m Pró-Reitoria de Graduação Curso de Psicologia Trabalho de Conclusão de Curso O INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO E SUAS CONSEQUÊNCIAS PSICOSSOCIAIS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA. Autora: Sandra dos Reis de Castro Orientadora: Prof.ª Dr.ª Virginia Turra Brasília - DF 2014 SANDRA DOS REIS DE CASTRO O INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO E SUAS CONSEQUÊNCIAS PSICOSSOCIAIS: UMA REVISSÃO SISTEMÁTICA. Monografia apresentada ao curso de graduação em Psicologia da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharelado em Psicologia. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Virginia Turra Brasília 2014 DEDICATÓRIA Em especial a Deus, por tudo em minha vida; Ao meu pai Albino e minha mãe Enícia que mesmo estando longe, me apoiaram nos momentos mais difíceis; À minha irmã Simone, pela amizade e carinho; Ao meu irmão Leandro e minha cunhada Shirley, pela amizade e companheirismo; Ao meu filho, Eduardo, pelo carinho e compreensão nessa longa caminhada. AGRADECIMENTOS A Deus Um agradecimento, especial, a Deus, pelo conhecimento, pela força e coragem que a cada dia me iluminava ao caminho a ser percorrido. Às Professoras Lilian Maria Borges e Virginia Turra Agradeço pela colaboração da Dra. Lilian Maria Borges e minha orientadora, Dra. Virginia Turra, pela confiança depositada em mim e pelas orientações que tornaram possíveis a construção desse trabalho. Um agradecimento especial à minha orientadora, Dra. Virginia Turra pela dedicação do seu tempo e pela partilha de sua experiência para que minha formação fosse também aprendizado de vida. Agradeço, ainda, pela sabedoria e experiência que me ajudou não apenas a superar os desafios do estudo, mas também o medo e a insegurança que envolve um trabalho de conclusão de curso. À Família Agradeço aos meus familiares pelo incentivo e apoio recebido, em especial aos meus pais, Albino e Enícia, meus maiores exemplo de vida, deixando muitas vezes de viver a própria vida para tornar meus sonhos possíveis. Obrigada por cada incentivo e orientação, pelas orações em meu favor. Meus irmãos, Leandro e Simone, obrigada pelo companheirismo e força que me permitiram acreditar que seria possível chegar ao final dessa graduação. Ao meu amado e querido filho Eduardo, que ainda criança soube compreender e ter sabedoria para atravessar os momentos mais difíceis e esperar o tempo para uma brincadeira, um carinho. Às Colegas e Amigas Agradeço, ainda, às minhas colegas: Erlanda Maia, Eudiléia de Fátima e Flávia Adami que ao longo desta graduação foram fonte de companheirismo e amizade. Além de me apoiarem nos momentos mais difíceis. RESUMO Referência: CASTRO, S. R. O infarto Agudo do Miocárdio e suas consequências psicossociais: Uma Revisão Sistemática. 2014. 57f. Monografia (Psicologia) – Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2014. As doenças coronarianas representam um grave problema de Saúde Pública, com índices significativos de morte e comprometimento permanente. Sabe-se que os comportamentos de saúde, os fatores emocionais e psicossociais estão diretamente ligados aos fatores de risco, desencadeamento e reabilitação, demonstrando ligações entre cardiopatia e vida psíquica, portanto cresce a necessidade de publicações acessíveis ao Psicólogo brasileiro que possam subsidiar a crescente inserção do profissional Psicólogo na crescente demanda por atendimento na área. Este estudo tem como objetivo verificar se há um volume significativo de publicações recentes Qualis A das áreas de Psicologia e de Cardiologia, em língua portuguesa, que abordem os aspectos psicossociais relacionados ao Infarto Agudo do Miocárdio - IAM. Foi realizada uma revisão sistemática da literatura em três revistas Qualis A de Psicologia e em uma revista com publicações significativas da área de Cardiologia, em vista da escassez de publicações específicas sobre o IAM, ampliou-se a pesquisa de forma a considerar as publicações que estejam relacionadas às doenças cardiológicas, e foram selecionadas oito publicações, segundo os critérios de inclusão. Os resultados encontrados revelam escassez de publicações atuais sobre os aspectos psicossociais específicos ao IAM. No entanto, o IAM é uma ramificação das doenças cardiológicas, e, portanto, as publicações evidenciaram a relação entre fatores de riscos, aspectos emocionais e psicossociais com as doenças cardiológicas. Percebe-se que as atividades físicas (dança e atividade sexual) e a rede de apoio têm se mostrado benéficos na reabilitação e retorno à vida cotidiana de pacientes cardiovasculares. Palavras-chave: Infarto; Psicologia; Cardiologia; Consequências Psicossociais. ABSTRACT Coronary heart disease represent a serious public health problem, with significant rates of death and permanent impairment. We know that health behaviors, emotional and psychosocial factors are directly related to risk, development and rehabilitation factors, demonstrating links between heart disease and mental life, so increase the need for affordable publications to Psychologist that can support the integration professional Psychologist in increasing demand for care in the area. This study aims to determine whether there is a significant volume of recent publications Qualis A the areas of Psychology and cardiology, in Portuguese, that address the psychosocial aspects related to Acute Myocardial Infarction - IAM. A systematic literature review was performed in three Qualis A the Psychology and a magazine with significant publications in the field of Cardiology in view of the scarcity of publications focusing on the IAM has expanded the research in order to consider the publications that are related to cardiac diseases, and eight articles were selected according to the inclusion criteria. The results showed lack of current publications on the psychosocial aspects specific to IAM. However, the IAM is a branch of cardiac disease, and therefore the publications showed the relationship between risk factors, emotional and psychological aspects with cardiac disease. It is noticed that the physical activities (dance and sexual activity) and support network have proven beneficial in the rehabilitation and return to everyday life of cardiovascular patients. Keywords: infarction; psychology; Cardiology; Psychosocial consequences. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 8 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................................................... 11 2.1 CARACTERIZAÇÃO DO INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO.............................. 11 2.2 FATORES DE RISCO PARA O INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO ..................... 13 2.3 REABILITAÇÃO E TRATAMENTO DO INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO ..... 16 2.4 ASPECTOS PSICOSSOCIAIS DO INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO ................ 19 2.5 MANEJO EMOCIONAL ............................................................................................... 25 3 OBJETIVO .......................................................................................................................... 27 3.1. OBJETIVO GERAL ...................................................................................................... 27 4 MÉTODO ............................................................................................................................. 28 5 RESULTADOS .................................................................................................................... 30 6 DISCUSSÃO ........................................................................................................................ 44 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 52 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 54 8 1 INTRODUÇÃO O tema de interesse central desta pesquisa centra-se na relação entre doença coronária e emoções, tendo em vista a crença do papel do coração como centro das emoções e da vida. Será abordado principalmente o que se tem produzido em termos de pesquisas científicas disponíveis em língua portuguesa que abordam aspectos psicológicos ligados às doenças cardíacas, mais especificamente, ao Infarto Agudo do Miocárdio (IAM). Desde a antiguidade, o coração é entendido como órgão da vida e das emoções, o motor da existência (SOARES, 2005). Nessa perspectiva, devido à carga simbólica desse órgão, o cardiopata ao saber-se “doente do coração” pode atribuir um significado peculiar ao seu diagnóstico (LAMOSA, 1990). Sendo assim, torna-se essencial compreender como a pessoa vivencia a cardiopatia e que impacto isso tem na sua vida psíquica e reabilitação psicossocial. As doenças cardiovasculares representam um grave problema de Saúde Pública (NIEMAM, 1999; BERRY; CUNHA, 2010). Nas últimas décadas, observa-se um aumento significativo deste tipo de adoecimento, que constitui uma das principais causas de mortalidade no mundo. Atualmente, doenças desta natureza ocupam uma das principais causas de morte no Brasil, atingindo todas as faixas etárias (SOUSA; OLIVEIRA, 2005). Segundo dados do IBGE (2009), o país tem experimentado uma transição epidemiológica, com alterações relevantes no quadro de morbimortalidade. As doenças infectocontagiosas, em 1950, representavam 40% das mortes registradas, hoje são responsáveis por menos de 10%. O oposto ocorreu em relação às doenças cardiovasculares que, naquele ano, representavam 12% das causas de mortes e, atualmente, representam mais de 40%. De acordo com dados do Ministério da Saúde apurados no período de 2010, cerca de 320 a cada 100.0000 pessoas morreram devido a doenças do aparelho circulatório, destas 170/100.0000 eram do sexo masculino e 150/100.0000 do sexo feminino (BRASIL, 2011). Embora a doença coronária seja frequentemente relacionada ao processo de envelhecimento, este perfil vem sendo modificado, pois a população mais jovem também pode ser acometida pela doença, que tem atingido um número cada vez maior de pessoas em uma faixa etária cada vez mais baixa (SOARES, 2005). Segundo os dados do Ministério da Saúde apurados no período de 2010, cerca de 110 a cada 100.0000 pessoas morreram de doenças do aparelho circulatório na faixa etária de 40-59 anos, já com faixa etária acima de 60 anos esse número é cerca de 1.400 a cada 100.0000 pessoas (BRASIL, 2011). 9 Segundo Conti et al. (2002 apud Soares, 2005), no Brasil, durante o ano de 2000, 4.549 pacientes com menos de 45 anos de idade foram hospitalizados com Infarto Agudo do Miocárdio (IAM). Geralmente os pacientes mais jovens quando sofrem esta doença costumam ter consequências mais severas, tanto psicossociais como econômicas, em virtude de estarem em suas fases mais produtivas de vida. Segundo Kubzansky e Kawachi (2000, apud BONOMO; ARAÚJO, 2009), já foram reunidas evidências de determinantes biológicos, comportamentais e psicossociais como fatores de risco identificados para doenças do coração, mas sabe-se que, atualmente, fatores orgânicos como hipertensão, hipercolesterolemia, obesidade e diabetes explicam 40% das ocorrências de doenças cardíacas. Sendo assim, este tipo de adoecimento está relacionado a fatores comportamentais, tais como sedentarismo e hábitos alimentares incorretos, bem como a fatores emocionais, tais como estresse e irritação. As pessoas vivem em ritmo acelerado, com urgência em tudo que vão fazer. Por esses e outros motivos, os hábitos alimentares incorretos e o estilo de vida sedentário são fenômenos que tendem a aumentar cada vez mais a incidência de doenças desta natureza (SOUSA; OLIVEIRA, 2005). Segundo Sousa e Oliveira (2005), as doenças cardiovasculares interferem de forma significativa no desempenho físico, mental e emocional das pessoas em suas fases produtivas de vida. Para Gomes et al. (2011), esta doença pode limitar o indivíduo em uma série de atividades diárias, dentre elas o trabalho. Como o trabalho é visto como uma fonte de atividade física e intelectual, além de potencial fonte de prazer, à medida que a pessoa percebe-se incapaz de trabalhar por limitação da doença isso pode acarretar prejuízos relevantes à sua dinâmica psíquica e subjetiva. Levando em consideração que esta doença tem sido cada vez mais causa de morbidade e mortalidade em todo mundo, e que além do comprometimento biológico gera consequências psicossoais que afeta de forma significativa o contexto de vida das pessoas, torna-se necessário, nesse sentido, estudos que melhor evidenciem esse impacto e que ajude a compreender como as pessoas podem manejá-los com um mínimo de prejuízo à qualidade de vida. Segundo Colombo e Aguillar (1997), dentre as doenças cardiovasculares, a de maior incidência é a doença arterial coronária (DAC). As principais manifestações clínicas da doença coronariana são a angina instável, a morte súbita e o infarto agudo do miocárdio IAM. O IAM constitui uma condição mórbida geradora de importantes consequências na vida diária das pessoas. Ou seja, além de todo comprometimento e limitações impostas pela 10 doença, há exigências de adesão ao tratamento, incluindo o uso de uma série de medicamentos, assim como de adaptações na rotina necessárias para reduzir o risco de novos episódios da doença. Tudo isso afeta as pessoas em seus aspectos psicológicos e sociais (SOUSA; OLIVEIRA, 2005). Apesar de constituir importante problema de saúde pública, ainda são poucos os estudos que apresentam, em perspectiva qualitativa, as percepções e experiências de pessoas que vivenciaram o IAM, em especial no que se refere à análise da relação entre doenças cardiovasculares e emoções. Em face dessa realidade, esta pesquisa tem como objetivo levantar as publicações científicas das revistas de melhor qualificação disponíveis em língua portuguesa que abordam aspectos psicológicos ligados às doenças cardíacas, mais especificamente, o Infarto Agudo do Miocárdio (IAM). Estudos desta natureza poderão dar subsídio para os profissionais de saúde ampliarem a compreensão dos processos que são vivenciados pelo paciente coronário e que interferem de forma significativa na adesão a seus planos de tratamento. Com isso, espera-se possibilitar, sobretudo a compreensão do que tange aos aspectos subjetivos vivenciados por tais pessoas, tendo em vista que a DAC é uma doença crônica que costuma afetar de forma significativa a rotina de vida da pessoa e suas expectativas para o futuro. O interesse pelo tema em estudo, além de significativa necessidade de pesquisas científicos que possam subsidiar a crescente inserção do profissional Psicólogo na crescente demanda por atendimento na área, aliou-se a uma vivência pessoal de uma doença cardíaca na família, o que tem despertado em mim interesse em compreender a relação entre cardiopatia e vida psíquica, visto que os aspectos psicossociais têm sido abordados como algo que interfere em doenças desta natureza. Em decorrência da importância das doenças coronarianas como grave problema de saúde pública e com aumento significativo de mortalidade ligada ao IAM, colocamos a questão: há um volume significativo de publicações recentes de Qualis A das áreas de Psicologia e de Cardiologia, em língua portuguesa, que abordam os aspectos psicossociais que estão ligados ao Infarto Agudo do Miocárdio? 