições em que a aterosclerose seja uma condição comumente associada, devem ter seu risco avaliado de maneira semelhante e o tratamento instituído, levando-se em conta o risco/benefício do tratamento e os fármacos mais adequados para cada situação. As dislipidemias são classificadas de acordo com a fração lipídica que se encontra alterada, sendo assim chamada de hipercolesterolemia isolada (LDL-colesterol ³ 160 mg/dl), hipertrigliceridemia isolada (triglicérides ³ 150 mg/dl), mista (LDL-colesterol ³ 160 mg/dl e triglicérides ³ 150 mg/dl) e redução do HDL-C (homens < 40 mg/dl e mulheres < 50 mg/dl) isolada ou associada com aumento do colesterol e/ou de triglicérides. A classificação de Fredrickson, muito usada no passado, baseia-se no perfil de migração eletroforética das lipoproteínas, sendo atualmente indicada apenas para diferenciar a disbetalipoproteinemia, ou hiperlipidemia remanescente, na qual se consegue identificar a faixa beta larga, correspondente às lipoproteínas de densidade intermediária (IDL). As dislipidemias têm uma base multifatorial tanto genética como ambiental, sendo muitas vezes difícil separar os componentes implicados na sua manifestação. Quanto à etiologia, as dislipidemias podem ainda ser classificadas em primárias ou secundárias, estas decorrentes de distúrbios metabólicos tireoideanos, hepáticos, renais, entre outros, ou, ainda, do uso de certos fármacos, como b-bloqueadores, diuréticos, corticosteróides etc. Com o 19 advento dos algoritmos para estratificação do risco cardiovascular, a classificação quanto à prevenção primária ou secundária tem sido menos utilizada em detrimento do cálculo do risco absoluto, com base nos dados obtidos no estudo de Framingham e publicados nas recomendações do National Cholesterol Education Panel (NCEP - ATP III). As formas graves de dislipidemia podem ser acompanhadas de sinais clínicos característicos, como presença de xantomas tuberosos tendíneos, arco corneal e xantelasmas nas hipercolesterolemias (especialmente a hipercolesterolemia familiar); xantomas eruptivos nas hipertrigliceridemias; xantomas estriados palmares na disbetalipoproteinemia; alterações retinianas nas hipertrigliceridemias; xantomas planares nas hipoalfalipoproteinemias; deposições lipídicas em órgãos linfóides, como na doença de Tangier; e opacificações de córnea, como no Fish Eye Disease. Estudos observacionais demonstraram forte associação entre dislipidemias e doença arterial coronariana (DAC), embora a maioria dos eventos coronarianos tenha ocorrido em indivíduos com níveis de colesterol comparáveis aos da população sadia. Já o tratamento com estatinas pode reduzir, com segurança, a incidência, em cinco anos, de eventos coronários maiores, da revascularização do miocárdio e do acidente vascular cerebral em um quinto por milimol/L de redução do LDL-colesterol (LDL-C), independente dos níveis lipídicos basais ou de outras características clínicas presentes. Os benefícios, que foram significantes já no primeiro ano, aumentaram nos anos subseqüentes e se associaram à redução absoluta alcançada para o LDL-C, reforçando a necessidade de se considerar o tratamento prolongado com estatinas com reduções significativas de LDL-C em todos os pacientes sob risco de eventos cardiovasculares maiores. Por outro lado, o aumento nos níveis de HDL-C se acompanhou de menor ocorrência de eventos cardiovasculares na prevenção secundária da DAC enquanto seus níveis reduzidos foram associados ao infarto do miocárdio, especialmente entre os idosos. A melhora na função endotelial, a redução no estresse oxidativo e a diminuição no risco trombótico e em marcadores de inflamação, além da mobilização de células progenitoras endoteliais, estão entre os mecanismos propostos para a estabilização de placas ateromatosas e pela redução de desfechos clínicos com o uso de hipolipemiantes, 20 como as estatinas, drogas que ao reduzirem a síntese de colesterol endógeno também diminuem a formação de isoprenóides, substâncias relacionadas à menor formação de óxido nítrico e à maior expressão de fatores pró-coagulantes e inflamatórios. O uso desses fármacos