ATUALIZAÇÃO/REVISÃO A IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO DO COAGULOGRAMA EM PACIENTES SUBMETIDOS A PROCEDIMENTOS DE EXTRAÇÃO DENTÁRIA¹ THE IMPORTANCE OF THE EVALUATION OF COAGULOGRAM IN PATIENTS SUBMITTED TO PROCEDURES FOR DENTAL EXTRACTION Daniel Augusto dos Santos SOARES² e Artur dos Santos SOARES³ RESUMO Objetivo: descrever a importância da avaliação do coagulograma em pacientes submetidos a procedimentos de extração dentária. Método: foi realizada uma revisão de literatura em artigos nacionais e internacionais, monografias e revistas sobre o assunto. Considerações finais: pacientes com alterações na hemostasia podem ser submetidos a procedimentos odontológicos desde que o cirurgião-dentista realize, adequadamente, uma boa anamnese associada à interpretação correta do coagulograma. DECRITORES: coagulograma, hemostasia, extração dentária INTRODUÇÃO A hemostasia é um processo fisiológico encarregado de minimizar as perdas sanguíneas corporais. Este fenômeno é constituído por duas clássicas etapas: primária e secundária – as quais acontecem, simultaneamente, no organismo. ¹ Pacientes com coagulopatias e/ou distúrbios plaquetários constituem um grupo que requerem atenção e cuidados especiais na prática odontológica. Uma anamnese dirigida, associada a exame físico e bucal detalhados, podem ajudar na detecção dessas doenças. É necessário que o cirurgião-dentista esteja preparado para oferecer o tratamento adequado a esses pacientes.2 Diante do exposto, é de fundamental importância que o REVISÃO DE LITERATURA E DISCUSSÃO As coagulopatias hereditárias são doenças hemorrágicas resultantes da deficiência quantitativa e/ou qualitativa de um ou mais fatores da coagulação. Apresentam como característica comum a redução da formação de trombina, fator essencial para a coagulação do sangue.3 Os distúrbios plaquetários constituem doenças que decorrem de desordens numéricas (trombocitopenia ou 1 cirurgião-dentista aprofunde o conhecimento sobre o diagnóstico destas doenças com o intuito de prevenir danos como hemorragias pós-procedimentos cirúrgico-dentários e esteja apto a reverter os quadros hemorrágicos que possam suceder. OBJETIVO Descrever a importância da avaliação do coagulograma em pacientes submetidos a procedimentos de extração dentária. MÉTODO Realizada uma revisão de literatura em artigos nacionais e internacionais, monografias e revistas sobre o assunto. trombocitose) e/ou desordens de função plaquetária.3 Para que ocorra a hemostasia, é necessária uma perfeita harmonia entre as duas etapas de formação. 4 A hemostasia primária atua regredindo o sangramento por meio da formação de um trombo ou tampão plaquetário. A formação do tampão de plaquetas em um sítio de injúria vascular requer a integridade de três componentes da função plaquetária:adesão, ativação e Trabalho realizado no Centro Universitário do Pará (CESUPA) Médico graduado pela Universidade Federal do Pará (UFPA) 3 Discente do Curso de Odontologia do Centro Universitário do Pará (CESUPA) 2 agregação. Alterações que decorram em uma destas etapas condicionam a formação dos distúrbios plaquetários.4 A hemostasia secundária, subdividida em via intrínseca (fatores VIII, IX e XI), extrínseca (fator VII) e comum (X, V, protrombina e fibrinogênio), atua evitando o ressangramento, na formação de uma rede adesiva de fibrina que consolida o trombo. Alterações que ocorram em uma destas vias, no que concerne a deficiência de determinado fator, constituem as coagulopatias hereditárias.4 Diversos são os fatores que dificultam a hemostasia durante os procedimentos cirúrgico-dentários. Um dos maiores desafios a que o sistema hemostático pode ser submetido é o de uma extração dentária, principalmente dos molares ou pré-molares. Além disso, as limitações para o fechamento da ferida impostas pelos alvéolos ósseos e a atividade pró-fibrinolítica da saliva dificultam, também, o processo de hemostasia. 5 A dor constitui um dos fatores, que indiretamente, contribuem na alteração do fenômeno hemostático, uma vez que, muitos cirurgiões-dentistas, desconhecendo a sintomatologia de determinadas discrasias sanguíneas, prescrevem anti- inflamatórios a base de aspirina com o intuito de aliviar a sintomatologia álgica. A aspirina e seus derivados são contraindicados em função de sua atividade inibitória da agregação plaquetária. 6 O uso de anti-inflamatórios nesses pacientes deve ser restrito, em função de suas atividades anti-agregantes, devendo o hematologista ser consultado antes da sua prescrição.2 O controle da dor de origem odontológica nos pacientes portadores de coagulopatias deve ser feito com derivados de paracetamol ou dipirona. 7 Rizzatti e Franco (2008) afirmam que muitos pacientes não relatam história de sangramento de forma espontânea a menos que sejam especificamente inquiridos. Dessa forma, devido a sensibilidade neste tipo de inquérito, na detecção de alterações na hemostasia primária ou secundária, a história odontológica torna-se essencial na avaliação clínica do paciente com alteração hemorrágica.8 Neste sentido, associado a uma boa anamnese e a um exame físico completo, avaliação laboratorial do coagulograma torna-se, também, de fundamental importância na prevenção de determinadas coagulopatias durante os procedimentos dentários. 