EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: A APRENDIZAGEM DE PROFESSORES, TUTORES E ALUNOS NO DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO EDUCATIVO ILHA, Franciele Roos da Silva – PPGE/UFSM [email protected] BAPTAGLIN, Leila Adriana – PPGE/UFSM [email protected] SCHWAAB, Silvia Guareschi – PPGE/UFSM [email protected] DRABACH, Neila Pedrotti – PPGE/UFSM [email protected] PINTO, Denise Gonçalves – SMED – SM/RS [email protected] OLIVEIRA, Oséias Santos de – PPGE/UFSM [email protected] Área temática: Formação de Professores e Profissionalização Docente Agência Financiadora: Não contou com financiamento Resumo A Educação a Distância apresenta-se como uma nova modalidade de ensino, sendo recentemente incorporada ao Ensino Superior a partir das novas configurações da educação, mercado, tecnologias e sociedade. Situados como profissionais da educação na função de tutores no curso de Especialização a Distância em Gestão Educacional da Universidade Federal de Santa Maria, buscamos abordar a questão da aprendizagem de professores, tutores e alunos que vivenciam o ensino a distância, tendo como base uma pesquisa bibliográfica de natureza qualitativa. Tendo em vista as dificuldades metodológicas no contexto da EaD, ressaltamos a importância de compreender os processos de aprendizagem a fim de buscar alternativas adequadas a esta modalidade de ensino; e por fim, refletimos sobre o papel dos sujeitos que estão inseridos no processo de ensino-aprendizagem na educação a distância: professor, tutor e aluno, apontando para suas especificidades e os desafios a serem enfrentados na busca por uma educação de qualidade. No que se refere à aprendizagem, vários aspectos diferenciados, mas complementares, foram destacados, são eles: a) a necessidade de descobrir a maneira mais significativa com que que aprendemos, já que todos nós somos aprendizes em qualquer tempo e circunstância; b) o papel do professor/tutor é 4436 imprescindível no processo de ensino aprendizagem, realizando, dentre outras ações formativas, a promoção da autonomia do aluno. Destacando que na EaD esse movimento é fundamental para que haja realmente a aprendizagem do aluno; c) este orientador e aprendiz também precisa sistematizar os conhecimentos e saberes necessários a docência: conhecimento específico, pedagógico do conteúdo e curricular, tendo ainda a tarefa de reconhecer os tempos aprendizagem de seus alunos. Em relação aos atores que vivenciam a EaD, acreditamos no trabalho colaborativo, fundamentado em ações compartilhadas, as quais terão possibilidades reais de promover a aprendizagem de todos os envolvidos nesse processo. Palavras-chave: Educação a distância; Aprendizagem; Ensino. Apontamentos iniciais A Educação a Distância vem se constituindo em um tema de muitas discussões, pois a sua trajetória configura-se ainda muito recente tendo em vista as práticas regulares1 de ensino. Diante disso, há necessidade de reflexões constantes acerca dos seus processos pedagógicos e das estratégias metodológicas a serem desenvolvidas, com vistas a promover a aprendizagem de alunos, professores e tutores2. Nesta conjuntura em que se encontra a EaD percebe-se ainda muitas questões a serem problematizadas, tendo como objetivo a construção de uma perspectiva metodológica e de mediação tecnológica que atenda as necessidades formativas de educandos e educadores. Nessa linha de pensamento, Fontana (2006) salienta que é preciso definir os princípios próprios da EaD enquanto processo educacional. Com essa preocupação, Martins (2008) defende que o ensino, seja ele presencial ou a distância, encontra-se ainda muito vinculado a concepções tradicionais, onde o aluno não precisa pensar, somente ouvir, copiar e realizar a prova. Por esse fato, surgem muitas críticas à EaD, principalmente no que tange à metodologia, à avaliação e à mediação e controle através do ambiente virtual de aprendizagem, que são os pontos fundamentais de suas práticas. Ao direcionar a análise para a metodologia utilizada nesta modalidade de ensino, Martins (2008) argumenta que, na medida em que o professor precisa preparar a aula para ser veiculada pela rede, faz-se necessário o domínio de conteúdos por parte dele, de forma que a sua seleção deverá ser feita criteriosamente, levando em consideração os conhecimentos 1 Entende-se como práticas regulares, neste contexto, as práticas presenciais de ensino. Os tutores assumem a função de mediação entre o professor e o aluno. Citamos os tutores, em vez de nos referirmos apenas aos alunos, porque partimos do pressuposto de que a aprendizagem se dá ao longo da vida (CLAXTON, 2005) e de que o processo educativo não é unidirecional e sim dialógico (FREIRE, 1996). 