também propiciou a redução da progressão e mesmo regressão do volume do ateroma coronariano, em estudos utilizando altas doses de estatinas. Figura 2 - Algoritmo para avaliação do perfil lipídico na infância e adolescência. Em 2002, a American Heart Association sugeriu um algoritmo para tratamento das dislipidemias de acordo com o risco individual e perfil lipídico obtido. De acordo com esse algoritmo, todas as crianças com LDL-C ³ 130 mg/dL devem ser acompanhadas. A primeira opção deve ser a dieta com baixos teores em gordura saturada e colesterol. As recomendações para o uso de fármacos são reservadas, exclusivamente, para as crianças com idade > 10 anos que apresentem níveis de LDL-C persistentemente elevados, a despeito da orientação nutricional. Os valores de referência do LDL-C para a intervenção com hipolipemiantes dependem dos fatores de risco presentes, da história familiar e da magnitude da elevação do LDL-C. Com o objetivo de esclarecer aspectos relativos à segurança das estatinas, a National Lipid Association (NLA), dos Estados Unidos, formou uma força-tarefa para avaliar os dados disponíveis sobre os efeitos das estatinas 21 nos músculos, rins, fígado e cérebro. Com relação aos potenciais efeitos musculares, deve-se ter em mente as seguintes definições: a mialgia se caracteriza por dor, fadiga muscular ou ainda cãibras, na ausência de elevações de creatinoquinase (CK). Nessa situação, é necessária uma redução de dose e, eventualmente, até a administração da estatina em apenas alguns dias da semana, geralmente combinada com um inibidor da absorção de colesterol, de forma a atingir os níveis-alvo de LDL-colesterol, embora com alguma perda de efeitos pleiotrópicos pela falta do uso diário da estatina. A miopatia é definida como qualquer doença dos músculos e, na miosite, além dos sintomas musculares, existe elevação dos níveis de CK. A rabdomiólise é definida na presença de sintomas musculares com marcante elevação de CK, em geral acima de dez vezes o limite superior da normalidade, ou acima de 10.000 U/L, com concomitante elevação da creatinina, presença de urina escura e mioglobinúria, podendo levar à morte por alterações secundárias à insuficiência renal. A incidência de miotoxicidade se eleva com o aumento da dose das estatinas. O uso simultâneo de certos fármacos, como fibratos, eritromicina, itraconazol, e imunossupressores, como ciclosporina, pode aumentar os níveis sangüíneos das estatinas e também a probabilidade de miopatia. Mais de 33% das mortes por rabdomiólise, que levaram à retirada da cerivastatina do mercado, ocorreram quando aquele fármaco foi associado à genfibrozila. Excluindo-se a cerivastatina, as taxas de rabdomiólise são baixas e comparáveis às observadas com as demais estatinas (atorvastatina, pravastatina, sinvastatina), com uma incidência de 0,44 caso por 10.000 pacientes tratados ao ano. Considerando-se o grande risco de doenças cardiovasculares - só nos Estados Unidos da América do Norte, 700.000 indivíduos terão um evento cardiovascular em 2007 e cerca de 500.000 um evento recorrente; além disso, uma em cada cinco mortes, em 2002, foi por doença arterial coronariana -, o potencial das estatinas em proteger pacientes da doença aterosclerótica parece, de longe, mais importante do que os riscos dos eventos adversos mais graves. A elevação de CK > 10 vezes o limite superior da normalidade (LSN) é preocupante, embora somente traduza relevância clínica quando acompanhada de alteração da função renal. Há pacientes esportistas, maratonistas, que podem exibir elevações apreciáveis das enzimas musculares 22 sem nenhum prejuízo da função renal. As elevações discretas a moderadas de CK não parecem constituir contra-indicação ao uso de estatinas se não houver aumento concomitante da creatinina. Entretanto, para elevações mais expressivas, com CK > 7 vezes o LSN, deve-se monitorar e reduzir a dose ou suspender a medicação, especialmente quando se reconhece uma situação clínica nova, como uma recente associação de medicamentos de potencial interação farmacocinética. Deve-se ter em conta que existem muitas outras condições clínicas