EDITORIAL A comissão do informativo da Clínica de

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EDITORIAL
A comissão do informativo da Clínica de Psicologia da UNIJUÍ
(CPU), com o início de mais um semestre, recomeça seu trabalho e edita
seu segundo número.
Fazem parte desta edição um texto da psicanalista Conceição Beltrão
(ex-coordenadora da clínica) a qual traz uma reflexão a partir de uma
questão central para nós: o que sustenta e viabiliza uma Clínica de
Psicologia além da determinação curricular?
Gustavo Müller, ex-extensionista da equipe da CPU nos fala sobre a
Interpretação na Clínica Infantil.
A seguir apresentamos um texto sobre a Interpretação, elaborado pela
Comissão de Estudos da Clínica do semestre anterior.
FALANDO NISSO... também comunicamos algumas reformulações
nos Projetos da Clínica.
AS RESISTÊNCIAS À CLÍNICA
Conceição de Fátima Pereira Beltrão
A história das Jornadas da Clínica de Psicologia da Unijuí iniciou
com o interesse de discutir com equipes de outras universidades a inserção
da clínica no âmbito acadêmico. A construção da Jornada de 1999 partiu de
uma pergunta: O que sustenta e viabiliza uma clínica de psicologia para
além de uma determinação curricular?
Na tentativa de pensar a pergunta e não propriamente respondê-la,
inicio com a própria história da clínica das patologias mentais. Podemos
dividir essa história em três períodos: o primeiro se dá com Pinel (17451826) e outros grandes clínicos que, no século XVIII, fundam um trabalho
de observação e diagnóstico que se sustenta através do olhar. Eram feitas
rigorosas anotações a partir do que era visto. A clínica a partir do olhar
começa no campo do psiquismo com mais de um século de atraso em
relação a clínica médica e em especial a anatomia. A observação trás
consigo a tentativa de classificar as patologias mentais em grandes campos,
mas isso é acompanhado de reiterados fracassos que apontavam para a
impossibilidade de construir um universal sem exceção a partir da
fenomenologia. As divergências entre as escolas e os próprios clínicos,
pesquisadores metódicos, disciplinados e bons escritores, se deve a
inviabilidade de classificar e nomear as formações sintomáticas. Mas
graças ao trabalho desses mestres, envolvidos em divergências que
incluíam escolas alemãs, francesas, inglesas e nas controvérsias dentro das
próprias instituições asilares, a patologia mental é retirada de seu
ostracismo, na modernidade, e inserida no âmbito do trabalho público e da
comunidade científica.
Mas público e político são instâncias muito parceiras e no estudo e
tratamento das patologias mentais está presente. O principal elemento que
determina e separa a saúde da doença passa a ser a capacidade de produção.
Essa divisão tem sua história escrita junto com a história do trabalho. A
partir do empirismo inglês, com Locke o corpo passa a ser propriedade do
indivíduo bem como tudo o que for fruto do seu trabalho. E a normalidade
está vinculada então a capacidade de produzir riquezas. O pensamento
nascente no século XVIII perdura até nossos dias na psicologia e na própria
clínica, ou seja, que os homens podem ser melhorados e que a loucura é
uma situação para ser melhorada. Isto é o que significa o tratamento moral
introduzido por Pinel e sua escola. A cura representa, nessa concepção, a
educação da vontade pressupondo que o homem ao proceder de uma forma
normal ou moral o faz de acordo com sua vontade. Moral é uma palavra de
origem latina, "more", que significa costumes. Logo quem está fora da
moral está fora dos costumes.
O segundo período é inaugurado por Freud, que funda uma outra
clínica, ancorada na suspensão do olhar. A introdução do divã mostra a
ruptura de Freud e sua posição peculiar na relação com o paciente. O
analista não privilegia a observação apoiada no eixo do olhar, mas volta sua
atenção para a escuta dos pensamentos. Essa forma de tratamento não se
dirige para a educação pela vontade, mas introduz o conceito de
determinismo psíquico. Aluno de Charcot, o jovem médico vienense
acompanha o momento de flagrante fracasso da escola de Salpetrière frente
à determinada patologia, a histeria. Essa escola não encontra êxito em seus
métodos de tratamento através da neurologia. Nos primórdios do século
XX Freud ainda, com a descoberta da neurose obsessiva atesta mais uma
vez a existência da patologia dos pensamentos.