9 A análise de parâmetros como contagem de plaquetas, tempo de sangramento, tempo de tromboplastina parcial ativada (PTTa), tempo de protrombina (TAP) e índice de normalização internacional (INR) são suficientes para diagnosticar determinadas coagulopatias e previr danos severos. 10 Doenças relacionadas à hemostasia primária serão diagnosticadas principalmente nas alterações referentes ao tempo de sangramento e a contagem de plaquetas. São exemplos dessas nosologias: a púrpura trombocitopênica idiopática (PTI),púrpura trombocitopênica trombótica (PTT), doença de Von Willebrand, trombastenia de Glanzmann e síndrome de Bernard-Soulier.10 Doenças relacionadas à hemostasia secundária, como as hemofilias e a deficiência de vitamina K, podem ser diagnosticadasa partir da análise do PTTa (para via intrínseca) e TAP (via extrínseca). 10 Pacientes que apresentam trombocitopenia significativa (menor do que 50.000/mm³) e apresentam PTTa e TAP normais devem ser investigados para doenças como púrpura trombocitopênica idiopática, púrpura trombocitopência trombótica, síndrome hemolítico urêmica, anemia aplásica e leucemias. 11 Caso haja uma trombocitopenia associada a uma coagulopatia (alargamento do PTTa e/ou TAP) deve-se investigar doenças como insuficiência hepática com hiperesplenismo ou uso de heparina.11 No entanto se a plaquetometria for normal, mas o tempo de sangramento alargado deve-se suspeitar de doença de Von Willebrand.12 Em situações que os exames que avaliam a hemostasia primária estejam normais, contudo apenas o PTTa esteja alargado (TAP normal) deve-se investigar doenças relacionadas a deficiência dos fatores VIII e IX, hemofilia A e B, respectivamente. Contudo, caso a alteração ocorra apenas com o alargamento do TAP (PTTanormal) deve-se investigar doenças que cursam com diminuição do fator VII, como a deficiência de vitamina K.13 No entanto, existem situações na qual o paciente pode apresentar tempo de sangramento, contagem de plaquetas, PTTa e TAP normais, embora apresente alteração hemostática – como é o caso da deficiência do fator XIII.14 CONSIDERAÇÕES FINAIS Pacientes que apresentam alterações hemostáticas podem ser submetidos a procedimentos odontológicos, desde que sejam alguns cuidados necessários sejam tomados. O tratamento desses pacientes deve ser sempre bem planejado pelo cirurgião-dentista em conjunto com o hematologista. 2 Para isso, torna-se de suma importância que o cirurgião-dentista tenha conhecimento das diversas patologias hemorrágicas existentes, bem como suas manifestações clínicas e possíveis complicações por elas apresentadas.2, 15 O tratamento dos pacientes com coagulopatias depende do grau da doença e do tipo de procedimento a ser realizado. Em procedimentos pouco invasivos o paciente que apresenta uma desordem sanguínea leve, evolui apenas com uma discreta alteração sanguínea. No entanto, pacientes que apresentam desordens sanguíneas mais severas, podem estar submetidos a alteraçõessanguíneas mais graves, tais como hemorragias e infecções. 2, 8 Dessa forma, com o intuito de prevenir riscos de sangramento em pacientes que desconhecem seu diagnóstico de coagulopatia, uma boa anamnese associada à interpretação correta do coagulograma, torna-se fundamental na elaboração da propedêutica odontológica em pacientes com distúrbios hemorrágicos. SUMMARY THE IMPORTANCE OF THE EVALUATION OF COAGULOGRAM IN PATIENTSSUBMITTED TO PROCEDURES FORDENTALEXTRACTION Daniel Augusto dos Santos SOARES e Artur dos Santos SOARES Objective: to describe the importance of evaluate the coagulogram in patients submitted to dental extraction procedures. Method: it was performed a literature review in articles from national and international journals and monographs about the subject. Final Thoughts: patients with hemostasis disturbs can be submitted to dental procedures if the surgeon-dentist perform an adequate clinical history associated with a correct interpretation of the coagulogram. KEY WORDS: coagulogram, hemostasis, tooth extraction REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. Castaman, G. EpidemiologyanddiagnosisofvonWillebranddisease. Haematologica 86 (suppl II to no 10):1-9. 2001. Marques, RVCF; Conde, DM; Lopes, FF; Alves, CMC. Atendimento odontológico em pacientes com Hemofilia e Doença de vonWillebrand. Arq. Odontol. vol.46 no.3 Belo Horizonte jul./set. 2010. Antunes, SV; Thomas, S; Fujimoto, DE. et al. Manual de Tratamento das Coagulopatias Hereditarias. Coordenação da política nacional de sangue e Hemoderivados Departamento de atenção especializada Secretaria de atenção à saúde Ministério da saúde. março de 2005. Correia, MEP; Valente, LAS. Jr; MONTEIRO, EC. et al. Manual de atendimento Odontológico a pacientes com Coagulopatias hereditárias. 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