1 FORMAÇÃO INICIAL E PRÁTICA PEDAGÓGICA: PRESSUPOSTOS EPISTEMOLÓGICOS NECESSÁRIOS PARA A CONSTRUÇÃO DE COMPETÊNCIAS TENDO COMO BASE OS SABERES DOCENTES. Franc-Lane Sousa Carvalho do Nascimento1 ABSTRACT: In this article we intend to analyze the importance of initial assessment in teacher education and educational practice as epistemological assumptions necessary for the construction of knowledge essential activities of the teacher of the lower grades of elementary school, with the central theme of the centrality concept of competences in teacher training. Also reflect how the concept of competence has been used in teacher training, and the prospects that come to train teachers in the news and how the teacher's knowledge of initial training are seen as guiding principle and reflective practice of teachers considered responsible for their community. We understand the importance of policies for initial teacher training for a between theory and practice. Will build on the ideas of the following theorists: Perrenoud (2000), Rios (2002); Nóvoa (1995), Ramos (2001), Mello (1999) and Tardif (1997); Saviane (2003), Behrens (2005) and other . Keywords: Teaching practice. Initial training. Knowledge teacher. Competencies. RESUMO: Com esse artigo pretende-se, analisar a importância da formação inicial no curso de pedagogia e a prática pedagógica como pressupostos epistemológicos necessários para a construção de saberes indispensáveis as atividades do professor das séries iniciais do ensino fundamental, tendo com eixo articulador a centralidade do conceito de competências na formação de professores. Refletir também como o conceito de competências já foi empregado na formação de professores, bem como as perspectivas que se apresentam para a formação de professores na atualidade e como os saberes docentes da formação inicial estão sendo vistos como eixo orientador e reflexivo da prática dos professores considerados competentes por sua comunidade. Compreende-se a importância das políticas de formação inicial de professores para uma articulação entre teoria e prática. Tomaremos como base as idéias dos seguintes teóricos: Perrenoud (2000); Rios (2002); Nóvoa (1995); Ramos (2001); Mello (1999); Tardif (1997); Saviani (2003); Behrens (2005) e outros. Palavras-chave: Prática docente. Formação inicial. Saberes docente. Competências. Introdução Observa-se que durante a ultima década, as políticas educacionais brasileiras seguiram a articulação de algumas reformas que efetivou em propostas curriculares em que a formação inicial foi objeto de intervenção, visto as ações para instituírem o currículo nacional com base nos Parâmetros Curriculares Nacionais – (PCNs), nas Diretrizes Curriculares Nacionais – (DCN) e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9394/96 - (LDB) e de processos de avaliação centralizados nos resultados, observa-se a vinculação entre educação e interesses gerenciados pelo mercado de trabalho. 1Professora da Universidade Estadual do Maranhão – UEMA Mestranda em Educação – Universidade Federal do Piauí – UFPI E-mail: [email protected] 2 Discutiremos a importância da formação inicial e da prática docente como fundamentais para a construção de saberes baseado na competência. A proposta de formação de professores, sustentada pelo desenvolvimento de competências, apresenta um modelo de profissionalização que possibilita um perfil diferenciado da aprendizagem e do trabalho docente, podemos identificar a atuação profissional dos professores como um dos discursos que visam a estabelecer a construção da tentativa de legitimação das reformas que favoreceram a efetivação do conceito de competência. Após a promulgação da LDB, o paradigma de competência é apresentado como central na organização curricular como um paradigma educacional. Com base no conceito de competências, são organizados os fundamentos que objetiva contribuir para a qualidade do processo de formação docente. As interpretações sobre as implicações da LDB revelam que é necessário rever a estrutura organizacional das redes públicas de ensino visando ao aumento da autonomia, tanto no aspecto pedagógico, como no administrativo e na parte financeira, e a melhoria de ensino, neste contexto, encontra-se na política de formação de professores. Tendo em vista a dimensão desse estudo nos deparamos com o seguinte problema de pesquisa: Que saberes da formação inicial dos professores das séries iniciais, graduados em pedagogia, constituíram-se como eixo orientador e reflexivo de sua prática pedagógica considerada competente? Para a