que levam à rabdomiólise e que não são dependentes de estatinas ou de outros hipolipemiantes, como os quadros sépticos, imobilizações, alterações vasculares, entre outras. A combinação de fármacos hipolipemiantes é prática aceita em hipercolesterolemias graves, distúrbios lipídicos mistos e de difícil controle e em pacientes que requerem terapias mais agressivas para o alcance de metas. Estudos clínicos demonstraram que a combinação de estatinas e ácidos graxos ômega-3, estatinas e seqüestrantes de ácidos biliares, estatinas e ezetimiba, ou mesmo estatinas e ácido nicotínico não mostrou um aumento na incidência de efeitos tóxicos musculares. Entretanto, algumas associações, como a de uma estatina com um fibrato, podem acarretar maior risco de toxicidade muscular, o que ocorreu com a cerivastatina e a genfibrozila. A genfibrozila sofre glicuronização, o que interfere no metabolismo das estatinas, e essa interferência parece ser maior com a cerivastatina. Após a retirada do mercado da cerivastatina, devido à ocorrência de casos fatais de rabdomiólise, considerável atenção foi dada aos hipolipemiantes, sobretudo da classe das estatinas. Felizmente, a experiência com todas as demais estatinas aprovadas para comercialização foi bastante distinta da ocorrida com a cerivastatina e, hoje, o risco de ocorrência de um caso fatal de rabdomiólise nos EUA é de apenas 0,15 por milhão de pacientes tratados, considerando-se o registro de todos os casos ocorridos naquele país desde o início da comercialização das estatinas ainda no fim da década de 80 até o momento e de todas as estatinas disponíveis. Verificou-se que a maior potência das estatinas na redução do LDL-colesterol não determina maior ocorrência de efeitos musculares, mas as doses mais elevadas de cada estatina de maneira uniforme acrescentam pequeno risco de aumento em sua ocorrência. 23 As estatinas e o bloqueio da HMG-CoA redutase impedem a produção de pirofosfato de farnesila (FPP), um intermediário na produção de ubiquinona, ou coenzima Q10, um esteróide isoprenóide que participa do transporte de elétrons durante a fosforilação oxidativa que ocorre nas mitocôndrias de mamíferos. Os níveis séricos de ubiquinona se reduzem durante o tratamento com estatinas, pois a ubiquinona é transportada na partícula LDL. Não existe correlação entre os níveis séricos e musculares de ubiquinona, sugerindo mecanismos regulatórios distintos de ubiquinona nos músculos e no sangue. Não está claro, no entanto, se os níveis intramusculares reduzidos de ubiquinona sejam causados pela perda do volume mitocondrial ou se aqueles são a causa da disfunção mitocondrial. Assim, o risco de efeitos musculares graves, e nisso também se incluem as neuropatias e outros eventos adversos com as estatinas, é muito raro e os especialistas também não consideram necessária a monitorização das enzimas musculares para pacientes assintomáticos ou que não pertençam aos subgrupos de risco. De modo geral, o risco de toxicidade relacionado ao uso dos inibidores da HMG-CoA redutase aumenta significativamente com a adição de fármacos com potencial interação farmacocinética. O mecanismo para a maioria das interações envolve o sistema do citocromo P-450, no qual muitos fármacos podem interagir. É difícil predizer a probabilidade de interação de fármacos num determinado indivíduo, pois existem particularidades na sensibilidade individual a aumentos dos níveis das estatinas. A sinvastatina e a lovastatina são particularmente sensíveis aos efeitos inibitórios de outros fármacos no citocromo P-450 (CYP3A4). O metabolismo da atorvastatina é menos afetado pela inibição dessa isoenzima. Relatos de caso, pesquisas pós-comercialização das estatinas e dados de ensaios clínicos demonstram os efeitos dos inibidores do CYP3A4 nos níveis das estatinas. Além disso, a genfibrozila, por inibir a excreção biliar e a glicuronização das estatinas, quando administrada concomitantemente à rosuvastatina, lovastatina e sinvastatina, aumenta o risco de miopatia e de rabdomiólise. Até recentemente as estatinas não eram indicadas se os valores de transaminases (ALT/AST) fossem