Ponencia - Eje 5 - Desarrollo, Recursos Naturales y Energéticos QUAL A RELAÇÃO ENTRE A PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE E O QUE COMEMOS? Adriana Angelita da Conceição1 Resumo: O que levamos aos nossos pratos diz muito de nossa relação com o meio-ambiente. Na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, Rio+20, a FAO declarou: “La eliminación del hambre y la malnutrición es, de esta forma, tanto una cuestión de justicia como una contribución esencial al desarrollo sostenible”. Hoje, mais da metade dos grãos produzidos no mundo transformam-se em ração para animais na Europa, EUA e China, enquanto ainda existe 1 bilhão de pessoas morrendo de fome entre os cinco continentes. Pesquisas mostram que para produzir 1 kg de carne de gado gasta-se até 15 kg de grãos, sendo que o consumo frequente de carnes atende aos países ricos e a classe média em ascensão. A pecuária é o setor do agronegócio que mais contamina e gasta água, produzir 1kg de carne = 10 mil litros de água. Então, para alcançarmos uma soberania alimentar sustentável e igualitária na América Latina devemos repensar como nos alimentamos. Portanto, apresentamos uma importante alternativa de conscientização: a campanha Segunda Sem Carne lançada em 2009 pela Sociedade Vegetariana Brasileira, com o objetivo de informar às pessoas sobre os impactos que o consumo de carne tem sobre o meio ambiente, a saúde humana e os animais. Palavras-Chave: Alimentação, Consumo de Carnes, Meio ambiente, Soberania Alimentar, campanha Segunda Sem Carne, Sociedade Vegetaria Brasileira. Há 12 anos estamos no século XXI, um período que ingressou com grandes promessas de desenvolvimento tecnológico e crescimento financeiro, o que não deixou de acontecer. Mas, ainda convivemos com 16% da população vivendo com fome. Hoje somos cerca de 7 bilhões de terráqueos humanos e segundo dados da FAO, quase 1 bilhão vive em estado de subnutrição e com grande probabilidade de morrer de fome.2 Este cenário mostra-se assustador: de um lado temos grandes inventos, comodidades e uma saturação de produtos supérfluos sendo criados e lançados no mercado, e no outro, a simples dignidade de um prato de comida ainda é um tema que assola milhões de pessoas. A dita crise da pós-modernidade que debate o individualismo e as novas formas de relações sociais esquece que ainda convivemos com problemas básicos e que não garantem a mínima decência: milhões de pessoas que não conseguem manter o corpo orgânico em condições de viver e pensar. Coordenadora interina do núcleo São Paulo da Sociedade Vegetariana Brasileira – SVB. Dra. em História Social pela Universidade de São Paulo – USP. Diretora de projetos da ONG PACHAMAMA. Curriculum Vitae: lattes.cnpq.br/2699649926975003. Endereço: rua Orlando Chaplin, 76 A. Barra da Lagoa – Florianópolis-SC – Brasil. Telefone: 55 (11) 9-7037-2285. e-mail: [email protected]. Fica autorizada a publicação deste texto com fins acadêmicos. 2 FAO: Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (sigla em inglês). 1 O século XXI entrou com uma meta, a de reduzir, no mínimo a metade, o número de famintos no mundo. Observou-se alguns progressos durante as duas últimas décadas do século passado, mas, o novo século vem mostrando ineficiência em suas medidas, já que o número de pessoas que passam fome no mundo está aumentando continuamente. Na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, Rio+20, acontecida em junho de 2012 no Rio de Janeiro, a FAO declarou: “La eliminación del hambre y la malnutrición es, de esta forma, tanto una cuestión de justicia como una contribución esencial al desarrollo sostenible”. 3 Sabemos que um cidadão com fome não possui meios para uma participação social, tornando-se sem voz, sem consciência e sem capacidade de produção. Apenas, na maioria das vezes, consegue se manifestar com desespero, diante da fome e do que precisa fazer para sobreviver dia a dia, sem conseguir planejar um futuro ou um caminho a seguir. Para a FAO “El hambre es la máxima forma de exclusión social y económica”.4 A maior quantidade de pessoas famintas se concentra na África Subsariana (Ásia e Pacífico), quase 30% da população. Na América Latina e Caribe chegamos a 53 milhões e 15 milhões nos países desenvolvidos. No Brasil o número dos que passam fome fica entre 5 a 9% da população, um número altíssimo para um país que possui uma das maiores extensões de terras cultiváveis do mundo. Por que esta contradição? No Brasil gasta-se 20 bilhões de euros em projetos de combate à fome e à pobreza. Como exemplo, podemos citar o programa Fome Zero que “compreende um conjunto de ações que visam erradicar a fome no Brasil e concretizar um sólido programa de Segurança Alimentar vinculado à soberania social”,5 o que não acontece na África, já que o estado não possui força suficiente para empreender tais ações. Embora o programa Fome Zero tenha vários problemas de fraude e estagnação social, já que oferecer apenas comida não é uma solução para a soberania social, apenas nos interessa, neste trabalho, mostrar sua existência e enfatizar