1 Neurociência e Saúde Mental ESTRESSE A vida moderna frequentemente expõe a situações cronicamente estressantes e a resposta do organismo ao estresse não é suprimida. O estresse é definido como a soma de respostas físicas e mentais da incapacidade de distinguir entre o real e as experiências e expectativas pessoais envolvendo aspectos físicos e mentais. O estresse está associado a acontecimentos físico e psíquico e a agitada dinâmica existencial da vida moderna, da sociedade industrial, competitividade, do consumismo desenfreado, etc. Portanto, viver estressadamente passou a ser considerado uma condição do homem moderno a que todos estão submetido. Isto porque nas últimas décadas, a expressiva mudança em todos os níveis da sociedade passou a exigir do ser humano uma grande capacidade de adaptação física, mental e social, o que expõe a conflito, ansiedade, angústia, desestabilização emocional e desrealização pessoal. Entretanto, não são só situações ruins que nos deixam estressados. Todas as grandes mudanças que passamos na vida são situações estressantes, mesmo se elas forem boas e satisfatórias. Portanto, é também um mecanismo normal necessário e benéfico ao organismo, pois faz com que o ser humano fique mais atento e sensível diante de situações de perigo ou de dificuldade. O estresse tem um importante papel no desempenho de atividades como competições esportivas, reuniões importantes, situações de perigo, em que o estresse pode ser um importante aliado proporcionando um aumento da capacidade física, raciocínio, memória e concentração através de alterações que desencadeia em todo o organismo. Já o estresse patológico surge como uma conseqüência direta dos persistentes esforços adaptativos à situação existencial. O que se deve fazer é reduzir os efeitos danosos do estresse, melhorando física e mentalmente a resistência, uma vez que acabar totalmente com ele deixaria o indivíduo vulnerável. O estresse pode ser causado pela mudança brusca no estilo de vida e a exposição a um determinado ambiente, que leva a pessoa a sentir angústia, impotência e desvalia. Quando os sintomas de estresse persistem por um longo intervalo de tempo, podem ocorrer ansiedade ou depressão. O mecanismo de defesa passa a não responder de uma forma eficaz, aumentando assim a possibilidade de vir a ocorrer doenças, notadamente cardiovasculares. Alguns fatores se destacam como causadores do estresse como desprezo afetivo-amoroso, dor, mágoa, luminosidade intensa, níveis altos de som. Eventos como nascimentos, morte, guerras, reuniões, casamentos, divórcios, mudanças, doenças crônicas e desemprego participam desta lista. Dívidas e falta de dinheiro, assim como 2 Neurociência e Saúde Mental situações de provas e exames, transito engarrafado ou lento e prazos pequenos para apresentar projetos. Relacionamento pessoal marcado por conflito e decepção. Estilo de vida marcado por ingesta de alimentos não saudáveis com nicotina, cafeína, bebida alcoólica, gorduras. Além de frequentes noitadas e violência física ou psíquica (abusos sexuais, codependência, submissão,...). O estresse pode ativar o sistema nervoso somático e o autônomo liberando em excesso hormônios como a adrenalina, epinefrina e cortisol. Por causa disso, notadamente por conta da adrenalina, os batimentos cardíacos aceleram, há dilatação das pupilas, aumenta a sudorese e aparece hiperglicemia (aumento dos níveis de açúcar no sangue), o que possibilita ao ser humano se por de prontidão, em alerta para fugir ou se defender de alguma ameaça. A digestão é paralisada, o baço se contrai para excretar glóbulos vermelhos aumentando o fornecimento de oxigênio aos tecidos e interrompendo a atividade imunológica (imunossupressão), por conta do cortisol. Nesta situação o estresse age a favor do indivíduo, o capacitando a se defender ou proteger-se. Neste caso fala-se em “sintomas positivo” tais como: aumento da vitalidade, manutenção do entusiasmo, do otimismo, da disposição física, interesse, entre outros. No entanto, o excesso de estresse pode causar