superiores a três vezes o limite 24 superior da normalidade. De acordo com o comitê de especialistas em hepatologia do National Lipid Association (NLA), as estatinas podem ser usadas nessas situações, pois apresentam baixo risco de potenciais efeitos adversos hepáticos. As elevações de enzimas hepáticas podem ocorrer em um pequeno percentual de pacientes sob terapia com estatinas, não havendo evidências de que esses fármacos possam provocar efeitos tóxicos graves para o fígado. Com base na análise dos especialistas do NLA, as estatinas atualmente disponíveis possuem um bom perfil de tolerabilidade com baixo potencial de eventos adversos sérios. De fato, embora seja recomendada a obtenção de valores basais de enzimas hepáticas (especialmente ALT) antes da introdução de hipolipemiantes, bem como o monitoramento dos efeitos da terapia hipolipemiante sobre as mesmas, a experiência acumulada ao longo de anos de terapia com estatinas tem fornecido a base para novas orientações. Assim, na ausência de sintomas ou de antecedentes prévios de hepatopatia, alguns especialistas não indicam o monitoramento rotineiro das enzimas hepáticas. Devido à incerteza da relevância clínica das elevações leves e moderadas de enzimas hepáticas em pacientes tratados com estatinas, e também porque o teste laboratorial não é preditivo de hepatotoxicidade futura, tem-se sugerido seu uso independentemente de uma monitorização tão rigorosa, exceto em pacientes que usam medicações concomitantes de potencial interação farmacocinética, naqueles com comorbidades ou sob risco. Nos demais, as dosagens rotineiras devem ser reconsideradas, pois as evidências sugerem que os testes laboratoriais podem não ser tão necessários. Além disso, embora não seja recomendado o seu uso na presença de ALT superior a três vezes o limite superior da normalidade (LSN), esses mesmos especialistas não consideram uma real contra-indicação a prescrição de estatinas para quem essa classe de medicamentos esteja indicada. A justificativa é de que não há evidência de que esses medicamentos provoquem hepatopatias graves ou que esses pequenos aumentos das enzimas possam ocasionar doença hepática de relevância clínica. Tem-se sugerido que as elevações das enzimas hepáticas com as estatinas possam ocorrer com maior freqüência com o emprego de altas doses desses fármacos. No entanto, a metanálise de 13 estudos com 49.275 participantes demonstrou que doses baixas 25 e moderadas de pravastatina, lovastatina e sinvastatina não se associaram a aumento significativo de enzimas hepáticas comparado com placebo. As evidências sugerem que o aumento de transaminases com o uso de estatinas esteja mais relacionado à estatina em si, em suas maiores doses, e com o nível sangüíneo da estatina, o que também se associa às interações farmacológicas. As estatinas podem ser prescritas a pacientes com esteatose hepática não alcoólica e etilistas em grau leve a moderado (uma a duas doses por dia) e não são contra-indicadas em hepatopatias crônicas e na cirrose compensada. Em pacientes que usam anticoagulantes orais e apresentam elevação de transaminases devido ao uso concomitante de estatinas, não há evidência de que estas afetem a resposta à terapia anticoagulante. Sendo assim, não se recomenda modificação na dose da estatina. Existem poucos relatos isolados de pacientes que apresentaram hepatite colestática, hepatite auto-imune e cirrose. Em uma avaliação de 23.000 pacientes tratados com estatinas que tiveram ALT testada, observou-se uma incidência de 0,3% de elevações enzimáticas > 10 vezes o limite superior da normalidade, sendo que em apenas um quarto dos pacientes se atribuíram aquelas alterações ao uso de estatinas. A quase totalidade desses pacientes utilizava associações de fármacos com potencial interação com estatinas e os restantes apresentavam comorbidades, tais como doenças cardiovasculares, diabetes ou ambos. Essas alterações são em geral reversíveis com a suspensão do fármaco e até podem desaparecer com a continuidade do tratamento. Entretanto, quando uma doença hepática é diagnosticada em um paciente que recebe estatina, deve-se