que contribuiu para a redução dos famintos brasileiros. Mas, voltamos a pergunta anterior, como um país com tantas recursos e projetos ainda mantêm brasileiros em estado de pobreza total? Como um mundo de alta tecnologia, comunicação imediata, avanço na medicina, ainda não conseguiu extirpar a fome? O compromisso de acabar com a fome do mundo não é novo, desde a década de 70 este objetivo é divulgado e proposto. Em 1972 o mundo passou por uma grande crise de alimentos, incluindo a alta dos preços e regiões africanas com secas devastadoras. Em 1974, a FAO convocou a Conferência Mundial sobre a Alimentação, “na qual os países participantes se comprometem a 3 Acesso: 08/2012. http://www.fao.org/rioplus20/74933/es/ Acesso: 08/2012. http://www.fao.org/rioplus20/74933/es/ 5 CORREA, Vivian Helena Capacle, SILVA, Tomás Taulois. A crise mundial dos alimentos e a vulnerabilidade dos países periféricos. 2009. Artigo – Nova Técnica. 4 2 fazer desaparecer a fome da superfície da terra no curso dos dez anos seguintes”.6 Logo veio outra meta, mais humilde, que pretendia reduzir à metade a fome mundial até 2015, algo que sabemos que não se concretizará. Sendo que a problemática da fome não é apenas uma questão de produção de alimentos ou escassez de recursos, existem aspectos políticos e econômicos interligados. Junto ao problema da fome a sociedade atual enfrenta preocupações com a degradação do meio ambiente, a diminuição de recursos naturais essenciais como a água e populações que do estado de subnutrição passaram a sofrer graves doenças vinculadas à obesidade, dentre outros fatores. Neste contexto, o pesquisador Jacques Chonchol levanta uma importante questão: “em que medida as limitações ligadas aos recursos e ao meio ambiente podem condicionar as perspectivas de aumento das disponibilidades alimentares e o acesso de todos aos alimentos, o que é a própria essência da segurança alimentar?”.7 Eis o problema: junto aos milhões de famintos a terra está mostrando sua limitação de recursos diante da exploração não planejada. A escolha do que colocamos diariamente em nossos pratos é mais do que uma preferência por sabores. Observa-se que maioritariamente as ofertas alimentares do mundo capitalista obedecem a uma rede de interesses mercadológicos que busca controlar a essencial ação humana de se alimentar. O atual sistema político e econômico, através de uma onda de homogeneização social, controla as redes de agronegócio, afastando dos produtores e dos consumidores o direito de escolher o que vai compor sua alimentação. O pesquisador Thomaz Júnior afirma que as transnacionais agroquímico-alimentares difundem a ideia de que a produção agropecuária precisa servir antes de tudo, ao mercado, que decidirá o que vai ser plantado e o que vai ser consumido. 8 Mas, alimentar-se é um direito humano que não pode ser controlado por multinacionais que fazem da comida uma arma de mercado. Diante da preocupante conjuntura, devemos exigir do estado o direito à Soberania Alimentar, que segundo João Vieira, “consiste no direito de cada povo ou país a produzir os seus alimentos e a organizar a sua produção conforme os seus hábitos e tradições; ao direito a produzir e utilizar as suas sementes e a proteger-se de importações abusivas através de taxas aduaneiras que defendam o seu mercado interno”.9 O tema da Soberania Alimentar é vasto e acreditamos que para alcançá-la na América Latina devemos repensar os atuais hábitos, para que as escolhas estejam baseadas em sustentabilidade e vida saudável. 6 CHONCHOL, Jacques. A soberania alimentar. Estudos Avançados. 2005, vol.19, n.55, pp. 33-48. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142005000300003&lng=en&nrm=iso 7 CHONCHOL, Jacques. A soberania alimentar... op. cit. 8 THOMAZ JUNIOR, A. Trabalho, reforma agrária e soberania alimentar: elementos para recolocar o debate da luta de classes no Brasil. Scripta Nova. Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales. Barcelona: Universidad de Barcelona, 1 de agosto de 2007, vol. XI, núm. 245 (46). http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-24546.htm Acesso: 08/2012. 9 VIEIRA, João. Soberania Alimentar: Conceito, Problemática e Contextualização Actual. Associação de Agricultores do Distrito de Lisboa (24/01/08). www.modevida.com Acesso: 08/2012. 3 Outro problema do agronegócio é a desmobilização da produção familiar camponesa, pois está fundamentado, segundo Thomaz Junior “no desrespeito à biodiversidade, na destruição do meio ambiente, na deturpação dos preços, na sabotagem das políticas de Reforma Agrária e, consequentemente, na desmobilização da sociedade e dos trabalhadores em particular”.10 O agronegócio caminha para inviabilizar a Soberania Alimentar como um projeto de sociedade igualitária e sem fome. Com a desmobilização da agricultura familiar, fortalecem-se às monoculturas que não produzem, em sua maioria, cereais para a alimentação, e sim para a produção de ração para animais e para os biocombustíveis.11 No Brasil verifica-se disputas de áreas de cultivo para a cana-de-açúcar e para a