Neurociência e Saúde Mental

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Neurociência e Saúde Mental
ESTRESSE
A vida moderna frequentemente expõe a situações cronicamente
estressantes e a resposta do organismo ao estresse não é suprimida. O estresse é definido
como a soma de respostas físicas e mentais da incapacidade de distinguir entre o real e
as experiências e expectativas pessoais envolvendo aspectos físicos e mentais. O
estresse está associado a acontecimentos físico e psíquico e a agitada dinâmica
existencial da vida moderna, da sociedade industrial, competitividade, do consumismo
desenfreado, etc.
Portanto, viver estressadamente passou a ser considerado uma condição do
homem moderno a que todos estão submetido. Isto porque nas últimas décadas, a
expressiva mudança em todos os níveis da sociedade passou a exigir do ser humano
uma grande capacidade de adaptação física, mental e social, o que expõe a conflito,
ansiedade, angústia, desestabilização emocional e desrealização pessoal.
Entretanto, não são só situações ruins que nos deixam estressados. Todas as
grandes mudanças que passamos na vida são situações estressantes, mesmo se elas
forem boas e satisfatórias. Portanto, é também um mecanismo normal necessário e
benéfico ao organismo, pois faz com que o ser humano fique mais atento e sensível
diante de situações de perigo ou de dificuldade.
O estresse tem um importante papel no desempenho de atividades como
competições esportivas, reuniões importantes, situações de perigo, em que o estresse
pode ser um importante aliado proporcionando um aumento da capacidade física,
raciocínio, memória e concentração através de alterações que desencadeia em todo o
organismo.
Já o estresse patológico surge como uma conseqüência direta dos
persistentes esforços adaptativos à situação existencial. O que se deve fazer é reduzir os
efeitos danosos do estresse, melhorando física e mentalmente a resistência, uma vez que
acabar totalmente com ele deixaria o indivíduo vulnerável.
O estresse pode ser causado pela mudança brusca no estilo de vida e a
exposição a um determinado ambiente, que leva a pessoa a sentir angústia, impotência e
desvalia.
Quando os sintomas de estresse persistem por um longo intervalo de tempo,
podem ocorrer ansiedade ou depressão. O mecanismo de defesa passa a não responder
de uma forma eficaz, aumentando assim a possibilidade de vir a ocorrer doenças,
notadamente cardiovasculares.
Alguns fatores se destacam como causadores do estresse como desprezo
afetivo-amoroso, dor, mágoa, luminosidade intensa, níveis altos de som. Eventos como
nascimentos, morte, guerras, reuniões, casamentos, divórcios, mudanças, doenças
crônicas e desemprego participam desta lista. Dívidas e falta de dinheiro, assim como
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situações de provas e exames, transito engarrafado ou lento e prazos pequenos para
apresentar projetos. Relacionamento pessoal marcado por conflito e decepção. Estilo de
vida marcado por ingesta de alimentos não saudáveis com nicotina, cafeína, bebida
alcoólica, gorduras. Além de frequentes noitadas e violência física ou psíquica (abusos
sexuais, codependência, submissão,...).
O estresse pode ativar o sistema nervoso somático e o autônomo liberando
em excesso hormônios como a adrenalina, epinefrina e cortisol. Por causa disso,
notadamente por conta da adrenalina, os batimentos cardíacos aceleram, há dilatação
das pupilas, aumenta a sudorese e aparece hiperglicemia (aumento dos níveis de açúcar
no sangue), o que possibilita ao ser humano se por de prontidão, em alerta para fugir ou
se defender de alguma ameaça. A digestão é paralisada, o baço se contrai para excretar
glóbulos vermelhos aumentando o fornecimento de oxigênio aos tecidos e
interrompendo a atividade imunológica (imunossupressão), por conta do cortisol. Nesta
situação o estresse age a favor do indivíduo, o capacitando a se defender ou proteger-se.
Neste caso fala-se em “sintomas positivo” tais como: aumento da vitalidade,
manutenção do entusiasmo, do otimismo, da disposição física, interesse, entre outros.