proceder a uma avaliação médica sistemática e completa para tentar estabelecer uma etiologia. Se uma relação causal com a terapia com estatina não puder ser excluída, não se recomenda a reintrodução do tratamento e outras estratégias hipolipemiantes devem ser consideradas. Na presença de disfunção hepática significativa, como quando existe hepatomegalia, icterícia, elevação de bilirrubina direta e alterações do tempo de protrombina, o uso de estatinas deve ser descontinuado. Em outras condições, como na insuficiência renal, a dislipidemia pode e deve ser tratada, mas nesta situação devem ser preferidos os 26 fármacos de eliminação hepática (a maioria das estatinas) ou a utilização de resinas. De acordo com o painel de nefrologistas do National Lipid Association (NLA) norte-americano, as estatinas não causam falência renal aguda nem insuficiência renal na ausência de rabdomiólise ou miopatia grave. As estatinas não afetam a filtração glomerular, não provocam hematúria e podem ser usadas em pacientes portadores de doença renal crônica ou mesmo naqueles em hemodiálise. Estudos em pacientes portadores de doença renal crônica, com o objetivo de avaliar a redução de eventos cardiovasculares e a menor progressão da doença renal, são necessários. Recentemente, evidenciou-se que o tratamento com estatinas promovia proteinúria tubular. Este é um efeito de classe, que não havia sido reconhecido anteriormente, é transitório, não progride para insuficiência renal e seu mecanismo parece ser decorrente de um efeito farmacológico na função do túbulo renal proximal, que é dose-dependente e reversível com a redução da dose. De acordo com o painel de neurologistas do NLA, os dados de eventos adversos não suportam uma associação entre o uso de estatinas e a ocorrência de neuropatia periférica ou de distúrbios cognitivos. Alguns relatos de caso em que esses eventos ocorreram sugerem mais uma reação idiossincrásica. Além disso, as definições desses eventos são em geral imprecisas, o que requer melhor padronização. Nas depressões e nos acidentes vasculares cerebrais hemorrágicos, dados de estudos clínicos não corroboram a associação do uso de estatinas com o maior risco desses eventos, devendo o uso das estatinas ser avaliado no contexto global. 4.6. Anticoagulantes A anticoagulação é de suma importância e deve ser prescrita em todos os pacientes. A heparina não fracionada traz benefícios para a manutenção da estabilidade coronária nas horas e dias que se seguem ao uso de trombolíticos. Deve ser combinada a t-PA ou TNK por 24-48 horas. O uso de heparina de baixo peso molecular (HBPM) é uma alternativa viável em pacientes com menos de 75 anos e função renal normal. HBPM não deve ser usada como alternativa para HNF como terapia adjuvante em pacientes idosos (acima de 75 anos) sob fibrinólise. 27 A associação de heparina à estreptoquinase é possível, mas seu benefício permanece controverso, e por isso não é usada rotineiramente. Pacientes com alto risco de embolia sistêmica (IM extenso ou anterior, fibrilação atrial, êmbolo anterior ou sabidamente com trombo do ventrículo esquerdo) deveriam receber HNF por via venosa. Uma metanálise comprovou que a HNF combinada ao AAS reduz o risco de morte ou de infarto do miocárdio em 56% (p = 0,03) após IAMSSST. A medicação deveria ser continuada por dois a cinco dias ou até a angioplastia/revascularização. A HBPM tem biodisponibilidade aumentada e vida media mais longa do que a HNF. Nas pesquisas ESSENCE37 e TIMI 11B38 a enoxaparina foi superior à HNF e é a HBPM de escolha para AI/IAM SSST. A enoxaparina deveria ser administrada em duas doses subcutâneas diárias de 1 mg/kg por 2 a 5 dias ou até a angioplastia. A dose de enoxaparina deve ser ajustada em paciente com insuficiência renal, obesidade e idade avançada. O fondaparinux e a bivalirudina foram avaliados nas SCAS/SST, com resultados promissores em estudos aleatórios. As medicações ainda não estão disponíveis para utilização em nosso meio. IX. Terapia de Reperfusão A imediata e precoce reperfusão coronariana consiste na mais importante terapêutica de pacientes com IAM com elevação