Keywords: Macroeconomic policies, uncertainty

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Coordenador: Prof. Dr. Elton Eustáquio Casagrande
Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara – UNESP
MACROECONOMIA E RISCO-PAÍS
Vanessa de Castro*
Resumo: Neste artigo tem-se a intenção de introduzir alguns conceitos macroeconômicos que possuem grande importância no desempenho externo
dos países. Objetiva-se mostrar brevemente como se dá o funcionamento de uma economia monetária, o importante papel da moeda e da incerteza
na constituição desta e o nascimento de instituições e contratos para se lidar com o futuro incerto, inerente a este tipo de economia. Refletiremos
também acerca da diferença entre a incerteza e o risco (tratamos aqui do índice denominado risco-país).
Palavras-chave: Políticas macroeconômicas, incerteza, assimetria de informações, investimento, risco-país.
Abstract: This article has the intention to introduce some macroeconomic concepts that have great importance in the performance of foreign countries. It aims
to show briefly how it is the functioning of a monetary economy, the important role of money and the uncertainty in this constitution and the birth of institutions and
contracts to deal with the uncertain future, inherent in this type of economy. We reflect also about the difference between uncertainty and risk (here we treat the
index called country risk).
Keywords:
Macroeconomic policies, uncertainty, asymmetric information, investment, country risk.
* Graduanda em Ciências Econômicas e pesquisadora do grupo de estudos "Núcleo de Conjuntura e Estudos Econômicos - UNESP. E-mail:
[email protected].
INTRODUÇÃO
Traremos neste trabalho uma breve análise da construção do comércio internacional, como base da economia internacional, e a constituição
da moeda como o "motor" da economia monetária presente nos dias atuais. Nesta economia notaremos o importante papel da moeda e da incerteza
inerente a ela.
Faremos uma diferenciação entre os conceitos de incerteza e de risco, mais especificamente o risco creditício, risco-país, relacionado ao
crédito externo. Evoluindo nesta linha de pensamento destacamos aqui o necessário nascimento de instituições financeiras e contatos monetários
tidos como "garantias" às partes negociantes - tendo-se como pano de fundo a grande falta de conhecimento sobre o futuro e também sobre as
condições macroeconômicas.
OS CONCEITOS DE INCETEZA E RISCO EM UMA ECONOMIA MONETÁRIA.
1.1 O FUNCIONAMENTO DE UMA ECONOMIA MONETÁRIA.
Em todas as nações existem pessoas responsáveis por organizar o processo produtivo e gerar bens e serviços. Para tal, empregam outras
pessoas e as remuneram pelo seu trabalho. Por vezes o produtor tem que alugar um espaço privado (que pertence à outra pessoa) e pagar-lhe um
aluguel pela utilização do espaço – o que constitui outra forma de geração de renda – a renda obtida pelo dono do espaço alugado. Mais um exemplo
de renda que podemos citar são os lucros e dividendos. Todas estas fontes constituem uma espécie de base para a compra de produtos que geram
vendas e permitem ao produtor a continuação da produção.
Se o produtor atingir um grande volume de vendas, os lucros também forem altos e as perspectivas futuras forem positivas, um produtor
consciente tratará de expandir suas ações empreendedoras e efetuar um novo investimento. O investimento se constitui num grande estímulo à
economia, é resultante da renda criada pelos produtores capitalistas que dão emprego e geram renda para estas pessoas que são empregadas. Tal
processo é responsável pela criação de um circuito fechado onde a renda é “criada” pela produção e utilizada para comprar os produtos que
nasceram. Até aqui estamos considerando uma economia nacional. Quando a expusermos à influência externa, por exemplo, parte da renda gerada
internamente pode ser utilizada para adquirir produtos do exterior – importações – e parte da produção interna pode ser vendida ao exterior –
exportações.
As importações representam “saídas” de renda do país, já que são operações de venda que deixaram de ser realizadas dentro do território
nacional. É preferível a todo país que se entre mais renda do que saia, para que tenhamos uma balança comercial positiva – o superávit.
Temos agora uma estrutura de base mercantilista e de grande concorrência econômica entre as nações – todas querem vender muito –
exportar mais do que importar. Mas como é sabido por nós, é logicamente impossível a todos os países do globo exportar mais do que importar;
porém alguns países buscam a todo custo esta meta (criando tarifas protecionistas de comércio e/ou restrições às importações).
O comércio internacional (importações e exportações entre as nações) constitui a base da economia internacional. Este mesmo comércio nem
sempre é aberto e livre. Muitas vezes há protecionismo, tarifas, barreiras e limitações ao volume do comércio efetuado. Porém, salvos períodos de
guerras mundiais ou protecionismo exacerbado, há um consenso entre as nações de que deve sim haver um certo volume de comércio, com maior ou
menor grau de proteção.
Contada esta nossa historinha, devemos agora dar destaque ao nosso ator principal: para que ocorram todas estas transações entre nações e
entre pessoas, se faz necessário o dinheiro. Ele é o esqueleto, a base do motor econômico.