efetivação desta proposta apresentamos as seguintes questões norteadoras: Quais as características e especificidade dos saberes docente e sua relação com a prática pedagógica competente? De que forma esses saberes se revelam como eixo orientador e reflexivo da pratica pedagógica tida como competente? Para tanto partimos da seguinte hipótese científica: a formação inicial tendo como base o conceito de competência como elemento integrante e fundamental nas reformas curriculares, nos mais variados níveis de ensino, é um reordenamento da definição do processo de formação dos professores em torno de sua profissionalização, tendo como princípio a concepção de competência reflexiva. A articulação de uma estrutura profissional considerada competente do docente está entre os fundamentos mais destacados para a adoção das propostas de formação como paradigma curricular em busca da qualidade necessária para o atual contexto social e cultural. Torna-se necessário uma análise crítica das vivências didático-pedagógicas das instituições formadoras que, estejam preparadas para trabalhar criticamente pressuposto da superação do pensamento mecanicista e a busca de um pensamento o 3 sistêmico e contextualizado que priorize o coletivo, num constante processo de reflexão-ação-reflexão, partindo da premissa de que existem objetivos a serem alcançados, vistos como um somatório de competência e atitudes viáveis na vida diária. O conceito de competência deve está eminentemente articulado com o pensamento sistêmico é uma abordagem da realidade que surgiu no século XX, em contraposição ao pensamento "reducionista-mecanicista" herdado dos filósofos da revolução científica do século XVII, como Descartes, Bacon e Newton. O pensamento sistêmico não nega a racionalidade científica, mas acredita que ela não oferece parâmetros suficientes para o desenvolvimento humano, e por isso deve ser desenvolvida conjuntamente com a subjetividade e das diversas tradições espirituais. É visto como componente do paradigma emergente, que tem como representantes cientistas, pesquisadores, filósofos e intelectuais de vários campos. Compreendendo o conceito de competência no contexto das políticas educacionais. As estratégias metodológicas baseadas na competência formuladas nas décadas de 1960 e 1970, Maranduba (1981) indica alguns princípios que ressaltam suas principais características: a) apresenta um perfil de profissional a ser formado, identificando nele as respectivas competências que os sujeitos deveriam demonstrar; b) esse perfil foi definido com base nos desempenhos desejáveis nos professores para garantir a eficiência do processo de ensino-aprendizagem; c) estabelecia a eficiência do processo de ensino-aprendizagem com base nas expectativas sociais, centradas no mercado de trabalho. Competência tinha por base a associação entre desempenho do aluno e do professor. No discurso dos documentos oficiais, como Parâmetros curriculares Nacionais – (PCNs), Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB, o sucesso da reforma educacional é vinculado à existência de professores que sejam bem preparados para "realizar o seu trabalho pedagógico de acordo com a lei" (MELLO, 1999, p. 10). Esse mecanismo de controle utilizado sobre os profissionais baseados em reformas conservadoras e de perfil técnico, com medidas fragmentadas e descontextualizadas da realidade social. Segundo Mello (1999) podemos observar os professores que não assumem os princípios da reforma, como afirmou. São paradigmas técnicos e centralizados. Essas reformas visavam à 4 medida dos comportamentos desejáveis no professor o que viria a ajudar complicou o processo desencadeando uma série de comportamentos prejudiciais ao ato educativo. Essas reformas são centralizadas em uma concepção baseada na racionalidade técnica, como propõe Behrens (2005, p. 19): “ Esta racionalidade levou o homem a ver o mundo de maneira compartimentalizada, separando a ciência da ética, a razão do sentimento, a ciência da fé, e em especial, separando mente e corpo”. O interesse instrumental, em que se utilizam explicações científicas objetivas, baseado no modelo da racionalidade técnica e o interesse prático, que efetiva a interpretação dos significados produzidos pelos docentes na sala de aula, tendo o professor e alunos como sujeitos que constroem na interação. Com a implantação desses modelos curriculares baseados nas competências acreditava-se, que com o empenho individual proporcionado poderia ser desenvolvido uma base científica para a formação de professores mais competentes na