Se, historicamente, até o início desse século a clínica se volta para a
busca da classificação ideal, se preocupando com a composição de um
quadro universal, a psicanálise introduz a subversão, qual seja, de que a
história é construída por cada paciente na sua relação com o analista. E a
posição diagnóstica deixa de ser elaborada pelo observador e passa a ser
feita a partir do laço que o analisante constrói com seu analista.
Localizamos o terceiro período na clínica da técnica. A corrente
classificatória nunca foi abandonada e a encontramos nessa clínica para a
qual a classificação, acrescida do procedimento, deixa em segundo plano a
fala e a produção oriunda da experiência. Em primeiro lugar, é buscada a
homogeneidade das operações como fundamento do exercício clínico
enquanto científico. Não estamos muito distantes de Pinel, uma vez que a
técnica pode ser uma fiel servidora da moral.
Foucault, no livro “Doença mental e psicologia”, nos auxilia a pensar
o que seja a resistência à escuta no campo da psicologia. Diz o autor que
desfazer a distância com a loucura é destruir a própria psicologia. Um certo
tipo de psicologia que continua propondo o tratamento com o objetivo de
colocar o indivíduo em acordo com os costumes. Esse traço moralizante
ainda é uma herança da caça às bruxas, na Idade Média. Como exemplo,
podemos tomar os tratados de psicopatologia sexual, não muito diferentes
dos tratados de teologia moral medievais. Todos aqueles tratados
inscreviam o que era o pecado e um capítulo, pelo menos, se dedicava ao
pecado de cunho sexual, como um pecado contra os costumes.
O moralmente religioso também significava estar dentro dos
costumes, e desta forma fica enlaçado o religioso, os costumes e a
normalidade. A psicologia contemporânea tem seu nascimento histórico e
filosófico nesses tratados. Podemos ainda lembrar que a passagem do
medieval à modernidade se funda num retorno à filosofia clássica romana
que tem um de seus fundamentos no estoicismo. Essa escola filosófica, a
partir da qual é construída a doutrina cristã do segundo testamento, coloca
como ideal a razão que prima pela imperturbabilidade e o equilíbrio. Tudo
que seja da ordem da desmedida e da ordem da paixão é considerado
patológico. Dentro desse aspecto, a clínica já serviu e tem servido para
excluir da sociedade todo aquele que atente contra os costumes definidos a
partir dos estóicos e dos princípios da produtividade. Esses expediente foi
utilizado com o próprio Marquês de Sade, nas perseguições políticas, com
artistas que antecipavam seu tempo, e especialmente nas políticas
higienistas ainda vigentes na atualidade.
A partir desse breve apanhado podemos destacar modos de operar,
presentes na formulação da clínica psicológica contemporânea que fazem
obstáculo, ou seja, resistência a escuta do inconsciente: O lugar do
psicólogo como observador, a moral como parâmetro para a cura e a paixão
pelo procedimento.
Descrendo a posição do observador, ela pode ser exemplificada
através de um instrumento utilizado em muitas universidades, visando o
aprendizado, que é a sala de espelhos, na qual, do outro lado do espelho, o
aluno vê um paciente sendo entrevistado. Podemos perguntar: O que há ali
para ser visto? Situação bem diferente é a da apresentação clínica de
pacientes, na qual a fala do paciente também se endereça ao público e o
público não está na posição de mero observador, mas em posição
semelhante a do analista com seu analisante. O mero lugar de observador
desconsidera o conceito freudiano da transferência, na qual o analista está
implicado naquilo e com aquilo que o paciente fala. Não haveria aquela
fala se não houvesse a presença daquele analista que porta determinados
traços mínimos com os quais o analisante estabelece um laço e ali reedita
sua fantasia primordial. Na sala de espelhos, o outro, de partida, já está de
fora e é de esperar que ele fique de fora, inclusive por parte do paciente que
sabe que pelo menos alguém está ali só para ficar de fora. Se assistimos
Hitchcock, no filme “Marnie, a ladra”, a situação filmada não é nem um
pouco ortodoxa, mas o espectador pode estar na cena porque o mago do
suspense convoca para entrar na cena e não para apenas assisti-la. Também
devemos recorrer a outra forma de arte, a pintura. Estar frente a um quadro
de Van Gogh apresenta diferenças com relação a estar frente a um desses
retratos do cartaz da presente jornada. Esses retratos reproduzidos no cartaz
demonstram a própria clínica da observação, sendo, mais tarde, essa forma
de documentação substituída por fotografias. Mas o intuito continuava
sendo o de retratar a patologia. Constatamos isso uma vez que os retratos e
fotos são acompanhados dos respectivos diagnósticos. Mas retornando a
Van Gogh, em primeiro lugar é obra de arte porque de antemão sabemos
que o é, este é um dos princípios da estética na arte não-clássica. Mas o
importante nesse caso é que é obra de arte e merece o lugar nos museus
porque com essa tela podemos estabelecer uma relação de dentro-fora. Esse
é um ponto crucial na clínica, sem o qual não há clínica, que é justamente a
operação do inconsciente que se atualiza desde que seja trabalhada a
resistência daquele que escuta e que possa se deixar tomar na construção
fantasmática do analisante, sem se tomar por isso.
