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Grupo 5
A Nova Medicina na Ciência, na Prática e na Ética
Alexandra Mesquita (59166), Ana Maria Pereira (59255), Ana Sofia Sousa (59253), André Miranda (59274), Bela Machado
(59246), Dinis Oliveira (56201), Fani Veiga (54465), Diogo Teles (59201), Luís Gonçalves (63614), Manuel Louro (59758) e Marta
Costa (59267).
A prática da medicina, tal como todas as profissões, tem sido obrigado a se alterar
por pressão das circunstâncias, contudo, as especificidades de ser médico tornam necessário
o recurso a olhar diferenciado. Apesar desta “nova medicina” conservar como objetivo
principal o prevenir, tratar e curar a doença, ela engloba novos propósitos. Nos quais se inclui
uma crescente preocupação com a funcionalidade, tanto na sua promoção como a sua
preservação com a qualidade de vida; as apostas na prevenção e a particular atenção
reservada à saúde infantil conduziram a medicina a uma atualização da perspetiva sobre a
saúde, tornando-a mais completa e abrangente. E, como tal, mais complexa e talvez mesmo
insustentável economicamente.
Os avanços tecnológicos e científicos com que nos deparamos no nosso quotidiano
vieram revolucionar a prática desta arte que é a medicina. A nova medicina depara-se com
novos meios auxiliares de diagnóstico, novos tratamentos, que nas últimas décadas seriam
inimagináveis mas que atualmente enriquecem o exercício desta profissão, aumentam a
precisão do médico e aproximam a cura do doente. O novo médico tem a sua cargo novos
desafios, segundo o professor Lobo Antunes “Na nossa educação, de médicos, o que importa
é descobrir o que está escondido, afinal, dentro de nós próprios”, pois ele acreditava que
apenas quem se conhece estará disposto a conhecer o outro, e assim ajudá-lo na sua
plenitude.
A insustentabilidade é uma da muitas ameaças que o médico do futuro próximo tem
à espreita, algumas claramente identificadas apesar de, muitas vezes, não muitas claras.
Como a convivência com exames complementares de diagnóstico inovadores mas
desprovidos de contato humano, até o facto, quase paradoxal, da prática médica ser
remunerada e cada vez mais mercantilizada. Existe, de forma gradual, embora de todo tal
seja uma novidade do mundo contemporâneo, uma pressão do capital e dos grandes grupos
económicos para tornar o ato médico algo meramente uma troca comercial. Isto leva, por
exemplo, à transformação da medicina num serviço que tem uma crescente preocupação
com a estética, algo tradicionalmente fora do âmbito clínico. Embora, para alguns esteja claro
que o ato médico não é um gesto de solidariedade, existe uma dimensão associada que se
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Grupo 5
transcende para além do puramente monetário. Convém perceber, e mesmo interiorizar, a
responsabilidade que tal acarreta ao profissionalismo de um profissional de saúde.
Como muito bem escreveu professor Lobo Antunes: “não sei o que nos espera mas sei
o que me preocupa: é que a medicina, empolgada pela ciência, seduzida pela tecnologia e
atordoada pela burocracia, apague a sua face humana e ignore a individualidade única de cada
pessoa que sofre. Não se descobriu ainda a forma de aliviar o sofrimento sem empatia ou
compaixão”. As preocupações do autor estão longe de ser infundadas…
Uma temática intemporal e que se arrasta pela nova medicina é a prática da
eutanásia. Por mais décadas que passem será sempre um assunto sensível, controverso e a
obtenção de um consenso poderá estar longínquo. A palavra eutanásia (eu+thanatos)
significa boa morte ou morte sem dor. Com a aproximação da morte, há uma crescente
vulnerabilidade e fraqueza, medo e angústia por parte do próprio doente que por vezes são
subestimados pelo médico. É dever do profissional de saúde criar todas as condições
necessárias para que o doente morra com dignidade e respeitar todas as suas decisões. O
direito fundamental à vida, patente no artigo 2º da Convenção Europeia dos Direitos do
Homem, deverá ser uma constante na fase terminal de uma vida.