articulação entre teoria e prática. Outro elemento importante na análise do contexto das reformas era a idéia de que o mundo passava por grandes mudanças e que isso levava ao ajuste da educação às necessidades sociais. Compreende-se que a idéia de qualidade e desenvolvimento profissional de modo individual nem sempre dá certo, pois as reformas devem ser efetivadas tendo como princípio toda a equipe de professores, para que possam trabalhar o coletivo, compreendendo que na escola não dependemos só do professor, mas de todos os profissionais que desenvolve seu trabalho. Buscamos a consolidação desse pensamento em Nóvoa (1995) que estrutura e especifica que na profissão docente deve ser valorizado duas competências em especial: a primeira é a competência de organização. O professor não pode ser um mero transmissor de conhecimento, não é apenas uma pessoa que trabalha no interior de uma sala de aula. O professor é um organizador de aprendizagens, por via das novas realidades virtuais. A organização do trabalho escolar é mais do que o simples trabalho pedagógico, é todas as ações que vai além dessas dimensões, e estas competências de organização são essenciais para um professor. O segundo nível são as competências relacionadas com a compreensão do conhecimento, deve está articulada com a primeira. Observa-se que um dos grandes problemas para a articulação de uma prática efetivada com base no conceito de competência, segundo (POPHAM, 1983, p. 389) é a "falta de confiança do público nas escolas", em uma prática que valoriza a competência técnica e política que esses dois fundamentos devem estar em consonância com os objetivos educacionais, ao mesmo tempo que deve levar em consta, porém, que para 5 cada contexto sócio-histórico, haverá uma proposta de trabalho articulada de acordo com os seus problemas e metas. Os saberes e a construção do conhecimento são dinâmicos e variáveis, e dependerão de opções teóricas e ideológicas de cada professor. Como já mencionou-se, nos documentos da reforma curricular brasileira como: DCN – (2006) ; PCNs - (2001) e LDB (1996) para a formação docente no final dos anos de 1990, o currículo por competências surge como "novo" paradigma, construindo a idéia de que a escola deve estar sintonizada com as mudanças da sociedade, ajustada ao mercado de trabalho. A complexa conjuntura que se apresenta indica para a escola novas tarefas, entre as quais a ressignificação do ensino em resposta aos desafios contemporâneos. A reforma curricular em todos os âmbitos da educação, é entendida como necessária ao "desenvolvimento das pessoas e da sociedade" assim como para "favorecer as transformações sociais necessárias" (DCN, 2001, p. 8). Reaparece com a idéia de que a escola deve estar preparada para as transformações sociais, essas ações deve ter como principio que a formação deve ter a compreensão reflexiva e crítica, na construção e vivência do conhecimento. A LDB 9394/96 indica para a escola novas tarefas, entre as quais refletem os desafios sociais. Em que as finalidades sociais da lei já, conhecidas e outras finalidades diferentes ou “novas”, apresentam ainda elementos de conservação e de renovação. Como elemento conservador sociedade e do a mercado preocupação da de a trabalho escola atender qualificação às necessidades da profissional, expressando a vinculação entre educação e interesses de mercado. Como elemento de renovação destacase a escola voltada com envolvimento dos pais e da própria comunidade, o que indicam as novas competências para a inserção no mundo atual, ou seja, construção de competências para atuar de forma efetiva no contexto social. As idéias de competências ressurgem na LDB/96 e no currículo da formação de professores para instituir uma nova organização, na qual o como desenvolver o ensino pretende ser a questão central. Os documentos DCN – (2006) ; PCNs - (2001) e LDB (1996) defendem o uso diversificado de procedimentos e processos de avaliação, assim como sua sistematização, propondo a articulação entre conhecimentos e desempenho. A profissionalização do professor, entendida, como um processo de constante formação e objetivando atender aos princípios de flexibilidade, eficiência e produtividade do ensino, apresenta correspondência com os aplicados pelos teóricos da eficiência social os quais, defendiam que o currículo "deveria se dirigir a finalidades 6 mais funcionais e utilitárias, relacionadas com o destino social e ocupacional dos jovens [...] "(MACEDO, 2000, p. 15). O modelo de ciência cujo princípio é a racionalidade e a comprovação, atualmente