11 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Apresentam-se os conceitos teóricos relacionados ao tema a ser desenvolvido, nesse estudo é o Infarto Agudo do Miocárdio e serão destacados a caracterização, os fatores de risco, a reabilitação e tratamento, os aspectos psicossociais e o manejo emocional relacionados ao IAM. 2.1 CARACTERIZAÇÃO DO INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO As doenças cardiovasculares constituem uma preocupação em termos de saúde pública. Segundo Nieman (1999), este é o termo genérico para diferentes doenças do coração e de seus vasos, cujos tipos mais comuns são Apoplexia ou Acidente Vascular Encefálico, Doenças Hipertensivas e Coronariopatia (POLLOCK, 1991 apud VARELA, 2004). Este último inclui o ataque cardíaco, também denominado de Infarto Agudo do Miocárdio (IAM), que constitui o foco deste estudo. A principal forma de doença cardiovascular é a Doença Arterial Coronária (DAC), também conhecida como doença isquêmica cardíaca. Nesta doença as artérias que suprem o coração são restringidas ou entupidas devido à aterosclerose ou à arteriosclerose. A aterosclerose é resultado do acúmulo de gorduras e colesterol nas paredes das artérias coronárias. Na medida em que as paredes dos vasos engrossam e endurecem, ocorre a restrição de fluxo sanguíneo para áreas que normalmente são supridas pela artéria. Na arteriosclerose ou “endurecimento das artérias” ocorre à perda da elasticidade das artérias coronárias, dificultando a expansão e elasticidade destas, o que restringe o transporte dos volumes de sangue necessários durante os esforços físicos. Além da probabilidade de um coágulo de sangue se formar e bloquear uma das artérias coronárias que perdeu sua elasticidade devido à arteriosclerose (STRAUB, 2005). Para Soares (2005), a DAC é caracterizada pela formação de placas de gordura na camada íntima das artérias que irrigam o coração e, dessa forma, ocorre à redução da passagem do fluxo sanguíneo. Uma das causas da lesão aterosclerótica é o consumo exagerado de gorduras. As gorduras associam-se ao colesterol, triglicerídeos, fosfolipídios e lipoproteínas e ficam retidos nas artérias. Tal processo tem o seguinte percurso: as enzimas que se encontram nas paredes dos vasos transformam as gorduras em colesterol e ácidos graxos. Estes últimos causam irritação nas artérias, gerando um processo inflamatório e formando um tecido conjuntivo rígido e esclerótico, que endurece a parede do vaso. 12 Um dos maiores agravantes da DAC é que ela instala-se de forma progressiva, podendo ser assintomática ou sintomática (através de crises anginosas), que podem levar ao infarto. As principais manifestações clínicas da DAC são a angina estável, o IAM e a morte súbita (COLOMBO; AGUILLAR, 1997; ABREU-RODRIGUES; SEIDL, 2008). De acordo com Soares (2005), o que ocorre no IAM é uma privação de fluxo sanguíneo e oxigênio em uma área do músculo cardíaco por um período prolongado, geralmente de 20 a 30 minutos. Dessa forma, se o fluxo sanguíneo não se estabelece rapidamente, as células do músculo cardíaco irrigadas por essa artéria começam a morrer devido à isquemia. A principal etiologia do IAM é a obstrução de uma artéria coronária por uma placa de aterosclerose ou por um coágulo de sangue. Essa obstrução impede a passagem de sangue para uma determinada área do coração irrigada pela coronária. Esta área se torna isquêmica e pode evoluir para uma necrose (morte das células). Se o paciente sobreviver ao infarto, a área é substituída por fibrose, sendo esta área infartada não mais funcionante (VARELA, 2004; STRAUB, 2005). Em termos médicos, o IAM “é definido como um foco de necrose resultante de baixa perfusão tecidual, com sinais e sintomas consequentes da morte celular cardíaca” (ZORNFF, 2001, p.235). No IAM, a isquemia dá-se de forma intensa e contínua, levando assim, a morte de algumas células do músculo cardíaco devido à interrupção do suprimento de sangue no miocárdio. A maioria dos infartos ocorre por obstrução de artérias com pequenas placas de colesterol, que podem passar despercebidas nos exames preventivos. Já a angina estável é uma condição caracterizada por dor no peito extrema causada pela restrição do suprimento de sangue, geralmente associada a momentos de esforço incomum, excitação emocional e refeições exageradas (SCHERR, 1992; SOARES, 2005; ABREU-RODRIGUES; SEIDL, 2008). Os principais sintomas do IAM, segundo Rocha et al. (2012, p. 3), são “dor ou forte pressão no peito, dor no peito refletindo nos ombros, braço esquerdo, pescoço e maxilar, dor abdominal, suor, palidez, falta de ar, perda temporária da consciência, sensação de morte iminente, náuseas e vômitos”. Existem três maneiras principais de diagnosticar um infarto, podendo elas ser realizadas juntas ou separadamente. Uma destas formas é através do eletrocardiograma, que mostra as alterações características da fase aguda, podendo deixar sinais permanentes mediante uma cicatriz. Já em infartos menores, nem sempre o eletrocardiograma apresenta as alterações clássicas. Outra forma é através da identificação de curva característica observada nas enzimas (substâncias liberadas na corrente sanguínea) por ocasião da morte celular, 13 embora em pequenos infartos possa não haver alteração. E, finalmente, a última forma é o sintoma da dor, que quando é típica coronariana, geralmente duram mais de 30 minutos consecutivos (SCHERR, 1992; ROCHA et al, 2012). Entretanto, conforme relata Straub (2005), com a evolução da tecnologia, duas novas técnicas de diagnósticos têm sido utilizadas, o ecocardiograma e a angiografia coronariana. O ecocardiograma é uma técnica de varredura que usa a reflexão ou o eco de ondas sonoras lançadas contra o peito para criar uma imagem do coração, podendo, assim, revelar se há alguma lesão no miocárdio. A outra técnica é a angiografia coronariana, sendo esse um dos meios mais precisos para diagnosticar a doença coronariana atualmente. Consiste na introdução de um pequeno cateter por uma artéria (normalmente na virilha) até a aorta, e daí para uma artéria coronária suspeita de estar bloqueada por uma placa. Nesse cateter, injeta-se um corante para que a artéria torne-se visível em raios x e possa assim revelar a extensão do bloqueio. De acordo com Sousa e Oliveira (2005), a dor é o sintoma específico da ocorrência da doença, com uma sensação de aperto no peito na altura do coração. A dor usualmente é tão intensa que provoca suores frios, náuseas, vômitos e vertigens e se irradia para ombros e braços (geralmente o esquerdo), para a mandíbula, as costas e a projeção do estômago no abdômen. Esta dor é relatada como uma sensação jamais experimentada. Entretanto, segundo Scherr (1992), a dor do infarto do miocárdio não é igualmente sentida por todos. Para alguns, pode ser intensa e para outros mais moderada ou às vezes nem existir. Em alguns casos, pode ser interpretada erroneamente como indigestão, gastrite ou úlcera, em especial no infarto da parede inferior do coração, sendo esse acompanhado de vômitos, náuseas e dor abdominal. Sabe-se atualmente que a instalação e o prognóstico do IAM podem estar relacionados a fatores de riscos, sendo assim torna-se importante conhecer os fatores de riscos que predispõe à doença, sendo esse o próximo assunto a ser abordado. 2.2 FATORES DE RISCO PARA O INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO A DAC geralmente está associada ao processo de envelhecimento, entretanto, esse perfil vem se modificando, pois as pessoas mais jovens também têm sido acometidas pela doença. O IAM tem incidência mais frequente entre os 40 e os 70 anos, mas atualmente, devido à maior exposição a fatores de riscos como sedentarismo, colesterol e hipertensão 14 arterial, a doença tem, cada vez mais, acometido pessoas de faixas etárias menores (SOARES, 2005). Para Varela (2004), o IAM pode ainda estar associado a períodos em que o indivíduo tenha passado por situações com fundo emocional e estresse psicológico intenso, tais como problemas relacionados ao contexto de trabalho, morte de familiares, preocupações financeiras e acidentes de automóveis. Dentre os fatores de risco para o IAM estão os fatores não modificáveis e os modificáveis. Os ditos não modificáveis são relacionados a variáveis pessoais, como sexo, idade, história familiar de doenças coronarianas e raça. Já os ditos modificáveis incluem estilo de vida, como sedentarismo e tabagismo, bem como outras doenças já existentes, sobretudo Hipertensão Arterial, Diabetes Mellitus, colesterol total alto, LDL (colesterol alto), HDL (colesterol baixo) e obesidade (SCHERR, 1992; STRAUB, 2005; ABREU-RODRIGUES; SEIDL, 2010; ROCHA et al, 2012). No que se refere ao sexo, os homens estão mais propensos a estes fatores de risco a partir dos 40 anos. Já nas mulheres, geralmente este risco é cerca de 10 a 15 anos mais tarde que nos homens, com exceção daquelas que fumam, as quais têm uma probabilidade maior em relação às demais. Especialistas acreditam que essa discrepância entre gêneros possa estar relacionada às diferenças entre os hormônios sexuais testosterona e estrógeno. A testosterona parece estar mais relacionada à agressão, à competição e a outros comportamentos que contribuem para a doença, além disso, esse hormônio ainda contribui para o aumento do colesterol ruim, o LDL. Já o estrógeno parece proteger as mulheres contra a doença antes da menopausa, pois a menstruação implica em 20% menos de sangue no corpo do que os homens, proporcionando assim menos concentração de íons de ferro e menores teores deste podem levar à menor incidência da doença, explicando assim o fato das mulheres estarem exposta aos riscos mais tardiamente (STRAUB, 2005). O histórico familiar do IAM, conforme afirma Straub (2005), é um grande preditor já que a doença acomete mais comumente homens com parentes próximos que sofreram IAM antes de 55 anos ou mulheres com histórico de parentes com IAM antes de 65 anos de idade. A idade avançada, geralmente a partir dos 65 anos, como já foi sinalizado, também é considerada um fator de risco. A prevalência quanto à raça e etnia pode variar entre grupos raciais e étnicos. Nos fatores modificáveis, no que se refere ao estilo de vida, dois aspectos parecem ter carga significativa quanto ao risco de IAM. O tabagismo duplica as chances da doença e 15 geralmente está associado a uma das cinco mortes decorrentes de DAC1 (STRAUB, 2005). Outro aspecto é o sedentarismo. De acordo com Nieman (1999), a inatividade física é um fator de risco significativo de ocorrência do IAM, mesmo que outros fatores estejam relacionados, aumentando duas vezes mais o risco, igualando assim ao tabagismo, hipertensão e colesterol. Para Berry e Cunha (2010), os efeitos de exercícios físicos regulares são de grande importância na manutenção da saúde pós-infarto, atuando de forma favorável sobre os seguintes fatores de riscos: Hipertensão Arterial, Dislipidemia, Diabetes, obesidade, sedentarismo, insegurança e depressão. Além disso, diminui o risco de distúrbios ateroscleróticos. Quanto à influência de doenças já instaladas, destaca-se a hipertensão, pois a pressão arterial quando muito alta pode danificar os vasos e causar aterosclerose, sendo esta uma das principais causas do IAM. Já na obesidade, o aumento de peso aumenta o risco de hipertensão e de doenças cardiovasculares, geralmente devido à associação com o colesterol. E, por fim, o colesterol é um dos principais ingredientes da placa aterosclerótica, sendo essa a principal causa da doença (STRAUB, 2005). Os fatores psicológicos também podem contribuir para originar ou alterar a evolução da doença coronariana. Dentre os fatores de risco, o perfil psicológico é mencionado devido às características de personalidade relevantes que podem influenciar a doença. Segundo Diamond, Lynch e Johnston (apud MACIEL, 1994), há um tipo de personalidade, denominado “tipo A”, cujas características de reação emocional da pessoa podem ser consideradas como fatores de risco para doenças isquêmicas, infarto e hipertensão. Essas características envolvem agressividade, dominação, autoconfiança, extroversão, impaciência, alta motivação profissional e competitividade, além de pensamento rápido, fala rápida e alta e hostilidade facilmente precipitada (SCHERR, 1992; MACIEL, 1994; RUSCHEL, 1994; BURNETT; BLUMENTHAL, 2003). As pessoas com personalidade do “tipo A” têm sido relacionadas à maior probabilidade de incidência do IAM em comparação às pessoas que apresentam personalidade do “tipo B”, que são caracterizadas, em geral, como mais relaxadas, possuidoras de fala e gestos suaves, não apressadas e menos propensas à raiva (SCHERR, 1992; RUSCHEL, 1994). Entretanto, estudos conduzidos nas últimas décadas, conforme Burnett e Blumenthal (2003) têm mostrado inconsistência nos resultados quanto ao valor preditivo da personalidade 1 As principais manifestações da DAC são: a angina estável, o IAM e a morte súbita. Sendo vários os fatores de risco como: tabagismo, sedentarismo, sexo, idade, história familiar, obesidade, Diabetes Mellitus, Hipertensão Arterial, perfil psicológico, entre outros. 16 “tipo A” para o desenvolvimento de DAC. Mas, a despeito disso, o valor de prognóstico deste perfil psicológico continua sendo considerado (MACIEL, 1994; RUSCHEL, 1994; STRAUB, 2005). Para Ruschel (1994), outro aspecto a se considerar como fator de risco é a negação da doença pelo paciente, evidenciada, por exemplo, pela continuidade de um estilo de vida estressante ou pouco saudável e pela falta de controle de fatores de risco como tabagismo e alimentação rica em gorduras e sal, embora possam receber orientações claras e suficientes da equipe de saúde. Nestes casos, presume-se que o paciente esconde essa realidade de si próprio como forma de poupar-se de um sofrimento natural a estas situações. O Coronariopata infartado, ao negar essa situação põe em risco a ocorrência de novos episódios ou agravamento dos sintomas. O controle dos fatores de riscos requer que o paciente aceite sua fragilidade e adote os cuidados necessários, adaptando-os a sua rotina diária. As ações preventivas são as mais recomendadas no caso do IAM, segundo Berry e Cunha (2010), mediante a redução dos fatores de riscos que estão associados à ocorrência da doença. Como prevenção secundária, busca-se evitar a progressão e recorrência da doença coronária, além de minimizar suas sequelas. Entretanto, ocorrido o episódio, a reabilitação é o próximo passo e visa reintegrar o indivíduo às suas atividades sociais e laborativas e preservar sua qualidade de vida, aspecto esse que será tratado a seguir. 