soja, nenhuma delas para o consumo humano, além de devastações para os pastos de criação animal. Embora não seja o asunto deste texto, vale destacar que a Reforma Agrária e a Soberania Alimentar, como temas de ação social, oferecem importantes dimensões para repensarmos a luta de classes no Brasil e na América Latina, na qual devemos construir coletivos de resistência social em novos cenários organizativos.12 A resistência social precisa ser engajada, pois muitos governos latino americanos, pressionados pelas grandes incorporações, estão condenando as lutas pela Soberania Alimentar como algo gerenciado por grupos ilegais, chegando “à criminalização das entidades de organização e dos militantes”.13 A presidente da Sociedade Vegetariana Brasileira - SVB, Marly Wincker, afirma que “criar animais para gerar alimento é uma forma muito ineficiente de utilização dos recursos”.14 Atualmente, no Brasil temos mais animais nos pastos e/ou em confinamento do que pessoas – seres vivos que precisam de comida e água antes do abate. Portanto, por motivos sociais, ambientais, econômicos e de justiça a criação de animais é ineficiente como prática alimentar sustentável e igualitária. O aumento do consumo de carne, especialmente, imposto pela padronização alimentar dos países ricos e suas redes de fast food é hoje um dos grandes problemas sociais, já que estes hábitos influem em todos os setores da sociedade e não apenas na gastronomia e na nutrição. Entretanto, a ordem mercadológica busca mostrar o contrário, incentivando o consumo sem refletir de onde vem a alimentação e como funciona toda a cadeia produtiva. Quando fala-se de alimentação sem carnes, ideias filosóficas, religiosas, éticas e morais se agregam ao diálogo. Mas, 10 THOMAZ JUNIOR, A. Trabalho, reforma agrária e soberania alimentar... op. cit. O tema dos biocombustíveis é muito importante e polêmico, mas, não temos espaço para tratá-lo neste trabalho. Apenas gostaríamos de ressaltar que a produção de etanol chegou como uma proposta ecológica e de inclusão social, mas, hoje representa a cobiça do mercado internacional e dos latifundiários. Como, por exemplo, aconteceu em 2011, com a pressão pelo etanol de milho, provocando o aumento de 50% de uma das bases da alimentação mexicana, as tortillas. No Brasil, “a produção de etanol a partir da cana-de-açúcar implica numa série de impactos negativos cujos custos não são assumidos pelos produtores, mas sim transferidos como externalidades à população”. In: RATTNER, Henrique. Escassez de alimentos, inflação e fontes energéticas alternativas. Revista Espaço Acadêmico. Ano VIII, número 87. Agosto de 2008. Disponível em: http://www.espacoacademico.com.br/087/87rattner.htm Acesso: 08/2012. 12 Para mais informações, sugerimos a leitura de: THOMAZ JUNIOR, A. Trabalho, reforma agrária e soberania alimentar... op. cit. 13 THOMAZ JUNIOR, A. Trabalho, reforma agrária e soberania alimentar... op. cit. 14 WINCKLER, Marly. Produção de carne: Impacto ambiental. Orgânicos em Revista. Disponível em: http://www.svb.org.br/vegetarianismo/index.php?option=com_docman&Itemid=244 Acesso: 08/2012. 11 4 neste texto, destacaremos o viés econômico, social e ambiental deste problemático costume de alimentação. O processo de industrialização da vida, que é o que acontece com os animais criados para consumo, é uma prática cruel com seres que possuem direto à vida, como todo terráqueo.15 Estima-se que por ano mais de 67 bilhões de animais terrestres são criados no mundo para consumo, ou seja, criamos para matar quase dez vezes o número da população mundial. Uma das maiores ineficácias da produção de carnes para a alimentação está na conversão proteica. Pesquisas mostram que para produzir 1 kg de carne de gado gasta-se até 15 kg de grãos. Pense: quantas pessoas poderiam ser alimentadas com 15kg de grãos – proteína vegetal – e quantas podem ser alimentas com 1kg de carne – proteína animal. Desde modo, embora vivamos em um mundo com quase cinco vezes a população brasileira passando fome, continuamos convertendo proteína vegetal em animal, em uma conta que provoca um grande débito de alimentos. Lembrando que o consumo frequente de carnes atende, especialmente, aos países ricos e a classe média em ascensão, já que as carnes não são produtos com preços acessíveis no mercado. Com as ondas de crescimento do poder aquisitivo, consequentemente, verifica-se um aumento no consumo de carnes. Analisemos o que expôs João de Meirelles Filho, para o Brasil: No cenário de inclusão econômica de milhões de pessoas, deixando a categoria de miséria para a de pobreza, subindo um degrau, das classes E para a D e de D para C, o consumo de carne per capta aumenta substancialmente. Numa perspectiva de 20 anos, o aumento de 0,5 kg/capta/ano, pode resultar em mais 10 kg/capta, simploriamente, para uma população de 200 milhões de habitantes seriam 2 milhões de ton./ano a mais. (…) O Brasil já é o maior exportador mundial.16 Se cresce o consumo de carne, aumenta, consequentemente, a demanda por grãos para ração. Estudos mostram que mais da metade da