do segmento ST. A reperfusão pode ser realizada com agentes fibrinolíticos ou com angioplastia primária. O processo agudo trombótico oclusivo da artéria coronária, que ocorre em uma placa ateroesclerótica vulnerável, determina o desenvolvimento da necrose miocárdica. O pronto e efetivo restabelecimento do fluxo sangüíneo, que pode ser atingido tanto por drogas trombóliticas quanto pela angioplastia primária, determina significativa redução da mortalidade e preservação da função ventricular. A administração das drogas trombolíticas por via venosa é um procedimento seguro e simples de ser realizado, e comprovadamente eficaz na diminuição da mortalidade e das complicações do IAM. A trombólise não requer condições especiais, podendo ser feita em salas de emergência que possuam recursos mínimos como um desfibrilador e monitor cardíaco. 28 As indicações estão relacionadas em: Dor precordial típica e ECG com: Supra desnível do segmento ST maior do que 1 mm em pelo menos duas derivações que explorem a mesma parede nas derivações periféricas, ou um supra desnível de ST maior que 2 mm em pelo menos duas derivações contíguas no plano horizontal. Bloqueio de ramo no ECG Nos pacientes com evolução acima de 12 horas que mantenham dor persistente e supra de ST, a terapia com trombolíticos deve ser considerada, afastados os diagnósticos de pericardite e dissecção aórtica. Suas contra-indicações estão ordenadas em: Sangramento interno em atividade (exceto menstruação); Suspeita de dissecção aórtica; Neoplasia intracraniana conhecida; História de acidente vascular encefálico (AVE) hemorrágico em qualquer tempo; outros AVE ou eventos cerebrovasculares no último ano. Hipertensão arterial grave mantida (>180 mmHg de sistólica e > 110 mmHg de diastólica) Ressuscitação cardio-respiratória traumática (fraturas de costelas, pneumotórax, intubação oro-traqueal traumática, etc.) ou prolongada > 10 min. Outras doenças intracranianas Uso de anticoagulante (INR > 2), diátese hemorrágica conhecida Punções vasculares não compressíveis. Uso de estreptoquinase nos últimos 24 meses; antecedentes de reação alérgica a estreptoquinase. Neoplasia ou doença com possível anormalidade torácica, abdominal ou intracraniana. História de hipertensão arterial crônica grave. Úlcera péptica ativa. Sangramento interno recente (2 a 4 semanas). Grande cirurgia até 3 semanas É importante que se definam alguns termos frequentemente confundidos em relação à abordagem do IAM através a angioplastia transluminal coronária (ATC): 29 - Angioplastia primária (ou angioplastia direta): ATC realizada nas primeiras 6-12 h do IAM, sem uso prévio de trombolíticos. - Angioplastia de resgate (ou salvamento): ATC realizada após o insucesso da terapêutica trombolítica. - Angioplastia imediata: ATC que se realiza imediatamente após a terapia trombolítica bem sucedida. - Angioplastia tardia: ATC que se realiza entre 1 e 7 dias, antes da alta hospitalar, com ou sem uso prévio de trombolíticos. Apesar das vantagens comprovadas da terapia trombolítica, algumas limitações persistem: - Cerca de 20% das artérias relacionadas ao infarto (ARI) permanecem ocluidas e cerca de 45% destas, tinham o fluxo restabelecido em apenas TIMI 2 - Não existe, até o momento, nenhum marcador clínico, eletrocardiográfico ou laboratorial eficaz e confiável de que ocorreu a reperfusão efetiva. - A isquemia recorrente ocorre em 15 a 30 % dos pacientes. - Nível elevado de acidentes vasculares encefálicos hemorrágicos: 0.5 à 1.5%. A reabertura da circulação coronariana é preditor independente de sobrevida a longo prazo (30). Tradicionalmente, reperfusão bem sucedida era considerada quando se restabelecia a circulação distal à obstrução da ARI. Essa observação levou ao estabelecimento da teoria da “artéria aberta”, que postulava que existe impacto prognóstico no IAM-ST caso a artéria seja recanalizada, inclusive após o período crítico inicial e durante as 6-12h após o início dos sintomas. Os mecanismos para esse benefício tardio seriam múltiplos e incluiriam efeitos como a diminuição do remodelamento miocárdico, a manutenção da estabilidade elétrica e a reperfusão do músculo miocárdico periinfarto, com melhora da funcionalidade ventricular. 