2.3 REABILITAÇÃO E TRATAMENTO DO INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO Uma das principais estratégias na abordagem da cardiopatia isquêmica, em especial após um IAM, é o Programa de Reabilitação Cardíaca, sendo este definido como um processo de manutenção das capacidades fisiológicas, psicológicas e sociais do indivíduo e retorno a uma vida ativa e produtiva (ROMANO, 1994). Os programas de reabilitação segundo Berry e Cunha (2010) consistem numa abordagem individualizada ao paciente envolvendo o exercício físico, orientações nutricionais e psicossociais, bem como mudança dos hábitos de vida. Tais programas são delineados a fim de minimizar os efeitos fisiopatológicos e psicológicos envolvidos na doença, atuando assim, na modificação dos fatores de risco, estabilizando ou até mesmo revertendo o processo aterosclerótico (BROWN, 2006; LEAR et al, 2006 apud BERRY; CUNHA, 2010). Entretanto, apesar de diversos trabalhos científicos enfatizarem os benefícios e a eficácia destes programas, apenas 10% a 20% da população americana participam dos mesmos e no Brasil não é diferente, apesar desse serviço no Brasil 17 encontrar-se aquém da demanda de indivíduos que poderiam ser beneficiados (BERRY; CUNHA, 2010). Esses programas têm se mostrado ferramenta fundamental para que as mudanças no estilo de vida se concretizem, além de criar hábitos de vida mais saudável e auxiliar na redução de novos episódios da doença. Entretanto, deve-se estar ciente de que educar é algo desafiador, reeducar é ainda mais, mas na reabilitação essa é a ferramenta para se atingir os objetivos (BERRY; CUNHA 2010). Nessa perspectiva Castro et al (1995) afirmam que o ambiente onde ocorre a reabilitação deve proporcionar uma atmosfera adequada para que o paciente se sinta motivado a se adaptar a um estilo de vida mais saudável, com controle da ansiedade e da depressão. No tratamento de pessoas acometidas pelo IAM, inicialmente é necessário repouso físico e mental por, pelo menos, 04 a 06 semanas. Posteriormente, a pessoa tomará medicações e receberá orientações do médico sobre o seu novo estilo de vida, incluindo o controle dos fatores de risco. E, se houver outras comorbidades, como hipertensão arterial ou diabetes, o controle deve ser feito paralelamente. Em casos mais graves da doença, pode haver a necessidade de cirurgia para a Revascularização do Miocárdio (MILLER, 1974; SOARES, 2005). Dessa forma, é de crucial importância a adesão ao tratamento, que, refere-se à disposição do paciente a adotar e seguir o tratamento proposto e sua realização conforme as orientações e prescrições recebidas da equipe de saúde. O tratamento oferecido ao paciente que teve uma doença coronariana pode ser desde a medicação para tratar ou prevenir o mau funcionamento cardíaco até a necessidade de uma possível cirurgia, cujos mecanismos utilizados são transplante de ponte da artéria coronária, angioplastia coronária e aterecotomia. Entre as medicações estão à nitroglicerina, os betabloqueadores e os bloqueadores de canais de sódio, os vasodilatadores e anticoagulantes. E, nesse caso, se o IAM for diagnosticado nas primeiras horas, a prática comum é a infusão intravenosa de um agente trombolítico para dissolver quaisquer coágulos sanguíneos o mais rápido possível (STRAUB, 2005). Em casos de intervenção cirúrgica, segundo Ruschel (1994, p. 46), tem-se observado que o fato de ter sido operado, cortado, mexido, faz o paciente se sentir um “coitado”, fazendo o mesmo fantasiar-se dessa fragilidade. E esse risco torna-se mais grave quando a família reforça tal comportamento. Esse aspecto interfere de forma significativa na reabilitação do paciente e acaba por dificultar esse processo. Para Castro et al (1995), em um terço dos pacientes os problemas psicológicos permanecem sendo uma barreira para reabilitação, impedindo assim a melhora física. 18 Portanto, o pavor da morte, o medo de um novo infarto ou a incapacidade de assumir os padrões da vida anterior devem ser abordados na reabilitação, visto que durante essa recuperação tanto o paciente quanto a família necessitam fazer inúmeros reajustes psicológicos e sociais. Os aspectos psicológicos têm um papel significativo na reabilitação do paciente que vivenciou um IAM, incluindo a forma como o paciente percebe a si mesmo. Assim se o paciente não se percebe como tendo uma limitação física, isto pode melhorar sua autoestima, autoconfiança, tornando-se menos depressivo e ansioso e com maior probabilidade de retorno às suas atividades rotineiras de forma mais satisfatória, com melhor qualidade de vida (LA MENDOLA; PELLEGRINI, 1979 apud ROMANO, 1994). Outro aspecto que contribui na reabilitação é o fornecimento de informações ao paciente ao sair do hospital sobre a doença, o histórico natural e as possibilidades de tratamento em longo prazo. Além disso, há necessidade de envolver o cônjuge nesse processo de reabilitação, visto que este também pode ter dificuldades em lidar com a situação (CASTRO et al, 1995). Por outro lado, o cônjuge tem um papel fundamental na reabilitação do paciente coronariopata, pois esse apoio favorece uma reintegração em menor tempo do paciente à vida cotidiana (OLIVEIRA, 1998 apud CAETANO; SOARES, 2007). Para Dantas, Aguillar e Barbeira (2001), a participação da rede de apoio, principalmente da família, nos programas de reabilitação é de extrema importância. Após a constatação da doença e com as intervenções terapêuticas, o suporte recebido tem sido gratificador e facilitador na reabilitação do paciente, possibilitando na medida do possível o retorno às atividades diárias, além de diminuir os níveis de ansiedade e depressão. Nos casos de hospitalização, o indivíduo fica destituído de um convívio familiar e passa a conviver com um grupo social específico, o que, de certa forma, pode se tornar um ambiente hostil e pode desfavorecer a efetiva recuperação em alguns casos, além da possibilidade do aparecimento de outras enfermidades. Sendo assim, a família deve ser peça essencial e parte integrada da equipe de saúde no caso do paciente hospitalizado (GOMES et al. 2011). Portanto, conforme afirma Abreu-Rodrigues e Seidl (2008), existem fortes evidências da relação positiva entre disponibilidade de suporte social e melhora no quadro de doenças coronarianas, pois à medida que há falta de suporte social isso parece interferir na adesão aos comportamentos que promovem a saúde e o bem estar do paciente, dentre eles, atividade física, alimentação adequada e cessação do hábito de fumar. 19 Outro aspecto que tem sido considerado como benéfico na reabilitação do IAM é o retorno à atividade sexual, pois contribui significativamente para melhora psicológica do paciente. Uma ideia falsa que se tem é de que a relação sexual seja um pesado esforço para o coronariopata. Ao contrário do que se pensa, na atividade sexual a frequência cardíaca média é 120 bpm, o que corresponderia ao esforço de não mais do que subir um a dois lances de escadas ou caminhar por alguns quarteirões (CASTRO et al, 1995). Cabe ressaltar ainda que os efeitos dos exercícios físicos regulares são de grande importância na manutenção da saúde de pacientes que sofreram um IAM, pois geralmente atua de forma favorável sobre os fatores de risco, como hipertensão arterial, dislipidemia, diabetes, obesidade, sedentarismo, insegurança e depressão (BERRY; CUNHA 2010). O exercício físico, segundo Varela (2004), tem sido apontado como um grande aliado na prevenção e tratamento das doenças cardiovasculares, visto que o sedentarismo é um fator de risco da doença. Outro aspecto que tem sido visto como benéfico na reabilitação é o retorno ao trabalho. Sendo assim, Romano (1994) relata que o retorno ao trabalho deve ser avaliado no sentido de qualidade de vida para o paciente, pois um trabalho que gera prazer pode ser muito benéfico para reabilitação do paciente, no entanto, se o trabalho anteriormente já não era algo satisfatório ou incompatível com a nova situação física, talvez seja mais benéfico recolocá-lo em outra função. Portanto, os cuidados requeridos pela reabilitação e os riscos envolvidos na doença, tendem a gerar impactos na vida cotidiana do paciente no que se refere à dinâmica conjugal e familiar, ao trabalho e à integração social. Dessa forma, torna-se necessário entender a simbologia que permeia essa temática de adoecer do coração e quais impactos podem implicar na vida psicossocial do indivíduo, sendo esse o próximo tema a ser destacado. 2.4 ASPECTOS PSICOSSOCIAIS DO INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO O coração é tido como órgão vital, o motor da circulação do sangue e também é associado à sensibilidade moral, paixões, sentimentos e afeto. Comumente escutamos expressões como: “Quer me matar do coração”, “Um golpe no coração”, “É de cortar o coração”, “Coração partido”, “Essa pessoa tem um bom coração”, “Que coração mole”, “Coração duro”, “Coração de pedra”, “Grande coração”, entre outras. Isso evidencia a 20 simbologia deste órgão como sede dos sentimentos e emoções (RUSCHEL, 1994, p. 40; VARELA, 2004, p. 24). No entanto, por outro lado, se voltarmos à expressão “Coração grande”, na medicina seria aumento do músculo e sinal de doença. Nesse sentido, essa dualidade de significados atribuída a esse órgão tanto de vida como de ameaça de morte gera impactos e se nossa sociedade encarregou-se de mistificar o órgão do coração como fonte de vida, qualquer problema que o afete é sentido como ameaça à vida, gerando angústia. Portanto, essa carga atribuída ao coração interfere e se interliga com a mente quando da ocorrência de uma doença cardíaca (RUSCHEL, 1994, p. 40). Portanto, em se tratando de adoecer do coração, de acordo com Sousa e Oliveira (2005), a cardiopatia coloca o paciente em confronto com a angústia da morte, tendo em vista que o coração representa o motor da vida. Nesse sentido, a descrição do papel do coração, como centro das emoções e da vida impede que este órgão seja representado como doente. Quando consideramos o simbolismo atribuído ao coração, como fonte da vida e sede das emoções, é possível compreender a utilização deste como fonte e veículo de expressão simbólica mais do que qualquer outro órgão do corpo. Portanto, esta simbologia que envolve o coração como sendo órgão central do funcionamento do corpo, órgão associado indiscutivelmente à vida e não admite qualquer representação diferente para este órgão, pois se assemelha a uma ameaça à vida (SOARES, 2005). Sendo assim, torna-se relevante entender como o sujeito vivencia o fato do coração adoecer e as consequências psicossociais a partir deste diagnóstico. A ocorrência de um IAM gera consequências e geralmente interfere de forma efetiva na vida cotidiana do paciente, em especial, na subjetividade. A doença coronariana implica em um desgaste emocional, pois além de envolver a ameaça da morte, também envolve a ameaça da limitação física. E isso representa uma perda, ou seja, o luto de não ter mais uma saúde completa, significando uma negação da onipotência da pessoa, sendo essa uma das características de personalidade do paciente coronariano (RUSCHEL, 1994). A perda do sentimento de onipotência, conforme coloca Ruschel (1994), ameaça à integridade da pessoa, ou seja, quando a pessoa já não se vê com capacidade de funcionar de forma integrada, isto põe em risco seu bem estar físico, o que consequentemente provoca desequilíbrio biopsicossocial. Esse sentimento faz com que a pessoa lance mão de mecanismos de defesa como forma de proteção da ameaça sofrida. Nessas situações, geralmente a negação, a regressão ou a racionalização aparecem como recursos adaptativos da pessoa com intuito de manter o ego afastado da ameaça. 21 Um dos mecanismos de defesa muito evidenciado nesses casos é a negação, geralmente o paciente passa por vários especialistas até chegar a um cardiologista, pois o fato deste consultá-lo por último mostra que houve um grande esforço para esconder a doença ou arranjar outra que a seu ver seria mais leve, já que a doença cardíaca tem uma carga simbólica significativa, ou seja, envolve a conotação também das suas emoções, do amor e da sensibilidade (RUSCHEL, 1994). Entretanto, ao mesmo tempo em que a negação pode apresentar aspectos de proteção para o paciente, por outro lado, segundo Ruschel (1994), pode ser um fator de risco, quando o paciente procura curas mágicas ou miraculosas. Sendo assim, o risco destas atitudes é quando optam pelo caminho de abandonar o tratamento e ficam sujeitos ao agravamento do quadro que muitas vezes pode ser fatal. O medo da finitude, segundo Sousa e Oliveira (2005), faz parte do discurso das pessoas que vivenciaram o IAM. Tal acontecimento causa medo, pavor e repulsa, o que sintetiza o que tende a ser percebido como o mais terrível na existência humana, a morte. Esse acontecimento retrata um abalo na vida das pessoas, levando-as a interpretar o IAM como uma doença trágica, que pode significar o fim da vida e proporcionar pensamentos negativos. Além do medo da finitude, há o medo relacionado à possibilidade de ficar dependente e a impossibilidade de voltar a trabalhar, despertando assim, preocupações a respeito de questões financeiras e responsabilidades familiares. Outro sentimento vivenciado pelos indivíduos que sofreram um infarto é o de insegurança. Para Ruschel (1994), a representação que cada pessoa tem de si mesma está vinculada à sua imagem corporal. E a identidade se constrói a partir de um corpo íntegro e completo, assim sendo, quando a integridade física é abalada isto proporciona modificações na identidade pessoal e, consequentemente, gera conflitos emocionais. Além da insegurança, essas pessoas vivem constantemente amedrontadas e estafadas devido à tensão que viveram com o infarto, além de estarem constantemente preocupadas e ansiosas com a possibilidade de um novo infarto, cirurgias e a própria possibilidade de morte. Em vista disto, ansiedade é a regra em vez da exceção para as pessoas que vivenciaram o IAM. Dessa forma, explicações cuidadosas dos profissionais da área da saúde sobre os procedimentos, equipamentos, cuidados, limitações e expectativas podem diminuir o estresse e ajudar a tranquilizar o paciente, graduando assim sua ansiedade (SOUSA; OLIVEIRA, 2005). Segundo Kubzansky e Kawachi (2000, apud BONOMO; ARAÚJO, 2009), o ser humano convive diariamente com uma grande variabilidade de emoções e tanto o exagero 22 como a inibição acarretam consequências à saúde do indivíduo, como, por exemplo, a inibição de emoções demanda esforço psicológico que com o tempo pode acarretar em estresse cumulativo. Portanto, as emoções têm um papel relevante nas doenças coronárias. As emoções negativas podem influenciar de forma indireta o risco e prognóstico do paciente