2 4437 relevantes de cada área. Além disso, nesta fase, o professor necessita priorizar temas significativos que promovam a reflexão crítica e a produção do conhecimento, trazendo para o ambiente de aprendizagem questionamentos e problematizações. Tal atitude fundamenta a compreensão de que o professor está reconstruindo o conhecimento, desencadeando assim, um dos aspectos mais ricos da aprendizagem. Imbricados nesse processo, estão os tutores, com funções educativas e profissionais a serem desenvolvidas sob orientação dos professores responsáveis, mediando a relação professor-aluno. Deste modo, todos estes envolvidos, na medida em que se desenvolvem um trabalho de orientação visando à formação através de princípios, fundamentos e procedimentos a serem pensados na organização desta modalidade de ensino estarão produzindo conhecimentos, próprio de suas práticas, atuações e aprendizagens. Tendo em vista que muitos elementos novos são vivenciados, como Souza; Sartori; Roesler (2008, p.329) alertam: [...] o/a professor/a depara-se com situações, em geral, não vivenciadas anteriormente como aluno, pois grande parte se formou no ensino presencial; confronta-se com tempos e espaços organizados de uma forma diferente; estabelece um contato com os alunos sem contar com os olhares e gestos e, em várias situações, sem ter uma reação imediata sobre o que foi apresentado e proposto. Estes elementos implicam em um conjunto de saberes didático-pedagógicos “novos”, que, em muitos casos, colocam em xeque encaminhamentos dados para situações presenciais. Diante desses apontamentos, este estudo tem como objetivo abordar o processo de aprendizagem de professores, tutores e alunos que vivenciam o ensino a distância. Como define Claxton (2005), é muito mais interessante aprendermos como aprendemos do que nos preocuparmos em compreender os conhecimentos já produzidos. Nesse sentido é que evidenciamos a importância de questionarmos sobre o processo de aprendizagem, ou seja, qual a maneira mais significativa de promover o nosso desenvolvimento. Assim, poderemos investir na organização didática de estratégias de estudo, articulando as dimensões interativas com o processo de formação específica das áreas de conhecimento a serem problematizadas em determinado espaço educativo. Claxton (2005, p. 13) embasa essa idéia quando pontua que “As pessoas em geral [...] diferem bastante na maneira como aprendem e na competência de seu aprendizado.” Desta forma a aprendizagem em EaD é potencializada nesta dimensão, 4438 visto que promove a flexibilização dos contextos dialógicos e metodológicos propiciando ao educando a organização autônoma de seus processos no campo da aprendizagem. Tendo como ponto de partida o exposto acima, este estudo caracteriza-se pelo uso da abordagem qualitativa, a qual, na perspectiva de Gamboa (1995, p. 61), proporciona a “busca de novas alternativas para o conhecimento de uma realidade tão dinâmica e polifacética como a problemática estudada”. Neste caso, ressaltamos que, para tratar de temáticas inseridas no campo educacional, é necessário voltar o olhar para o contexto em que o fenômeno em questão se desenvolve. Em específico, na perspectiva da discussão pretendida neste trabalho assumimos a tarefa de tutores a distância de um dos cursos de especialização oferecidos pela Universidade Federal de Santa Maria e deste modo, aliamos a prática profissional ao engajamento com esta nova modalidade de educação, buscando subsídios para melhor compreender o fazer didático-pedagógico e assim qualificarmos a ação que emerge de novas relações e de quebra de paradigmas no que se refere ao uso de tecnologias no processo de ensino-aprendizagem. Esta pesquisa é do tipo bibliográfico, que, de acordo com Carvalho (1987, p.110), representa “[...] a atividade de localização e consulta de fontes diversas de informações escritas, para coletas dados gerais e específicos a respeito de