No entanto, o excesso de estresse pode causar desde dores pelo corpo e
queda de cabelo até sintomas sérios como hipertensão e problemas no coração. O fato
de um evento emocional como o estresse afetar o organismo se deve ao íntimo
relacionamento entre o sistema imunológico (defesa), sistema nervoso (controle) e
sistema endocrinológico (hormonal). Por isso um estresse intenso pode afetar qualquer
um desses sistemas levando à diversidade dos sintomas negativos do estresse.
O fato de um evento ser percebido como estressante não depende apenas da
natureza do mesmo, mas do significado atribuído à este pela indivíduo, de seus
recursos, de suas defesas e de seus mecanismos de enfrentamento. Isso tudo diz respeito
à estruturação da personalidade.
Se o estresse se torna persistente favorece o aparecimento dos “efeitos
negativos”. Os fatores que contribuem para o sintoma negativo são situações
persistentemente de difícil controle, exemplo: pressão no trabalho e frustrações no
amor. Outra situação são eventos traumáticos (morte, acidente), relaxamento
inadequado (falta de lazer) e acometimento de doenças graves (câncer, AIDS, cirurgias
de grande porte e alto risco).
A razão para o estresse é determinada pelo modo como a sociedade está
organizada, pela industrialização, concorrência, consumismo, exigências da vida
moderna, perda da liberdade de expressar os comportamentos e atitudes típicas do
estado de tensão, o que obriga ao ser humano a comportar-se de modo politicamente
correto, o que é incompatível com a natureza humana.
Segundo a sensibilidade afetiva, cada um terá uma reação à realidade, a
história de vida, as perspectivas do futuro; as reações de estresse podem ser mais ou
menos favorecidas pelo grau de cultura, estrutura familiar e de personalidade. Exemplo:
um pessimista favorece as reações negativas do estresse, enquanto o otimista ameniza
seus os efeitos.
As manifestações psíquicas que mais se destacam são a síndrome do pânico,
transtorno fóbico social e o somatoforme. São estes quadros onde há um componente
físico decorrente de fatores emocionais.
Outro aspecto desfavorável diz respeito ao esgotamento, irritabilidade, falta
de concentração ou memória prejudicada, depressão, pessimismo, queda da resistência
imunológica e de cabelo, mau-humor, tremores ou sensação de fraqueza. Tensão ou dor
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muscular, inquietação, fadiga fácil, falta de ar ou sensação de fôlego curto, palpitações,
sudorese, mãos frias e úmidas, boca seca, vertigens e tonturas. Náuseas e diarréia. Além
de rubor ou calafrios, bolo na garganta, impaciência, resposta exagerada à surpresa e
dificuldade em conciliar e manter o sono. Observa-se que o esgotamento acarreta
sintomas muito próximos aos quadros de ansiedade; bem como da depressão como
crises de choro imotivadas, angústia, tristeza e desânimo geral.
Além disso, pode acarretar insuficiência suprarrenal devido ao excesso de
liberação de corticóides. Persistindo o estado de estresse as suprarrenais podem entrar
em falência produzindo cefaléia, fraqueza, astenia, perda de peso, febre, desidratação,
emagrecimento, anorexia, hiperpigmentação de pele e mucosas, hipopigmentação dos
mamilos, cianose, dores musculares e das juntas (artralgia). Além de alterações
neuropsiquiátricas, tais como alteração da personalidade, confusão, torpor e sintomas
psicóticos. Na ausência de corticosteroides ocorre hipotensão grave, choque e, nos casos
mais graves, morte.
Alterações da tireóide se fazem evidencia na secreção dos hormônios
tireodianos que é regulada pelo hipotálamo. Este produz o neurohormônio chamado
hormônio de liberação de tireotropina (TRH), o qual, chegando à hipófise, estimula a
produção de outro hormônio, o hormônio estimulador da tireóide (TSH) estimulando a
produção de Tiroxina. Esta é importante na regulação do metabolismo carboidratos,
proteínas e lipídios e potencializa a ação de outros hormônios como as catecolaminas e
o hormônio do crescimento. Disfunção desta glândula acarreta ainda o hipertiroidismo,
gerando um quadro de irritação e ansiedade, suor excessivo, taquicardia,
emagrecimento, pele quente, tremores e insônia, aumento de volume do pescoço e dos
olhos. Ou o hipotiroidismo, gerando desânimo, apatia e depressão, fraqueza, diminuição
da memória, aumento de peso, pele seca, queda de cabelos, constipação.