coronariano, pois tais aspectos influenciam a adesão a comportamentos prejudiciais a saúde, como tabagismo, má alimentação, obesidade e sedentarismo, além dos efeitos sobre o suporte e isolamento social (SIROIS; BURG, 2003 apud BONOMO; ARAÚJO, 2009). Já quanto às emoções positivas poucos estudos demonstram o papel destas na doença coronária, mas, de fato, as emoções positivas podem reduzir os efeitos do estresse sobre o sistema cardiovascular. Portanto, otimismo e atitude positiva pode ser um alicerce para que os fatos negativos possam ser encarados de forma mais confiante pelo paciente (BONOMO; ARAÚJO, 2009). De acordo com Soares (2005), o estresse constante ao qual o sujeito está exposto na sociedade atual, como trabalho excessivo, urgência de tempo e competitividade, associados a fatores de risco como vida sedentária, tabagismo e alimentação inadequada, têm sido correlacionados com a alta incidência de doenças do coração. Portanto, essa correlação entre estresse e fatores de risco ao qual o sujeito está exposto nos dias de hoje tem um papel preponderante nas doenças desta natureza. A personalidade do “tipo A” pode ser um fator que se associa ao estresse na medida em que apresenta características como envolvimento excessivo com o trabalho, sentimentos exagerados com urgência de tempo, agressividade, competitividade e alta ansiedade. Entretanto, por mais que essas características psicossociais estejam claramente relacionadas às DAC, estas vão repercutir nas pessoas de formas diferentes, ou seja, serão percebidos como mais estressantes ou menos estressantes a depender da estrutura psicológica do indivíduo. Portanto, a forma de enfrentar uma situação é peculiar de cada um, podendo ou não representar estresse (SOARES, 2005). As pessoas que vivenciaram o infarto, além das alterações físicas, convivem com as alterações que permeiam o âmbito pessoal, tendo em vista que a ocorrência da doença provoca mudanças abruptas na vida do doente coronariano, como a rotina diária e trabalho. Além disso, há a questão da imprevisibilidade da doença, em que a pessoa, geralmente em sua fase produtiva da vida, de repente depara-se com uma série de comorbidades, com repercussões na sua subjetividade (SOUSA; OLIVEIRA, 2005). Portanto, Ruschel (1994) afirma que as mudanças após um IAM geram preocupações frente à possibilidade que o exercício físico, trabalho, responsabilidades no emprego, vida 23 sexual possam causar prejuízos à saúde agora restabelecida. Sendo assim, torna-se necessário uma boa orientação da equipe de saúde ao paciente para que o mesmo possa retornar às atividades o quanto antes, respeitando suas possibilidades e restrições. Acrescenta-se, em alguns casos, a necessidade de um processo psicoterapêutico para que o indivíduo possa trabalhar os sentimentos, fantasias e resistências despertadas nessas situações. Os resultados da pesquisa de Soares (2005) demonstram que o fato de ter vivenciado a doença no retorno à vida diária apresenta variação a depender de cada um. Alguns conseguem readaptar ao cotidiano com facilidade, enquanto outros precisam de mais tempo e outros ainda nem conseguem fazê-lo. A doença gera mudanças significativas no estilo de vida das pessoas, a mais destacada no estudo foi o afastamento do trabalho, pois a maioria dos entrevistados teve que abrir mão da sua profissão, devido as atividades não serem apropriadas à condição atual da pessoa, o que agrega a essas pessoas a percepção de serem inválidas. Mas, por outro lado, segundo Pollock e Schmidt (2003), há de considerar que muitos pacientes com razoável capacidade funcional não retornam ao trabalho e nem reassumem as atividades familiares, sexuais, recreacionais e da comunidade que participam, em virtude da ansiedade e da depressão que limitam a reintegração social e ocupacional. Outra questão ainda não alcançada é identificar os pacientes que têm alto risco às complicações psicossociais no início da doença, pois isso permitiria realizar intervenções precoces. A depressão constitui um fator de comorbidades entre os coroniopatas, demonstrando clara associação com fatores de risco para DAC (MATTOS et al, 2005). Associado a essa ideia, estudos citados por Lemos et al (2008) demonstram que a depressão quando não tratada pode ser tanto fator de risco para o surgimento de um IAM quanto fator de pior prognóstico, aumentando assim a morbidade e a mortalidade. Um estudo foi realizado por Mattos et al. (2005) para investigar a prevalência de depressão em pacientes com síndrome coronariana aguda e a interdependência dos fatores de risco para DAC. Dos 135 pacientes investigados, 98 apresentavam diagnósticos de IAM e 37 de angina instável. A depressão foi encontrada em 53,3% dos pacientes, sendo mais frequentes em pacientes do sexo feminino. A depressão evidenciou presença em duas associações de maior número de risco: dislipidemia, sedentarismo e sexo (p=0,0259) e dislipidemia, histórico familiar e hipertensão (p=0,0098). O estudo demonstra alta prevalência de depressão entre os pacientes DAC, elevando o risco de mortalidade. Para Ruschel (1994), na família também ocorrem modificações quando um membro passa a possuir a doença. O grupo familiar passa a sentir-se ameaçado e muitas vezes culpado, acarretando um abalo no sentimento de indestrutibilidade. Nesse sentido, é necessário que 24 aprendam a conviver com a situação, de forma a aceitá-la e que possam elaborar os sentimentos dela decorrentes. Portanto, o trabalho de retorno à vida ativa e cotidiana deve envolver o paciente e a família. O acometimento da doença gera risco na vida do paciente, modificando assim a dinâmica conjugal e da família pela situação de crise estabelecida. Geralmente nesses momentos os papéis desempenhados por cada membro do grupo familiar são revistos, podendo assim ocorrer acúmulo de tarefas e dos papéis (GIANORDOLI-NASCIMENTO; TRINDADE, 2002). Estudos citados por Ongaro (1994) mostram evidências que as mulheres encontram maior dificuldade no ajustamento conjugal após o IAM. A respeito da vida sexual do casal após o evento, os dados foram: 25% retomam a vida sexual, 25% não apresentaram alteração e 50% diminuem a frequência das relações, sendo um dos motivos da alteração devido ao receio de um novo infarto ocorrer nessa ocasião. Ao contrário do que se pensavam da atividade sexual como um fator de risco a um novo episódio da doença, esta atividade tem se mostrado um aspecto psicológico benéfico à reabilitação do paciente. Por outro lado, o estudo realizado por Gianordoli-Nascimento e Trindade (2002) mostrou que uma das transformações evidenciadas pelo infarto na dinâmica conjugal foi o fortalecimento e proximidade do casal, visto a possibilidade da perda da vida, ocasionando assim, valorização da presença do cônjuge. Outro aspecto destacado no estudo foi o papel do homem auxiliando nas tarefas de casa, aspecto esse que possibilitou uma união revigoradora com melhor convivência do casal e aumento da comunicação. Em casos de hospitalização, existem nesses contextos uma ruptura com o ambiente (casa, família) que pode influenciar no estado emocional do paciente. Geralmente essa mudança de ambiente causa medo, ansiedade, tendo em vista os procedimentos terapêuticos desconhecidos e desagradáveis impostos por essa situação. E, muitas vezes, surgem sentimentos de que a doença é um castigo por algo que fez de errado, podendo muitas vezes interferir e dificultar o tratamento (RUSCHEL, 1994). Além do medo e ansiedade, a solidão é outro aspecto vivenciado por pessoas que sofreram IAM, em especial no processo de hospitalização, ao ser internado o paciente percebe uma ruptura com seu cotidiano, e é nesse momento que o sentimento da solidão aparece (ROMANO, 1994). Outra consequência psicossocial evidenciada no IAM, segundo Soares (2005), é a vivência do estigma, pois, em nossa cultura, uma vez diagnosticado como “doente do coração”, a pessoa, geralmente vai viver cercada de cuidados excessivos de familiares e amigos. O discurso passa a ser “você não pode pegar peso, é doente do coração”, “olha o 25 coração você não pode se aborrecer”. Essa condição do cardiopata passa a significar invalidez, ou, no mínimo, limitação para a sociedade e ainda influencia o autoconceito do paciente. Portanto, essa condição envolve tanto aspectos positivos como negativos. Por um lado pode envolver os ganhos secundários, em que o paciente passa a receber mais atenção e se aproxima dos membros da família. Entretanto, os aspectos negativos de estigma, podem afastar o paciente do convívio social pelo medo da morte, por se sentir inferior e incapaz. Dessa forma, os profissionais da área da saúde podem contribuir com a saúde do paciente dando atenção maior aos aspectos emocionais desta experiência de adoecer para que o paciente retorne sua vida atuante e produtiva junto à família e à sociedade (SOARES, 2005). Para Caetano e Soares (2007), geralmente o fato de sentir que a vida está difícil após o IAM, tem a ver com a escassez de recursos econômicos, por mais que essa situação esteja presente anteriormente à doença, só nesse momento geralmente adquire uma relevância maior, pois ela coincide com a saída social do trabalho e com a aposentadoria. E na sociedade atual, o ter traz referência às necessidades supridas, à possibilidade de bom estado de saúde e à própria realização das atividades da vida diária. Os impactos decorrentes da doença como foi destacado podem gerar implicações na vida cotidiano do paciente, assim sendo é preciso entender quais mecanismo podem ser viabilizados para o manejo emocional da pessoa que vivencia a doença para controle de possíveis estressores que afeta a qualidade de vida do paciente. 2.5 MANEJO EMOCIONAL Geralmente após um IAM, algumas pessoas conseguem restituir e retornar à maioria das atividades anteriores. Enquanto isso, outros pacientes permanecem debilitados fisicamente e psicologicamente por muito tempo, demonstrando aspectos como estresse, ansiedade ou depressão. Nesse sentido, é preciso verificar os aspectos que podem contribuir e possibilitar o manejo dessas variáveis, viabilizando um melhor controle de possíveis estressores que possam influenciar na doença (ABREU-RODRIGUES; SEIDL, 2008). Um desses aspectos é o apoio social, sendo esse entendido como qualquer processo em que as relações sociais promovam saúde e bem estar ao paciente. Esta forma de manejo emocional tem uma importância significativa na medida em que disponibiliza escuta, atenção, informação, companhia e promoção de saúde ao paciente (ABREU-RODRIGUES; SEIDL, 2008; GOMES et al, 2011). 26 Straub (2005) associa o apoio social como uma forma de manejo para lidar com a doença, visto que os eventos estressantes de uma doença é especialmente difícil quando o indivíduo sente-se isolado e/ou rejeitado socialmente. Sendo assim, estudos apontam que essa forma de suporte pode diminuir o risco de agravamento da doença promovendo controle dos comportamentos mais estressantes, para assim oportunizar melhor qualidade de vida ao paciente. Outro aspecto que tem sido utilizado como forma de manejo emocional segundo Ruschel (1994), é o suporte psicológico. O psicólogo poderá acompanhar o paciente permitindo que este se conheça e ajudá-lo a lidar com os seus aspectos emocionais. Nessa perspectiva é importante auxiliar o paciente a enfrentar melhor a sua doença, tratamento e recuperação. O papel do psicólogo é muito importante para o paciente, na medida em que permite clarificar as ansiedades, as fantasias e os sentimentos, possibilitando a desmistificação, além de torná-los conscientes para assim trabalhar sua elaboração (RUSCHEL, 1994). Além disso, é necessário desdramatizar a doença, lutar contra a instalação do sentimento de invalidez de forma que o paciente retorne aos seus investimentos anteriores e melhore sua qualidade de vida (ONGARO, 1994). 27 3 OBJETIVO Em síntese, se por um lado há necessidade de compreender as ligações entre cardiopatia e vida psíquica, uma vez que as doenças coronarianas representam um grave problema de Saúde Pública, com índices significativos de morte e comprometimento permanente, e os comportamentos de saúde, os fatores emocionais e psicossociais estão diretamente ligados aos fatores de risco, desencadeamento e reabilitação, por outro lado cresce a necessidade de publicações acessíveis ao Psicólogo brasileiro, que tenham pesquisas científicas que possam subsidiar a crescente inserção do profissional Psicólogo na crescente demanda por atendimento na área. Com esta base, foi traçado, para o presente levantamento, o objetivo a seguir. 3.1. OBJETIVO GERAL • Verificar se há um volume significativo de publicações recentes Qualis A das áreas de Psicologia e de Cardiologia, em língua portuguesa, que abordem os aspectos psicossociais relacionados ao Infarto Agudo do Miocárdio, nos últimos cinco anos. 28 4 MÉTODO O presente trabalho tem como foco a pesquisa de métodos mistos cuja abordagem combina ou associa as formas qualitativas e quantitativas. Segundo Creswell (2010, p. 27): A pesquisa de métodos mistos é uma abordagem da investigação que combina ou associa as formas qualitativa e quantitativa. Envolve suposições filosóficas, o uso de abordagens qualitativas e quantitativas e a mistura das duas abordagens em um estudo. Por isso, é mais do que uma simples coleta e análise dos dois tipos de dados; envolve também o uso das duas abordagens em conjunto, de modo que a força geral de um estudo seja maior do que a da pesquisa qualitativa ou quantitativa isolada. Segundo Sampaio e Mancini (2007), a revisão sistemática disponibiliza um resumo das evidências relacionadas a uma estratégia de intervenção específica, através da aplicação de métodos explícitos e sistematizados de busca, apreciação crítica e síntese das informações selecionadas na pesquisa. Portanto, as revisões sistemáticas são particularmente úteis na medida em que integram as informações de um conjunto de estudos realizados separadamente sobre determinada terapêutica/intervenção, que podem apresentar resultados conflitantes e/ou coincidentes, assim como identificar temas que necessitam de evidência, de forma a auxiliar nas futuras investigações. Tal metodologia faz a aplicação de métodos explícitos e sistematizados de busca, portanto essa revisão bibliográfica sistemática cumpriu os passos descritos a seguir: 1) Inicialmente foi realizado acesso ao portal CAPES verificando quais revistas Qualis A de Psicologia e de Cardiologia. 2) Foram selecionadas três revistas Qualis A na área da psicologia: Paidéia; Psicologia: Teoria e Pesquisa; e Psicologia: Reflexão e Crítica. 3) Selecionada as três revistas Qualis A de Psicologia, buscaram-se as publicações dos últimos cinco anos, no período de 2013-2009, em ordem decrescente, ou seja, das publicações mais atuais para as menos recentes. 