O dinheiro possui três funções: a função transação, a função de indicador de preços e também a de reserva de valor.
Se um trabalhador recebesse seu pagamento mensal em forma de alguma mercadoria, por exemplo, bananas, teria provavelmente certa
dificuldade de trocar com outra pessoa que possuísse exatamente aquilo que ele deseja e também quisesse trocar isto exatamente pelas bananas do
nosso trabalhador. Por este motivo foi criado o dinheiro com o motivo transação. Ficou muito mais fácil para as pessoas: trabalham e recebem seu
pagamento em dinheiro, então podem comprar aquilo que quiserem com este dinheiro, já que ele é mundialmente reconhecido e aceito.
Este mesmo dinheiro é também utilizado para indicar preços. Ao receber seu salário, o trabalhador pesquisa no mercado quais são os
produtos que ele pode adquirir e a quantidade dos mesmos. Tais indicações de preços são cruciais, muito importantes para criação e disseminação
das informações na economia. Em economias capitalistas competitivas o mercado é o lugar onde estas indicações de preços são produzidas.
Vendedores e compradores são conduzidos pelo mercado, que dita os preços como reação à oferta e à demanda.
A terceira função do dinheiro, a de reserva de valor, se refere ao ato do trabalhador de não gastar todo o seu dinheiro recebido como salário,
poupando alguma quantia para um momento de necessidade futura ou mesmo para emprestar a juros.
Nos debruçaremos aqui sobre esta terceira função do dinheiro, a de reserva de valor, já que desta função podemos extrair muitos estudos
acerca de incerteza, expectativas, investimento e crédito.
1.2 O PAPEL DO RISCO E DA INCERTEZA.
Siqueira (2000) nos traz uma definição de risco como uma conseqüência da decisão livre e consciente de expor-se a uma
situação na qual se luta pela realização do bem havendo a possibilidade de ferimento. Ao trazer esta abordagem à luz das decisões
econômico-financeiras, o risco pode ser entendido, segundo este autor, como uma conseqüência da decisão livre de expor-se a uma
situação na qual há a expectativa de ganho, sabendo-se da possibilidade de perda ou dano.
Bodie e Merton (2006) fazem menção à distinção entre incerteza e risco, sendo que a primeira existe sempre quando não se sabe ao certo o
que vai ocorrer no futuro; o risco é a incerteza que importa, porque afeta o bem-estar das pessoas. Tanto para Bodie e Merton (2006) quanto para
Siqueira (2000), a incerteza é um componente necessário, mas não suficiente para o conceito de risco. Em geral, a palavra risco aparece com o
significado de perigo ou chance, no entanto, nenhum destes constitui o seu sentido estrito.
De um modo geral, devem existir três condições principais para a definição de risco:
· A possibilidade de haver perda ou dano (magnitude da perda);
· Uma possibilidade associada a essa perda (possibilidade de perda);
· A possibilidade de o decisor agir de forma tal que aumente ou diminua a magnitude ou a probabilidade dessa perda ou dano
(exposição à perda).
Keynes - e a escola pós-keynesiana de uma forma geral - nos passam a idéia de que neste mundo incerto da economia
monetária (tendo-se à frente um futuro desconhecido) os agentes econômicos preferirão reter moeda em detrimento de tomar
decisões de gasto. A incerteza se constitui no elemento fundamental da teoria de Keynes. De acordo com Minsky (1975, p.57) para
compreender Keynes:
“it is necessary to understand his sophisticated view about uncertainty, and the importance of uncertainty in his vision of
the economic process. Keynes without uncertainty is something like Hamlet without the Prince”.
De acordo com Keynes, em uma economia monetária, flutuações de demanda efetiva ocorrem justamente por conta deste fato.
Os investidores, temerosos em relação ao futuro, diminuem seus investimentos, causando conseqüente queda no nível de emprego e
de demanda agregada. Ainda seguindo sua linha de pensamento, podemos inferir que a moeda, em Keynes, não é neutra: “... booms
and depressions are phenomena peculiar to an economy in which... money is not neutral”. (Keynes, 1973b, p.411, negritos
adicionados) A moeda não é neutra por conta desta propriedade: a retenção desta por parte dos indivíduos se constitui em uma
segurança contra a incerteza futura, condicionando (negativamente) a seqüência dinâmica do processo produtivo.
Tais propriedades da moeda são imprescindíveis para que a mesma desempenhe seu papel numa economia monetária, pois, ao representar a
segurança contra a incerteza a moeda aproxima (através dos contratos monetários) o presente e o futuro – desta forma coordenando o processo das
atividades econômicas. Conforme Davidson (1984 p.87):
"...in a world where people cannot reliably predict future ... the ... existence of money and money contracts over an uncertain future
… [are the bases] of a monetary system”.