produção mundial de grãos é consumida por animais de abate. No mercado brasileiro existe um forte anseio pelo aumento da produção de grãos e que se espera que alcance números recordes em 2012, gerando uma pressão sobre a oferta de grãos no mercado. Então, grãos que poderiam servir para a alimentação humana são destinados aos animais. Mundialmente, estima-se aumentar a produção atual de carne de 262 para 404 milhões de toneladas, até 2030. Portanto, será preciso aumentar a produção de grãos dos atuais 770 para 1.212 milhões de toneladas.17 Mas, para isso iriamos precisar de outros planetas! Segundo dados apresentados por Chachoul, apenas um pequeno número de países concentram áreas com grande poder de cultivo: Brasil, Zaire, Indonésia, Sudão, Argélia, Moçambique, Tanzânia, Argentina, Bolívia, Colômbia, 15 Recomendamos o documentário Terráqueos “Earthlings” que trata “sobre a absoluta dependência da humanidade em relação aos animais (para estimação, alimentação, vestuário, diversão e desenvolvimento científico), mas também ilustra nosso completo desrespeito para com os assim chamados „provedores não-humanos‟”. Acesse: www.terraqueos.org 16 MEIRELLES FILHO, João. Carnaval ou a Amazônia sem carne. 14/12/2010. www.oeco.com.br/convidados/24646-carnaval-ou-aamazonia-sem-carne Acesso: 08/2012. 17 ROPPA, Luciano. Perspectivas da produção Mundial de carnes, 2007 a 2015. www.sossuinos.com.br/Mercado/info15 Acesso: 08/2012. 5 México, Peru, Venezuela. A grande maioria faz parte da América Latina, 7 dos 12. Diante disto, como tem sido o posicionamento latino-americano? Como a América Latina tem cuidado de seus recursos naturais? Assim, cada vez que o Brasil exporta carnes permite que valiosíssimos recursos naturais, como água e terras cultiváveis, sigam impregnados nas carnes, sem que se reflita o grande problema deste comércio que só atende uma minoria de abastados financeiramente. Ainda em relação às rações, a projeção do Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal18 para 2011, era que a produção de ração alcançasse 66,6 milhões de toneladas, incluindo, certamente, matérias-primas como os grãos. O maior consumo de ração concentra-se na avicultura e suinocultura, representando 84% do total, ficando os bovinos com 8% da produção, já que grande parte do gado brasileiro é criado em pastos, consumindo rações apenas na fase de engorda, antes do abate. No estudo A grande sombra da pecuária, de Henning Steinfeld, chefe da FAO, consta que “o gado é hoje um dos fatores que mais contribui para os problemas ambientais”19 sendo “necessárias ações urgentes para remediar esta situação”.20 Portanto, existe uma discrepância social quando transformarmos mais da metade dos grãos produzidos no mundo em ração, que alimentará, principalmente, animais confinados na Europa, EUA e China. No documento final da Cúpula dos Povos, durante a Rio+20, lemos que “a agricultura campesina, familiar e indígena produz 70% dos alimentos para a humanidade (…)”.21 Pois, a produção das grandes monoculturas serve para ração e biocombustíveis e não para a alimentação humana. A pecuária é considerada o setor do agronegócio que mais contamina e gasta água. Estudos afirmam que para produzir 1kg de carne bovina são gastos de 10 a 15 mil litros de água, considerando-se toda a cadeia produtiva: vida do animal, abate, descarne e comercialização. Segundo pesquisas de Demetrios Christofidis, no ano 2000, as captações de água, derivada dos mananciais, para atendimento aos principais usos consuntivos correspondiam a: abastecimento humano domiciliar: 9,5%; produção industrial: 20,3% e produção de alimentos: 70,2%; sendo que 44% do total mundial é destinado à agricultura,22 que é o setor que mais consome a água potável do planeta. Deste modo, reafirmamos, ao se considerar a produção de grãos para rações, o quanto a produção de carne deixa uma pesada marca nos usos dos recursos naturais, sem atender de modo igualitário as populações. Entre as recomendações estabelecidas em relação à água no encontro internacional de Soberania Alimentaria en las Americas, ocorrido na Bolívia em junho de 2012, consta que, 18 http://sindiracoes.org.br/ WINCKLER, Marly. Produção de carne: Impacto ambiental… op. cit. 20 WINCKLER, Marly. Produção de carne: Impacto ambiental… op. cit. 21 Documento finais da Cúpula dos Povos na Rio +20, por Justiça Social e Ambiental. Plenária 3 – Soberania alimentar, p. 15. Junho de 2012. Disponível: www.cupuladospovos.org.br/wp-content/uploads/2012/06/Declaracao-final-PORT.pdf Acesso: 08/2012. 22 Christofidis, Demetrios. Água na produção de alimentos: o papel da academia e da indústria no alcance do desenvolvimento sustentável. Revista Ciências Exatas, Taubaté, v. 12, n. 1, p. 37-46, 2006. 19 6 el acceso al agua es un derecho humano y por ende un recurso indispensable para la existencia de todo ser vivo, es obligación de los Estados tomar todas las medidas necesarias para garantizar su distribución equitativa y rechazar su mercantilización de este recurso que nos brinda la madre tierra. 