4) Na seleção das revistas brasileiras de Cardiologia descobriu-se que não havia revista Qualis A, portanto, decidiu-se pelos Arquivos Brasileiros de Cardiologia, em função da significância de publicações. Em decorrência da revista de Cardiologia ter um número de publicações mais significativo foram selecionados os últimos cinco volumes, no período de 2014 a 2012. As revistas pesquisadas foram todas em língua portuguesa por limitação de leitura em outras línguas. 5) Dos artigos selecionados elaborou-se uma tabela metodológica contendo os seguintes quesitos: o nome da revista, ano, volume, número, título. E ao final procurou-se responder as seguintes questões, quais artigos das revistas Qualis A de Psicologia 29 diziam respeito à cardiologia. E o inverso foi feito considerando os Arquivos Brasileiros de Cardiologia, ou seja, quais da Cardiologia diziam respeito à psicologia. 6) E, finalmente, foi feita a leitura dos artigos e uma análise comparativa dos conteúdos abordado nos mesmos, de forma a fomentar a análise e discussão dos dados. 30 5 RESULTADOS Com aumento significativo de mobi-mortalidade ligada ao IAM e às mudanças relacionadas ao impacto da doença, bem como suas consequências psicossociais, investigouse o volume de artigos em três revistas Qualis A de psicologia e uma revista representativa da área da cardiologia. Na pesquisa verificou-se que os artigos não retratavam exclusivamente o IAM, entretanto, relatavam as doenças cardiovasculares/doenças cardíacas/doenças cardiológicas, portanto, relacionados ao IAM. Cabe enfatizar que o IAM é uma ramificação da Doença Arterial Coronária que está incluída como a principal Doença Cardiovascular. E esta última é o termo genérico para diferentes doenças do coração e de seus vasos. Portanto, a decisão por incluir esses artigos está pautada na desconcertante escassez de publicações específicas, relativas ao IAM, ampliando a pesquisa de forma a considerar as publicações que estejam relacionadas às doenças cardiológicas, tendo em vista que o estudo pretende verificar o volume de publicações que de alguma forma enfatize as consequências psicossociais decorrentes das doenças cardiológicas. Os resultados são apresentados na tabela a seguir: Tabela 01: Número de publicações analisadas e os artigos selecionados, no período de 2009-2014. Revista Total de publicações analisadas Artigos Selecionados Paidéia 214 01 Psicologia: Teoria e Pesquisa 337 01 Psicologia: Reflexão e Crítica 423 0 Arquivos Brasileiros de Cardiologia 503 06 Total 1.477 08 De acordo com os critérios de inclusão definidos, foi selecionado um artigo na revista de Psicologia Paidéia, um na revista Psicologia: Teoria e Pesquisa e nenhum na revista Psicologia: Reflexão e Crítica. Totalizando na área da psicologia duas publicações relacionadas ao tema. Na revista de Cardiologia, Arquivos Brasileiros de Cardiologia, foram selecionadas sete publicações, com a ressalva de que uma publicação não está no formato de artigo. Um 31 artigo não retrata uma doença cardiovascular mais sim uma síndrome - a Cardiomiopatia de estresse/Takotsubo (CT), a qual imita o infarto do miocárdio. E um artigo será excluído, pois após a leitura do mesmo constatou-se não dizer respeito à Psicologia, e sim de um exame específico da cardiologia. Desta forma, totalizaram-se na área da cardiologia seis publicações. A seguir será representada uma tabela enfatizando o título/veículo de publicação, o objetivo e os resultados das publicações: Tabela 02 – Publicações selecionadas, com o título/veículo de publicação, objetivo e resultados. Artigo/Veículo de Publicação Dependência tabágica, assertividade e alexitimia em doentes cardíacos. Paidéia, Ribeirão Preto (SP), v. 20, n. 46, p. 155-164. Objetivo Resultados Caracterizar a dependência tabágica (fisiológica e comportamental), a assertividade e a alexitimia, avaliando a relação das variáveis entre si em doentes cardíacos. Os resultados indicam que a alexitimia esteve relacionada com a dependência comportamental e com a assertividade, sugerindo que os sujeitos menos assertivos e com dificuldade de identificação e comunicação das suas emoções podem utilizar o tabagismo como um mecanismo de enfrentamento. Nas intervenções tornase necessário enfatizar as competências sociais e de regulação emocional. Psicologia Aplicada à Cardiologia: Um Estudo sobre Emoções Relatadas em Exame de Holter. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília (DF), v. 25, n. 1, p. 65-74, 2009. Identificar no exame de Holter 24 horas emoções e episódios de vida diária que ocorrem simultaneamente a arritmias cardíacas Foram verificadas diferenças significativas entre gêneros: as mulheres apresentaram mais arritmias que homens. Nas mulheres, arritmias ventriculares ocorreram mais simultaneamente à preocupação do que à ansiedade e não se mostraram relacionadas à raiva. A tristeza não se mostrou relacionada a arritmias ventriculares em nenhum dos gêneros. Desfecho de Curto e Longo Prazo na Cardiomiopatia Induzida por Estresse: O que Podemos Esperar?Arq. Bras. Cardiol.,São Paulo (SP), v. 102, n. 1, p. 80-85, 2014. Avaliar a prevalência e os preditores clínicos de complicações de curto e longo prazo em pacientes com CT. Analisaram-se 37 pacientes, sendo 35 mulheres. Os resultados indicam que a CT foi precipitada na maioria dos casos por eventos de estresse emocional (57%) e dor torácica foi o sintoma mais frequente (89%). O estresse físico, a disfunção sistólica grave do VE e o valor de pico do peptídeo natriurético cerebral (BNP) foram preditores de complicações agudas. 32 Artigo/Veículo de Publicação Objetivo Resultados Validação da Apresentação das três Dois fatores mostraram-se mais Versão Brasileira do fases de validação do interpretável, denominada de subescalas: Questionário de QAC brasileiro. “Medo e Hipervigilância” (n = 9; alfa = Ansiedade 0,88) e “Evitação” (n = 5; alfa = 0,82). Cardíaca. Arq. Encontrou-se correlação significativa do Bras. Cardiol. São fator 1 com o escore total do ESC (p < Paulo (SP), V. 101, 0,01), mas não com o fator 2. Os fatores do n. 6, p. 554-561, SPIN apresentaram correlações 2013. significativas com as subescalas do QAC (p < 0,01). Na fase 3, os escores dos pacientes “Cardíacos com pânico” foram maiores no fator 1 do QAC, mas não significativamente diferentes, no fator 2. Reabilitação Cardiovascular, Dança de Salão e Disfunção Sexual. Arq. Bras. Cardiol. São Paulo (SP), V. 101, n. 6, p. 107108, 2013. Avaliar a relação entre dança de salão, disfunção sexual e reabilitação cardiovascular. A dança de salão pode ser vista como uma estratégia terapêutica as doenças cardiovasculares e disfunção sexual. Principalmente pelas suas características nas quais aproximam as pessoas, tanto na forma física como nos aspectos emocionais. Avaliação do conhecimento de pacientes de reabilitação cardíaca: Brasil versus Canadá Arq. Bras. Cardiol. São Paulo (SP), V. 101, n. 3, p. 255-262, 2013. O objetivo do estudo foi descrever e comparar o conhecimento sobre DAC entre pacientes no Brasil e no Canadá, incluídos em programas de reabilitação cardíaca. Os resultados apontam que os participantes canadenses apresentaram conhecimentos significativamente maiores que os participantes brasileiros. Em 13 das 19 questões, os canadenses demonstram conhecimentos mais significativos que os brasileiros. O domínio de conhecimento mais esclarecido em ambas as amostras foi sobre o exercício físico. Redes sociais de saúde como grupos de suporte online na vida de pacientes com doenças cardiovasculares. Arq. Bras. Cardiol. São Paulo (SP), V. 101, n. 2, p. 39-45, 2013. Apresentar os resultados de uma revisão de literatura sobre a proliferação das comunidades virtuais, verificando suas influencias e impactos. Os resultados encontrados revelam aspectos positivos e relevantes em relação à saúde, os quais podem trazer alguns benefícios terapêuticos, como: fonte de suporte emocional, maior adesão ao tratamento, compartilhamento de informação sobre as doenças e aquisição de experiências de vida. 33 Artigo/Veículo de Publicação Desenvolvimento e validação da versão em Português da Escala de barreiras para reabilitação cardíaca. Arq. Bras. Cardiol. São Paulo (SP), V. 98, n. 4, p. 344-352, 2012. Objetivo Resultados O objetivo deste estudo foi traduzir, adaptar culturalmente e validar a Escala de Barreiras para Reabilitação Cardíaca (CRBS) para a língua portuguesa. A versão em língua portuguesa da CRBS apresentou alfa de Cronbach de 0,88, ICC de 0,68. Na análise fatorial revelou cinco fatores, cuja maioria apresentou consistência interna. Para os pacientes em RC o escore médio foi 1,29 e para os pacientes do ambulatório foi 2,39. Na validade de critério apresentou diferenças significativas nos escores totais por sexo, idade e nível educacional. A tabela acima descreveu uma breve síntese das publicações selecionadas com o título, objetivo e resultados. A seguir, apresentamos uma descrição de cada publicação selecionada. Artigo 01: Dependência tabágica, assertividade e alexitimia em doentes cardíacos Um estudo realizado por Rocha, Guerra e Maciel (2013), sobre a relação da dependência tabágica, assertividade e alexitimia em doentes cardíacos. Este estudo teve como objetivos caracterizar e analisar a dependência fisiológica e a dependência comportamental da nicotina, bem como a assertividade e a alexitimia numa amostra diagnosticada com Infarto do Miocárdio. O tabagismo é considerado o inimigo número um das doenças do coração. Este, além de aumentar o risco de doenças coronárias e morte súbita, agrava outros fatores relacionados às doenças cardiovasculares que contribuem para o desenvolvimento das doenças coronárias, tais como, Hipertensão, Dislipidemia e Diabetes Mellitus. A vivência pessoal do infarto envolve a sensação de ameaça a vida, e dessa forma o doente começa a valorizar o papel que o tabagismo desempenha na sua doença. A história do infarto constitui um momento em que o doente se revela receptivo a interrupção do hábito de fumar. Com isso a severidade da doença passa a ser valorizada, bem como ocorre à motivação para melhorar o prognóstico. Dessa forma torna-se essencial que os profissionais da área da saúde estejam informados acerca dos mecanismos físicos e psíquicos desta adição, ou seja, a dependência fisiológica e comportamental do tabagismo. 34 A nicotina é responsável pela dependência fisiológica do tabagismo. A dependência fisiológica implica que o fumante não consegue ter autocontrole sobre o uso do cigarro, mesmo que esse esteja consciente dos sérios riscos que este hábito ocasiona a sua saúde. Porém, a dependência tabágica é algo além dos efeitos fisiológicos, a evolução tabágica implica explicações de fatores sociais e psicológicos que influenciam a percepção dos efeitos físicos, o que aponta para uma dependência comportamental. A dependência comportamental traduz a associação entre reforços subjetivos da nicotina e as situações, emoções e contextos que tornam dissociados dos reforços físicos, ou seja, as interpretações cognitivas e as associações afetivas no contexto antecedente ou consequente do ato de fumar. As cognições e emoções têm um papel importante no comportamento tabagista, dando evidências da influência de outras variáveis psicossociais nesse âmbito, entre elas, a assertividade e a alexitimia. A falta de assertividade tem sido correlacionada com o padrão de comportamento tipo “A”, sendo esse um dos fatores de risco para ocorrência das doenças coronarianas. O padrão de comportamento tipo “A” está relacionado a pessoas que se colocam em situações estressoras, aumentando assim os riscos de doenças cardiovasculares. A hostilidade pode torna-se uma forma de comunicação do doente cardíaco que apresenta esse padrão de comportamento em especial quando se sente frustrado em algo não alcançado, demonstrando assim déficit de assertividade na comunicação. Identificou-se ainda que a personalidade tipo “D” que se caracteriza por altos níveis de ansiedade, tensão crônica, emoções negativas e inibição social, aumenta o estresse emocional provocando um baixo nível de bem estar psicológico. Estudos demonstram que a ansiedade e depressão podem está associadas à incidência de doenças cardiovasculares. Segundo o autor, indivíduos socialmente inibidos geralmente apresentam auto-expressão reduzida e tendem a diminuir a disponibilidade de suporte social, visto que se sentem inseguros com os outros, experienciando falta de assertividade. Quanto à relação entre assertividade e o consumo de substâncias, estudos revelam que a dificuldade em interagir socialmente e em lidar com situações de riscos podem se correlacionar com dependência de drogas. No que tange à alexitimia esta pode dificultar o estabelecimento de relações interpessoais, devido os alexitímicos exibirem falta de empatia ou déficit em compreender e experienciar as emoções dos outros. Tais características foram observadas em pacientes que sofreram infarto mais do que na população saudável, demonstrando assim uma relação entre alexitimia e este evento. 