AVALIAÇÃO DO DIMORFISMO DE CANDIDA ALBICANS POR MACRÓFAGOS ATIVADOS Kamila Landucci Bonifácio (PIBIC/CNPq-UEL), Thais Herrero Geraldino (Mestranda Patologia Experimental/UEL), Lorena Flor da Rosa Santos Silva(Fundação Araucária/UEL), Ionice Felipe (Orientador), e-mail: [email protected] Universidade Estadual de Londrina/Centro de Ciências Biológicas/Londrina, PR Ciências Biológicas/ Imunologia Palavras-chave: Candida albicans, Concanavalina-A, fagocitose Resumo Neste trabalho foi investigado o possível aumento de eficácia de macrófagos de camundongos pré-tratados com concanavalina-A (Con-A) para fagocitar e destruir Candida albicans, além do dimorfismo durante os ensaios fagocíticos.Os macrófagos peritoneais de camundongos prétratados por 3 dias com Con-A ou tampão fosfato (PBS) foram co-incubados com isolados de C. albicans CR1, CR15 e 577 por 2h. Os macrófagos ativados com Con-A fagocitaram significativamente mais em comparação com os macrófagos tratados com PBS. A transição da forma leveduriforme para filamentosa durante co-incubação por 2h com macrófagos controles foi entre 73-80%, enquanto que na presença de macrófagos ativados com ConA, foi de 35-40%.Os resultados sugerem que pelo tratamento com Con-A ocorreu a ativação dos macrófagos, os quais foram mais eficientes para fagocitar e destruir C. albicans reduzindo significativamente o dimorfismo do fungo. Introdução Candida albicans, são freqüentemente isolados das superfícies mucosas de indivíduos saudáveis. Alterações que levam a injuria de tegumento ou disfunções imunológicas propiciam colonização de tecidos por este patógeno . O dimorfismo de C. albicans compreende crescimento em levedura (blastoconídeos) e forma filamentosa [1] multicelular e interfere na patogenicidade. As hifas têm maior capacidade de aderir e penetrar nas células epiteliais humanas do que os blastoconídios. [3]. A grande virulência atribuída à transição levedura- forma filamentosa pode ser devido em partes a deficiência da indução para a síntese de IL-12 pelo hospedeiro. A IL-12 é considerada uma citocina importante na defesa anti candidíase em níveis mucosos e sistêmicos. Experimentos evidenciaram que leveduras induzem a produção de IL-12 e IL-10 e células do tubo germinativo induzem predominantemente IL-10, citocina associada a candidíase em camundongos . Concanavalina-A (Con-A) é uma lectina mitogenica, isolada de Canavalia ensiformis, e apresenta ampla ação biológica através da interação com o sítios de açúcares, mimetizando a ativação por antígenos e induzindo a ativação policlonal de linfócitos. Con-A liga-se diretamente as moléculas de carboidratos do complexo de histocompatibilidade (MHC) e ao receptor de linfócitos T (TCR), resultando na indução de resposta celular . A ativação de células Th1 induz a produção de citocinas como IL-12, IFN-γ e TNF-α [2]. Materiais e Métodos Animais Foram utilizados camundongos suíços, machos, pesando entre 2832g e 6-12 semanas de idade e receberam ração estéril e água a vontade. O trabalho recebeu aprovação do Comitê de Ética em experimentação animal da Universidade Estadual de Londrina - UEL. Isolados de Candida albicans Isolados de C. albicans CR1 e CR15 foram obtidos da mucosa oral de pacientes infectados pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) na Faculdade de Odontologia e no Hospital Universitário da UEL. Após crescimento em caldo Sabouraud dextrose, os isolados foram utilizados após duas passagens em camundongos. C. albicans 577 foi isolada da pele de paciente HIV-negativo. Cultura de Candida albicans Os isolados de C. albicans (CR1, CR15 e 577) foram mantidos em ágar Saboraud destroxe em temperatura ambiente. Os blastoconídeos foram obtidos por crescimento em caldo Saboraud dextrose por 24h a 28ºC e lavadas 3 vezes com salina tamponada com fosfato (PBS). Macrófagos e Ensaio fagocítico Os camundongos foram tratados com dose única de 250μg de Con-A (Sigma)/ 250μL de PBS, intraperitonealmente (i.p.) ou somente PBS. Após 3 dias os animais foram sacrificados em éter etílico, as células do exudato peritoneal foram coletadas por lavagem da cavidade peritoneal com 3ml de meio RPMI 1640 contendo 5% de SFB inativado por aquecimento. As células foram ajustadas a 4X10 5 células/ml e adicionadas às lamínulas (22x22mm) contidas em placas de cultivo celular de 6 poços e incubadas por 1h a 37ºC. Após este período de incubação as células foram lavadas com meio RPMI 1640, para remoção das células não aderentes. Monocamadas de macrófagos peritoneais ativados com Con-A ou PBS foram co-incubadas com C. albicans CR1, CR15 e 577 por 2h a 37ºC, opsonizadas ou não-opsonizadas com soro fresco de camundongo nãoimune (2,5%) em uma proporção de 1:5. A porcentagem de macrófagos fagocitando foi determinada após coloração das células com Giemsa pela contagem de 10 campos em imersão. Dimorfismo O dimorfismo foi avaliado após 2h de coincubação de macrófagos com C. albicans CR1, CR15 e 577. Leveduras e formas filamentosas foram contadas dentro e fora dos macrófagos em