A segunda forma de obstáculo à escuta do inconsciente é a moral, ou
seja, pré-suposição daquilo que venha a ser a cura. Então, essa não está
referida ao processo de experiência que se dá no momento mesmo da fala.
Pode revelar-se através de conceitos corriqueiros como o prognóstico,
métodos preventivos, cujo conceito de cura venha acompanhado de uma
determinada posição do que vai ser o “bom” para o paciente e para a
sociedade.
Na paixão pelo procedimento novamente está elidida a relação com o
outro, que pode apontar para uma modalidade de tabu de contato que
coloca uma distância em relação às impurezas enquanto geradoras de malestar. Nesse caso, a patologia e suas produções são mantidas à distância e o
psicólogo faz parceria de submissão ao procedimento ou à técnica, como
defesa frente às múltiplas formações do inconsciente. A paixão da
instrumentalidade coloca a formação do inconsciente do lado do psicólogo,
situando-o no usufruto de sua fantasia inconsciente, obstaculizando
qualquer possibilidade de escuta. Tanto a moral como a paixão pelo
procedimento estão em decorrência da posição do observador. Nesse ponto
retomamos a questão na clínica no âmbito acadêmico onde se mescla o
tratamento, o ensino e a pesquisa. Como não cair na posição do artista que
retratava a patologia?
Uma das possibilidades é de não economizar no mal-estar que o
exercício clínico provoca. Como Freud postula que pelo processo de
recalcamento a cultura não existe sem mal-estar, na clínica não se dá de
forma diferente. Clinicar é se ver com a própria fantasmática provocada e
instigada a cada laço transferencial, e isso não ocorre sem legítimo
desconforto.
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
BERCHERIE, Paul. Os fundamentos da clínica. História e estrutura do
saber psiquiátrico. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1989.
FLEIG, Mario e BELTRÃO, Conceição. A neurose obsessiva ou o melhor
dos mundo. Revista da Associação Psicanalítica de Porto Alegre –
Neurose Obsessiva, 17, 71-78.
FOUCAULT, Michel. Doença mental e psicologia. Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 1984.
POSTEL, Jacques e QUÉTEL, Claude. Nouvelle histoire de la psychiatrie.
Toulouse: Privat, 1983.
POR UMA ÉTICA DO SIGNIFICANTE
HIPÓTESE SOBRE A INTERPRETAÇÃO NA CLÍNICA INFANTIL
Gustavo Müller*
Este trabalho pretende colocar uma hipótese, acerca do lugar da
produção de significantes na clínica infantil, um lugar que por excelência
inclui não só o paciente mas sobretudo aquele que escuta, a partir de sua
ética e não de sua técnica.
A história da psicanálise nos mostra que, a análise de crianças em
meio a distintas concepções sobre a prática clínica, acabaram modificando
a teoria freudiana, algumas centrando uma maior atenção na técnica. Se
lermos esta história conflituosa podemos lembrar de Hamlet "brincar ou
não brincar, eis a questão", o que nos faz pensar, para onde foi o "Ser", o
sujeito? será que ficou reduzido a uma técnica?