desde dores pelo corpo e queda de cabelo até sintomas sérios como hipertensão e problemas no coração. O fato de um evento emocional como o estresse afetar o organismo se deve ao íntimo relacionamento entre o sistema imunológico (defesa), sistema nervoso (controle) e sistema endocrinológico (hormonal). Por isso um estresse intenso pode afetar qualquer um desses sistemas levando à diversidade dos sintomas negativos do estresse. O fato de um evento ser percebido como estressante não depende apenas da natureza do mesmo, mas do significado atribuído à este pela indivíduo, de seus recursos, de suas defesas e de seus mecanismos de enfrentamento. Isso tudo diz respeito à estruturação da personalidade. Se o estresse se torna persistente favorece o aparecimento dos “efeitos negativos”. Os fatores que contribuem para o sintoma negativo são situações persistentemente de difícil controle, exemplo: pressão no trabalho e frustrações no amor. Outra situação são eventos traumáticos (morte, acidente), relaxamento inadequado (falta de lazer) e acometimento de doenças graves (câncer, AIDS, cirurgias de grande porte e alto risco). A razão para o estresse é determinada pelo modo como a sociedade está organizada, pela industrialização, concorrência, consumismo, exigências da vida moderna, perda da liberdade de expressar os comportamentos e atitudes típicas do estado de tensão, o que obriga ao ser humano a comportar-se de modo politicamente correto, o que é incompatível com a natureza humana. Segundo a sensibilidade afetiva, cada um terá uma reação à realidade, a história de vida, as perspectivas do futuro; as reações de estresse podem ser mais ou menos favorecidas pelo grau de cultura, estrutura familiar e de personalidade. Exemplo: um pessimista favorece as reações negativas do estresse, enquanto o otimista ameniza seus os efeitos. As manifestações psíquicas que mais se destacam são a síndrome do pânico, transtorno fóbico social e o somatoforme. São estes quadros onde há um componente físico decorrente de fatores emocionais. Outro aspecto desfavorável diz respeito ao esgotamento, irritabilidade, falta de concentração ou memória prejudicada, depressão, pessimismo, queda da resistência imunológica e de cabelo, mau-humor, tremores ou sensação de fraqueza. Tensão ou dor 3 Neurociência e Saúde Mental muscular, inquietação, fadiga fácil, falta de ar ou sensação de fôlego curto, palpitações, sudorese, mãos frias e úmidas, boca seca, vertigens e tonturas. Náuseas e diarréia. Além de rubor ou calafrios, bolo na garganta, impaciência, resposta exagerada à surpresa e dificuldade em conciliar e manter o sono. Observa-se que o esgotamento acarreta sintomas muito próximos aos quadros de ansiedade; bem como da depressão como crises de choro imotivadas, angústia, tristeza e desânimo geral. Além disso, pode acarretar insuficiência suprarrenal devido ao excesso de liberação de corticóides. Persistindo o estado de estresse as suprarrenais podem entrar em falência produzindo cefaléia, fraqueza, astenia, perda de peso, febre, desidratação, emagrecimento, anorexia, hiperpigmentação de pele e mucosas, hipopigmentação dos mamilos, cianose, dores musculares e das juntas (artralgia). Além de alterações neuropsiquiátricas, tais como alteração da personalidade, confusão, torpor e sintomas psicóticos. Na ausência de corticosteroides ocorre hipotensão grave, choque e, nos casos mais graves, morte. Alterações da tireóide se fazem evidencia na secreção dos hormônios tireodianos que é regulada pelo hipotálamo. Este produz o neurohormônio chamado hormônio de liberação de tireotropina (TRH), o qual, chegando à hipófise, estimula a produção de outro hormônio, o hormônio estimulador da tireóide (TSH) estimulando a produção de Tiroxina. Esta é importante na regulação do metabolismo carboidratos, proteínas e lipídios e potencializa a ação de outros hormônios como as catecolaminas e o hormônio do crescimento. Disfunção desta glândula acarreta ainda o hipertiroidismo, gerando um quadro de irritação e ansiedade, suor