30 Figura 3 – Fluxograma de terapia de reperfusão 31 5. PRINCIPAIS COMPLICAÇÕES DO IAM 5.1. Dor Torácica no Pós-Infarto Pacientes trombolizados podem evoluir com dor torácica por angina pós-infarto, reinfarto e pericardite pós-infarto. A dor torácica na emergência representa um grande desafio para o médico, pois, além de queixa frequente, compreende uma variedade de causas, com ampla gama de implicações clínicas. Por isso, o diagnóstico deve ser rápido e preciso, objetivando primordialmente o reconhecimento e tratamento das condições que oferecem risco de morte. Não podemos, contudo, pedir todos os exames complementares para todos os pacientes, pois nenhum sistema de saúde, mesmo privado, é capaz de suportar os custos. Pacientes que após trombólise voltam a ter dor precordial podem estar sofrendo um reinfarto, o melhor marcador precoce é a CKMB, uma vez que as troponinas permanecem elevadas por até cinco a dez dias. Há duas alternativas terapêuticas: Imediata cineangiografia (melhor conduta) Figura 4: Modelo de Cineangiografia Ou ainda uma nova trombólise química com t-PA, rt-PA ou TNK-tPA. 32 A pericardite pós-infarto geralmente ocorre em dois a quatro dias e pode causar também com tamponamento cardíaco. Deve suspeitar de pericardite em pacientes com dor constante, ventilatório-dependente. O tratamento da pericardite é analgesia, AAS 500 mg a cada 4 horas, reduzir as doses conforme melhora dos sintomas. Não deve ser prescrito AINES, assim como corticoesteróides. 5.2. Arritmias O IAM é particularmente associado a arritmias, tanto taquiarritmias quanto bradiarritmias. É importante lembrar situações que causam ou pioram arritmias, como alterações eletrolíticas. 5.3. Insuficiência cardíaca Pode ocorrer na fase aguda do infarto do miocárdio, tendo como alguns sintomas: taquicardia, pulsos finos, desconforto respiratório, extremidades frias, oligúria, pode aparecer 3ª bulha e estertores pulmonares. Pacientes que apresentam insuficiência cardíaca ou choque cardiogênico complicando um IAM, devem ser submetidos imediatamente a angioplastia coronariana. 5.4. Infarto de Ventrículo Direito (VD) O infarto do ventrículo direito (VD) não é entidade clínica rara. É observado em 10 a 50% dos pacientes com infarto da parede inferior do ventrículo esquerdo (VE). Estão agrupados nesse amplo espectro diagnóstico os pacientes com disfunção ventricular leve, assintomáticos e aqueles em choque cardiogênico. O reconhecimento do infarto do VD é importante, porque se associa a mais morbi e mortalidade imediatas, além de apresentar prioridade de tratamento específico. O diagnóstico do infarto do VD é baseado em sinais clínicos, eletrocardiográficos, hemodinâmicos e ecográficos. A abordagem adequada do infarto do VD inclui medidas para manter a pré-carga adequada e reduzir a pós-carga do VD, suporte inotrópico, e manutenção do sincronismo átrio-ventricular. 33 A terapia de reperfusão miocárdica com fibrinolítico ou a angioplastia primária deve ser indicada e iniciada precocemente. A maior parte dos pacientes que sobrevivem ao infarto do VD tem resolução completa das alterações hemodinâmicas com o restabelecimento da função do VD no decorrer de semanas a meses, sugerindo que “atordoamento” do miocárdio direito, em vez de necrose irreversível, ocorre com mais frequência. Figura 5: Fatores que levam ao Infarto de VD É importante salientar que, em pacientes com suspeita ou infarto de VD já esclarecido nunca deve se administrar nitratos, assim como diuréticos. 