Esta questão nos remete a Lacan, que trabalhou no ano de 1959-1960
um seminário, não sobre a técnica analítica mas sobre a ética. Esta sim é a
pedra fundamental que pode fazer com que um psicanalista organize um
saber sobre o tratamento e seu desenlace. Será que pensar se uma análise de
crianças possui como norte uma técnica ou uma ética é simplesmente
substituir um termo pelo outro, ou esta substituição acarreta uma mudança
no saber que autoriza um Ato analítico, uma interpretação que opera no
"Ser" ou melhor no sujeito em questão?
Alfredo Jerusalinsky, ao se referir aos saberes que se ocupam da
infância, derivados da medicina, psicologia e pedagogia, que pretendem
fechar a criança em um saber total sobre a normalidade ou ideal de
desenvolvimento e suas patologias, nos atenta sobre a conseqüência de uma
análise-técnica. " Quando, portanto, via um saber médico, psicológico ou
pedagógico/educativo, tamponamos com um saber técnico o que uma
criança quer saber, e a partir da técnica fechamos o espaço da subjetividade
que na criança está se constituindo."
Então se a psicanálise é uma ética, que ética é esta que não possui
um estatuto de deveres e direitos, onde poderíamos citar entre outros, o
sigilo? Podemos pensar que esta ética surge, quando nasce o primeiro
analista, Freud. Freud funda a experiência que permitiria o inconsciente
entrar em cena quando estabelece uma regra, a associação livre. A ética do
franco falar é pois, antes a condição que Freud se submeteu, a de estar
"livre" para escutar para além do sintoma, para além do problema trazido
pelo paciente, para além de um pré-conceito já constituído, enfim para além
de sua moral.
O saber com o qual lidamos na clínica psicanalítica com crianças é
diferenciado da clínica com adultos? É verdade que as particularidades de
um sujeito em constituição nos remetem
a outros lugares de onde
operamos, o lugar que ocupamos na transferência coloca em jogo a
fantasmática parental, ou seja, "essa aproximação implica a representação
que o adulto faz da infância; qual seja, a maneira pela qual ele próprio foi
marcado pela demanda implícita de ser a realização do futuro dos pais, de
reparar o fracasso dos pais, concretizando seus sonhos perdidos, o que
representaria para o analista o escamoteamento do seu desejo". Por mais
que as condições da infância, os sintomas de infância favoreçam a
resistência daquele que se faz semblante do objeto; o saber ético trata-se
justamente de ser nenhum saber a priori.
Estas questões me fazem pensar sobre a experiência de uma pratica
clínica, numa clínica institucional, onde os pais (geralmente a mãe) chegam
de mãos dadas com "o problema", para falar deste "que não esta bem" e que
certamente como eles dizem, "incomoda e preocupa", a pequena criança
então é assim apresentada, sendo uma queixa da mãe, do pai, do tio, da
professora, etc. Pedem então que eu conserte este pequeno sujeito, como se
fosse um galho torto, daqueles que podem ser consertados enquanto são
pequenos, porque de alguma forma seja como travesso, mau aluno,
enurético, está se mostrando de outra forma que não aquela tão ideal
esperada.
Rosali Averbuch, chama esta "forma" a qual me refiro de sintoma, e
diz: "Não serão esses que, por sua força, vêm nos dizer, justamente, que ali
existe um sujeito que demanda ex-sistir". Penso em minha ética quando
uma mãe que me pede para fazer calar aquilo que seu filho não cessa de
gritar, será devo retirar o que é singular desse sujeito, singular pois nisso
os pais não se reconhecem, por mais que ali estão inscritos? Devo escutar o
enunciado dessa mãe como se fosse desse outro sujeito que ainda não
entrou em cena, pois ainda nem o conheço mas já sei muito sobre ele? Ou
devo poder possibilitar que essa criança fale-falhe, e que possa se perguntar
o que quer, no meio de tantos que querem muito dele?
Talvez ele não fale, e não se pergunte, pois sabe que diante dele,
também há mais um que quer, que quer sarar a queixa da mãe, e mostrar
seu dever-saber-fazer.
Então pensando sobre o lugar, e não o dever que um saber nos
garantiria sobre como abordar a criança na clínica analítica, "podemos
considerar a criança numa(...) abordagem, na qual seu sintoma, ao invés de
ser tomado como um indicador diagnóstico de tal ou qual patologia desvio a ser corrigido, pelo contrário, é tomado numa via de respeito, como
um relação metafórica entre significantes, a cuja escuta o analista se dedica,
abrindo passo, via transferência, à verdade desejante do Sujeito implicada
no sintoma".