O estresse pode também interferir com a função ovarianas levando a
infertilidade, ocasionada por anovulação (falta de ovulação) que é desencadeada por
estresse psicológico devido ao aumento da atividade dos neurônios dopaminérgicos e
dos opiáceos endógenos (prostraglandinas) que levam a redução da produção do
hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH).
Outra impacto causado pelo estresse refere-se à dismenorréia (cólica
menstrual) caracterizada por dor em cólica que pode ser acompanhada por náuseas,
vômitos, cefaléia, lombalgia que surgem no período menstrual relacionada à tensão e ao
estresse devido aumento acentuado das prostaglandinas ocasionando contração uterina,
vasoespasmo arteriolar, isquemia e dor.
A hiperprolactinemia ou galactorréia, secreção mamária de leite na ausência
de gravidez ou período de lactação, é outro distúrbio hormonal causado por aumento
dos níveis do hormônio prolactina (PRL) devido ao estresse. Assim como o diabetes
devido ao distúrbio que envolve o metabolismo da glicose, das gorduras e das proteínas
e que tem graves conseqüências. O estresse contínuo leva as glândulas suprarrenais a
liberam adrenalina excessivamente. Este hormônio acelerar o coração liberando na
circulação a glicose estocada no fígado e nos músculos. Para compensar a liberação
aumentada de glicose, o pâncreas produz quantidades extras de insulina. Se o pâncreas
chegar ao esgotamento o indivíduo se torna diabético.
O estresse aciona mudanças no organismo e aumenta a probabilidade de
desencadear doença. Piora problemas de saúde já existentes e influência diversas áreas
do organismo: imunológica, hormonal, cardiológica, psíquica, etc.
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Deve-se dar ao estresse uma conotação preventiva e educacional, pois
conhecendo suas causas, sinais e sintomas, aprende-se a lidar com ele de modo positivo
e proveitoso. Como a energia necessária para esta adaptação é limitada, se houver
persistência do estímulo estressor, mais cedo ou mais tarde o organismo entra em
colapso.
O que é perigoso à sua saúde é a velocidade com que as mudanças e as
exigências ocorrem na vida moderna. Essas mudanças estão em toda a parte, em
qualquer situação ou profissão. Os avanços da tecnologia, ciência, medicina, meio
ambiente, organizações (religião, empresas, escolas, países,...), hábitos e costumes
sociais, nas Leis e no conhecimento exigirão constantes adaptações tanto para os jovens
como para os mais velhos. Não há como fugir a vida porque ela se faz momento a
momento de forma completamente diferente e inovadora. Lutar contra a mudança é
adoecer a própria existência. Portanto, torne o estresse um aliado, não... um inimigo!
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Dr. Maurício Aranha - Sócio-Fundador da ANERJ - Associação dos Neurologistas do Estado do Rio de Janeiro.
Filiado da SBNeC - Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento da USP. Filiado da APERJ Associação Psiquiátrica do Estado do Rio de Janeiro (Federada da ABP – Associação Brasileira de Psiquiatria e da
WPA - Associação Mundial de Psiquiatria). Pesquisador do Núcleo de Ciências Médicas, Psicologia e
Comportamento do Instituto de Ciências Cognitivas. Formação: Medicina pela Universidade Federal de Juiz de
Fora, Brasil. Psiquiatria Forense pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil. Psiquiatria pela Universidade
Estácio de Sá, Brasil. Psicopedagogia Clínica e Institucional pelo Grupo de Ação Educacional, Brasil. Psicologia
Analítica pela Universidade Hermínio da Silveira e Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação, Brasil.
Neurolingüística pelo Instituto NLP in Rio & NLP Institut Berlin, Brasil/Alemanha. Neurociência e Saúde Mental
pelo Instituto de Neurociências y Salud Mental da Universidade da Catalunya, Espanha. E-mail: [email protected]
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