23 Aumentar e incentivar a pecuária significa não garantir o direito à água a todos que habitam à Terra. Estima-se que para manter uma dieta que consome até 320 gr de carnes e derivados animais uma pessoa gasta 1.430 litros de água por dia, o equivalente a 1 litro por minuto. 24 Diante da escassez deste recurso será que ainda são viáveis os padrões que incentivam o consumo de carnes e derivados? A questão da água é tão preocupante que em agosto deste ano, a mídia ofereceu destaque a um alerta pouco esperado, o qual relacionava os padrões alimentares baseados em proteína animal com a escassez da água. A notícia foi divulgada com base no que discutiu-se na Suécia, na ocasião da Semana Mundial da Água e com a divulgação do relatório Alimentando um mundo sedento: Desafios e Oportunidades para a segurança hídrica e alimentar,25 o qual aponta que diante da escassez da água as pessoas terão que mudar seus costumes alimentares e substituir a carne por vegetais.26 Um dos trechos do relatório destaca que “A capacidade de um país de produzir alimentos é limitada pela quantidade de água disponível em suas áreas de cultivo”. Para que um país garanta sua Soberania Alimentar é preciso defender de modo consciente e estratégico a preservação de seus recursos naturais. Mas, não podemos nos enganar colocando a solução do problema como uma mera opção individual: comer ou não carnes. Esta problemática precisa ser trabalhada em conjunto com políticas públicas que garantam informações verdadeiras e livres das intenções do mercado. O estado precisa manter um posicionamento que priorize o coletivo, garantindo a todos o mínimo direito de acesso à uma alimentação saudável e sustentável. E a floresta amazônica? Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, quase 50 mil campos de futebol foi o tamanho da área desmatada no bioma amazônico, apenas no mês de outubro de 2011. Seguindo o rastro da destruição, eis o que afirmou João Meirelles “Dos 850 milhões de hectares do Brasil, a pecuária ocupa cerca de 220 milhões de hectares (cerca de 25%). A atividade é a principal responsável por alterações nas paisagens naturais do Brasil. A Mata Atlântica (que perdeu mais de 90% de sua área) foi principalmente alterada pela pecuária bovina e não pela cana-de-açúcar ou o café. O mesmo ocorre com a Caatinga e Cerrado”.27 Embora tenhamos oferecido destaque aos impactos ambientais decorrentes da criação de bovinos, a produção de 23 Declaración del Encuentro Internacional de Soberania alimentaria en las Américas. Bolívia, junho de 2012. Disponível: http://viacampesina.org Acesso: 08/2012. 24 Christofidis, Demetrios. Água na produção de alimentos… op. cit. 25 O relatório foi divulgado pelo Institut International de l’Eau de Stockholm. 26 www.envolverde.com.br/saude/escassez-de-agua-pode-forcar-populacao-a-se-tornar-vegetariana-aponta-estudo Acesso: 08/2012. 27 MEIRELLES FILHO, João. Carnaval ou a Amazônia sem carne. op. cit. 7 frangos, peixes e suínos, entre as principais carnes consumidas, também provocam destruição à natureza. Por exemplo, “em alguns municípios de Santa Catarina a suinocultura é responsável por mais de 65% da emissão de poluentes. E o poder poluente dos dejetos suínos é cerca de 50 vezes maior que o do esgoto humano”.28 No primeiro semestre de 2012 o Brasil avançou em importantes frentes na defesa da dieta vegetariana. O Conselho Regional de Nutricionistas CRN – 3ª Região (São Paulo e Mato Grosso do Sul), na continuidade do Projeto Ponto e Contra Ponto, o qual discute temas polêmicos no que diz respeito a atuação do profissional de nutrição, divulgou através de um parecer o resultado do debate em torno do vegetarianismo. O parecer recomenda aos nutricionistas que “As dietas vegetarianas, quando atendem às necessidades nutricionais individuais, podem promover o crescimento, desenvolvimento e manutenção adequados e podem ser adotadas em qualquer ciclo de vida”.29 Este documento oficial, oriundo de um órgão renomado, foi considerado pela SVB um “marco para a sedimentação do vegetarianismo em todo país, pois dá mais ferramentas para que o público e os profissionais de saúde possam adotar o vegetarianismo como uma alimentação e um estilo de vida saudável e seguro”.30 Inúmeras pesquisas mostram as vantagens para a saúde humana da dieta sem carnes e derivados animais. Segundo o Guia Alimentar de Dietas Vegetarianas para adulto, este tipo de dieta favorece a redução dos níveis séricos de colesterol, redução de risco e prevalência de doença cardiovascular, hipertensão arterial, diversos tipos de câncer, diabete tipo 2 e a redução da prevalência de Hipertensão Arterial Sistêmica em populações vegetarianas.31 Uma pesquisa estadunidense apontou a redução das mortes por infarto em 31% em homens vegetarianos e 20% em mulheres vegetarianas, estudo realizado com 76 mil indivíduos. 