35 Contudo, a alexitimia pode ser percebida como consequência do infarto, devido à própria modulação das emoções que pode ter sido afetada pelo mesmo. Tal aspecto pode explicar a redução da satisfação com a vida dos doentes coronarianos, contribuindo assim para o fardo psicossocial associado à doença. O estudo foi realizado com 30 sujeitos do sexo masculino internados com infarto, na faixa etária dos 40 aos 67 anos. Foi aplicado o Teste de Fagerström, o Questionário de Glover-Nilsson, a Escala de “Rathus” e a TAS-20. Os resultados indicam que a alexitimia encontra-se relacionada à dependência comportamental e à assertividade, sugerindo que os sujeitos menos assertivos e com dificuldade em gerir afetos negativos e situações de estresse, podem recorrer ao tabagismo como mecanismo de enfrentamento. Nas intervenções voltadas à interrupção do hábito de fumar em doentes infartados devem-se enfatizar as competências sociais e de regulação emocional. Artigo 02: Psicologia Aplicada à Cardiologia: Um Estudo sobre Emoções Relatadas em Exame de Holter. Estudo realizado por Bonomo e Araujo (2013), destacando o papel das emoções como fatores de riscos associados às doenças cardiovasculares. O objetivo desse estudo foi identificar no exame de Holter 24 horas, emoções e episódios de vida diária que ocorrem simultaneamente a arritmias cardíacas. Estudos têm demonstrado a relação entre doenças cardiovasculares e fatores psicossociais, dentre os mais investigados estão: nível socioeconômico, suporte social, idade, gênero, padrão de comportamento tipo “A”, estresse, depressão e emoções negativas e positivas. O gênero masculino está mais predisponente para as doenças do coração. Entretanto, a ocorrência de óbitos é maior entre mulheres. A prevalência de altas taxas de mortalidade feminina por doenças coronárias estão associadas à presença de fatores hormonais, transmissão genética, diferenças de estrutura e funcionamento cerebral, assim como fatores psicossociais, tais como: funcionamento psicológico, papel familiar e social. As diferenças de gênero na incidência de DAC e aterosclerose são decorrentes dos efeitos do estrogênio e também dos papéis sociais. Os papéis sociais de gênero proporcionam reações diferentes a uma mesma situação. Os homens tendem a expressar mais emoções negativas, sendo a raiva a mais frequente e o medo a mais reprimida. Já as mulheres relatam e 36 expressão mais as emoções, sendo a raiva a mais reprimida. Portanto, percebe-se que o gênero é um fator que influencia as respostas cardíacas a determinadas emoções, mas não a todas. As emoções têm pelo menos duas dimensões, a intensidade e a frequência. E entre as pessoas há uma grande variabilidade de emoções, e acredita-se que tanto o exagero quanto a inibição das emoções têm repercussões na saúde das pessoas, como, por exemplo, a inibição pode demandar um esforço psicológico que com o tempo pode significar estresse cumulativo. Quanto à natureza, as emoções podem se agrupar em positivas e negativas, no entanto, os pesquisadores ainda não chegaram a um consenso se são dois pólos de uma mesma dimensão ou dimensões distintas, além disso, as pessoas podem vivenciar suas emoções de forma diferentes. Estudos evidenciam que as emoções negativas provocam alterações fisiológicas com pior prognóstico para as doenças coronarianas. E ainda pode influenciar a adesão a comportamentos prejudiciais à saúde como tabagismo, má alimentação, obesidade e sedentarismo, além dos impactos sobre suporte social e isolamento social. As emoções negativas como ansiedade e depressão podem afetar a estabilidade autonômica do coração. Quanto às emoções positivas, os estudos são escassos, além do pouco consenso do que pode ser considerada uma emoção positiva. Mas de fato, as emoções positivas têm o potencial de reduzir efeitos do estresse sobre o sistema cardiovascular. De fato, há evidências da associação entre emoções e doenças cardiológicas, ou seja, pode influenciar no aparecimento ou ser consequência, e, assim, influenciar no prognóstico da doença. Realizou-se uma investigação com 30 pessoas com idade entre 48 e 69 anos, submetidas ao exame de Holter 24 horas, em uma Clínica Cardiológica do Distrito Federal. Acrescentou-se ao exame uma entrevista para levantar informações sobre as atividades diárias auto-registradas e esclarecer aspectos da história de vida. Portanto, verificou-se diferenças acentuadas entre gênero, as mulheres evidenciaram mais arritmias que os homens. Nas mulheres as arritmias ventriculares ocorreram mais relacionadas à preocupação do que a ansiedade e não se demonstrou relacionada à raiva. E, ainda, essa emoção se diferenciou das demais, pois foram simultâneas às arritmias supraventriculares nas mulheres e ventriculares nos homens. A tristeza não se associou às arritmias ventriculares em nenhum dos gêneros, mas teve maior número nas arritmias supraventriculares nas mulheres. Portanto, a compreensão de que os fatores emocionais podem desencadear desequilíbrio funcional do coração pode ser subsídio para estratégias terapêuticas mais eficazes em cardiologia. 37 Artigo 03: Desfecho de Curto e Longo Prazo na Cardiomiopatia Induzida por Estresse: O que Podemos Esperar? Um estudo realizado por Ribeiro e Cols. (2013), para avaliar a prevalência e os preditores clínicos de complicações de curto e longo prazo em pacientes com Cardiomiopatia de estresse /Takotsubo (TC). A TC é uma síndrome caracterizada por uma disfunção sistólica transitória na ausência de uma doença coronária obstrutiva, que imita o infarto do miocárdio. Um estressor emocional ou físico geralmente precede os sintomas, mas a fisiopatologia é incerta. Foram incluídos todos pacientes admitidos na Clínica Mayo, entre novembro de 2006 e agosto de 2011, totalizando 37 pacientes com CT que tinham sido submetidos a cateterismo cardíaco esquerdo para Síndrome Coronariana Aguda. A maioria dos pacientes apresentava fatores de risco cardiovascular (Hipertensão, Dislipidemia e Diabetes). O sintoma mais comum na apresentação da síndrome foi a dor no peito e o fator desencadeante foi o estresse emocional. Um gatilho físico esteve presente como fator desencadeante. Sendo a maioria dos pacientes do sexo feminino, na faixa etária pósmenopausa. A CT foi associada a uma alta taxa de complicações intra-hospitalares. O estresse físico, a disfunção sistólica e o valor do pico do BNP2 foram preditores de desfechos adversos. Portanto, o estresse físico, a fração de ejeção na admissão e os níveis de BNP são ferramentas na estratificação de risco. Portanto, mesmo que a CT seja considerada uma forma benigna de insuficiência cardíaca, e o prognóstico a médio e longo prazo seja favorável à população, observou-se uma alta porcentagem de pacientes que apresentou complicações cardíacas justificando a importância do reconhecimento da CT, evitando assim a ocorrência de eventos potencialmente fatais. Artigo 04: Validação da versão Brasileira do Questionário de Ansiedade Cardíaca. Estudo realizado por Sardinha e cols. (2013), para validação da versão Brasileira do Questionário de Ansiedade Cardíaca (QAC). Os transtornos psíquicos parecem desempenhar fator de risco para morbimortalidade cardiovascular, além do impacto negativo sobre a estabilidade da doença, adesão ao tratamento e qualidade de vida de pacientes cardíacos. 2 Peptídeo natriurético cerebral (BNP) – hormônios secretados principalmente pelo miocárdio ventricular na ocorrência de desarranjo hemodinâmico, como, por exemplo, elevação da pressão arterial. 38 Este estudo teve por objetivo a validação da versão brasileira do QAC de forma a proporcionar aos clínicos um instrumento adaptado, válido e simples para avaliação de Ansiedade Cardíaca (AC) em pacientes cardíacos brasileiros. Nesse panorama torna-se necessário entender o conceito de AC, sendo esta caracterizada pelo medo de estímulos e sensações a doenças cardíacas, percebidos como perigosos. Essa síndrome se caracteriza por sensações aversivas ou dor precordial, na ausência de alterações físicas. A síndrome, frequentemente leva indivíduos a uma variedade de comportamentos hipocondríacos que podem proporcionar riscos de procedimentos diagnósticos desnecessários. A AC mostrou-se associada a uma série de doenças relacionadas à ansiedade, mas com prevalência significativa nos pacientes cardíacos. Para abordar esses problemas foi desenvolvido o QAC, para casos clínicos em cardiologia. Na primeira fase, estrutura fatorial e confiabilidade, foram recrutados 98 pacientes com idade entre 34 e 89 anos, sendo esses portadores de DAC em dois ambulatórios de cardiologia do Rio de Janeiro. Nessa fase os pacientes foram submetidos ao QAC e uma triagem quanto à presença de comorbidades psiquiátricas. Na segunda fase, o objetivo foi explorar a validade convergente e divergente da escala. Nessa fase foram recrutados 56 pacientes com diagnóstico formal de DAC de um programa de reabilitação baseada em exercício. Os participantes preencheram o QAC e dois outros questionários o ESC (Escala de Sensações Corporais) e o SPIN (Versão Brasileira do Social Phobia Inventory). Na terceira fase, o intuito foi determinar a validade discriminante da versão brasileira de QAC, procurou testar se grupos diferentes de pacientes cardíacos apresentavam diferenças significativas no escore do QAC. Os resultados demonstram que o QAC parece medir mais adequadamente a ansiedade cardíaca através das subescalas “Medo e Hipervigilância” e “Evitação”. Foi encontrado correlação significativa entre o fator 13 e o escore total do ESC. Os fatores do SPIN apresentaram correlações significativas com as subescalas do QAC. Na fase 3, os escores dos pacientes “Cardíacos com pânico “ foram significativamente maiores no fator 1 do QAC, mas não diferentes do fator 24. Os dados forneceram a validação da versão Brasileira do QAC para avaliar AC em pacientes com doenças cardiovasculares. Sabe-se que como qualquer outro instrumento 3 4 Fator 1 – “Medo e Hipervigilância”. Fator 2 – “Evitação”. 39 psicométrico, o QAC requer novos estudos para verificar sua estabilidade em outros contextos. Portanto, espera-se que essa versão seja uma contribuição valiosa para ajudar Cardiologistas e Clínicos a identificar as manifestações disfuncionais de ansiedade que podem impactar negativamente no tratamento dessas doenças. Artigo 05: Reabilitação Cardiovascular, Dança de Salão e Disfunção Sexual. Um estudo de Carvalho e cols. (2013), sobre a relação entre dança de salão, disfunção sexual e reabilitação cardiovascular. A disfunção sexual é um problema de saúde pública que se relaciona com as principais doenças cardiovasculares. Embora a função sexual seja um bom parâmetro para melhorar a qualidade do tratamento das doenças cardiovasculares e qualidade de vida dos pacientes, as manifestações da sexualidade ainda costumam ser subestimadas pelos médicos, amparadas pelas questões culturais, tabus e preconceitos. Tais questões devem ser plausíveis de mudança, pois após um evento cardiovascular, as orientações sobre atividade sexual são tão relevantes quanto às questões de trabalho e retorno as atividades diárias. Historicamente, sabe-se que o tratamento farmacológico pode estar associado ao pior desempenho sexual, no entanto a nova geração de medicamentos parece contribuir para a melhora da função sexual. Estudos demonstram que a atividade física diminui o risco de IAM e morte súbita durante a relação sexual. E entre os homens mais jovens, a melhor aptidão cardiorrespiratória, os tornam menos suscetíveis à disfunção erétil, dessa forma fica evidente que o exercício físico deve ser incluído nas intervenções de forma a beneficiar a saúde cardiovascular e a sexual. Os efeitos dos exercícios físicos sobre aptidão física e esfera emocional (ansiedade, depressão, autoestima, etc.) têm um largo espectro de ações, demonstrando sua importância no tratamento das doenças cardiovasculares e no manejo da disfunção sexual. Desde 2007, os programas de reabilitação cardiovascular, na cidade de Florianópolis, a dança de salão tem sido utilizada como meio de condicionamento físico, ou seja, como atividade física. E se tem percebido uma vantagem significativa em relação aos exercícios físicos convencionais, especialmente pelas características da dança, as quais aproximam as pessoas, tanto na forma física como na forma emocional. Nesse prisma, portanto, a dança de salão tem sido vista como uma estratégia terapêutica concomitante das doenças cardiovasculares e disfunção sexual. 40 Artigo 06: Avaliação do Conhecimento de Pacientes de Reabilitação Cardíaca: Brasil versus Canadá. Estudo realizado por Ghisi (2013), com o objetivo de descrever e comparar os conhecimentos de DAC5 entre pacientes do Brasil e do Canadá que participam de programas de Reabilitação Cardíaca. Com o aumento da prevalência da DAC, isso contribui para a crescente carga global de doenças cardiovascular. Embora haja disponibilidade do diagnóstico e tratamento para DAC nos diversos países, ainda é muito limitada as abordagens de prevenção secundária como a Reabilitação Cardíaca (RC), nos países de alta renda e ainda mais nos países de baixa renda. A educação de pacientes tem sido considerada um papel essencial para a RC, associado aos aspectos como: estilo de vida e tratamento do fator de risco médico, saúde psicossocial, terapias cardioprotetoras e avaliação em longo prazo. Essa educação do paciente desempenha um papel fundamental nas DAC, na medida torna-se um facilitador de mudanças de comportamento. Foi aplicado o Questionário de Educação de Doença Arterial Coronariana (DACE-Q) para avaliar o conhecimento que os pacientes tinham sobre sua doença e fatores relacionados. E foi feita a comparação entre duas amostras de pessoas, sendo 300 brasileiros e 300 canadenses. Os dados foram processados por meio de estatísticas descritivas, post-hoc e teste t de Student. O DACE-Q é um instrumento composto de 19 itens que incluem os seguintes domínios de conhecimento: 1) fisiopatologia e sinais e sintomas da doença; 2) fatores de risco e de estilo de vida; 3) diagnóstico, tratamento e medicação; 4) exercícios físicos. Os resultados apontam que os entrevistados canadenses apresentaram pontuações maiores no total de conhecimentos que os entrevistados brasileiros, sendo o domínio de conhecimento mais esclarecido, sobre exercícios físicos. Os canadenses apresentaram pontuações mais significativas que os brasileiros entre 13 dos 19 itens, sendo as maiores disparidades nas perguntas: ‘definição de DAC’, ‘uso de nitroglicerina’, ‘quando evitar exercício físico e respectivamente estresse psicológico’. Os participantes mais jovens e do sexo masculino apresentaram conhecimento significativamente maiores em ambos os países. No geral, o maior nível de escolaridade e renda esteve relacionado à maior pontuação de conhecimento. Os resultados apóiam-se na 5 DAC – Doença Arterial Coronária. 