A Europa apresenta-se relutante à prática da eutanásia. À data, os países Baixos, são
os únicos a apresentar uma lei de despenalização dos atos de eutanásia voluntária ativa e de
suicídio com ajuda médica, afirmando que a morte de uma pessoa doente, pelo próprio
médico, a pedido da mesma, constitui uma boa prática clínica e por isso, uma prática não
reprovável. Em Portugal, o Comité de Bioética afirma que o direito à vida, não pode ser
anulado pela vontade do doente, seja ela actual ou até mesmo expressa no passado sob a
forma escrita, aquilo a que chamamos testamento vital. Ou seja, em Portugal a morte não
poderá ser infligida a ninguém intencionalmente, pelo que a eutanásia e outras formas de
suicídio assistido continuam a constituir crime no nosso país.
Segundo o Professor Daniel Serrão, “Morrer é o mais rigorosamente íntimo e pessoal
de todos os acontecimentos humanos”, pelo que uma lei não deverá regular a morte com a
mesma indiferença emocional com que regula a vida, pelo que não deverá haver lei que
despenalize ou descriminalize a morte intencional de um doente terminal pelo médico.
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Grupo 5
Domínios Verticais V
Ética e a Medicina do Futuro
1. Onde fica a ética no confronto entre a escassez de recursos (financeiros) e ‘o melhor para
o doente’?
Os avanços tecnológicos e científicos com que nos deparamos no nosso quotidiano
vieram revolucionar a prática da medicina. Hoje em dia, a medicina depara-se com novos
meios auxiliares de diagnóstico, assim como novos tratamentos farmacológicos e
intervenções cirúrgicas que, no seu conjunto, aumentam a precisão dos diagnósticos e
aumentam as possibilidades de cura para o doente. Contudo, esta “cavalgada tecnológica”
que caracteriza o tempos correntes, além de levantar questões morais/éticas quando
analisadas quais as suas verdadeiras motivações (serão elas em prol da saúde ou do lucro?),
apresentam custos muito onerosos quer para o doente quer para a gestão dos hospitais e
dos serviços de cuidados de saúde primários.
De acordo com o Artigo 2.º, “Primado do ser humano” da Convenção Europeia dos
Direitos Humanos e da Biomedicina, “O interesse e o bem-estar do ser humano devem
prevalecer sobre o interesse único da sociedade ou da ciência”, ou seja, o médico, bem como
todos os profissionais de saúde, devem zelar primeiro pelo bem-estar e pela saúde do doente
antes de pensar nas políticas, nas medidas e na gestão de recursos hospitalares. Sendo os
recursos financeiros cada vez mais limitados na área da saúde, o médico e o doente devem
encontrar um equilíbrio entre a beneficência para o paciente e uma gestão recursos
adequada, de forma a garantir um acesso equitativo aos cuidados de saúde de qualidade
apropriada para todos os utentes.
A outra vertente desta questão, a invenção e investigação tecnológica, levanta algumas
questões éticas em relação às suas reais motivações. Certamente alguns cientistas da área
de investigação médica são movidos por interesses económicos e apoiados por grandes
empresas farmacêuticas, que apoiam estas investigações com financiamento e até
publicidade. De salientar que esta premissa não é extensível a toda a classe profissional,
enquadrando-se nela apenas uma minoria dos cientista. A principal objetivo dos
investigadores é, e deve ser sempre, a melhoria dos cuidados de saúde, quer através de
novos métodos de diagnóstico ou novo tratamento.
Com efeito, a reflexão ética sobre esta matéria deverá ser cunhada com o pragmatismo
que lhe é devida. Sendo de reconhecimento universal que a saúde é um bem inestimável e
de que farão parte dos desígnios do sistema nacional de saúde zelar pela preservação da
saúde e salvaguarda da vida dos seus doentes, é também certo que que a plena aplicação
destes princípios seria apenas aplicável num contexto de ilimitados recursos. Esta matéria
configura, assim um complexo dilema de reflexão ética e assistencial, nas quais as duas
realidades colidem na sua essência, e onde a beneficência para a população emergirá de um
rigoroso balanço entre o respeito pelas premissas éticas que sustentam a prática médica, a
fundamentação técnica e, inevitavelmente, a disponibilidade de recursos. Mas importa aqui
levantar uma questão: apesar de a motivação de alguns cientistas não ser beneficência dos
doentes, se o resultado da mesma é a descoberta de novas invenções
biomédicotecnológicas, não será atingida a finalidade da investigação médica?
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Grupo 5
2. Que novos desafios éticos anteveem com a emergente predeterminação genética, fatores
de risco e a antecipação do historial clínico do indivíduo?