questiona-se se este modelo serve para a educação, pois na educação o produto não é um simples objeto, como em outras ciências, na educação o objeto é a pessoa humana. O pensamento sistêmico contrapõe o cartesianismo é uma forma de abordagem da realidade. As propriedades das partes não são necessariamente propriedades extrínsecas, mas precisam ser vistas e entendidas dentro do contexto. “O pensamento sistêmico é visto como componente do paradigma emergente, que tem como representantes cientistas, pesquisadores, filósofos e intelectuais de vários campos” (BEHRENS 2005, p.53). A ciência sistêmica mostra que os sistemas não podem ser compreendidos por meio da analise individual Concepções sobre competências que se efetiva na teoria e prática dos cursos de formação de professores com base nos documentos oficiais. O modelo de competências da formação inicial de professores segundo Rios (2001), atende à construção de uma nova concepção filosófica de docente, que seja consciente da produção de seu trabalho é intensificado nas atividades que apresentam para a escola. Uma das dificuldades quando a escola procura formar por competências dá prioridade a elementos fragmentados, preocupando-se mais com dimensões de certas competências, e bem menos em colocá-las em um processo integrante em situações complexas baseado na realidade social e histórica. Para Rios (2001), a competência se dá numa dupla dimensão: técnica e política. A definição de competência para a autora é saber fazer bem, e se aproxima do conceito apresentado por Mello: Por competência profissional estou entendendo várias características que é importante indicar. Em primeiro lugar, o domínio adequado do saber escolar a ser transmitido, juntamente com a habilidade de organizar e transmitir esse saber, de modo a garantir que ele seja efetivamente apropriado pelo aluno. Em segundo lugar, uma visão relativamente integrada e articulada dos aspectos relevantes mais imediatos de sua própria prática, ou seja, um entendimento das múltiplas relações entre os vários aspectos da escola. [...] Em terceiro, uma compreensão das relações entre o preparo técnico que recebeu, a organização da escola e os resultados de sua ação. Em quarto lugar, uma compreensão mais ampla das relações entre a escola e a sociedade, que passaria necessariamente pelas questões de suas condições de trabalho e de remuneração. (MELLO, 1982, p. 42-43. apud RIOS, 2001, p. 4647). 7 A autora contextualiza quatro características indispensáveis para a vivência e articulação da competência enquanto uma estratégia metodológica que interrelacionam- se para atuação do professor como a necessidade do domínio do conhecimento e de saber socializar ao mesmo tempo aos alunos, saber também articular os vários aspectos da vivencia social e intelectual levando em consideração tanto o aspecto teórico como prático, valorizando a integração entre os conhecimentos da escola e da sociedade. Comunga com essa visão Perrenoud (1999), em que a competência vai além da aquisição de conhecimentos, que, isolados, não são mais suficientes, pois o aprendizado nunca será eficaz para todos os alunos, e por isso é uma prática complexa. É necessário relacionar os conhecimentos com os problemas encontrados, ou seja, a competência tem que estar ligada a uma prática social. De acordo com o mesmo autor, todos nós temos necessidade de compreender a razão e a forma como as coisas acontecem. Tem-se que levar em conta vários elementos, como as estratégias pedagógicas, boa comunicação de conteúdos e habilidades de aprender e de ensinar. A construção de um hábito da prática reflexiva, o professor será capaz de compreender, designar e consolidar uma competência que favorecerá o trabalho pedagógico. Os Parâmetros Curriculares Nacionais, em seu Volume 1, do Ensino Fundamental afirma que o exercício da cidadania requer a possibilidade de que todos tenham acesso aos recursos culturais necessários para uma participação na realidade social. Isso supõe o domínio dos saberes presentes nas propostas educativas para a construção teórico e prática de competências, tais como: Um ensino de qualidade, que busca formar cidadãos capazes de interferir criticamente na realidade para transformá-la, deve também contemplar o desenvolvimento de capacidades que possibilitem adaptações às complexas condições e alternativas de trabalho que temos hoje e a lidar com a rapidez na produção e na circulação de novos conhecimentos e informações, que têm sido avassaladores e crescentes. A formação escolar deve possibilitar aos alunos