determinado tema”. Um dos pontos ressaltados é o de que toda pesquisa realizada em documentos escritos pode ser denominada de pesquisa bibliográfica. Ela também é a base imprescindível para qualquer tipo de pesquisa, pois não pode existir investigação científica, sem antes haver um conhecimento das contribuições teóricas existentes. Para melhor organizar as idéias construídas e problematizadas no texto, este se divide em dois momentos: tendo em vista as dificuldades metodológicas no contexto da EaD, ressaltamos a importância de compreender os processos de aprendizagem a fim de buscar alternativas adequadas a esta modalidade de ensino; e por fim, refletimos sobre o papel dos sujeitos que estão inseridos no processo de ensino-aprendizagem na educação a distância: professor, tutor e aluno, apontando para suas especificidades e os desafios a serem enfrentados na busca por uma educação de qualidade. A questão da aprendizagem 4439 O senso comum encaminha nossas percepções, quando pensamos nos processos de aprendizagem, ao contexto dos alunos, ou seja, como se desenvolvem em relação ao trato do conhecimento possibilitado pelo professor. No entanto, como já afirmado anteriormente, partimos do entendimento de que todos nós somos aprendizes em qualquer tempo e circunstância. Serrão (2006) dialoga nessa linha de pensamento ao mesmo tempo em que destaca que o papel do professor na organização do ensino é insubstituível, porque ele é o responsável por criar situações que promovam a superação dos problemas de aprendizagem, considerando o nível de desenvolvimento dos alunos e instigando a atuação destes ao encontro da zona de desenvolvimento proximal3, através das “atividades de estudo4”. Com isso, o professor estará buscando desencadear uma atitude ativa dos alunos consigo mesmo e através de ações compartilhadas com seus pares. Além disso, “Por meio da ‘atividade de estudo’, atitudes e habilidades de investigação são desenvolvidas nos estudantes, tornando-os capazes de se apropriarem de conhecimentos de um modo semelhante ao que historicamente ocorreu.” (SERRÃO, 2006, p.119), considerando que todo indivíduo é capaz de aprender e ao aprender se desenvolve e se constitui como ser humano. Imbricados nessa temática, Davídov e Márkova (1987) alertam para a importância de fornecer ao aluno as condições para criar suas estratégias de resolução de problemas e de transferi-las a outras situações, quando necessário. Durante a comunicação, o aluno vai construindo as estratégias de resolução de problemas socialmente elaboradas (dentro de cada área). A situação de aprendizagem organizada permite que o aluno desenvolva mais rapidamente capacidades que o meio social possibilitaria de forma mais lenta. Ao mesmo tempo, cabe sinalizar que os alunos e os constantes aprendizes, sejam eles professores, acadêmicos e demais profissionais, também aprendem através de ações autônomas. Diante do exposto, importa salientar outros pontos referentes aos processos de aprendizagem, pois como diz Serrão (2006) também existe uma produção específica acerca do 3 A distância entre aquilo que a criança é capaz de fazer de forma autônoma (nível de desenvolvimento real) e aquilo que ela realiza em colaboração com os outros elementos de seu grupo social (nível de desenvolvimento potencial) caracteriza aquilo que Vygostky chamou de “zona de desenvolvimento potencial ou proximal.” (REGO, 1998, p.73). 4 [...] é uma atividade conjunta, social. Pressupõe necessariamente a comunicação e a relação com o “outro”, tanto pela produção cultural materializada em algum objeto material ou simbólico, quanto pela presença física desse “outro”. (SERRÃO, 2006, p.119). 4440 “aprender a ensinar”. Nessa direção, emerge a pergunta: Como as pessoas que, já conhecem algo, aprendem a ensinar o que sabem há outros? Shullman (apud MIZUKAMI, 2004) responde essa questão com a hipótese de que os professores precisam ter diferentes tipos de conhecimentos, tais como: 1) O conhecimento específico: transcende a área específica, são conhecimentos de teorias e princípios relacionados a processos de ensinar e aprender, conhecimentos dos alunos, dos contextos micro e macro; de outras disciplinas que colaborem com a área em questão; do currículo; dos fundamentos filosóficos e históricos. Neste, ainda considera o conhecimento substantivo