Os avanços na Medicina e mais propriamente na genética médica têm permitido
conhecer o nosso genoma e, assim, realizar um aconselhamento genético. Este permite
informar as pessoas sobre os riscos e as probabilidades de desenvolver uma doença. A
genética tem sido fundamental no apoio a famílias com doenças genéticas, permitindo
planear a reprodução, ou realizar o diagnóstico de doenças após o nascimento de um filho,
após a constatação de alterações corporais e/ou cognitivas.
No entanto, a ansiedade gerada pelo conhecimento do surgimento iminente de uma
patologia, potencialmente limitante ou letal, pode condicionar uma alteração na tomada de
decisões futuras e na qualidade de vida da pessoa. Um diagnóstico genético pode levar a um
sofrimento e a uma antecipação da doença física, podendo gerar repercussões psíquicas e
sociais à vida das pessoas, tais como depressão, tentativas de suicídio, dilemas ligados às
decisões reprodutivas, dificuldades nos relacionamentos afetivos, bem como discriminação
no mercado de trabalho e nas empresas responsáveis pelo fornecimento de planos de saúde
ou seguros de vida.
Desta forma, torna-se fulcral conhecer a vontade da pessoa de querer ter conhecimento
do seu condicionamento genético. Para além disso, a confidencialidade de um resultado
genético é essencial para que se mantenha a privacidade, com o objetivo máximo de evitar
a discriminação com base no material genético do ser humano.
3. Toda a verdade, o consentimento informado, e a literacia do paciente: Aonde estamos e
para onde vamos? A exposição e divulgação pública da doença e sofrimento na
comunicação social, internet e redes sociais. Quais os aspetos positivos e negativos desta
realidade?
A relação entre literacia e saúde é complexa. A literacia tem a ver com conhecimento
em saúde, estado de saúde e acesso a serviços de saúde.
O respeito pela autonomia constitui um princípio basilar na relação do profissional de saúde
com o paciente. Qualquer intervenção no domínio da saúde só́ pode ser efetuada após ter
sido prestado pela pessoa em causa o seu consentimento livre e informado. Esta pessoa deve
receber previamente a informação adequada quanto ao objetivo e à natureza da
intervenção, bem como às suas consequências e riscos.
No entanto, atualmente os modos de configuração da autonomia são objeto de debate
na comunidade científica e na reflexão da bioética, estando em causa tanto a existência de
diversos tipos de limite à autonomia, como a possibilidade e a pertinência da articulação da
capacidade de decisão por parte do doente com a autonomia do próprio clínico.
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Grupo 5
Estará,́ então, o consentimento informado posto em questão? É necessária uma
educação para a cidadania que promova uma atitude mais ativa por parte dos doentes no
exercício dos seus direitos.
O fácil acesso aos meios de comunicação social, internet e redes sociais predispõe à
divulgação de casos de sucesso (cura de doenças graves), bem como de eventuais erros
clínico.
A comunicação social poderá ser utilizada como meio de promoção da saúde através de
programas / iniciativas que permitam o acesso a informação médica credível numa
linguagem acessível e clara. Permitindo desta forma, aumentar a literacia do doente na
saúde.
Contudo, esta fácil divulgação de informação sobre saúde permite perpetuar casos /
situações de eventuais erros médicos que poderão pôr em causa a confiança dos doentes
nos profissionais de saúde.
4. O papel da regulação e escrutínio da atividade médica: Qual a fronteira entre o benefício e
o pernicioso?
Devido à responsabilidade descomunal que se encontra nas mãos da atividade médica
– vidas humanas – e a sua complexidade, o escrutínio e a regulação da mesma acaba por
assumir um papel importante, sem desprezar a fronteira entre o benefício e o pernicioso
para o doente (fronteira essa que é subjetiva, variável e, por vezes, muito ténue).
Os responsáveis pela regulação da atividade médica acabam por ser os próprios médicos
(auto-regulação). Esta questão acumula o maior escrutínio e cepticismo, uma vez que,
enumeras vezes, os médicos mostram-se relutantes em retificar profissionais que violam as
normas.
A fronteira entre o benefício e o pernicioso para o doente varia muito de caso para caso,
estando dependente de diversos fatores como, por exemplo: as crenças do doente, os seus
desejos, os seus valores e o seu estado de espírito, não esquecendo que determinado
procedimento médico tem consequências/efeitos diferentes em doentes diferentes e que
cada doente valoriza essas mesmas consequências/efeitos de maneira diferente. Tudo isto
obriga o médico a estar atento para decifrar esta misteriosa fronteira, de modo a conseguir
proporcionar ao utente a melhor resolução possível para o seu problema, procurando
sempre provocar o menor malefício possível. O profissional de saúde também não se deve
descorar da sua obrigação de analisar o trabalho dos seus colegas de profissão, de forma a
evitar a ocorrência de erros e a denunciá-los, caso estes aconteçam.