Esta citação me faz lembrar o propósito inicial deste texto, pensar a
interpretação na clínica infantil, uma interpretação que visaria talvez
possibilitar que o sujeito se aproprie de um saber que lhe represente para
outro saber. Não seria isso o que Lacan chamou atenção para seu aforismo
" um significante representa um sujeito para outro significante", e este
significante sendo a marca da pura diferença que carrega possibilidades
infinitas de significação. Como pensar a interpretação, sendo que
as
crianças que procuram a clínica estão aprisionadas no excesso de
significação, que os pais, a família, e que a cultura lhes dá sobre o que é ser
infantil, o que é ser uma criança.
A interpretação não é dar sentido lá onde falta um, pelo contrário é
restituir o duplo sentido da palavra, fazendo permanecer o sentido até então
único (sintoma clínico), mas em um Ato onde o sujeito coloca-se em
destaque, dividido, diante de uma possibilidade de abrir outra significação
no significante que poderíamos chamar de "significante cristalizado" ou
signo de seu sintoma.
Agora podemos pensar o que o brincar e o brinquedo tem a ver com
o tratamento de uma criança. Pensemos o brinquedo sendo este objeto com
que a criança se situa na realidade, uma realidade irreal, um mundo
fantasioso. Será que é por isso que sentimos um desconforto quando
atendemos uma criança que quer brincar, e temos aquela sensação de que
só estamos brincando, e logo acabamos pensando como os pais pensam
"ele não faz nada (de importante), só brinca"? É claro, essa sensação de
desconforto, nos atesta nossa impossibilidade de voltarmos a sermos
crianças, não sabemos mais brincar, pois agora podemos fantasiar de ser
um príncipe ou uma princesa sem o bonequinho na mão.
Freud nos diz em um texto de 1907 "O Poeta e as Fantasias", que o
brincar da criança é a letra do poeta e o brinquedo a pena com qual o poeta
escreve na cultura suas fantasias através dos jogos metafóricos e
metonímicos. Então o que nos parece é que antes de pensar o brinquedo
como uma técnica, este está sempre presente na subjetividade infantil,
mesmo em crianças que apresentam como sintoma o não brincar. O brincar
é a palavra, é a letra que modula a brincadeira, que estabelece as regras do
"jogo", que faz com que cada criança escolha determinado brinquedo que
lhe encante, e que também faz com que uma criança fique aprisionada em
um determinado estilo de desenhar, de brincar, de jogar.
Penso que seria neste momento que poderíamos pensar em uma
interpretação, pois se interpretar só é interpretação na transferência onde o
inconsciente entre em cena, a interpretação atua no campo da letra, do
significado, opondo sobre este o selo do significante. Se a interpretação
ocorre no campo transferencial, não é difícil de concluir uma hipótese: que
o analista na transferência é uma formação do inconsciente da criança, logo
o analista é a brincadeira ou ao menos não está isento de fazer parte do
brincar, de ser o semblante do objeto-a-brinquedo.
Estas questões são elaboradas a partir dos
pressupostos de um
pequeno tempo clinico com crianças, onde cada caso nos coloca em
interrogação na medida que a ética nos convoca a nos interrogar.
* Formando em psicologia, extensionista da CPU.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRAUER, F. Jussara (org.). A criança no discurso do outro. São Paulo,
Iluminuras LTDA, 1994.
CALLIGARIS, Contardo. Hipótese sobre o fantasma : na cura
psicanalítica. Porto Alegre, Artes Médicas, 1986.
CHEMAMA, Roland. Sobre a interpretação ou a prova pelo
significante. Texto Xerox, trad. Francisco Settineri.
MANNONI, Maud, A criança sua "doença" e os outros : o sintoma e a
palavra. Rio de Janeiro, 1987.
SOUSA, Alduísio M.de (org.). Piscanálise de Crianças : vol.1interrogações clínico/teóricas. Porto Alegre, Artes Médicas, 1989.
SOUSA, Alduísio M.de. Sobre a Interpretação e Finitude da Análise. In:
Che Vuoi?, Porto Alegre. 2:3 e 4, 1987, p.49-67.
TAVARES, Eda. O Brincar na clínica com crianças. In: Ato e
Interpretação, Revista da APPOA Nº 14. Porto Alegre, Artes e
Ofícios, 1998.