para ensinar (incluem os paradigmas utilizados) e o conhecimento sintático de ensino (referem-se aos padrões atribuídos e aceitos por determinada comunidade); 2) O conhecimento pedagógico do conteúdo: é construído por cada educador, ao ensinar a matéria, ele vai enriquecendo e melhorando os conhecimentos bases. Relaciona-se com a sabedoria da melhor maneira de ensinar de forma que torne o ensino mais significativo para os alunos, resultando na aprendizagem de ambos; e, 3) O conhecimento curricular: inclui as relações existentes entre o conhecimento específico e pedagógico do conteúdo. Como alerta Shullman (apud MIZUKAMI, 2004), vários são os saberes que os professores precisam ter, aprender, (re) construir. Porém, outro fator de suma importância acerca da docência a ser considerado, como argumenta Arroyo (2004), situa-se no campo temporal, num movimento voltado à compreensão dos distintos tempos em que se encontram os alunos e sua relação com a tarefa de ensino. O autor expressa essa articulação ao dizer que: Cada professor (a) sabe que, dependendo da série ou do bimestre, terá de privilegiar determinados conteúdos na hora de preparar sua aula, e dependendo da diversidade dos alunos e das turmas terá de programar tempos diversificados de ensino. [...] dependendo da complexidade de cada matéria terá de alargar ou encurtar o tempo de ensino. (ARROYO, 2004, p.210). Essa vinculação entre o tempo dos alunos com o quê, quando e como ensinar representa uma preocupação coerente com os desafios existentes no âmbito educacional, pois em muitos momentos este conhecimento não é explorado e junto a isso surgem conseqüências indesejáveis, como a não aprendizagem dos alunos e a desmotivação destes e de seus mestres frente ao processo educativo. 4441 Em torno desses indicativos de como ocorre o processo de aprendizagem, direcionamos, neste momento, o olhar para um contexto peculiar de ensino, a aprendizagem na Educação a Distância. Mediação e aprendizagem na Educação a Distância Perpassando as problematizações a respeito do processo de aprendizagem, cabe aqui nos questionarmos como acontece este processo na relação do ensino a distância onde temos o professor, o tutor e o aluno. Tendo como grande diferencial o meio5 através do qual o aluno aprende, a EaD requer do aluno uma maior autonomia na construção do conhecimento que, com o auxílio do tutor, deve dinamizar seu tempo e seu trabalho acadêmico. O professor com seu papel de acompanhamento e organização do conteúdo atua como um orientador do processo de aprendizagem. Contudo, como colocam Salvat e Quiroz (2005), nada garante que o professor mesmo tendo uma boa atuação no presencial fará o mesmo no ensino a distância, podendo dizer o mesmo em relação ao tutor. No ensino à distância o tutor apresenta-se como o diferencial. Esta situação exige, segundo as Referencias de Qualidade para a Educação Superior a Distância (MEC/SEED, 2007) que a formação do tutor deve envolver: exercício específico do conteúdo, domínio das mídias de comunicação, do funcionamento da EaD e dos modelos de tutoria. Uma capacitação um tanto técnica, mas que ao decorrer deste documento explicita sua função relativa a, além destes conhecimentos, esclarecimentos de dúvidas do ambiente e do conteúdo, criação de espaço de construção de conhecimento, escolha de materiais auxiliares, participação na elaboração dos processo avaliativos juntamente com o professor responsável. Verificamos então que, embora paradoxalmente tenha de exercer funções relativas à docência, o que exige preparo e formação para tal, o tutor, conforme as diretrizes governamentais, não é considerado como professor. Percebemos aqui, um ponto de discussão nesta situação, terá o tutor o papel de professor ou será um “porta-voz” deste? Há proposições que enfatizam que o tutor é o sujeito que faz a mediação, o facilitador, o sujeito que interage com os alunos a fim de que estes entendam e realizem os objetivos da atividade/do conteúdo, enfim, atua como docente, destacando assim, a necessidade de que este tenha um capacitação/formação para tal. 5 Referimo-nos aqui ao meio de interação entre professor-tutor-aluno utilizado na educação à distância: os ambientes virtuais de aprendizagem. 