A atividade médica encarrega-se de preservar vidas humanas, que se forem perdidas,
não podem ser restauradas. Tem como missão evitar o sofrimento, que condiciona de
diversas formas o quotidiano das pessoas. Por isso, é de extrema importância, formar
adequadamente os indivíduos que a irão exercer no futuro de modo a que esta profissão seja
exercida da melhor forma possível. Devem ser não só ensinados a executar as tarefas, como
também a analisá-las e a regulá-las, com o objetivo de as melhorar (conforme o avanço da
ciência e das exigências da sociedade) e de evitar ao máximo erros que, muitas vezes, são
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Grupo 5
irreversíveis. Tudo para assegurar um direito fundamental de toda a população: o direito à
saúde.
5. A distinção entre dor e sofrimento e a valoração deste pelo pessoal de saúde.
No significado mais estrito falamos da “dor para os efeitos sentidos como localizados nos
órgãos particulares do corpo ou no corpo inteiro”, ao passo que nos reportamos ao sofrimento
quanto aos “efeitos suscitados sobre a reflexividade, a linguagem, a relação a si, a relação ao
outro, a relação ao sentido, ao questionamento”. Drummond resume de forma acutilante esta
relação, na medida em que “O sofrimento não e a dor, mas pode ser evocado ou enfatizado pela
mesma”.
Nesta relação dual, o que é mais valorado pela comunidade médica é, de facto, o controlo
da dor, na medida em que tomam esta como algo mais mensurável e, portanto, passível de
instituição de tratamento recomendados. No entanto, esta forma de ver a dor tende a esquecer
que a mesma é, de facto, muito influenciável pelo bem-estar psíquico do paciente, na medida
em que ele tenderá a veicular outros problemas de índole pessoal nesta dor, num fenómeno de
somatização.
DOMÍNIOS VERTICAIS V
|GRUPO 8|
Ética e a Medicina do Futuro
22 de Abril de 2016
1. Onde fica a ética no confronto entre a escassez de recursos (financeiros) e ‘o melhor para
o doente’?
Segundo a teoria Kantiana, uma acção “ética” é-o apenas quando levada a cabo com o
único propósito de realizar o bem e o dever moral por si só, sendo a única finalidade a intenção
primária dessa acção, sem propósitos paralelos ou calculismos. É com esta visão que muitos
estudantes se dirigem às escolas de medicina, querendo aprender a fazer o melhor pelos que
necessitam, o bem pelo bem do outro. No entanto, mais e mais, agora como estudantes de
medicina em anos clínicos, os nossos ensinamentos teóricos e tão precisos são confundidos e
questionados com o surgimento de termos como “custo-benefício”, “rentabilidade”, “despesas”
e os tão temidos “cortes”.
Apesar de considerar que a ética médica deve ser a pedra basilar de todo o
conhecimento a actuação como profissional de saúde, estes termos supracitados são
inquestionavelmente uma realidade cada vez mais presente, com a qual devemos aprender a
lidar da melhor forma e à qual nos devemos saber adaptar, no entanto, sem nunca abdicar de
princípios fundamentais como a beneficiência e não maleficiência, fazendo sempre “o melhor
para o doente” que temos à nossa frente e, essencialmente sabendo reconhecer as nossas
limitações.
Devemos reconhecer que uma boa gestão dos recursos em saúde a par de um domínio
sustentável da economia são peças fulcrais para se alcançar os objectivos a que nos propomos
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Grupo 5
no exercício da medicina. No entanto, e quando todo o conhecimento e experiência do médico
são arrasados e deitados a perder por entraves económicos, é seu dever não baixar os braços.
O doente que temos em frente não deixa de merecer toda a nossa vontade e esforço ético na
busca do melhor possível. O doente não pode ser abandonado ou vítima de desistência por parte
do médico ou por parte do sistema.
2. Que novos desafios éticos anteveem com a emergente predeterminação genética, fatores
de risco e a antecipação do historial clínico do indivíduo?