41 hipótese que os entrevistados canadenses têm mais conhecimento sobre as suas condições de saúde. Percebe-se a partir dos resultados que os programas de reabilitação têm um currículo educacional estruturado o que pode contribuir para o aumento do conhecimento do paciente e em última instância quiçá facilitar mudanças de comportamentos aos participantes e melhorar sua qualidade de vida. Artigo 07: Redes Sociais de Saúde como Grupos de Suporte Online na Vida de Pacientes com Doenças Cardiovasculares. Estudo realizado por Medina e cols. (2013), sobre redes sociais de saúde como suporte online em pacientes cardíacos. Esse estudo se propôs a identificar na literatura estudos sobre a proliferação e impacto de Grupos de Suporte Online em contextos terapêuticos e identificar suas influências e impactos (positivos ou negativos) em pacientes com doenças Cardiovasculares. No mundo, cerca de dois milhões de pessoas são diagnosticadas com doenças Cardiovasculares. Tais pessoas que convivem com essa doença além de necessitarem de um acompanhamento detalhado do estado de saúde, necessitam também de apoio emocional para lidar com os problemas de difícil tratamento. Nesse sentido, as redes sociais de saúde em ambiente virtuais podem criar relacionamentos de pacientes com outras pessoas de interesses afins, e, ainda pode proporcionar troca de experiências, dúvidas, opiniões e emoções. Consequentemente, torna-se necessário analisar como esses ambientes influenciam nos aspectos de saúde dos pacientes. Portanto, pensando nesses aspectos de saúde dos pacientes, foram analisados estudos que retrataram as seguintes temáticas: a oportunidade para melhorar a qualidade de vida dos pacientes, análise de comportamentos e emoções vinculados nos ambientes e oferecimento de suporte terapêutico. Portanto, aspectos benefícios advindos da participação nesses ambientes. Nesse estudo foi realizada uma revisão sistemática da literatura com artigos publicados entre 2007-2012 e foram selecionados quatro artigos, sobre Grupos de Suporte Online para pacientes com doenças Cardiovasculares. Verificou-se que pacientes e familiares têm utilizado a internet como aliado tecnológico para compreensão do processo saúde-doença, na busca de informações sobre sintomas, medicamentos, abordagens terapêuticas e discutir preocupações em comum com outros pacientes. Foram verificados implicações e potenciais benéficos como oportunidade de 42 vida social a pacientes que vivem isolados, a troca de experiências interpessoais entre pacientes e a possibilidade de apoio emocional. Entretanto, notou-se a necessidade de moderadores (especialistas) nos grupos para ajudar a aproveitar/controlar/avaliar a qualidade de informação que circula nesses ambientes. Os resultados apontam que o impacto destes ambientes virtuais na saúde são promissores, pois pode atuar como terapias adicionais e contribuir para redução de transtornos psicológicos, como ansiedade, depressão e estresse. No entanto, deve se analisar os riscos aos pacientes mais sensíveis, advindos das informações expostas nesses ambientes. Artigo 08: Desenvolvimento e Validade da Versão em Português da Escala de Barreiras para Reabilitação Cardíaca. O estudo realizado por Ghisi e cols. (2012), sobre a validação da Escala de Barreiras para Reabilitação Cardíaca em português. Sendo assim, o objetivo desse estudo foi traduzir, adaptar culturalmente e validar a escala Cardiac Rehabilitation Barriers Scale (CRBS) para a língua portuguesa. As doenças cardiovasculares têm sido apontadas como uma das principais causas de morte, além de contribuir para as altas taxas de morbidade. Entretanto, apesar dos benefícios da reabilitação cardíaca, como: diminuição dos riscos cardiovasculares, redução da recorrência de eventos cardíacos, aumento da qualidade de vida e redução da morbidade, ainda assim, é pouco utilizada. A literatura descreve a baixa participação e aderência aos programas de reabilitação de Reabilitação Cardíaca (RC) como sendo barreiras, e estas podem ter caráter pessoal (paciente), profissional (equipe multidisciplinar) ou público (sistema). Os estudos destacam três escalas que avaliam as barreiras no que tange a participação e a aderência à RC: uma inglesa - Crenças sobre Reabilitação Cardíaca – que avalia as crenças, sendo aplicada a aderência e não a participação a RC; uma australiana – CREO (Cardiac Rehabilitation Enrolment Obstacles) – que avalia os obstáculos a RC; e uma canadense – CRBS (Cardiac Rehabilitation Barriers Scale) – que avalia as barreiras a participação e aderência aos programas de RC. Foram realizadas duas traduções iniciais independentes e após a tradução reversa, ambas as versões foram revisadas por um comitê. A versão produzida foi aplicada em 173 pacientes com DAC, desses 139 eram participantes de RC. A versão piloto da CRBS contém 21 itens, sendo esses divididos em quatro subescalas: necessidades percebidas/fatores de 43 cuidado a saúde; fatores logísticos; conflito de trabalho/tempo; e comorbidades/estado funcional. A consistência interna foi avaliada pela alfa de Cronbach, a confiabilidade foi através do teste-reteste e a validade de construto pela análise fatorial. E para avaliar a validade entre participantes e não participantes de RC foram utilizados o Teste-t. E por fim, as características dos pacientes (gênero, idade e escolaridade) foram avaliadas. Os resultados da versão em português da CRBS apresentaram diferenças significativas nos escores totais por idade, sexo e nível educacional. Através da validação pelo alfa de Cronbach e ICC6 a versão revelou cinco fatores, sendo eles: comorbidades e estado funcional; necessidades percebidas; problemas pessoais e familiares; viagem e conflito de trabalho; e acesso. Sendo esses considerados consistentes internamente. É notório que o processo de tradução e validação de um instrumento vai além da análise idiomática e semântica, pois é necessário adaptar a linguagem do ponto de vista cultural e conceitual, ou seja, mais próxima da realidade da população. Os resultados apresentados no estudo são consistentes com os da versão original contando com o mesmo número de itens (21). A versão original apresentou quatro fatores e a versão em língua portuguesa cinco fatores, tais diferenças entre o número de fatores podem estar relacionadas à diferença cultural. Enfim, a versão em língua portuguesa da CRBS apresentou índices de confiabilidade e validade adequados, sendo assim, este é primeiro instrumento que avalia as barreiras para a participação e aderência em níveis múltiplos (pessoal, profissional e público) para participantes ou não de RC. Tal instrumento poderá subsidiar estratégias para aumentar a participação e aderência a RC com foco nas necessidades reais dos pacientes. 6 ICC – Coeficiente de correlação intraclasse. 44 6 DISCUSSÃO Percebe-se que o número de publicações que relatam as doenças cardiovasculares com enfoque nos aspectos psicológicos ainda é escasso. Dentro desse prisma, a título de comparação, foi realizada pesquisa no Portal Periódicos Capes, rede assinada pela Universidade Católica de Brasília (UCB), com os seguintes parâmetros: Busca avançada por assunto; palavras ‘cardio’ AND ‘psico’ contidas (não exata, não começa com) no assunto; sem limite de tempo; artigo (tipo de material); sem limite de língua. Como resultados, obtivemos zero artigos. A mesma busca em ‘qualquer’ lugar do material, obtivemos 58 referências em espanhol (40), inglês (38), português (8) e italiano (1). Os assuntos listados dessas referências foram: Heart Failure(3); Cardiovascular Disease(3); Sedation(2); Rehabilitation(2); Ec(2); Elderly(2); Insuficiencia Cardiaca(2); Autopsy(1); Quality(1); Myocardial Ischemia(1); Hepatic Metabolism(1); Nervous Tissue Metabolism(1); Midazolam(1); Causa De Muerte(1); Bronchoscopy(1); Pregnancy-induced Hypertension(1); Scales(1); Length Of Stay(1); Cause Of Death(1) e Polyvalent Intensive Care Service(1). Em nenhumas dessas referências a atuação do Psicólogo foi assunto do artigo. Tendo em vista artigos disponibilizados para o Psicólogo brasileiro, optamos pela base primária Bireme (BVS) para nova pesquisa de comparação de dados. A palavra ‘cardio’, buscada em título/resumo/assunto produziu 1.113 artigos, o que demonstra que o assunto é altamente produtivo na literatura científica. A palavra ‘psico’em título/resumo/assunto, produziu apenas 48 artigos, sendo 6 repetidos, apenas 24 em português. Nenhum dos artigos (em qualquer língua) referiu-se às doenças cardíacas. Na mesma base (BVS), a palavra ‘infarto’, pesquisada em título/resumo/assunto produziu 186.912 referências, sendo 3.741 em língua portuguesa, o que demonstra novamente que o assunto é central em pesquisas científicas, mesmo em língua portuguesa. Apostando nessa produtividade da palavra ‘infarto’, buscamos o conjunto ‘infarto’AND ‘psico’, o que produziu 3 artigos, sendo 1 repetido. Um deles, Reber (2008), sobre efeitos da cirurgia cardíaca na mortalidade, e o outro, López, Araúxo, Páramo (2009), sobre aspectos cerebrais do Transtorno Bipolar. A expressão ‘acute coronary syndrome’ AND ‘psycho’, nesta mesma base, produziu zero artigos. Em nova pesquisa, utilizando o descritor da própria base [Doenças Cardiovasculares / Cardiovascular Diseases / Enfermedades Cardiovasculares (104.043)] restringindo a pesquisa pelo aspecto ‘psicologia’, também produziu zero artigos. Retiramos o 45 aspecto ‘psicologia’, e nos voltamos para os 104.043 artigos classificados como pertinentes às Doenças Cardiovasculares. Aplicamos os filtros: língua portuguesa, humanos, Brasil, e ficamos com 541 artigos. Os 20 assuntos principais deste conjunto foram: Doenças Cardiovasculares (400); Obesidade (59); Hipertensão (49); Síndrome X Metabólica (27); Fatores de Risco (23); Hábitos Alimentares (18); Cardiologia (18); Diabetes Mellitus (16); Hospitalização (16); Pressão Sanguínea (15); Estilo de Vida (14); Lipídeos (14); Atenção Primária à Saúde (13); Índice de Massa Corporal (13); Transtornos Cerebrovasculares (13); Doenças Respiratórias (12); Colesterol (11); Mortalidade (11), Diabetes Mellitus Tipo 2 (11) e Hábito de Fumar (10). Em que pese vários destes assuntos serem tema da Psicologia da Saúde, optamos por investigar os 14 artigos que tinham como assunto principal o Estilo de Vida. Desses, 6 eram repetidos, ficando então com oito artigos. Desses, um, Berwanger et al. (2013), é um estudo sistemático chamado REACT para cálculo de evidências; e os sete outros, Jardim et al. (2007); Lancarotte et al. (2010); Magalhães (2002); Monego e Jardim (2006); Nobre et al. (2006); Oliveira et al. (2009); Romanzini et al. (2008), tratam de diferentes estudos de fatores de risco, tais como pressão arterial, violência, sobrepeso, hábitos de vida, em crianças, adolescentes e adultos. A palavra ‘psico’ ou ‘comport’ foi encontrada nestes artigos como referências a fatores psicossociais e a comportamentos de risco. Os trabalhos apontam os fatores de risco, mas não há menção de intervenções psicológicas ou de alguma intervenção que venha a alterar, melhorar, mudar esses fatores. Sabe-se que as doenças coronarianas representam um grave problema de Saúde Pública, com índices significativos de morbimortalidade, e os comportamentos de saúde, os fatores emocionais e psicossociais estão diretamente ligados aos fatores de risco, desencadeamento e reabilitação das doenças cardiológicas. Nesse âmbito surge a necessidade de compreender a relação entre cardiopatia e vida psíquica, portanto cresce a necessidade de publicações acessíveis ao Psicólogo brasileiro, que tenham pesquisas científicas que possam subsidiar a inserção do profissional Psicólogo na crescente demanda por atendimento na área. Nesse sentido, o objetivo deste estudo foi verificar se há volume significativo de publicações recentes Qualis A da área de Psicologia e Cardiologia, em língua portuguesa, que aborda os aspectos psicossociais relacionados ao Infarto Agudo do Miocárdio. Neste espectro a análise dos dados demonstrou que a Revista Arquivos Brasileiros de Cardiologia publica mais artigos no geral quando comparado com as três revistas Qualis A de Psicologia. Enquanto as três revistas de Psicologia publicaram entre 214 e 423 trabalhos 46 durante os últimos 5 anos (2009-2013), a revista Arquivos Brasileiros de Cardiologia nos seus últimos 5 volumes (2012-20147) publicou 503 trabalhos. A análise das publicações do estudo evidenciou que a revista de Cardiologia publicou mais trabalhos relacionados às questões relacionadas à psicologia que as próprias revista da Psicologia. Cabe ressaltar que as publicações não tinham um viés totalmente relacionado aos aspectos psicológicos, mas percebe-se a preocupação sobre como os aspectos psicossociais podem estar associados às doenças cardiológicas, bem como podem influenciar no prognóstico das doenças cardiológicas. Nesse prisma vale lembrar que a revista de cardiologia tem um número mais significativo de publicações que as revistas de psicologia. Enquanto a revista de cardiologia evidenciou estudos relacionados às doenças cardiológicas, as revistas de psicologia têm estudado e abordado vários temas significativos, tais como: validação de instrumentos psicológicos, avaliação psicológica, temáticas nos vários ciclos de vida, finitude, doenças ontológicas, parentalidade, violência, personalidade, comportamento e educação, dentre vários outros temas. No que pese a gravidade e aumento das doenças cardiológicas, bem como os impactos destas doenças, não há um número crescente de publicações neste sentido. Evidenciando a necessidade de trabalhos mais atuais que possam fornecer informações e conhecimentos aos profissionais da saúde (médicos, enfermeiros e psicólogos), de forma a fornecer subsídios para melhorar o prognóstico e tratamentos desta doença. O crescimento de publicações nesse âmbito pode promover estudos e pesquisa na área da psicologia e melhorar a qualidade de vida no que tange aos impactos psicossociais de uma doença crônica na vida do paciente. Em relação à análise dos artigos obtidos, estes destacaram os seguintes aspectos relacionados às doenças cardiológicas: a influência dos fatores de riscos; a relação das emoções e estas doenças; a relação entre aspectos psíquicos e doenças dessa natureza; os aspectos positivos das atividades físicas, como a dança e a atividade sexual, para reabilitação e retorno a vida cotidiana de pacientes cardiovascular; os programas de reabilitação cardíaca; e enfim as redes sociais de saúde em ambiente online como forma de suporte social e emocional a pacientes com doenças cardiovasculares. Os fatores de riscos relacionados às doenças cardiovasculares, foi um dos temas evidenciados em um dos artigos analisados, como por exemplo, o tabagismo, fator esse que aumenta acentuadamente o risco de um IAM. As consequências psicossociais associadas ao 7 Publicações selecionadas até março de 2014. 