imersão (10 campos), usando microscópio Nikon Alphaphot YS. Resultados Diferenças morfológicas entre os três isolados de Candida albicans Em tese de mestrado De Vito (2007) [6] demonstrou diferenças morfológicas entre os três isolados utilizados neste estudo. Blatoconídeos de C. albicans 577 são ovais, C. albicans CR1 são esféricas e pequenas e C. albicans CR15 parece um grão de uva e são duas vezes maiores que CR1. Efeito da administração de Con-A na fagocitose de Candida A porcentagem de macrófagos fagocitando na ausência de soro fresco de camundongo não imune foi significantemente maior nos macrófagos de camundongos pretratados com Con-A, comparados ao controle. A opsonização com soro fresco de camundongo não imune aumentou a internalização dos três isolados testados, em ambas as populações de macrófagos, os pretratados com Con-A ou PBS, sendo que a internalização foi significantemente maior nos pretratados com Con-A que nos pretratados com PBS. Transição da forma de levedura para filamentosa durante coincubação com macrófagos A capacidade de C. albicans diferenciar-se rápida e reversivelmente entre levedura e forma filamentosa, foi investigada durante co-incubação com macrófagos pretratados com Con-A ou PBS. Após 2h de co-incubação dos macrófagos com os três isolados, verificou-se que o dimorfismo foi maior nos macrófagos dos camundongos pretratados com PBS comparados com Con-A. (Tabela1). Tabela 1. Transição para formas filamentosas durante coincubação de blastoconídeos com macrófagos. Con-A PBS Con-A+S PBS+S Isolados Filamento Filamento Filamentos Filamentos s s CR15 36.5±6.3 74.7±11.2* 30.9±4.5 70.6±12.1* 577 35.6±6.3 72.6± 2.3* 32.2±6.3 68.2±13.0* CR1 40.2±9.4 78.1±10.7* 25.7±8.1 69.1±8,5* C. albicans foram coincubadas com macrófagos a 37ºC por 2h. A análise foi realizada através da contagem de dez campos em imersão e a porcentagem de formas filamentosas foi determinada na presença (S) ou ausência de soro fresco de camundongo não imune. Os resultados são média ± desvio padrão para quatro experimentos. *P <0.01 em relação aos macrófagos pré-tratados com Con-A. Discussão Os resultados dos ensaios fagocíticos mostraram que os macrófagos pré-tratados com Con-A mantiveram um alto potencial para ingerir C. albicans (CR1, CR15 e 577) comparado aos macrófagos pré-tratados com PBS. A adição de soro fresco de camundongo aumentou a fagocitose em ambas às populações de macrófagos, mas nos pre-tratados com Con-A foi significantemente superior, comparado aos pré-tratados com PBS. Evidências indicam que aumento na capacidade de macrófagos pré-tratados com Con-A fagocitar e matar C. albicans (CR1, CR15 e 577) está relacionada ao aumento da atividade dos receptores de manose nestes macrófagos. Estes receptores desenvolvem um importante papel na defesa do hospedeiro e providenciam um elo entre a imunidade inata e a imunidade adaptativa porque estão associados com uma via de transdução de sinal levando a produção de citocinas como IL-1β, IL-6 e TNF-α [5]. Em tese de Geraldino (2010) e publicado Geraldino et al.,(2010) [4] foi verificado níveis elevado de TNF-α que correlaciona com o impedimento da transição da forma leveduriforme para filamentosas em macrófagos ativados com Con-A. Em contraste os macrófagos controle mantiveram níveis basais de TNF-α, o que proporcionou um melhor ambiente para a transição da forma mais agressiva, ou seja, de levedura para forma filamentosa. Conclusão A ativação dos macrófagos com Con-A melhorou a capacidade de fagocitar e matar C. albicans. Este fato pode ser devido ao aumento da atividade dos receptores de manose, produção de TNF-α contendo o desenvolvimento de fatores de virulência, como a transição da forma de levedura para filamentosa, que seria crucial para a sobrevivência da Candida. Referencias Bibliográficas 1. Alvares, C. A.; Svidzinsk, T. I. E. e Consolaro, M. E. L.. Candidíase Vulvovaginal: fatores predisponentes do hospedeiro e virulência das leveduras. J Bras. Patol. Med. Lab. 2007, 43, 319. 2. Bertram, E. M.; Jilbert, A. R.; Kotlarki, L. Optimization of an in vitro assay which measures the proliferation of duck T lymphocytes from peripheral blood in response to stimulation with PHA and Con-A. Dev. Comp. Immunol.1997, 21, 229. 3. Fé d`Ostiani, C et al.,Dendritic cells discriminate between yeasts and hyphae of fungus Candida albicans: Implications for initiation of helper cell immunity in vitro and in vivo. J. Exp. Med. 2000, 191, 1661. 4. Geraldino, T. H.; et al.; Increased tumour necrosis factor-α production, higher mannose receptor activity to kill Candida by concanavalin-A activated macrophages. FEMS Immun. Med. Microbiol. 2010, 59, 11. 5. Netea, M. G.; et al., Immune sensing of Candida albicans requires cooperative recognition of mannans ang glucans by lectin and Toll-like receptors. J. Clin. Invest., 2006, 116, 1642. 6. de VITO, E. Apoptose de macrófagos residentes e ativados por Concanavalina-A após fagocitose de Candida albicans. Tese Mestrado, Universidade Estadual de Londrina, 2007.