A Medicina, tem enfrentado nas últimas décadas, um período de evolução e mudança,
não só nos meios de abordagem dos doentes, mas também na forma como abordamos os
mesmos. O aumento do conhecimento no domínio da genética e a sua utilização na prática
clínica diária, assim como a introdução de plataformas informáticas no registo clínico do doente,
são bons exemplos de “novidades” da prática de Medicina do séc XXI, que têm trazido, para
além dos seus benefícios, alguns desafios éticos relevantes.
Por exemplo, no que toca à Genética Médica, esta não só envolve o diagnósico preditivo,
mas também temas como o diagnóstico pré-natal, intervenções terapêuticas e ainda a
clonagem. Atualmente as novas tecnologias reprodutivas, as questões referentes ao aborto e
principalmente os avanços no campo da genética tem introduzido o aspecto intergeneracional
na discussão ética, uma vez as decisões afetam não apenas as pessoas presentes e capazes de
se manifestar com relação a elas mas também as gerações futuras. A inclusão dos novos sujeitos,
muitas vezes indivíduos que ainda não existem e que não se sabe se existirão. Outro aspecto
ético importante do diagnóstico preditivo são as questões relativas a confidencialidade e
privacidade. Os resultados para um único indivíduo tem repercussão imediata para seus
familiares. A maioria dos autores sugere que deva haver consentimento do paciente para
revelação da informação para os familiares. Muitas vezes o médico confronta é o dilema entre
o seu dever de informar para prevenir um dano e o direito do indivíduo de não querer saber.
Para além que devemos atuar de formar a preservar a autonomia do doente. O respeito à
autonomia deve ser extendido sempre que os doente apresentem condições de compreender
todos os aspectos dos testes e tenham capacidade de manifestar sua opinião com relação a sua
realização.
O segundo aspecto que quero focar antes de terminar diz respeito à nova ética associada a uma
prática clínica hospitalar essencialmente baseada no tratamento informático da informação, na
chamada e-medicina, e nas decisões médicas apoiadas em provas ou confirmações
disponibilizadas
em
programas
informáticos.
Se por um lado facilita o acesso a informação relevante do doente, que o doente não consegue
explorar tão bem na anamnese, por outro lado também já observamos o doente com o viés de
uma observação prévia, que não foi realizada por nós, estabelecendo a ideia errada que já
conhecemos o doente, aumentado a tendência de subvalorizar as queixas dos mesmos, como
acontece,
por
exemplo,
com
os
antecedentes
psiquiátricos.
A informatização da Medicina, a disponibilidade de informação “online” permitem também que
quando o doente chegue ao Hospital, sabe tudo da sua doença, do tratamento e prognóstico.
Mas muita desta informação é falsa ou tendenciosa, muitas vezes associada a publicidade
directa
de
medicamentos.
O desafio da medicina electrónica dirigido aos médicos obriga a um apoio cada vez mais
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qualificado das Comissões de Ética Hospitalares. A Comissão de Ética Hospitalar que tem de
acompanhar as inovações atuais, ao se encontrar mais ativa e próxima do doente e dos
profissionais, pela utilização de recursos como o email e Internet.
3. Toda a verdade, o consentimento informado, e a literacia do paciente: Aonde
estamos e para onde vamos? A exposição e divulgação pública da doença e sofrimento
na comunicação social, internet e redes sociais. Quais os aspetos positivos e negativos
desta realidade?
Na minha opinião a verdade do que acontece no coração da atividade médica,
normalmente longe dos olhos dos doentes, continua a ser muito pouco assumida e
divulgada pelos responsáveis. Não sei se por medo das consequências a nível judicial ou
da carreira ou se por receio que o doente e os familiares não entendam. E o mesmo
acontece com o Consentimento Informado que, apesar de ser obrigatório a sua
assinatura para a maioria dos procedimentos, são poucos os casos em que o seu uso faz
jus ao nome. De informado tem pouco. E, novamente, não sei se por falta de tempo de
consulta ou se por receio que o doente não tenha capacidade para perceber o
procedimento e os seus riscos e benefícios. De facto, apesar do claro aumento da
escolaridade da população atual, escolaridade e literacia não são sinónimos e os níveis
de literacia em saúde continuam muito longe do desejado. No entanto, o valor da
liberdade e do consequente princípio da autonomia são essenciais para a prática da
ética. Por muito difícil que seja, é imperativo lutar contra o rumo que a prática médica
tem vindo a tomar. A pressão sobre a eficiência exercida pelas autoridades que gerem
os sistemas de saúde tem resultado cada vez mais num consentimento informado
assinado à pressa, sem qualquer informação, só para satisfazer um imperativo legal, e
num doente que nem sabe o que se passa com a sua própria saúde.