excessivo, taquicardia, emagrecimento, pele quente, tremores e insônia, aumento de volume do pescoço e dos olhos. Ou o hipotiroidismo, gerando desânimo, apatia e depressão, fraqueza, diminuição da memória, aumento de peso, pele seca, queda de cabelos, constipação. O estresse pode também interferir com a função ovarianas levando a infertilidade, ocasionada por anovulação (falta de ovulação) que é desencadeada por estresse psicológico devido ao aumento da atividade dos neurônios dopaminérgicos e dos opiáceos endógenos (prostraglandinas) que levam a redução da produção do hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH). Outra impacto causado pelo estresse refere-se à dismenorréia (cólica menstrual) caracterizada por dor em cólica que pode ser acompanhada por náuseas, vômitos, cefaléia, lombalgia que surgem no período menstrual relacionada à tensão e ao estresse devido aumento acentuado das prostaglandinas ocasionando contração uterina, vasoespasmo arteriolar, isquemia e dor. A hiperprolactinemia ou galactorréia, secreção mamária de leite na ausência de gravidez ou período de lactação, é outro distúrbio hormonal causado por aumento dos níveis do hormônio prolactina (PRL) devido ao estresse. Assim como o diabetes devido ao distúrbio que envolve o metabolismo da glicose, das gorduras e das proteínas e que tem graves conseqüências. O estresse contínuo leva as glândulas suprarrenais a liberam adrenalina excessivamente. Este hormônio acelerar o coração liberando na circulação a glicose estocada no fígado e nos músculos. Para compensar a liberação aumentada de glicose, o pâncreas produz quantidades extras de insulina. Se o pâncreas chegar ao esgotamento o indivíduo se torna diabético. O estresse aciona mudanças no organismo e aumenta a probabilidade de desencadear doença. Piora problemas de saúde já existentes e influência diversas áreas do organismo: imunológica, hormonal, cardiológica, psíquica, etc. 4 Neurociência e Saúde Mental Deve-se dar ao estresse uma conotação preventiva e educacional, pois conhecendo suas causas, sinais e sintomas, aprende-se a lidar com ele de modo positivo e proveitoso. Como a energia necessária para esta adaptação é limitada, se houver persistência do estímulo estressor, mais cedo ou mais tarde o organismo entra em colapso. O que é perigoso à sua saúde é a velocidade com que as mudanças e as exigências ocorrem na vida moderna. Essas mudanças estão em toda a parte, em qualquer situação ou profissão. Os avanços da tecnologia, ciência, medicina, meio ambiente, organizações (religião, empresas, escolas, países,...), hábitos e costumes sociais, nas Leis e no conhecimento exigirão constantes adaptações tanto para os jovens como para os mais velhos. Não há como fugir a vida porque ela se faz momento a momento de forma completamente diferente e inovadora. Lutar contra a mudança é adoecer a própria existência. Portanto, torne o estresse um aliado, não... um inimigo! ________________________ Dr. Maurício Aranha - Sócio-Fundador da ANERJ - Associação dos Neurologistas do Estado do Rio de Janeiro. Filiado da SBNeC - Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento da USP. Filiado da APERJ Associação Psiquiátrica do Estado do Rio de Janeiro (Federada da ABP – Associação Brasileira de Psiquiatria e da WPA - Associação Mundial de Psiquiatria). Pesquisador do Núcleo de Ciências Médicas, Psicologia e Comportamento do Instituto de Ciências Cognitivas. Formação: Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil. Psiquiatria Forense pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil. Psiquiatria pela Universidade Estácio de Sá, Brasil. Psicopedagogia Clínica e Institucional pelo Grupo de Ação Educacional, Brasil. Psicologia Analítica pela Universidade Hermínio da Silveira e Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação, Brasil. Neurolingüística pelo Instituto NLP in Rio & NLP Institut Berlin, Brasil/Alemanha. Neurociência e Saúde Mental pelo Instituto de Neurociências y Salud Mental da Universidade da Catalunya, Espanha. E-mail: [email protected]