32 Outro estudo confirmou o aumento do risco de câncer de cólon com o consumo de carne vermelha e processada.33 Já a ingestão de verduras, frutas e cereais integrais se associa à prevenção de diversos tipos de câncer.34 Todos estes benefícios da alimentação sem proteína animal dependem da composição da dieta, do estilo de vida e do metabolismo da pessoa, assim como qualquer outro hábito alimentar. Por conseguinte, acreditamos que deve fazer parte dos anseios de Soberania Alimentar para a América Latina projetos que informem sem interesses mercadológicos a população quais os melhores 28 Cartilha: Impactos sobre o meio ambiente do uso de animais para alimentação. Sociedade Vegetariana Brasileira, produzida pelo Departamento de Meio Ambiente. Disponível para download em: www.svb.org.br/vegetarianismo/index.php?option=com_docman&task=doc_details&gid=1&Itemid=244 29 www.crn3.org.br/legislacao/doc_pareceres/parecer_vegetarianismo_final.pdf Acesso: 05/2012. 30 www.svb.org.br/vegetarianismo/index.php?option=com_content&view=category&layout=blog&id=117&Itemid=212 Acesso: 05/2012. 31 SLYWITCH, Eric. Guia alimentar de dietas vegetarianas para adultos. Florianópolis: SVB, 2012. pp. 11. (Material produzido pela Sociedade Vegetariana Brasileira e disponível em seu site: www.svb.org.br 32 American Dietetic Association and Dietitians of Canada, 2003. 33 Chan, D.S., et al., Red and processed meat and colorectal cancer incidence: meta-analysis of prospective studies. PLoS One, 2011. 6(6): p. e20456. 34 SLYWITCH, Eric. Guia alimentar de dietas vegetarianas para adultos.op. cit. 8 alimentos para a formação de uma dieta saborosa, saudável, sustentável e livre de agrotóxicos, valorizando assim a agricultura familiar, o uso de sementes crioulas e a total negação aos transgênicos. Além disso, uma população mais saudável representa menos gastos com a saúde pública. Em relação aos transgênicos, o conceito de Soberania Alimentar deve circunscrever a questão dos animais e não somente das sementes. Precisamos ampliar a discussão para as pesquisas que afirmam realizar “melhoramentos genéticos” em diferentes espécies de animais, objetivando apenas atender as demandas do mercado. Por exemplo, pode-se citar o caso do salmão. Hoje 69% do salmão consumido no mundo é de cativeiro, sendo que os investidores enfatizam que a lucratividade encontra barreiras com a demora do crescimento do salmão, que leva de três a quatro anos para chegar ao tamanho de venda. Problema que a empresa AquAdvantage buscou resolver com a invenção de um gene que ativa um tipo de hormônio de crescimento e melhora a resistência dos salmões a parasitas e outras patogéneses. Sendo que “a resistência dos salmões transgênicos está associada à introdução, nesses peixes, de uma parte do DNA de peixe-carneiro americano (Zoarces americanus), relacionada à produção de uma proteína de resistência a baixas temperaturas”.35 E, com o objetivo de evitar contaminações ambientais, caso os salmões transgênicos sejam colocados no mar, a AquAdvantage cria apenas fêmeas estéreis.36 Ou seja, a maioria dos salmões consumidos pertencem a empresa AquAdvantage, assim como muitas sementes pertencem hoje a Monsanto. No documento produzido pelo encontro internacional de Soberania Alimentaria en las Americas não ficou evidente que a questão dos animais transgênicos merece atenção e reflexões. Outro tema polêmico é a presença de hormônios e antibióticos nas carnes e leites. No Brasil a produtividade anual média de uma vaca é de 1.374 litros de leite, mas em 1975 era 646 litros37 – aumento produtivo gerado pela administração de hormônios e gestação contínua. Portanto, através da ingestão de leite a população ingere doses de hormônios e antibióticos que afetam a saúde. Outro dado assustador é o tempo de vida de um frango. Na década de 60, eram necessários 120 dias para que um frango alcançasse o peso ideal para o abate. Em 1988 este tempo foi reduzido para 49 dias e uma década depois para 39. Hoje um frango pode alcançar 2kg em até 32 dias.38 A ordem capitalista atribui esta “vitória” aos ditos melhoramentos genéticos e às rações repletas de hormônios. A rápida engorda também é atribuída a iluminação artificial dos galpões que aumentam o período de luz, levando a maior ingestão de alimentos e aumento do ganho de peso.39 Isso gera 35 http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/por-dentro-das-celulas/o-supersalmao Acesso: 07/2012. http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/por-dentro-das-celulas/o-supersalmao Acesso: 07/2012. 37 IBGE/Pesquisa da Pecuária Nacional. 38 www.ufv.br/dea/ambiagro/arquivos/INSTALA%C3%87%C3%95ESavesFINAL.pdf Acesso: 04/2012. 39 www.ufv.br/dea/ambiagro/arquivos/INSTALA%C3%87%C3%95ESavesFINAL.pdf Acesso: 04/2012. 