4442 Há, contudo, proposições que enfatizam o papel do tutor como agente participativo e integrante do processo de ensino-aprendizagem, atuando de forma direta na construção do conhecimento do aluno, instigando-o na busca de novos materiais, a tornar-se autônomo, a questionar continuamente sua prática pedagógica, a ser crítico e interativo com os conteúdos propostos (VILARINHO; CABANAS, 2008). Leal (2005, p.5), com muita propriedade ao comentar essa questão nos lembra que: Trabalhar a complexidade do saber fazer educativo na visão do aprender a aprender, na ótica reflexiva da construção do saber, é um dos grandes desafios do tutor. Ainda, propiciar momentos em que o aluno aprenda a ler e a reler o mundo, a apropriar-se do conhecimento, a redimensionar valores, a rever atitudes. Questionamo-nos então, qual será o papel do tutor necessário para o desenvolvimento da aprendizagem? Neste questionamento estamos propondo problematizar a atuação de um tutor/professor com formação específica e capacitação para a atuação em ambientes de EaD, em detrimento a um tutor/mediador que tenha sua função restrita apenas à motivação, à mediação entre o aluno e o conteúdo. Em razão disso, acreditamos que o processo de aprendizagem, apesar das dificuldades encontradas nesta modalidade de ensino, tem de ser consonante entre os sujeitos envolvidos neste processo, resultando em um trabalho colaborativo. Esta iniciativa “entre professores apresenta potencial para enriquecer sua maneira de pensar, agir e resolver problemas, criando possibilidades de sucesso à difícil tarefa pedagógica” (DAMIANI, 2008, p.218). Se não levarmos em consideração esta aproximação estaremos à mercê do grande contingente de dificuldades apresentadas por Vilarinho e Sander (2003) ao se referirem a EaD: A EaD passa necessariamente por: inexistência de seleção criteriosa dos sujeitos que dela vão participar, seja aluno ou professor; pouco ou nenhum período de ambientação à proposta de aprendizagem, especialmente quando as atividades ocorrem em espaços virtuais; omissão por parte do aluno da sua real disponibilidade de tempo para estudar; conteúdos de ensino descontextualizados, analisados à luz de teorias irrelevantes, em quantidade inadequada à carga horária de estudo, exclusão do tutor do planejamento do curso, de modo a que ele fica apenas reservada a função de “orientador da aprendizagem” (VILARINHO; SANDER, 2003 apud VILARINHO; CABANAS, 2008, p. 482). 4443 Além de nos alertarem para algumas práticas realizadas atualmente, Vilarinho e Cabanas (2008), ao realizarem uma pesquisa acerca do papel do tutor, nos mostram sua preocupação frente à expansiva disseminação desta modalidade de ensino, à falta de formação e capacitação tanto para os professores como para os tutores e alunos que irão atuar e interagir com esta modalidade. Esta preocupação é pertinente frente à colocação de Fontana: O modelo de EaD [...] pode ser identificado ainda com os modelos fordistas de produção industrial. Racionalização, divisão acentuada do trabalho, alto controle dos processos de trabalho, produção de “pacotes educacionais” [...] e a burocratização das tarefas de ensino e aprendizagem (2006, p.9) Fica aqui então, a nossa preocupação em relação à forma como vem ocorrendo o processo de aprendizagem dos alunos da EaD. Desta forma o diálogo problematizador da aprendizagem, através do seu caráter mediador, que mesmo flexibilizado fica demarcado pela transmissão e recepção de conteúdos, como processo relacionado a uma ênfase nos procedimentos de controle e avaliação. Processo esse limitado do campo de aprendizagem sem interpretarmos as possibilidades permitidas pela interação, formatando o processo de aprendizagem na rigidez organizativa do trabalho educacional na modalidade presencial. Sabemos que há programas que fogem aos aspectos negativos descritos e procuram dinamizar o ensino enfrentando as dificuldades de forma interativa conseguindo assim bons resultados na aprendizagem do aluno. Contudo, por ser um processo recente, advindo da implementação das tecnologias digitais no meio educacional, a EaD, assim como qualquer outro sistema em vias de construção, apresenta-se com muitas interrogações, muitas críticas e muitas dificuldades. Todavia, não podemos negar que sua expansão tem gerado uma ampliação, ao menos em termos quantitativos, da oportunidade de inserção e aprendizagem no ensino superior. Palavras finais