Sendo assim, a moeda e os contratos lastreados nesta se constituem na Instituição de uma economia monetária. Nas palavras de Ferrari Filho,
em artigo intitulado "Caos, incerteza e teoria pós-keynesiana (2000)”:
“Em sua teoria (da demanda efetiva) Keynes define como incertos os fenômenos para os quais não temos base científica para atribuir
probabilidades”.
Podemos, então a partir das idéias de Keynes (A Treatise on Probability) e Knight (Risk, Uncertain and Profit) tentar definir a distinção entre
o risco e a incerteza. Risco seria uma situação na qual a tomada de decisão acerca de determinado evento é realizada num contexto no qual a
distribuição de probabilidade do evento é conhecida; ao passo que a incerteza seria uma situação na qual a tomada de decisão sobre um evento
específico seria realizada em um contexto no qual não existe uma distribuição de probabilidade para o mesmo.
Entendemos que um dos maiores catalisadores do risco se constitui na assimetria de informações - podemos definí-la
resumidamente como a disparidade entre a quantia de informações que cada agente econômico possui; sempre alguns terão acesso
muito maior a informações relevantes do que seus colegas de segmento. Passemos então à definição deste conceito, feita por
Ricardo Luiz Chagas Amorim (2001):
“... Vamos supor que informações são pacotes fechados, prontos para serem usados e, sobretudo, que recebem
a mesma interpretação por parte de seus usuários. Em uma economia composta de agentes descentralizados, produzindo
especializadamente, nem empresários nem banqueiros conhecem a fundo as atividades do outro. Para obter informações, o
custo é elevado e, mesmo assim, nada garante que as diferenças possam ser eliminadas. Se o banqueiro precisar de
informações completas, só as conseguirá se tornar empresário, o que é inconcebível, ou seja, não é o custo que impede que
as informações sejam igualmente distribuídas, mas, sim, a própria forma de organização da economia. Desse modo,
podemos definir assimetria de informações como o fenômeno em que um agente ou grupo possui um pacote de informações
sobre determinado tema maior ou diferente de um segundo agente ou grupo interessado nessas mesmas informações”.
Os seres humanos precisam ter acesso a “modelos” que lhe permitam de certa forma “prever” os acontecimentos da economia. Pensando
nisso os homens (desde os gregos) vêm tentando formular hipóteses e modelos que permitam mensurar e prever as atitudes dos agentes –
particularmente no mercado acionário.
Aqui podemos mencionar um magnífico autor – Peter L. Bernstein (1997) – que nos traz uma boa bagagem da história econômica, detalha
contribuições de diversos pensadores ao longo dos últimos séculos – contribuições no sentido de formulação de leis matemáticas e econométricas
que vieram, ao longo do tempo, construindo o cálculo e a previsão dos “possíveis próximos passos” dos agentes e a seqüência do andamento da
economia.
Dado que estamos lidando com uma economia monetária, onde o papel do dinheiro é tão significativo e nosso futuro
extremamente incerto, ao longo do tempo foram sendo criadas instituições financeiras que de certa forma “medem” o risco de crédito
– são as agências de risco. Como visto acima, também em decorrência da incerteza presente nos mercados um instrumento
largamente utilizado é o contrato financeiro. O possuidor deste detém uma garantia legal de recebimento da quantia combinada
(contratada) caso ocorra algum problema transacional de cunho burocrático ou mesmo calote cometido pela outra parte envolvida.
Bibliografia
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BODIE, ZVI. E MERTON, ROBERT. Finanças. Ed. Bookman, 1ª Ed. Porto Alegre, 2006.
BERNSTEIN, P. Desafio aos Deuses. Ed. Campus, 2ª Ed. Rio de Janeiro, 1997
DAVIDSON, P. Post-Keynesian Macroeconomic Theory. Aldershot: Edward Elgar, 1994.
FERRARI FILHO. Caos, incerteza e teoria pós-keynesiana. Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 21, n. 2, p. 163-182, 2000.
FERRARI FILHO. A noção de incerteza nos pós-keynesianos e institucionalistas: uma conciliação possível?. Revista Nova Economia, Belo
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KEYNES, J.M. (1964). The General Theory of Employment, Interest and Money. New York: Harcourt Brace.
_____. (1973a). A Treatise on Probability. London: Macmillan (The collected writings of John Maynard Keynes, vol VIII).
_____. (1973b). The General Theory and After: preparation. London: Macmillan (The collected writings of John Maynard Keynes,
edited by D. Moggidge, vol. XIII).
KNIGHT, F.H. Risk, Uncertainty and Profit. Boston: Houghton-Mifflin, 1921.
MINSKY. John Maynard Keynes. New York, Columbia University Press, 1975.
Biblioteca Virtual
SIQUEIRA, JOSÉ DE OLIVEIRA. Risco: da filosofia à administração. Departamento de Administração da FEA-USP. Artigo disponível
em: < http://www.hottopos.com/convenit3/josiq.htm>. Acesso em 10/06/2008.
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