5.5. Complicações mecânicas Acometem até 15% dos óbitos dos pacientes com IAM, geralmente ocorre na primeira semana do infarto, diagnóstico rápido e tratamento são essenciais. Figura 6: Fatores mecânicos ilustrativos 34 Tabela 5 – Manejo das arritmias na fase aguda do IAM de acordo com ESC 2010: Condição Recomendação Classe FA, flutter, TV Cardioversão imediata I/C TV monomórfica sustentada refratária a Amiodarona IV IIa/B cardioversão Extrassístoles sustentada ventriculares, assintomática TV ou não Não se recomenda - ritmo antiarrítmico idioventricular TV polimórfica com QT de Base normal Sotalol, β-bloqueador, I/C amiodarona ou lidocaína TV polimórfica com QT de prolongado Base Corrigir eletólitos considerar magnésio Controle da FC na FA na ausência de IC β-bloqueador ou hipotensão e I/C ou I/C diltiazen Controle da FC na FA em pacientes com Digitálicos IIb/C IC Hipotensão ou IC associados a: - Bradicardia sinusal com hipotensão Atropina - BAV Mobitz II de 3º grau Marca-passo se não I/C responder a atropina *Extraída da the heart.org I/C 35 Tabela 6 – Tratamento da insuficiência cardíaca no IAM de acordo com ESC 2008, firmada na ESC 2010: Killip II - Oxigênio - Furosemida: 20 a 40 mg IV, pode ser repetida a cada 4 horas - Nitrato se não houver hipotensão - IECA, se não houver hipovolemia, hipercalemis ou hipotensão Killip III - Oxigênio - Furosemida 20 a 40 mg IV, pode ser repetida a cada 4 horas - Nitrato se não houver hipotensão - Inotrópico: dopamina e/ou dobutamina - Revascularização precoce Killip IV - Oxigênio e suporte ventilatório - Inotrópico: dopamina e dobutamina - Balão intra-aórtico - Revascularização precoce 36 Tabela 7 – Características das complicações mecânicas pós-IAM: Incidência Ruptura Ruptura de Parede Musculopapilar Livre 1% mais frequente 0,8-6,2%; posteromedial; pico no 1º dia (até 14° dia). na 1ª Ruptura de Septo ocorre 1-3% sem semana, reperfusão pico no 3° dia sem (ocorrendo trombólise 3-7° dias) e < 0,5 % com trombólise. Quadro Clínico Exame Físico Início súbito de Dor torácica Hipotensão grave, Hipotensão e pleurítica, hipertensão edema pulmonar hipotensão grave pulmonar e ou morte súbita. dispnéia Com ou sem Pulso paradoxal Sopro e frêmito, sopro de (47%), choque ou choque, edema, insuficiência AESP e grande B3, P2 mitral, choque e distensão jugular edema pulmonar Ecocardiograma VE hiperdinâmico Derrame Doppler e grave pericárdico, mostrando shunt regurgitação mitral tamponamento. VE-VD. Cateter de Artéria Grandes ondas V, Equalização das Grandes ondas V, Pulmonar hedge, pressões pressão de VD, oxigenação de diastólicas entre oxigenação câmaras direitas câmaras. AD/VD. 37 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Podem existir características clínicas associadas ao EAM que permitam prever o desenvolvimento subsequente de complicações, reiterando a importância dos mesmos na selecção dos doentes que devem ser submetidos a um acompanhamento mais incisivo e terapêutica mais eficaz, de modo a prevenir as complicações a que estão mais sujeitos. No entanto, devido às limitações demonstradas e outras que surgem ao longo dos tempos e em outras circunstâncias, muitas questões permanecem por esclarecer, sendo necessária e pertinente a realização de grandes estudos cardíacos, preventivos e até essenciais, com o intuito de se tentar identificar precocemente as circunstâncias, causas e consequências preventivas ou futuras, nas quais os doentes que apresentam riscos ou de imediatas emergências de desenvolver complicações, no sentido de se poder melhorar a sobrevida e reduzir as mortalidades e consequências associadas a esta patologia. Legenda: IAM: Infarte Agudo do Miocardio; ECG: Electrocardiograma de 12 derivações; MNM: Níveis de Marcadores de necrose do miocárdio; SCA: Síndrome Coronária Aguda; Seta para cima: Elevação típica dos valores plasmáticos dos MNM. Figura 7: Diagnósticos diferenciais de dor torácica com características sugestivas de isquemia/necrose miocárdica. 38 7. REFERÊNCIAS 39 13. Yavuz S. Surgery as early revascularization after acute myocardial infarction. Anadolu Kardiyol Derg 2008; Vols. 8:Suppl 2:84-92. 14. Kumar A, Cannon CP. Acute coronary syndromes: diagnosis and management, part I. Mayo Clin Proc 2009; 84(10):917-38. 15. Kolansky D. Acute coronary syndromes: morbidity, mortality, and pharmacoeconomic burden. Am J Manag Care 2009; 15(2 Suppl):S36-41. 16. Alpert JS, Thygesen K, Antman E, Bassand JP. Myocardial infarction redefined--a consensus document of The Joint European Society of Cardiology/American College of Cardiology Committee for the redefinition of myocardial infarction. 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