condições para desenvolver competência e consciência profissional, mas não restringir-se ao ensino de habilidades imediatamente demandadas pelo mercado trabalho. de (PCN, v.1, 1997, p. 31). Observa-se nos PCNs uma grande preocupação com a construção de competências para a efetivação da formação do professor como também do aluno para atuar no mercado de trabalho, essas competências devem ser construídas de acordo com a necessidade do mercado e seus mecanismos de controle social, nesta perspectiva os cursos de formação de professores devem ser estruturados tendo como princípio o 8 conceito de competência reflexiva para que esse cidadão possa atuar de forma consciente no desenvolvimento de suas atividades. Segundo Berger (1998, apud Ramos, 2001), a educação básica teria em vista a constituição de competências cognitivas, afetivas e sociais que levariam à promoção do desenvolvimento da pessoa enquanto um cidadão, qualificando-a tanto para o trabalho como para a vida em sociedade. Significa que a escola não pode estar atenta apenas em relação à formação dos estudantes para as futuras habilitações ligadas às especializações tradicionais, mas que deve ter uma vivencia com a realidade escolar. Essa posição é criticada por Duarte (2001), quando estabelece que a pedagogia das competências faz parte de uma gama de correntes educacionais contemporâneas, ligadas ao enfoque do "aprender a aprender", em que o escolanovismo se faz presente e a competência apareceria como uma capacidade, baseada em princípios piagetianos, tais como os considerados por Perrenoud (1999). Está presente a subjetividade na noção de competência posta pela reforma educacional brasileira. O compromisso político que requer o contributo da prática educativa refere- se à superação do quadro de desintegração cultural brasileira identificada por Saviani (2003) ao final da década de 1970, quando observou a existência de diferentes graus de participação dos grupos (sociais) no usufruto dos bens culturais o que era uma conquista de toda a sociedade vinha sendo acessada por apenas uma pequena fração dela. Fato reconhecido até os dias de hoje, fazendo com que se defenda que é preciso se educar e formar para a construção de competências de todos os cidadãos e não de uma pequena parcela da sociedade. Propomos a competência como possibilidade de construção individual e coletiva, favorecendo um movimento crítico e reflexivo, assim, no currículo organizado por competências, os conhecimentos passam a ser definidos em termos da identificação com a ação que deve ser realizada pelo aluno. Desse modo, a exigência de que os alunos saibam fazer vem substituir a exigência de que eles saibam. Essa lógica do savoir-faire, na visão de Araújo (2001), modifica a forma de pensar os conhecimentos, relacionando- os à capacidade efetiva de desempenhos, definindo um tratamento utilitário aos conteúdos de ensino, instrumental às demanda da sociedade pós -industrial. A proposta de Diretrizes para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica - MEC em cursos de nível superior item 5: Princípios norteadores para uma reforma da Formação de Professores insiste na idéia de que [...] "a concepção de competência é nuclear na orientação dos cursos de formação inicial de professores” [...], 9 considerando que as competências se referem a alguma forma de atuação e que, só podendo ser aprendidas se vivenciadas, desta forma não basta que o profissional tenha conhecimentos sobre o seu trabalho, é preciso saber fazê-lo. Neste sentido, o domínio da dimensão teórica do conhecimento para a atuação profissional é importante, mas não suficiente. É preciso que o profissional saiba mobilizar esses conhecimentos em ações concretas; daí a necessidade de incluir a construção de competências que aparecem, na organização institucional, e nos objetivos da formação inicial de professores. É importante considerar que mudanças na formação docente têm como limite os próprios interesses na efetivação do conceito de competência, que orientam os docentes e que presidem a cultura das escolas. Essas formas de gerenciamento não são exclusivas dos sistemas de ensino, mas encontram-se infiltradas nos diferentes setores do sistema educacional.Na formação de professores torna-se necessário um aprofundamento teórico capaz de ampliar a compreensão dos problemas enfrentados pelos docentes, condição necessária para a superação de alguns dos problemas que vão se articulando nessa área. Torna-se necessário preocupação dos educadores na produção de trabalhos, capazes de atravessar fronteiras