ESBOÇO SOBRE INTERPRETAÇÃO
Freud, elaborou sua teoria sobre a interpretação, tendo como base o
sonho, e a estendeu às formações inconscientes. Ele parte de alguns fatos
que vem com a história da humanidade no que concerne à interpretação, a
fim de explicá-las de uma forma mais científica. Tendo como base seus
próprios sonhos,
ele avança seu interesse nesse assunto. Vemos isso,
numa das cartas escrita à sua noiva, onde ele fala a respeito de um “caderno
de anotações pessoais”. Este interesse, pelos sonhos, estendeu-se à sua
escuta analítica. Ao dar-se
conta disso, Freud abandona a hipnose, o
método da auto-sugestão. Com isso, os pacientes poderiam falar de seus
sonhos associando livremente.
Por estas questões, é que a interpretação
dos sonhos é considerada uma das obras mais importantes escrita por
Freud, e para a clínica psicanalítica.
O texto “A interpretação dos sonhos” é considerado uma das obras
mais importantes escritas por Freud e para a clínica psicanalítica, por
representar mudanças significativas no ato de interpretar.
Para Freud, a interpretação dos sonhos, permite dar uma significação
ao conteúdo latente do sonho, a fim de evidenciar o desejo inconsciente de
um sujeito.
Segundo esta via, a noção de interpretação se estende as
manifestações do inconsciente, lapsos, atos falhos e entre eles o sintoma.
Atribuia-se o sintoma a um fator médico-psiquiátrico, no entanto,
Freud inova, questionando: como se curam os sintomas? Chega então a
conclusão que se falando a respeito do sintoma, poderia se encontrar a
cura. O sintoma surgia no lugar de algo não- dito, tratava-se de trazer à
consciência as representações recalcadas relativas ao proibido e censurado.
E a prática, o que ela nos revela?
A queixa inicial nem sempre corresponde ao que se coloca no
decorrer do tratamento. A nossa prática clínica, no entanto, nos mostra que
um paciente ao chegar ao tratamento falando de um sintoma específicopossibilita o deslizamento de suas questões. Contudo, o sintoma não
constitui-se de um significante apenas, mas se manifesta através da cadeia
de significantes, que aparece na associação-livre. O sintoma é expressão de
um conflito inconsciente, deve modificar-se, transformar-se, para que
continue sendo possível o gozo, o desejo. Isto porque, ele defende o sujeito
de ser engolido pela demanda do Outro.
Ë no exercício da prática clínica, com a escuta de pacientes,
que a transferência se torna possível, - e é a partir dela que é permitido
interpretar.
Freud, nos “Estudos sobre a Histeria” e em a “Interpretação
dos Sonhos”, coloca a transferência sobre o prisma do investimento no
nível das representações psíquicas, mais do que como um componente da
relação terapêutica.
Em 1912, em a Dinâmica da Transferência, primeiro texto
exclusivamente dedicado a esta questão, ele distinguiu a transferência
positiva- feita de ternura e amor, e a transferência negativa, vetor de
sentimentos hostis e agressivos. A estas se acrescentariam transferências
mistas, que reproduzem os sentimentos ambivalentes da criança em relação
aos pais.
Segundo Freud, a transferência se designa em um processo
constitutivo do tratamento psicanalítico, mediante o qual os desejos
inconscientes do analisando (concernentes a objetos externos), passam a se
repetir no âmbito da relação analítica, na pessoa do analista. E este é
colocado na posição destes objetos. Este lugar atribuído ao analista é
caracterizado por Freud como sendo a transferência- que é um fragmento
da repetição, sendo esta uma transferência do passado esquecido.
Comissão de Estudos
2° semestre de 1999
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREUD, Sigmund. Interpretação dos Sonhos. In: Obras Completas. Vol.
IV e V
OBS.: COLOCAR AQUÍ O TEXTO “PROJETOS DA CLÍNICA”
(ESTÁ NO DISQUETE...)
EXPEDIENTE
Comissão de publicação do informativo:
Carine Radaelli Moraes
Lori Edi Krüger
Sarka Fülber.
REVISÃO
Professora Normandia Cristian Giles – Supervisora do Estágio em
Psicologia Clínica.
Coordenação da Clínica de Psicologia: professora Normandia
Cristian Giles.
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