47 tabagismo, como alexitimia e a falta de assertividade geram impactos nos fatores de risco e no prognóstico de doenças desta natureza. Vale enfatizar que as dificuldades associadas a essas consequências psicossociais, como gerir afetos negativos e situações de estresse, podem contribuir para que o paciente recorra ao tabagismo como mecanismo de enfrentamento. A literatura aponta que os fatores de risco modificáveis, segundo Straub (2005), por exemplo, o tabagismo tem uma carga significativa ao risco de IAM, duplicando as chances da doença. Isso não apenas pelo ato em si, mas também pelas conseqüências associadas à dependência como foi analisado no estudo, como, a alexitimia e falta de assertividade que se mostrou relacionada à dependência tabágica. A falta de assertividade mostrou-se relacionada ao padrão de comportamento tipo A, na medida em que as pessoas com essas características de comportamento pode se colocar em situações estressoras aumentando os fatores de riscos para as doenças coronárias. Portanto, a hostilidade pode muitas vezes torna-se uma forma de comunicação do doente cardíaco, em especial, quando sente frustrado em algo não alcançado, sendo assim essa forma de comunicação pode associar aos aspectos emocionais é representar um estresse cumulativo com influencia significativo nas doenças cardiológicas. Vale acrescentar um novo fator de risco psicológico identificado no estudo, a personalidade tipo D, esta se caracteriza por altos níveis de ansiedade, tensão crônica, emoções negativas e inibição social, aspectos esses que aumenta o estresse emocional provocando um baixo nível de bem estar psicológico. Além disto, indivíduos socialmente inibidos podem apresentar auto-expressão reduzida e tendem a diminuir a disponibilidade de suporte social, visto que se sentem inseguros com os outros, experienciando falta de assertividade. E, portanto, esses fatores psicológicos podem influenciar no prognóstico das doenças cardiológicas. No que se refere à alexitimia esta pode dificultar o estabelecimento de relações interpessoais, pois os alexitímicos podem exibir falta de empatia ou déficit em compreender e experienciar as emoções dos outros. Sendo essas características mais observadas em pacientes que sofreram infarto do que na população saudável demonstrando assim uma relação entre alexitimia e este evento. Além disso, os estudos têm demonstrado que pessoas com essas características podem se beneficiar menos de suporte social em função da dificuldade em estabelecer relações interpessoais. As publicações mostraram evidências da relação entre doenças cardiovasculares e fatores psicossociais, tais como: padrão de comportamento tipo A, depressão, estresse e emoções positivas e negativas. E por mais que os estudos sobre os efeitos das emoções sobre 48 as doenças cardiovasculares sejam ainda escassos, em especial sobre as emoções positivas. Acredita-se que tanto o exagero como a inibição das emoções tem impactos sobre a saúde de pacientes em doenças desta natureza, por exemplo, a inibição pode demandar no paciente um esforço psicológico que pode acarretar em um estresse cumulativo. Sabe-se que as emoções têm papel importante de risco e prognóstico das doenças coronárias, na medida em que pode influenciar o paciente a adotar comportamentos prejudiciais, como: sedentarismo, má alimentação, tabagismo, isolamento social, ansiedade e depressão. De acordo com a literatura, os fatores de riscos tais como: o tabagismo, sedentarismo e fatores psicológicos parecem ter uma carga significativa quanto ao risco e evolução das doenças coronárias, na medida em que tem uma relação com as emoções e pode influenciar o indivíduo a adotar comportamentos desfavoráveis a manutenção da saúde (NIEMAN, 1999; MACIEL, 1994; RUSCHEL, 1994; BURNETT; BLUMENTHAL, 2003; STRAUB, 2005). Acrescentando ainda sobre os fatores de risco, a literatura relata que o perfil psicológico, personalidade “tipo A”, apresenta características de personalidade relevantes que podem influenciar na doença. As características de reação emocional deste perfil de personalidade podem associar-se as doenças cardiológicas por ter uma relação com as emoções vivenciadas pelo paciente. (SCHERR, 1992; MACIEL, 1994; RUSCHEL, 1994; BURNETT; BLUMENTHAL, 2003). Os papéis sociais de gênero têm demonstrado diferenças numa mesma situação, geralmente os homens tendem a expressar mais emoções negativas, sendo a raiva a mais evidenciada e o medo a mais reprimida. Já nas mulheres observa-se mais expressão de emoções, entretanto estas reprimem mais a expressão de raiva. Portanto, percebe-se que o gênero é um fator que influencia as respostas cardíacas a determinadas emoções, mas não outras. Percebe-se que as emoções negativas como ansiedade e depressão podem afetar a estabilidade autonômica do coração. Enquanto as emoções positivas têm o potencial de reduzir efeitos do estresse sobre o sistema cardiovascular. Na publicação que aborda a Cardiomiopatia de estresse/Takotsubo (CT), sendo essa uma síndrome caracterizada pela ausência de doença coronária, os resultados demonstraram que a CT foi precipitada frequentemente por um gatilho emocional ou físico. Cabe enfatizar que mesmo com a ausência da doença em si, o simples fato dessa síndrome imitar os sintomas do IAM isso gera um impacto sobre o estado psíquico do indivíduo e no próprio estado de saúde do mesmo. Os aspectos da sensação de medo, insegurança, ansiedade, onipotência e isolamento relatado na literatura traduzem a vivência e percepção que se constrói a cerca da 49 doença e isso tem um impacto na vivencia subjetiva do indivíduo quando se traduz os sintomas ligados a doença (RUSCHEL, 1994; SOUSA; OLIVEIRA, 2005). Sabe-se atualmente que as características psicossomáticas têm um viés e impacto nas doenças cardiológicas e pode influenciar no estado de saúde/doença de pacientes. Vale ressaltar ainda, que por mais que a CT seja uma forma benigna de insuficiência cardíaca e, portanto, o prognóstico seja favorável na população com CT, os resultados demonstraram uma alta porcentagem de pacientes que apresentou complicações cárdicas decorrentes da síndrome. E, portanto, torna-se necessário o reconhecimento e monitoramento dessa síndrome como forma de evitar eventos potencialmente fatais nesses casos. Percebe-se que o estado emocional, o medo, a ansiedade, a insegurança, que se constrói a cerca de uma doença cardiológica tem impactos no estado de saúde de paciente conforme o estudo demonstrou e será evidenciado no próximo estudo descrito abaixo. O estudo sobre a validação da versão Brasileira do Questionário de Ansiedade Cardíaca (QAC), a Ansiedade Cardíaca (AC) é caracterizada pelo medo de sensações cardíacas. O QAC é um instrumento para avaliar AC, aspecto significativo para ampliação e suporte aos profissionais da saúde na medida em que oferece uma ferramenta útil para auxílio no tratamento das doenças cardiológicas, visto que os aspectos emocionais têm seu peso no estado de saúde do paciente e poderia contribuir para melhora da qualidade de vida de pacientes com ou sem doença cardiovascular. E conforme destaca a literatura, os aspectos psicológicos tem um papel preponderante na reabilitação do paciente que vivenciou um IAM, pois, a forma como o paciente percebe-se a si mesmo, isto pode melhorar a autoestima, autoconfiança, minimizando os traços depressivos e de ansiedade, e assim proporcionar uma melhor probabilidade de retorno as atividades rotineiras e melhora da qualidade de vida ao indivíduo (LA MENDOLA; PELLEGRINI, 1979 apud ROMANO, 1994). Vale enfatizar que o questionário construído para a validação do QAC por mais que seja apenas um instrumento psicológico, este tem um impacto direto na vida do paciente, em especial na vida psíquica, na medida em que diz respeito ao cotidiano do indivíduo. As perguntas têm um impacto na subjetividade do indivíduo e nas emoções vivenciadas pelos mesmos. Sabe-se que atualmente os programas de reabilitação cardíaca (enfatizado em dois artigos do estudo), bem como o conhecimento da doença e do próprio processo de reabilitação podem funcionar como um facilitador de mudanças de comportamento. Por exemplo, esses programas transmitem informações aos pacientes que poderá alterar o comportamento de 50 saúde ou melhorar o seu estado de saúde. Tais aspectos vão de encontro com a literatura que tem destacado os programas de RC como sendo ferramenta fundamental para que as mudanças no estilo de vida se concretizem, além de criar hábitos de vida mais saudável e auxiliar na redução de novos episódios da doença (BERRY; CUNHA 2010). Entretanto, apesar do conhecimento dos benefícios com foco na prevenção secundária, tais como: diminuição do risco cardíaco, redução da recorrência de eventos cardíacos e aumento da qualidade de vida dos pacientes e redução da mortalidade, como é o caso da RC, ainda assim a reabilitação cardíaca é pouco utilizada. Os estudos de Berry e Cunha (2010), têm destacado os benefícios e a eficácia destes programas, no entanto, o engajamento e aderências aos programas ainda é limitado e pouco utilizado. Uma das publicações destacou que a melhora da função sexual, os exercícios físicos, como por exemplo, a dança de salão tem um fundo benéfico na reabilitação das doenças cardiológicas, pois contribui significativamente para melhora psicológica do paciente. A dança de salão, em especial, tem uma característica vantajosa em relação aos demais exercícios físicos convencionais, além de todos os benefícios da atividade física possibilita ainda uma aproximação entre as pessoas tanto física quanto emocional, além de significativa rede de suporte ao paciente. Portanto, a dança de salão tem sido vista como uma estratégia terapêutica concomitante das doenças cardiovasculares e disfunção sexual. A subestimação por profissionais da saúde no que diz respeito ao retorno a vida sexual do paciente após o evento de doenças cardiológicas pode piorar a qualidade de vida do paciente. Portanto, de acordo com a literatura, as orientações por profissionais da saúde que enfatize o retorno ao trabalho, a vida sexual e o engajamento nos exercícios físicos são peças chaves para o retorno do indivíduo a sua vida cotidiana, além de contribuir significativamente para melhora psicológica do paciente. Vale ressaltar que a falsa ideia de que a relação sexual seja um pesado fardo para o coronariopata está pautado em crenças e tabus construídos ao longo da nossa cultura (CASTRO et al, 1995). Corroborando com essas questões Straub (2005) aponta que as preocupações no retorno a atividade física, ao trabalho e a vida sexual após uma doença cardiológica podem ser minimizado através de uma boa orientação da equipe de saúde para que o indivíduo possa retornar as atividades rotineiras, respeitando suas possibilidades e restrições. Sabe-se que com o aumento significativo das doenças cardiovasculares, sendo essa uma doença crônica, os pacientes necessitam de um monitoramento constante ao tratamento, além de apoio emocional para lidar com problemas de difícil tratamento. Nesse contexto surgem as Redes Sociais de Saúde em ambiente online, que desempenha o papel de suporte 51 social e emocional. Os grupos buscam interesses afins como, expor suas experiências, dúvidas, opiniões e até emoções. As Redes Sociais de Saúde em ambiente online tem se mostrado um potencial benéfico nos grupos de pacientes com doenças cardiovasculares, na medida em que pode significar um suporte de tratamento terapêutico, oportunidade de vida social aos pacientes que vivem isolados, benefícios de troca de experiências e a possibilidade de apoio emocional. Sabe-se que as pessoas mais sensíveis as informações que podem circulam nesses ambientes, poderia se beneficiar da presença de moderadores (especialistas) para ajudar a aproveitar/controlar/avaliar a qualidade das informações que circulam nesses ambientes. Portanto nesse contexto de vivência de uma doença cardiológica, de acordo com a literatura, o suporte social e emocional desempenha papel significativo na vida do paciente. Geralmente as relações sociais promovem saúde e bem estar ao paciente, na medida em que disponibiliza escuta, atenção, informação, companhia e promoção de saúde ao paciente (ABREU-RODRIGUES; SEIDL, 2008; GOMES et al, 2011). Além disso, após uma doença desta natureza os eventos estressantes decorrentes desta podem levar o paciente a sentir-se isolado e/ou rejeitado, e, portanto o suporte social pode diminuir o risco de agravamento da doença (Straub, 2005). O suporte social tem se mostrado benéfico no processo de saúde/doença do paciente, diminuindo os comportamentos de riscos, ajudando na adesão ao tratamento, além de melhora da qualidade de vida do paciente. A literatura destaca ainda que a participação da rede de apoio, em especial a família, tem sido ferramenta essencial na reabilitação do paciente, portanto esse suporte tem se mostrado gratificador e facilitador no retorno do paciente as atividades cotidianas, além de diminuir os níveis de ansiedade e depressão (DANTAS; AGUILLAR; BARBEIRA, 2001). Enfim, mesmo com a escassez de estudos relacionados aos aspectos psicossociais relacionados ao IAM, ainda assim, foi possível verificar evidencias da relação entre doenças cardiológica e fatores de riscos, estado emocional na reabilitação e retorno a vida cotidiana, demonstrando assim a necessidade de publicações recentes que abordem os aspectos psicossociais relacionados ao Infarto Agudo do Miocárdio, tendo isto exposto, passaremos às considerações finais. 52 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo evidenciou a escassez de artigos que abordem o tema, demonstrando assim a necessidade de publicações que enfatizem os aspectos psicossociais relacionados às doenças cardiovasculares, em especial ao IAM. Nesse âmbito, estudos e pesquisas podem contribuir com os profissionais da saúde que poderam desempenhar um melhor atendimento aos seus pacientes, na medida em que possam obter informações sobre a relação entre cardiopatia e vida psíquica. Ao longo da análise e discussão dos dados verificou-se que os aspectos psicossociais têm sido interesse de estudo, inclusive na revista de cardiologia, visto o impacto destes no estado de saúde/doença de pacientes com doenças cardiovasculares, como: adesão ao tratamento, reabilitação e retorno a vida cotidiana e a qualidade de vida do sujeito. Fazendo uma análise metodológica, em especial, das revistas Qualis A de Psicologia, percebe-se que entre 2009-2010 houve uma preocupação com pesquisas relacionadas às doenças cardiológicas e parece que mais recentemente, outros temas têm sido destaque e objeto de estudo e pesquisa. Inversamente proporcional, a revista de Cardiologia demonstrou um aumento nas publicações atuais, a partir de 2013-2014, portanto, o assunto parece está despertando a consciência da gravidade e necessidade da busca pelo conhecimento da relação entre aspectos psíquicos e doenças cardiológicas. Embora as revistas de Psicologia manifestem conscientemente a gravidade e a cronicidade das doenças cardiológicas, cabe mencionar que outras temáticas têm sido preocupante no que tange a necessidade de estudos, tais como: instrumentos psicológicos, intervenção psicológica, temática sobre vários ciclos de vida, finitude, doenças oncológicas, questões de gênero, relações de trabalho, educação infantil e aspectos comportamentais. Ademais, em novos estudos torna-se necessário ampliar o número de publicações e aumento dos anos a ser pesquisados, além da inclusão de literatura em outras línguas. Para assim verificar se o número de publicações pesquisadas foi uma amostra limitada de fato ou se o tema ainda não havia despertado a gravidade e amplitude que de fato significa, necessitando de estudos e pesquisa que aborde o mesmo. No que se refere à limitações dessa pesquisa, torna-se necessário, para um próximo estudo, a comparação das linhas editoriais brasileiras com as demais linhas editorias internacionais, verificando se a escassez de estudo está associada às linhas editorias brasileiras ou se trata de aspectos mais globais. Desta pesquisa, desdobram-se outras indagações que poderiam gerar novas pesquisas: como investigar os efeitos da doença coronária sobre o estado emocional e a vida social de 53 pessoas que vivenciaram o infarto agudo do miocárdio, verificando suas percepções quanto aos fatores de risco psicológico para a doença e conhecer seus esforços para lidar com os estressores presentes em seu cotidiano como forma de melhorar o controle emocional sobre os mesmos. Essa sugestão permitiria a ampliação de estudo acerca das doenças cardíacas e dos fenômenos humanos envolvidos nesse processo de adoecimento. 54 REFERÊNCIAS ABREU-RODRIGUES, M.; SEIDL, E. M. F. 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