A problematização do contexto da educação a distância é indispensável, já que, como dito anteiormente, acreditamos que estamos em constante formação. O diálogo, nesse sentido, possibilita que através das vivências culturais que experimentamos, possamos significar e resignificar práticas e saberes, articulando e produzindo conhecimentos relacionados. Desta 4444 forma, investigando os processos didáticos, metodológicos e interativos desta modalidade de ensino que vem se expandindo rapidamente em nossas instituições poderemos construir uma proposta educativa própria da EaD. A análise apresentada em dois momentos neste texto teve a intenção primeira de contribuir com a EaD e seus processos de aprendizagem, já que estamos inseridos nesse ambiente e temos a possibilidade concreta de intervir ao lançarmos mão dos conhecimentos e saberes aprendidos e reconstruídos em trabalhos reflexivos como esse. Em outras palavras, somos comprometidos com o nosso fazer e queremos superar o modelo tradicional e tecnicista da educação, no contexto também da Educação a Distância. Para tal, enfatizamos alguns elementos na tentativa de organizar nossos olhares e reflexões, em busca de discutirmos e sintonizarmos numa mesma direção. Dentre os aspectos enfatizados encontra-se a aprendizagem de forma ampla como ela representa no meio educativo. Assim, evidenciamos vários aspectos diferenciados, mas complementares. Em síntese, são eles: a) precisamos descobrir a maneira mais significativa que aprendemos, já que todos nós somos aprendizes em qualquer tempo e circunstância; b) o papel do professor/tutor é imprescindível no processo de ensino aprendizagem, realizando, dentre outras ações formativas, a promoção da autonomia do aluno. Destacando que na EaD esse movimento é fundamental para que haja realmente a aprendizagem do aluno; c) este orientador e aprendiz também precisa sistematizar os conhecimentos e saberes necessários à docência: conhecimento específico, pedagógico do conteúdo e curricular, tendo ainda a tarefa de reconhecer os tempos de aprendizagem de seus alunos. Em relação aos atores que vivenciam a EaD, acreditamos no trabalho colaborativo, fundamentado em ações compartilhadas, as quais terão possibilidades reais de promover a aprendizagem de todos os envolvidos nesse processo. Dentre os aspectos ressaltados, evidenciamos que: O papel do tutor [...] ultrapassa a visão puramente técnica, transcende a exarcebação da especialidade, adquirindo competência para instrumentalizar a tecnologia. [...] supera assim o conceito reducionista de propostas estritamente técnicas. O tutor é um educador a distância. Aquele que coordena a seleção de conteúdos, que discute as estratégias de aprendizagem, que suscita a criação de percursos acadêmicos, que problematiza o conhecimento, que estabelece o diálogo com o aluno, que media problemas de aprendizagem, sugere, instiga, acolhe. Enfim, um professor no espaço virtual, exercendo a sua função de formar o aluno (LEAL, 2005, p.3). 4445 Portanto, concordamos com Leal (2005, p.2), pois, “Cremos no reencantamento, na reconstrução dos saberes, na articulação com o outro, daí entender que o espaço virtual, bem como as novas tecnologias da comunicação e informação podem ser interessantes no fazer educativo”. O caminho que nos parece mais adequado para superar uma Educação distante ao encontro da Educação a Distância é aceitarmos o desafio e nos desacomodarmos frente ao novo, ao diferente, buscando compreender as suas peculiaridades e dificuldades e trabalhar para superar essas últimas. Vasconcellos (2007, p.15) sustenta nossa afirmação ao recordar que “no tempo atual, um professor que não tenha um nível razoável de angústia, em relação a sua atividade, que não se sinta desacomodado, com certeza não é um professor do tempo atual!” (VASCONCELLOS, 2007, p.15). REFERÊNCIAS ARROYO, Miguel Gonzales. Imagens quebradas: trajetórias e tempos de alunos e mestres. Petrópolis: Vozes, 2004. CARVALHO, Anesia de Souza. Metodologia fenomenológica. Rio de Janeiro: Agir, 1987. da entrevista: uma abordagem CLAXTON, Guy. O desafio de aprender ao longo da vida. Tradução Magda França Lopes. Porto Alegre: Artmed, 2005. DAMIANI, M. F. Entendendo o trabalho colaborativo em educação e revelando seus benefícios. 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