que tentam se desarticular, para não desenvolver as competências necessárias. Compreende-se que os cursos de formação de professor tentam ensinar saberes científicos, tratados como independentes de um quadro social. “Eles ensinam idéias, elementos ideológicos e propõem modelos de comportamento, não se trata de pura competência, visto que deve ser um processo de construção” Isambert-Jamati e Tanguy (1990, p. 233-234). As autoras falam da importância de se considerar a atuação dos professores dentro de um sistema subordinado à regularização pelo Estado, o que impõe limites à sua autonomia como grupo ocupacional. Compreensão dos conceitos e princípios de competência na formação docente. A idéia de competência, como mostra Ropé (1997), tem sua origem na psicologia social norte-americana. Mas a taxonomia de Bloom, segundo ela, foi seguindo um caminho evolutivo próprio dentro do território francês, à medida que veio sendo adaptada, sucessivamente, pelas correntes psicopedagógicas, e psicolingüísticas, didáticas e gerenciais. A evolução do apelo à noção de competência é mostrada por Isambert-Jamati (1997), chama a atenção para o afastamento dos professores de seu coletivo profissional, pelo fato de as competências seguirem uma lógica de 10 responsabilidade individual, é necessário no trabalho à articulação coletiva no desenvolvimento da construção das competências. Observa-se a mudança estrutural que mostra Nóvoa (1995), antes, o modelo de professor era o religioso, envolvendo a docência numa aura de vocação e sacerdócio, mesmo em se tratando de professores leigos. A estatização foi um passo rumo à profissionalização, porque significou o rompimento dessa relação vocacional. O processo de estatização não foi capaz de levar adiante a construção de uma codificação deontológica da profissão, como têm as profissões liberais atuais. Segundo Moreto (2002) o professor para ser considerado competente, tem que ter: conhecimento de sua área especifica, a habilidade que é saber fazer, linguagem apropriada, valores culturais e administrar as emoções. Assim, não se pode falar de profissionalização docente sem se referir ao estabelecimento de ensino por competências pedagógicas. A escola é praticamente o único espaço onde o professor é considerado profissional ou onde dele se exige, pelo menos, um comportamento profissional. Fora do estabelecimento de ensino, qualquer outro profissional pode exercer a docência, como no caso das aulas particulares. A fim de repensar a formação a partir da análise da prática, Pimenta (1999) desenvolve uma pesquisa a partir de sua prática com alunos de licenciatura e destaca a importância da mobilização dos saberes da experiência para a construção da identidade professor. Neste sentido, são identificados três tipos de saberes da docência: a) da experiência, que seria aquele aprendido pelo professor desde quando aluno, assim como o que é produzido na prática num processo de reflexão e troca com os colegas; b) do conhecimento, que abrange a revisão da função da escola na transmissão dos conhecimentos e as suas especialidades num contexto contemporâneo e c) dos saberes pedagógicos, aqueles que abrangem a questão do conhecimento juntamente com o saber da experiência e dos conteúdos específicos é que será construído o conceito de competência a partir das necessidades pedagógicas. A autora enfatiza ainda a importância de que a fragmentação entre os diferentes saberes seja superada, considerando a prática, como objetivo central, possibilitando, uma re-significação dos saberes na formação. É um conhecimento com lógica própria, que faz parte de um sistema didático que tem relação com o saber de referência que lhe dá origem e constituição, através de uma epistemologia do próprio trabalho docente. Essa articulação favorece a construção de competências. 11 Tratando do conceito de competência e da construção dos saberes docentes buscamos Tardif (1997) para refletir sobre formação de professores que implica, pensar que o exercício da docência requer a mobilização de vários tipos de saberes: saberes pedagógicos (reflexão sobre a prática educativa mais ampla); saberes das disciplinas (envolvem os vários campos do conhecimento); saberes curriculares (contexto da cultura erudita); e os saberes da experiência (emergem no exercício profissional). Sendo de fundamental importância a articulação entre os saberes da formação, pois a escola é um local onde se experimentam, constroem e reconstroem metodologias. O conhecimento profissional do professor constituise em objeto epistemológico da