36 9 estados de constante estresse nas aves e nenhuma consideração humana em relação à vida de sofrimento destes animais. Será que podemos falar de sustentabilidade e Soberania Alimentar sem respeitar todos os animais? Será que não podemos relacionar o alerta da Organização Mundial da Saúde de que estamos caminhando para uma era “pós-antibióticos” – diante da resistência humana aos atuais antibióticos – ao excesso de medicamentes ingeridos através da proteína animal?40 Todas estas questões foram apontadas para relacionarmos a Soberania Alimentar às vantagens das dietas sem proteína animal, diante dos inúmeros impactos que essa alimentação oferece. A ordem mercadológica incentiva propagandas de forte apelo, na qual divulgam a falsa ideia da necessidade de comer carnes e que tê-la à mesa significa crescimento social. Segundo Thomaz Junior “o modelo da Soberania Alimentar contrapõe-se e defende uma mistura de práticas de conhecimento tradicional e agricultura sustentável de base agroecológica”.41 Então, será que não está na hora de colocarmos o tema da redução do consumo de carnes na pauta da Soberania Alimentar? No documento produzido pela Cúpula dos Povos sobre a Soberania Alimentar foram destacadas 29 causas estruturais, oriundas do sistema capitalista e que impedem a Soberania Alimentar, sendo que uma das causas afirma: “O modelo industrial de produção maltrata os animais e coloca em risco o meio ambiente, a saúde humana e animal”. Portanto, ao falarmos em Soberania Alimentar precisa-se incluir, sem dúvida e pela urgência da questão, o tema da alimentação sem carnes. Assim, vamos apresentar uma experiência brasileira em torno desta temática. A campanha Segunda Sem Carne – SSC foi lançada no Brasil em 2009 pela Sociedade Vegetariana Brasileira – SVB em parceria com a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo. A ideia não é brasileira e a criação foi atribuída aos Estados Unidos. Hoje a campanha é mantida em diferentes países como Bélgica, Israel e no Reino Unido é apoiada pelo cantor Paul McCartney, um importante ativista em campanhas pelo vegetarianismo, produzindo inúmeros materiais de divulgação, valendo citar o documentário “Paredes de Vidro” 42 – o título faz referência a uma de suas famosas frases “se matadouros tivessem paredes de vidro, todos seriam vegetarianos”. O principal objetivo da campanha no Brasil é conscientizar a população de modo individual e coletivo sobre os impactos que o uso de carnes e derivados animais tem sobre o meio ambiente, a saúde humana e os animais, além dos impactos sociais, como estamos mostrando neste trabalho. O convite da campanha é que as pessoas tirem a carne do prato pelo menos uma vez por semana e descubram novos sabores e novas informações sobre as escolhas alimentares. Escolhas 40 www.estadao.com.br/noticias/geral,resistencia-a-antibioticos-e-desafio-para-medicina-diz-oms,849741,0.htm Acesso: 04/2012. THOMAZ JUNIOR, A. Trabalho, reforma agrária e soberania alimentar... op. cit. 42 O vídeo foi produzido pela organização de defesa dos animais PETA (People for the Ethical Treatment of Animals) e legendado para o português por Aline Caliman e Guilherme Carvalho (responsável pelo Departamento de Meio Ambiente da SVB). Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=FgavacZ_47Q 41 10 que aparentemente são simples mas que significam, também, uma postura política e sociocultural diante do mundo. O dia da semana, segunda-feira, é apenas uma sugestão, mas se encaixa ao cotidiano brasileiro, pois, frequentemente, o consumo de carnes é maior nos finais de semana, por conta dos tradicionais churrascos. De acordo com a SVB, “pesquisas indicam que os restaurantes vegetarianos recebem mais clientes às segundas-feiras. Segunda-feira é também um dia de se iniciar coisas novas, como deixar de fumar ou começar um regime”.43 Um dos princípios da campanha é colocar o tema da alimentação sem carnes no cotidiano das pessoas, para que reflitam que com a redução e/ou eliminação das carnes no prato pode-se usufruir de mais saúde, gerar menos impacto ambiental e para que também reflitam sobre a forma como os animais são criados e submetidos a cruéis tratamentos. O discurso da Campanha Segunda Sem Carne é inclusivo e positivo ao convidar às pessoas a retirarem de seus pratos as carnes uma vez por semana, evitando, assim, certas resistências em torno do vegetarianismo. Ao ser positivo e inclusivo pode ser uma ótima oportunidade para aprofundarmos o tema na sociedade. Em contato com a campanha as pessoas passam a se interessar pelo assunto e a se questionar: porque não comer carnes? Assim, proporciona uma conscientização. Embora a campanha SSC tenha conseguido muitos apoios oficiais, através de municípios (São Paulo – SP, Osasco – SP, São Lourenço da Serra – SP, Piracicaba – SP, Niterói – RJ, Curitiba – PR) e parlamentares,44 além de apoios privados de empresas e personalidades, encontra certas resistências de bancadas pecuaristas que visam apenas o lucro. Recentemente, a revista Feed&Food (agosto de 2012) publicou a matéria Produzir mais, com menos, apresentando um duvidoso discurso de sustentabilidade e enfatizando a lógica capitalista de produzir acima de tudo. Na reportagem é evidenciado os desafios que a pecuária de corte brasileira poderá enfrentar, afirmando que campanhas como a Segunda Sem Carne pode vir a ser uma preocupação para o mercado da carne bovina.45 A SVB divulga a campanha através de material educativo produzido pelos departamentos da sociedade em parceria com a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo, que criou a marca da campanha, que podemos ver abaixo: 43 www.segundasemcarne.com.br/por-que-segunda/ Acesso: 08/2012. Eis alguns dos parlamentares que publicamente declararam apoio à campanha: Gleisi Hoffmann (Ministra-chefe da Casa Civil), vereador Roberto Tripoli (São Paulo), Dr. Eduardo Jorge (Secretário do Verde e do Meio Ambiente - São Paulo), Daniel Guth (assessor da Secretaria de Educação - São Paulo), Alexandre Schneider (Ex-Secretário Municipal de Educação – São Paulo), vereador Professor Galdino (Curitiba), - Carlos Minc (ex-Ministro do Meio Ambiente e atual Secretário de Meio Ambiente do estado do Rio de Janeiro). 