Por muito inconveniente que a pressão dos media seja, a exposição pública de
casos reais “obriga” as autoridades a investigar as verdades, impedindo que fiquem
escondidas no segredo dos deuses. Claro que nem tudo são rosas. A comunicação social
é um negócio e, como tal, além de informar as pessoas, um dos objetivos é ter lucro. As
notícias dependem do que as pessoas procuram e, portanto, tudo o que suscita
interesse geral é levado ao exagero. E já é mais que sabida a capacidade de influência
dos media, principalmente porque, e mais uma vez, a literacia da população não é a
ideal. Uma capacidade crítica e a construção de opiniões próprias são imprescindíveis
para uma boa transmissão de informação. Assim, seria essencial capacitar as pessoas de
forma a reduzir os riscos do importante serviço público realizado pela comunicação
social.
4. O papel da regulação e escrutínio da atividade médica: Qual a fronteira entre o benefício e
o pernicioso?
A prática médica deve ser pautada por princípios éticos, dos quais fazem parte a
autonomia, justiça, não maleficiência e beneficiência. Estes quatro princípios, não possuem um
caráter absoluto, não tendo
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prioridade uns sobre os outros, servindo sim, como orientações para a tomada de decisões
frente a problemas éticos. São deveres “prima facie”, ou seja, obrigações que devem ser
cumpridas, a não ser que entrem em conflito com algo igual ou ainda mais forte.
Muitas vezes, é difícil para o médico perceber, até que ponto a execução de
determinado procedimento será legítimo quando comparado com o risco que provocará ao
paciente.
O médico depara-se, então, no seu exercício diário, com uma dicotomia, a maleficiência e a
beneficiência.
Beneficência requer atitudes positivas, ou seja, é necessário que o profissional actue
para beneficiar seu paciente. Obriga o profissional de saúde a ir além da Não Maleficência (não
causar danos intencionalmente) e exige que ele contribua para o bem-estar dos pacientes
(saúde física, emocional e mental). A tomada de decisão, deve minimizar os riscos e maximizar
os benefícios do tratamento/ procedimento a efectuar.
Não Maleficiência, é definida como não causar dano, tem importância pois, o risco de
provocar danos é indissociável de um procedimento que está à partida adequado.
Trata-se de um dever profissional, que, se não cumprido, coloca o profissional de saúde numa
situação de má-prática ou prática negligente da medicina. Logo maleficiência trata-se
precisamente do oposto.
Existe então, na prática médica uma fronteira muito ténue entre uma actuação para benefício
do paciente e as consequências da mesma. Claro está que, todas as decisões são condicionadas
pelo escrutínio a que a própria actividade está sujeita.
Em suma, é necessária uma reflexão e balanço cuidadoso para que a tomada de decisões nesta
profissão seja a mais acertada possível.
5. A distinção entre dor e sofrimento e a valoração deste pelo pessoal de saúde
Embora sejam definições distintas, a fronteira entre dor e sofrimento é ténue
para a grande maioria das pessoas, até porque muitas vezes se sobrepõem.
Por um lado, o termo dor deve ser reservado aos efeitos sentidos como
localizados nos órgãos particulares do corpo ou no corpo inteiro. Por outro, o termo
sofrimento, mais complexo e abrangente, relaciona-se com os efeitos suscitados sobre
a relação a si, a relação ao outro e a relação ao sentido (inclui as dimensões psíquicas,
socais e espirituais do ser humano).
No entanto, raramente se encontram no seu estado “puro”, sendo que são
dependentes um do outro. Por exemplo, um sofrimento importante para a pessoa
raramente deixa de ser acompanhado por um grau de somatização. Esta sobreposição
explica as hesitações da linguagem comum: fala-se de dor por ocasião da perda de
alguém, mas diz-se que se sofre de um mal de dentes.
No contexto dos cuidados de saúde, fala-se muito de dor e muito pouco de
sofrimento, isto porque é muito mais fácil atuar na primeira do que na segunda. Devia
ser obrigação dos profissionais atenuar ao máximo a dor, com a ajuda de fármacos e
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técnicas, mas sem nunca esquecer ou desvalorizar o possível sofrimento que o doente
esteja a sentir.
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