prática que se caracteriza como conjunto dos saberes utilizados pelos profissionais em seu espaço de trabalho para desempenhar as suas tarefas. As escolas não podem mudar sem o empenho dos professores; e estes não podem mudar sem uma transformação das instituições em que trabalham e são formados, para (NÓVOA, 1991), o desenvolvimento profissional dos professores tem que estar articulado com as escolas e os seus projetos sociais o autor dá destaque à profissionalização docente, atribuindo aos professores a construção de sua profissão, essa produção requer um processo coletivo, integrado aos projetos institucionais. O professor terá a garantia seu direito de desenvolver seu profissionalismo, dos quais resulta, uma melhor competência profissional. Nesta perspectiva o preparo do professor centra-se no desenvolvimento de competências para o exercício técnico-profissional, consistindo, pois, em um preparo prático, baseado no aprendizado do que vai ensinar, a fim de resolver problemas do cotidiano da escola. O uso da noção de competências serve para a "modelização" das atividades das instituições escolares, com a Para finalidade de medir individualmente as competências. desenvolver esse processo denominado na formação, na profissionalização, no balanço de habilidades individuais: A noção de competências autoriza e justifica, ao mesmo tempo, processos de racionalização, de codificação, de formalização, um desenvolvimento de técnicas relativamente gerais, assim como tentativas de moldar das atividades. As faculdades de educação estão preocupadas com um discurso ideológico sobre as funções transformadoras do ensino. “Elas acabam deixando em segundo plano as evidências científicas sobre as práticas pedagógicas que de fato funcionam no Brasil e no mundo”. (CASTRO, 2008, p. 12). Para Perrenoud (1997, p. 8), competência é "uma capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situação, apoiada em conhecimentos, mas sem 12 limitar-se a eles". Prossegue o autor explicando que "ser competente implica saber produzir um número infinito de ações, sem estarem programadas". De modo a superar os obstáculos que podem interferir no bom resultado da ação pedagógica. Considerações Finais Compreende-se que as políticas educacionais articulam uma efetivação da idéia de competência técnica para a formação inicial do professor, mas que na prática a competência deve ser melhor contextualizada e vivenciada para não se tornar uma ação efetivamente técnica, nesse contexto é de fundamental importância a vivência da concepção política dos professores para que possam ter uma prática pedagógica mais consistente com a realidade social com tantas mudanças e transformações que exigem o domínio de vários saberes que ajudam na construção das competências do profissional em que o mesmo deve está em formação para que possa desenvolver suas competências com qualidade reflexiva. Nos documentos oficiais DCN – (2006); PCNs - (2001) e LDB (1996) fica claro que, para organizar um curso de formação de professores, a partir da concepção de construção de competência baseados nos saberes docentes, é preciso em primeiro lugar definir o conjunto de competências necessárias à atuação profissional e seguir normas como norteadoras da proposta pedagógica. O objetivo da formação inicial é oferecer possibilidades da construção da autonomia, que o tornasse capaz de instrumentalizar e elaborar seu percurso profissional, uma perspectiva histórica e cultural, que ajudaria no processo de construção de competências. A formação do professor baseado na formação por competência é preciso ter espírito crítico e curiosidade para tanto é fundamental que a política de formação inicial de professores esteja em um âmbito cada vez maior de discussões desses profissionais, para que estes se sintam responsáveis pelo percurso da elaboração pedagógica e definição dessas políticas, de modo a intervir no processo tanto em nível individual como no coletivo da escola. A importância desse movimento de formação inicial torna- se mais ampla na medida em que é essencial a necessidade de formação de competências, visando uma reflexão acerca da necessidade de uma efetiva reforma nas políticas educacionais, para que as relações entre educação e trabalho criem ambiente propício para o desenvolvimento de competências necessárias no contexto escolar. 13 Referências Bibliográficas ARAÚJO, Ronaldo Marcos de Lima. Desenvolvimento de competências profissionais: as incoerências de um discurso. Tese de Doutorado em Educação. 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