45 www.revistafeedfood.com.br/pub/curuca/index.jsp?ipg=63108 Acesso: 08/2012. 44 11 O conjunto de material de divulgação é formado por flyer explicativo, cartaz para estabelecimentos apoiadores, parecer médico Saúde Sem Carne: Benefícios à Saúde e os toy art com os animaizinhos mascotes da campanha – material que faz muito sucesso com as crianças. Os materiais podem ser solicitados por e-mail e enviados por correio46 e alguns estão disponíveis para download. A campanha é divulgada através de palestras, de ações públicas em feiras e congressos, através dos apoiadores que divulgam a campanha em suas empresas e ou círculos de sociabilidade. Além disso, o site oferece receitas, dicas de nutrição, notícias e informações de qualidade com objetivos éticos, ambientais e de saúde. Uma das maiores vitórias da campanha foi a realização, em abril de 2012, na câmara Municipal de São Paulo, do I Seminário Merenda Escolar Vegetariana, uma iniciativa da SVB e de alguns setores da prefeitura de São Paulo, contando com a presença de cerca de 300 pessoas de 30 cidades do Brasil. O seminário destacou a implantação, com sucesso, pela Secretária Municipal de Educação da merenda vegetariana, uma vez por semana, nas escolas da rede pública municipal de São Paulo. Depois do seminário a ideia foi introduzida, como projeto-piloto, em três escolas de Curitiba. O Seminário teve como foco debater a alimentação sem carnes como uma opção ética, saudável e sustentável para todos os tipos de alunos, independente das faixas etárias. Além disso, a nutricionista Laura da Silva Dias Rahal (departamento de Merenda Escolar da Secretaria de Educação – São Paulo), “apresentou o bem-sucedido programa de merenda escolar vegetariana, que já conta com cerca de 600 mil refeições vegetarianas semanais e se prepara para ampliar o programa nos próximos meses”.47 Os avanços da campanha Segunda Sem Carne na cidade de São Paulo são muito representativos, considerando que a cidade com mais de 10 milhões de habitantes, está entre as dez mais populosas do mundo. Com uma população tão expressiva, o sucesso da campanha, junto aos órgãos públicos, pode servir de exemplo aos outros municípios do Brasil e da América Latina, já 46 Desde que a pessoa e/ou instituição pague as despesas do correio. Pois a SVB é uma organização sem fins lucrativos e se mantém com doações e através das filiações. 47 www.segundasemcarne.com.br/2012/04/30/i-seminario-merenda-escolar-vegetariana-2/ Acesso: 05/2012. 12 que a cidade é também um forte polo financeiro e político. Portanto, a experiência paulistana serve para enfatizarmos e afirmarmos o potencial inclusivo da campanha e seu poder de conscientização, já que ao propor um dia sem carnes, conduz as pessoas a refletirem qual a importância desta atitude que antes de ser coletiva é também individual – uma escolha. Diante da crise alimentar, ambiental e social que embarcou neste início do século XXI devemos unir forças em todos os setores da sociedade para agirmos em benefício de uma cultura de inclusão e conscientização, para que cada indivíduo perceba que suas escolhas cotidianas influenciam todo o planeta. Com escolhas conscientes podemos mudar também as ações do estado que precisam beneficiar a todos e não a uma minoria. Acreditamos que o tema da Soberania Alimentar pode ser uma resposta às crises do sistema capitalista, como se discutiu na Cúpula dos Povos, pois o capitalismo ao prezar o mercado está arruinando diversas estruturas sociais e ambientais. Portanto, concordamos com a sexta recomendação do encontro internacional de Soberania Alimentaria en las Americas que diz: “Los Estados deben elaborar políticas públicas, que contemplen la economía social comunitaria, recuperando los conocimientos, prácticas, saberes y costumbres ancestrales en armonía y equilibrio con la madre naturaleza para vivir bien con soberanía alimentaria. Para consolidar la independencia cultural económica social política de los pueblos”.48 Sendo, então, fundamental o equilíbrio harmónico dos humanos entre si e com a mãe natureza – Pachamama. Para efetivarmos a Soberania Alimentar na América Latina devemos repensar as ofertas e escassezes de alimentos de modo consciente, para que o direito à alimentação seja uma meta a ser alcançada. Assim, o apoio a campanha Segunda Sem Carne é um passo real, possível e determinante na luta por um mundo mais justo e amoroso para todas a formas de vida: humanas, vegetais e animais. 48 Declaración del Encuentro Internacional de Soberania Alimentaria en las Américas. cit. 13